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História da Educação no Brasil - Conteúdo Online

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
AULA 1 – A CRIAÇÃO DA COMPANHIA DE JESUS: O CONTEXTO RELIGIOSO NA EUROPA NO SÉCULO XVI
A nossa viagem pela história da educação no Brasil tem início no século XVI, na Europa, onde uma nova visão de mundo ganhava cada vez mais espaço, fruto das transformações decorrentes de um período denominado de Renascimento.
Com a chamada crise do século XIV na qual as sociedades europeias foram fortemente abaladas pelas guerras, a fome e a Peste Negra, a estrutura social, econômica e política dominante desde o século V, que caracterizava a Idade Média, começava a ser contestada por novos grupos sociais que procuravam dar uma nova ordem tendo o homem e as necessidades humanas como centro das atenções e não mais Deus.
Novos valores e formas de pensamento1 baseados em um crescente racionalismo e individualismo surgem como forma de reerguer uma Europa dividida pelos interesses comerciais e materialistas dos Estados Nacionais absolutistas em formação. 
1 Expressas principalmente através da pintura, da arquitetura, da escultura, da literatura e das artes em geral.
O Rei e a nobreza, associados à burguesia comercial, buscam no mercantilismo fórmulas alternativas para a sustentação econômica de uma nova sociedade.
Na transição do século XIV para o XV1, a Igreja Católica, instituição símbolo da unidade cultural e religiosa e guardiã dos valores cristãos, não consegue dar sustentação ideológica ao moderno mundo que estava emergindo dos escombros da sociedade medieval.
1 Franco Cambi, na sua obra História da Pedagogia, denomina aquele período de “outono da Idade Média”, pois “foi uma época na qual duas ordens culturais vieram cruzar-se, diluindo-se uma na outra e ativando-se uma pela, e contra, a outra” (p. 192).
Na educação, a crise do modelo escolástico permite o avanço do humanismo, o que significou a valorização do pensamento humano nas artes, na filosofia e uma maior secularização do saber. O homem desvia-se do céu para se preocupar mais com as coisas da terra.
Com isso observa-se um aumento do número de colégios voltados à educação dos filhos, principalmente da burguesia, a fim de melhor prepará-los para a administração dos negócios da família.
A Reforma Protestante foi um movimento religioso, no século XVI, que mudou consideravelmente os rumos da sociedade e da educação na Europa. A unidade da fé e o monopólio da interpretação das escrituras sagradas, até então sob o controle da Igreja Católica, foi rompida de forma definitiva, dando origem a diversas religiões, tais como o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo.
Este movimento pode ser explicado por um conjunto de fatores de ordem religiosa, política, social e econômica. 
As severas críticas feitas pelo padre e teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546) à venda de indulgências e de relíquias religiosas e o comportamento mundano do clero tinham como alvo a hierarquia eclesiástica e a corrupção moral da Igreja de Roma.  
Lutero pretendia um retorno às origens do cristianismo, das quais, segundo ele, o clero católico teria se afastado ao longo dos mil anos da Idade Média.
Do ponto de vista político e econômico a reforma recebeu apoio da burguesia e de elementos da nobreza alemã. 
A burguesia via no movimento reformista uma maneira de se libertar do jugo da Igreja Romana, já que esta condenava diversas práticas comerciais e financeiras que impediam o acúmulo de capital. 
Da sua parte, romper com o Papa significava para a nobreza alemã maior autonomia política e o controle sobre as terras que pertenciam à Igreja.
Qual a relação entre a reforma protestante na Europa e a história da educação no Brasil?
Será a partir da reação da Igreja Católica à Reforma Protestante de Lutero, a chamada Contra-Reforma, que poderemos observar um impacto direto. 
Uma das consequências imediatas da disseminação das ideias de Lutero em toda a Europa foi a perda de fiéis por parte da Igreja Católica. Reunidos no Concílio de Trento (1545-1563), os representantes da Igreja tomaram importantes medidas para conter a expansão do protestantismo. Dentre elas, podemos citar a reafirmação da supremacia papal, dos princípios da fé e da doutrina católica, a criação da lista de livros proibidos (Index), o fortalecimento da atuação do Tribunal de Inquisição e o estímulo à criação de seminários para a formação de padres e de novas ordens religiosas.
Em 1534, foi criada a principal ordem religiosa: a Companhia de Jesus.
Fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus teve atuação destacada na propagação da fé católica e na luta contra os infiéis e hereges.
Conhecidos como “os soldados de Cristo”, os jesuítas se espalharam pelo mundo, a fim de cumprir o seu trabalho missionário.
Como estratégia para atingir os seus objetivos, a Companhia de Jesus optou pela criação de colégios, estabelecimentos voltados para a educação de jovens dentro do ensino das primeiras letras e da doutrina cristã.
Os professores jesuítas eram do Colégio Romano, fundado em 1550, e encaminhados para a Ásia, América e África onde prestavam os seus serviços religiosos e pedagógicos.
AULA 2 – OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLONIAL
Nesta aula, o nosso ponto de partida é o ano de 1549, na colônia portuguesa na América. Mais precisamente na Bahia, quando em terras brasileiras desembarcam os primeiros jesuítas, do navio que trouxe de Portugal o governador-geral Tomé de Souza.
Liderados pelo padre Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus iniciava um período de intensa atuação na sociedade colonial brasileira, cujo legado pode ser percebido nos dias de hoje.
Até a expulsão do Brasil por decreto do Marquês de Pombal, então primeiro-ministro do rei de Portugal D. José I, a Companhia de Jesus possuía “25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase todas as aldeias e povoações onde existiam casas da Companhia”.
Quais eram os objetivos da Companhia de Jesus ao enviar seus “soldados de Cristo” para o Brasil acompanhando o governador-geral Tomé de Souza, representante do Rei português D. Manuel I?
Recordando a aula passada, temos que ter em mente que o contexto político e religioso na Europa, no século XVI, não era favorável a Igreja Católica, que teve o seu poder contestado pelos reformistas protestantes. A perda do monopólio sobre as verdades cristãs proporcionou uma acentuada evasão de fiéis da Igreja Católica, que viam nas novas igrejas reformistas uma oportunidade maior de salvação de suas almas. 
Com isso, um dos objetivos da Companhia de Jesus ao chegar ao Brasil era conquistar um maior número de fiéis e seguidores, a fim de expandir a fé cristã e o poder de Roma. Outro objetivo da Companhia de Jesus tem relação com a aliança entre a Igreja e o Estado português. A intenção de Portugal era colonizar o Brasil. Colonizar, na visão da metrópole portuguesa, significava defender, explorar e povoar a terra. A Companhia de Jesus, por seu termo, se enquadrava no projeto colonizador do Brasil na condição de disseminadora da cultura “civilizatória” europeia entre os índios e colonos. Sem dúvida, dentre os aspectos culturais, expandir a religião e a moral católica cristã estavam entre os principais objetivos dos jesuítas.
Ainda no papel de parceira de Portugal na colonização da América portuguesa, a Igreja tinha a importante função de garantir a unidade política, a partir da uniformização da fé e das consciências. Essa uniformização seria atingida através de um árduo trabalho pedagógico nos colégios, nas missões e nas pregações religiosas onde os jesuítas estivessem.
Nos primeiros anos de sua atuação no Brasil, a Companhia de Jesus voltou-se para a catequese e o ensino de ler e escrever para índios e filhos dos colonos que dividiam o mesmo espaço pedagógico: os colégios. 
O ensino das letras, de acordo com José Maria de Paiva, significava a confirmação da organização da sociedade. A sociedade seria hierarquizada pelo acesso às letras.
Com o decorrer do tempo,os colégios e o domínio das letras passam a ser destinados primordialmente aos filhos dos colonos. Os colégios da Companhia de Jesus tinham uma função que iam além do próprio ensino formal. O dia-a-dia intramuros formatava consciências e modelava indivíduos que acabavam por servir de agentes da ordem e da cultura europeia e cristã. Todo o comportamento desviante da moral cristão deveria ser identificado e corrigido para a purificação da sociedade. Caso fosse necessário, castigos e punições eram aplicados àqueles que insistissem em contrariar as regras do bom comportamento.
Havia um documento que reunia as diretrizes pedagógicas que os jesuítas deveriam seguir tanto em termos de conteúdo quanto em relação aos métodos a serem empregados: o Ratio Studiorum.
O currículo do colégio definido pelo Ratio era composto de:
a Gramática média; a Gramática superior;
as Humanidades;
a Retórica;
a Filosofia e a Teologia, em um estágio mais avançado.
A educação dos gentios, principalmente dos curumins, prosseguia e Padre José de Anchieta foi um dos seus mais atuantes pedagogos. Utilizando entre outros recursos o teatro, a música e a poesia, Anchieta pode ser apontado como um dos nomes de maior destaque da história da educação brasileira naquele período.
O índio era alvo da disputa entre os jesuítas, que queriam convertê-lo ao cristianismo, e os colonos, que o escravizavam para a execução de trabalhos forçados. Tanto os jesuítas quanto os caçadores de escravos penetraram pelo interior da colônia portuguesa para “capturá-lo”. 
Tendo em vista a dificuldade que os jesuítas encontravam para realizar a sua obra evangelizadora nas tribos indígenas, eles acabaram por criar as chamadas missões.
As missões eram espaços sob a administração da Companhia de Jesus, onde os gentios, além de receberem a educação religiosa, aprendiam a viver sedentariamente em unidades individualizadas por família e a executar o trabalho agrícola com divisão de tarefas, a criação de gado, a construção de templos, fabricação de instrumentos musicais etc. Estabelecendo áreas específicas para trabalhar, descansar e realizar o culto, entre outras. O jesuíta passou a controlar os índios e a substituir os hábitos considerados bárbaros (a poligamia, a antropofagia, a “ociosidade”, a “desorganização”, o andar nu etc.) por condutas mais “civilizadas”.
Nas missões, os índios abriam mão de sua cultura original para receberem uma cultura totalmente estranha a eles. Este processo de aculturamento vai tornar o índio mais dócil e fragilizado. A perda do hábito da guerra entre tribos, por exemplo, vai permitir que os aldeamentos indígenas fossem presa fácil para aqueles que se ocupavam em aprisioná-lo e comercializá-lo como escravo.
A educação “letrada” no Brasil Colonial era direcionada aos homens. As mulheres não tinham acesso aos colégios e eram educadas para a vida doméstica e religiosa. Como esposas dos colonos portugueses, elas deveriam servir como reprodutoras, ou seja, gerar filhos para o seu senhor e marido.
De acordo com a hierarquia familiar, dentre as famílias dos colonos portugueses o primogênito teria direito sobre todas as propriedades da família; o segundo filho era enviado aos colégios e, possivelmente, completaria seus estudos superiores na Europa; o terceiro seria entregue à Igreja para seguir a vida religiosa.
Sobre a educação dos negros africanos no período colonial, Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves nos adverte que a ação educativa da Igreja Católica em relação ao negro restringia-se à catequização. Ao contrário dos índios, a palavra escrita lhes era inacessível. A doutrinação, segundo o mesmo autor, se deu a partir das devoções aos santos e à Virgem Maria.
Como vimos no início dessa aula, o acesso à palavra escrita era uma forma de inserir o indivíduo na sociedade colonial brasileira. Assim, a exclusão social dos negros era notória e a sua condição de escravo justificada pela Igreja Católica.
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, a confortável e estável situação usufruída pela Companhia de Jesus na América portuguesa começou a se deteriorar, até atingir um momento crucial, em 1759, com a expulsão desta ordem religiosa das terras brasileiras.
AULA 3 – A REFORMA POMBALINA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Desde a chegada em 1549, passando por todo o século XVIII onde ampliou e consolidou o monopólio sobre a educação, a Companhia de Jesus tornou-se uma das mais poderosas e influentes instituições no período colonial brasileiro. 
Com vários colégios e missões espalhadas por todo o território da América portuguesa e espanhola, os jesuítas impuseram através da educação religiosa uma determinada forma de pensar e ver o mundo baseada na fé e na moral católica.
O crescente poder da Companhia de Jesus contrasta com um certo declínio econômico e financeiro de Portugal, a partir de meados do século XVIII. A rivalidade com outras potências coloniais como Holanda, Inglaterra e França e a decadência do comércio com o Oriente podem ser apontados como alguns dos fatores que levaram Portugal à crise.
A descoberta do ouro, em fins do século XVII, deu condições ao Rei D. João V (1706-1750) de governar com enorme luxo e ostentação. 
A assinatura do Tratado de Methuen (com a Inglaterra) foi extremamente desfavorável para a economia portuguesa, pois elevou o déficit da balança comercial e inibiu o desenvolvimento da manufatura têxtil em Portugal.
Em 1750, D. José I assume o trono português tendo Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, como o seu primeiro-ministro.
Pombal ficou conhecido como um dos déspotas esclarecidos da Europa no século XVIII. O seu período da administração à frente do governo português ficou marcado pelo esforço no sentido de minimizar a crise econômica em seu país.
Uma das políticas adotadas por Pombal foi tentar reduzir a dependência de Portugal dos produtos ingleses e reforçar os laços do pacto colonial com o Brasil, a colônia mais rica do já decadente Império português.
A Europa vivia um momento de grande efervescência cultural e ideológica: o Iluminismo.
Pensadores como Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Diderot, entre outros, produziram importantes obras centrando suas críticas na sociedade do Antigo Regime e suas estruturas políticas (o Absolutismo), econômicas (o Mercantilismo) e religiosas (o dogmatismo da igreja Católica).
Uma nova forma de pensar e ver o mundo focado na racionalidade e nos princípios liberais vai ganhar cada vez mais adeptos em toda a Europa.
Acreditava-se que a razão seria o instrumento capaz de “iluminar” o caminho dos homens, conduzindo-os a uma era de novos conhecimentos e de progresso para as sociedades e estados.
Estava declarado, assim, o conflito entre a fé e a razão. O Estado português, ainda centralizado nas práticas mercantilistas e no absolutismo monárquico, vai entrar em choque com a Igreja Católica em função da existência de interesses econômicos e ideológicos conflitantes. A situação no Brasil na segunda metade do século XVIII exemplifica muito bem aquele contexto histórico.
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri.
Com a assinatura do Tratado de Madri por Portugal e Espanha, o Marquês de Pombal passou a exigir a retirada dos jesuítas da região das missões localizada no extremo sul do Brasil.
Desde a chegada do padre Manoel de Nóbrega no Brasil, em 1549, a Companhia de Jesus acumulara muito poder político, ideológico e econômico. 
A posse de vastíssimas extensões de terra, a exploração agrícola e mineral e da atividade pecuária, a educação religiosa nos colégios e nas missões e a ocupação pelos jesuítas de importantes cargos políticos na colônia conferiram à Companhia de Jesus um poder que acabou por rivalizar com os interesses de Portugal.
Podemos resumir em duas as razões que levaram o Marquês de Pombal a expulsar os jesuítas do Brasil.
O poder econômico
Origina-se das riquezas extraídas da terra com a utilização do trabalho escravo indígena e africano. 
A Companhia de Jesus se tornou muito rica ao longodos 210 anos de permanência no Brasil, o que conferiu aos jesuítas um enorme poder político, que em alguns momentos rivalizava com o poder do estado português, como no caso da resistência em deixar o território dos Sete Povos das Missões, na região do Prata. Após a expulsão, Portugal confiscou os bens da Companhia de Jesus.
O poder ideológico
Se dá através da educação nos colégios e nas missões, e da moral católica disseminada por toda a sociedade colonial. A Companhia de Jesus determinava o que era certo e errado em termos de comportamento e costumes. À Igreja Católica interessava formar o “homem de fé”, enquanto que para Portugal, em pleno período iluminista, já não interessava mais este tipo de educação. Após a expulsão dos jesuítas, foram destruídos muitos livros e manuscritos pertencentes àquela ordem religiosa.
A segunda metade do século XIX representou para a história brasileira um período de grandes mudanças.
A desestruturação do sistema de ensino (ensino elementar, secundário e superior/formação de padres), devido ao fechamento dos colégios sob o controle dos padres jesuítas.
O retorno dos índios, até então sob a tutoria dos padres jesuítas nas missões, à condição de presa para os caçadores de escravos.
A Reforma Pombalina
Na tentativa de suprir o espaço deixado pela ausência da Companhia de Jesus na educação no Brasil Colonial, o estado português tomou algumas medidas efetivas, a partir de 1772, que ficaram conhecidas como a reforma pombalina. 
De acordo com Maria Lúcia de Arruda Aranha1, as principais medidas foram:
1 Autora da obra História da Educação e da Pedagogia Geral e do Brasil.
A nomeação de professores;
O estabelecimento de um plano de estudos e inspeção;
A modificação do curso de humanidades, típico do ensino jesuítico, para o sistema de aulas régias de disciplinas isoladas, como ocorrera na metrópole;
A instituição do “subsídio literário”, uma espécie de imposto, visando gerar recursos para o pagamento dos professores.
A implantação das medidas efetivas pelo Marquês de Pombal pode caracterizar o início do ensino público oficial no Brasil.
Quais os efeitos das medidas tomadas por Pombal para a educação brasileira?
De imediato, podemos supor uma queda brusca na qualidade e na organização do ensino.  Substituir a experiência e a preparação dos antigos professores (os padres jesuítas) e toda a estrutura curricular e metodológica utilizada por eles nos seus colégios em todo o Brasil não era tarefa muito simples. Os professores que foram nomeados para o Brasil, provavelmente não tinham a formação específica para atuarem na função. 
Por outro lado, as aulas régias, isoladas, dificilmente poderiam suprir o conjunto de aulas e disciplinas aplicadas organicamente pelos mestres jesuítas.
Com todo este quadro, parece ficar claro que houve inúmeras perdas com o desmantelamento de um aparato educativo que já funcionava há mais de duzentos anos.
Cabe, porém, indagar: será que o subsídio literário arrecadado regularmente e transferido em forma de salário para os professores proporcionava-lhes condições de viverem dignamente em nossas terras?
AULA 4 – A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL AO BRASIL: IMPACTOS NA EDUCAÇÃO
Napoleão Bonaparte: o nome deste general francês ecoava com força e provocava temor em muitos dos reis absolutistas na Europa nos primeiros anos do século XIX. 
Você sabe por quê?
Bonaparte havia tomado o poder na França em 1799 e tinha como um dos objetivos, na sua escalada militar, tornar o seu país o maior Império que o mundo já tinha conhecido. Sob os símbolos da bandeira tricolor francesa, o hino revolucionário da “marselhesa” e o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” o exército napoleônico praticamente não possuía um adversário à altura que o impedisse de avançar, invadir, derrotar e dominar aqueles países que se colocavam à frente de seus planos. 
O imperador francês representava a França e os ideais liberais e burgueses que caracterizavam a revolução de 1789. As vitórias francesas nas chamadas “guerras napoleônicas” atendiam aos interesses de expansão territorial bem como de uma nova ideologia burguesa, cujos princípios estavam delineados no documento “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”.
Na visão de Napoleão havia um grande inimigo a ser derrotado: a Inglaterra.
A Inglaterra foi berço da Revolução Industrial no século XVIII e era a “grande fábrica” da Europa, produzindo em larga escala produtos têxteis e comercializando uma série de outros, que os fazia economicamente a nação mais poderosa do mundo.
Como parte da sua estratégia de enfraquecer a economia inglesa, Napoleão Bonaparte decretou o chamado Bloqueio Continental, que proibia os países do continente europeu de comercializarem com a Inglaterra. Assim, sem o seu principal mercado consumidor, a Inglaterra reduziria os seus lucros, abrindo espaço para a nascente manufatura francesa.
Para aqueles países que desobedecessem ao Bloqueio Continental, Napoleão ameaçava com a invasão de seu exército e a destituição da dinastia absolutista até então no poder.
Portugal e Espanha, dois tradicionais aliados comerciais da Inglaterra, se recusam a aderir ao bloqueio imposto por Napoleão e, em resposta, o imperador francês cumpre a promessa, invadindo a Península Ibérica e depondo as monarquias absolutistas que ali governavam.
No caso específico da invasão francesa a Portugal, um fato, talvez inédito, ficou marcado na história: orientado por representantes do governo inglês, o príncipe-regente D. João decidiu não enfrentar o exército francês e executou uma retirada estratégica.
Em 1807, ao som dos canhões e das baionetas dos soldados franceses, a Família Real e a Corte Portuguesa deixaram Lisboa. Embarcados em vários navios, levaram consigo alguns mantimentos, livros e toda a riqueza que puderam carregar.
Vencendo uma longa travessia do Atlântico e uma viagem conturbada, D. João chega ao Brasil em janeiro de 1808. Começava aí, um dos capítulos mais importantes da cultura e da história da educação brasileira.
A primeira medida de D. João no Brasil foi a abertura dos portos às nações “amigas”.
Esta medida foi de crucial importância para reverter a condição do Brasil como colônia de Portugal, pois rompe o monopólio de comércio da metrópole portuguesa, até então existente, caracterizado no chamado Pacto Colonial.
A partir de então, todos os países poderiam negociar livremente em portos brasileiros, desde que respeitando as alíquotas de impostos estabelecidas pelo príncipe regente D. João VI.
As transformações econômicas e políticas vieram acompanhadas de uma série de iniciativas no campo da cultura e da educação que também tiveram um caráter de ineditismo na então estagnada sociedade colonial brasileira.
Criação da Imprensa Régia (1808)
A importação de máquinas permitiu, pela primeira vez, a impressão oficial e a circulação de ideias na Corte do Rio de Janeiro. No mesmo ano, surgiu o primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Criação de uma biblioteca 
Com os quase 60 mil volumes trazidos nos navios que trouxeram a Família Real e a Corte Portuguesa para o Brasil. Aquela biblioteca daria origem à futura Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro, hoje uma das maiores bibliotecas do mundo.   
Criação do Jardim Botânico (1810)
Com a sua extensa variedade de exemplares da flora tropical atraiu uma série de pesquisadores e estudiosos estrangeiros interessados no estudo da botânica. 
A Missão Cultural Francesa (1816)
Teve como principal destaque o artista Jean Baptiste Debret, que através das suas telas retratou modos e costumes da vida urbana da cidade do Rio de Janeiro.
Criação do Museu Real (1818)
Mais tarde daria origem ao Museu Nacional.
Na educação, o príncipe regente D. João VI preocupou-se em criar algumas escolas de ensino superior1 visando atender as necessidades de instrução dos filhos da nobreza e da aristocracia brasileira.
1 De acordo com Maria de Lourdes de Albuquerque de Fávaro: “Estas escolas tiveram duas característicasmarcantes: primeiramente, apresentavam um nítido caráter profissionalizante, e, em segundo lugar, foram criadas e organizadas como um serviço público, mantido e controlado pelo Governo, visando à preparação de pessoal para desempenhar diferentes funções na Corte. Daí ter-se tornado quase lugar comum a afirmativa que as primeiras escolas superiores brasileiras nasceram e se estruturaram com um caráter nitidamente prático e imediatista”.
Bahia
1808 - Curso de Cirurgia
1808 - Curso de Economia
1812 - Curso de Agricultura, com estudos de Botânica e o Jardim Botânico
1817 - Curso de Química, abrangendo Química Industrial, Geologia e Mineralogia.
1818 - Curso de Desenho Industrial
Rio de Janeiro
1808 - Academia Real de Marinha Curso de Cirurgia e Anatomia
1810 - Academia Real Militar 
1812 - Laboratório de Química
1814 - Curso de Agricultura 
1816 - Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, transformada em 1820 na Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil.
O ensino elementar ainda estava sofrendo os efeitos da reforma pombalina, ou seja, com os chamados mestre-escola ministrando aulas-régias, laicas, com pouca ou quase nenhuma estruturação ou sequência lógica de conhecimentos.
Mesmo em vista desta situação precária na educação brasileira, segundo Fernando de Azevedo, a transmigração da Família Real portuguesa para o Brasil se constituiu um marco na história do ensino brasileiro. (apud Fávero, 1977, p. 22)
AULA 5 – IMPÉRIO, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE DO SÉCULO XIX
Em 1822, o famoso “grito do Ipiranga” do Imperador Pedro I pouco repercutiu na sociedade brasileira daquela época.
O Brasil continuava a ser um país constituído por ampla maioria de escravos, o que contrariava os princípios liberais que se espalhavam pelo mundo e influenciavam boa parte dos dirigentes políticos em nosso país.
A constituinte de 1823 foi dissolvida pelo Imperador, entre outras razões, por apresentar um projeto de constituição onde as ideias liberais eram predominantes.
Com isso, a outorga da Constituição de 1824 pode ser entendida como um ato autoritário e conservador por parte de D. Pedro I e do grupo de portugueses que o apoiava.
Quais seriam os projetos da classe dirigente direcionados à educação, em um país recém liberto1 da sua metrópole de base agrária e escravista e uma constituição de caráter antiliberal que concentrava boa parte dos poderes nas mãos de um monarca português? 
1 Após mais de 300 anos de intensa colonização exploradora.
Era necessário que o Brasil formasse o seu estado nacional e para isso precisaria articular os diversos setores da sociedade no sentido de integrar e dar uma certa unidade política, econômica e cultural ao país, constituindo um verdadeiro projeto de nação.
A determinação legal da gratuidade da instrução elementar não significou, de imediato, investimentos e estruturas suficientes em termos de espaços físicos adequados, professores bem formados, métodos e materiais didáticos.
O que podemos observar ao longo de todo o período do Império (1822 – 1889) é que a educação pública elementar foi marcada por avanços e retrocessos, sem que houvesse a devida continuidade de esforços no sentido de atender uma enorme demanda entre as crianças em idade escolar.
Sem dúvida, os mais prejudicados por esta instabilidade na política educacional foram os elementos das classes mais populares, já que os filhos das famílias mais abastadas eram educados por preceptores.
A primeira lei específica sobre matéria educacional foi decretada em 15 de outubro de 1827.
Art. 1° - Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias. 
Art. 5° - Para as escolas do ensino mútuo se aplicarão os edifícios, que couberem com a suficiência nos lugares delas, arranjando-se com os utensílios necessários à custa da Fazenda Pública e os Professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão instruir-se em curto prazo e à custa dos seus ordenados nas escolas das capitais.
Art. 6° - Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil. 
A partir da leitura dos três artigos anteriores, podemos entrever algumas características básicas do ensino elementar no Brasil Império, tais como a ênfase na educação moral e religiosa dentro dos preceitos católicos cristãos e o ensino bastante restrito baseado no ler, escrever e contar.
Chama atenção a exigência feita aos professores pouco qualificados para o exercício do magistério, ou seja, que eles deveriam complementar a sua formação arcando com as suas próprias despesas. 
Neste ponto, o estado simplesmente se isenta de investir e direcionar a capacitação dos profissionais de ensino. Não podemos esquecer que predominavam no país os professores régios, os mestre-escola, decorrentes da reforma pombalina do século XVIII.
A educação sofreu importantes transformações, entre os anos de 1834 e 1837.
1834: Em pleno período regencial, ocorreu uma reforma na constituição que deixou marcas na educação. No chamado Ato Adicional, foi definido que o ensino elementar, o secundário e a formação de professores seriam de responsabilidade das províncias, e o ensino superior ficaria sob o encargo do poder central. Com isso, oficializou-se a descentralização do ensino, com consequências não muito positivas para a unidade e a organicidade da educação no país.
1837: A “suposta” descentralização foi desrespeitada com a criação do Colégio Pedro II, pelo Regente Araújo Lima. Este colégio era um estabelecimento padrão de ensino secundário1, tinha o objetivo de atender os filhos daqueles que faziam parte da elite intelectual do país, sendo o único autorizado, segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha, “a realizar exames parcelados para conferir grau de bacharel, indispensável para o acesso aos cursos superiores”.
1 O ensino secundário ficou caracterizado no Brasil Império como propedêutico, ou seja, o ensino cujo principal objetivo era preparar os jovens para obterem uma vaga no nível de ensino seguinte, possuindo pouco compromisso com uma educação de caráter prático e geral, voltada para conhecimentos mais próximos da realidade social do país.
O ensino superior, apesar de prioritário dentro da estrutura de ensino projetada pelos políticos brasileiros, também não atingiu patamares desejáveis para um país que pretendia se tornar “civilizado”.
Os maiores avanços em relação ao nível superior foram:
A criação de dois cursos jurídicos – um em São Paulo e outro em Recife, em 1827.
Transformação de alguns cursos superiores em faculdades isoladas.
Apesar dos debates e posição favorável por parte do Imperador D. Pedro II, o governo central só criaria a primeira universidade brasileira pública em 1920, no Rio de Janeiro, com a fusão dos cursos de Medicina, Engenharia e Direito.
Mesmo diante de claras evidências do pouco interesse do Estado monárquico brasileiro no desenvolvimento de um projeto de qualidade para os três níveis de educação no país, uma iniciativa pode ser considerada como relevante e pioneira: a criação das primeiras escolas normais.
A formação de professores passou a ser uma preocupação do estado, tendo em vista a pouca qualificação dos mestres-escola e a busca por uma maior uniformidade social. 
Acreditava-se que a instrução elementar seria capaz de promover a disseminação de certas práticas sociais e sentimentos (morais e nacionalistas) que garantiriam a unidade e a elevação do país a estágios civilizatórios mais avançados. 
Neste contexto, o professor exerceria o papel de agente público, formado pelo estado, encarregado de instruir e moralizar difundindo princípios de “ordem” e uma determinada visão demundo da classe dominante. 
Para colocar estas ideias em prática foi criada, em 1835, em Niterói (província do Rio de Janeiro) a primeira escola normal do país. Em seguida surgiram ainda as escolas normais de Minas Gerais (1835), Bahia (1836) e São Paulo (1846).
Interessante destacar que ao longo de quase cinquenta anos de existência, as escolas normais eram espaços frequentados quase que exclusivamente por homens. Hoje, quando percebemos que o magistério, no primeiro segmento do ensino fundamental, é essencialmente uma profissão feminina, uma questão surge à mente: como e por que se deu a feminização do magistério?
Heloísa de O. S. Vilela, em seu texto “O mestre-escola e a professora”, discute esta questão e aponta algumas possibilidades interpretativas para o entendimento deste fato. Inicialmente apontava-se que a entrada da mulher no magistério teria ocorrido como “concessão dos homens que abandonariam a carreira em busca de outras mais bem remuneradas”, ou, ainda devido “à queda de prestígio da profissão e à baixa remuneração”. 
Baseada em texto de Jane S. Almeida, Vilela expande o campo interpretativo do problema afirmando que a feminização do magistério transcenderia a “questão meramente sexual, podendo ser explicado também pelo fato de que o magistério passava, cada vez mais, a ser uma profissão que atendia à população de baixa renda, desvalorizada, portanto, na ótica capitalista”. É notório que a ampliação da rede escolar no Brasil com a criação inclusive de escolas femininas levou a necessidade de formação de professoras, a fim de atender esta nova demanda. As mulheres que inicialmente eram vistas como pecadoras e sedutoras, passam a ser percebidas, dentro de um discurso ideologicamente construído, como “naturalmente” preparadas para o exercício do magistério em função de possuir a “pureza dos sentimentos maternos”.
AULA 6 – AS IDEIAS PEDAGÓGICAS DO PERÍODO REPUBLICANO
A segunda metade do século XIX representou para a história brasileira um período de grandes mudanças.
Ocorrência de significativos surtos industriais.
Abolição da escravatura.
Crescimento da burguesia urbana.
Chegada de imigrantes oriundos de diferentes países.
Enfraquecimento e a queda da monarquia e a proclamação da república.
Para uma determinada parcela das classes dirigentes (e mais rica) o conjunto dos acontecimentos anteriormente citados promoveu uma série de modificações no campo das ideias, anteriormente sob forte domínio do pensamento cristão-católico.
Naquele momento, duas propostas se destacaram no campo das ideias:
Positivismo Comteano: penetrou, primeiramente, nas escolas militares e depois se propagou entre alguns membros das elites políticas.
Liberalismo: atingiu, principalmente, os partidários do abolicionismo e os do movimento republicano brasileiro.
Na área da educação institucionalizada, ainda durante o período do segundo império, houve algumas tentativas1 de reformas que buscavam melhorias sem, contudo, lograrem êxito.
1 Por exemplo, as tentativas de reformas de Leôncio de Carvalho, em 1879 e a de Rodolfo Dantas, em 1882.
A primeira reforma educacional republicana coube ao então ministro da instrução, Benjamin Constant, realizada em 1890 e cujo foco principal foi o cientificismo positivista (principalmente para a escola secundária e para o ensino superior).
No entanto, vale relembrar que a maior parte dos “ideais republicanos”1 foi frustrada.
1 Por exemplo: a federação, a democracia, a convivência social, o progresso, a independência cultural, entre outros.
Como herança educacional do período imperial brasileiro, a Constituição Republicana de 1891 manteve a dualidade do sistema escolar, ou seja, boas e poucas escolas para as elites e escolas de qualidade duvidosa para os demais indivíduos da sociedade.
Nas primeiras décadas republicanas, a ausência de estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais somadas à falta de interesse das novas elites dirigentes condenaram, de modo geral, as reformas educacionais ao fracasso, pois a maior parte dos projetos1 educacionais não foi sequer implantada.
1 Principalmente, os dirigidos para as classes subalternas da sociedade.
No decorrer dos anos 20, começaram a surgir no cenário nacional vários acontecimentos, principalmente, político-culturais e movimentos intelectuais1 que, direta ou indiretamente, atingiram a educação escolar brasileira.
1 Por exemplo: o escolanovismo, a semana de arte moderna, a criação do partido comunista, o anarquismo etc.
Veja quais eram as principais correntes pedagógicas que circulavam nesse contexto de mudanças e permanências históricas no início do século XX.
Pedagogia cristã-católica (já tradicional em nossas terras desde os jesuítas).
Pedagogia positivista (implantada com as ideias republicanas).
Pedagogia cristã-protestante (principalmente após a ruptura entre o Estado e a Igreja Católica Romana).
Pedagogia escolanovista (alimentada pelo “otimismo pedagógico”, desde os anos vinte).
AULA 7 – A CRISE DOS ANOS 20 NA EDUCAÇÃO: A ABE, A ESCOLA NOVA E AS REFORMAS DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NOS ESTADOS BRASILEIROS
Os anos 20 do século XX foram impregnados por diferentes atos políticos e culturais de contestação no cenário nacional: foram movimentos intelectuais, greves e revoltas que entraram para a nossa história.
De modo geral, essas manifestações serviram como protestos1 às tradicionais forças dirigentes do país.
1 Especialmente, contra a oligarquia agrária, tradicionalmente representada e comandada pelos “coronéis”.
Uma parte da recém implantada burguesia urbana1 tinha interesses políticos e econômicos em vários daqueles movimentos de oposição às aristocracias rurais conservadoras.
1 Composta por profissionais liberais, intelectuais, militares de alta patente, políticos, comerciantes e industriais.
No campo educacional, surgiu em 1924 a Associação Brasileira de Educação – ABE, fundada por Heitor Lira, que buscou promover os primeiros grandes debates sobre a educação em nosso país.
Ainda no decorrer dos anos 20, alguns estados realizaram reformas em seus “sistemas de ensino” 1. A maior parte das reformas estava impregnada pelos ideais escolanovistas.
1 Entendem-se aqui escolas primárias e escolas profissionalizantes, para as classes pobres.
De maneira geral, quatro princípios orientavam as reformas educacionais1 dos anos vinte: 
a extensão do ensino;
a articulação entre os diferentes níveis da escolarização;
a adaptação ao meio social;
a adaptação às ideias modernas de educação.
1 Principalmente a reforma ocorrida no Distrito Federal (RJ), implementadas por Fernando de Azevedo.
Na realidade, pouca coisa daquelas propostas foi colocada em prática, algumas escolas (especialmente, nos grandes centros urbanos) consideradas “modelos” foram beneficiadas.
A instrução pública continuava sendo destinada às camadas mais baixas da população brasileira, reforçando assim a velha divisão do sistema de ensino brasileiro.
Diante das várias reformas educacionais, o analfabetismo entre jovens e adultos, um problema de âmbito nacional, sequer foi abalado. As camadas mais pobres da população permaneceram em sua obscuridade educacional, com “direitos limitados”. E, como sempre ocorreu em nosso país, as classes “médias” e “altas” foram as grandes beneficiadas com as “novas ideias educacionais”.
A crise dos anos vinte conduziu o país à denominada “Revolução de 1930”. De acordo com o conceito estrito, não houve, de fato, uma “Revolução”, mas sim um golpe pelo qual o poder foi tomado.
Esse fenômeno levou Getúlio Vargas ao comando da nação. Seu governo se demonstrou autoritário e ditatorial, influenciado pelo fascismo e pelo nazismo, implantados na Europa.
O novo tipo de governo implantado por Vargas e sua equipe dirigente tinha como principais características:
o controle dos sindicatos;
a forte propaganda do sistema governamental;
a censura sobre os meios de comunicação;
a eliminação de todos os opositores do novo regime político implantado.
É importante destacar que o sistemaescolar não ficou fora desse controle. E como em todo sistema político ditatorial, a escola serviu como amplo meio e instrumento de dominação e controle dos corpos e das mentes.
AULA 8 – A ERA VARGAS E AS REFORMAS NA EDUCAÇÃO
Ao final da Primeira República, pouca coisa havia mudado em termos educacionais, nosso país continuava sem um “sistema de ensino” coerente e eficiente.
Com o golpe de 1930 (denominado “Revolução de 30” por alguns historiadores), alguns nomes de projeção na educação (desde os anos 20) ocuparam posições de destaque no cenário educacional. Vários “reformadores” da década de vinte foram convidados a ocupar cargos de relevância no interior do novo governo.
Assim, pela primeira vez em nossa história da educação, se inicia um movimento em direção a criação de um sistema organizado de ensino.
Uma das primeiras iniciativas do governo, na área da educação, foi a criação do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais de Educação. O primeiro nome a ocupar o Ministério da Educação foi Francisco Campos (“Chico ciências”, como ficou conhecido popularmente).
A Constituição de 1934 foi a primeira Carta Magna brasileira a incluir em seu texto um capítulo inteiro sobre a educação. Pela primeira vez foram apontadas questões importantes em relação ao ensino no Brasil.
É necessário saber que o movimento de centralização dos poderes também fazia parte do sistema educacional em criação acompanhando as orientações e determinações do Governo Federal. A autonomia dos Estados, por exemplo, era bastante limitada e regulada. As “autoridades superiores” eram as novas mandatárias também na educação e o sistema de ensino foi criado sob tais moldes autoritários.
Para limitar as ações escolares foram criados uma série de instrumentos normatizadores e reguladores. Neste período, surgiram os primeiros cursos superiores com as “habilitações” de “supervisão escolar”, “administração escolar” e “orientação educacional” nos cursos de Pedagogia.
No mesmo sentido, a burocratização na área educacional também foi ampliada, muitas vezes superando os ideais elementares da educação, em nome da “papelada”, dos “carimbos”, das “autorizações” etc. A formação humana era suplantada pelos aspectos legais e normativos.
No ano de 1932, um grupo de educadores (muitos deles profissionais liberais que se dedicavam ao ensino) apresentou ao Governo um documento que ficou conhecido posteriormente como o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” (cujo título original foi: “A Reconstrução da Educação no Brasil”).
O documento apresentava várias propostas e defendia algumas posições que, a partir de então, ou foram colocadas em prática (embora moderadamente) ou foram combatidas e perseguidas como “ideias subversivas da ordem estabelecida” (entenda-se “status quo”).
A Educação:
Deveria ser compreendida como principal instrumento de construção da democracia no Brasil;
Necessitaria ser um instrumento de integração social;
Precisaria ser essencialmente pública, obrigatória, gratuita e leiga (ou seja, ampla, geral e irrestrita);
Tinha que ser um veículo de vinculação com as comunidades nas quais estavam inseridas;
Deveria ser “uma só”, articulando os vários graus e atendendo os diferentes níveis do desenvolvimento humano;
Necessitaria ser funcional e ativa;
Todos os professores deveriam possuir formação em nível superior;
Etc.
Os Ministros da Educação Francisco Campos (1931) e Gustavo Capanema (1942) foram responsáveis por reformas (legislação) no sistema de ensino em seus respectivos mandatos. Como mero exemplo das semelhanças entre as duas reformas, vale ressaltar que para ambos as principais funções do ensino secundário eram a “formação geral” e a “preparação para o curso superior”.
Alguns acontecimentos importantes ocorreram no campo da educação no período de 1931 a 1946.
1931: promulgaram os Estatutos das Universidades Brasileiras e em 1934 foi fundada a Universidade de São Paulo.
1937: o artigo 129 da Constituição de 1937 destinava o ensino técnico-comercial às “classes menos favorecidas”.
1942: foi regulamentado o Ensino Industrial, nesse mesmo ano o SENAI foi criado.
1943: foi regulamentado o Ensino Comercial.
1946: o SENAC foi criado e o Ensino Normal foi regulamentado (através do Decreto-lei nº 8.530, de 2 de janeiro) sob os mesmo padrões, ou seja, todos direcionados às camadas mais pobres (nos grandes centros urbanos, as Escolas Normais serviram também às famílias das elites urbanas) da sociedade brasileira. 
Nesse mesmo ano o Governo Federal (mais um exemplo da centralização do poder) passou a regulamentar também o ensino primário.
AULA 9 – MOVIMENTOS EDUCACIONAIS A PARTIR DE 1950
Vamos conhecer um pouco da história da educação brasileira no período pós guerra.
Entre os anos de 1945 e 1964, o nosso país vivenciou talvez pela primeira vez na sua história, um período de tentativa democrática, fenômeno que permitiu algum desenvolvimento dos movimentos populares e do surgimento de algumas campanhas de educação.
Houve eleições diretas para praticamente todos os cargos elegíveis (de Vereador à Presidente da República) e as várias organizações representativas dos mais diferentes setores sociais puderam se manifestar, de algum modo.
Por meio da Constituição de 1946, houve uma tentativa de democratização e a educação aparece, então, como “um direito de todos”, princípio que fora omitido na Constituição de 1937.
Vale destacar que não estávamos diante de uma democracia ampla, geral e irrestrita, havia ainda muito para caminharmos neste sentido.
Em 1947, o Partido Comunista foi considerado “ilegal” e colocado na marginalidade.
Em 1961, foi lançada (após um longo percurso de treze anos no Congresso Nacional) a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 
Houve um grande movimento favorável à educação popular, à alfabetização de jovens e de adultos, ao ensino técnico-profissionalizante, que passou a ter equivalência ao curso secundário.
Várias campanhas foram realizadas em prol da escola e do pessoal docente, sendo algumas de âmbito nacional.
Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES).
Campanha de Aperfeiçoamento e Expansão do Ensino Comercial (CAEC).
Campanha de Erradicação do Analfabetismo (CEA).
A Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) foi a primeira na História da Educação brasileira a abranger todos os níveis do ensino no país.
1 Do “pré primário” (como era denominada a Educação Infantil) ao ensino superior.
É interessante observar que o projeto daquela Lei foi apresentado ao Congresso Nacional em 1947 e parece que tudo foi motivo de divergências: desde o significado do conceito de “diretrizes e bases” até as questões voltadas aos promotores do ensino: quem poderia? Quais instituições? Públicas, privadas, confessionais, leigas etc.
As lutas pelas escolas populares (públicas) não foram poucas. Grandes campanhas foram implantadas, estimuladas e colocadas em prática por diferentes setores da sociedade. Vários movimentos1 de apoio a educação de jovens e de adultos também foram levados adiante.
1 Merece destaque, entre aqueles movimentos, a “Campanha de Educação de Adultos” e o “Movimento de Educação de Base” e o “Programa Nacional de Alfabetização”.
Ao iniciar a década de 1950, surgiu no Recife (Pernambuco) o “Método Paulo Freire” que orientou a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”. A ideia central do “Método” (que o próprio Freire insistia em não chamar de método) é a adequação do processo educativo às características do meio no qual está inserido.
AULA 10 – O REGIME MILITAR E AS REFORMAS EDUCACIONAIS
O período do Regime Militar impactou significamente a educação brasileira.
Após o Golpe Militar de 1964, o país mergulhou em uma atmosfera de medo e alienação. A ditadura implantada limitou, proibiu, policiou e torturou.
Os reflexos diretos dos denominados “anos de chumbo” (e sangue) estão sendo vivenciados até hoje na cultura e na educação.E, como era de se esperar, as camadas da sociedade mais afetadas, direta e indiretamente, pelos métodos adotados foram as populares e as médias baixas.
A opção pelo capital estrangeiro (entenda-se preferência pelas gigantes multinacionais) em detrimento dos projetos de desenvolvimento do país, naquela época sob a denominação de “nacional-desenvolvimentismo”, favoreceu a grupos específicos ligados às elites dirigentes.
A reorganização da educação escolarizada foi uma das primeiras medidas de controle do novo governo. Por meio de uma série intrincada de leis e atos burocráticos, o sistema se ensino foi conduzido aos padrões que desembocaram no caos cultural.
Nas Universidades, principalmente nos seus cursos mais ligados às Ciências Humanas e Sociais, a violência ditatorial atingiu o seu ápice fazendo desaparecer alunos, professores, funcionários etc., todos considerados subversivos e ameaçadores.
Nas Faculdades e Universidades, os “Diretórios Acadêmicos” foram fechados, a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi colocada na marginalidade; nas escolas secundárias, os “Grêmios Estudantis” foram transmutados em “centros cívicos”, que funcionavam sob a direção de alunos indicados pela direção.
Nos currículos, surgem as disciplinas “Educação Moral e Cívica”, “Organização Social e Política do Brasil” (nas escolas de 1° e 2° Graus) e “Estudo dos Problemas Brasileiros” (nos cursos superiores) em substituição a História do Brasil, Filosofia e Sociologia. A ideologia é a do controle das mentes e dos corpos.
As novas tendências pedagógicas (sob a orientação tecnocratas dos Estados Unidos da América do Norte, com os acordos entre o MEC e a USAID) implantadas são pautadas no tecnicismo, no neopositivismo e no modelo behaviorista de psicologia. As tendências tradicionais e as ideias escolanovistas também permaneceram.
Na educação brasileira, entram em cena os “testes” como, por exemplo, os de medida do “coeficiente de inteligência”, cujo objetivo principal era o de “classificar as pessoas”.
As reformas educacionais (do ensino universitário ao pré-primário) estavam orientadas pelas seguintes diretrizes: desenvolvimento, segurança e comunidade.
As principais reformas do período ditatorial foram: a Lei 5.540/68, reforma universitária e a Lei 5.692/71, reforma do 1º e 2º Graus.
Vale ressaltar a introdução dos estudos e ideias de Jean Piaget (desde o início dos anos 60) no Brasil, pelos esforços de Lauro de Oliveira Lima. Nos anos 70, ainda que de maneira muito limitada e restrita a algumas poucas universidades, começam a circular no país as ideias de autores diversos (a maior parte deles europeus) que, muito lentamente, influenciaram algumas práticas educativas.
Veja alguns fatos que marcaram a década de 80.
Uma série de profissionais da educação se destacou no movimento nacional para a redemocratização.
Estudos e pesquisas sobre as teorias educacionais receberam um novo impulso.
Estatísticas oficiais indicavam que de cada 100 indivíduos que se matriculavam no ensino primário, 85 deles não chegavam ao ensino secundário (antigo segundo grau, atualmente ensino médio).
Em 1985, a ditadura militar foi substituída por um governo indicado pelos militares (ainda influenciado por eles), denominado de “governo de transição” (também chamada de “Nova República”).
Em 1988, foi promulgada uma nova Constituição Federal, nesse documento estava prevista uma nova reforma da educação, que seria realizada em 1996, bem como a elaboração de um “Plano Nacional de Educação” (Art. 214).
Foi também durante os anos 80 que o nosso país presenciou uma grande onda de privatizações seguindo o modelo neoliberal europeu e norte-americano.
Corte de verbas públicas para a educação.
Os programas das aposentadorias antecipadas para os professores públicos.
A perda do poder aquisitivo dos profissionais da educação.
A contratação de mão-de-obra barata pelas universidades públicas na modalidade de “professores substitutos”.
O avanço sem precedentes das universidades privadas (sob os estímulos e as subvenções governamentais).
Ao iniciarmos o novo milênio (século XXI), observamos uma nova crise na educação. Um problema que atinge todos os setores da sociedade, pois tanto as escolas públicas quanto as escolas particulares sentem seus reflexos.
Novos caminhos são necessários, porque ainda é muito longa a distância a ser percorrida e bastante difícil será a marcha que nos levará das escolas que temos para as escolas que desejamos. Talvez, somente com um novo movimento de união de lutas, de esforços e de ideais, alvos impossíveis de serem atingidos individualmente.
Destinado às camadas pobres, era responsável pelo ensino profissional e primário
Destinado às elites, era responsável pelo ensino superior e pelo ensino secundário
Sistemas Estadual
Sistemas Federal
Sistemas de Ensino

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