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revista da espm • volume 19 • ano 18 • edição nº5 • setembro/outubro 2012 • r$ 28,00 Rupturas só acontecem com os despreparados! Cultura e estratégia: um alinhamento necessário A personalidade dos grandes líderes A ditadura do líder Entre o mundo ideal e a vida real A matemática das decisões Estratégia global, inovação local Artigos PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO o ideal e o possível Negócios sem fronteiras Empresa familiar: um dilema entre a razão e a emoção O fim da desindustrialização sustentada: discurso desconectado Muito além do planejamento! DNA da comunicação AIDDU, uma questão de bom senso! A vitoriosa carreira do atleta do e-commerce Para aprender é preciso estar com a mente aberta Henry Mintzberg É melhor ter um mau plano do que não ter nenhum Luiz Alexandre Garcia A trilogia da gestão João Vinicius Prianti O lado humano da estratégia Roberto Lima Artigos Entrevistas PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO o ideal e o possível Nem faz de conta, nem faz milagres S e nos perguntassem qual é a maior satisfação que nos dá a direção editorial da Revista da ESPM, diríamos que é a oportunidade que temos de estimular tantas pessoas inteligentes a interromper os seus afazeres e colocar no papel as suas ideias e experiências sobre assuntos relevantes, em benefício de todos. Mais uma vez, essa é a sensação que temos, ao ver completada esta edição da nossa Revista. Não poderia haver tema mais polêmico do que o planejamento estratégico, principalmente porque muitas empresas não têm obtido bons resul- tados com a sua aplicação. Há 18 anos, o americano Henry Mintzberg (veja entrevista nesta edição) escreveu o famoso livro Ascensão e queda do planejamento estratégico, que muitos interpretam erroneamente ainda hoje. Mintzberg não é contra o plano estratégico, mas diz, com razão, que nenhum plano pode criar uma estratégia de competição. Esta é um ato de criação que deve utilizar o plano como trampolim para o salto criativo. Mas, nas páginas que se seguem, há muitas outras entrevistas, depoimentos e artigos de valor inestimável para quem deseja aprofundar-se nesse tema. Podemos afirmar, sem receio de exagerar, que nunca antes se publicou em língua portuguesa uma coletânea tão completa de trabalhos sobre planejamento estratégico, e o resultado não poderia ter sido mais categórico. O plano estratégico é visto, principalmente pelos executivos que o aplicam na prá- tica, como um instrumento indispensável da gestão empresarial moderna. O plano não pode prever o futuro, mas nos prepara para enfrentar melhor as dificuldades imprevistas e as oportunidades inesperadas. Acima de tudo, o plano não deve ser engessante, dificultando a mobilidade da empresa, mas sim, estimular a inovação e o aproveitamento das oportunidades do mercado. Mais do que um instrumento de previsão do crescimento, recheado de cifras, o plano deve ter uma definição clara de nossas vantagens competitivas e de nossas metas e objetivos de longo prazo. Por último, vários de nossos entrevistados falaram também da importância do fator humano como condicionante do sucesso de um plano estratégico. A integração das pessoas, na preparação e na implementação do plano, é tão importante, que exige uma cultura organizacional voltada para o futuro e favorável ao surgimento de normas claras de governança no seio da empresa. Francisco Gracioso Presidente do Conselho Editorial PARA ASSINAR, LIGUE: (11) 5085-4508 OU MANDE UM FAX PARA: (11) 5085-4646 - www.espm.br/revistadaespm EXPEDIENTE Conselho Editorial Francisco Gracioso – Presidente Alexandre Gracioso Hiran Castello Branco Thomaz Souto Corrêa J. Roberto Whitaker Penteado (MTB no 178/01/93) Coordenação Editorial Lúcia Maria de Souza Editora Assistente Anna Gabriela Araujo Edição de Arte Mentes Design Revisão Anselmo Teixeira de Vasconcelos Antonio Carlos Moreira Mauro de Barros Redação Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 São Paulo – SP – CEP 04018-010 Tel.: (11) 5085-4508 Fax: (11) 5085-4646 e-mail: revista@espm.br Comercial MidiaOffice Julio Cesar Ferreira (11) 9 92224497 / (11) 32974079 julinho@midiaoffice.com.br isabela@midiaoffice.com.br jade@midiaoffice.com.br Impressão Editora Referência Gráfica Distribuidor Exclusivo Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Revista da ESPM Publicação bimestral da Escola Su- perior de Propaganda e Marketing. Os con ceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva respon- sabilidade dos respectivos autores. Professores, pesquisadores, consul- tores e executivos são convidados a apresentar matérias sobre su as es- pecialidades, que venham a contribuir para o aperfeiçoamento da teoria e da prática nos campos da administração em geral, do mar k eting e das comuni- cações. In for ma ções sobre as formas e condições, favor entrar em contato com a coordenadora editorial. EDItORIAL Revista da esPM | maio/junho de 20126 Diretoria executiva Da eSPM • J. Roberto Whitaker Penteado Presidente • Alexandre Gracioso Vice-presidente Acadêmico • Elisabeth Dau Corrêa Vice-presidente Administrativo- Financeira • Emmanuel Publio Dias Vice-presidente Corporativo • Hiran Castello Branco Vice-presidente de Operações • Armando Ferrentini – Presidente • Alex Periscinoto • Armando Strozenberg • Dalton Pastore • Décio Clemente • João Vinicius Prianti • José Carlos De Salles Gomes Neto • Luiz Marcelo Dias Sales • Luiz Lara • Roberto Duailibi • Sérgio Reis • Adriana Cury • Alex Periscinoto • Altino João de Barros • Antonio Fadiga • Antonio Jacinto Matias • Armando Ferrentini • Armando Strozenberg • Claudio de Moura Castro • Dalton Pastore • Décio Clemente • Francisco Gracioso • Jayme Sirotsky • João Carlos Saad • João De Simoni Soderini Ferracciù • João Roberto Marinho • João Vinicius Prianti • José Bonifácio de Oliveira Sobrinho • José Carlos De Salles Gomes Neto inStituição ManteneDora • José Heitor A ttilio Gracioso • Luiz Carlos Brandão Cavalcanti Júnior • Luiz Carlos Dutra • Luiz Lara • Luiz Marcelo Dias Sales • Marcello Serpa • Octávio Florisbal • Orlando Marques • Percival Caropreso • Petrônio Corrêa • Ricardo Fischer • Roberto Civita • Roberto Duailibi • Roberto Martensen • Saïd Farhat • Sérgio Reis • Waltely Longo aSSociaDoSconSelho Deliberativo Titulares • Luiz Carlos Brandão Cavalcanti Jr. – Presidente • Adriana Cury • Percival Caropreso Suplente • José Heitor Attilio Gracioso conSelho fiScal Revista da esPM | setembro/outubro de 201210 Rupturas só acontecem com os despreparados! Didier Marlier e Marcelo C. Pontes (Jimmy) A Open Source Economy está chegando e, com ela, a obrigação de desenharmos organizações mais rápidas, ágeis, nas quais as pessoas vivem e pensam estrategicamente de modo contínuo Página 18 Cultura e estratégia: um alinhamento necessário Susana Arbex de Araujo Cultura e estratégia devem ser alinhadas para que o planejamento saia do papel e aconteça na vida real. Uma ideia não é quase nada se a empresa não tiver a capacidade de executá-la Página 24 A personalidade dos grandes líderes Simoni Missel Um novo perfil de liderança se define a partir das novas necessidades das empresas movidas pela globalização, tecnologia e transformações socioculturais Página 34 A ditadura do líder Célia Marcondes Ferraz Enquanto no dia a dia das pessoas as mudanças foram profundas e significativas, nas organizações a impressão que temos é de que tudo permaneceu igual, pelo menos nos últimos 30 ou 40 anos. As estruturas, na sua maioria, ainda são hierarquizadas, e o modelo de gestão predominante é o autoritário Página 38 Entreo mundo ideal e a vida real Roberto Camanho O dinamismo dos mercados exige agilidade e assertividade das empresas nas suas escolhas estratégicas, além de um ambiente confiável. Essa gestão deve ser feita com regularidade e disciplina, além de envolver todo o board Página 48 A matemática das decisões Anna Gabriela Araujo Como as melhores e maiores empresas do Brasil utilizam o plano estratégico para buscar a inovação, moldar a cultura empresarial e motivar seus colaboradores Página 54 Estratégia global, inovação local Marcos Amatucci A estratégia tradicional das montadoras foi o resultado de um equilíbrio sociotécnico criado dentro das fronteiras nacionais com a exportação. A globalização colocou abaixo os pilares desse equilíbrio Página 70 Índice la ti n st o ck setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 11 Seções Leitura recomendada 118 Ponto de Vista 122 A trilogia da gestão João Vinicius Prianti O lado humano da estratégia Roberto Lima Para aprender é preciso estar com a mente aberta Henry Mintzberg Entrevistas É melhor ter um mau plano do que não ter nenhum Luiz Alexandre Garcia Empresa familiar: um dilema entre a razão e a emoção Eduardo Najjar A necessidade de amadurecimento das relações entre os membros das famílias empresárias, como um meio para a perenização da empresa e do patrimônio familiar Página 76 Negócios sem fronteiras Rodrigo Cintra A maior parte das empresas ainda precisa de práticas que as capacitem para uma internacionalização mais profissional. O planejamento estratégico deve ser capaz de considerar tanto as dimensões internas da corporação, quanto seus objetivos no momento da internacionalização Página 82 O fim da desindustrialização sustentada: discurso desconectado Edmir Kuazaqui Economias como a do Brasil devem se remodelar às transformações decorrentes do cenário internacional e priorizar o desenvolvimento econômico por meio de ações mais planejadas e assertivas Página 88 Muito além do planejamento! Paulo Roberto Ferreira da Cunha Uma reflexão sobre as contribuições que algumas metodologias ofereceram e continuam oferecendo ao pensamento estratégico de comunicação Página 94 DNA da comunicação André Felix Planejar é usar diferentes mídias com inteligência e estratégia. É cruzar ideias, respirar a alma do negócio e traduzir isso em uma campanha cheia de elementos que, juntos, resultam no que todos almejam: o sucesso Página 100 AIDDU, uma questão de bom senso! Edmour Saiani Uma marca que queira construir reputação forte e inabalável tem de se voltar para as conexões humanas. Ecologia de marca deve começar com a empresa se conectando com sua equipe Página 106 Ele passou pela ESPM A vitoriosa carreira do atleta do e-commerce Página 112 12 28 44 62 Revista da esPM | setembro/outubro de 201212 entrevista | luiz alexandre garcia setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 13 É melhor ter um mau plano do que não ter nenhum Entrevistado por Alexandre Teixeira Dos herdeiros das grandes dinastias empresariais do Brasil con-temporâneo, Luiz Alexandre Garcia é um dos mais discretos. Ele é filho de Luiz Alberto Garcia e neto do imigrante português Alexandrino Garcia, fundador do grupo Algar – cujo nome é um amálgama de suas iniciais. Um dos últimos moicanos independentes e re- gionais das telecomunicações no Brasil, o conglomerado está presente em três outras indústrias e mantém um pé no setor agrário – é um dos maiores produtores de soja e milho de Minas Gerais. Tudo somado, o grupo mineiro fatura R$ 2,6 bilhões por ano. É o filho pródigo de Uberlândia, de onde até hoje despacha Luiz Alexandre, o CEO da companhia. Representante da terceira geração da família Garcia, sucessor do pai como presidente executivo do grupo, Luiz Alexandre nasceu em Uberlândia em janeiro de 1965 e viveu na cidade até os 17 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro. Cursou economia na Universidade Gama Filho e, dali, ganhou o mundo. Seguiu para os Estados Unidos para fazer mestrado na Catholic Uni- versity of America, em Washington. Com o MBA no currículo, mudou-se para a França, onde fez especialização em marketing, e em seguida para a Suíça, onde participou do Programa de Desenvolvimento de Executivos do IMD. Sua carreira também é internacional. Trabalhou no IFC, do Banco Mundial, em Washington; no escritório da Ericsson em Dallas; e na francesa Bull, em Paris, antes de voltar para Uberlândia como executivo da CTBC. Revista da esPM | setembro/outubro de 201214 entrevista | luiz alexandre garcia Nesta entrevista, Luiz Alexandre Garcia, eleito em abril para o conse- lho do Instituto Brasileiro de Gover- nança Corporativa, explica o que o grupo Algar entende hoje por plane- jamento estratégico, fala de seu pa- pel como presidente e detalha como a corporação concilia o desejo de pensar nos próximos 100 anos com o imperativo de administrar em tem- pos de incerteza e volatilidade. “Para toda a inovação que fazemos, lança- mos um projeto-piloto e testamos”, exemplifica. “Se o teste sugerir que o produto pode ter sucesso, vamos em frente. Do contrário, simplesmente encerramos o projeto e partimos para outro.” Alexandre – Como toda organização complexa, o grupo Algar certamente tem sistemas de planejamento estraté- gico. Como vocês calibram esses siste- mas, levando em conta que o ambiente de negócios hoje é volátil e a agilidade para escapar das armadilhas e perse- guir oportunidades parece mais impor- tante que a capacidade de planejar? Luiz Alexandre – O planejamento estratégico tem de ser aderente aos princípios e valores da organização. Esse é o primeiro passo de um pro- cesso de pensamento estratégico. A empresa precisa definir bem seus pilares de construção de valor para a sociedade. Com isso, desenvolve uma visão estratégica que aponta a direção que vai seguir. Mas o plane- jamento estratégico é muito mais um processo que uma ação pontual. Nesses tempos de volatilidade e de mudanças rápidas nos cenários in- terno e externo, o que vai garantir o atingimento das metas definidas no direcionamento estratégico são duas coisas: a capacidade de ler os sinais de mudanças no mercado e a flexibi- lidade para se adaptar a elas. Alexandre – Como se identificam os sinais de mudanças no horizonte? Luiz Alexandre – Essa é a parte mais complicada da execução de um planejamento estratégico. O cenário político e macroeconômico é algo a que todas as empresas estão muito atentas. Isso tem um impacto muito forte na demanda e no consumo. Ao mesmo tempo, no mundo globaliza- do de hoje, às vezes um conflito lá na Síria afeta os seus negócios do outro lado do mundo. Alexandre – Nem todas as mudanças afetam as companhias do mesmo jeito, certo? Luiz Alexandre – Os cenários mais específicos estão atrelados a cada indústria. O grupo Algar, por exem- plo, atua no agronegócio. Uma seca na Argentina ou uma supersafra nos Estados Unidos podem afetar um negócio específico aqui no Brasil. Se a China consumir mais ou menos, vai afetar os preços das commodities. No caso da Algar, essa leitura [de ce- nários específicos] precisa ser feita pelos executivos responsáveis por cada negócio. Alexandre – O senhor pode dar um exemplo prático de estratégia que o grupo formulou e teve de ser revista de- vido a uma mudança de cenário? Luiz Alexandre – Posso dar um exemplo mais antigo, da época do primeiro leilão de telefonia celular no Brasil, a chamada Banda B. Nós ganhamos a licitação da Banda B no Rio de Janeiro. Tínhamos um milhão de clientes nas mãos, mas o nosso planejamento estratégico contem- plava umaabertura de capital para capitalizar a empresa. Só que nós fomos surpreendidos pela crise da Coreia, que fechou o mercado de IPOs [ofertas iniciais de ações em bolsas de valores]. Não havia con- dições de se fazer IPO para captar recursos nem dentro nem fora do Brasil. Foi um exemplo clássico de um problema macroeconômico que aconteceu do outro lado do mundo e nos obrigou a vender um negócio es- tratégico. Talvez seja o melhor exem- plo que temos até hoje aqui na Algar de uma situação fora de controle que inviabilizou um negócio que, técnica e comercialmente, era um sucesso total. Isso aconteceu em 1998. Alexandre – Mais do que flexibilizar a estratégia, imagino que tenha sido necessário redesenhá-la. Luiz Alexandre – Para toda estra- tégia, é preciso ter planos de contin- “O planejamento estratégico tem de ser aderente aos princípios e valores da organização. Este é o primeiro passo de um processo de pensamento estratégico” setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 15 gência. Se você não conseguir atingir o seu objetivo A, precisa ter um obje- tivo B, um objetivo C e um objetivo D. É mais ou menos como um avião, que está em altitude de cruzeiro com des- tino a uma cidade qualquer. Ele está sempre monitorando as alternativas de pouso, caso aconteça alguma coi- sa naquela cidade. Alexandre – O que o episódio da Ban- da B ensinou ao grupo Algar? Luiz Alexandre – Um dos nossos pa râ met ros de d i reciona mento estratégico agora é não assumir uma alavancagem financeira supe- rior àquela que pudermos suportar. Aquele fato nos ensinou a criar um limitador de alavancagem finan- ceira, para não colocar em risco o negócio como um todo. Alexandre – Assim como o mercado muda rápido e traz riscos inesperados, devem surgir oportunidades no radar de vocês que não estavam previstas. Como manter o plano estratégico sem abrir mão delas? Luiz Alexandre – Pelo conceito que usamos hoje, a estratégia nasce de um processo de planejamento dinâ- mico. Ele não é fixo. Precisa ser cor- rigido a todo momento, dependendo das reações do mercado. As melhores pessoas para monitorar essas mu- danças são as que estão no campo. São os vendedores, porque a única coisa que nenhuma empresa do mun- do consegue planejar é o hábito do consumidor. Às vezes, você tem um produto maravilhoso, mas ao qual o consumidor não se adapta. Aí é que está o risco do negócio. “Para toda estratégia, é preciso ter planos de contingência. Se você não conseguir atingir o seu objetivo A, precisa ter um objetivo B, um objetivo C e um objetivo D” Revista da esPM | setembro/outubro de 201216 entrevista | luiz alexandre garcia Alexandre – O senhor não acredita em pesquisas de mercado? Luiz Alexandre – Podemos ter pesquisas buscando identificar as pretensões de consumo. Elas, sem dúvida alguma, trazem maior as- sertividade para as previsões. Mas o consumo em si é uma variável incontrolável do planejamento es- tratégico. Por mais fantástico que o produto pareça ser nas pesquisas, se o consumidor não aderir a ele, você precisa desistir e tentar outra coisa. Alexandre – Como vocês administram essa incerteza? Luiz Alexandre – Para toda ino- vação que fazemos, lançamos um projeto-piloto e testamos. Se esse teste sugerir que o produto pode ser ajustado para que tenha sucesso, vamos em frente. Do contrário, nós simplesmente encerramos o projeto e partimos para outro. Esta é uma tendência que vai ficar cada vez mais usual no mercado. Se o projeto-piloto funcionar, você aumenta a escala. Caso contrário, você assume o pre- juízo e lança outro. O grande desafio é acertar mais do que errar. Alexandre – Como funciona o pro- cesso de planejamento estratégico do grupo Algar? Luiz Alexandre – O início do pla- nejamento estratégico é uma reu- nião que chamamos de Algar 2100. Durante dois dias, a gente projeta a empresa 100 anos à frente, quan- do, provavelmente, nenhum de nós estará mais aqui. É uma forma de prospectar o futuro sendo totalmen- te independente, sem pensar no im- pacto na sua vida. Esse é o primeiro input do nosso ciclo de planejamento estratégico. É quando se discute, por exemplo, a importância do meio ambiente na relação entre produção e consumo. São vários temas que no início podem parecer abstratos. Mas precisam fazer sentido na estratégia da empresa numa dimensão que ultrapassa a dos produtos e serviços. Alexandre – E depois? Luiz Alexandre – Uma vez dis- cutidas essas questões, passamos ao planejamento de cada empresa do grupo, especificamente. Somos segmentados em quatro divisões de negócios: TI-Telecom, Agronegócio, Turismo e Serviços. Cada uma tem negócios distribuídos em quatro quadrantes: cash-cow (mais do mes- mo), abacaxi (os que já passaram da fase de maturidade), adjacente (algo paralelo ao negócio principal) e ino- vação disruptiva (algo totalmente diferente). Alocamos os projetos de cada empresa nesse gráfico e ana- lisamos as necessidades de investi- mentos em cada um deles. E depois monitoramos tudo isso, o tempo todo. Alexandre – Quanto tempo dura cada ciclo de planejamento? Luiz Alexandre – Tudo começa nes- sa reunião Algar 2100, que é no início do ano. Depois fechamos o plano de investimentos, priorizando projetos de acordo com dois princípios: o que vai gerar caixa hoje, no presente, e o que vai gerar caixa no futuro. Basica- mente, o presente precisa financiar o futuro. Depois do plano de investi- mentos, construímos o orçamento, que já é algo mais elaborado, com retorno sobre o investimento etc. E então começa a fase de execução. “A única coisa que nenhuma empresa do mundo consegue planejar é o hábito do consumidor. Às vezes, você tem um produto maravilhoso, ao qual o consumidor não se adapta. Aí é que está o risco do negócio” setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 17 Isso é dinâmico. O projeto é anual, mas isso não quer dizer que a estra- tégia não possa ser revista se ocorrer algum desvio de percurso. Alexandre – O que faz a diferença entre um bom e um mau planejamento estratégico? Luiz Alexandre – O grande desafio do planejamento estratégico é a exe- cução. As pessoas se sentem mais confortáveis fazendo aquilo que fazem todos os dias. Mas quando você quer uma mudança disruptiva numa organização, precisa abando- nar alguns hábitos e quebrar alguns paradigmas internos. Na maioria das vezes, os planejamentos estra- tégicos falham pelo fato de as em- presas não criarem métricas nem uma disciplina rígida para executar aquilo que foi proposto. Alexandre – As pessoas na cúpula se autoenganam? Luiz Alexandre – Elas fazem plane- jamentos estratégicos maravilhosos, saem da reunião e continuam fazen- do exatamente o que faziam antes. Aí nada muda. Alexandre – Com o cenário marcado pela imprevisibilidade, por que ainda vale a pena investir tempo e energia para fazer planejamento estratégico? Luiz Alexandre – Porque é melhor ter um mau planejamento estraté- gico do que não ter nenhum. Todo planejamento estratégico força você a analisar alternativas para o seu negócio. Mesmo que você não iden- tifique, num primeiro momento, al- ternativas viáveis ou o “pulo do gato”, esse exercício faz parte da cons- trução do futuro da organização. A gente começa a separar a análise do desempenho das empresas em dois momentos: a discussão sobre o orçamento atual e a discussão sobre o orçamento futuro. Esse exercício de analisar alternativas, possíveis riscos e oportunidades é importante para que, no momento em que preci- sar mudar, você já tenha aprendido a conviver com a imprevisibilidade. Alexandre – Qual é o seu papel, como presidente, no planejamento estratégi-co e na execução do que é decidido? Luiz Alexandre – Primeiro, o pre- sidente é o grande responsável por esse processo que descrevi. Segun- do, tem de gerenciar as empresas através de fatos e dados, monito- rando se aquilo que foi proposto no planejamento estratégico está, realmente, sendo executado pela organização. Alexandre – Toda companhia séria tem seus rituais de avaliação de de- sempenho e meios de promover a me- ritocracia. O grupo Algar tem alguma prática especial nesse sentido? Luiz Alexandre – Hoje, 60% da nos- sa remuneração são variáveis, dividi- dos entre objetivos pessoais e objeti- vos corporativos. Aqui incentivamos a autonomia com responsabilidade. O reconhecimento financeiro não é o mais importante. Ele faz parte de um pacote de celebração. Alexandre – Peter Drucker costumava dizer que administrar é criar o futuro. Nesse contexto, o plano estratégico seria o instrumento por meio do qual essa intenção se materializa. O senhor acredita que isso é verdade na prática? Luiz Alexandre – Eu acho que sim. O que fizemos até hoje serve só como aprendizado. O que vamos fazer para a empresa do futuro começa no dia seguinte. Estar antenado com as mu- danças e criar motivação, modelos e processos para tentar construir o futuro é o que prepara a empresa para o amanhã. “Todo planejamento estratégico força você a analisar alternativas para o seu negócio. Mesmo que você não identifique, num primeiro momento, alternativas viáveis ou o “pulo do gato”, esse exercício faz parte da construção do futuro da organização” “Hoje, 60% da nossa remuneração são variáveis, divididos entre objetivos pessoais e objetivos corporativos. Aqui incentivamos a autonomia com responsabilidade” Planejamento Revista da esPM | setembro/outubro de 201218 Diante da emergência da Open Source Economy, o planejamento estratégico clássico terá sua utilidade reduzida. A ideia de “estrategizar” a empresa será, provavelmente, a melhor escolha O professor e consultor belga Nick van Heck costuma falar de modo provocativo que “as rupturas só acontecem com as organizações despreparadas”. Para ele, as empresas preci- sam desafiar a ortodoxia do modo como o planejamento estratégico é pensado e estruturado. “Estratégia tem de deixar de ser adivinhar o futuro e passar a ser preparar-se para qualquer futuro que seja”. Nós apoiamos fortemente esse modo de pensar. No início dos anos de 1980, o futurólogo americano Al- vin Toffler dividiu a história do mundo em três momentos, chamando-os de Ondas. A Primeira Onda (de 8000 a.C. até 1750 d.C.) é caracterizada pela era agrícola. A Segunda Onda marca o período dominado pela industrialização e vai até 1955. A partir daí, tem início a Terceira Onda, cla- ramente marcada pelo domínio do conhecimento. Nesta era, há cerca de 20 anos, vimos surgir uma in- venção tecnológica que está revolucionando a história da humanidade: a internet. O meio é tido como um dos eventos mais importantes da era moderna, assim como foi a prensa de tipos móveis, criada há 550 anos, na época, por Gutemberg. O fenômeno da globalização acelerou inúmeras mudan- ças culturais e econômicas, até que a crise de 2008 deu um golpe final no antigo modelo capitalista-financeiro. Esta é uma crise que ainda não está resolvida e pode ressurgir com violência a qualquer momento. O movimento global sacudiu a economia mundial e abriu espaço para novos poderes econômicos, entre os quais o Brasil – que ainda precisa resolver os desafios da corrupção, de uma admi- nistração pública ineficiente, da desigualdade social e da infraestrutura. Essa crise também desafiou, de modo profundo, os valores nas economias tradicionais dos Es- tados Unidos e da Europa. Esses países vivem uma verda- deira “crise de valores” do modelo capitalista-financeiro, fazendo com que muitas pessoas desenvolvam ideias e propostas de um novo modelo, como o visionário Umair Haque e seu conceito de “Capitalismo Autêntico”. O livro Wikinomics: Como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio (Don Tapscott e Anthony D. Tapscott, Editora Nova Fronteira, 2007) explica a consequência de tudo isso no universo empresarial. De acordo com os autores, hoje, estamos vendo emergir uma nova forma de economia, que mistura o capitalismo tradicional, a volta de valores fortes e um modelo inédito: o Open Source. A Open Source Economy é a mistura desses três componentes, e estamos entrando nesta nova era. Esse novo modelo mostra que as rupturas acontecem cada vez mais rapidamente, sem nenhum aviso. A Kodak, por exemplo, levou décadas para derrubar a antiga câmera de tripé. A Nokia, que nem mesmo estava no mercado de fotografia, acabou com a Kodak em menos de uma década, quando resolveu colocar câmeras fotográficas digitais nos seus aparelhos de telefone celular. Por outro lado, a Apple levou quatro anos para criar um novo sistema ope- racional para celular (iOS), que derrubou o Symbian, da Nokia, forçando-a a uma aliança antes inimaginável com a Microsoft, que ainda tenta impor seu próprio sistema na telefonia móvel. O planejamento estratégico está morto? Em tempos acelerados, onde a explosão tecnológica se encontra com a globalização, será que o planejamento estratégico tradicional está ultrapassado? Como é que o Rupturas só acontecem com os despreparados! Por Didier Marlier e Marcelo C. Pontes (Jimmy) setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 19 la ti n st o ck Planejamento Revista da esPM | setembro/outubro de 201220 planejamento de longo prazo (como eram os famosos pla- nos soviéticos da era stalinista) pode ajudar num período onde agilidade, velocidade, conhecimento, experimenta- ção, audácia e risco se tornam cada vez mais necessários? A preparação das organizações para um período onde a ruptura pode ocorrer a qualquer instante tem forte im- pacto em três níveis: liderança, estratégia e organização. O professor inglês David Snowden, criador do “Cynefin framework”, explica que o contexto dentro do qual os líderes precisam atuar se modificou radicalmente (ver ilustração ao lado) Segundo Snowden, nós continuaremos a evoluir e a liderar em contextos simples, onde a causa é identificada e tem como consequência um efeito previsível e linear. E, em contextos complicados, onde a causa e o efeito também são previsíveis, a explicação do fenômeno é mais difícil e, por isso, necessita de um especialista para entender e explicar. Este foi o mundo no qual fomos for- mados e treinados, tanto nas universidades quanto nas empresas. E ele continuará a existir. Todavia, dentro da Open Source Economy, onde quase tudo pode acontecer de modo inesperado, estamos vendo que os antigos modelos de predição estão sendo desafia- dos por contextos de liderança muitas vezes complexos e até mesmo caóticos. Nessas situações, o líder não deve mais pretender saber mais que todo o resto – ao contrário, o líder tem de abrir mão da ilusão de saber mais que seus liderados. Exatamente por isso, nesse novo contexto, o líder não deve mais se arriscar a “adivinhar o futuro” tomando por base seu conhecimento e expertise. Ele tem de observar, deixar as tendências emergirem e, até mesmo, deve aceitar a ideia de tentar e errar. O planejamento estratégico tradicional e ortodoxo não combina bem com o estilo de liderança necessário para lidar com ambientes caóticos ou complexos. Um líder que adivinha o futuro usa planejamento. Mas o líder que se prepara e prepara sua organização para o futuro usa outras técnicas, como o processo que chamamos de “estrategizar”. A estratégia é um documento, uma foto, via de regra, feita em um determinado momento por uma elite que muitas vezes está longe e desconectada da realidade, do dia a dia da organizaçãoe do mercado, a chamada diretoria. Em contextos simples e complicados, continua tendo sua “raison d’être”. Mas, quando o mundo se torna imprevisível, uma organização ágil e proativa tem muito mais chance de prevalecer. Daí a importância do processo de “estrategizar”. Em vez de depender apenas de uma diretoria fazendo seu dever de casa a cada um, dois ou três anos, o processo de “es- trategizar” é constante e engaja toda a organização. Esse método é composto por processos de capacitação, criação de inteligência e desenvolvimento da organização. Processo de capacitação: “Estrategizar” sugere que todos na empresa entendam o suficiente sobre o negócio, sua razão de ser, seus clientes, seus processos, sua estra- tégia e seu ecossistema. Entendendo este contexto, os funcionários se sentem mais envolvidos na estratégia, se comportam mais como “donos do negócio”, agem com mais “senso de propriedade” e ficam atentos e curiosos ao que pode impactar a organização da qual eles fazem parte. Processo de criação de inteligência: Em vez de ficar preso na antiga ortodoxia de que só a diretoria precisa saber mudança radical Representação do modelo ”Cynefin framework” mostra como o contexto alterou radicalmente a atuação dos líderes durante as tomadas de decisão Fonte: adaptado de Snowden & Boone, 2007 Cynefin framework comPlexo caótico Contexto não linear, impreviSível Contexto não linear, impreviSível não há padrõeS Contexto linear, previSível e SofiStiCado Contexto linear, previSível comPlicado SimPleS C E E C C E E C CauSa efeito CauSa efeito setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 21 disso ou aquilo, “estrategizar” significa criar, incentivar e promover o Q.I. coletivo da empresa. Os funcionários passam a se questionar, pensar no futuro e ter ideias não apenas durante as horas de trabalho, mas também indo e voltando para casa, enquanto fazem compras e no fim de semana. Isso acontece não porque são workaholics sob pressão, mas porque estão engajados. No nosso trabalho sempre constatamos que existe uma relação muito forte entre clareza e energia. Com mais clareza estratégica, a energia dos funcionários é multiplicada. Processo de desenvolvimento: Todos nos lembramos da história que circulava sobre motivação nos anos 1980. Nos tempos da Idade Média, um nobre francês viu um grupo de homens trabalhando sem muita energia e per- guntou: “O que vocês estão fazendo?”. Os homens respon- deram de maneira educada, mas sem muita garra: “Gentil homem, estamos lapidando pedras”. Mais adiante, o nobre avistou outro grupo que fazia o mesmo trabalho, mas com paixão, alegria e energia. Aproximou-se e fez a mesma pergunta: “O que estão fazendo?”. E a resposta veio rápida: “Vossa Senhoria, estamos construindo uma catedral!”. Liderados que realmente entendem como o trabalho deles se encaixa no propósito superior da em- presa são muito mais motivados. É evidente que a diretoria terá de continuar a fazer o seu trabalho, planejando as estratégias da organização, mas isso não será suficiente. As empresas que criarão as rupturas de amanhã só conseguirão fazer isso se todos estiverem focados em “escanear a periferia”, pensar no Em vez de depender apenas de uma diretoria fazendo seu dever de casa a cada um, dois ou três anos, o processo de ”estrategizar” é constante e engaja toda a organização la ti n st o ck Planejamento Revista da esPM | setembro/outubro de 201222 futuro, achar novas ideias, novas maneiras, novos pro- cessos, novas soluções. O processo de “estrategizar” é fundamental para criar essa cultura. Organismo vivo Será que o corpo humano precisa de planejamento estra- tégico para nos levar a viver? A melhor analogia para a organização da Open Source Economy é o corpo humano. As empresas do futuro serão muito mais orgânicas do que organizadas. Segundo os neurocientistas americanos Antonio Damásio e Joseph LeDoux, o cérebro humano recebe até 11 milhões de informações por segundo, mas consegue processar, conscientemente, apenas... 50! Isto pode ser chamado de sobrecarga de informação, mas nosso corpo aguenta e nos mantém vivos. Isso acontece por alguns motivos descritos a seguir. Primeiro, porque no corpo humano senioridade não significa superioridade! O cérebro não é o único líder do corpo, porque depende do coração. O coração não sobre- vive sem o estômago, que morreria sem os pulmões etc. Num organismo, todos os órgãos são interdependentes e estão alinhados através de um objetivo comum: manter-nos vivos e em boa saúde. É importante ressaltar que o planejamento estratégico pertence ao antigo modo organizacional, cujo discurso é “plan and engage” (planejar e engajar), em vez de “engage and plan”. Andy Grove, um dos fundadores da Intel, dizia que o erro mais frequente dos líderes era exatamente fazer a primeira opção (plan and engage), que pertence à cultura do planejamento estratégico tradicional, em vez de optar pelo segundo caminho (engage and plan), que tem tudo a ver com a ideia de “estrategizar”. Ter um senso de propósito claro e compartilhado é fundamental para que as empresas possam engajar em primeiro lugar, confiantes de que as pessoas farão o ne- cessário para adaptar suas próprias estratégias àquilo que for importante e benéfico para a organização. Outro motivo é que, no corpo humano, cada órgão recebe um feedback permanente sobre o contexto onde o corpo se encontra e como esse órgão está se compor- tando em relação ao propósito superior. As organizações clássicas, que ainda vivem sob uma hierarquia pesada e burocrática, não têm essa transparência. Um time que entende o propósito superior da organização, e recebe o feedback constante sobre como está posicionado em rela- ção a esse propósito, tentará mais fortemente se superar. Essa interdependência dos órgãos do corpo humano faz com que todos reajam rapidamente. O cérebro clara- mente coordena, atribuindo recursos diferentes a uma ação ou reação, mas a conectividade dos órgãos assegura uma grande agilidade e velocidade de ação. Na empresa de amanhã, se os silos, os guetos e a falta de conexão entre departamentos e pessoas retardarem a troca de informações inibindo uma resposta rápida, a empresa, rapidamente, estará ultrapassada. Politicagem, brigas de poder e falta de confiança têm uma causa em comum: a falta de conexão direta entre as pessoas. Então, o planejamento estratégico é uma ferramenta de dinossauro? Provavelmente não. Como falamos, o cérebro humano continuará coordenando a ação dos vários órgãos. Mas com uma capacidade de tratar 50 informações por segundo, enquanto o meio ambiente o inunda com 11 milhões, o pobre cérebro precisa de ajuda. O planejamento estratégico provavelmente corresponde a esses 50 bits tratados a cada segundo. Mas, se o restante do corpo não ajudar, será rapidamente mais um caso de “paralisia da análise”. Por isso, da mesma maneira que o corpo humano desenvolveu uma estratégia para lidar com isso (baseada na interdependência, no propósito superior, no feedback permanente e na conectividade), as organizações terão de recolocar o planejamento estra- tégico ao seu lugar (40 x 11 milhões). É mais importante desenvolver um novo estilo de liderança conectada e simples, que convida os funcionários para um amplo e contínuo processo de “estrategização”, numa empresa mais orgânica do que organizada. Didier Marlier Sócio-fundador da rede de consultores Enablers Network, foi professor na Fundação Dom Cabral, Insead (França) e Nyenrode (Holanda) Marcelo C. Pontes (Jimmy) Doutor em administração e marketing pela FEA/USP, líder da área de marketing, pesquisa e economia da ESPM-SP, diretor da Brand Leader Comunicação e Marketing e consultor da Enablers NetworkPoliticagem, brigas de poder e falta de confiança têm uma causa em comum: a falta de conexão direta entre as pessoas Revista da esPM | setembro/outubro de 201224 cultura organizacional setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 25 O alinhamento da cultura da empresa com a sua estratégia é fator crítico para o sucesso do planejamento. Gerenciar a cultura com metodologia e não deixá-la correr ao acaso é uma opção estratégica da liderança A tualmente, é indiscutível a importância de um processo de planejamento estratégico para as grandes empresas. O cenário de alta volatilidade que vivemos aumenta o seu desafio, mas pouco se discute se é devido ou não a dedicar tempo e recursos a essa agenda. Está claro que a velocidade de mudança dificulta a elaboração milimétrica de cenários futuros, o que não diminui o valor desse exercício. A questão crítica que se coloca atualmente é outra. A pergunta é: por que planos tão bem elaborados, resultado de processos intensos e profundos, conduzidos por pro- fissionais de primeira linha, muitas vezes não saem do papel para virar realidade nas organizações? De alguns anos para cá, a aderência da cultura orga- nizacional aos imperativos estratégicos das empresas começa a ser apontada como um dos fatores-chave para o sucesso ou fracasso dos planos. A Apple, com sua cultura de inovação, a excelência da Toyota e a simplicidade do Google são exemplos de em- presas nas quais esse alinhamento acontece. Esse tipo de posicionamento provoca uma série de discussões sobre até onde a gestão cultural é capaz de provocar impactos nos resultados. A questão-chave que se apresenta aos gestores de plane- jamento estratégico, atualmente, é como tornar realidade todas aquelas metas, oportunidades e desafios tão bem detalhados nos planos de ação. Mudanças conjunturais à parte, diversas pesquisas apontam que o fracasso da maioria dos objetivos definidos nos planejamentos vem da dificuldade das organizações em implementá-los. Segundo o professor Todd Jick, a articulação da visão representa 10% do trabalho e sua implementação, 90%. Ou seja, uma ideia não é quase nada sem uma execução exemplar. Bem, não existe execução sem pessoas. E onde houver mais de uma pessoa trabalhando em conjunto, já há uma cultura organizacional, que pode favorecer ou dificultar a implementação dos objetivos. Logo, a correlação entre cultura e sucesso do planejamento estratégico é quase de um para um. Simples assim. Certa vez, estávamos no meio de um longo processo de planejamento estratégico e de marca no Banco Real, quan- do um membro da equipe lançou um questionamento: “Por que mesmo perdemos tanto tempo nestes processos de planejamento, se sabemos que, na prática, será feito tudo de forma diferente?”. Uma das gerentes prontamente respondeu: “Porque a gente planeja, planeja e planeja, para na hora da verdade saber improvisar melhor”. A grande sabedoria dessa frase não está, de maneira alguma, em aceitar uma regra do improviso, como se a aleatoriedade fosse fator inexorável, mas na afirmação de que é possível “improvisar melhor”. Afinal, ouve-se muito nas empresas que “o papel aceita tudo”. E é verdade. O planejamento estratégico Cultura e estratégia: um alinhamento necessário Por Susana Arbex de Araujo “Um plano tem pouco valor se a organização a que se destina não é capaz de executá-lo” Russell Lincoln Ackoff fo to : l at in st oc k cultura organizacional Revista da esPM | setembro/outubro de 201226 dá a diretriz, mas não consegue antever todas as possí- veis situações de desdobramento da estratégia, em um ambiente cada vez mais complexo, interconectado e mutante. Significa dizer, em outras palavras, que, quando falamos do ambiente em geral, está cada vez mais difícil “combinar com os russos”. Por isso, o planejamento não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como o passo inicial de uma longa jornada. E para que essa jornada seja bem-sucedida, é fundamental que a empresa tenha uma cultura alinhada à sua estratégia, que seja capaz de fazer o plano acontecer, sair do papel e ganhar vida. Mas, se as pessoas não se identificarem com as ideias do plano e “cruzarem os braços”, adeus estratégia... Não é raro observarmos situações nas quais, ao terminar um ciclo de planejamento, as pessoas voltam às suas rotinas e conti- nuam se comportando exatamente como antes. As forças do hábito e da cultura são poderosas. E não dá para esperar um resultado diferente fazendo tudo igual. Se queremos resultados diferentes, precisamos fazer algo diferente. Parece óbvio, mas nem sempre é assim que acontece. Como disse Mark Fields, presidente da Ford Motors Company nos Estados Unidos, “a cultura devora a estratégia no café da manhã” (“Culture eats strategy for breakfast”). Então, na prática, o que significa esse alinhamento? Significa agir intencionalmente na cultura, identifi- cando e intervindo nas dimensões que jogam contra a implementação da estratégia e estimulando aquelas que jogam a favor. Essa gestão, feita por meio de metodologias específicas, vem sendo experimentada com sucesso por diversas empresas. A liderança, portanto, pode e deve ge- renciar ativamente a cultura de suas empresas. Afinal, a cultura existirá de qualquer modo. Gerenciá-la ou deixá-la ao acaso é uma opção estratégica. Apesar de cada vez mais frequente, a referência à cultura ainda é feita muitas vezes de modo subjetivo, sem um con- a cultura de uma empresa pode ser definida como o padrão de comportamentos que são encorajados ou desencorajados pelas pessoas e sistemas ao longo do tempo setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 27 torno claro, às vezes tomando-se a parte pelo todo. Por exem- plo, ações como team buildings, projetos de comunicação interna e elaboração de valores, que são importantes para fortalecer e manter a cultura, mas não esgotam a questão na sua profundidade, por vezes são chamados de projetos de cultura. Cultura é tudo isso também, mas é ainda mais. A cultura de uma empresa pode ser definida como “o padrão de comportamentos que são encorajados ou desen- corajados pelas pessoas e sistemas ao longo do tempo” (Ned Morse), ou, de modo prático, “o jeito como fazemos as coisas por aqui”. Isso equivale a dizer que são as mensagens implí- citas que formam a cultura, fazendo as pessoas entenderem qual o comportamento esperado e valorizado naquela organização e repetindo esse padrão. Essas mensagens são enviadas por meio de ações da liderança, de símbolos (como alocação de tempo e dinheiro) e de sistemas. Quando uma empresa dá clareza aos funcionários de qual o norte desejado (planejamento estratégico) e com base em que valores eles podem tomar decisões (cultura), algo muito interessante acontece: forma-se um escudo que protege a essência da empresa das turbulências do cenário e garante a coerência na execução dos planos. Apostar no fortalecimento da cultura significa ter co- erência com os valores que guiam a empresa. Mas não são aqueles valores que só existem nas belas palavras dos quadros na parede, que muitas vezes somente se sustentam por um prego. São os valores que de fato ser- vem de balizadores para a tomada de decisão no dia a dia daquela organização. O que ela vai priorizar na hora de fazer escolhas. Significa alinhar o que a empresa diz, o que ela faz e aonde ela quer chegar com quem ela é. Em outras palavras, ter a marca, a cultura e a visão em sintonia com a identidade empresarial. Agir de acordo com o que se fala consolida o entendi- mento dos objetivos e da essência da empresa. E esse é o ativo, é a caixa de ferramentas da qual as pessoas, quando empoderadas, vão lançar mão, nas diversas situações em que se encontrarem representando a empresa. Situações que tantas vezesfogem dos manuais e dos planos de ação, mas que podem ter alto impacto nos resultados. Um ótimo exemplo desse alinhamento acontece na Zappos, uma loja on-line de calçados. O alinhamento entre cultura e marca começa na seleção, na qual se avalia a aderência dos valores da pessoa aos da empresa, passan- do por um intenso período de adaptação e compartilha- mento expresso do seu conjunto de valores. O resultado está na atitude dos funcionários, que é a franca expressão da essência da empresa, claramente reconhecida pelos consumidores e pelo mercado. O mesmo se dá com a Southwest, companhia aérea americana de baixo custo, na qual os funcionários têm autonomia para resolver os problemas dos clientes na hora em que eles ocorrem, ge- rando uma fidelidade de marca ímpar nesse segmento. Ou ainda na Apple, onde um pensamento comum costumava ser “o que Steve Jobs faria nessa situação?” Por isso, concordamos profundamente com Mary Jo Hatch e Majken Schultz, autoras de diversos livros sobre o assunto, quando afirmam que a cultura é um parceiro silencioso na construção de uma marca. Nessa linha, podemos pensar em diversas situações: um engenheiro deslocado para uma obra no interior; um garçom diante de um cliente em uma situação constrangedora; um aten- dente interagindo em um atendimento on-line com um cliente... Cada vez mais, as marcas se constroem na ponta, na interação entre pessoas. Não gerenciar cultura significa deixar essas interações ocorrerem ao sabor do vento, e correr o risco das pessoas agirem de modo desalinhado dos valores centrais da empre- sa. Que o digam a Enron, Arthur Andersen, Goldman Sachs, entre tantos outros casos que hoje, devido à tecnologia e às mídias sociais, ganharam uma visibilidade exponencial. Vivemos um tempo, portanto, no qual o controle passa a dar lugar ao aprendizado coletivo e à aceitação de uma maior diversidade de caminhos para um mesmo fim. Planejar nesse cenário não é, portanto, engessar. Não é ter a ingênua expectativa de controlar o incontrolável. Planejar significa conduzir um processo maduro de compartilhamento de direção, de empoderamento dos indivíduos e de gestão da cultura organizacional. É assim que são construídas marcas fortes, com resultados susten- táveis, minimizando atritos e custos invisíveis. Ou, como diria aquela sábia gestora, é assim que se improvisa melhor. Susana Arbex de Araujo Sócia-executiva da consultoria ATMA – Cultura e Marca a cultura existirá de qualquer modo. gerenciá-la ou deixá-la ao acaso é uma opção estratégica entrevista | henry mintzberg Revista da esPM | setembro/outubro de 201228 setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 29 Para aprender é preciso estar com a mente aberta Entrevistado por Alexandre Teixeira A scensão e queda do planejamento estratégico. Este é o título de um livro do acadêmico canadense Henry Mintzberg que fez sucesso nos meios empresariais de todo o mundo nos anos 1990. Nesse texto, Mintzberg, um dos principais pensadores contemporâ- neos da administração, aponta uma contradição na própria expressão que dá nome à obra, que foi publicada no Brasil em 2004, pela Bookman Editora. A estratégia, observa ele, não pode ser planejada, porque planejamento é análise e estratégia é síntese. Daí os fracassos dos planejadores estratégicos. Esse trabalho de Mintzberg foi originalmente publicado na edição de janeiro e fevereiro de 1994 da revista acadêmica Harvard Business Review. O ponto a destacar é que tal texto já tem mais de 18 anos. Sua maioridade sugere que as definições simples oferecidas por Mintzberg sobre liderança e modelos estabelecidos de pensamento estratégico merecem uma revisão. É natural que seja assim, sobretudo porque esse é um livro de história – a his- tória do planejamento estratégico desde suas origens, nos idos de 1965. Fotos Owen Egan entrevista | henry mintzberg Revista da esPM | setembro/outubro de 201230 Há muita teoria ali. E também uma visão prática de como as organi- zações funcionavam na primeira metade dos anos 1990 ou “como os gestores estão ou não à altura desse funcionamento; também como nós, seres humanos, pensamos e às vezes paramos de pensar”, conforme escre- veu Mintzberg. É um texto clássico sobre um pro- cesso que fascina organizações. Em especial as americanas e, por tabela, as empresas de boa parte do Ociden- te. Não obstante, entre as ferramen- tas utilizadas nos processos de ges- tão, típicos dos anos 1990, algumas parecem datadas, como a gestão da qualidade total. Outras, definitiva- mente, envelheceram mal, como o conceito de reengenharia. Que dizer do planejamento estratégico? Lembre, porém, que, em seu livro, Mintzberg criticou, agressivamente, muitas das práticas associadas ao planejamento estratégico. Em espe- cial, aquilo que chamou de fórmulas prontas do planejamento. Com a refundação do capitalismo em pauta desde a crise de 2008, é interessante discutir a dicotomia en- tre as premissas e diretrizes do pla- nejamento estratégico e a extrema mutabilidade social e econômica dos nossos dias. Para que serve um plano estratégico em 2012? O que justifica a sua preparação? Há ainda o fator humano, inevita- velmente presente na implantação de um plano. Em tempos de gritaria global contra bônus milionários e gatos gordos do mundo corporativo, é interessante analisar a figura do CEO, tratando de sua liderança, sua capacidade de gestão e de estimular, motivar e orientar as pessoas que o cercam. Há quem diga que a gestão dos detalhes é tão ou mais importan- te que as diretrizes de longo prazo – e também aqueles que juram que o “microgerenciamento” destrói até o melhor dos planos. Henry Mintzberg esteve no Rio de Janeiro no início de outubro deste ano e, mais crítico do que nunca, conversou sobre planejamento es- tratégico com a Revista da ESPM. Confira os melhores momentos da entrevista. Alexandre – Seu livro sobre planeja- mento estratégico está perto de com- pletar 20 anos. Será esta uma boa hora para revisitá-lo? Mintzberg – É sempre uma boa hora para revisitá-lo, porque não há muita gente que o leve a sério. Alexandre – O senhor acha que não? Mintzberg – Algumas pessoas le- vam a sério, mas muita gente não entende a questão [planejamento estratégico], embora não possa falar sobre o Brasil, obviamente. A única coisa que sei sobre o mercado brasi- leiro é que as pessoas nas empresas tendem a ser bem mais adaptáveis do que nos Estados Unidos. Alexandre – Por que o senhor tem essa sensação? Mintzberg – A história do país faz com que o povo se comporte dessa forma. As pessoas têm de ser mais adaptáveis, porque os desafios são maiores. Precisam ter a capacidade de “quebrar um galho”. Trata-se de achar um meio de lidar com uma circunstância difícil, seja a ditadura militar, a questão da pobreza, o pro- blema do racismo ou o que quer que seja. Sempre houve desafios. O Brasil lidou e vem lidando muito eficaz- mente com esses desafios. Alexandre – Já em 1994, quando publicou seu livro, o senhor fez uma crítica profunda em relação ao pla- nejamento estratégico. O que está envelhecendo melhor: o planejamento estratégico em si ou sua crítica a ele? Mintzberg – Depende do que você quer dizer com planejamento estra- tégico. Você pode fazer o que quiser e chamar de planejamento estratégico. Pode passar um fim de semana no campo discutindo estratégia e chamar isso de planejamento estratégico. Qua- se sempre há processamento de núme- ros, mas todos esses dados raramente levam a uma estratégia. Muito do que chamam de planejamento estratégico é programação de estratégia. É pegar a estratégia que você já tem – em geral porque não é hábil o bastante para criar uma nova – e apenas convertê-la em orçamentos. Isso nãotem nada a ver com a criação de uma estratégia. “Temos uma imagem preconcebida do que é planejamento estratégico: um monte de gente se tranca numa sala e sai dela com uma estratégia” setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 31 Alexandre – Então, como se daria o verdadeiro processo de criação de uma estratégia? Mintzberg – Meu a rg u mento é, basicamente, que a estratégia não surge de um processo formal de pla neja mento. Vem de u m pro - cesso de aprendizado. As pessoas aprendem seus caminhos para a estratégia. Elas não acham seus caminhos para a estratégia. Então, se você chamar o aprendizado de pla neja mento est ratégico, t udo bem. Mas nós temos uma imagem preconcebida do que é planejamen- to estratégico: um monte de gente se tranca numa sala e sai dela com uma estratégia. O que eu estou di- zendo é que a estratégia não nasce assim. Nasce do aprendizado. Alexandre – O senhor pode dar um exemplo de como esse aprendizado se dá? Mintzberg – Não posso me aprofun- dar agora, porém a Ikea, uma grande rede varejista de móveis, é um caso interessante. Ela vende móveis des- montados, que você põe no carro e leva para casa. A ideia veio quando um trabalhador tentou colocar uma mesa em seu carro e não pôde tirar as pernas dela para fazê-la caber no porta-malas. Alguém disse “se ele fez isso [tentou tirar as pernas da mesa para transportá-la por conta própria], talvez os clientes também o façam”. Foi daí que veio a estraté- gia. O processo não surgiu de um bando de gente importante dentro de um escritório. Alexandre – Esta ideia de que estraté- gia é algo que se aprende na prática era verdadeira em 1994 e ainda parece ser hoje. Porém há algumas questões novas a enfrentar, como a tecnologia, que faz tudo acontecer mais rápido. Mintzberg – Sei, e se você tinha uma empresa no Brasi l durante o período de controle militar, as coisas eram estáveis? Que tal a Se- gunda Guerra Mundial? E a Grande Depressão? Fala sério. A ideia de que vivemos uma era de mudanças como nunca houve é uma bobagem que a imprensa perpetra. Sabe quão para trás essas alegações vão? Ao menos 50 anos. Na verdade, muito mais. Posso lhe mostrar uma cita- ção da [revista] Scientific American, em 1867, que diz que nunca antes experimentamos tanta mudança. Alexandre – Ok. Mas não lhe parece que o próprio ritmo das mudanças está acelerando? Mintzberg – Há coisas mudando agora, sem dúvida. A economia está mudando muito. A tecnologia tam- bém. Mas nem tudo. Os automóveis basicamente ainda são movidos por motores de quatro ciclos de combus- tão interna. Eles estavam no Modelo T [o famoso “Ford Bigode”, primeiro carro do mundo a ser produzido em série]. Roupas? Como você ainda está usando algodão se o mundo está mu- dando tão rápido? Você abotoou sua camisa esta manhã logo depois de Para atender a demanda de mercado, a rede de lojas Ikea mudou seu posicionamento “A estratégia não vem de um processo formal de planejamento. Vem de um processo de aprendizado. As pessoas aprendem seus caminhos para a estratégia” entrevista | henry mintzberg Revista da esPM | setembro/outubro de 201232 acordar? Como você ainda usa essa tecnologia? Fala sério. É do interesse da imprensa alegar que há mudanças como nunca antes. Mas algumas coi- sas estão mudando, e outras não. Alexandre – As mudanças tecnológi- cas me parecem mais relevantes para as empresas... Mintzberg – Vamos ser específicos. Você quer falar da tecnologia do iPhone? Ok. A tecnologia de telefo- nes está mudando. Mas os laptops não têm mudado tanto. Estão um pouco mais rápidos, mas ainda fa- zem o mesmo tipo de coisa. Eu não engulo essa premissa. Não acho que no período de 1994 para cá mudou alguma coisa fundamentalmente. Alexandre – Então, suas críticas ao pla- nejamento estratégico estão mantidas? Mintzberg – Se vivemos tempos de maiores mudanças, como você pa- rece acreditar, há ainda mais razões para que não se possam planejar estratégias. Primeiro, porque não podemos prever o futuro. Segundo, porque, se você não pode sossegar em uma estratégia, você precisa ser adaptável. Então, há uma nova razão para não fazer o planejamento estratégico. Alexandre – Se tivesse que reescrever seu livro sobre planejamento estraté- gico, o senhor mudaria alguma coisa? M i nt zberg – P rec i so d a r u m a olhada no livro, não faço isso há tempos. Mas, em princípio, a úni- ca mudança que eu faria seria tra- zer novos exemplos de por que o planejamento estratégico não fun- ciona. Ou, mais especificamente, de por que gra ndes est ratégias surgem do processo de aprendiza- do. Como o exemplo da Ikea. Até hoje, a indústria automobilística ainda produz veículos movidos pelo mesmo sistema utilizado no Ford T, de 1908 “A ideia de que vivemos uma era de mudanças como nunca houve é uma bobagem que a imprensa perpetra. Sabe quão para trás essas alegações vão? Ao menos 50 anos” co rb is setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 33 Alexandre – Hoje, o papel dos CEOs no planejamento estratégico é o mesmo de décadas atrás? Mintzberg – Está mais claro hoje do que nunca. O Bear Stearns [banco de investimento de Nova York, que quebrou no início da crise financeira de 2008] fazia planejamento estratégico. O Lehman Brothers [outro banco de inves- timento de Nova York, cuja falência levou a crise ao ápice] fazia planejamento estratégico. Esses bancos eram con- trolados por tecnocratas financeiros e acabaram devastados. Alexandre – O senhor acha que isso vai mudar depois da crise? Mintzberg – Você mesmo pode res- ponder à pergunta. O que mudou? E já se passaram quatro anos inteiros. O problema está enraizado muito mais profundamente do que parece. É um problema político. O mundo corpora- tivo – empresas de energia, indústria farmacêutica, o setor militar e o seg- mento financeiro – está totalmente no controle dos governos americano e britânico. Eles gostariam de controlar todos os governos. Esse é o problema. Alexandre – Que processos de apren- dizado os gestores de hoje deveriam es- tar usando para formular estratégias? Mintzberg – Não acho que exista uma fórmula para aprender. É ape- nas uma questão de abertura e habi- lidade para ouvir. Alexandre – O que é preciso para de- senvolver essa habilidade de ouvir? Mintzberg – Uma cultura aberta, que respeite ideias e assuma que elas podem vir de qualquer lugar. Uma cultura que encoraje as pessoas a ter ideias e depois encoraje o sistema a levar essas ideias adiante. Aprender não é nenhum processo mágico; basta estar com a mente aberta. Alexandre – Até que ponto se pode ir quando se trata de mudar um plano estratégico sem comprometer aquilo que você passou semanas ou mesmo meses formulando? Mintzberg – Não há fórmula para fa- zer coisa alguma em administração. As fórmulas são o problema, e não a solução. Não há fórmulas. Apenas ideias e treinos que você pode fazer para pensar sobre as coisas. Quanto ao desafio de adaptar um plano sem comprometer sua essência, bom, às vezes é preciso comprometê-la. Se a sua estratégia é ruim, você terá de comprometê-la. Em 2008, o Lehman Brothers pediu concordata, o que agravou a crise nos EUA O mundo corporativo – empresas de energia, indústria farmacêutica, o setor militar e o segmento financeiro – está totalmente no controle dos governos americano e britânico” “Não há fórmula para fazer coisa alguma em administração. As fórmulas são o problema, e não a solução” la ti n st o ck Liderança Revista da esPM | setembro/outubro de 201234 la ti ns to ck setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 35Odesenvolvimento da tecnologia e a glo-balização favoreceram diversas fusões e aquisições de empresas, que desencadearam transformações mundiais na estrutura, nos processos e no perfil dos profissionais que nelas trabalham. Uma consequência dessa evolução é que ela requer, desde a soma de novas habilidades até um novo perfil de líderes organizacionais, sendo esses, hoje, peças fundamentais na gestão dos negócios. No Brasil e no mundo, nunca se falou tanto em lide- rança como nas últimas décadas. Impulsionadas pela globalização, empresas transnacionais instaladas no Bra- sil estão colaborando para a formação de um novo perfil profissional para gestores brasileiros. As mudanças que derivam desse cenário passam a exigir dos profissionais conhecimentos e aptidões diferenciados para atuarem no ambiente contemporâneo de negócios. Na busca de gesto- res que apresentem o novo perfil, as empresas veem-se sob uma nova pressão: recrutar, treinar e desenvolver líderes capazes de atender às demandas desse mercado e gerentes que deleguem mais. Dentre tantas habilidades a serem desenvolvidas, é difícil saber quais são as mais importantes para obter sucesso. Observar os perfis que distinguem os grandes líderes e entender quais as características comuns na personalidade deles é fundamental na busca do aprimo- ramento e desenvolvimento profissional. Com o objetivo de descobrir tais particularidades, realizei uma pesquisa com 427 líderes de 249 grandes empresas, com idade entre 25 e 56 anos. Como critério de inclusão foi utilizado o quesito trabalhar em empresas com, no mínimo, um ano de experiência em cargos de gestão. Esse estudo foi premiado em congressos interna- cionais, dado o grau de relevância que adquiriu. Dos 427 líderes pesquisados, 73% possuem curso supe- rior, 20% são pós-graduados e apenas 7% têm somente o ensino médio. A grande maioria dos líderes organizacio- nais é do sexo masculino (77%), ante 23% de mulheres. Os entrevistados têm entre 25 e 56 anos de idade. O tempo mé- dio de permanência desse público nas empresas é de 12,95 anos, sendo que eles ficam em média 8,36 anos no cargo. Adotei nesse levantamento o modelo dos Cinco Gran- des Fatores, ou Big Five, como é mais conhecido, um instrumento psicológico construído para a avaliação da personalidade. Mas o que é personalidade? A persona- lidade é uma construção pessoal formada ao longo da A personalidade dos grandes líderes Por Simoni Missel Um novo perfil de liderança para o mundo corporativo do século 21 Raio X da lideRança Levantamento feito com 427 Líderes organizacionais de 249 empresas aponta o perfiL dos grandes Líderes do mundo corporativo • 73% possuem curso superior • 20% são pós-graduados • 7% têm somente o ensino médio • 12,95 anos – tempo médio de permanência nas empresas • 8,36 anos – tempo de experiência no cargo • 77% homens e 23% mulheres • Idade entre 25 e 56 anos Liderança Revista da esPM | setembro/outubro de 201236 vida e tem seus alicerces no meio social em que estamos inseridos, sendo também resultado de nossa história de vida, isto é, da forma como sentimos e interagimos com as nossas experiências. Um indivíduo pode agir e pensar diferentemente de outro em situações diversas, indican- do que o comportamento pode ser variável de pessoa para pessoa. As características de personalidade indicam uma dimensão das diferenças individuais e padrões de pensamento, sentimentos e ações do indivíduo. Dessa forma, cinco características de personalidade foram analisadas: socialização; extroversão; abertura às novas experiências; realização; e instabilidade emocional. Entre os perfis mais desenvolvidos nos líderes organi- zacionais, está a Socialização (m = 5,65 e DP = 0,48), que avalia a qualidade e o tipo das relações interpessoais dos líderes. O resultado apresentado indica uma boa capacidade de convivência social. Esse perfil é formado pelas características de personalidade: amabilidade, pró-sociabilidade e confiança nas pessoas. Em segundo lugar está a Realização (m = 5,46; DP = 0,61), que mede o grau de organização, pontualidade, persistência, controle e motivação, bem como motivação para o sucesso, perseverança, capacidade de planeja- mento de ações em função de uma meta. Esse perfil é formado pelas seguintes características de personali- dade: competência, ponderação e empenho. A terceira característica da personalidade com maio- res escores é a Extroversão (m = 4,77; DP = 0,70). Está relacionada ao modo como as pessoas interagem com os demais e indica o quanto elas são comunicativas, ativas, assertivas, responsivas e gregárias. No contex- to do trabalho e das organizações, essa característica tem se mostrado uma variável bastante valorizada. A extroversão está relacionada com uma tendência à lide- rança. É formada pelas características de personalidade: comunicação, altivez, dinamismo e interações sociais. A instabilidade emocional (m = 2,55; DP = 0,56) aparece como um dos perfis menos desenvolvidos nos líderes organizacionais. É um atributo relacionado às caracterís- ticas emocionais das pessoas. Também se refere à habili- dade de resiliência, habilidade de lidar com as diferenças entre os perfis mais desenvolvidos nos líderes organizacionais, está a socialização, que avalia a qualidade e o tipo das relações interpessoais dos líderes PeRfil do lídeR estudo aponta as características de Liderança mais marcantes no mercado brasiLeiro • seguir regras • ser persistente • sentir-se útil e cooperativo • ser comunicativo • ser ativo • ser assertivo • ser gregário • ser compreensivo e empático • ter atitude ativa na busca de objetivos • saber que é preciso fazer alguns sacrifícios pessoais para obter os resultados esperados • acreditar na sua capacidade para realizar atividades difíceis e importantes la ti ns to ck setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 37 individuais e como se comportam nessas situações. Esse dado aponta que os líderes estudados apresentam-se menos instáveis emocionalmente e costumam ter um controle emocional em momentos de tensão. As carac- terísticas de personalidade que compõem este perfil são: vulnerabilidade, passividade e depressão. Outra característica pouco desenvolvida entre o público pesquisado é a abertura às novas experiências (m = 4,60; DP = 0,58), que está relacionado à curiosidade e à importân- cia dada às novas experiências, tendo como características de personalidade: o interesse por novas ideias, o libera- lismo e a busca por novidades. Em uma época de culto à inovação, é importante observar tal resultado. Na área organizacional, isso significa que, quanto maior a abertura às novas experiências, menor o comprometimento com a organização. Esse resultado sugere que os líderes estuda- dos, apesar de serem cobrados por inovações, tendem a ser mais conservadores. As características de lideranças mais marcantes apontadas neste estudo foram: seguir regras; ser persis- tente; sentir-se útil e cooperativo; comunicativo; ativo; assertivo; gregário; compreensivo e empático; ter atitude ativa na busca de objetivos e consciência de que é preciso fazer alguns sacrifícios pessoais para obter os resultados esperados; e acreditar na sua capacidade para realizar atividades difíceis e importantes. Simoni Missel Diretora da Missel Capacitação Empresarial, executive coach, psicóloga, consultora de carreira e professora da ESPM as características de personalidade indicam uma dimensão das diferenças individuais e padrões de pensamento, sentimentos e ações do indivíduo la ti ns to ck gestão de pessoas Revista da esPM | setembro/outubro de 201238 Dizer que os funcionários são resistentes à mudança é talvez uma forma de defender o autoritarismo e a ausência de diálogocomo inevitáveis. Talvez isso só interesse aos detentores do poder nas organizações. Mas é possível fazer diferente S e tomarmos como ponto de partida a chegada do milênio, podemos dizer que, em todo o globo, as transformações foram profundas. Quem poderia imaginar que, em doze anos, a vida das pessoas seria transformada pela internet da forma como foi? Quem diria que o ensino a distância, incipiente na época, se tornaria algo comum e usado não somente por quem está longe, mas por quem não tem tempo a perder? E as redes sociais? Quem poderia prever que pessoas quisessem ser rastreadas num sábado à noite por meio do seu celular? E quem diria que alguém desejaria compartilhar cada passo da sua existência com um grupo de pessoas, a turma da sua rede social? Enfim, a tecnologia foi permeando nossa existência e alterando comportamentos. A comunicação pessoal se intensificou e se expandiu. A participação das pessoas ganhou status de verdade: o rádio-jornal da manhã deve ter talvez 40% do seu tempo dedicado às notícias do trânsito trazidas pelos ouvintes. Porém, se no plano pessoal tudo mudou, a sensação é que, nas empresas, o que tínhamos visto até a virada do milênio não se transformou com a mesma intensidade. A estrutura de poder continuou sendo predominantemente piramidal. A prática do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” é o modelo de gestão predominante, e a organização matricial foi “entortada” para comportar den- tro dela as formas do relacionamento piramidal. Embora estimuladas, as comunicações laterais são incipientes e, no plano das decisões, a chefia vertical conversa com a horizontal e decide o que as pessoas deverão fazer. As relações ficam dessa forma mais complexas. Quem está na linha de frente se sente agora com dois chefes, com uma autonomia ainda menor, olhando com descrença as sugestões das chamadas áreas-suporte que, por sua vez, não se sentem com autonomia suficiente para promover alterações nos processos da organização, tal como imagi- navam que deveriam fazer. Enquanto o diretor da linha de negócios debate cada decisão com o diretor da estrutura matricial de apoio, am- plos contingentes de pessoas, aquelas que estão em contato com clientes e que definem a real qualidade dos produtos e serviços, ouvem as reclamações, mas, para evitar que erros sejam cometidos e que terminem por perder seus empregos, preferem não mudar e não sugerir nada de novo, embora as informações sejam muitas e proveitosas. Ou melhor, seguem o protocolo sem avisar que há defasagem entre aquilo que o cliente deseja e o que a empresa oferece. As modernas organizações em rede, cuja estrutura se modificaria na medida da necessidade dos projetos, onde não existiria uma hierarquia formal, mas somente níveis de alçada para aprovar despesas e fazer investimentos, totalmente desconectados de uma estrutura organizacional fixa, permanecem talvez como uma utopia sempre prestes a se realizar, mas sem nunca se concretizar realmente. Ou seja, independentemente do tamanho, setor, origem do capital, tipo de negócio, as empresas mudaram muito pouco na primeira década do século 21. Haveria necessidade de ser diferente? Não sei. Porém é ampla a literatura que atribui a dificuldade em mudar à resistência das pessoas que estão espalhadas pela empresa, participando da comercialização e entrega dos produtos e serviços. Há inclusive afirmações de que os funcionários resistem, subvertem e entravam a mudança. Como pode essa afirmação ser verdadeira se foram justa- mente as pessoas mais desprovidas de poder, em especial as mais jovens, que melhor aceitaram as mudanças profundas trazidas pela tecnologia nas suas vidas? Para contribuir com a polêmica, gostaria de considerar que, ao contrário de ser alguém que evita a mudança de A ditadura do líder fo to : s hu tt er st oc k Por Célia Marcondes Ferraz setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 39 gestão de pessoas Revista da esPM | setembro/outubro de 201240 forma generalizada, as pessoas mudam todos os dias e incorporam, na sua forma de pensar e de entender o mun- do, as novidades advindas das experiências vividas, dos conhecimentos adquiridos, do convívio com o outro e, seja em casa ou na empresa, no plano profissional ou pessoal, aceitam as mudanças e reconhecem as diferenças. Pesquisas demostram que conhecimentos adquiridos nos cursos voltados ao desenvolvimento profissional nas empresas influenciam as ações no plano pessoal. Todos aqueles que conheceram os preceitos da qualidade total tentaram aplicar nas suas vidas o “faça certo da primeira vez”, ainda que isso contrarie a lei das probabilidades. Cursos que falam que as pessoas são diferentes porque têm personalidades distintas e, por essa razão, agem de forma diversa, contribuíram para trazer a paz entre pais e filhos, marido e mulher. Por que então imaginar que as pessoas resistem a fazer seu trabalho de outro modo? Ideologia é o conjunto de crenças e valores de um grupo, mas é, também, uma forma de agir que visa perpetuar verda- des que interessam apenas a determinadas pessoas. A ideo- logia é transmitida por meio da linguagem, dos rituais e dos mitos e faz parecer natural o que é regido por um interesse particular. Não seria a crença generalizada de que as pes- soas da linha resistem à mudança uma forma de preservar hierarquias e formas institucionalizadas de comando que são do interesse maior das chefias? Se os chefes acreditam que devem prosseguir nos modelos de gestão do passado, nada melhor do que dizer que as pessoas são resistentes e, portanto, se é preciso mudar, apesar delas, é necessário um rígido controle e quem não concorda é ameaçado com a perda do emprego. É dessa forma que o poder com base na intimidação se perpetua. As recomendações sobre novas formas de gerir pessoas trocam o controle por participação, inserem no dia a dia das organizações o envolvimento, trocam o comando puro e simples, o “faça isso faça aquilo” por sensibilização e compartilhamento. Instituem o autocontrole, ou seja, com regras claras e com transparência, é possível imaginar que as pessoas são perfeitamente capazes de se autogerirem de forma madura. O ponto de partida é acreditar que nem todas as pessoas são más, preguiçosas e não se importam com os problemas da empresa. Certamente há pessoas boas e más, há quem tenha sido educado segundo valores que defendem Não seria a crença generalizada de que as pessoas da linha resistem à mudança uma forma de preservar hierarquias e formas institucionalizadas de comando que são do interesse maior das chefias? sh ut te rs to ck setembro/outubro de 2012 | Revista da esPM 41 o cumprimento das promessas, reconhecem o valor de um emprego e a responsabilidade de uma função. E certamente haverá outras que agem diferentemente. Não se trata de negar um tipo ou outro, mas de não aceitar um modelo de gestão fechado apenas porque há pessoas desonestas e não comprometidas. O ganho quando se compartilham visões, conhecimen- tos, informações é tal, que não podemos defender a gestão hierarquizada e não participativa como necessária porque nem todas as pessoas merecem ter liberdade. Os estudos realizados pelo Great Place to Work Institute mostram, claramente, que as melhores empresas para se trabalhar apresentam retornos superiores para os acionistas. Ser um ótimo lugar para se trabalhar inclui respeito, confian- ça, regras claras e sempre cumpridas, além de orgulho de pertencer e da camaradagem. Ou seja, o clima e o estilo de gestão influenciam no retorno dos negócios. Voltando às chefias, hoje ninguém aprende na escola que, ao assumir uma função de supervisão, é preciso controlar pessoas com mão de ferro. Pelo contrário, em todos os progra- mas de gestão de pessoas se ensina
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