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Anotações Curso CERS 2013 Direito Civil - Mod. 01 - Aula 08

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AULA 8.1
NOVA TEORIA DOS ATOS ILÍCITOS
• A nova modelagem do ato ilícito no Código Civil
	- Ato ilícito é o ato desconforme o sistema jurídico. É o ato antijurídico.
- O CC/16 dizia que todo ato ilícito geraria responsabilidade civil (art. 159). Nesse sentido, o código sugeria a ideia de que toda responsabilidade civil provinha de ato ilícito. 
- No CC/2002, todavia, trabalha com a autonomia conceitual entre ato ilícito (CC, arts. 186 e 187) e responsabilidade civil (CC, art. 927).
	- Ato ilícito é violação da norma.
	- Responsabilidade civil é obrigação de reparar danos.
- O ato ilícito pode eventualmente gerar responsabilidade civil, e a responsabilidade civil também pode eventualmente emanar de um ato ilícito.
O contrário também é verdadeiro. O ato ilícito pode não gerar responsabilidade civil e a responsabilidade civil pode emanar de atos lícitos.
- Isso decorre da autonomia conceitual. Não há relação implicacional entre ato ilícito e responsabilidade civil.
- Do conceito previsto no art. 186, extrai-se os seguintes elementos caracterizadores do ato ilícito:
		- Conduta: comissiva ou omissiva;
- Culpa: diferente do direito penal, a culpa (lato sensu) abrange a um só tempo o dolo, a negligência, imperícia e imprudência;[1: Ato ilícito no direito penal é doloso. Só é culposo nos casos previsto em lei.]
		- Violação de norma jurídica; e 
		- Dano.
- O Dano integra o ato ilícito, mas nem todo ato ilícito implicará em responsabilidade civil.
• Os efeitos da ilicitude
	- Os efeitos devem sempre estar previstos na norma.
- Ex: ingratidão do donatário (CC, arts. 557 e 558) – é ato ilícito, pois a norma diz que o donatário não pode ser ingrato. Se ele for ingrato, o doador pode ajuizar ação de revogação da doação.
	- Esses efeitos podem ser:
		- Indenizante, 
- Caducificante, 
- Invalidante, 
- Autorizante,
- (...) – há uma infinitude de efeitos.
- Ex: pessoa vinha na contramão da direção e abalroou outro carro – efeito indenizante.
- Ex: exercício do poder familiar em que os pais aplicam aos filhos castigos imoderados – efeito caducificante (perda do poder familiar).
- Castigo imoderado aqui não se refere a violência grave. Diz respeito, p.ex., a castigo que o pai tira o filho da escola, a fim de repreendê-lo.
- Esta previsão está no CC, porém o prof. acha que deveria estar no ECA.
- Ex: transporte de substância entorpecente – efeitos invalidante. O transportador não pode executar o valor do transporte, pois o contrato é nulo (objeto ilícito).
	
* Veja dos exemplos acima que nem todo ato ilícito gera responsabilidade civil. 
- Nem todo dano é indenizável, apesar de constituir elemento do ato ilícito.
	* Aplicação prática:
- (MP/SP) O ato ilícito produz efeitos jurídicos? Por quê?
	- Produz efeitos de diversas naturezas. Depende da norma.
- (TJ/SC, 2003) Assinale a alternativa correta: 
a) o ato ilícito é fato jurídico; 
b) o ato ilícito é ato jurídico volitivo; 
	- Não necessariamente volitivo
c) o ato ilícito é ato jurídico inconsciente; 
	- É voluntário.
d) não há qualquer distinção técnica entre ato ilícito e ato jurídico; 
	- Ato ilícito é fato jurídico. Não é fato jurídico stricto sensu.
e) nenhuma das opções é correta.
GABARITO - A
	 
• Excludentes de atos ilícitos
	- As excludentes de ilicitude estão presentes no art. 188 do CC.
	- São 3:
		1) Exercício regular de direito;
		2) Legítima defesa;
- No REsp.513.891/RJ, o STJ entende que no direito civil a legítima defesa é somente a própria, não se admitindo a legitima defesa putativa e de 3º.
Logo a legitima defesa putativa e de 3º não excluem a responsabilidade.
		3) Estado de necessidade (CC, art. 188, II).
- Exclui a ilicitude, mas não necessariamente exclui a responsabilidade civil.
* Estrito cumprimento de dever legal não está expresso, porém autores, como Carlos Roberto Gonçalves, sustentam que estaria incluso no Exercício regular de direito.
AULA 8.2
* No REsp.789.883/MG, o STJ afirma que o Estado de necessidade, malgrado exclua a ilicitude pode gerar responsabilidade civil.
- Essa é a prova de que os conceitos de ato ilícito e responsabilidade civil não se confundem.
- Ex: Cristiano está transitando em rodovia quando se depara com carro na contramão vindo em sua direção.
Para não causar uma colisão frontal, que seria muito grave e colocaria sua vida em risco. Cristiano sai da pista e acaba colidindo com o muro de uma casa, que vem a ser destruído.
* OBS: Incidem no caso os arts. 929 e 930 do CC. Esses 2 artigos estabelecem que se o bem jurídico sacrificado em Estado de necessidade pertencia ao causador do perigo, o ato é lícito e não haverá responsabilidade civil.
Mas se o bem jurídico pertencia a um 3º, muito embora o ato continue sendo lícito, haverá responsabilidade civil, com direito de regresso ao causador do perigo.
* Questão: O STJ vem discutindo se é possível ou não indenizar o abandono efetivo. A 3ª Turma diz que sim, enquanto a 4ª Turma diz que não. Estamos ainda aguardando o julgamento dos Embargos de Divergência.
Se nos Embargos de Divergência o STJ concluir que não cabe indenização, vamos ter um ato ilícito que não gera responsabilidade.[2: A Constituição diz que os pais devem dar a seus filhos assistência moral e material.]
* Aplicação prática:
- (TJ/TO, 1996) O estado de necessidade e a legítima defesa excluem sempre a responsabilidade do autor do ato ilícito? Fundamente.
		- A legitima defesa (própria) exclui sim o ato ilícito e a responsabilidade.
- O estado de necessidade exclui o ato ilícito, mas não necessariamente a responsabilidade civil.
- (TJ/SP, 2005) Relativamente ao estado de necessidade, como excludente do ato ilícito, estabelece o art. 188, II e Parágrafo Único, do Código Civil: não constituem atos ilícitos: II – a deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Sobre esse tema, assinale a alternativa correta: 
a) se a pessoa lesada ou o dono da coisa não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo sofrido, a despeito de o causador ter agido em estado de necessidade e constituir este excludente de ilicitude; 
b) no caso de dano pessoal ou morte da pessoa, com absolvição criminal definitiva com fundamento em estado de necessidade, ainda que a vítima ou o lesado não sejam culpados pelo perigo, o causador da lesão ou morte não responde civilmente; 
- Se a vítima não foi o causador do dano, terá direito de indenização do causador da lesão.
c) no caso de estado de necessidade, porque o fato não constitui, por expressa disposição legal, ato ilícito, não se pode cogitar, em nenhuma hipótese, de indenização em favor de quem quer que seja;
 d) o estado de necessidade pode ser alegado em qualquer fase e em qualquer grau de jurisdição, mas sendo um direito personalíssimo daquele que atua no sentido da norma legal, isto é, destruição de coisa alheia ou lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente, não se transmite a seus herdeiros no caso de falecimento.
		- Há transmissão aos herdeiros – art. 943 do CC.
GABARITO - A
• O novo conceito de ato ilícito: o abuso do direito
- O CC não se satisfez com o conceito tradicional de ato ilícito. Além do clássico conceito de ilicitude, o CC criou um novo modelo de ato ilícito, o abuso de direito (CC, art. 187).[3: Fundado na culpa (lato sensu).]
- É comportamental, pois não decorre de culpa. Assim, a culpa não é elemento desse novo modelo de ato ilícito.
- Esse novo modelo se caracteriza por:
		- Exercício excessivo/abusivo de um direito;
- Violação funcional: trata-se da violação da finalidade econômica ou social, boa-fé e bons costumes.
* Em suma, temos então 2 modelos de ato ilícito
1) Subjetivo (CC, art. 186): baseado na culpa (violação de uma norma culposamente).
		- O ato nasce ilícito e morre ilícito.
		- Baseado no elemento culpa. Gera Responsabilidade Subjetiva.
2) Objetivo/Abuso do Direito (CC, art. 187): funcional (critério finalístico), baseado na violação da finalidadeeconômica ou social, boa-fé e bons costumes.
	- O ato nasce lícito, mas, no exercício, se tornou ilícito.
	Torna-se ilícito pelo comportamento do titular.
	- Não depende de culpa. Gera Responsabilidade Objetiva.
- Jornada 37: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”.
			- Baseado no elemento confiança.
* Diz que a gênese do abuso de direito é aberta e depende do caso concreto, pois somente casuisticamente se pode analisar se houve violação da função econômica ou social, boa-fé e bons costumes.
- Os conceitos de função econômica ou social, boa-fé e bons costumes são conceitos abertos.
- Diferentemente, o ato ilícito subjetivo é fechado, pois “violar a norma” é conceito estrito.
- Pode ser que o mesmo comportamento para duas pessoas diferentes seja lícito para uma e ilícito para outra.
- Ex: Pais no exercício do poder familiar proíbem a visita dos tios aos seus filhos. Ai pode-se dizer que há abuso de direito, pois há violação dos costumes.
- Se no lugar dos tios, fosse os avós, haveria ato ilícito subjetivo, pois é previstos em lei o direito dos avós de verem os netos.
- Ex: Sócio majoritário de uma limitada aprova um aumento de capital social desnecessário, sabendo que o sócio minoritário passa por dificuldades financeiras, e não terá como integralizar esse aumento. Se o aumento for efetivado, o sócio minoritário que possuía pequena parte da empresa, passa a ter menos ainda. Há aqui abuso de direito.
- Para prof., o CC, no art. 187, não deveria ter aludido a bons costumes, pois em um país com tantas desigualdades sociais e econômicas não é razoável falar em bons costumes.
	- É complicado definir o que é bons costumes.
- Além disso, é difícil perguntar o que é bons costumes àquela pessoa que passa necessidade e não teve acesso formação intelectual.
	
AULA 8.3
- O conceito de abuso de direito aplica-se aos diversos ramos do direito.
	- Ex: abuso de direito pela administração – direito administrativo.
- No campo dos direitos reais, é comum o CC chamar o abuso de direito de “Ato Emulativo”.
* Efeitos do abuso de direito.
- São os mesmos efeitos que decorrem do ato ilícito subjetivo, ou seja, pode ser:
- Indenizante, 
- Caducificante, 
- Invalidante, 
- Autorizante,
- (...) – entre outros efeitos.
- Lembrando que a culpa não integra o abuso de direito, se ocorrer eventualmente indenização, essa responsabilidade será objetiva.
- Jornada 37: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”.
* Aplicação prática:
- (TRF-5a Região/11) A configuração do abuso do direito exige o elemento subjetivo - F
- (TJ/MG, 2005) Abuso no exercício do direito: caracterização – conseqüências – exemplos.
- (DPOL/MG, 2003) O abuso do direito e o ato ilícito, doutrinariamente, identificam-se ou se diferenciam? Justifique a sua resposta.
- Se aproxima e se repelem. 
Se aproximam porque o abuso de direito é um tipo de ato ilícito.
Se afastam, pois existem dois modelos de ato lícito comum (subjetivo), do art. 186, baseado na culpa, e o abuso de direito (objetivo), baseado em critério finalístico.
- (XVI Concurso TRT – 6ª Região/PE) Em que situações o direito brasileiro admite a responsabilidade civil pelo dano lícito?
- Nas situações de estado de necessidade em que o dano é casado a 3º.
- (TRT – 3ª Região/MG, 2005) A partir do conceito de ato ilícito, distinguir as categorias da antijuridicidade disciplinadas no Código Civil de 2002 quanto à estrutura, aos critérios de identificação e às sanções aplicáveis.
	- Categorias: subjetiva (CC, art. 186) e objetiva (CC, art. 187).
	- Estrutura: subjetiva (culpa) e objetiva (finalistica).
- Identificação: subjetiva (violação da norma) e objetiva (exercício irregular de direito).
- Efeitos: subjetiva (Responsabilidade Subjetiva) e objetiva (Responsabilidade Objetiva).
- (TJ/MG, 2007) O abuso do direito acha-se incluído na categoria dos atos ilícitos pelo Código Civil de 2002. A ilicitude diz respeito à infringência de norma legal. Assim, é correto que, para a caracterização do abuso do direito, o Código Civil considera que: 
a) é imprescindível a noção de culpa; 
b) deve estar presente o dolo; 
c) é dispensável a análise da boa-fé objetiva; 
d) basta o critério objetivo-finalístico.
GABARITO - D
• Figuras parcelares do abuso do direito
- A conduta (comissiva ou omissiva) no abuso de direito tem uma grande plasticidade.
Certa conduta que para uma pessoa não foi abusiva, para outra pode ser.
Sabendo disso, a doutrina e a jurisprudência começaram a propor algumas figuras parcelares do abuso de direito, ou seja, passaram a perceber a necessidade de estabelecer o reconhecimento do abuso em determinadas condutas.
- A doutrina e jurisprudência não pretenderam estabelecer, aprioristicamente, todos os casos de abuso (o que seria impossível), mas sim algumas situações comuns em que o abuso está presente.
a) venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório). Teoria dos atos próprios.
		- Composto por 2 atos em sequência:
			1º) Comissivo ou Omissivo;
			2º) Necessariamente Comissivo.
			* Estes 2 atos isoladamente observados, seriam atos lícitos. 
Contudo, o 2º ato pode se torna ilícito em razão da confiança despertada no 1º ato.
- Ex: RE 86.787/RS – Havia uma mulher rica que tinha 30 anos a mais que o seu parceiro.
Ela queria casar, mas a família não aprovava por desconfiar das intenções no noivo.
Para fugir da pressão da família, o casal decidiu casar em segredo no Uruguai, onde o regime é o de separação de bens. Contudo, ao requererem a homologação do casamento no Brasil, o regime foi alterado para o de comunhão universal de bens.
Com o passar dos anos de casamento, ela fez uma doação ao cônjuge com a qual ele montou uma empresa para prestar serviços às empresas pertencentes a esposa. 
Porém, o negócio não deu certo e empresa faliu, gerando várias execuções contra a mesma.
Nesse cenário, como o marido estava insolvente, tentaram os credores executar a esposa.
O marido aduziu que a esposa não poderia ser executada, pois o regime era de separação de bens. Para provar isso, juntou a certidão de casamento do Uruguai.
Tempos depois, o marido, sem ocupação, começou a carreira de ator de filmes pornográficos, o que não agradou a esposa. 
Assim, a esposa decidiu pedir o divórcio com separação de bens.
O marido aceitou o divórcio, porém exigia metade dos bens sob o argumento de que o casamento foi homologado no Brasil no regime de comunhão universal de bens.
No caso, o STF decidiu que o marido se comportou de forma contraditória, pois para escapar de cobrança admitiu que o casamento era no regime de separação, enquanto para se divorcia alegava que o era no regime de comunhão universal. Como ele gerou anteriormente a expectativa de que estava casado no regime de separação, o STF decidiu que valia este regime.
- Ex: REsp.95.539/SP – Casal decidiu vender imóvel que estava em nome de ambos.
Vendido o imóvel, o dinheiro foi depositado na conta conjunta do casal e foi assinado promessa de compra e venda e emitida posse do imóvel ao comprador.
Com a posse, o comprador começou a construir no imóvel, porém a edificação violava as regras municipais, o que ocasionou o embargo da obra pela Prefeitura.
Contudo, mesmo com o embargo, o novo possuidor não parou a obra, o que levou a Prefeitura a ir para justiça pedindo a paralisação da obra e indenização.
Como foi somente emitida a posse, quem conta do registro é o casal. Assim a ação foi movida contra este casal.
O casal se defendeu dizendo que já tinha vendido o imóvel, juntando à contestação a promessa de compra e venda do imóvel. Além disso, denunciaram a lide aduzindo que se houver indenização querem direito de regresso em face do comprado.
Posteriormente, a mulher moveu ação de anulação de compra e venda, por falta de sua outorga. Nesta ação, contudo, o STJ não reconheceuo pleito, haja vista que ela poderia aduzir que não consentiu se não tivesse recebido dinheiro em conta conjunta, contestado na ação movida pelo Município e denunciado a lide requerendo direito de regresso. Trata-se, portanto, de comportamento contraditório.
* Recentemente o STJ mudou a sua jurisprudência sobre a Teoria dos Atos Próprios.[4: A mudança de jurisprudência é conhecida como “Overruling”.]
No caso, o executado espontaneamente oferece o seu bem de família a penhora. Veja-se que não foi o juiz que mandou penhorar, mas foi atitude do próprio executado.
Depois de utilizar toda a cognição que lhe é possível (embargos, anulatória, exceção de pré-executividade) e perder tudo, na hora da adjudicação o executado alega que trata-se de bem de família, logo não pode ser penhorado.
O STJ diz que isso é comportamento contraditório. Se era bem de família, ele deveria ter alegado antes.
- Ex: REsp.524.811/CE – o STJ vem reconhecendo a aplicação da Teoria dos Atos Próprios no campo do direito público (direito administrativo), gerando uma mitigação da supremacia do interesse público
- Outros precedentes: REsp.857.769/PE (duplicata endossada apesar de nula); 
MS 25.742AgR/DF (caso do agravo regimental contra decisão homologatória de desistência de MS);
* Aplicação prática:
- (TRF-5a Região/11) De acordo com o STJ, a teoria dos atos próprios não se aplica ao Poder Público – Falso. REsp.524.811/CE.
- (TRF-5a Região/11) O venire contra factum proprium não se configura ante comportamento omissivo – Falso.
AULA 8.4
	b) Supressio (Verwirkung) / Surrectio (Erwirkung).
- Constituem uma variável do venire contra factum proprium.
- Neles também há uma sequência composta de 2 atos:
		1º) Necessariamente Omissivo; e
		2º) Necessariamente Comissivo.
* Essa sequência não trás como divergência a quebra da confiança, mas sim uma omissão qualificada pelo tempo entre os dois atos.
- Uma omissão qualificada pelo tempo que faz com que o 2º ato, que normalmente seria lícito, se torne ilícito.
- Supressio é a supressão da possibilidade de exercer uma conduta por conta de uma omissão qualificada pelo tempo.
- nada tem haver com prescrição, decadência, preclusão, perempção. Estes são institutos materiais e processuais que convivem harmonicamente com a Supressio.
		- Supressio é para o titular. Surrectio é para 3º.
- O titular tem direito suprimido (Supressio) e o 3º tem o surgimento de direito (Surrectio).
- A omissão qualificada pelo tempo reprime do titular (Supressio) ou 3º (Surrectio) a possibilidade de exercer um direito, pois houve violação da boa-fé.
- O STJ tem jurisprudência farta sobre Supressio e Surrectio.
- Ex: REsp. 356.821/RJ; REsp.214.680/SP – caso dos condomínios edilícios. 
Área comum de condomínio não pode ser usucapida.
No caso do RJ, o condômino permitiu que um dos condôminos assumisse as despesas e cuidasse de terreno vazio pertencente ao condomínio.
Trinta anos depois, o condômino resolver exigir o terreno.
Nesse caso, o STJ reconheceu que não há usucapião de área comum de condomínio, porém reconheceu também que houve Supressio, pois a omissão do condomínio de tomar de volta a área criou a expectativa no condômino.
- Ex: art. 330 do CC – se porventura dois sujeitos têm um contrato que prevê que o pagamento deve ser feito no domicílio do credor, e este credor se abstém do cumprimento desta cláusula por longo período de tempo, recebendo, assim, os pagamentos no domicílio do devedor, tem esse credor suprimido o direito de exigir o pagamento em seu domicílio. 
		- Supressio para o credor.
		- Surrectio para o devedor.
		- A palavra “reiteradamente” é a mais importante no art. 330.
Quer dizer que não é uma omissão qualquer, mas um omissão qualificada no tempo.
		
		* Aplicação prática:
- (MP/MG, 2003) Marli Durant, condômina do Edifício Dijon, propõe em face de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves, ação cominatória. Alega que esses condôminos ocupam parte do corredor de circulação do Edifício, infringindo a lei e a convenção, por se tratar de área de uso comum. Contestando o pedido, Adelino Moreira sustenta a ocorrência de usucapião, exibindo a ata da assembléia geral que autorizou, por maioria dos presentes, a ocupação da área por ambos os réus, há exatamente vinte anos e um mês. Nelson Gonçalves, na sua defesa, argúi que a ação da autora está prescrita e, mesmo que não estivesse, o fato narrado constitui hipótese de exercício inadmissível do direito, invocando em seu favor o instituto da supressio. Na impugnação, a autora disse que, além de ser impossível usucapião de coisa comum, a ação não estava prescrita e a espécie não configura Verwirkung. Levando em consideração que a autora é menor de dez anos de idade que se tornou condômina por falecimento do seu pai, responda: a) quais os elementos caracterizadores da supressio ou Verwirkung; b) há princípio positivado no direito brasileiro que permita o seu acolhimento? Explicite e fundamente a sua existência ou inexistência; c) o caso pode ser resolvido à luz daquele instituto? Por quê?; d) deve ser acolhida a exceção de usucapião ou da prescrição da pretensão? Por quê?
- Área comum de condomínio não pode ser usucapida.
	- Nesse caso, a ação Cominatória é imprescritível.
- O fato de a autora ser menor de 10 anos diz respeito a não correr prescrição contra o absolutamente incapaz. Logo, não vai correr usucapião.
- O elemento da supressio é a omissão qualificada pelo tempo, em que há uma sequência de 2 atos, omissivo e comissivo.
- Está positivado no abuso de direito (CC, art. 187), cujo princ. relacionado é a boa-fé objetiva.
- (TRF-5a Região/11) A supressio pode coexistir com os prazos legais da decadência.
- Verdadeiro. Um não elimina o outro. São fundamentos diferentes.
	c) tu quoque ou estoppel.
		- tu quoque é uma abreviação da expressão conhecida como “até tu Brutus”.
- O tu quoque também é uma sequência composta de 2 atos que caracterizam uma figura parcelada do abuso de direito.
- A sequência é compostas pelos seguintes atos:
		1º) Ato ilícito subjetivo (baseado na culpa – art. 186 do CC); e
		2º) Seria lícito, se não fosse antecedido pelo 1º ilícito.
- Ex: exceptio non adimplenti contractus (exceção do contrato não cumprido). 
Na celebração de contrato entre Cristiano e João, é direitode Cristiano exigir que João cumpra as suas obrigações, e vice versa.
Contudo, se Cristiano descumprir as suas obrigações (ato ilícito), não pode ele exigir que João cumpra as obrigações que lhe foram impostas. Se o fizer, estará praticando outro ato ilícito, o qual seria lícito se não houvesse o inadimplemento de Cristiano.
- Ex: arts. 588 e 589 do CC – consagram a figura do “Senatus Consulto Macedoniano” – proíbe a cobrança de empréstimo feito a menor.[5: Dizem que quem cunhou isso foi um suposto senador macedo no Império romano. Parece que o filho menor desse senador teria tomado empréstimo, e, como não conseguiu adimplir a dívida, acabo cometendo suicídio.]
O art. 589, todavia, cessa a proibição se o menor maliciosamente escondeu a sua idade (inciso V).
Portanto, o mutuário (menor) comente primeiro ato ilícito ao esconder a idade. Depois, o mesmo tenta praticar ato lícito, de não estar obrigada a pagar o empréstimo por ser menor, nos termos do art. 588 do CC.
Claramente que esse segundo ato é abusivo, caracterizando o tu quoque.
	d) duty to mitigate the loss.
		- Em português, é o dever de mitigar as próprias perdas.
- O Enunciado 169 da Jornada de Direito Civil consagra o duty to mitigate the loss como um figura de abuso de direito.
- É o abuso do direito de ser credor. 
O credor abusa de sua posição quando deixa de praticar uma conduta que terminaria favorecendo o cumprimento de uma obrigação.
- Ex: Súmula 309 do STJ – cuida da execução de alimentos – permite a execução com prisão civil somente os 3 meses antecedentes à propositura da execução e os meses vincendos dentro do processo.
A prescrição da pretensão de alimentos é de 2 anos.
Se o devedor não está pagando e o credor espera atéo limite do prazo para executar o débito com o fim de ameaçá-lo de prisão, há aqui uma situação de abuso de direito.
Por isso a súmula diz que só é possível a prisão pelos 3 meses antecedentes à propositura da ação. [6: Esperar por mais de 3 meses para cobrar alimentos é um comportamento abusivo do credor. Executar cedo constitui comportamento coerente do credor em direção ao adimplemento da obrigação. Esperar o acumulo de prestações indicam que o propósito do credor é levar o devedor a prisão, e não ao adimplemento do obrigação.]
- Ex: Limitação de execução de astreintes (multa diária): O STJ vem afirmando que as astreites fixadas no processo não podem se avolumar, pois as mesmas são inibitórias (fazer com que o devedor cumpra obrigação).
Assim, se a multa se tornar excessiva por uma omissão do credor de informar ao juiz, o STJ afirma que o juiz deve reduzir a multa.
	e) substancial performance
- Conhecido também como “Adimplemento Substancial” ou “Inadimplemento Mínimo”.
- O STJ tem vários precedentes: REsp.272.739/MG e REsp.293.722/SP.
- É o abuso do direito de requerer a resolução de um contrato.
- É direito de a parte exigir a resolução do contrato quando a outra inadimplir (CC, art. 475).
- Entretanto, se o inadimplemento foi mínimo, mostra-se abusivo requerer a resolução do contrato.
- Ex: sujeito financia carro em 24 parcelas e conseguiu pagar 22.
Por ter perdido o emprego, o contratante não conseguiu pagar a 2 últimas parcelas.
Nessa situação, o banco exige a resolução do contrato, em que será recolhido o carro e devolvido o dinheiro ao comprador.
Ao devolver o dinheiro, porém, o banco exige alguns abatimentos, como: juros, correção, multa, honorários, custas e ainda o aluguel do carro. Assim, na prática, o devedor vai devolver o carro e ainda vai continuar devendo ao banco.
Nessas situações, o STJ diz que trata-se de inadimplemento mínimo, logo é abuso de direito requerer a resolução do contrato.
- Está vedado ao credor exigir a resolução do contrato, mas não está proibido de executar as parcelas inadimplidas.
	- Busca evitar enriquecimento sem causa.
	f) violação positiva de contrato
- No REsp.330.261/SC, o STJ consagra que é abuso de direito a violação positiva de contrato.
- Significa o abuso de direito no cumprimento de uma obrigação.
É certo que ao cumprir uma obrigação, o devedor deve atuar com a boa-fé objetiva. Se, ao cumprir uma obrigação, o devedor viola os deveres anexos, ele pratica um ato ilícito (violação positiva).
- Chama-se de violação positiva porque não é o descumprimento de uma obrigação contratual, a qual ele cumpre, mas a violação dos deveres anexos.
- Ex: Empresa foi contratada para fixar 20 placas de outdoor de um produto destinado à classe A pela cidade de São Paulo
Contudo, a empresa fixa as placas na periferia e subúrbio da cidade.
Nesse caso, a empresa cumpriu o contrato, mas descumpriu a boa-fé objetiva.

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