Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GABRIELA SANTANA NECO MARIANNA MELO DE OLIVA A privacidade de pessoas públicas SALVADOR 2017 GABRIELA SANTANA NECO MARIANNA MELO DE OLIVA A privacidade de pessoas públicas Trabalho apresentado no curso de Graduação em Direito na Universidade Salvador – UNIFACS. Professora: Amanda Barbosa SALVADOR 2017 RESUMO: Trabalho majoritariamente baseado no Art. 5º da CF/88, voltado ao debate quanto à privacidade de pessoas públicas, estabelecendo seu conceito, limites e direitos quando estes entram em contraste com a privacidade de pessoas físicas. SALVADOR 2017 O Art. 5º, inciso X da CF/88, define que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Assim, é importante verificar e analisar o contraste entre as definições e designações às pessoas públicas e pessoas físicas. Enquanto as pessoas físicas se definem apenas por nascer com vida, de modo que a partir deste marco o ser humano é detentor de direitos e deveres, a pessoa pública é definida pela dedicação à vida pública ou ligação à mesma, já que sua atuação depende do reconhecimento das pessoas. Não obstante, sendo física ou pública, ambas tem direito a personalidade, imagem e honra. Os direitos da personalidade representam a tutela basilar da personalidade humana (Arts. 11 a 21, CC), garantem o direito à integridade física (vida, corpo, saúde etc.), à integridade moral ou psíquica (privacidade, nome, honra e à imagem) e à integridade intelectual (liberdade religiosa, de expressão, sexual, aos direitos autorais e à propriedade industrial). Como características pertinentes aos direitos à personalidade quanto a pessoa pública, temos o caráter absoluto (que força à coletividade a respeita-los) e a indisponibilidade (englobando a irrenunciabilidade e a intransmissibilidade, de modo que nem por vontade própria o indivíduo pode transferir seus direitos ou renuncia-los). O direito à imagem se relaciona com o exercício profissional da pessoa pública, já que a divulgação da imagem neste caso torna-se interesse público. Este, é irrenunciável, intransmissível, inalienável (que não pode ser tomado ou retirado de alguém) e indisponível (a imagem da pessoa não poderá, de modo algum, ser vendida, cedida em definitivo ou renunciada. Apenas tem a autorização para ser licenciada por seu titular a terceiros). Entre os inúmeros casos relacionados à problemática quanto aos direitos da pessoa pública, faz-se necessário a menção aos casos Cicarelli e Carolina Dieckmann, este último deu origem a Lei Carolina Dieckmann. O caso de Carolina Dieckmann ocorreu em maio de 2012, quando hackers invadiram o e-mail desta, baixando suas fotos íntimas. Ao ser chantageada e não ceder ao pedido de R$10.000 reais para a remoção destas imagens, o conteúdo foi “viral”. A lei Carolina Dieckmann, mais conhecida como Lei 12.737/12, Art. 154-a do Código Penal, dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos e dá outras providencias, tal qual “Invadir um dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tática do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”. A modelo Daniella Cicarelli e seu namorado foram filmados por um paparazzo enquanto protagonizava cenas íntimas com seu namorado na Espanha. O vídeo foi exibido na televisão Espanhola e espalhado em sites ao redor do mundo. Apesar de estarem em local público, não existiram provas de que o casal estava ciente desta divulgação, logo, a 4ª Câmara de Direito Privado do TJ de São Paulo decretou o direito daqueles terem a imagem e a privacidade resguardadas (apesar de que apesar de bem sucedida, a ação judicial não garantiu que o vídeo e cópias do mesmo fossem retiradas de circulação). O maior problema quanto à privacidade das “celebridades” está justamente na privação de liberdade momentânea atribuída por terceiros, fazendo com que alguns (por exemplo Justin Bieber e Emma Watson) instruam aos fãs para que não haja uma solicitação de selfies (fotos com a câmera frontal) ou vídeos, garantindo que a sua presença nos lugares não se tornem públicas, bem como a recusa de um micro “reality show” nas redes sociais (diferentemente de famosos como Kim Kardashian, Adriana Santanna etc.). De acordo com a Corte Europeia de Direitos Humanos, o que é reservado à vida privada de um cidadão desconhecido pode ser de interesse da sociedade se a pessoa é pública, salvo em casos que possam ferir seus direitos à Personalidade e/ou Direitos Humanos. Os Direitos da Personalidade defendem a proteção da essência do homem. Entre suas características está seu caráter absoluto (tem efeito em todos os campos e impõe à coletividade o dever de respeitá-los), sua generalidade (de modo que esses direitos são outorgados a todas as pessoas apenas pela sua existência), sua extrapatrimonialidade (ausência de um conteúdo patrimonial direto), sua indisponibilidade (não pode mudar de titular), a imprescritibilidade (não tem um “prazo de validade” para a sua utilização), a impenhorabilidade (não pode ser penhorado) e a vitaliciedade (direitos inatos e permanentes). Classificam-se pela garantia do direito à vida, à integridade física, à integridade psíquica e à integridade moral. O direito à vida está presente no art. 6, parte III do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966: “O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei, e ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida”. O direito à integridade física garante direitos ao corpo humano, vivo (admitindo a disposição de suas partes, desde que, justificado o interesse público não implique em mutilação ou intuito lucrativo) ou morto (Art. 14º, CC – “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte”), além do direito à voz (garantido pelo Art. 5º/CF88, inciso XXVIII – “A proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas”. O direito à integridade psíquica, protegendo a integridade da mente humana. Defendendo a liberdade, de modo que cada um tem o poder de fazer apenas o que tiver vontade, à sua liberdade de expressão, tendo permissão para pensar do jeito que achar cabível (Art. 5º, CF/88, inciso IV – “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”), às suas criações intelectuais (manifestação direta do pensamento) e, como foco do tema proposto, o direito à privacidade e ao segredo pessoal, profissional e doméstico. O direito à privacidade é inviolável (Art. 21º, CC/2002 – “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”. Todos tem direito de “ficar só” e completar ações que não cheguem ao conhecimento de terceiros, independente da sua fama ou “anonimato”. De acordo com Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, “as pessoas públicas têm todo o direito de ter a sua intimidade preservada. Não é pelo fato de adquiriremrelevância social que tais pessoas não mereçam gozar da proteção legal para excluir terceiros, inclusive a imprensa, do seu âmbito de intimidade”. Quanto o direito ao segredo pessoal, profissional e doméstico, neste âmbito faz-se necessário o enfoque ao segredo pessoal e profissional, já que são méritos distintos. Assim como dito anteriormente, todos tem direito à manutenção da sua intimidade, tanto na vida pessoal quanto profissional. Na discussão quanto a conexão dos direitos à personalidade e à privacidade da pessoa pública, toda pessoa tem direito à honra, garantindo a constante correspondente à sua reputação e/ou à consciência de sua dignidade. Ao direito à imagem, considerado um direito fundamental, considerando a imagem- retrato (como é a pessoa) e a imagem-atributo (como é vista aquela pessoa), que vez ou outra entra em conflito no meio social. Por fim, o direito à identidade é a proteção e direito do nome (prenome e sobrenome), bem como a proibição do desprezo público (com ou sem intenção), da utilização não autorizada para fins monetários e o impedimento da utilização do pseudônimo como inferior ao nome. A fama, apesar de não ser vista assim, é uma profissão como outra qualquer. Os limites não são impostos sem motivo e devem ser respeitados, mantendo os direitos e a integridade da pessoa em questão. As ações concretizadas por pessoas públicas devem ser de interesse público desde que sejam feitas para ou por estes. Cada ser deve ter a sua vida privada, para poder efetivar não só a sua liberdade, quanto a sua sanidade. Referências Andrade, G. (2015). Direito à Privacidade: intimidade, vida privada e imagem. Acesso em 2017, disponível em Jusbrasil: https://quentasol.jusbrasil.com.br/artigos/214374415/direito-a- privacidade-intimidade-vida-privada-e-imagem Junior, A. L. (2002). A pessoa pública e o seu direito de imagem: políticos, artistas, modelos, personagens históricos... São Paulo: Juarez de Oliveira. Por que o caso Cicarelli x Google pode ser o último do tipo no Brasil. (15 de 10 de 2015). Acesso em 20 de 10 de 2017, disponível em G1.Globo.com: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/10/por-que-o-caso-cicarelli-x- google-pode-ser-o-ultimo-do-tipo-no-brasil.html República, P. d. (NOVEMBRO de 2012). LEI Nº 12.737. Acesso em 20 de 10 de 2017, disponível em Planalto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.htm Saraivajur. (2017). Minicódigo - Civil - Constituição Federal e Legislação Complementar - 23ª Ed. 2017. Salvador: Saraiva.
Compartilhar