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INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO DIREITO DO TRABALHO

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INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO DIREITO DO TRABALHO 
ANTONIO DE FREITAS JR (​arfreit@usp.br​) 
 
COMPLEMENTADO COM A OBRA ​DIREITO DO TRABALHO​ DE 
MAURÍCIO GODINHO 
ANOTAÇÕES DE GABRIEL DA SILVA PRADO 188 - 23 
 
 
 
 
 
 
 
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Somente num sistema social em que o trabalho seja dignificado e erigido 
em valor básico a corrupção passará à categoria dos fenômenos 
excepcionais, a serem encarados à luz da psicopatologia e ligados a 
instintos elementares do homem. 
 
Evaristo De Moraes Filho 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
1. História Universal do Direito do Trabalho 
O direito o trabalho é visto por alguns como uma proteção ao trabalhador para deixar 
de ser hipossuficiente ou continuar sendo hipossuficiente. O que ocorre é que a relação 
trabalhista é uma relação ​constitutivamente estabelecida entre desiguais​ , é evidente que ser 
detentor dos meios de produção faz do indivíduo socialmente mais habilitado, a grande 
diferença reside em ser empregado ou ser empregador. 
Observaremos que não há uma história universal do Direito do Trabalho 
propriamente dita, pois as razões que provocaram o surgimento desse ramo jurídico são 
distintas em cada parte do mundo, como a criação do Direito de Trabalho na China, que foi 
uma criação para tornar o país mais competitivo, não era mais possível continuar fazendo 
tambling social ​ da forma com que era feito, longe de qualquer padrão de regramento de 
disciplina ou de regulação. Se a China não criasse um direito do trabalho ficaria de fora da 
OMC. Não podemos fazer uma história do direito do trabalho apenas com os marcos do 
direito trabalho no ocidente. 
Segundo o professor Maurício Godinho esse ramo do direito surge através da 
combinação de um conjunto de fatores que podem ser classificados em três grupos 
específicos: fatores econômicos, fatores sociais e fatores políticos. Sem que nenhum tenha 
caráter singular, esses fatores se comunicam uma vez que comportam dimensões e 
reflexos diferenciados em sua própria configuração interna. 
 
1.1 Fundamentos do Relato na História Social do Trabalho 
O primeiro fundamento da relação de trabalho é a ​liberdade​, pois onde há trabalho 
escravo não existe direito do trabalho. É possível que uma sociedade reúna tanto um 
sistema escravocrata quanto uma regulação de direito do trabalho desde que haja uma 
distinção prévia entre escravizados e livres. Entendemos aqui a liberdade no sentido 
prosaico de que o trabalhador não é coisa, mas individuo. Nasce a história do Direito do 
Trabalho no momento em que o escravizado se torna trabalhador, em outras palavras, 
quando a apropriação do homem é proibida. 
Por se tratar de alguém livre, esse trabalhador ingressa na relação trabalhista com 
base no ​consentimento​, que é a porta de ingresso dessa relação que precisa ser factual e 
bem como de todas as partes daqui para frente. Observamos esse consentimento como 
diverso da validação que aprova o ingresso nessa relação de forma mansa e pacífica. 
A ​assimetria ​é um característica fundamental do direito do trabalho também na 
medida em que a relação trabalhista parte desse pressuposto; uma relação 
constitutivamente assimétrica, essa desigualdade política é o fundamento ético da proteção 
que cabe ao Direito do Trabalho desempenhar. Seria a função desse ramo do direito a de 
regular uma relação que só se encontra entre dois indivíduos em que um paga para mandar 
e outro paga para obedecer mediante ao consentimento entre seres que podem não 
consentir, ou seja, são livres. 
Essa história social nasce em um ambiente em que as pessoas deixam de ser 
apenas indivíduos e passam a ter​ relações coletivas​. Orlando Gomes é pioneiro entre os 
4 
civilistas a falar sobre a coletivização das relações jurídicas, seu surgimento faz com que o 
consentimento amplo e infinito passe a ser extremamente acanhado, pois as relações 
jurídicas coletivizadas são bastantes constritas, cabendo ao indivíduo um contrato em que 
ele adere ou não, sem espaço de negociação individual, talvez coletiva, mas individual 
raramente. Por exemplo, uma associação de consumidores pode conseguir determinada 
negociação contratual e é nesse cenário que nasce o Direito do Trabalho; no espaço das 
negociações coletivas. 
Outro elemento influente no surgimento desse Direito do Trabalho é o ambiente 
contaminado pelo ​conflito​, pois na sociedades tradicionais (patriarcais, nômades, rurais) as 
pessoas não se interrogam se elas vão se obedecer ou não, esse é um dado de convívio 
social, a obediência não é um problema, ela é apenas uma questão. No relato do que 
falamos a obediência é um problema, obedecer passa a ser uma escolha política que se 
coloca, dessa forma a legitimidade se processava retrospectivamente. 
Conclui esse pensamento o professor Godinho dizendo que “a relação de emprego, 
erigindo-se a partir do trabalho livre, mas simultaneamente subordinado, permite ao 
empreendedor capitalista usufruir do máximo da energia, da inteligência da emoção e da 
criatividade humanas, dando origem a um mecanismo de integração da pessoa ao sistema 
produtivo dotado de potencialidade máxima no tocante à geração de bens e serviços na 
sociedade histórica”. 
 
1.2. Particularidades do Direito do Trabalho 
O trabalho de que se ocupa o Direito do Trabalho, não existiu sempre​ . O trabalhador 
do Direito Trabalho é um homem juridicamente livre para negociar a sua força de trabalho, o 
que não significa que ele é livre materialmente para conseguir isso, fazendo com que ele 
figure em uma relação jurídica desigual. Essa relação de trabalho detém um caráter 
inovador, nenhuma forma de trabalho ao longo da história pode ser equiparada a relação 
estabelecida na indústria do séc. XX que passa a ser tutelada por esse novo ramo do 
direito, o escravo da Roma antiga possuía o respeito a sua dignidade, todavia a dignidade 
de uma coisa (​res​ ) nunca poderá ser comparado ao de um ser humano (​persona​ ). 
Como já dito, o ser humano tutelado pelo direito do trabalho, é ​o homem 
juridicamente livre para negociar sua força de trabalho​ em uma organização que tornou-se, 
na modernidade, essencialmente ​urbana ​e ​coletiva​. 
O direito do trabalho é subproduto que surge e se desenvolve por função dos 
conflitos e das ​irritações ​ produzidos sobre o sistema jurídico por movimentos sociais que, 
em sua origem, postularam um projeto global de transformação do sistema político e 
jurídico. 
 
1.3 Fatores que influenciaram o Direito do Trabalho 
Segundo Godinho, uma boa periodização do Direito do Trabalho é separada em três 
fases de desenvolvimento; primeira fase é a das manifestações incipientes ou esparsas que 
5 
se estende do início do séc. XIX (1802), com o ​Peel’s Act ​ inglês, até 1848. A segunda fase , 
da sistematização e consolidação do Direito do Trabalho , estende-se de 1848 até 1919. A 
terceira fase, da institucionalização do Direito do Trabalho, inicia-se em 1919, avançando ao 
longo de séc. XX. Em 1979/80, deflagra-se no Ocidente um processo de desestabilização e 
reforma dos padrões justrabalhistas até então imperantes. Trata-se da fase de crise e 
transição do Direito do Trabalho. 
 
Revolução Francesa 
É dita a Revolução da Liberdade no sentido de que desenvolveu a república e o 
homem livre em uma nova sociedade que destruiu privilégios. Ela foi a condição necessária 
para os surgimento da revolução francesa. 
 
Revolução Industrial 
Revolução industrial trouxe o advento da sociedade moderna; urbanização, 
concentração (pessoas e riquezas) e o chamado trabalho alienado, em que se separa a 
atividade em segmentos sem que o trabalhador tenha conhecimentoacerca do too 
produtivo, nessa sociedade o conhecimento também é entregue apenas para alguns. 
Nesse ponto, Godinho chama atenção para a chamada “grande indústria” que 
“traduz um modelo de organização de processo produtivo, baseado na intensa utilização de 
máquinas e profunda especialização e mecanização de tarefas, de modo a alcançar a 
concretização de um sistema de produção sequencial, em série rotinizada. O modelo da 
grande indústria​ conduziu à utilização maciça e concentrada da força de trabalho 
assalariada, que se torna instrumento integrante do sistema industrial característico do 
capitalismo emergente”. 
Manifesto Comunista de Marx e Engels (1848) 
Grande importância simbólica; propõe uma virada no processo de transformação, o 
conhecimento passa a transformar, e essa última se dá através do conflito. 
“O ano de 1848 é, de fato, marco decisivo à compreensão da História do Direito do 
Trabalho. Isso, pela verdadeira mudança que produz no pensamento socialista, 
representada pela produção do Manifesto de Marx e Engels, sepultando a hegemonia, no 
pensamento revolucionário, das vertentes insurrecionais ou utópicas. Do mesmo modo, pelo 
processo de revoluções e movimentos de massa experimentado naquele instante, indicando 
a reorientação estratégica das classes socialmente subordinadas. Estas passam a se voltar 
a uma linha de incisiva pressão coletiva sobre o polo adverso na relação empregatícia (o 
empresariado) e sobre a ordem institucional vigorante, de modo a insculpir no universo das 
condições de contratação da força de trabalho e no universo jurídico mais amplo da 
sociedade o vigor de sua palavra e de seus interesses coletivos.”, Mauricio Godinho. 
 
Questão Social 
Se trata mais de um momento social após a revolução industrial, ou seja, a 
necessária resposta que busca a sociedade (especificamente a classe média e a Igreja) 
para as situações conflitantes que surgem, como o trabalho exacerbado de crianças e 
6 
mulheres. É importante compreender que a Revolução trouxe benefícios como a tecnologia 
e as riquezas, mas com um preço que não se sabia até então como pagar, surge então 
padrões mínimos para a realização do trabalho e cujo preço todos os países pagariam, 
dessa forma todos estariam no mesmo estágio e poderiam competir sem desigualdade. 
Esse seria o “fator social” de Godinho, a saber, “a concentração proletária na 
sociedade européia e norte-americana em torno das grandes cidades industriais; o 
surgimento de uma inovadora identificação profissional entre as grandes massas obreiras, a 
partir de um mesmo universo de exercício de sua força de trabalho.” 
 
Doutrina Social da Igreja Católica 
A partir da ​res novare​ a Igreja passa a orientar seu olhar para a ​mundanidade, ​ uma 
vez que observa a necessidade de reencontrar a sua vocação propriamente dita, além de 
evangélica, social, pois a Igreja de Paulo tinha uma forte preocupação social e a partir da 
res novare​ essa preocupação se reafirma, a exemplo disso temos que muitos setores da 
esquerda são oriundos de movimentos criados na juventude católica durante os anos 70 e 
80 quando a Igreja participava da luta armada. 
Essa Doutrina teve muita relevância e foi surpreendente, pois os católicos, através 
dessa orientação, conseguiram fazer com que as classes médias urbanas aceitassem a 
necessidade de enfrentar a situação trabalhista. A primeira lei sindical de 1903 e a de 19071
 tiveram forte influência da doutrina social, essa se orientou para contaminar uma revolução 2
através de uma solidariedade entre capital e trabalho. Alguns fazem a leitura para que a 
Igreja fez um caminho alternativo. 
A Europa durante o séc. XX viveu sob o signo de muitos conflitos, passado a 
assimilar um conflito que era novo; o de trabalhadores contra o Estado e contra patrões, tais 
movimentos surgem no final da segunda metade do século XIX e repercutem no mundo 
inteiro, o berço natural da revolução seria a Alemanha, todavia a primeira revolução ocorreu 
no improvável terreno da dinastia Romanov. Mas a revolução soviética teve uma 
importância mais simbólica do que política, sendo, ainda assim, devastadora. Chamou 
atenção das elites para o fato de que uma revolução de agenda proletária seria possível. 
Até então as revoluções eram apenas de caráter burguês, além do fato de que a revolução 
proletária mostrou para o mundo a possibilidade de acabar uma monarquia. 
 
Primavera dos Povos e Comuna de Paris 
Eis que surge um novo tipo de conflito na Europa na segunda metade do século XIX. 
 
Revolução Soviética 
1 ​Surgiu a primeira Lei Sindical, tendo por objetivo apenas o Trabalhador Rural. 
2 O direito de associação em sindicato se estendeu às outras classes, através do Decreto nº 1.637, de 
05/01/1907 
7 
Foi de grande impacto na Europa uma vez que a família Romanov era bem vista 
pelos demais países europeus. Na medida em que a revolução intensifica a agenda social 
também intensifica o capitalismo nos demais países. 
 
Tratado de Versalhes 
Um verdadeiro tratado de Guerra, gerou a infrutífera Liga das Nações, além dos 
axiomas; "não existe paz sem justiça social" e de que é "necessário o reconhecimento de 
direitos sociais mínimos" - ninguém perderia se todos assimilassem os custos dos direitos 
sociais, sob essa perspectiva a Organização Internacional do Trabalho funcionou até os 
anos 80. 
A OIT tem uma característica marcante por um princípio do tripartismo; todas as 
instâncias são compostas por trabalhadores, empregadores e Estado, ou seja, um 
reconhecimento através das negociações. 
 
Constituição do México de 1917 
Interessante ver a narrativa de que foi a primeira constituição que abordou os 
direitos trabalhistas, mas sem grande eficácia, em que essa eficácia só surge no entre 
guerras. 
. 
Constituição da República de Alemã de Weimar de 1919 
Implementação e aceitação de um processo contínuo de distribuição de rendas, 
além do compromisso do trabalhador ser uma renúncia. Esse pacto teve um primeiro 
desenho em torno da Constituição de Weimar que criou formas e vias de congestão a partir 
dessa ótica., sendo a antecipação do que seria o ​Welfare State​ . 
 
Crise da Bolsa de Nova York de 1929 
Surgimento do chamado ​New Dal​ - O Estado desce do Olimpo e vai participar dos 
assuntos mundanos, no caso em questão; a regulação do mercado. Surgem as leis 
trabalhistas sobre a organização coletivas. Ao contrário de Vargas, Roosevelt reconstrói a 
economia norte-americana aceitando que o Estado tem que regular o mercado que não é 
auto regulado, também empoderou os sindicatos (ao contrário de Vargas) e negócio com 
eles desenvolvendo o welfare-state e a redistribuição de renda. Após 1929, temos a 
afirmação do direito do trabalho de duas formas diversas; 
 
A. Protagonismo dos sindicatos; 
8 
Estado e Direito empoderam o Direito do Trabalho e os sindicatos e por meio 
da realização da negociação coletiva acontece a regulação das relações trabalhista. 
Os sindicatos são os verdadeiros protagonistas e não mais o legislativo nesse 
modelo. Nos EUA, Roosevelt retirou os empecilhos para o desenvolvimento dos 
sindicatos e influênciou que esse modelo também chegasse à Europa após 1940. 
 
B. Ação do legislativo​ ; 
Ocorre a concessão de direitos e benefícios legais aos trabalhadores 
enquanto os sindicatos passam por um processo de domesticação através da tutela 
do Estado. Esse é o exemplo do Direito do Trabalho do Brasil, da Venezuela, da 
Argentina, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
2. História do Brasil e Direito do Trabalho 
 
Em país de formação colonial, de economia essencialmente agrícola, com um 
sistema econômico construído em torno da relação escravista de trabalho - como o Brasil 
até fins do século XIX -, não cabe se pesquisara existência desse novo ramo jurídico 
enquanto não consolidadas as premissas mínimas para a afirmação socioeconômica da 
categoria básica do ramo justrabalhista, a relação de emprego. 
Se a existência do trabalho livre (juridicamente livre) é pressuposto histórico-material 
para o surgimento do trabalho subordinado (e, consequentemente, da relação 
empregatícia), não há que se falar em ramo jurídico normatizador da relação de emprego 
sem que o próprio pressuposto dessa relação seja estruturalmente permitido na sociedade 
enfocada. Desse modo, apenas a contar da extinção da escravatura (1888) é que se pode 
iniciar uma pesquisa consistente sobre a formação e consolidação histórica do Direito do 
Trabalho do Brasil . 3
 
Abolição tardia 
Demorou-se demais para realizar a abolição da escravidão no país e o indivíduo 
recém liberto não recebeu o respaldo do Estado para se inserir na sociedade como 
trabalhador. Ao contrário disso, diversos mecanismos legais e informais impediram que a 4
população negra acessassem o trabalho formal nos primeiros anos após a abolição. 
Imigração 
O Brasil passou por um processo de imigração problemática com os italianos e 
japoneses, através de uma incorporação de valores e idiomas europeus e japoneses que 
passou por um período baseado na escassez de mão de obra na agricultura e na 
alimentação da indústria nascente. 
Começar seu processo industrial através de uma história de escravidão, império, 
surgimento recente da república, etc.,gerou uma configuração complexa e de atraso para o 
Brasil. 
Modelo federativo 
Uma das características do brasil é ter tido uma república federativa desenvolvida 
para preservar o poder das elites, ao contrário dos EUA em que as colônias se juntaram 
para formar um poder central, aqui já havia um poder unitário do monarca que exercia o 
3 ​GODINHO, Mauricio, cit. p. 101 
4 ​“Em 1886, por exemplo, uma lei municipal determina que as profissões de cocheiros, aguadeiros​ [que 
carregavam baldes d’água]​ , caixeiros viajantes e guarda-livros​[contadores] ​ não poderiam ser exercidas 
por escravos”, explica o pesquisador Ramatis Jacino, professor do ensino médio, em sua tese de 
doutorado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. 
10 
poder moderador. Na federação o poder dos estados é muito grande, ou seja, é exercido 
através da legislação residual; o que não cabe à União cabe aos estados, como no caso do 
direito do trabalho, até a Emenda Constitucional n° 45/2004 . Enquanto o direito 5
correspondia ao interesses das elites era quase impossível o surgimento de um direito do 
trabalho mais justo. 
A ideia de que Getúlio Vargas teria outorgado uma legislação trabalhista é uma 
inverdade, pois já havia Direito do Trabalho anterior a ele, como sindicatos, todavia surge 
um modelo de Direito do Trabalho próprio de Getúlio, algumas leis anteriores a esse 
período são: 
 
Lei de Acidente do Trabalho de 1919 6
 
Uma proteção infortunística laboral - não é uma lei de Direito do Trabalho que é 
produzida fora da competência da União, é muito importante para a proteção social e foi 
pioneira no mundo. Gerando força no direito securitário e no direito de proteção social - 
Caráter pioneiro e paradigmático, basicamente essa lei está estruturada com base em dois 
pilares; o primeiro é a responsabilização ou responsabilidade objetiva . 7
Após a revolução industrial identificamos a possibilidade de praticar grandes danos, 
como o dano na saúde do trabalhador, a indústria era poluente e lesionante, ela matava o 
trabalhador, ela era arriscada, e atinge crianças e gestantes. Capacidade de alcançar 
danos. vai até a indústria atômica. A indústria da energia nuclear que produz danos muito 
superiores à seus ativos, consequentemente a responsabilidade objetiva foi necessária 
como os fundos para a reparação. 
Outra atividade muito arriscada é o banco que causa comoção na sociedade e por 
isso exige cada vez mais uma segurarição da atividade bancária e o uma resegurariação. 
Alguém que pague por alguém que pague alguém que assegure a seguradora com os 
custos que ela tem em relação ao custo. Sociedade do risco e o risco cresce 
exponencialmente resumiria na instituição jurídica independente da culpa ou de uma 
relação de agente ou causalidade, ex causa do acidente nuclear pode ser por causa do 
gestor ou por causa nenhuma e mesmo assim ela é arriscada. 
Foi importante porque nem todo acidente do trabalho não é causado por culpa do 
empregador, pois é inerente a atividade laboral. Não sendo possível garantir que não haja 
o acidente, como é o caso da indústria para garantir a qualidade do empregador ´necessário 
fazer essa separação, pois o empregador foi escolhido pois tem capacidade. Mais tarde GV 
vai estatizar esse risco (indenização tarifada ou seja prévias estipulações de reparação 
5 ​https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm 
6 ​Em 1919, surge a legislação acidentária do trabalho ( Lei n. 3.724, de 15.1.1919), acolhendo o 
princípio do risco profissional, embora com inúmeras limitações. GODINHO, Mauricio, cit. p. 104 
7 ​Responsabilidade subjetiva: todos respondem pelos fatos produzidos pelos seus atos mediante uma 
conexão de causalidade na ação ainda que levemente culposa. 
Responsabilidade objetiva: inverte o modelo do fundamento da responsabilidade e transfere a 
responsabilidade do agente causador para o agente meramente reparador. 
11 
proporcional ao acidente em questão). Ex. perda de membro, perda definitiva, etc. É 
tabelado. 
 
 
A Lei Eloy Chaves de 1923 8
 
A estabilidade do emprego através da proibição de dispensa do trabalhador que 
tivesse mais do que dez anos de casa e não fosse por questão de caixa, seria depois um 
dos grandes terrores das elites trabalhadoras brasileiras, acaba em 1866 com a ​Lei do 
Fundo de garantia ​ ​que foi considerada um golpe de misericórdia para o instituto da 
estabilidade do emprego. 
Alberto Campos dizia que era voz corrente que o que o empresariado mais temia era 
o passivo trabalhista, que realmente criava uma estabilidade abreviada para 9 anos, ou 
seja, ou ele era mandado embora antes dos 9 anos ou ele era estabilizado o que gerava na 
prática uma dispensa quase compulsória. A estabilidade do emprego que é uma das notas 
características não nasceu em vargas para proteger o trabalhador. 
Lei de Férias e Código de Menores ​- 
Em 1925, conceden-se férias (15 dias úteis) aos empregados de estabelecimentos 
comerciais, industriais e bancários (Lei n. 4.982, de 24/12/1925). Em 12/10/1927 é 
promulgado o Código de Menores (Decreto n. 17.934-A), estabelecendo a idade mínima de 
12 anos para o trabalho, a proibição do trabalho noturno e em minas para os menores, além 
de outros preceitos. Férias era para a limitação do trabalho laboral e o código de menos no 
século XX deve ser lido no contexto de seu tempo, ou seja, um tempo de fome e forte 
incidência do trabalho escravo para a proibição do trabalho de menores na indústria. 
 
2.1 Exposições sobre a CLT 9
 
É uma consolidação de leis que possui alguns roteiros de aplicação, mas sem 10
estruturação doutrinária, ideológica ou principiológica. Pode ser dita como o princípio de 
uma visão de mundo, uma vez que que é a expressão de seu tempo ela fala com o seu 
contexto. 
Percebe a aproximação do fim da sua 'era', Getúlio Vargas finaliza seu projeto 
político com a consolidação das leis do trabalho que foi produzida da mesma forma das 
demais. Passando a viger indefinidamente, através do decreto-lei que era a medida 
provisória da época 
8 ​Em 1923, surge a Lei Elói Chaves (n.4682) instituindo as Caixas de Aposentadoria e Pensões para os 
ferroviários, tais benefícios foram extintos, posteriormente, às empresas portuárias e marítimas pela Lei 
n. 5.109, de 20.12.1996. 
9 ​História oficial da Consolidaçãodas Leis Trabalhistas www.tst.jus.br/web/70-anos-clt/historia 
10 ​Aglutinação de leis com um eixo principal. 
12 
Wanderley Guilherme cunha o termo de​ cidadania regulada​ baseado na ideia de 11
que Vargas possibilitou a inclusão dos imigrantes e daqueles sem qualquer tutela de 
direitos, oriundos do modelo da primeira república, através do alcance da cidadania através 
do trabalho, ou seja, a incorporação desses elementos na sociedade por meio da cidadania 
que ele proporciona é confinada pelos contornos a inserção profissional ou econômica dos 
sujeitos. Ele não incorpora pelos direitos políticos, mas a sua inserção se da como ator 
econômico. A cidadania regulada é uma forma de trazer o trabalhador para a tutela jurídica 
enquanto agente econômico e não enquanto agente político, enquanto dirigente mas não 
como líder político (no caso do sindicalismo de vargas). 
A ideologia do corporativismo é uma visão de mundo, doutrina que não tem grande 
diferença com corporação de ofício ou corporativo de sociedade anônima, tem é distinta da 
ideia de corporativismo como egoísmos de classe ou grupos. É uma doutrina e um projeto 
político que nunca foi implementado com os rigores e competências da doutrina. Sua 
essência se caracteriza pelo compartilhamento de interesses - não expectativas de 
vantagens -, controle de massas e convive com a economia de mercado que compete mas 
não convive com o conflito. 
O corporativismo é uma das doutrinas que se classifica pelo organicismo; um 
conjunto de doutrinas que enxergam a sociedade como um corpo. Nessa visão organicista 
de uma forma geral o conflito é visto como uma perversão ou como uma patologia, um mal 
a ser combatido e que se não for erradicado deve ser mitigado, pois só surge, o conflito, do 
pensamento em demasia e do trabalho devassado. É uma doutrina e projeto político 
caracterizado pela migração das atribuições e da representação política para a esfera da 
representação de interesses. 
No Brasil temos um corporativismo estatista que se sustentava que o Brasil é um 
país insolidário, dessa forma o protagonismo é um processo de associação, nada estaria 
fora do Estado (cenário do projeto de organização da sociedade civil), tal projeto político 
com a visão de mundo organistas já era encontrado em Aristóteles e em São Tomás de 
Aquino; Trocar o dissenso ideológico pelo consenso funcional acreditando não ser isso uma 
ideologia. Vargas convocou uma constituinte com representantes classistas eleitos pelos 
sindicatos que ele mesmo criou, queria caminhar no sentido de contaminar a representação 
política pela representação corporativista. 
Churchill criou o seguro desemprego no Reino Unido, todos os demais países eram 
ditaduras nesse período. A democracia estava em crise uma vez que se constituía como um 
modelo liberal defasado e não a social. Nesse período a Europa estava com os burgueses e 
o Brasil com os barões do café e a democracia liberal não dava mais conta. 
O caráter predominantemente legal é um elemento característico do passado do 
Direito do Trabalho no Brasil, geralmente sem negociação coletiva. Acontecia por 
intermédio de regras legais, que não eram leis, mas decretos-leis expedidas pelo chefe de 
Estado. Também temos a figura da sanção premial que era utilizada como uma forma não 
de intervenção do Estado, mas nas práticas sociais. 
11 Mais sobre o tema seer.fclar.unesp.br/perspectivas/article/viewFile/1700/1381 
13 
Os representantes classistas na assembleia constituinte da constituição de 84 são 
encontrados no projeto de afirmação do direito de Vargas, as empresas sindicalizadas não 
poder ** os não sindicalizados não poderiam ter certos direitos, os sindicalizados teriam 
vantagens nesse âmbito. Produto de uma tentativa de ter efetividade, mas não apenas pela 
sanção penal, mas no mecanismo de indução e sedução, o sistema sindical baseado nessa 
agenda corporativa formou a construção do sindicado de Vargas que estava nucleado na 
ideia de prerrogativas, com vantagens e privilégios confiados monopolisticamente à alguém, 
o modelo funcionaria na medida em que funcionasse o sistema de prerrogativas; direitos 
confiados monopolisticamente a alguns entes criados e reconhecidos como tal, era um ato 
solene do ministro do trabalho e outorgava a carta sindical (expressão jurídica da criação do 
sindicato) ato administrativo para a criação do sindicato que surgia como um ato de unção 
para as associações. Escassamente competitivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
3. Campo de incidência da Legislação do Trabalho 
 
 
Getúlio Vargas queria um sistema jurídico corporativista em lugar da representação 
política. Esse projeto teve sua maior manifestação na Consolidação das Leis Trabalhistas 
que possuía um campo restrito, determinado basicamente pelo vínculo de empresa pelo 
trabalhador fabril - não se aplicando ao empregado do campo, doméstico, público, etc.m 
com o tempo passou a regular outros campos o que gerou complexidade para o Direito do 
Trabalho que passa a fazer interface com outras áreas jurídicas, como direito administrativo, 
direitos da personalidade, direitos humanos, etc. 
 
Vínculo de emprego é caracterizado por quatro fatores que devem estar presente, 
não importa se há contrato ou não, se tem uma forma ou não, se existirem esses 
elementos, de fato, existirá um vínculo de emprego na prática e esse estará estará sujeito a 
incidência da legislação do trabalho. 
 
1 - trabalho subordinado​ - empregado se subordina à um poder do outro que manda - 
esse poder é diretivo que possui três dimensões; 
• ​Poder de mando​ - é a subordinação de ordens que obrigada o direito no alcance 
formal e material estabelecendo limites quantitativos, funcionais, territoriais, etc. A regulação 
e efetivação dessa área era a principal função do Direito do Trabalho por muito tempo. 
• ​Supervisão​ - é o controle em relação a forma com que se realiza as ordens, os 
empregados controlavam o tempo de descanso, de ir ao banheiro, de acesso à rede, 
fiscalização de email, sites visitados, tempo de utilização e outras formas que passaram 
pela análise dos Tribunais de Brasília quando, em determinado período, o empregado 
passa a ser visto como humano na relação de trabalho, é quando são criados limites a esse 
poder, como a revista íntima nas lingeries. Com o passar do tempo o Direito do Trabalho é 
fortemente influenciado pelos estudos de direito à personalidade, direito à intimidade, 
direitos humanos, etc. 
• ​Disciplinar​ - algumas penalidades como a demissão por justa causa, o grande 
problema é fazer o empregador cumprir as leis na aplicação de sanções durante o vínculo 
trabalhista. Nesse aspecto a análise recai sobre os procedimentos e formas. A visão 
autoritária na aplicação de sanções foi bem superada, todavia conceitos constitucionais 
como devido processo legal, ampla defesa e contraditória embora tenham sido constituídas 
para a defesa do indivíduo que está em uma relação desigual com o Estado também podem 
e devem ser aplicadas dentro dos processos administrativos. 
 
2 - trabalho oneroso​ - deve ser periodicamente pago por meio de salários 
3 - reunião periódica ​- a habitualidade é ingrediente essencial ao vínculo, pois sem esse 
elemento configurar-se-a o trabalhador avulso. 
4 - pessoalidade​ - o vínculo é personalíssimo em relação a prestações e não é em relação 
ao tomar, isso significa que se morre o empregado extingue-se o vínculo, se morre o 
15 
empregador ocorre a cessação do vínculo. Pois há uma pertinência do ser em 
características pessoais e subjetivas que podem convergir ou não por aquelas que são 
determinadas pelas empresa. 
 
3.1 CLT e administração pública 
 
A CLT foi confinada ao chão da fábrica - espaço fabril - ao migrar para outras áreas 
se tem dificuldadeem se aplicar essa lei que é pensada para a trabalhador um espaço 
específico que o da fábrica. Esse processo foi em alguns momentos particularmente 
delicados, como Decreto-le nº 1200 que institui a reforma da administração pública pela 
ditadura, passou a ser permitida a aplicação do Direito do Trabalho do vínculo de 
empregado fabril à trabalhadores do setor público. Tal fato gerou complexidade uma vez 
que o setor público deixou de ser administração direta e surgiu a proliferação de entes 12
dotados de personalidade jurídica. 
A administração pública direta, após a descentralização surgem pessoas jurídicas da 
administração indireta que são as autarquias, as fundações e as empresas. Nessa área 
existem servidores, empregados públicos, contratados com concurso público 
obrigatoriamente, integral ou parcialmente. O objetivo dessa reforma era acabar com a 
aposentadoria do servidor público. Funcionários autárquicos. Dupla relação hierárquica com 
o empregador que ao mesmo tempo é patrão e Estado.A jurisprudência aponta para que os 
empregados públicos devam ter suas relações reguladas por meio de estatuto e não por 
meio da CLT. 
Na administração pública não se tem trabalho subordinado, mas regime sobre 
trabalho hierárquico, normas que se supõe da autoridade competente limitadas pela lei na 
administração se inverte.Terceirização na administração pública segue uma premissa, como 
o controle da administração, licitação, já no setor privado bastar corresponder o interesse do 
TST e não ser em relação à atividade fim. 
No fenômeno da experiência do Uber denotamos uma relação que não é de trabalho 
cooperativado, pois gera lucro, é uma relação que alegadamente se serve de trabalho 
autônomo, mas que possui sua essência na ausência de subordinação, mas com 
parâmetros estabelecidos em uma relação hierárquica e vertical. Esse fenômeno também 
acontece em outros aplicativos altamente rentáveis com a minoria de seus empregados 
regidos pela CLT mas com outra relações padronizadas, como os motoristas, que sem ter 
qualquer investimento no meio fim; o carro. Há dois setores que cresceram neste século em 
termos consistentes; a ​educação ​ - acompanhantes, educadores, babysitters - e atividade 
por aplicativos. 
Esse debate é fundamental para compreender a linha de mudança que é a 
precarização do trabalho, mas por outro lado é um setor que ocupa, cresce e coloca em 
questão o que ele apresenta de novo e pelo que ele desmonta de velho. Aprofundando, 
esse fenômeno mexe com a capacidade do poder público de regular uma atividade que não 
12 ​Administração indireta: criação de outras pessoas jurídicas derivadas das pessoas da 
administração pública. 
16 
é de transporte público e a questão ressaltada que é a alta carga tributária colocada sobre 
os taxistas que são titulares do ativo (carta). 
Para esses fenômenos, a nossa CLT não tem envergadura, as relações se 
complexifica muito rápido. Todavia a CLT é atualizável, ela ainda pode compreender os 
problemas do seu tempo sem que haja perda da consolidação das leis do trabalho, apenas 
seus princípios estão atrasados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
4. Princípios do Direito do Trabalho 
 
Existem três tipos de princípios; 
a. mandamento de otimização (norma que de destina a orientar conduta); 
b. princípios interpretativos; 
c. princípios de harmonia do ordenamento jurídico. 
 
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições 
legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por 
eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, 
e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira 
que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. 
 
Na lacuna normativa decidirão, conforme o caso - interpreta para decidir, é uma 
autoridade acima das partes que aplica a norma e para isso precisa interpretar, ocorrendo a 
integração normativa. Todas as fichas foram depositada na capacidade do Estado de 
interpretar e aplicar, tudo dentro do Estado. Esse é o único momento em que a CLT fala em 
princípio, tendo o Estado como protagonista desse modelo de direito, em todos os caso, 
esse é o Direito do Trabalho que surge em 1943. 
O local de trabalho, por exemplo, precisa ser estudado, assim como a noção de 
princípio, o princípio universal no direito do Trabalho é o​ princípio da proteção​ - pois o 
direito do trabalho é encarado como protecionista - qual é a fundamentação moral da 
proteção? A primeira concepção é que o trabalhador é hipossuficiente e o Direito do 
Trabalho não reconhecia o mesmo como capaz de se defender, ele não era escutado, 
acabando não sendo concedido ao trabalhador qualquer fala relativamente à sua 
representação. 
Mauricio Godinho aponta que esse princípio “influi em todos os segmentos do Direito 
Individual do Trabalho, influindo na própria perspectiva desse ramo ao construir-se, 
desenvolver-se e atuar como direito. Efetivamente há ampla predominância nesse ramo 
jurídico especializado de regras essencialmente protetivas, tutelares da vontade e 
interesses obreiros; seus princípios são fundamentalmente favoráveis ao trabalhador; suas 
presunções são elaboradas em vista do alcance da mesma vantagem jurídica retificadora 
da diferenciação social prática. Na verdade, pode-se afirmar que sem a ideia 
protetivo-retificadora, o Direito Individual do Trabalho não se justificaria histórica e 
cientificamente”. 
A CLT aponta ser um documento fracassado em relação ao empregado e 
empregado, pois tudo se explica em relação empregador e trabalhador, em que que não se 
passa por uma reconstrução de leitura da relação entre capital e trabalho, nem toda 
fundamentação marxista precisa ser assim. Deriva daí que a ideia de que toda a 
18 
interpretação do Direito do trabalho que não seja essencialmente protecionista seria 
instrumento do capitalismo. 
Uma outra concepção vê o trabalho na leitura marxista a partir de uma explicação 
não de contradição, mas weberiana em que o conflito está mais ligada ao ponto de vista 
divergente do que uma relação desigual do ponto de vista político e por essa razão precisa 
ver a fraqueza de um diante da força de outro, sendo essa terceira concepção menos 
maniqueísta e menos prisioneira de um marxismo ortodoxo. 
O ​princípio da proteção ​é o estruturante da relação do trabalho, ainda que haja 
uma dificuldade de alcançar essa proteção quando a ferramenta usada não é a mais 
eficiente, como as relações mediadas pelo ubers. 
Mais detalhamentos entre os princípios e as regras que saem desses princípios 
atentando para o fato de que as pessoas erram ao achar que o princípio é regra porque ele 
está positivado, mas não, ​um princípio continua assim mesmo sem ser positivada​ e uma 
regra não precisa de positivação, essa característica não é para a regra do princípio, mas é 
o caráter aberto ou fechada da dicção normativa que vai de uma norma regra e de outro 
uma norma princípio. 
O primeiro desdobramento do princípio da proteção é ​a primazia da realidade ​que 
é a​ ​consideração de fato sobre a realidade, quando a realidade desmente o contrato, não 
apenas reconhecemos o vínculo empregatício, mas ele é desqualificado a essa relação que 
não é caracterizado e se emerge a outra relação jurídica nessa mesma relação. 
Ao exemplo temos a Lei do Estágio - que configura uma falha grave, pois estabelece 
regras que se não forem cumpridas fazem com que a relação em questão não seja 
compreendida como de estágios, configurando um contrato de emprego, todavia isso todo 
mundo já sabe, é a primazia da realidade, mas as regras são tão parecidas com as regras 
de trabalho que o empregador usa isso para nãoprecisar empregar trabalhadores. 
Qualquer inconstância na forma de utilização do estágio já configurava a primazia da 
realidade. 
Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de 
desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente 
Consolidação. 
A regra só vai aos pontos intencionais, ou seja, indexada a realidade de um 
propósito ilícito, um so princípio faz com que essa regra tenha uma aplicação muito mais 
extensa, pois recai sobre qualquer ato que não aplique o ato em questão mesmo que não 
tenha a intenção. 
O segundo desdobramento é a ​aplicação da norma mais favorável ​- Alguns 
autores dizem que se aplicada o princípio do​ in dubio pro misero​ ou ​pro operado​ , essa 
concepção não faz sentido, pois eles furtam um brocardo do direito penal e querem repatriar 
isso sem pagar o imposto de renda, ou seja, no direito penal na dúvida sobre a 
materialidade ou regra eu absolvo, dentro da lógica de culpado ou não culpado, em uma 
lógica fática, não sobre a aplicação da lei, mas sobre a culpabilidade. Controvérsia de fato e 
19 
não de direito, na divindade de direito se resolve o ​dúbio ​ na duvida de direito, na dúvida de 
fato você absolve o ​réu​ . Logo, essa compreensão de ​in dubio pro misero​ é levar o fatídico 
para o direito. 
O princípio é de que se da atuação mais favorável ao empregado quando houver 
conflito de normas e o que é um conflito de normas; ​a. ​ antinomias de normas do mesmo 
estado hierárquico. Como diz no art. 7 no caso de conflito entre normas que digam sobre 
direitos sociais aplicar-se-a a norma mais favorável ainda que ela seja inconstitucional. No 
Art. 7, III, vemos uma regra que determina que o salário não poderá ser diminuído, todavia 
não é um princípio. 
No caso da redução por acordo coletivo a jurisprudência já se manifestou dizendo 
que a mesma tem que ser causada, proporcional e com contrapartida. Acordo ou 
convenção coletiva significa que do lado do empregador estará o sindicato que atua como 
representante das empresas que atuam na figuração patronal. O acordo no Brasil é 
complemento da convenção. Tanto é que o acordo não vença em todo. 
Ainda escreve Godinho “No tocante ao processo de hierarquização de normas, não 
poderá o operador jurídico permitir que o uso do princípio da norma mais favorável 
comprometa o caráter sistemático da ordem jurídica, elidindo-se o patar de cientificidade a 
que se deve submeter todo o processo de interpretação e aplicação do Direito”. 
O terceiro princípio, ou desdobramento, é o da ​iterabilidade in pejurs​ - não se pode 
alterar as regras para piorar. Modificar as condições de trabalho é típico do poder diretivo, 
que é a alteração dos aspectos essenciais do vínculo; jornada, salário, local, etc. 
Um equivocada postulação de princípio por parte de alguns autores é sobre o que 
seria o princípio da ​continuidade do vínculo empregatício​ , sobre a ideia de que no máximo 
possível se preservar o emprego e assegura-se o vínculo empregatício. A continuidade do 
vínculo tem a habitualidade como predicado. Não é um princípio, o vínculo é contraído por 
interesse das partes, não é uma norma que esse vínculo se mantenha. 
Outro princípio é o da​ irrenunciabilidade de direitos​, embora o direito do trabalho 
não valide renúncias individuais esse não se torna um direito indisponível. 
O princípio da ​liberdade sindical ​não é compreendido de forma pacífica pela 
doutrina, os parâmetros adotados no Brasil são da OIT, a saber, i. constituição autónoma 
dos sindicatos, ii. livre direito de filiação (que não há de fato no Brasil) e iii. direito à 
negociação coletiva. Ligado a esse princípio temos o do direito à greve que, 
institucionalmente, não é compreendido como um direito fundamental pela OIT. 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
 
 
5. Aplicação da lei no tempo e no espaço. 
5.1 No Espaço 
O direito do trabalho, assim como as suas normas, rege o princípio da 
territorialidade, regra segundo a qual a norma aplicada e a justiça competente é aquela da 
prestação . 13
Desde 1982, o Brasil possui e Lei 7064 que aparece em um cenário pós-ditadura 14
quando o Brasil passa a produzir multinacionais, especialmente na construção civil, isso se 
aplicará muito a Petrobrás e Embraer, quando o país passa a exportar produção de petróleo 
e engenharia em geral. Essas empresas conseguiram contratos exteriores e contratava 
empregados no Brasil e os transferidos para o exterior. 
O trabalhador que se deslocava era lesado, pois tal costume abria espaço para fraude das 
empresas. Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, a maior parte desses multinacionais 
iam para países onde a legislação trabalhista era desfavorável se comparada a brasileira. 
Dessa forma, esse princípio surge para permitir (primeiramente dentro de 4 áreas de 
atividade depois passando para as demais) que o trabalhador que foi para o exterior possa 
escolher o Direito do Trabalho que lhe for mais favorável. 
 
5.2. No tempo 
 
A regra geral é a da ​irretroatividade​ , presente no Art. 1 da Lei de Introdução ao 
Direito Brasileiro. Exceto quando protegido pela coisa julgada, direito adquirido e ato jurídico 
perfeito. Conforme se anuncia e o ângulo de percepção temos que, de forma geral, é 
irretroativo. Que se desdobra em três regras; 
1. ​Revogabilidade ​- lei posterior revoga a lei anterior. 
2. ​Especialidade ​- lei específica anterior não será revogado por lei posterior. 
3. ​Proibição da repristinação automática ​ - regra que revoga a lei que revogou não 
torna a lei revogada válida novamente. 
 
5.3 Vigência dos acordos coletivos 
 
13 ​Essa regra decorre do Art. 198 do ​Código de Bustamante​ que foi exteriorizado pela 6º Congresso 
Panamericano em Cuba 1928 (Convenção de Havana), o Código fala sobre regras de Direito 
Internacional Privado nas Américas. 
14 ​Também conhecida como Lei Mendes Júnior, em virtude dos negócios realizados por esta empresa 
no Oriente Médio, com o consequente envio de trabalhadores para outros países, o referido diploma 
legal sofreu alterações em 2009 para se adaptar ao atual mercado (mais acerca do tema em 
https://goo.gl/7GyFI9). 
21 
A vigência das convenções, dos acordos e das sentenças normativas (que são 
chamadas dessa maneira embora sejam acordos pois vem dos tribunais do trabalho), a lei 
diz que qualquer uma dessas normas tem que ter expressa previsão do tempo inicial e final 
e vigência. Também diz a lei que a vigência será de no máximo dois anos para os acordos e 
convenções coletivos e no máximo de quatro para as sentenças, art. 614, 3º e 868 da CLT. 
O termo inicial de vigência do acordo e convenção passa a viger a partir do terceiro 
dia após o depósito no ministério do trabalho, se não contemplar vigência diferente. O prazo 
é facultativo. Caso haja um processo de dissídio coletivo enquanto houve acordo e 
convenção coletiva, a sentença passa a vigorar a partir do tempo final da convenção. 
Em relação ao fim da vigência do acordo, convenção ou sentença coletiva, decairá a 
exigibilidade das normas coletivas, segundo uma compreensão íntima do STF. Há poucos 
anos atrás, o TST, deu nova interpretação à súmula 277 da mesma corte, que passou a ser 
vista de forma completamente oposta, em que cláusulas normativas, nessa hipótese, terão 
ultratividade e serão exigível para além do termo final. Em decisão monocrática, o Ministro 
Gilmar Mendes da suprema corte, determinou a sustação de todos os processos que se 
discutia o âmbito do término dos contratos. 
Tal decisão do TST surpreendeu a todos por ser sem precedente. Uma súmula do 
TST não é uma dicção abstrata, mas uma conformidade de uma jurisprudência que a 
precede, que sinalizaria a sociedade de que a corte aponta para uma determinada direção. 
Foi constituída sem modulação da mesma forma, ou seja, os trabalhadores que não 
queriama continuidade de uma cláusula de convenção teriam que pedir essa modificação. 
Art. 114, 2º, CF - acabar com o poder normativo das convenções, mas fazer com que a JT 
pudessem ter um poder residual para atuar em uma certa arbitragem nessas situações. 
 
5.4 Linhas de mudança do Fenômeno Trabalhista - A Reforma do Direito do Trabalho 
Vivemos a partir do anos 80, marco com a crise da IBM, uma mudança no padrão e 
na doutrina empresarial como um todo. Temos um modelo precedente que chamamos de 
modelo fordista baseado na empresa de Henry Ford; o modelo fordista é evidentemente 
industrial, só que influenciou todos os modelos e serviços, seu fundamento era o modelo 
que se orientava para o gigantismo, pois era em generalizante, no ponto de vista se seu 
espaço de atuação, a General Motor passava, por exempo, desde a produção de bolas de 
ping-pong até turbinas de avião, no ponto de vista da estruturação interna, faz com que ela 
tivesse diversas questões hierárquicas, uma cadeia de mando estratificada e verticalizada, 
a doutrina seria tanto mais eficiente quanto mais ela fosse auto suficiente. 
Tal modelo de empresa era imune às oscilações de custos e monetárias. Do ponto 
de vista do perfil de clientes essas empresas se tornaram multinacionais. Esse modelo e 
essa organização doutrinária é do pós guerra, esse modelo foi pensada para o mercado 
interno. Se torna uma multinacional buscando novos mercados, ma é desenhada pensando 
na busca dos mercados internos dentro das fronteiras do mercado nação. Estruturada 
dentro de um estado nação, Por isso as multinacionais levam a bandeira. 
22 
Nesse cenário poderíamos demorar 10 anos para desenvolver um produto, pois ele 
teria uma vida útil de 20 ou 30 anos, modelos de geladeira, máquina de escrever. Já não é 
mais verdade essa relação, pois os produtos passaram a ter uma duração curta, a 
concentração física de muitos trabalhadores foram agigantadas. e com remuneração 
atraente, esse modelo de empresa pensada dentro de uma determinada doutrinas. 
O que acontece a partir dos anos 80 é a emersão de um modelo chamado ​toyotismo 
(talvez de forma errônea, pois a mesma não praticou todos os aspectos dessa doutrina), ela 
faz ​downside​ , ous eja, enxugar a empresa para que ela possa se adaptar às oscilações do 
mercado ao mesmo tempo que se torna mais especializada para ter mais lucro dentro 
daquilo que seria seu produto-base. Com acúmulo de tecnologia e com a diminuição das 
escadas hierárquicas foi se buscando ganhar eficiência, agilidade e economia na atividade 
fim. 
Agilidade e adaptabilidade, pois não é mais um monstro enraizado: ágil e flexível às 
mudanças tecnológicas que se tornam mais profunda e surpreendentes. Trabalhadores 
cada vez mais integrados em funções polivalentes, pois isso é mais lucrativo e a única 
forma de preservar trabalhadores para que eles invistam na mão de obra, não existe mais 
torneiro mecânico, todo nesse modelo é digital, a telefonia é toda digital, sem mais o 
datilógrafo, cada vez mais efêmeras, se tem ao lado desse polivalência uma remuneração 
cada vez mais seletivas, os trabalhadores tendem a receber cada vez menos enquanto os 
auto quadros passam a ganhar cada vez mais. 
A empresa de hoje, se for industrial, é muito diferente da empresa do fordismo, 
contemporaneamente as empresas se adaptaram à um nível como a Nike que é apena uma 
marca; ela desenvolve e gestora, mas não produz, esse tipo de empresa é absolutamente 
surpreendente para os padrões de industrialização no ocidente. Quando falamos na 
regulação das leis de trabalho, essas estão regulando uma empresa do final do século 
passado, é necessário que haja mudança. Quem defende a redução de direito, em prol do 
lucro, e quem defende a ampliação de direito, em ambas as visões é necessária a 
modificação para o novo tipo de empresa, para acabar com o déficit regulatório. Esse é o 
primeiro debate que deve ser feito em relação a qualquer reforma trabalhista. 
 
 
 
 
 
 
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