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ESPECIALIZAÇÃO EM: GESTÃO EDUCACIONAL E ESCOLAR EDUCAÇÃO ESPECIAL/EDUCAÇÃO INCLUSIVA GESTÃO PÚBLICA AMBIENTAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EaD) ILKA MÁRCIA RIBEIRO S. SERRA >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1876 Mediação Tecnológica: ferramentas interativas utilizadas no curso profissionalizante em Manutenção Automotiva Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra¹, Eliza Flora Muniz Araújo² e Rita de Cassia Tesseroli³ ¹Núcleo de Tecnologias para Educação da Universidade Estadual do Maranhão, Brasil. ilka.tt@gmail.com ²Núcleo de Tecnologias para Educação da Universidade Estadual do Maranhão, Brasil. eliza.uemanet@gmail.com. ³Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná – IFPR, Brasil. tesserolirita@gmail.com Resumo. O avanço das tecnologias tem sido algo evidente no desenvolvimento do processo da aprendizagem em todos os níveis de ensino. Alunos e professores encontram-se diante de uma sala de aula, inserida no Ambiente Virtual de Aprendizagem, rico de possibilidades de interações e colaborações on-line. O trabalho objetiva desenvolver reflexões sobre mediação tecnológica no Curso Técnico em Manutenção Automotiva, da Universidade Estadual do Maranhão, na perspectiva de exercitar estudos e produção de conhecimentos no processo ensino-aprendizagem, gerando como resultados, indicadores relevantes para subsidiar as políticas de formação profissional, notadamente, dos cursos técnicos ofertados na modalidade a distância. Apresenta um estudo de caso, de abordagem qualitativa, cujo método possibilitou o exame da realidade concreta, mediante a observação, descrição e análise do Ambiente Virtual de Aprendizagem e suas ferramentas. Realizou-se entrevistas com os principais sujeitos do processo: alunos, tutor e professor. Os resultados apontaram diferentes modelos de mediação, os quais implicam em interações. Palavras-chave: Mediação tecnológica; ambiente virtual de aprendizagem; curso profissionalizante; modalidade de educação a distância. Technological Mediation: interactive tools used in the Automotive Maintenance professional course Abstract. The advancement of technology is something amazing for the development of the learning process at all levels of education. Students and teachers are facing a new classroom – the Virtual Learning Environment – rich in possibilities of online interactions and collaborations. The present work aims to develop reflections on technological mediation in the Technical Course of Automotive Maintenance, of the State University of Maranhão, in a perspective of exercise studies and production of knowledge in the teaching-learning process, generating as results, relevant indicators to support professional training policies, in particular, of the technical courses offered in distance modality. It consists in a case study, with a qualitative approach, which method allowed the examination of the concrete reality, through observation, description and analysis of the Virtual Learning Environment and its tools. Interviews were conducted with the main subjects of the process: students, tutor and teacher. The results showed different models of mediation, which implies interactions. Keywords: Technological mediation; virtual learning environment; professional course; distance education modality. 1 Introdução Com o aparecimento das tecnologias digitais interativas surgem também diferentes formas de ensinar e aprender, ou seja, outras maneiras de relação se estabelecem no processo ensino- aprendizagem, por meio da mediação tecnológica. É evidente que a educação no Brasil vive um momento de expansão propiciada pelo uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), contribuindo para transpor as barreiras geográficas e temporais até então existentes, especialmente, quando se trata de cursos ofertados na modalidade a distância. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996): [...] a educação a distância (EaD) é uma atividade pedagógica caracterizada por um processo de ensino e de aprendizagem realizado com a mediação docente por meio da utilização de recursos didáticos sistematicamente >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1877 organizados, apresentados em diferentes suportes tecnológicos de informação e comunicação, os quais podem ser utilizados de forma isolada ou combinadamente, sem a frequência obrigatória de alunos e professores (Art. 47, § 3º). Na EaD as ferramentas interativas geram inúmeras possibilidades de desenvolvimento da mediação. Essa ação de mediação ocorre entre professores e alunos, por meio dos processos de comunicação e interação, com o auxílio das mídias e das tecnologias digitais. Logo, cursos que envolvem a modalidade EaD necessitam inserir em suas propostas educativas, uma discussão consistente sobre o uso da tecnologia e seus impactos, especialmente no que diz respeito a dinâmica da significação social do conhecimento. O presente trabalho objetiva identificar e analisar as formas de mediação adotadas no processo ensino-aprendizagem no Curso Técnico em Manutenção Automotiva da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), ferramenta que possibilita a construção compartilhada de conhecimentos, criado a partir da proposição de seu idealizador Dougiamas (2009). Dentre as suas funcionalidades destaca-se as características de ser um software livre em ambiente online, desenvolvido com intenção de ser um ambiente de aprendizagem colaborativa. A UEMA na época da pesquisa utilizava a plataforma Moodle com a versão 2.8. O AVA vem sendo comumente utilizado de forma ativa como um espaço de compartilhamento, troca de informações, discussões e construções coletivas, desmistificando assim, o mito do distanciamento temporal e geográfico na educação mediada pelas tecnologias. A escolha do tema justifica-se por ser a mediação tecnológica uma estratégia inovadora em cursos da área técnica. Esses cursos por suas caracteristicas eminentemente práticas exigiam suas ofertas na modalidade presencial. Dai então, surgiu a inquietação de conhecer o funcionamento de um curso dessa natureza na modalidade EaD e como ocorre o processo de mediação com a utlização de ferramentas tecnológicas de forma a facilitar o processo ensino-aprendizagem.O artigo encontra-se organizado em cinco partes, iniciando-se pela introdução ao tema da pesquisa. Na segunda parte, segue-se com o marco teórico, cuja abordagem enfoca, notadamente a mediação tecnológica, numa perspectiva de mudanças de paradigmas educacionais em função do uso da TIC. Na terceira parte, descreve-se o percurso metodológico trabalhado na construção da pesquisa, com a apresentação do objeto de estudo e sua aplicação. Na quarta parte, apresentam-se os procedimentos da coleta e análise dos dados, mediante pesquisa de natureza qualitativa, realizada com os principais atores do processo: alunos, professor e tutor do Curso Técnico em Manutenção Automotiva, e observações no AVA. Por último, apresentam-se as considerações finais, com base no processo de planejamento, desenvolvimento e análise do objeto em estudo. É oportuno registrar que o estudo contemplou a análise das ferramentas tecnológicas adotadas como mediadoras no processo ensino-aprendizagem do curso em referência, em especial, o fórum, por ser o espaço interativo mais utilizado no curso. 2 Marco Teórico A oferta de cursos a distância no Brasil cresceu muito nos últimos dez anos, em todos os níveis de ensino. No âmbito da diversidade de cursos e de instituições formadorassurge também um conjunto de ferramentas e de profissionais capacitados para estimular a participação dos aprendizes, ou seja, fazer a mediação da aprendizagem, na perspectiva de atender as exigências que o processo ensino-aprendizagem requer. No que diz respeito à mediação com o uso das tecnologias, faz-se oportuno refletir sobre o pensamento de Freire (2007), quando faz referência ao nosso compromisso com o homem concreto, com a causa da humanização e da libertação, ou seja, torna-se inevitável abstrair-se da ciência e da tecnologia. Para Freire é por >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1878 meio da “ciência e tecnologia” que as pessoas se instrumentalizam para melhor lutar pela causa da educação, compreendida assim, como instrumento a serviço da democratização para formar pessoas participantes, pelas suas vivências comunitárias nos grupos sociais e no diálogo. Seguindo a mesma linha de pensamento de Freire, Masetto complementa a ideia de mediação, numa perspectiva mais didática, quando assim coloca: Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos (Masetto, 2008, p. 144). Assim, com base em Freire (2007) apreendeu-se que o processo de mediação se dá nas diferentes formas de comunicação e nas relações que se estabelecem entre os seres humanos, ou seja, o processo de mediação se constrói a partir da nossa cultura, do nosso trabalho e das experiências de vida, implicando numa releitura crítica do mundo. A partir de Masetto (2008), o entendimento de mediação passa por uma relação pedagógica professor – aluno, em ações conjuntas, no diálogo aberto, de relações de empatia e confiança no aprendiz. No contexto das mediações tecnológicas aplicadas à educação, o AVA se apresenta como um espaço dinâmico, possibilitando discussões, troca de experiências e a socialização do conhecimento entre os participantes. Nesse sentido, Filatro corrobora ao afirmar que esses ambientes “[...] refletem mais apropriadamente conceitos de ‘de sala de aula on-line’, em que a ideia sistema eletrônico está presente, mas é extrapolada pelo entendimento de que a educação não se faz sem ação e interação entre as pessoas”. (Filatro, 2008, p. 120). Dai pensar-se que num ambiente de EaD a aprendizagem não pode acontecer de forma receptiva, uma vez que as interações são fundamentais para que o processo de conhecimento se desenvolva de forma colaborativa. Há de se convir que a interação acontece significativamente quando a afetividade está articulada ao processo ensino-aprendizagem, pois a realização da aprendizagem é imprescindível para a construção de vínculos na relação pedagógica entre todos os envolvidos. Nessa perspectiva, entende-se que um AVA para proporcionar interação, autonomia e aprendizagem colaborativa, deverá permitir diferentes estratégias de aprendizagem, de forma a atender o maior número de estudantes, mas também, a individualidade de cada um, considerando o interesse, a familiaridade com o conteúdo, a motivação e a criatividade. Nesse sentido, importa a seguinte reflexão: Desse modo, espaços de aprendizagens que visam a construção de conhecimentos significativos devem considerar as vivências e experiências, o repertório cultural e os aspectos subjetivos exteriores ao sujeito, relacionando às situações sociais de desenvolvimento em que o mesmo está envolvido. (Cruz e Souza, 2014, p. 8). Esse pensamento converge para Coll e Monereo que destacam a importância da internet neste começo de século, uma vez que tem alterado significativamente os cenários e as finalidades da educação, valendo até mesmo dizer que tem sido responsável pela redefinição do espaço e o tempo de educar, tudo de maneira muito peculiar. (Coll e Monereo, 2010, p. 21). Portanto, o Ambiente Virtual de Aprendizagem traz novas oportunidades educacionais, permitindo dentre outras vantagens, possibilidades de mediações entre professores e alunos de modo a serem capazes de tomar decisões no compromisso do seu próprio aprendizado. 3 Percurso Metodológico De acordo com Minayo (2008) a pesquisa é a atividade fundamental da ciência no que diz respeito a sua indagação e construção da realidade. Para esta autora é a pesquisa que dá >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1879 sustentação a atividade do ensino, atualizando-o diante da dinâmica do universo. Portanto, embora a pesquisa seja uma prática de natureza teórica, vincula-se à vida prática, pois, congrega pensamento e ação. Assim, ela se refere ao conceito de metodologia no âmbito da pesquisa, como sendo: [...] o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia incluiu simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade e sua sensibilidade).(Minayo, 2008, p. 14). Fundamentado nessa concepção, este trabalho apresenta-se numa abordagem de natureza qualitativa, cujo método possibilitou o exame da realidade concreta. Os dados coletados são apresentados de forma descritiva, com depoimento e comentários individuais dos sujeitos da pesquisa. Feita a opção por essa abordagem, decidiu-se, então, pelo estudo de caso, com o intuito de investigar com profundidade um determinado objeto, dentro do contexto real. O estudo de caso é adotado em muitas conjunturas na perspectiva de contribuir com o conhecimento que se tem dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais e políticos, bem como de outros fenômenos relacionados (Yin, 2005, p. 22). Assim sendo, a estratégia do Estudo de Caso como método de pesquisa requer a apresentação rigorosa dos dados e a delimitação teórica prévia. A utilização de métodos qualitativos busca explicar o porquê das coisas, traduzindo o que deve ser feito, sem quantificar valores e nem tampouco as trocas simbólicas. Para o referido autor, adotar o método do estudo de caso para fins de pesquisa ainda é uma questão desafiadora no âmbito das ciências sociais. Esclarece ainda, que o estudo de caso é favorável quando se quer investigar acontecimentos contemporâneos em que não se pode controlar comportamentos considerados relevantes. Assim sendo, o presente estudo de caso foi realizado de forma contextualizada, o que permitiu revelar a multiplicidade de dimensões presente na mediação, facilitando assim, a observação mais abrangente dos fatos. No que diz respeito ao locus da pesquisa, esta se realizou em uma turma do Curso Técnico em Manutenção Automotiva, ofertado na modalidade EaD, da UEMA situada em São Luís, capital do Estado do Maranhão, Brasil. A escolha da referida turma efetivou-se em função de, no conjunto de oito cursos técnicos ofertados pela UEMA, ser essa a única turma do Curso Técnico em Manutenção Automotiva, constituída de 18 alunos. Esse curso tem 25% de sua carga horária destinada à prática profissional, o que significa dizer que do total de 1.440 horas, 360 horas são exclusivas para a realização de atividades práticas. Ressalte-se que embora essas atividades sejam realizadas em diferentes espaços: laboratórios, oficinas, empresas, etc., são todas socializadas no AVA. Além de o curso exigir muitas aulas práticas, outro critério adotado deve-se ao fato da turma pertencer ao Polo Paulo VI, de fácil acesso viabilizandoassim, os deslocamentos para efetivação do trabalho de campo. Para a realização desta pesquisa, foi efetuada consulta à Coordenação Geral do Núcleo de Tecnologias para Educação – UEMANET, havendo, portanto, permissão por parte da referida Coordenação, bem como da Coordenação do Curso. No que tange à permissão para o acesso ao trabalho de campo, importa refletir sobre as seguintes recomendações: A relação com as pessoas deve ser constantemente negociada ao longo da pesquisa e não apenas uma vez. [...] Pode-se notar aqui a ambigüidade da noção de entrada ou de acesso ao campo: esse termo “entrada” tanto designa a permissão formal quanto diz respeito ao momento em que é adquirida a confiança dos membros que aceitam se abrir realmente ao pesquisador. (Lapassade, 2005, p. 70). No que diz respeito aos participantes da pesquisa, foram escolhidos um professor, um tutor e cinco alunos. Ressalte-se que os participantes desta pesquisa foram escolhidos de forma >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1880 espontânea e muito embora o quantitativo seja pequeno, estes colaboraram com dados e informações bastante significativas para a compreensão dos fatos observados. A despeito disso, cabe enfatizar que na pesquisa qualitativa o objetivo da amostra é produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que seja capaz de produzir novas informações (Deslauriers, 1991, p. 58). É importante registrar que do universo de 18 alunos apenas cinco participaram de forma efetiva da entrevista. Todavia o convite foi extensivo a todos, mas a maioria não se disponibilizou a participar. Em relação ao tutor, a turma possui um tutor presencial e um a distância, mas somente o tutor a distância aceitou o convite, e, considerando que o objetivo principal da pesquisa era conhecer como se dá a mediação no ambiente virtual por meio das ferramentas interativas, o tutor a distância é ator fundamental. No caso da seleção do professor, foi escolhido o da Prática Profissional por ser este professor que acompanha o aluno em toda a sua trajetória durante o curso. Na delimitação do objeto deste estudo, estabeleceu-se como espaço o Ambiente Virtual da Plataforma Moodle, com destaque a feramenta fórum, considerada nesta pesquisa, a ferramenta interativa mais utilizada para a mediação tecnológica no Curso Técnico em Manutenção Automotiva, por seu grande potencial de mediação no processo de construção coletiva do conhecimento. Além disso, são utilizados com menor frequência: wiki, chat, webconference, dentre outras interfaces. 3.1 Procedimentos da coleta e análise dos dados A metodologia deste estudo tomou como base os elementos mais adequados para o alcance dos objetivos da pesquisa, tendo em vista a mediação tecnológica. Dessa forma buscou-se coletar os dados e informações de forma direta e indireta, pautando-se em dois momentos distintos: o primeiro, nas observações feitas no AVA, e o segundo nas entrevistas realizadas com um professor, um tutor e cinco alunos. Para coleta de dados, trabalhou-se considerando um dos critérios de classificação de pesquisa proposto por Vergara (1990), ou seja, no que diz respeito aos meios, uma vez que se buscou sustentação nos registros sobre o assunto no ambiente virtual do curso (plataforma moodle) e nos depoimentos dos próprios atores do processo ensino-aprendizagem. Em relação às observações, montou-se um roteiro de observação sobre as ferramentas do AVA, de modo a serem identificados os aspectos que pudessem facilitar ou dificultar o processo de mediação, tais como: estruturação do ambiente, apresentação dos conteúdos e atividades, as formas de interações adotadas e a criatividade, entre outros aspectos. Como já abordado anteriormente, na EAD o AVA se constitui um importante espaço potencializador dos processos de mediação para as atividades on-line. Para cada curso da UEMA existe uma sala virtual, provida de ferramentas para facilitar a comunicação síncrona ou assíncrona, oportunizando assim, a troca de saberes e a construção de conhecimentos de maneira interativa, de forma que os alunos, independentemente do tempo e do espaço, possam tornar-se agentes de sua aprendizagem. A despeito disso, vale proceder à seguinte reflexão: [...] educação a distância está relacionado à utilização de algum recurso tecnológico e didático para mediar a comunicação entre professores e alunos, em espaço e tempos distintos. Deste modo, essa modalidade educacional é responsável por romper com os paradigmas educacionais tradicionais na medida em que torna possível, através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), estabelecer a relação de ensino e aprendizagem. (Silva e Figueiredo, 2012, p. 3). Cabe ressalvar que o ambiente do Curso Técnico em Manutenção Automotiva é rico em possibilidades de aprendizagem, pela forma como se apresenta. Ao acessar o AVA, o aluno depara-se com um conjunto de recursos, tais como: Guias e Manuais, Biblioteca Virtual, >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1881 Secretaria Virtual, Bloco Ranking e Espaço de Convivência. Cada um desses recursos congrega vários outros elementos, contendo informações e orientações que possibilitam situar o aluno no contexto de um curso na modalidade EaD. A seguir, a figura 1 apresenta o print da página inicial do AVA, apresentando os icones dos principais elementos contidos na sala virtual do Curso Técnico em Manutenção Automotiva, a fim de uma melhor compreensão das midias adotadas que implicam mediações e consequentemente permeiam reflexões e enriquecem as discussões. Fig. 1. Tela inicial da Sala Virtual do Curso Técnico em Manutenção Automotiva – UEMA Além dos recursos que tratam da parte mais informativa, mencionados anteriormente, existem os módulos. A matriz curricular do Curso Técnico em Manutenção Automotiva contempla quatro módulos, e, na ocasião da pesquisa, os alunos encontravam-se concluindo o segundo módulo. Nos Módulos, encontram-se inseridas as disciplinas com seus respectivos Planos de Ensino, Roteiros de Estudo, os Roteiros das Práticas e os Cadernos de Estudo, sendo este último, considerado o material indispensável do aluno. Além disso, existem os materiais complementares (textos, vídeos, games, sites indicativos), as atividades e as avaliações. Dentre as principais atividades realizadas no ambiente estão os fóruns de discussões, as web conferências e as aulas práticas em laboratórios e oficinas. De acordo com os recursos disponíveis no AVA foram feitas as observações, na perspectiva de identificar de que forma as relações ocorrem através desses instrumentos para que se pudesse conhecer melhor o seu funcionamento. Percebeu-se nas observações, que a mediação realizada no AVA por meio dos fóruns pelo professor, tutor e alunos revela que são utilizados também outros recursos didáticos, como consulta ao caderno de estudos, pesquisa em sites, e outros, de forma conjunta, demonstrando a dinamicidade dessa ferramenta, assim como nível de aceitação e familiaridade dos participantes. Como pode ser constatada ainda, a seguir, nas entrevistas, essa forma de mediação vem fortalecer a relação pedagógica sob o ponto de vista que a modalidade de EaD pode contribuir muito para expansão da oferta de cursos dessa natureza.No que diz respeito as entrevistas, estas foram realizadas com um professor, um tutor e cinco alunos, cujas questões foram elaboradas no sentido de avaliar, especificamente, o fórum, considerando ser este recurso o mais utilizado no desenvolvimento do curso. Na opinião do Professor o fórum se constitui a principal ferramentado AVA para mediação do processo ensino-aprendizagem. Segundo o Professor: >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1882 Essas ferramentas possibilitam a construção do conhecimento, através do diálogo em tempo real. É mediante os fóruns que ocorrem efetivamente as interações, tanto por parte do professor com os tutores, quanto dos tutores com alunos e, entre os próprios alunos. (Fala do Professor). Para o tutor, o fórum é realmente uma ferramenta poderosa de interação, no entanto, poderia ser mais bem explorado. Ele sugere que o fórum aguce maior participação, e, para isso, precisa ser bem planejado e que a abertura seja feita com uma mensagem clara, objetiva e questionadora, advertindo ainda, que em alguns fóruns os alunos não dialogam, apenas emitem sua opinião. No entanto, coloca que isso não é uma regra geral, depende de cada disciplina e de cada professor. E ainda complementa: Quando o fórum é bem elaborado, a mensagem de abertura é bem contextualizada e os alunos são devidamente orientados sobre o assunto, a discussão se processa normalmente, os alunos se sentem motivados a interagir com os seus pares e com certeza a mediação ocorre de forma satisfatória. Compreendo também que a nossa participação, enquanto tutor a distancia é imprescindível para fortalecer o debate, mas compreendo também que o nosso papel é incentivar a interação entre os alunos. (Fala do Tutor). Nesse sentido, a opinião do tutor parte do princípio de que a forma como a discussão é proposta no fórum é que vai contribuir para estimular a participação do aluno. Em EaD deve-se propor atividades em que o aluno realize mesmo estando só, ou com um pequeno grupo de colegas virtuais. O fórum deve potencializar a interatividade, de modo que a construção do conhecimento seja feita de maneira colaborativa, para que o aluno não se sinta isolado no tempo e no espaço (Horn, 2014, p. 122-123). No que tange a função do tutor: Recomenda-se que a atuação do tutor junto ao fórum seja dialógica, para que os cursistas não percebam essa ferramenta, apenas como mais um local de entrega de tarefas (como acontece na ferramenta Tarefa), mas sim, um espaço de diálogo constante, de novas indagações, questionamentos, e de contribuições dos demais colegas para uma determinada questão ou fato. (Grossi; Moraes; Brescia, 2013, p. 85). Quanto à opinião dos alunos sobre as formas de mediação utilizadas nos fóruns, obteve-se as seguintes respostas: Questões Respostas Quant. Alunos Quem coordena as discussões dos fóruns? O professor da disciplina. 05 O que você entende por mediação? A forma como a gente se comunica no Ambiente Virtual de Aprendizagem; 03 O processo de troca de informações e conhecimentos na educação a distância; 01 A comunicação on-line entre os alunos, professores e tutores. 01 Como se dá interação do Professor com os alunos no Sim, pois ajuda muito na comunicação escrita, além de mostrar as diferentes opiniões dos colegas; 01 >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1883 fórum? Sim. Mas que depende muito do professor da disciplina. Tem professor que não se preocupa com o aprendizado do aluno, apenas quer cumprir com o programa da disciplina; 01 01 aluno disse que sim, pois através dos fóruns podem tirar suas dúvidas tanto com o professor quanto com os colegas; 02 Sim, uma vez que o fórum complementa os conteúdos abordados durante as disciplinas e incentiva a discussão com os colegas. 01 De que forma o tutor interage com o aluno nos fóruns. O tutor apenas faz o monitoramento para saber quem está participando e faz contato com aqueles que ainda não se manifestaram a participar do processo de discussão; 01 O tutor é o maior incentivador do aluno nos fóruns, ele ajuda muito não só nos fóruns como em outras atividades; 02 Tanto o professor quanto o tutor auxiliam os alunos no fórum tirando dúvidas e motivando a participação; 01 O tutor não acrescenta quase nada sobre o conteúdo, portanto o seu papel é apenas não deixar o aluno de fora da discussão. 01 Quadro 1 – Consolidação das opiniões dos alunos do Curso Técnico em Manutenção Automotiva na entrevista sobre mediação. Pelo que se pode perceber na fala dos alunos quanto ao entendimento sobre mediação, estes demonstraram ter clareza do que é, de como deve ser feita e quem deve conduzi-la. Compreendem perfeitamente que é tarefa do professor incentivar e facilitar o processo de aprendizagem, mas, assinalam que nem todos os professores assumem o seu papel, deixando muitas vezes por conta do tutor e dos próprios alunos. Ou seja, essa compreensão que eles têm sobre o papel do professor como mediador, aproxima-se da visão de Masetto (2008), abordada anteriormente, que concebe o professor como uma espécie de elo entre o aluno e sua aprendizagem, numa interdependência autônoma e dinâmica, que aguça, provoca, estimula e coopera para facilitar o aprendizado do aluno. Moran (2000) também corrobora com essa ideia quando assevera que: Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. (Moran, 2000, p.17) No que diz respeito à importância do fórum como ferramenta básica no processo de mediação tecnológica, todos os entrevistados foram unânimes em dizer que sim, inclusive, ressaltando a importância que tem essa ferramenta para o exercício da comunicação escrita e do diálogo. Tal compreensão associa-se a ideia de que “o diálogo é o encontro entre os homens, >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1884 mediatizados pelo mundo, para designá-lo”. (Freire, 2007, p. 69). Isso implica dizer que o diálogo entre o professor e o aluno é essencial no processo ensino-aprendizagem, pois somente através dele o professor tem condições de conhecer o pensamento do aluno e pode auxiliá-lo em suas dúvidas e inquietações. Quanto ao tutor, estes demonstraram que têm a compreensão de que o mesmo é um auxiliar do professor, notadamente, no sentido de monitorar o aluno quanto ao cumprimento das atividades. Mas percebem também, a importante contribuição no sentido de estimulá-los, incentivá-los, não os deixando fora das discussões nos fóruns e em outras atividades demandadas pelo professor. Deixam claro, portanto, que o importante papel da mediação no processo ensino-aprendizagem é do professor, as ferramentas tecnológicas são suportes. Convém ressaltar que de acordo com a literatura estudada existem diferentes formas de mediação na EaD, e, que todas implicam em interações. No entanto, neste estudo de caso, constatou-se que a mediação se processa com maior ênfase no Ambiente Virtual de Aprendizagem, sobretudo, por meio dos fóruns, na relação entre professor – aluno e aluno-aluno. O Tutor aparece como coadjuvante no processo, mas, não se configura como a ponte principal entre o aluno e o conhecimento. 5 Considerações Finais O estudo do processo de mediação tecnológica nesta pesquisa tomou como referência as ferramentas utilizadas no AVA, mais especificamente, o fórum. Porém, importa registrar a relevância que todos os recursos exercem no contexto dos cursos a distância. Esse entendimento trouxe à tona, o interesse de no futuro, complementar a pesquisa, tornando oestudo mais abrangente. A análise sobre as formas de mediação em EaD é complexa, especialmente, quando se trata de análise do espaço virtual, onde o pesquisador não tem a oportunidade de vivenciar todos os momentos da prática pedagógica. Neste estudo, por exemplo, fez-se um percurso pelo ambiente, mas, muito mais para conhecimento das ferramentas do que propriamente para vivenciar o dia a dia das relações que ocorrem nesse espaço. Convém destacar que, as principais percepções registradas neste artigo foram adquiridas a partir das informações dos entrevistados, fundamentadas com a visão dos autores estudados. Assim, pode-se conceber a mediação tecnológica no processo ensino- aprendizagem como as relações que se materializam virtualmente, tomando como referência as experiências docentes e discentes. As ideias dos autores propiciaram fazer o contraponto com o material colhido na pesquisa e possibilitaram compreender melhor o papel das interações sociais, uma vez que o diálogo virtual é fundamental no processo de aprendizagem entre os participantes, que na visão de Freire se constitui uma prática libertadora. Isto porque na compreensão do referido autor o aluno não é um depósito que deva ser preenchido pelo professor, mas, cada um, juntos, pode aprender e desvendar novas possibilidades de aprendizagem. Dessa forma, entende-se que na educação, seja a tradicional ou a virtual, existem diferentes formas de mediação. E que o mais importante no processo ensino- aprendizagem não é este ou aquele modelo, ou aquela ferramenta, mas, o respeito ao aluno como ser único que constrói o seu aprendizado. Cabe, então, ao Professor e todos os agentes que trabalham em função desse processo, a capacidade e sensibilidade de possibilitar meios para que o aluno encontre a melhor maneira para construir os seus conhecimentos. Por outro lado, não adianta ter um ambiente virtual com um bonito layout , uma variedade de ferramentas e atividades, se não houver um bom planejamento e profissionais comprometidos e capacitados para interagirem utilizando e potencializando, eficientemente, as ferramentas disponibilizadas por esse mundo tecnológico fascinante. Desse modo, busca-se fomentar o uso dessas ferramentas tecnológicas de forma crítica, registrando a importância do papel do professor e do tutor na construção do conhecimento a partir das informações partilhadas. >>Atas CIAIQ2017 >>Investigação Qualitativa em Educação//Investigación Cualitativa en Educación//Volume 1 1885 Referências Coll, C. & Monereo, C. (2010). 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Mendes 1 RESUMO Trata-se de examinar as normativas re- lativas às políticas do Ministério da Educação na implementação de Cursos de Graduação na modalidade a Distância no Brasil e anali- sar os indicadores de Controle de Qualidade de'nidos pelo referido Ministério, tais como: Concepção de Educação, Elaboração de Material Didático, Equipe Multidisciplinar, Avaliação Docente, da Aprendizagem e Infraestruturara de Apoio. Mediante leituras e análise documental foram priorizadas ques- tões que norteiam as Políticas e Referenciais de Qualidade para educação a distância. Como resultado esperado, constata-se que, políticas públicas estão sendo constantemen- te reformuladas a 'm de assegurar o suporte legal e critérios bem de'nidos e objetivos para a expansão e aprimoramento nesta atual mo- dalidade de ensino, mas com ressonâncias na oferta de cursos de graduação pelas IES. Palavras-chave: Educação, Educação a Distância, marco regulatório de EaD ABSTRACT: /is study sought to analyze the regulations within the policies of the Ministry of Education on the implementation of undergraduate distance learning, and to address the question of the indicators of prioritized issues and policies that guide the Quality References for e-learning. /ough anticipated as a result, it appears that public policies, constantly being released by the Ministry, based on the legal support for the expansion and improvement of this current modality of teaching, resonate within the o0erings of undergraduate courses in institutions of higher education. Keywords: Education, E-learning, Education policies, Quality control. 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas. A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 50 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: FUN- DAMENTOS LEGAIS E IMPLEMENTAÇÃO Caminhamos para o exato momento em que a consciência de civilização, a cons- ciência de superioridade de seu próprio comportamento e sua corpori'cação na ciência, tecnologia ou na arte começa- ram a se espraiar por todas as nações do Ocidente. (Elias, 1990) INTRODUÇÃO No contexto da política de expansão do ensino superior, o artigo 80 da LDBN 9.394/96 representou marco signi'cativo para o desen- volvimento, regulação, avaliação e supervisãoda EaD em todos os níveis da educação bra- sileira. O uso de tecnologias no ensino e na aprendizagem promove a democratização do ensino, tão cara ao país que padece da evasão escolar e das di'culdades de acesso às uni- versidades. Mas a tecnologia, apesar de sua importância, não deve ser encarada como o principal fator. As políticas públicas de edu- cação abrangem, principalmente, os pressu- postos teórico-metodológicos na mediação pedagógica. Assim, estimulados pela emergência de um novo paradigma educacional, que surge a partir da evolução de instrumentos ligados à tecnologia da informação, nota-se o descom- passo existente entre este paradigma e as polí- ticas usualmente adotadas no ensino superior. O objetivo dessa pesquisa consiste no exame da importância das políticas públicas em EaD para implementação dessa modali- dade nas universidades brasileiras, mediante análise dos instrumentos legais, em especial, os Referenciais de Qualidade para EaD e suas implicações na oferta de cursos de graduação, na modalidade pelas IES. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS POLÍTICAS DO MEC Nessa sociedade em que as descober- tas cientí'cas e tecnológicas transformam as relações sociais e de trabalho, uma vez que o individualismo rege estas relações, o de- senvolvimento e o uso de novas tecnologias constituem meios para que a sociedade torne- -se cada vez mais competitiva. O mercado de trabalho pressionado pelos contextos tecnológicos, políticos e eco- nômicos do mundo contemporâneo leva os indivíduos a viver uma crescente e constante necessidade da aquisição de novos saberes, capacitações e competências. As crescentes exigências desse mercado fazem surgir novas modalidades de educação que exploram a co- laboração entre os indivíduos, a >exibilidade de ações para a construção de saberes e não mais privilegiam o acúmulo dos conhecimen- tos, mas sim seu constante rearranjo, extrapo- lando as paredes da sala de aula e os limites do relógio. Esses atributos, notadamente visíveis nos instrumentos do EaD, apresentam res- postas a essas demandas em seus novos am- bientes virtuais de ensino, se utilizados com metodologias igualmente novas e cooperati- vas. A cooperação desa'a o individualismo e favorece o indivíduo na direção da construção Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile ira d e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 51 de seus conhecimentos e na criação de uma cultura solidária. A educação a distância, conhecida em uma época em que o correio e o rádio eram os principais suportes ou veículos para os cursos das mais diversas áreas, com a disseminação da informática computacional e o desenvolvi- mento de so?ware educativo, tornou-se uma nova modalidade de ensino e aprendizagem. Todavia, a didática do ensino virtual deve contemplar a multidimensionalidade dos re- cursos e ferramentas tecnológicas e os proce- dimentos adequados prevêem: - Ênfase na autonomia do aluno. - Exploração das possibilidades do material didático. - Domínio das ferramentas. - Conhecimento prévio dos processos de inte- ração e mediação. - Disponibilidade e interesse para a comunica- ção diferenciada das fontes de informação. Tais procedimentos abrangem a apren- dizagem a distância, longe das salas de aulas convencionais, livre de um sistema curricular rígido e de uma estrutura e funcionamento do ensino preso às normas e regulamentos. Essa modalidade de ensino veio ao encontro de uma demanda especí'ca de estudantes e pro- 'ssionais cujo per'l desvela a realidade atual em seus ritmos, processos e exigências. As instituições educacionais, por sua vez, iniciaram uma prática de educação a distância para atender a essa nova deman- da amparada pela Lei 9.394/96 LDBN- Lei de Diretrizes e Bases Nacional que regula- menta a educação nacional. O Capítulo IV da LDBN 9.394/96 estabelece fundamentos, condições e procedimentos para o credencia- mento e adequação de Cursos e Programas de Ensino Superior em âmbito nacional. O artigo 80 dessa Lei é o que trata dos Programas de Educação a Distância no Brasil. Entretanto, este não se refere especi'camente ao uso das tecnologias da informação como instrumen- to dessa modalidade de ensino, que assim se de'ne: Artigo 1o do Decreto No 2494/98 (revogado) Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendi- zagem, com a mediação de recursos di- dáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diver- sos meios de comunicação. Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005 em seu artigo 1º. ...modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos pro- cessos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com es- tudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. O Decreto 2.494/98, instituído dois anos após a LDBN, caracteriza a educação a distân- cia como modalidade de ensino e aprendiza- gem que pode se valer das diversas mídias interativas de comunicação e informação. No entanto, considera que, no estágio atual de desenvolvimento tecnológico, o computador torna-se a mídia de destaque, cada vez mais disseminada no meio social e educacional. A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 52 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação Pallo0 e Pratt (2002), em seus estudos para conceituação de aprendizagem a distân- cia mediada por mídia computacional, apre- sentam a ideia de que: ...fundamentais aos processos de apren- dizagem são as interações entre os pró- prios estudantes, as interações entre professores e os estudantes e a colabo- ração na aprendizagem que resulta de tais interações. Em outras palavras, a formação de uma comunidade de alu- nos por meio da qual o conhecimento é transmitido e os signi'cados sejam criados conjuntamente, prepara o terre- no para bons resultados na aprendiza- gem. (Pallo0 e Pratt, 2002, p. 27.) Conceituar educação a distância no Ensino Superior implica ter em mente a es- peci'cidade da formação educacional, e o potencial das tecnologias de comunicação e informação no sentido de tornar possível con- 'gurar dinamicamente a rede de comunica- ções, de modo que um aluno possa participar, ao mesmo tempo, de uma interação coletiva e de interações individualizadas com professo- res e com grupos de estudantes, o que torna o processo mais interativo e o atendimento ao aluno mais individualizado do que se pode conseguir com os recursos tradicionais. A legislação que regulamenta a EaD no Brasil é o Decreto 5.622 4, de 19 de dezembro de 2005, que se constitui de cinco capítulos: o Capítulo I trata das Disposições Gerais e caracteriza a EaD; o Capítulo II trata do cre- denciamento das IES e instruções para oferta de cursos; o Capítulo III, da oferta de EaD na educação básica; o capítulo IV, da oferta de cursos superiores na modalidade a distância e o Capítulo V, das Disposições Gerais. No Capítulo I − Disposições Gerais − tem-se: Exigência de encontros presenciais para: avaliações; estágios, apresentação de TCC, atividades laboratoriais, se pre- vistas no Programa do Curso (art. 1). Possibilidade de se oferecer EaD em qualquer nível educacional (art. 2). Exigênciade que os requisitos de carga horária e duração dos cursos e progra- mas em EAD sejam os mesmos dos pre- senciais. A Portaria 4059/2004 permite a oferta de cursos de graduação com até 20% de atividades na modalidade a dis- tancia. Esta porcentagem pode ser atin- gida mediante a implementação de dis- ciplinas totalmente na modalidade EaD ou com disciplinas que se valem parcial- mente de atividades a distancia (art. 3). A possibilidade de se reconhecer e acei- tar transferências de Cursos e discipli- nas da modalidade presencial para EaD e vice-versa (art. 3). As avaliações presenciais devem preva- lecer sobre as a distancia (art. 4). A validade dos diplomas de EaD é nacio- nal (art. 5). Convênios, acordos ou Programas con- veniados entre quaisquer IES devem ser submetidos à análise e homologação de órgãos normativos (art. 6). 4 Esse decreto recebeu nova redação no Decreto 6.303. Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile ira d e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 53 Os indicadores de Controle de Qualidade de'nidos pelo Ministério da Educação e pro'ssionais da educação e citados no portal SESU-MEC sob o título de Referen- ciais de Qualidade de EaD para Cursos de Graduação a Distancia estão detalhados no Parecer CNE/CES N° 197/2007. “Esses Referenciais de Qualidade circunscrevem- -se no ordenamento vigente em comple- mento às determinações especí'cas da Lei de Diretrizes e Base da Educação, do De- creto 5622/2005, do Decreto 5773/2006 e das Portarias Normativas 1 e 2 /2007”. Es- tes indicadores são parâmetros que devem estar presentes nas Diretrizes no planeja- mento, credenciamento e avaliação dos Cursos e Programas em EaD (art.7). A padronização de normas e procedimen- tos para reconhecimento, credenciamento e renovação de credenciamento das IES públicas ou privadas para atuar com EaD cabe ao Ministério da Educação (art. 7). O Decreto 6303 de 12 de dezembro de 2007 determina que altere dispositivos dos Decretos 5.622, de 19 de Dezembro de 2005, que Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e o Decreto 5.773, de 9 de Maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de Instituições de Educação Superior e Cursos Superiores de Graduação e Seqüencial no sistema nacio- nal de ensino. A Lei 9394/96 orienta também so- bre credenciamentos das IES e Instruções para Ofertas de Cursos e Programas, o Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI, o Projeto Pedagógico para os Cursos e Programas que serão ofertados na modalida- de a distância; a garantia de corpo técnico e administrativo quali'cado; o corpo docente com as quali'cações exigidas na legislação em vigor e, preferencialmente, com formação para o trabalho com educação a distância; apresentar, quando for o caso, os termos de convênios e de acordos de cooperação cele- brados entre instituições brasileiras e suas co-signatárias estrangeiras, para oferta de cursos ou programas a distância e a descrição detalhada dos serviços de suporte e infraes- trutura adequados à realização do Projeto Pedagógico. A descrição e o detalhamento dos ser- viços de suporte e infraestrutura dizem res- peito às instalações físicas e infraestrutura tecnológica de suporte e atendimento remo- to aos estudantes e professores; laboratórios cientí'cos; polos de educação a distância; bibliotecas adequadas, inclusive com acervo eletrônico remoto e acesso por meio de redes de comunicação e sistemas de informação. Os Projetos Pedagógicos de Cursos e de progra- mas na modalidade a distância, no sentido de obedecer às diretrizes curriculares nacionais, estabelecidas pelo Ministério da Educação; prever atendimento apropriado a estudantes portadores de necessidades especiais; explici- tar em seu projeto os tópicos que compõem os Referenciais de Qualidade para o ensino de graduação e especialização (Parecer CNE/ CES Nº 197/2007). A referida Lei destaca, em suas dispo- sições gerais, no artigo 26, que um projeto de Educação a Distância deve observar, en- tre outras, a previsão da modalidade edu- cacional e de eventuais parcerias no Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI das Instituições de Ensino Superior - IES e no Projeto Pedagógico do Curso; a indicação A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 54 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação das responsabilidades pela oferta dos Cursos ou Programas a distância, no que diz respeito a: implantação de polos de educação a dis- tância; seleção e capacitação dos professores e tutores; matrícula, formação, acompanha- mento e avaliação dos estudantes e a emissão e registro dos correspondentes diplomas ou certi'cados. O polo deve estar de'nido no PDI e é responsabilidade da IES. Trata-se de um espa- ço físico para a execução descentralizada de algumas das funções didático-administrativas de cursos a distância, organizado com o con- curso de diversas Instituições, bem como com o apoio dos governos municipais e estaduais. Um polo deverá ser constituído com labora- tórios de ensino e pesquisa, laboratórios de informática, biblioteca, recursos tecnológicos dentre outros, compatíveis com os cursos que serão ofertados (SERES/MEC, 2007). A regulamentação para o EaD no ensi- no superior no Brasil vem sendo aprimorada no sentido de assegurar a qualidade do ensino e da aprendizagem como uma das soluções para enfrentar o problema de desvantagem educacional que o país sofre, entre outras ra- zões, pela sua dimensão geográ'ca, contradi- ções sociais e questões políticas. OS REFERENCIAIS DE QUALIDADE PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A expansão da oferta de Cursos e Programas na modalidade a distância no Brasil, nesta primeira década do Século XXI, trouxe para as discussões acadêmicas e, so- bretudo para as pesquisas em educação, o questionamento sobre a qualidade da forma- ção nesses Cursos e Programas, bem como a utilização da modalidade a distância sem uma política de'nidora que assegurasse uma for- mação objetivando a transformação da reali- dade educacional brasileira. Contudo, há que se considerar também, nessa nova modalida- de de ensino o docente que trabalha online, emergindo de uma condição de trabalho que requer uma nova pedagogia, identi'cando-se novas contradições e questionamentos. Para subsidiar os instrumentos de cre- denciamento e avaliação desses cursos em gra- duação e especialização, o Parecer CNE/CES Nº 197/2007 atualiza e detalha os Referenciais de Qualidade estabelecidos no Decreto 5622/05 e complementa o Decreto 5773/06. Segundo as orientações legais, estes re- ferenciais devem fazer parte integralmente do Projeto Pedagógico de Curso, observados seu desenvolvimento e os norteadores de processos de regulação, supervisão e avaliação do mesmo. Para que o Referencial de Qualidade seja contemplado em suas especi'cidades o Projeto Pedagógico de Curso deve explicitar os seguintes aspectos analisados a seguir. A Concepção de Educação e Currículo que predomina no processo de ensino e aprendizagem apresentando claramente uma opção epistemológica de educação, de currí- culo, de ensino e de aprendizagem, de acordo com o per'l de estudante que se deseja for- mar, a qual deve fundamentar todos os pro- cessos de organização, adequação, avaliação, planos de disciplinas, tutorias entreoutros. Considerando-se que o foco principal da Educação a Distância é o desenvolvimento humano e, sendo o estudante o foco de pro- cesso pedagógico, a assessoria didática preci- sa ser contínua, uma vez que, para aprimorar as práticas educacionais ao longo do processo Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile ira d e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 55 de ensinar e aprender virtualmente, diferen- tes formas de organizar e orientar a educação a distância interferem diretamente na apren- dizagem do aluno, bem como, deverá existir todo um planejamento do curso voltado para a realidade a distância e não, apenas, uma repro- dução do que ocorre na modalidade presencial para a modalidade a distância. Aconselha-se, assim, um módulo introdutório que leve o estudante ao domínio de conhecimentos e ha- bilidades básicas referentes à metodologia e à tecnologia utilizada. Os sistemas de comunica- ção referem-se aos ambientes tecnológicos uti- lizados na modalidade de educação a distância, favorecendo oportunidades para desenvolver projetos compartilhados e para propiciar cons- trução de conhecimento, respeitando as dife- renças culturais e questões referentes à dispo- nibilização de material didático, orientação e de interação. O PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO é o instrumento que descreve como se dará a interação entre os estudantes, através de atividades coletivas presenciais ou virtuais, tutores e professores; o modelo de tutoria e de acompanhamento previsto; a quanti'cação do número de horas disponíveis para aten- dimentos aos estudantes; a previsão dos ho- rários e formas de contatos com professores, tutores e pessoal de apoio; a de'nição prévia dos locais e datas de provas e de atividades nos momentos presenciais; a orientação e acompanhamento dos estudantes; a >exibili- dade no atendimento ao estudante; a disposi- ção de polos de apoio descentralizados, quan- do necessário, com infraestrutura compatível; as diferentes modalidades de comunicação assíncronas e síncronas; o planejamento da formação, supervisão e avaliação dos tutores e pro'ssionais de apoio. O MATERIAL DIDÁTICO destinado à EaD pode ser apresentado na forma impres- sa, vídeos, teleaulas, páginas da WEB, objetos de aprendizagem entre outros coerente com a opção epistemológica de educação, de ensino, de aprendizagem e ser planejado para usar as mídias previstas no Projeto Pedagógico do Curso. O material didático deve ser elabora- do juntamente com um Guia Geral do Curso e um Guia Geral das Atividades Pedagógicas e um Guia de Estudos a serem desenvolvidas em EaD, contendo uma síntese do planeja- mento dos sistemas de comunicação, da equi- pe responsável pela gestão do processo de en- sino e formas de avaliação. Esses Guias devem ser disponibilizados aos estudantes. A avaliação considera o desempenho dos estudantes e a e'ciência de cursos, sejam internas ou externas. No caso do desempenho dos estudantes, a Avaliação da Aprendizagem deve ser processual e contínua, composta de avaliações a distância e presencial, sendo que prevalecem avaliações presenciais sobre ou- tras formas de avaliação. É oportuno lembrar que estágios, a defesa de trabalhos de conclu- são de Curso e atividades de laboratórios são atividades presenciais. A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL é um processo permanente e consequente, bus- cando aperfeiçoar os sistemas de gestão e pe- dagógico, coerente com o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior SINAES. Cabe à Instituição planejar um processo con- tínuo de avaliação, da organização didática e pedagógica de projetos em EaD contemplan- do a aprendizagem; as práticas educacionais; o material didático; a estrutura do Currículo; os sistemas de comunicação; o modelo de EaD adotado; a realização de convênios e A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 56 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação parcerias. São três os documentos elaborados pelo governo: um para avaliar instituições, outro para Cursos e outro para polos. Eles es- tão sendo incluídos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. (SINAES). A educação a distância vai também receber conceitos de 1 a 5, visto que, até os dias atu- ais, não havia critérios especí'cos para essa modalidade. A AVALIAÇÃO DO CORPO DO- CENTE, de tutores, de técnico-administra- tivos e de discentes baseia-se na formação, experiência na área de ensino em EaD. A avaliação das instalações físicas contempla o suporte tecnológico cientí'co e instrumental. A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR é formada por docentes, tutores e pessoal téc- nico-administrativo com funções detalhadas no Projeto Pedagógico de Curso. Ao docente compete estabelecer fundamentos teóricos, selecionar e preparar conteúdos curriculares, identi'car objetivos educacionais, de'nir bi- bliogra'as, elaborar material didático, gerir o processo de ensino e de aprendizagem, e avaliar-se continuamente como participante coletivo de um projeto de ensino a distância. O Tutor é um dos sujeitos que participam ativamente da prática pedagógica. Atua no processo pedagógico mediando o processo de ensino e aprendizagem, junto a estudantes ou como colaboradores de turmas. Atua segundo horários e locais preestabelecidos. Deve co- nhecer o Projeto Pedagógico bem como cada atividade nele proposta, seus conteúdos, obje- tivos e formas de avaliação, tendo o domínio de conteúdo e capacitação nas mídias de co- municação e em fundamentos de EaD, parti- cipando também dos momentos presenciais. O CORPO TÉCNICO-ADMINISTRA- TIVO é formado por pro'ssionais adminis- trativos que atuam em funções de secretaria acadêmica, sendo que, na modalidade a dis- tância, é responsável pelo cumprimento das exigências legais, distribuição e recebimento de material didático e atendimento a estudan- tes. Os da área tecnológica são responsáveis pelo suporte técnico para laboratórios, biblio- tecas, e serviços relativos aos equipamentos e sistemas de informática, bem como para as atividades virtuais. A INFRAESTRUTURA DE APOIO refe- re-se à gestão de material e da sede central de atividades em EaD. Para atender a esta última, a instituição deve dispor de centros de comuni- cação e informação ou midiatecas disponíveis, tanto na sede institucional quanto nos polos. O gerenciamento do material inclui desde secreta- ria acadêmica, passando por salas de tutoria, sa- las de videoconferência, de coordenação, biblio- tecas, material de apoio sendo que o laboratório de informática (deve possuir minimamente os recursos para atender às especi'cidades das atividades em EaD, de livre acesso ao estudan- te para consultas e trabalho, caracterizando-se como espaço de inclusão digital), os laborató- rios de ensino, as salas de tutoria e secretarias. O polo de apoio presencial é a Unidade Operacional descentralizada de atividades pe- dagógicas e administrativas, coordenado por um pro'ssional habilitado tanto por conhecer o projeto pedagógico quanto por zelar pelos equipamentos. É por meio da implantação de polos que se viabiliza a expansão, a interiori- zação e regionalização da oferta de educação pela Instituição. Para tanto, os polos devem conter as estruturas essenciais para desenvol- vimento dos Cursos e assegurar a qualidade Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile irad e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 57 dos mesmos. Os referidos polos devem aten- der às condições de acessibilidade e utilização dos equipamentos por pessoas com de'ciên- cias e garantir a conservação e manutenção de equipamentos e de instalações. A Gestão Acadêmica e a Gestão Ad- ministrativa devem ser integradas aos demais processos da Universidade, com formas al- ternativas de acesso aos serviços pelos alu- nos que estão geogra'camente distantes da instituição. À Instituição cabe explicitar em seu processo de gestão o seu Referencial de Qualidade, detalhando os serviços básicos como: sistema de administração e controle do processo de tutoria; sistemas de controle da produção e da distribuição de material di- dático; sistema de avaliação de aprendizagem; sistema de banco de dados atualizado, com cadastro de equipamentos e de facilidades educacionais; sistema de gestão de serviços acadêmico-administrativos; sistema de regis- tro de resultados das avaliações e atividades realizadas pelo estudante; sistema de gestão das atividades acadêmicas para o docente. A Sustentabilidade Financeira a Insti- tuição realiza o planejamento de planilhas de custo de projetos a curto e médio prazo, em especial para a graduação, em consonância com o seu projeto pedagógico e a previsão de seus recursos, destacando-se investimento e custeio. No custeio, inclui-se uma planilha de oferta de vagas especi'cando-se claramente a evolução da oferta ao longo do tempo. Esses elementos constantes do Projeto Pedagógico de Curso são indicadores tanto para implementação do mesmo, como para orientar o corpo docente sobre as pressupos- tos epistemológicos da educação e da forma- ção, as atividades pedagógicas, os objetivos educacionais e o per'l do egresso, a meto- dologia e procedimentos das aulas virtuais e presenciais, o ambiente tecnológico e os sistemas de comunicação e interatividade, a equipe técnico-administrativa e a abordagem da gestão acadêmica e administrativa, como também para a avaliação do SINAES. Assim, quando se pensa em Educação a Distância, não se pensa apenas nas formu- lações existentes no momento-aula, mas em todos e quaisquer processos que os atores, principalmente, os alunos estejam envolvidos. Das formas de matrícula, aquisição de docu- mentos escolares aos relatórios de atividades docentes e a qualidade do material didático, todas estas ações vão implicar profundamente na atitude do aluno perante o curso e, logica- mente, in>uenciarão no seu empenho, na sua percepção como aluno e na sua aprendizagem. Cabe ao docente, em sua ação pedagó- gica, agregar aos conteúdos e às metodologias utilizadas, estudos que culminem na de'ni- ção de estratégias apropriadas, ferramental tecnológico adequado, atividades de estudos para aprofundamento dos conceitos e oportu- nizar ao aluno condições para que este atin- ja os níveis de compreensão, manipulando as informações, interagindo com os demais estudantes, recorrendo à pesquisa de novas fontes, possibilitando a construção de novas competências. Ao educando reserva-se um per'l de disciplina e que atenda à familiaridade com o ferramental tecnológico exigida nas roti- nas do sistema educacional convencional. No caso do so!ware educativo e suas plataformas tecnológicas, pressupõe-se uma organização para o estabelecimento de uma nova postura de estudo e de formação do educando. Nesse A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 58 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação per'l, inclui-se a capacidade de autogestão da vida acadêmica, considerando maturidade e condições particulares do aluno. A concepção pedagógica, as metodolo- gias utilizadas no ensino, na interatividade e na recuperação da aprendizagem do aluno e aluna, constituem diretrizes orientadoras de práticas capazes de assegurar a con'abilidade institucional em seu compromisso com a qua- lidade da formação ética e cidadã do educando com vínculos sólidos com a Missão, as Políticas educacionais e o Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI, impedindo ações desarti- culadas e isoladas na gestão das práticas peda- gógicas não convencionais de ensino, pesquisa e extensão na Universidade. O uso de computadores para a educação projeta uma nova abordagem de ensino, visto que, nela, os estudantes acessam os conteúdos e atividades no ambiente virtual e realizam sua autoaprendizagem tutorada e/ou parcial- mente mediada por tecnologias informatiza- das - semipresenciais, na medida em que o ensino e aprendizagem ocorrem: uma parte mediada pelo ambiente tecnológico online e outra parte na sala de aula convencional do ensino formal em contato com colegas, do- centes e os recursos de aprendizagem. Todavia, o per'l do egresso consiste em estar na vanguarda do processo de mudança de>agrado pela sociedade de informação e desenvolver habilidades e competências re- ferentes a domínios teóricos e práticos. Sua competência pedagógica deve estar aliada à competência técnica na utilização de novas tecnologias; ele deve desenvolver a capacida- de de trabalhar em equipe; a habilidade para administrar as informações de diferentes fon- tes, e de relacioná-las entre si; a competência na linguagem expressa pelo domínio da lín- gua falada e escrita, bem como ter compreen- são de diferentes linguagens. Atitudes e práticas: 1. Possuir disposição para capacitação permanente para mudanças e para co- locar em prática ideias diferentes das usuais. 2. Ter disposição para o diálogo e admitir seus erros quando necessário. 3. Ser facilitador da aprendizagem, articu- lador e mediador do conhecimento. 4. Re>etir criticamente sobre sua prática a partir de uma leitura da realidade e da consideração dos diferentes contextos de atuação. A Educação a Distância que, classi- camente, teve di'culdades de implantação em razão da pouca interação, e que, por esta mesma razão, traz em si certo sentido de in- ferioridade em relação ao ensino presencial, tem na internet a recon'guração de seu papel, proporcionada pelas novas formas de virtuali- zação do contato, da presença, e da formação. Rena e Pallo0 demonstram que a educação on-line não tem qualquer característica de in- ferioridade em relação à modalidade presen- cial, e mais, informam que desvios e disfun- ções desse modelo podem ser solucionados na modalidade online, como ocorre na avalia- ção dos professores, normalmente realizada para captar seu grau de popularidade. (Pallo0 e Pratt, 2002) Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile ira d e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 59 IMPLICAÇÕES DO MARCO REGULATÓRIO VIGENTE NA OFERTA DE CURSOS DE GRADUAÇÃO EAD PELAS IES Feita a exibição de contornos visíveis do marco regulatório mínimo da Educação a Distância no país e, apesar de o cenário pós LDBN ser marcado pelo discurso de >exibi- lidade, pela inovação e aplicação das TIC à educação, e de suprir as demandas sociais e geográ'cas, a qualidade de formação dos pro- 'ssionais, o objetivo é superar os problemas de desenvolvimento econômicos e tecnoló- gicos enfrentados atualmente pela IES para oferta de cursos na modalidade EaD. Em especial, o discurso falseia a verda- deira questão das políticas educacionais, a sa- ber: a diferença de tratamento entre instituições (públicas eprivadas), seus desdobramentos na exigência da qualidade e na institucionalização de um modelo de EaD (Giolo, 2010) No que tange às diferenças entre o pú- blico e o privado em cursos superiores na mo- dalidade o senso comum (e também muitos técnicos) considera a primeira, sinônimo de qualidade. O que nos leva a examinar com cuidado e atenção os antigos critérios de ava- liação de qualidade. a qualidade se transformou-se em um conceito dinâmico que deve se adaptar permanentemente a um mundo que experimenta profundas transforma- ções sociais e econômicas. É cada vez mais importante estimular a capaci- dade de previsão e de antecipação. Os antigos critérios de qualidade já não são su'cientes. Apesar das diferenças de contexto, existem muitos elementos comuns na busca de uma educação de qualidade que deveria capacitar a todos, mulheres e homens, para participarem plenamente da vida comunitária e para serem também cidadãos do mundo. (Unesco, 2001:1) Além disso, o marco regulatório, tal como descrito, enrijeceu sobremaneira as con- dições de as IES ofertarem cursos de graduação criando di'culdades para a aplicação da mo- dalidade EaD submetendo-as, em sua redação, às mesmas exigências da educação presencial que, obviamente, constituem outro modelo. Considerando que, atualmente, no Brasil o marco regulatório impõe um mode- lo de EaD de segunda ou quiçá terceira gera- ção, em outros países já é de quinta geração (Pereira, 2003), caracterizada por uma apren- dizagem >exível, inteligente e calcado num projeto de informatização da instituição, no que tange às TIC. Esse ponto de tensão pertinente à for- mulação de politicas de regulação e super- visão, mediante instrumentos de avaliação, portarias e decretos possibilitam avaliar e con- trolar as iniciativas das IES na oferta de cursos por um lado, o que asseguraria critérios obje- tivos para aquestão da qualidade mencionada anteriormente e evitaria, assim, consolidar aquela percepção distorcida de que cursos EaD poderiam ser oferecidos com pouco in- vestimento e muito lucro. No entanto, por ou- tro lado impõem a institucionalização de um modelo de EaD que não atende mais às expec- tativas sociais, tais como o Decreto 6.303/07 e a Portaria Normativa n. 40/07. Nesses termos, dado que a exigência de atendimento presencial em polos pela legisla- ção exige, por parte das IES, avaliação cuida- dosa sua instalação e, por consequência cons- tituindo obstáculo para oferta de cursos EaD. A ss o c ia ç ã o B ra si le ir a d e E d u c a ç ã o a D is tâ n c ia 60 RBAAD – Educação a Distância no Brasil: Fundamentos legais e implementação A organização de um polo exige, além de infraestrutura mínima necessária para oferta de curso segundo as políticas públicas vigentes, também, uma capacitação e quali'- cação pro'ssional dos recursos humanos que considerem as diferenças regionais. Outra questão é sobre o papel do tutor que, nos instrumentos de avaliação, consti- tuem tema de debates visto que a função de tal agente não é bem caracterizada e de'ni- da. Isto acarreta di'culdades para as IES no que tange ao plano de carreira e consequen- temente à propalada discussão de que tutor é professor para uns e, para outros, tutor é um professor de segunda categoria. Isto eviden- temente tem acrescentado obstáculos para a implementação de EaD nas instituições. Uma proposta que poderia minimizar o impacto 'nanceiro seria a de compartilhar polos entre Instituições, mas legislação em vi- gor não a contempla o que caracteriza certa rigidez do marco regulatório. O Censo 2010 elaborado pela ABED in- dica que o número de matrículas nas institui- ções tem aumentado e que a oferta de cursos na modalidade tem expandido, apesar dos problemas relacionados a investimentos em infraestrutura de polos, tecnologia e quali'- cação de recursos humanos (docentes, autores de material didático, equipe multidisciplinar, secretaria – atendimento pedagógico e tecno- lógico a alunos e docentes - entre outros) e da legislação. No entanto, nota-se contraditoria- mente, pelo mesmo documento, que há uma signi'cativa retração na oferta de cursos, bem como de descredenciamento de IES que já ti- nham cursos autorizados limitando o número de matriculas e atendimento. CONCLUSÃO Pode-se entender, a partir desses ele- mentos, que uma das causas dessa contradição está nos problemas econômicos e tecnológicos enfrentados pelas IES para implementação de projetos de EaD mais >exíveis, objetivando o desenvolvimento e compartilhamento de con- teúdos, polos com planejamento pedagógico e gestão de EaD com visão sistêmica para or- ganização e estruturação do modelo de EaD mais adequado à institução. A legislação vigente condiciona a oferta de cursos na modalidade, uma vez que enges- sam os processo criativos para contornar as di'culdades econômicas das IES. A discussão sobre expectativa de lu- cratividade ou, pelo menos, de estabilidade 'nanceira, os eventuais e possíveis passivos trabalhistas das IES dado que o tutor é um pro'ssional que está no “limbo”; a infraestru- tura pessoal e instalação de parque tecnoló- gico somados às resistências culturais (apesar de EaD ser uma tendência mundial), pré-con- ceitos de alunos, docentes e gestores são algu- mas das preocupações que inibem iniciativas na modalidade EaD, atualmente. Cabe às Instituições de Ensino Superior, sempre pautadas na autonomia, desenvolver, compartilhar e tomar iniciativas conjuntas formular propostas junto aos órgãos públicos que >exibilizem o modelo de EaD, minimi- zando os impactos econômicos que afetam o pedagógico, o social e o tecnológico e uma Educação a Distância de qualidade. Essa é uma necessidade imperativa para atender às demandas geográ'cas e sociais de um país que prima pelo desenvolvimento econômico e sustentável. Volume 11 - 2012 A sso c ia ç ã o B ra sile ira d e E d u c a ç ã o a D istâ n c ia 61 O Ensino Superior no país enfrenta inú- meros desa'os a começar por aqueles relati- vos à concorrência econômica na busca por novos mercados; as diferenças regionais que marcam o processo de expansão; a pressão por aumento na oferta de vagas; o desenvol- vimento tecnológico e inovação relacionados às TIC e os elevados custos de investimentos nessa área; a atualização, a pesquisa e a quali- 'cação docente e de recursos humanos para o atendimento e suporte pedagógico, adminis- trativo e tecnológico ao docente e estudante, só para citar alguns. Nesses termos, nota-se descompas- so entre a legislação e as IES que objetivam cumpri-la, à medida que as noções de tempo e espaço, de relação ensino e aprendizagem so- frem alterações signi'cativas e à medida que as tecnologias da comunicação e informação são aplicadas às atividades de ensino no país, revolucionando-a. Em que pese o processo de democratiza- ção do acesso à educação, não se pode limitar o sistema educativo justamente no momento em que se objetiva atender às demandas ge- ográ'cas e sociais brasileiras. Vivemos um novo paradigma educacional e perceber que os limites das antigas regras que ordenavam o modelo anterior já não se aplicam ao novo. Mas muitos ainda não conseguem ver além dessas fronteiras ou desses limites, talvez por conta de seus antigos modelos mentais. Mas isto é discussão para um trabalho ulterior. Reconhecemos que as leis são necessá-
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