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Aspectos Antropológicos e Sociólogos da Educação - Conteúdo Online

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ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
AULA 1 – ANTROPOLOGIA E CULTURA
A Antropologia, como um saber científico formulado pelo homem sobre o próprio homem, é algo recente, que remonta ao início do século XIX, na Europa. Em seus primórdios, preocupava-se com o “Outro”, mas a análise era feita sempre a partir dos valores e perspectivas europeus.
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, principalmente aquelas dos “povos exóticos”, a Antropologia desenvolveu uma metodologia própria baseada, inicialmente, em relatos e, posteriormente, em observação direta.
Relatos de viajantes, missionários, militares, administradores coloniais etc.
Observação direta feita por profissionais especializados em trabalhos de campo.
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você conheça a definição de Homem.
Em uma definição geral, o Homem é um animal portador de cultura. Ele tem o domínio da linguagem e do fogo, usa ferramentas, institui a família, proíbe o incesto, inventa mitos, rituais, religiões e ciências. Ao contrário dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura aos seus descendentes. Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal humano ofusca os instintos através do desenvolvimento da cultura.
Outra definição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e transmitirem a cultura, nem sempre os seres humanos se esforçaram por defini-la e analisá-la.
A palavra tem origem no vocábulo latino colere e possuía denotação de cultivo das plantas, de cuidado com os animais e a terra, cuidado com as crianças e com sua educação, cuidado com os deuses, com os ancestrais e seus monumentos.
Segundo Chauí (2004), cultura também podia significar cultivo do espírito, como a criação de obras de arte e a criação de obras da ciência e da filosofia.
É esse sentido do termo que leva as pessoas a classificarem as outras como “cultas” e “incultas”, ao tomar como critério o acesso à educação formal, ao conhecimento científico e à familiaridade com as chamadas “belas artes”.
De acordo com Lakatos e Marconi, “não há indivíduo humano desprovido de cultura exceto o recém-nascido e o homo ferus; um porque ainda não sofreu o processo de endoculturação, e o outro, porque foi privado do convívio humano” (1999: p. 131). 
Podemos inferir que a classificação mencionada acima é aceita em termos de senso comum, não tendo respaldo em nenhuma teoria científica que mereça credibilidade.
De acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar uma definição de cultura foi Edward Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra inglesa culture os sentidos que, no final do século XVII e início do século XVIII, eram carregados pela palavra alemã kultur (aspectos espirituais e uma comunidade) e pela palavra francesa civilization (realizações materiais de um povo).
Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu sentido etnográfico amplo é o todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Definição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não transmitida geneticamente, esse aprendizado se dá por meio da comunicação e da linguagem. Fica explícita também a oposição entre natureza e cultura, sendo a cultura considerada superior à primeira.
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas outras Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma proliferação de definições. 
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and definitions, A. L. Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 definições em inglês concebidas por antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros.
Evolução.
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. 
Vários foram os pensadores que viam nas sociedades um movimento semelhante ao observado nos organismos.
Para esses estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio primitivo (as sociedades ditas “simples”, como as indígenas do Brasil, as tribos africanas etc), para um estágio avançado (as sociedades ditas complexas, ou seja, Europa industrializada).
O darwinismo social serviu, como justificativa para a intervenção europeia (colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania.
Etnia X Raça (Definição e Limitações do Termo Para Tratar a Humanidade).
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias, porque configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características exteriores, sejam estas culturais (modos de vida, de falar, hábitos e costumes, etc) ou ainda físicas ou hereditárias (cor de pele, formato dos olhos, nariz, boca). 
Isto favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a determinado grupo, ao mesmo tempo em que os diferencia de outros grupos.
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais, o termo Etnia é utilizado na literatura antropológica, para designar um grupo social que se diferencia de outros grupos por sua especificidade cultural. Esse conceito liga-se aos conceitos de grupo étnico e de cultura e, muitas vezes, é usado como sinônimo de grupo étnico.
Para Dias, a principal diferença entre os grupos étnicos é de ordem cultural. O termo Raça era utilizado para explicar diferenças de cor da pele e classificar os seres humanos.
A Biologia, atualmente, reconhece a limitação do termo e admite que a classificação racial baseada no tipo físico é arbitrária. Características físicas como cor da pele, textura de cabelo, formato da cabeça e dos lábios não revelam diferenças relevantes a ponto de podermos dizer que, biologicamente, os seres humanos pertencem a raças diferentes.
Do ponto de vista sociológico, raça é “uma população em que os membros compartilham certas características físicas herdadas”. Essas características os identificam socialmente. 
Da mesma forma que ocorre com a definição biológica, a definição de determinada raça do ponto de vista social depende de um critério de escolha da sociedade.
Segundo Dias, não podemos afirmar que existe uma raça pura porque os seres humanos possuem uma origem comum e as diferenças visíveis são resultantes das adaptações ocorridas ao longo do tempo.
Determinismo Biológico.
Existem doutrinas que afirmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de determinada maneira por serem regidos por leis ou forças que os fazem assim. 
Acredita-se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou nula. 
De acordo com Laraia (1993), o determinismo biológico é um tipo de teoria que atribui capacidades ou incapacidades específicas, dadas geneticamente a raças ou a outros grupos humanos.
Determinismo Geográfico.
Esse conceito é relacionado ao aspecto geográfico, ou seja, o ambiente físico determina a cultura e, por isso, a diversidade cultural é dada pela diversidade geográfica.
Esse tipo de crença existe desde a Antiguidade, mas, como teoria, se desenvolveu principalmente no final do século XIX e no início do século XX e pregava que o clima* era um fator importantíssimo na dinâmica do progresso.
* Devido ao Brasil ter um clima quente, surgiu a crença de que é impossível fazer ciência nos trópicos e de que este país seria um  país subdesenvolvido, inspirando mais a preguiça, a lascívia e o ócio.
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-se observar que uma das características da espécie humana* é a capacidade de romper as suas próprias limitações.
* Segundo Laraia (2004), o homem é um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (p. 24).
Etnocentrismo: Definição e Exemplos.
Etnocentrismoé um fenômeno universal originado no fato de que o ser humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua Cultura, passa a considerar o seu modo de vida como o mais correto e mais natural.
O Etnocentrismo pode ter um efeito positivo ou negativo:
Efeito positivo: supervalorização da própria cultura.
Efeito negativo: criação e reprodução das xenofobias, dos preconceitos de classes etc.
Relativismo Cultural.
Existe uma tendência em abandonar os juízos de valor no que diz respeito às diferentes culturas.
Não existe, em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem mais nem menos, nem superior nem inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de moralidade etc., são relativos à cultura na qual os indivíduos estão inseridos. 
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas que, segundo o relativismo cultural, devem ser respeitadas. Porém, muitas vezes essa posição tem sido encarada como descaso, apatia, em relação ao outro.
Exemplos: O topless, tratado como caso de polícia em Ipanema é amplamente praticado nas areias de Ibiza, na Espanha. 
Achamos no mínimo estranho o costume das mulheres da Birmânia de colocar anéis metálicos para alongar os seus pescoços, mas consideramos normal aplicar próteses de silicone para aumentar certas partes do corpo.
Relação Entre Cultura e Educação.
Cultura é uma produção exclusivamente humana. A partir daí percebemos que os mais velhos precisam transmitir a cultura para os membros mais novos, essa transmissão da cultura de uma geração à outra se dá pela educação.  
Por que é necessário transmitir cultura?
Todas as sociedades concebem um padrão de homem, por isso é preciso formar os novos membros de acordo com esses modelos, pois, abandonado à própria sorte, um bebê nunca se tornará, efetivamente, parte integrante do grupo.
Nem sempre a educação ocorre dentro de instituições sociais como a escola. Nem sempre os que ensinam são professores especializados em ensinar, formados em disciplinas específicas. Em sociedades tribais, por exemplo, todos ensinam e todos aprendem.
Os homens são seres com capacidade para elaborar, manipular e transmitir símbolos e é da necessidade (necessidade de ensinar e aprender) e do potencial (potencial de elaborar, manipular e transmitir símbolos) que surgem os mitos, as religiões e as ideologias.
Mito.
Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas educativas desde as primeiras comunidades humanas.
De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra grega mythos, derivada de dois verbos: mytheyo (contar, narrar falar alguma para outros) e mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar).
A autora afirma que “mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa” e que os gregos recebiam a narrativa como verdadeira, pois confiavam naquele que narrava. O narrador, ou poeta rapsodo, desfrutava de credibilidade porque os ouvintes acreditavam que ele testemunhou ou recebeu o mito de quem o havia testemunhado.
Frequentemente acreditavam na sacralidade da narrativa porque viram-na como uma revelação divina. Esse tom sagrado tornava o mito algo inquestionável.
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (p. 768), do ponto de vista antropológico, o mito é uma narrativa que se refere aos deuses e à natureza, e ao significado do universo e do homem.
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas.
Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres.
Encontrando uma rivalidade ou aliança entre os seres que fazem surgir alguma coisa no mundo.
Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem lhes obedece ou desobedece.
O mito aparece em todas as culturas.
Chauí afirma que o mito possui três funções:
1ª função – Explicativa: Explica o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como exemplo, a autora cita a crença de que uma constelação existe porque no passado crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as transformou em estrelas.
2ª função – Organizativa: Organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo etc.), legitimando e garantindo a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões.
3ª função – Compensatória: Narra uma situação passada que é a negação do presente e que pode servir para compensar os homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do passado foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária.
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos necessários para a vida em grupo.
Religião.
Religião= religio (formada pelo prefixo RE, que significa: outra vez, de novo) + ligare (ligar, unir, vincular).
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253). 
É importante destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as sociedades conhecidas até hoje. Muitas religiões já existiram e diversas continuam existindo.  
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, mas não é papel da antropologia fazer julgamentos de valor sobre o conteúdo das religiões.
Se a maioria das instituições sociais têm sua origem em necessidades materiais, a religião se dirige às indagações sobrenaturais do ser humano. Questões como ‘Qual a minha missão nesse mundo?’ ‘De onde viemos?’ ‘O que ocorre depois da morte?’ são respondidas pelo discurso religioso. 
A religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece explanações, por exemplo, de como surgiram o mundo, a natureza, os animais e os homens.
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece normas que garantem a sobrevivência social. Acreditar em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor e veneração, fazendo com que os indivíduos cumpram as regras.
Idealogia.
Ideologia é um conjunto de convicções e conceitos (concretos e normativos) que pretende explicar fenômenos sociais complexos com o objetivo de orientar e simplificar as escolhas sócio-políticas que se apresentam a indivíduos e grupos.
D. Tracy foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das ideias, no final do século XVIII, sendo empregado da mesma forma por vários autores franceses posteriormente, no século XIX. Ainda no século XIX, a palavra ideologia adquiriu conotação pejorativa, significando ideias abstratas e enganadoras.
Karl Marx e Friedrich Engels vincularam a palavra à ideia de falsa consciência, de ideia distorcida e enganadora, baseada em ilusões, contrapondo-se às teorias ou opiniões científicas.
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns autores de influência marxista percebem a escola como um local onde se reproduzem as falsas consciências com o objetivo de manter o status quo.
AULA 2 – A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL
O ser humano é um animal que produz mitos, religiões, ideologias, enfim, cultura. Na tentativa de entender as coisas ao nosso redor, produzimos uma vasta gama de conhecimentos como o filosófico, o religioso, o de senso comum etc.
A sociedade ocidental produziu uma forma específica de explicar o mundo, chamada de ciência, ou seja, uma forma racional, objetiva, sistemática, metódica e refutável de formulação das leis que regem os fenômenos.  
Na sociedade ocidental, a ciência é a principal forma de construção da realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito por pretender ser a única promotora e critério de verdade.
A Sociologia é considerada uma ciência nova, pois foi criada no século XIX, na França, por um pensador chamado Auguste Comte (1798-1857).
Algumas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais ocorridas desde meados do século XV contribuíram muitopara a criação dessa ciência. A primeira delas foi o Renascimento.
O Renascimento é o momento classificado por muitos estudiosos como a ruptura entre o mundo medieval e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. 
De acordo com Costa, existiam diversas visões do Renascimento.
Existem pensadores que avaliaram positivamente aquele momento, ressaltando que as mudanças propiciaram o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos contatos com outros povos, bem como o crescimento urbano e o recrudescimento da produção artística e literária.
Existem historiadores que perceberam aquela época como momento de grande turbulência social e política. As características marcantes do período foram a falta de unidade política e religiosa, os conflitos entre as nações que se formavam, as guerras intermináveis e as perseguições religiosas, na tentativa de conservar um mundo que agonizava.
Havia, segundo Costa, um clima de fim de mundo visível nas obras artísticas da época, como na Divina Comédia de Dante Alighieri e no Juízo Final de Michelangelo. Para além dessas contradições, o fato é que, a partir de então, o homem ocidental passa a ter uma nova postura em relação à natureza e ao conhecimento.
O fim do Teocentrismo e das explicações religiosas sobre os fatos possibilitou que aparecessem questões mais imediatistas e materiais, cujo foco principal era o homem.
Ao abandonar as explicações sobrenaturais, os indivíduos passaram a utilizar a indagação racional e o método científico através da observação e experimentação. 
Foi no século XVI que ocorreu o movimento de Reforma Protestante.
De acordo com Quintaneiro, ao contestar a autoridade da Igreja como instância última na interpretação dos textos sagrados e na absolvição dos pecados, a Reforma colocou sobre o fiel essa responsabilidade e, instituindo o livre exame, fez da consciência individual o principal nexo com a divindade. 
Para Quintaneiro, “O espírito secular impregnou distintas esferas da atividade humana. Generalizou-se aos poucos a convicção de que o destino dos homens também depende de suas ações. Críticas à educação tradicional nas universidades católicas levaram à substituição do estudo da Teologia pelo da Matemática e da Química.” (2002, p. 13)
No século XVII, surge o Racionalismo e fortalece a ideia de que o homem produz a história e não a Divina providência. Essa concepção fundamentava a ideia de que a sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela é obra dos próprios indivíduos.
O pensamento filosófico desse século contribuiu para a popularização do pensamento científico.
Segundo Francis Bacon, a Teologia perdeu o posto de norteadora do pensamento.
A autoridade, que exatamente constituía um dos alicerces da teologia, deveria, em sua opinião, ceder lugar a uma dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade.
Os pensadores desse período defenderam, assim, o emprego sistemático da razão e do livre exame da realidade.
Outro movimento que contribuiu para a criação da Sociologia foi o Iluminismo, que teve início no século XVIII entre os pensadores franceses e ideólogos da burguesia.
O Iluminismo foi um movimento que buscava modificar a sociedade, além de transformar as antigas formas de conhecimento que se baseavam na tradição e na autoridade.
Segundo Martins, “o objetivo dos iluministas, ao estudarem as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social. Se as instituições existentes constituíam um obstáculo à liberdade do indivíduo e à sua plena realização, elas, segundo eles, deveriam ser eliminadas”.
É em meio a esse cenário de efervescência intelectual, política e social que observamos dois eventos históricos importantes: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, também conhecidas como Revoluções Burguesas.
Revolução Industrial: É um fenômeno histórico ocorrido na Inglaterra, por volta do meado do século XVIII, que trouxe profundas alterações no mundo do trabalho, desagregou a sociedade feudal, ao reordenar a sociedade rural e abolir a servidão, e consolidou a civilização capitalista. É nesse momento que nasce o proletariado, isto é, a classe dos trabalhadores livres assalariados, e se exacerbam os problemas urbanos.
Revolução Francesa: Pode ser vista como a luta política da burguesia contra as classes que dominavam o mundo feudal, ou seja, a monarquia absolutista e a Igreja Católica. A burguesia, que já tinha o poder econômico, queria um Estado que assegurasse sua autonomia em relação à Igreja e que protegesse e incentivasse a empresa capitalista.  
No século XIX, os pensadores burgueses já não mais desejavam que as ideias revolucionárias iluministas continuassem animando o homem comum, pois, como a burguesia havia chegado ao poder, deveria lutar para mantê-lo.
Apesar da industrialização e urbanização crescentes na França, a situação do proletariado era extremamente precária, pois os trabalhadores viviam na miséria e estavam sempre ameaçados pelo desemprego, o que acabou intensificando as crises econômicas e a luta de classes naquela sociedade.
Aquele era o momento de abandonar os ideais iluministas e fundar uma nova ciência para “reorganizar” e “higienizar” a sociedade. 
Dito de outra forma, a Sociologia nasceu dos interesses burgueses em manter a ordem social e a estabilidade, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade. 
A preocupação passou a ser a de fazer com que os indivíduos aceitassem a ordem existente, deixando de lado a sua negação.
Auguste Comte é considerado o pai da Sociologia, também conhecida como Física Social. 
De acordo com Tomazi, Comte rompeu logo cedo com a tradição de sua família monarquista e católica, transformando-se em um republicano com ideias liberais, desenvolveu atividades políticas e literárias que lhe permitiram elaborar uma proposta para solucionar os problemas da sociedade de sua época. 
Vivendo no período imediatamente posterior à Revolução Francesa, preocupou-se em organizar a sociedade que, em sua opinião, estava caótica.
Comte*, propôs uma reforma completa da sociedade, começando pela “reforma intelectual plena do homem”. Ao modificar a forma de pensar do homem, por consequência, as instituições se transformariam. 
* Segundo Martins, Comte afirmava que: “a Sociologia deveria se orientar no sentido de conhecer e estabelecer as leis imutáveis da vida social, abstendo-se de qualquer consideração crítica, eliminando também qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, por exemplo, a questão da igualdade, da justiça e da liberdade.” (2001, p. 31)
O sociólogo, estudando os fenômenos sociais com o mesmo espírito que animava os astrônomos, os físicos, os químicos e os biólogos, deveria fornecer os resultados de suas pesquisas aos homens de Estado, para que esses evitassem ou atenuassem as crises sociais.  
Para firmar a Sociologia como ciência, Comte utilizou as ciências naturais como modelo, pois essas já tinham credibilidade no meio científico.
No Brasil, o Positivismo de Comte exerceu forte influência entre os homens que proclamaram a nossa república. O lema da Bandeira Nacional, Ordem e Progresso, é a maior prova disso.
AULA 3 – ÉMILE DURKHEIM E O FUNCIONALISMO
Émile Durkheim foi quem sistematizou a Sociologia.
1858 - Nasceu em 15 de abril em Épinal, França.
1879 - Entrou para a École Normale Supérieure, quando conheceu as obras de pensadores como Auguste Comte e Herbert Spencer, intelectuais que o influenciaram na busca por dotar a Sociologia de um caráter científico.  
1887 - Foi nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras da Universidade de Bordeaux, onde ministrou o primeiro curso de Sociologia das universidades francesas.
1895 - Lançou As Regras do Método Sociológico.
1897- Publicou O Suicídio.
1912 - Publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa.
1913 - A cadeira de que era titular passou a se chamar Cadeira de Sociologia da Sorbonne.
1915 - Em meio à Primeira Guerra Mundial, seu único filho morreu no front de Salonique.
1917 - Em 15 de novembro, muito abalado pela perda de seu filho, faleceu em Paris.
A Concepção de Sociologia Como Ciência Positiva
O século XIX foi marcado por várias mudanças importantes. Uma delas é o fato de alguns pensadores, inclusive Émile Durkheim, terem se dedicado à fundação de uma nova ciência, cujo objetivo era dar conta das coisas da sociedade, abandonando a arte política e a simples especulação.
Alguns dos autores que influenciaram Durkheim: Auguste Comte, Herbert Spencer, Saint-Simon
Durkheim tratou de definir a Sociologia, seu objeto de estudo, seu método de trabalho e seus conceitos fundamentais. Transformou temas como o Direito, a Educação, a Religião, o Suicídio e a Moral em objetos de análise sociológica.
Preocupado com os problemas de seu tempo e convicto de que a sociedade europeia passava por um período de anomia (ausência de regras morais claramente estabelecidas.), Durkheim sentia a necessidade de construir as novas formas sociais e, na sua concepção, a Sociologia tinha importante papel nesta tarefa, pois apenas ela estava habilitada a restaurar a noção de unidade orgânica (Durkheim via a sociedade como um organismo constituído por órgãos que devem se integrar garantindo um funcionamento harmônico. Para tanto, nenhuma das partes pode agir como se fosse o todo, sob pena de fazer adoecer o corpo social.) da sociedade.
Dessa forma, a preocupação com a moral e a manutenção da ordem social foi constante em seu pensamento, o que resultou em críticas, aceitas por uns e questionadas por outros, que o caracterizaram como um sociólogo conservador, avesso mesmo às mudanças, interessado em ensinar aos homens a obedecer à ordem vigente.
Consciente de que a França atribuía um peso muito grande ao senso comum (consciência coletiva difusa), Durkheim procurou criar uma nova ciência elaborada na universidade. Muito preocupado com a objetividade (na opinião de Durkheim, um importante critério de cientificidade), o autor advertia que, a exemplo de cientistas de áreas como a Biologia e a Química, o sociólogo não devia fazer concessões às opiniões baseadas no senso comum.
A Nova ciência Positiva: a Sociologia
Durkheim tinha como objetivo criar uma ciência positiva, autônoma (sobretudo em relação à Biologia e à Psicologia) e diferente das outras. 
Para tanto, esforçou-se em definir as suas bases, seu objeto de estudo e seu método, mas teve que recorrer ao exemplo de outras ciências já formadas, como a Biologia, a Química e a Física.
Para Durkheim o fator dominante do pensamento científico é a sensação de que existem leis naturais* regendo os fenômenos, sejam eles físicos, químicos, biológicos, psicológicos ou sociais.
* Leis naturais seriam leis invariáveis que independem, por exemplo, da vontade humana. Alguns exemplos dessas leis são: a água ferve a 100 graus; o calor dilata os metais etc.
Todavia, esta noção demorou a ser bem elaborada nas ciências ditas naturais (física, química, biologia) e, em virtude disto, só pôde aparecer tardiamente no âmbito dos fatos sociais.
É apenas nas obras de Saint-Simon e, em seguida, nas de Auguste Comte, que a concepção* de que a sociedade é regida por leis naturais começa a influenciar o pensamento social de forma mais efetiva. Assim, a sociedade deixou de ser encarada como um artifício humano. Não era, como queriam crer Platão, Hobbes, Rousseau e outros, um instrumento inventado e instituído pelos indivíduos.
* Apesar de esta concepção ter dominado durante muito tempo, Durkheim mostra que alguns pensadores como Aristóteles, Montesquieu e Condorcet viam a sociedade como algo natural, porém, estas ideias não tinham muito fôlego a ponto de fazer vingar uma ciência social orientada para o estudo das leis naturais que regem a sociedade.
Para provar que as sociedades estão submetidas a leis necessárias*, devemos procurar estas leis. Para Durkheim, é tarefa da Sociologia, ao descobrir as leis da realidade social, dirigir de modo mais refletido a evolução histórica, pois não se pode transformar a natureza, seja ela natural ou física, senão de acordo com as suas próprias leis.
* É importante ter em mente a ideia de necessário como algo que não poderia ser diferente daquilo que é. A chuva é necessária porque não pode deixar de acontecer, por mais que eu queira que faça sol. Comer é necessário porque não posso deixar de me alimentar, sob risco de morrer de inanição.
O objetivo do sociólogo, em sua opinião, consiste em estudar as sociedades para conhecê-las e compreendê-las, como fazem os químicos, físicos e biólogos.
Em A Divisão do Trabalho Social, Durkheim afirma que o trabalho do sociólogo deve ser diferente das tarefas do homem de Estado, isto é, o sociólogo produz o conhecimento sobre a realidade social e o homem do Estado, a partir desse conhecimento, elabora e aplica reformas à sociedade.
O método de estudo sugerido por Durkheim possui três características: independe de qualquer filosofia, é objetivo e deve ser exclusivamente sociológico.
Objeto de Estudo da Sociologia: os Fatos Sociais 
Em As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma que o objeto de estudo da Sociologia é o fato social.
Três características que tornam os fatos sociais realmente sociais: exterioridade, coercitividade e generalidade.
Exterioridade: os fatos sociais agem sobre os indivíduos independentemente de suas vontades particulares. São maneiras de pensar, de agir e sentir que existem fora das consciências individuais.
Antes de nascermos, as regras morais, os costumes e as leis já existiam e, a despeito de nossas vontades, continuarão existindo. Por exemplo, um devoto, ao nascer, já encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa. Da mesma forma, o sistema de moedas que utilizamos para fazer as transações comerciais e as práticas seguidas nas diferentes profissões funcionam independentemente do uso que cada indivíduo faz delas. 
Durkheim ressalta que, embora a exterioridade seja condição necessária, não é condição suficiente para transformar os fenômenos em fatos sociais. 
Coercitividade: para que o fato seja considerado social, deve também exercer algum poder de coerção sobre os indivíduos. Nem sempre a coercitividade é sentida quando me conformo com ela, mas se tento resistir, sinto seu peso. Em outras palavras, quando eu infrinjo uma regra, sofro algum tipo de punição. O grau de coerção do fenômeno torna-se evidente pelas sanções a que o indivíduo é submetido ao ir contra o fato social. As sanções podem ser de dois tipos: legais ou espontâneas. 
As sanções legais (por exemplo, a legislação eleitoral prevê multa e outras sanções ao eleitor brasileiro que não comparecer para votar nem justificar a sua ausência) ocorrem quando, ao “violar as leis do direito, estas reagem contra mim de maneira a impedir meu ato se ainda é tempo; com o fim de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma normal se já se realizou e é reparável; ou então que eu o expie se não há outra possibilidade de reparação” (As Regras do Método Sociológico, p. 2).  As sanções espontâneas (por exemplo, se ao escolher minhas roupas, não levo em consideração os costumes do meu país ou da minha classe, posso provocar riso ou afastamento, o que funciona como uma pena. Pense na reação das pessoas ao verem um homem usando saia no Brasil), por outro lado, ocorrem quando deixo de seguir as convenções “mundanas”. 
A educação possui um papel relevante na conformação do indivíduo à sociedade em que vive, fazendo com que, depois de algum tempo, as regras se internalizem e se transformem em hábitos.
Generalidade: todo fato social é geral, mas, não podemos dizer que todo fato geral é social. Para ser assim considerado, ele precisa ser coletivo (isto é, mais ou menos obrigatório). Daí decorre que estetipo de fenômeno deve ser estudado apenas em suas manifestações coletivas, como as crenças, as tendências e as práticas do grupo tomadas coletivamente, pois a sociedade não é o mero agregado dos comportamentos individuais. As tendências da moda e o idioma servem aqui como bons exemplos.
Regras Para o Estudo dos Fatos Sociais
Depois de definir e caracterizar os fatos sociais, Durkheim se dedica a elaborar os principais passos, o método para o seu estudo.  
1º Passo: Diz respeito às regras relativas à observação dos fatos sociais. O principal e mais importante passo é encarar o fato social* como coisa. Assim, surgem dois corolários (é a consequência direta de uma proposição demonstrada).
* É importante, salientar que o autor não entende o fato social como coisa material. No Prefácio à Segunda Edição de As Regras do Método Sociológico, ele utiliza o termo “coisa” em contraposição à “ideia”, ou seja, é aquilo que só pode ser entendido por intermédio da observação e da experimentação.
O primeiro corolário consiste em afastar todas as noções prévias para estudar o fato social, pois os valores e sentimentos pessoais nada têm de científicos e possibilitam a distorção dos fenômenos. Dito de outra forma, os preconceitos, simpatias e caprichos do pesquisador devem ser afastados de suas análises.
O segundo corolário consiste em definir os fatos que serão estudados. Logo no início da pesquisa devemos considerar os caracteres mais exteriores do grupo de fenômenos (conforme Durkheim, a Sociologia independe de qualquer Filosofia. Assim, o sociólogo não deve fazer como o metafísico, que escolhe e toma partido de grandes hipóteses, mas sim, aplicar os princípios da causalidade aos fenômenos sociais), pois, por serem mais imediatamente perceptíveis, são estes que nos levarão aos menos visíveis e profundos, porém, mais explicativos. Isto pretende fornecer ao método sociológico o seu caráter objetivo.
2º Passo: Diz respeito às regras relativas à distinção entre o normal e o patológico. Para Durkheim, é muito importante saber o que é normal e o que é patológico em uma sociedade. Para classificarmos um fato devemos nos basear em uma espécie, um tipo social determinado, em uma fase determinada de seu desenvolvimento. As condições de saúde e de doença não podem ser definidas de forma abstrata e nem de maneira absoluta.
Na concepção de Durkheim, o que podemos chamar de normal e de patológico?
No início do terceiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma que os fenômenos normais são “os que são como deviam ser”, e os patológicos são aqueles que “deveriam ser diferentes do que são”. 
Dito de outra forma, normal é tudo o que é comum a todos ou quase todos. Em contrapartida, o patológico é tudo ou quase tudo que se apresenta de forma excepcional.
Durkheim alerta para o fato de o sociólogo se expor a erros quando não toma as devidas precauções metodológicas quanto à distinção entre normal e patológico. Uma falha desse tipo seria classificar o crime como algo patológico. 
É necessário, entender que o autor concebe crime como “um ato que ofende certos sentimentos coletivos dotados de energia e de nitidez particulares” (1972: p. 58), não se restringindo ao sentido jurídico.
Se, à primeira vista, o crime parece patológico, após uma análise meticulosa pode-se afirmar que o crime é normal e isso se deve a dois motivos. Em primeiro lugar, porque é universal, isto é, acontece em todas as espécies sociais e em todos os estágios de desenvolvimento. Em segundo lugar, porque reforça sentimentos contrários, de repulsa ao agressor e aos fatores que o motivaram a cometer o crime.
Há ainda um outro aspecto muito importante: em alguns casos, o criminoso é visto como agente de mudança e a ausência do crime tornaria a sociedade estática. Isso permitiu ao autor concluir que, além de normal, o crime é necessário e tem a sua utilidade.
Consciência Coletiva e Representações Coletivas
Em A Divisão do Trabalho Social, Durkheim afirma que enquanto seres socializados possuímos, simultaneamente, uma consciência individual e uma consciência coletiva.  
A consciência coletiva (esse tipo de consciência não tem origem nas consciências individuais e está espalhada, difusa por toda a sociedade.) é o nível mais profundo da realidade social. É a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de certa comunidade, constituindo um determinado sistema que possui vida própria, persiste no tempo e une as gerações. É, em outras palavras, o sistema de Representações coletivas (lendas populares, tradições religiosas. crenças políticas e linguagem) presente em determinada sociedade.
Para Durkheim, não são os indivíduos que geram a consciência coletiva, ao contrário, é a consciência coletiva que molda as consciências individuais. A força que a consciência coletiva exerce sobre os indivíduos varia com o tipo de sociedade dependendo do seu estágio de evolução.
Solidariedade Social
Em sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social, Durkheim propõe-se a investigar a função da Divisão do Trabalho. 
O autor se preocupou em analisar, à luz da Morfologia Social, a evolução das sociedades e a coesão social que dela resulta, que o fez concluir que as sociedades caminham, natural e necessariamente, do estado mecânico em direção ao estado orgânico, apresentando uma solidariedade característica para cada um desses estágios.
Sociedades Mecânicas: são aquelas de tipo pré-capitalista, muito “simples”, dotadas de forte consciência coletiva, onde a divisão do trabalho se baseia principalmente nos critérios de sexo e idade. 
Nesse tipo de sociedade, a identificação entre os indivíduos se dá por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes. A autoridade coletiva é absoluta e a consciência coletiva é tão forte que se sobrepõe à consciência individual. A solidariedade social de tipo mecânica é gerada pelas semelhanças entre os indivíduos que, partilhando os mesmos sentimentos e valores, diferem pouco entre si.
Sociedades Orgânicas: são mais extensas, mais complexas. Por possuírem estruturas econômicas avançadas, exigiam uma divisão do trabalho não mais baseada em sexo e idade, mas, na diversidade de funções que torna os indivíduos interdependentes. 
Se nas sociedades mecânicas a consciência coletiva gerava uma irresistível coesão social, nas sociedades orgânicas a divisão do trabalho social tem por função criar a solidariedade social, pois a complexidade da vida e a ausência de semelhanças acabam por aproximar as pessoas, fazendo com que se completem. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho, as relações sociais se baseiam na especialização de tarefas*. Assim, a educação tem caráter duplo, pois, ensina aos novos membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade e, por outro lado, fornece conhecimentos específicos da área profissional em que a pessoa deverá atuar.
* A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro advogado. Não podemos hoje, em nossa sociedade, conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, que precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante.
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser leigo nas outras faz com que os profissionais de um campo dependam de outros profissionais. Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando um todo.
AULA 4 – ÉMILE DURKHEIM: EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA
A Educação
Nas concepção de Durkheim, a educação tem um papel fundamental na preparação do indivíduo para a vida em sociedade. Por esse motivo, ele se dedicou a estudar a educação como um fato social.
Em Educação e Sociologia, Durkheim se propõe a fazer um exame crítico das definições de educação formuladas por diferentes e importantes pensadores dos fenômenos sociais. Assim, ao analisaras concepções de John Stuart Mill, Immanuel Kant e James Mill, o autor conclui que não existe uma educação ideal, pois se observarmos a história, a educação varia com o tempo e com as regiões.
De acordo com Émile Durkheim, “os sistemas educativos são o conjunto de práticas e instituições que se organizaram lentamente ao longo do tempo, que são solidárias com todas as outras instituições sociais e que as exprimem, que, por consequência, não podem ser mudadas mais facilmente do que a própria estrutura da sociedade”. (p. 46)
“É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como queremos. Há costumes com os quais temos de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se de nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não se encontrarão em condições de viver no meio de seus contemporâneos, com os quais não estão em harmonia. Quer tenham sido criados com ideias muito arcaicas ou prematuras, não importa; tanto num caso como noutro, não são do seu tempo e, por conseguinte, não estão em condições de vida normal. Há pois, em cada momento do tempo, um tipo regulador de educação de que não nos podemos desligar sem chocar com as vivas resistências que reprimem as veleidades das dissidências”. (p. 47)
Movido pela sua convicção de que as sociedades evoluem e devem ser estudadas em determinado estágio de seu desenvolvimento, Durkheim utiliza como método de estudo a observação histórica para mostrar que os sistemas de educação têm poder coercitivo, pois, em cada momento há um tipo regulador de educação do qual os indivíduos não podem escapar sem resistências e que restringem os anseios daqueles que são discordantes.
Além de exercer coerção sobre os indivíduos, a educação também não é uma criação individual, pois os costumes e as ideias que determinam o tipo de educação reguladora, são produzidos pela coletividade e manifestam as suas necessidades.
Quando nascemos, a maior parte de seu conteúdo já está pronto, é fruto das gerações passadas. Segundo Durkheim, a partir de uma perspectiva histórica, pode-se perceber que a formação e o desenvolvimento dos sistemas de educação dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado da indústria etc. Só à luz das causas históricas eles se tornam compreensíveis.
Ao definir mais precisamente a educação, Durkheim conclui que há algumas condições para que ela realmente exista, ou seja, é necessário que haja uma geração de adultos, uma geração de jovens e, que a primeira exerça uma ação sobre a segunda.
O sistema educativo, em qualquer sociedade, possui duplo aspecto, ou seja, é, simultaneamente:
Uno: Porque se configura como a base comum. É composto pelos sentimentos, valores, ideias, práticas, que devem ser inculcados em todas as crianças, sem distinção, seja qual for a categoria social à qual pertençam. É, resumidamente, o que há de comum a todos.
Múltiplos: Depende dos meios, das classes sociais, das profissões*.
* “Cada profissão, com efeito, constitui um meio sui generis que reclama aptidões particulares e conhecimentos especiais, onde reinam certas ideias, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e, como a criança deve ser preparada tendo em vista a função que será chamada a desempenhar, a educação, a partir de uma certa idade não pode mais continuar a ser a mesma para todas as pessoas às quais ela se destina” (2001, p. 50).
Segundo Durkheim, cada sociedade formula determinado ideal de ser humano, ou seja, é a sociedade que determina o que esperar do indivíduo, seja do ponto de vista intelectual, físico ou moral. Em outras palavras, seremos aquilo que a sociedade espera que sejamos.
Assim, se até certo ponto esse ideal é o mesmo para todos os cidadãos, há um momento em que os indivíduos devem se diferenciar, segundo os meios sociais particulares em que estão inseridos.
Para o autor, a parte básica da educação é constituída por esse ideal, ao mesmo tempo, uno e diverso, que tem por função suscitar na criança:
um certo número de estados físicos e mentais, que a sociedade à qual pertence considere indispensáveis a todos os seus membros;
certos estados físicos e mentais, que o grupo social particular (casta, classe, família, profissão) considere indispensáveis a todos os que o formam.
É a sociedade, em seu conjunto, e cada meio social, em particular, que determinam o ideal a ser realizado.
Durkheim ressalta que a homogeneidade é importante, pois é a base onde os sistemas de educação específicos se fundamentarão. A educação a perpetua e reforça, fixando na criança certas similitudes essenciais, exigidas pela vida coletiva. 
É a heterogeneidade que torna a cooperação possível. A educação assegura a persistência dessa diversidade necessária, o que permite especializações.
“Se a sociedade chegou a um grau de desenvolvimento em que as antigas divisões em castas e em classes não podem mais manter-se, prescreverá uma educação mais una em sua base. Se, no mesmo momento, o trabalho está mais diversificado, provocará nas crianças, sobre um primeiro fundo de ideias e de sentimentos comuns, uma mais rica diversidade de aptidões profissionais. Se vive em estado de guerra com as sociedades envolventes, esforça-se por formar os espíritos com base num modelo fortemente nacionalista; se a concorrência internacional toma uma forma mais pacífica, o tipo de educação que procurará realizar é mais geral e mais humano”. (2001, p. 52)
É necessário observar alguns temas importantes na teoria do autor, que foi fortemente influenciado pelo darwinismo social e, por isso, estava totalmente convencido de que, como os organismos, as sociedades também evoluíam. Segundo ele, as sociedades passariam do estágio mecânico para o estágio orgânico.
Sociedades Mecânicas: as sociedades mecânicas eram sociedades simples, nas quais a divisão do trabalho ocorria através dos critérios de sexo e idade e, onde os indivíduos praticamente não se diferenciavam, compartilhando as mesmas crenças e regras morais, ligados por laços de parentescos. Contudo, na evolução, as sociedades foram se tornando mais complexas.
Sociedades Orgânicas: aumento no nível de desenvolvimento deu origem à exigência de maior especialização do trabalho. Os indivíduos deixaram de se identificar por meio da religião, das regras morais e dos costumes. Nas sociedades orgânicas o que aproxima os homens é a interdependência gerada pela especialização de funções. É a divisão do trabalho social que gera a coesão, a solidariedade social. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho as relações sociais se baseiam na especialização de tarefas. Assim, a educação tem caráter duplo, pois, ensina aos novos membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade e, também, fornece conhecimentos específicos da área profissional em que a pessoa deverá atuar.
Exemplo de sociedades orgânicas: A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro advogado. Não podemos hoje, em nossa sociedade, conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, que precisam dos cuidados dos médicos e, assim por diante. 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser leigo nas outras faz com que os profissionais de um campo dependam de outros profissionais. 
Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando um todo.
“A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio especial ao qual está particularmente destinada”.
Dessa definição podemos assumir que a educação é a socialização metódica das novas gerações. Cada membro da sociedade possui em si dois seres:
o ser individual, que seconstitui dos estados mentais que dizem respeito apenas ao próprio indivíduo e à sua vida pessoal;
o ser coletivo, ou seja, o sistema de ideias, sentimentos, hábitos, que exprimem em cada indivíduo o grupo ou os grupos diferentes dos quais ele faz parte (crenças religiosas, crenças e práticas morais, tradições nacionais e profissionais, opiniões coletivas etc.).
O objetivo da educação é constituir o ser coletivo em cada um de nós, pois o ser social não nasce com o homem, não se apresenta na constituição humana primitiva, como também não resulta de nenhum desenvolvimento espontâneo.
Ao contrário, foi a sociedade, na medida em que se formou e se consolidou, que tirou de dentro de si essas grandes forças morais, diante das quais o indivíduo isolado sente a sua fraqueza e inferioridade.
A educação deve criar no homem um ser novo: o ser social.
Os indivíduos agem de acordo com as necessidades sociais e a sociedade impõe aos homens uma tirania muito forte. Mas, segundo Durkheim, os próprios homens desejam que isso ocorra porque o ser novo, que a ação coletiva cria em cada um de nós por intermédio da educação, representa o que há de melhor no homem, o que há de propriamente humano em nós.
Na verdade, o homem só é homem porque vive em sociedade. Para comprovar essa afirmação, Durkheim mostra o desenvolvimento da moral, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento da linguagem, coisas que só podem acontecer na vida em sociedade.
O Estado é a instituição social mais importante que tem influência sobre a educação, tendo mais peso que a família, segundo Durkheim. Não poderia ser de outra forma, dado o caráter coercitivo atribuído pelo autor à educação.
A importância do Estado (elemento representativo da sociedade) cresce à medida que assume uma função coletiva e busca a educação da criança na sociedade em que vive. Caberia a esse órgão esclarecer os princípios essenciais (respeito pela razão, pela ciência, pelos ideais e sentimentos que estão na base moral da sociedade democrática), fazer com que sejam ensinados nas escolas, cuidar para que as crianças não os ignorem e os respeitem. 
Durkheim era taxativo e afirmava que tudo que é educação deve estar em certa medida submetido à ação do Estado.
Durkheim percebia a ausência de unidade moral em sua sociedade, e a presença de muitas concepções divergentes, por isso se preocupava com a escola e com os professores.
“A escola não pode ser pertença de um partido, e o professor falta aos seus deveres quando usa a autoridade de que dispõe para arrastar os seus alunos nos trilhos de seus próprios ideais, por mais justificados que lhe possam parecer” (2001, p. 61).
Para a ação educativa ser bem sucedida na transformação de um ser associal, como o bebê, em uma personagem bem definida que desempenhe um papel útil na sociedade, o educador deve agir como um hipnotizador. 
A criança, como o hipnotizado, está numa situação de passividade. Como a vontade infantil ainda é rudimentar, ela é facilmente sugestionável e acessível aos exemplos, e propensa à imitação. 
O professor exerce sobre seus alunos uma ascendência baseada na superioridade de sua cultura e de sua experiência. O educador deve ter, também, serenidade.
Como o objetivo da educação é formar um ser novo, constrangendo o indivíduo e subjugando o egoísmo individual, não é possível formar o ser social através de brincadeiras e do prazer. 
É preciso então que o educador, com sua autoridade e sua ascendência moral, desperte o senso de dever na criança. 
Para isso, o professor deve acreditar e valorizar a sua missão, pois ele é a voz de uma grande pessoa moral: a sociedade.   
AULA 5 – O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE KARL MARX
Sua obra marcou profundamente o pensamento ocidental no século XIX. Ele se propôs a analisar a sociedade capitalista de modo profundo, buscando a compreensão daqueles fatores que contribuiriam para o surgimento da miséria e do elevado nível de exploração da mão de obra assalariada.
Segundo Marx, este seria um processo histórico, no qual as elites burguesas expropriariam duplamente as classes trabalhadoras: primeiro, no que se refere à propriedade dos meios de produção e, em seguida, expropriando também o saber dos trabalhadores, no que se refere à organização da produção social.
O alemão Karl Marx influenciou de modo significativo o pensamento ocidental, tanto no século XIX quanto no século XX.
Ao nos referirmos a ele como um dos clássicos do pensamento sociológico, o fazemos por reconhecer a forte influência que o seu trabalho exerce, ainda hoje, sobre as obras de muitos autores.
A obra de Marx também teve influência sobre a construção do primeiro regime socialista a ser instituído na história recente da humanidade. Esta experiência se daria na Rússia, em 1917, ano em que o partido bolchevique, liderado por Lênin, no comando de um movimento revolucionário instituiria naquele país um projeto socialista de inspiração marxista.
A partir daí, a Rússia passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, ou como se costumava dizer ao nível do senso comum, União Soviética.
Vamos conhecer um pouco da história da expansão do socialismo de Marx pelo mundo.
América Central: No continente americano é a vez de Cuba, que sob o comando de Fidel Castro, passa a fazer parte do mundo socialista em 1960.
Europa: No início do século XX, o mundo assiste a uma grande expansão do chamado socialismo real, nas mais diversas regiões. Com fim da Segunda Guerra Mundial e sob a influência soviética, verifica-se a expansão do socialismo pela grande maioria dos países do leste europeu como Polônia, Bulgária, Hungria, Romênia dentre outros.
África: Durante as guerras de libertação nacional, Angola e Moçambique também fazem opção por uma ordem socialista.
Ásia: Em 1949 é a vez da China que, em uma revolução camponesa comandada por Mao Tse Tung também inclui esta nação na órbita do mundo socialista. 
Outros países asiáticos, como Coréia do Norte e Vietnã, sob o comando de partidos comunistas, passam a hastear a bandeira vermelha do socialismo marxista-leninista nas décadas de 1950 e 1970, respectivamente.
Todo este quadro no cenário geopolítico mundial mostra a importância do marxismo para o mundo contemporâneo.
Na verdade, esta bipolaridade entre os dois modelos socioculturais — o ocidental, marcado pela presença do capitalismo e da economia de mercado, e o socialismo — traria muitas consequências para as relações entre as diferentes nações do mundo, dentre as quais se pode destacar a própria guerra fria.
No meio intelectual, o marxismo também faria sentir a sua presença ao longo de todo o século XX.
Com a participação de seu amigo e colaborador Friedrich Engels, Marx tinha, como objeto de sua pesquisa, a sociedade capitalista do século XIX. Suas teses e princípios teóricos eram baseados no materialismo dialético.
Neste sentido, para Marx, as contradições não seriam situações anômalas presentes na sociedade, mas ao contrário, fariam parte de sua própria essência.
A identificação destas contradições no interior da sociedade concentraria o foco da análise marxista no modo como o trabalho social é organizado. A análise da história humana com base nos princípios da dialética materialista levaria Marx a identificar as contradições de interesses existentes entre as principais classes sociais, como o principal fator de motivação das mudanças sociais.
Para Marx, esta “luta de classes” seria o principal combustível para as transformações nas sociedades humanas. Este modo de pensar a sociedade daria origem a um novo conceito elaborado por Marx, que seria o materialismo histórico. Na prática, uma aplicação da dialética materialista ao estudo da história humana.
Na perspectiva marxista, o trabalho social não funciona apenas como um intermediário das relações entre sociedade e natureza, mas também como o intermediário nas relações estabelecidas pelos homens entre si.
A qualidade das ferramentas ou forças produtivas utilizadas pelos indivíduos, somada aos tipos derelações estabelecidas no processo produtivo caracterizaram, na concepção marxista, o modelo de sociedade com o qual se estaria lidando.
A partir da visão de Marx, foi possível se identificar alguns tipos de sociedades ou modos de produção.
Modo de produção feudal: O feudalismo predominou na Idade Média, cujo antagonismo de classes seria identificado entre os nobres, donos das terras e os servos que, ao ocuparem estas terras, se viam obrigados a prestarem serviços aos primeiros.
Modo de produção escravista: O escravismo predominou na chamada Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), momento em que as principais contradições se dariam entre os escravos e seus senhores.
Modo de produção capitalista: O predomínio do capitalismo é no período contemporâneo. Nesta nova fase da organização social, as relações de produção ou o modo como os indivíduos se relacionavam para organizar e implementar o trabalho social seriam desenvolvidos com base num processo de remuneração assalariada da mão de obra. Eram os operários que, desprovidos da propriedade das fábricas e dos meios de produção, “vendiam” aos burgueses, donos destes estabelecimentos, o único bem que possuíam, que seria a sua força de trabalho. Assim, neste modo de produção, como afirmava Marx, as principais contradições seriam aquelas existentes entre a burguesia — dona dos meios de produção — e o proletariado, que compreenderia os operários e trabalhadores de um modo geral.
É importante destacar que, a cada um desses modos de produção corresponderiam diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas e diferentes formas de organização do trabalho social ou das relações de produção.
São justamente as diferentes posições dos homens com relação às formas de propriedades presentes numa sociedade, ou modo de produção, que irão definir as diferentes classes sociais existentes. A transformação de um tipo de sociedade para outro, ou de um modo de produção a outro, se dá por meio dos conflitos abertos entre a classe dominante e as classes exploradas num determinado período.
Assim, de acordo com Marx, a história humana é uma história das lutas entre as classes.
AULA 6 – A TEORIA MARXISTA E AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO
Na concepção de Marx, as ideias que os indivíduos incorporam, na sociedade capitalista, implicam numa visão imprecisa ou falsa da realidade. Isto acontece na medida em que a consciência que os trabalhadores constroem sobre o seu próprio modo de vida tende a ser profundamente influenciada pelos valores das elites burguesas. 
Numa posição diferente daquela assumida por Durkheim, Marx não percebe as representações coletivas como produto do conjunto da sociedade. Para ele, estas ideias — às quais chamou de ideologia — são o fruto de um processo de dominação, que leva as classes oprimidas a perceberem o mundo com as lentes de seus opressores, processo este denominado de alienação. 
Esta aula aborda o projeto de educação de Marx, que busca superar esta ausência de consciência, ou seja, um projeto que possa construir indivíduos integralmente desenvolvidos e emancipar os trabalhadores do seu processo de alienação.
Na concepção marxista, a partir da lógica do pensamento dialético, haveria uma reciprocidade de influências entre a consciência e as condições materiais da vida em sociedade.
Indivíduo: Por um lado, o mundo das ideias é influenciado de forma determinante pela realidade material.
Meio Social: Por outro lado, esta mesma base material da sociedade pode ser transformada pela ação consciente dos indivíduos.
A particularidade da concepção de Marx está no fato de ele perceber este grande conjunto das ideias representado pelos valores e crenças predominantes, no caso da sociedade capitalista, como o fruto de um processo de dominação das elites burguesas. Como consequência, por terem perdido o controle sobre a organização da produção, os trabalhadores teriam perdido, também, a possibilidade de construir uma visão adequada sobre a sua própria realidade. Eles perceberiam o mundo a partir dos valores da burguesia, como se esta fosse a única forma possível de trabalhar e viver.
Burguesia X Proletariado
Segundo Marx, no capitalismo existem os burgueses, proprietários dos meios de produção (fábricas e empresas de modo geral) e aqueles que vendem o único bem que possuem, ou seja, a sua força de trabalho, em troca do pagamento de salário. Estes seriam os proletários, classe que representaria a maioria da sociedade. Para eles, o modo de vida estabelecido na sociedade capitalista parece algo natural. É como se trabalhar em troca de um salário fosse uma espécie modo de vida que sempre existiu e sempre existirá.
Um conceito fundamental, na concepção marxista, é o de alienação.
O trabalho na sociedade capitalista é considerado como algo sobre o qual o próprio trabalhador não possui nenhum controle. Ou seja, um operário numa determinada linha de montagem executa muito bem a sua função, por exemplo, encaixar amortecedores na carroceria do veículo, sem ter a menor ideia sobre o procedimento para construir, de modo completo, um automóvel. Este saber lhe foi expropriado num processo histórico, juntamente com os meios de produção. Este mecanismo é definido por Marx como alienação.
A organização do trabalho social na sociedade capitalista, segundo Marx, possuiria, portanto, uma considerável diferença em relação ao que era feito na sociedade feudal.
Naquele período, em que predominavam as oficinas artesanais nas vilas e pequenas cidades, o Mestre Artesão era ao mesmo tempo executor e organizador do processo produtivo*.
* Por exemplo, numa oficina de sapateiros, caberia a ele a compra da matéria prima, o planejamento dos modelos a serem fabricados, o corte do couro, a costura, o acabamento final e a própria venda do produto, ou seja, ele era responsável por todas as etapas do processo produtivo.
Essa situação difere profundamente daquela presente na sociedade capitalista, na qual o dono da fábrica, que organiza e planeja a produção, não é quem executa o trabalho*. 
* Por exemplo, não vemos os executivos das grandes montadoras de automóveis encaixando as peças dos veículos na linha de montagem. 
No modelo civilizatório marcado pela presença do capitalismo, a fragmentação das atividades profissionais é a marca registrada. A divisão entre aqueles que realizam trabalhos exclusivamente intelectuais e a grande maioria que executa tarefas manuais e repetitivas, sem a exigência de uma elaboração mais complexa é, de fato, a regra. 
A causa da consciência distorcida construída pela grande maioria dos trabalhadores acerca do seu próprio modo de vida, é justamente esta divisão qualitativa do trabalho.
Marx considerava esta situação, além de injusta, a causa de todo o processo de alienação presente na sociedade de sua época, a Europa do século XIX. 
Para resolver este problema, além da ação de conscientização das massas pelos integrantes do partido comunista (que ele considerava o partido revolucionário da causa dos trabalhadores) Marx imaginou um projeto de educação que pudesse compensar estas diferenças.
Marx e Engels percebiam as práticas de educação escolar como uma importante ferramenta que poderia ser utilizada, tanto para perpetuar o processo de alienação e de dominação existente na sociedade capitalista, quanto para emancipar os trabalhadores desta realidade.
Em algumas citações de O Capital, sua obra mais importante, Marx relata algumas visitas a escolas localizadas em cidades na Inglaterra, cujas condições de ensino eram tão precárias, que só poderiam servir como espécie de engodo, para a nova legislação inglesa de 1844, que determinava que as crianças ao serem contratadas pelas fábricas deveriam estar devidamente matriculadas em algum estabelecimento de ensino.
Projeto Educacional de Marx
Sugerido para solucionar o problema educacional, o projeto de Marx certamente seria alvo de certa estranheza nos dias atuais. Para ele:
as escolas deveriam formar indivíduos integralmente desenvolvidos, isto é, que ao longo da sua formaçãodividissem seu tempo entre o trabalho manual, as atividades intelectuais e o lazer;
as crianças de até 12 anos deveriam passar ao menos 2 horas por dia trabalhando de modo a combinar o trabalho braçal com prática intelectual. Esta jornada de trabalho associada à educação deveria ser elevada até um período de 6 horas por dia, quando a criança completasse 16 anos.
O Projeto Educacional de Marx pode ser representado pela equação abaixo:
EDUCAÇÃO INTELECTUAL + EDUCAÇÃO PROFISSIONAL + EDUCAÇÃO FÍSICA
Para Marx era fundamental que todos os indivíduos combinassem educação intelectual, educação profissional e educação física, na sua formação. Só assim, todos se tornariam indivíduos integralmente desenvolvidos, capazes de desenvolver diferentes tarefas e atividades sociais. Ele considerava injusto que alguns indivíduos trabalhassem apenas com a mente, desenvolvendo seu intelecto, enquanto outros passassem toda a vida presos a atividades manuais repetitivas e embrutecedoras, no que se refere ao espírito humano. 
Mesmo para os membros da burguesia, a educação fragmentada era considerada por Marx como prejudicial, na medida em que o indivíduo se via desprovido daquilo que ele considerava como conhecimento tecnológico.
É importante ressaltar que este projeto de educação sugerido pela teoria marxista se apresentava para a realidade europeia no século XIX. 
Neste momento o acesso a escola, mesmo num sentido tradicional, era restrito a um pequeno número de crianças originárias das classes mais favorecidas.
Além disso, a possibilidade de automação do processo produtivo, como conhecemos hoje, era algo inconcebível em termos tecnológicos. Sendo assim, na visão de Marx, a ideia de que todos pudessem, ao longo de seu dia, compartilhar todas as funções existentes na sociedade, tanto as mais enaltecedoras quanto as mais laboriosas, se apresentava como a alternativa mais justa.
AULA 7 – A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER
O sociólogo Max Weber parte do princípio de que a sociedade não é apenas algo exterior aos indivíduos. Ao contrário, ela seria o resultado de uma imensa rede de interações entre os seus membros. 
Para analisar esta rede de relações não basta observá-la de modo distante, é necessário se aproximar, interagir e, a partir daí, assimilar os diferentes tipos de racionalidade que motivam as ações sociais. 
Esta compreensão do sentido subjetivo das ações dos indivíduos que se relacionam com os demais membros da sociedade ou grupo é a base da sociologia weberiana, que será abordada nesta aula.  
Um importante conceito que é a base a partir da qual a sociologia weberiana pode ser estruturada é o conceito de ação social.
Ação social, segundo Weber, é todo tipo de conduta humana relacionada a outros indivíduos e dotada de um sentido subjetivamente elaborado. 
Para Weber, a sociedade não seria um organismo com uma espécie de complementaridade entre as suas partes, como postulava Durkheim, nem tampouco uma espécie de prisão para as classes menos favorecidas, como imaginava Marx. 
Para ele, a sociedade se apresentava como uma grande teia formada por diversos tipos de ações sociais. A identificação do sentido subjetivo dessas ações, ou seja, do tipo de racionalidade que as motiva e que leva a este ou àquele comportamento é o que define a sociologia weberiana como compreensiva.
De um modo diferente daquele empregado por seus contemporâneos, Weber rompe de forma mais sistemática com o cientificismo de influência positivista, muito presente nas obras de pensadores do século XIX, como Émile Durkheim. 
Na opinião de Max Weber, as ciências sociais, definidas por ele como ciências da cultura, são disciplinas cujas diretrizes metodológicas e teóricas são profundamente influenciadas pelo ponto de visto do investigador, ou seja, ao se produzir conhecimento científico, ou se relacionar com ele é de grande relevância se levar em consideração os valores presentes na personalidade do cientista ou pesquisador.
Neste sentido, não existiria uma espécie de ciência “neutra”, sendo o próprio foco da pesquisa científica estabelecido, muitas vezes, em sintonia com os valores morais, políticos ou religiosos de quem desenvolve o trabalho.
Um traço marcante do pensamento weberiano é a sua ruptura radical com a lógica do cientificismo positivista.
Auguste Comte definia a sociologia como a física social. Segundo ele, a lógica de pesquisa desta disciplina seria destinada a conhecer os processos sociais, para poder prever os seus desdobramentos.
Ao contrário, Weber*, ao perceber a sociedade como uma teia constantemente renovada de ações sociais, afirma ser esta realidade hipoteticamente infinita e que apenas um fragmento de cada vez pode ser objeto de conhecimento sistematizado, no sentido da pesquisa científica.
* Para a sociologia weberiana a sociedade concebida como esta totalidade, ou um “todo” monolítico seria algo absolutamente incompreensível “pela simples razão de que este todo reside na interação entre as partes e não é possível conhecer todas elas ao mesmo tempo, porque são muitas e porque se renovam a cada dia.” (Rodrigues, 2006: p. 61).
É na simples escolha de uma das partes deste todo para ser estudada, que se encontram envolvidos os valores do pesquisador. 
A escolha de um caminho para a pesquisa envolve um tipo de racionalidade e, consequentemente, também se caracteriza como uma ação social.
Com o objetivo de qualificar estas ações sociais, Weber desenvolve o conceito de tipos puros ou tipos ideais, sabendo que estas construções não espelhariam de forma fiel a realidade. Elas se apresentariam como pontos de referência, a partir dos quais seria possível se estabelecer níveis de comparação com o mundo concreto, funcionando, na prática, como um importante método de investigação para as ciências sociais. 
Todas as ações praticadas em sociedade implicam em um determinado nível de racionalidade, por parte do sujeito que as executa. Justamente a partir do seu caráter mais ou menos racional, Weber estabelece uma classificação para as ações sociais, segundo o princípio dos tipos ideais.
Ação social racional com relação a fins: são aquelas cujo sentido subjetivo envolve os meios adequados para se atingir determinados objetivos, previamente estabelecidos. 
Ex.: uma pesquisa científica, um projeto econômico, fazer um curso de graduação etc.
Ação social racional com relação a valores: são aquelas cujo princípio racional não se vincula tanto ao objetivo a ser alcançado, mas à afirmação de determinados valores. 
Ex.: participar de uma manifestação em defesa da natureza ou em prol dos direitos humanos, ou entrar para a universidade porque a família considera este um ponto importante.
Ação social racional com relação ao regular ou ação social tradicional: são aquelas cujo sentido subjetivo se constrói com vistas à observação de costumes ou tradições.  
Ex.: o casamento religioso ou o batismo dos filhos em determinada igreja, para quem não é praticante daquela crença. Ir para a universidade porque todos na família assim o fizeram etc.
Ação social afetiva: são aquelas cujo sentido subjetivo racional se mistura a uma forte carga emocional, muitas vezes comprometendo a própria análise da racionalidade em questão. 
Ex.: ações motivadas por ciúme, cólera, paixão etc.
Para finalizar esta aula, vale ressaltar que a afirmação de que Weber considerava as situações descritas como tipos ideais, construídas para simples efeito de comparação é porque elas não representam a realidade num sentido fiel, mas sim para efeito de aproximação. 
Um rapaz pode ingressar na universidade para se graduar em Medicina, o que seria uma ação social racional com relação a fins. Entretanto, ao se matricular escolhe uma turma da manhã com o intuito de reencontrar uma ex-namorada. Além disso, todos na família são médicos e isto o faz sentir na obrigação de dar continuidade a esta cultura familiar. Neste caso, seriam misturadas à ação racional outras de caráter afetivo e tradicional.
AULA 8 – AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO PARA ASOCIOLOGIA WEBERIANA
Nesta aula estudaremos a história humana, que segundo Max Weber, poderia ser definida como um processo crescente de racionalização das relações sociais. O agir em sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam e institucionalizam. Na medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores os desafios para se estabelecer níveis de consenso que possam abrigar as diferentes relações sociais. 
Com o estabelecimento do Estado Moderno e as formas de dominação legítima que lhe são correspondentes, a efetivação da autoridade nacional passa a depender de um quadro administrativo profissional e hierarquizado, o que Weber definia como burocracia. 
Neste momento o exercício da autoridade passa a depender, de forma crescente, da legitimidade estabelecida pelo direito racional. É justamente a partir da necessidade de formação deste quadro de funcionários, que se submetem à autoridade por meio de princípios cada vez mais racionais, que as práticas de educação assumem importância crucial para a análise desenvolvida pela sociologia weberiana. 
A história humana, segundo Max Weber, poderia ser definida como um processo crescente de racionalização das relações sociais.
O agir em sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam, institucionalizam e em seguida assumem a forma de leis. 
Na medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores também se tornam os desafios para conciliar os diferentes interesses em jogo.  
É neste sentido que Weber imagina a sociedade humana como inserida num processo contínuo de aprimoramento da subjetividade ou racionalidade, que envolve as relações sociais.
Este movimento implicaria no crescente abandono de concepções místicas e tradicionais, no que se refere à constituição dos diferentes princípios de autoridade, incluindo-se aí o próprio Estado.
Para explicar este movimento, Weber constrói novamente uma tipologia, num sentido ideal, destinada a analisar as diferentes formas de dominação legítima. Segundo esse autor, existiriam três tipos puros ou ideais de dominação legítima.
Dominação Tradicional: é baseada nas tradições e mais diretamente relacionadas às monarquias absolutistas do período conhecido como idade moderna.
Dominação Carismática: é baseada no carisma do líder e geralmente se caracteriza por períodos de ruptura institucional. 
Dominação Racional Legal: é baseada na racionalidade e nas disposições legais, como no caso do Estado Moderno. Essa dominação é relacionada ao Estado de Direito e à presença de uma burocracia em termos administrativos.
É neste momento que a sociologia weberiana atribui um significado relevante para as práticas de educação. É importante que você entenda bem estes conceitos:
Para Weber, a educação é o modo pelo qual os indivíduos são preparados para exercer funções, relacionadas à nova realidade caracterizada pela racionalização da vida, tanto na administração do aparelho de estado, quanto nas empresas capitalistas.
Segundo a sociologia weberiana, as práticas de educação passariam a se caracterizar por um conjunto de conteúdos voltados para o treinamento de indivíduos, a fim de que se tornassem aptos a desempenhar variadas funções tanto no Estado, quanto nas empresas.  Neste sentido, a própria condução do processo político se daria em moldes mais racionais.
A sociedade capitalista, segundo Weber, teria desenvolvido práticas de educação cujo objetivo seria treinar o indivíduo, ao invés de simplesmente cultivar o seu intelecto.
Educar de modo a desenvolver um sentido mais racional, nas diferentes relações sociais passou a ser fundamental para o Estado na sociedade capitalista, uma vez que este “novo” homem não deveria mais obediência a princípios místicos e sobrenaturais, mas sim ao direito racional.
Para refletir sobre a sociologia da educação, Weber constrói alguns conceitos como o da Pedagogia do Cultivo e o da Pedagogia do Treinamento.
Pedagogia do Cultivo: é um conjunto de práticas destinadas a formar um tipo de indivíduo culto, o que implica transformações no seu comportamento interior e exterior. Este processo assumiria o sentido de uma “qualificação cultural” no sentido de uma educação de caráter abrangente, o que traria implicações no sentido do status e da própria qualidade de vida do indivíduo. Nas sociedades pré-industriais estas práticas estariam restritas às elites sociais e intelectuais.  
Pedagogia do Treinamento: são as práticas de educação dominantes do Capitalismo. Segundo o autor, com a racionalização da vida social e a crescente burocratização do Estado moderno, a educação deixa gradualmente de ter como objetivo a “qualidade da posição do homem na vida” e passa a se constituir num projeto especializado com o objetivo de formar peritos e especialistas com vistas ao mercado de trabalho. Weber percebia com certa melancolia esta relação com o conhecimento, que poderia ser percebida como uma espécie de “depressão intelectual”.
Para Weber, a Pedagogia do Treinamento, imposta pela racionalidade da sociedade capitalista, se apresentava como um forte obstáculo ao desenvolvimento do talento e da própria realização pessoal dos homens, de um modo geral.
Esta era uma racionalidade que mantinha uma relação utilitarista com o conhecimento, destinada apenas à obtenção de poder e dinheiro. 
AULA 9 – AS CONTRIBUIÇÕES DE BOURDIEU, GRAMSCI E MANNHEIM
O comunista italiano Antonio Gramsci nunca publicou um livro, mas encontramos suas ideias em periódicos de partidos políticos e da imprensa e, sobretudo, nos famosos Cadernos do Cárcere, produzidos durante a sua prisão durante o governo fascista de Mussolini. 
É importante ressaltar que Gramsci sofreu muita influência de Karl Marx, porém, foi adiante, pois atualizou a teoria de Marx para analisar as sociedades capitalistas da Europa na primeira metade do século XX.
Em sua obra, Gramsci faz distinção entre Oriente e Ocidente. Essa não é apenas uma distinção geográfica, mas, política.
Por Oriente ele entendia os países onde o Estado (instituições de governo) é poderoso e a Sociedade Civil (empresas, clubes, mercado, partidos, cultura, visões de mundo) é fraca, dotada de pouca organização e de pouca capacidade de fazer frente ao Estado.
Por Ocidente ele entendia aqueles países em que a sociedade civil é estruturada, múltipla, organizada, e compartilha com o Estado a administração da vida social. São os países de capitalismo avançado, cujo mercado interno é forte e a vida política é plural.
Ao contrário do Oriente, no Ocidente o poder encontra-se diluído entre o Estado e a Sociedade Civil. Sendo assim, não é suficiente que os grupos políticos revolucionários se voltem apenas contra o Estado. É preciso empreender uma “revolução no cotidiano” a partir de uma política feita na sociedade. Para chegar a tal intento, não basta o uso da força, é necessário alcançar a consciência das pessoas. É preciso ganhar a “batalha das ideias”.
Entenda a diferença entre os pensamentos de Marx e Gramsci.
Marx: afirmava que o proletariado deveria abolir a exploração econômica de uma classe sobre a outra, eliminando a propriedade privada dos meios de produção. 
Gramsci: eliminar a propriedade privada dos meios de produção não seria suficiente, pois precisariam lutar também contra a “apropriação privada, ou elitista, do saber e da cultura”. 
De acordo com Gramsci, era necessário desfazer a separação entre “intelectuais” e “pessoas simples”, porque apenas aqueles tidos como intelectuais ocupavam postos de administração do Estado e da sociedade civil, concentrando mais poder. 
Para este autor, a luta pela hegemonia, ou seja, o processo lento e complexo pelo poder político nas sociedades complexas, não é vencida através do golpe de Estado ou pelo êxito nas eleições. É necessário convencer as pessoas, conseguir um consenso social em torno de suas concepções. Nesses termos, ele considerava o convencimento mais adequado do que a força.
No processo da hegemonia pelo poder político, os intelectuais têm um papel

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