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Anotações Curso CERS 2013 Direito Civil - Mod. 01 - Aula 14

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AULA 14.1
RESPONSABILIDADE CIVIL (CONTINUAÇÃO)
• Os pressupostos clássicos da responsabilidade civil e a erosão dos filtros tradicionais (mitigação dos conceitos clássicos de dano e de nexo causal).
- Os clássicos pressupostos da responsabilidade civil são Conduta (Ver anotações da Aula 13), culpa, dano e nexo de causalidade.
		- Nos casos de Responsabilidade Objetiva, dispensa-se a culpa.
- Reconhecimento da importância do dano. Consequentemente, houve um aumento das hipóteses de dano indenizável.
- Ex: perda de chance; dano estético; ... (novas categorias de dano indenizável).
- Houve uma relativização do nexo causal. Foi conferida uma certa suavidade em determinados caso, a fim de que situações não ficassem sem tutela.
		- Ex: dano em ricochete; perda de chance; ...
• A culpa
	- O direito civil trabalha com uma categoria de culpa distinta do direito penal.
- Para o direito civil, utiliza-se um conceito de culpa lato sensu, isto é, abrange a um só tempo o dolo, a negligência, a imprudência e a imperícia.
- Para quase todas as matérias de direito, salvo o direito penal, culpa e dolo são expressões sinônimas, porque ambos revelam o elemento subjetivo.
- No direito penal, a regra é o dolo, permitindo os casos de culpa quando previstos em lei.
- A culpa não será discutida nos casos de Responsabilidade Objetiva, previstos em lei ou determinados por decisão judicial.
* OBS: Nos casos de responsabilidade objetiva não se discute a culpa do agente. Porém, é possível se discutir a culpa da vítima, até porque a sua culpa pode ser exclusiva e, por conseguinte, eliminar a responsabilidade civil.
- O ônus da prova da culpa cabe a vítima, salvo nos casos em que a lei inverte o ônus da prova (casos de culpa presumida).
- Ex: Culpa presumida na Responsabilidade Contratual (Ver anotações da Aula 13).
	- Culpa Concorrente ≠ Culpa Exclusiva da vítima.
		- A diferença é importante porque, a depender do caso, o efeito será distinto.
- A Culpa concorrente gera a diminuição proporcional do quantum indenizatório. Nela, a vítima e o autor do fato contribuíram para o resultado (evento danoso).
- A Culpa exclusiva da vítima o agente não colaborou. A conduta da vítima foi a única causa determinante para o resultado danoso. Nesse caso, elimina-se a responsabilidade civil pela inexistência de nexo de causalidade.
* OBS: o STJ vem admitindo a discussão sobre culpa concorrente e culpa exclusiva nos casos de Responsabilidade Objetiva. Isso porque, entende a Corte que, nas hipóteses de responsabilidade objetiva, não se discute a culpa do agente, mas é possível aferir o grau de culpa da vítima.
- Ex: Na relação de consumo, é possível se discutir o grau de culpa do consumidor, o que não se admite é a discussão da culpa do fornecedor (responsabilidade objetiva).
- Não se pode confundir culpa concorrente com “Redução Equitativa da Indenização”.
- A Redução Equitativa da Indenização vem do art. 944, parágrafo único, do CC. Esse dispositivo permite ao juiz, de ofício, reduzir equitativamente a indenização, quando houver uma desproporção manifesta entre o grau de culpa e a extensão do dano.
- Situação em que a culpa é leve ou levíssima, embora o dano seja extenso.
- Ex: situação em que uma pessoa andando de bicicleta esbarra acidentalmente em uma Banca de acarajé e desencadeia um incêndio várias bancas de comerciantes ao redor.
- Na Redução Equitativa da Indenização, a culpa do agente é única. Já na Culpa concorrente, tanto agente quanto vítima contribuem para o resultado danoso.
- São coisas diferentes e produzem efeitos também diversos.
- Culpa contra legalidade.[1: Prof. aduz que melhor seria denominar de “Culpa contra a normatividade”.]
	- Não encontrada no ordenamento. Figura jurídica criada pela jurisprudência.
	- Ver obra de Sérgio Cavalieri.
- Ocorre quando a conduta do agente consiste na violação de uma norma. Nesse caso, presume-se a culpa do agente.
	- Trata-se de presunção relativa.
- Ex: Responsabilidade civil automobilística – Aquele que dirige acima da velocidade permitida, na contramão de direção ou sem habilitação está violando a norma de trânsito, e, portanto, é presumidamente culpado.
- Nas autoescolas, aprendemos que bate na traseira é culpado, porque não manteve a distância regulamentar exigida.
• O dano como novo referencial da responsabilidade civil (Direito dos Danos).
- Dano é o novo referencial da responsabilidade civil. Por isso que alguns países, como a Argentina, deixam de chamar a matéria de responsabilidade civil para chamar de Direito dos Danos.
- O movimento de Constitucionalização do direito civil mudou o elemento central da responsabilidade civil da culpa para o dano.
- Se a responsabilidade civil estivesse baseada exclusivamente na culpa, nem sempre conseguíamos garantir o dever de indenizar, pois, na prática, é difícil provar a culpa. Por isso adveio o aumento das hipóteses de responsabilidade objetiva.
- Reconheceu-se outras formas de dano indenizáveis (Danos Injustos). Além do dano moral e patrimonial, agora há o dano estético, dano à imagem, dano pela perda de tempo útil, dano pela frustração das férias, dano à vida sexual, dano por perda de chance, ...[2: Caso de agência de turismo que vende pacote que posteriormente acaba se frustrando.]
- Ex: Em caso na França, um sujeito, ao ser submetido a cirurgia, acaba ficando impotente em decorrência de erro médico.
No caso, o sujeito entrou com ação em face do médico requerendo indenização, na qual é arbitrado dano moral e patrimonial (tratamento e medicamentos).
Mas além dele, a esposa do sujeito ajuíza ação contra o médico, sob o fundamento de que também sofreu um dano indenizável. Esse dano, todavia, não é moral, haja vista que a personalidade atingida foi a do marido, a qual já foi reparada na outra ação. Muito menos é dano patrimonial.
Na verdade, a esposa sofreu um dano injusto que merece reparação. Mas a que título seria esse dano?
A jurisprudência reconheceu o direito de reparação da esposa e fixou esse dano como frustração de vida sexual (dano à vida de relacionamento).
- Ex: Na Alemanha, um sujeito, sabendo que iria ficar estéril em recorrência de um tratamento, resolveu congelar seu sêmen.
Posteriormente, realmente ficando estéril, decidiu o sujeito ter um filho. Assim, foi com a esposa até a clínica de fertilização, porém descobriu que a clínica havia perdido o seu sêmen que havia sido guardado. Logo, perdeu a chance de ter um filho biológico.
No caso, houve um dano patrimonial em decorrência do dinheiro investido na guarda do material genético. Já dano moral não existiu, pois não foi violado nenhum direito da sua personalidade.
A Corte Alemã reconheceu que não era dano moral, mas um dano autônomo, que merece indenização.
- No Brasil, já há precedentes reconhecendo outras formas de danos indenizáveis.
- No REsp 788.459/BA, o STJ reconhece a indenizabilidade da perda de uma chance. 
A perda de uma chance é a subtração de uma oportunidade. Nela não há o juízo de certeza, mas sim um juízo de probabilidade. Entretanto, se a situação concreta dizer respeito a um juízo de convicção (certeza), não se trata de perda de uma chance, mas de lucros cessantes.
Trata-se a decisão do STJ do famoso caso do Show do Milhão, em que uma participante do programa descobriu que a questão do milhão, a qual deixou de responder, não tinha a resposta certa entre as opções apresentadas pelo apresentador. 
Como a participante ganhou apenas R$ 500 mil por não ter respondido a questão, a mesma ajuizou ação requerendo os outros R$ 500 mil, haja vista que a questão deveria ser anulada por não ter resposta certa. Contudo, a emissora alegou que a participante não merecia os R$ 500 mil, pois não tinha certeza que acertaria a questão.
Nesse caso, o STJ aduziu que, como não havia certeza quanto ao ganho dos R$ 500 mil, não tratava-se de lucro cessante, logo não tinha direito aos R$ 500 mil.
Como a questão apresentava 4 opções, o STJ entendeu que a participante tinha ¼ de chance de acertar a questão. Assim,a Corte aplicou a tese da perda de uma chance, estabelecendo que a participante tinha direito a ¼ de R$ 500 mil, ou seja, R$ 125 mil.
	
	- Supera-se a clássica dualidade entre Dano Moral x Dano Patrimonial.
- Antigamente, tudo que não era dano patrimonial acabava qualificado como dano moral.
Em razão disso houve uma banalização do dano moral, o que nas palavras de Calmon de Passos gerou uma verdadeira “indústria do dano moral”.
AULA 14.2
- Possibilidade de cumulação de danos autônomos.
- Ex: Indenização por homicídio (CC, art. 948) – são devidos por morte de parente: dano emergente (tratamento e funeral), lucros cessantes (alimentos) e outras despesas (dano moral, p.ex.) 
		- Não importa se o homicídio é culposo ou doloso.
• O dano patrimonial (ou dano material).
	- É a violação do patrimônio de alguém.
	- Divide-se em 2 categorias:
		1) Dano emergente: perda do patrimônio já adquirido.
- Ex: Batida em carro do taxista – reparação de para-choque amassado é dano emergente.
- Baseia-se na “restitutio in integrum” (restituição integral). 
Significa que se o patrimônio que foi extraído foi de 10, deve ser reposto 10. 9 não é restituição integral e 11 é enriquecimento sem causa.
		2) Lucros cessantes: perda do patrimônio que seria adquirido.
- Ex: Batida em carro do taxista – 3 dias de manutenção em que o taxista ficou sem remuneração.
- Estão baseados no Juízo de Certeza, logo é aquilo que a parte certamente teria.
- Contrapõe-se perda de chance, em que a expectativa é baseada em Juízo de Probabilidade.
- A lógica do “restitutio in integrum” (restituição integral) não tem aplicação nos lucros cessantes, pois estes são incertos.
Assim, os lucros cessantes se submetem à Razoabilidade. 
-Lucros cessantes não são hipotéticos ou imaginários. Não é aquilo que o parte acha que teria, mas sim aquilo que efetivamente teria dentro de um juízo de razoabilidade. 
- Ex: uma rua comercial na BA teve que ficar 3 meses interditada por causa de obras.
Em decorrência desse fato, a lojas demandaram a Prefeitura requerendo os lucros que perderam nesses meses.
No caso, não seria razoável uma loja requerer um lucro maior que o ano passado pelo simples argumento de que estava esse ano se esforçando mais.
Contudo, se a mesma loja alegasse que teria um lucro maio que o ano passado em decorrência dos investimentos em publicidade que fez esse ano, ai já haveria uma argumento mais razoável para ter um aumento na indenização dos lucros cessantes.
• O dano extrapatrimonial (moral).
	- É a violação da personalidade (direitos da personalidade).
- Os direitos da personalidade estão sustentados pela cláusula geral de dignidade humana.
-Historicamente, não se admitia a indenização por dano moral. 
O CC/16 tinha uma verdadeira obsessão pelo dano material, e, por conseguinte, não reconhecia o dano moral. Inclusive, até mesmo hipóteses que constituiriam dano moral, o CC/16 chamava de dano material.
- Ex: O art. 1548, III, do CC/16 estabelecia uma indenização devida à noiva deflorada pelo noivo que viesse a terminar o noivado posteriormente. Essa reparação, a toda evidência, trata-se de dano moral. Porém, o CC/16 dizia que era dano material (lucros cessantes), pois ela perderia a chance de casar, já que o art. 214 dizia que o marido teria o direito a anular o casamento se descobrisse que sua esposa foi deflorada por outro.
Antigamente pensava-se que indenizar o dano moral seria imoral, pois o bem jurídico, a personalidade, não teria preço. 
Isso se manteve, no Brasil, até as décadas de 50 e 60. A partir da década de 50 começamos a ter contribuições doutrinárias importantíssimas.
- Alguns autores como Caio Mário Pereira e Wilson Melo da Silva (escreveu o primeiro livro sobre dano moral) escreveram obras defendendo a indenizabilidade do dano moral.
O Caio Mário chegou a escrever que muito mais imoral do que reparar o dano moral, é deixá-lo sem reparação. Pois, deixando-o sem reparação a vítima ficará irressarcida, e o agente impune.
Com essas contribuições doutrinárias, em 1966, o STF julgou, com voto do rel. Min. Aliomar Baleeiro, o primeiro caso em que se admitiu indenização por dano moral.[3: Mas trata-se de matéria constitucional? Deve-se lembrar que na época não havia STJ, e o STF julgava também matérias infraconstitucionais.]
		- Trata-se o caso de um atropelamento de criança por uma transportadora.
Na ação, a transportadora alegava que a vítima era menor e não possuía atividade laborativa, logo não haveria dano material a ser reparado.
- Com base nesse julgado, o STF editou a Súmula 491: “É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.
Concluiu o STF que o caso era indenizável a título de dano moral. 
Nesse caso, o dano moral foi admitido como sucedâneo do dano material. De modo que, em sendo possível indenizar a título de dano material, não caberia o dano moral. Logo, o dano moral ficaria de forma residual.
- Veja-se que o dano moral passou a ser admitido no país timidamente. 
- O dano moral não tinha autonomia, pois ficava submetido ao próprio dano material.
- Cumpre destacar que as leis que vieram depois da decisão do STF também tratavam a matéria com bastante timidez/superficialidade.
- O momento apoteótico do dano moral foi a CRFB de 1988 que em seu art. 5º, V, X, XII, XXVIII, ... estabeleceu a indenizabilidade autônoma do dano moral.
- Mas dano moral seria matéria constitucional? O prof. não sabe dizer, mas acredita que foi colocada ali justamente para superar as divergências.
- É garantia constitucional, logo constitui cláusula pétrea.
AULA 14.3
- A autonomia do dano moral, conferida pela Constituição, estabeleceu uma correlação com os direitos da personalidade.
- Antes o dano moral estava ligado a um sentimento negativo (dor, vexame, humilhação, vergonha, aborrecimento, ...). Significava um prejuízo à qualificação social da pessoa.	
- O sentimento negativo pode ser a consequência do dano moral, mas não a causa.
- O sentimento negativo pode agravar o quantum do dano moral, mas não se a causa.
- Ex: Cristiano e João tem seus nomes incluídos no SPC indevidamente.
Cristiano, como tem boa estabilidade financeira e não costumas comprar a crédito, não tem grandes aborrecimentos com a inclusão indevida e pode esperar com tranquilidade o resultado da ação que moveu.
Já João está com grave situação financeira, e a obstrução do seu crédito impede que ele reverta essa condição. Por isso, a inclusão indevida de seu nome no SPC lhe causou sérios problemas, inclusive de saúde (stress, insônia, ...).
Veja-se que ambos têm direito a indenização, porém esse direito não advém do fato de cada um ter ou não sofrido, mas sim do cadastro indevido no SPC.
Ambos terão indenização, mas o quantum devido a João será superior ao de Cristiano, pois para ele o dano teve uma maior repercussão negativa.
- Esse afastamento do sentimento negativo está bem caracterizada na Súmula 388 do STJ: “A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral”.
- Entretanto a jurisprudência do STJ termina sendo incoerente. Apesar da clareza da Súmula 388, a Súmula 385 admite a inscrição indevida de um sujeito no SPC se ele já possuir cadastro legítimo feito por outra empresa. Ou seja, se a segunda inscrição foi indevida, mas a primeira foi devida, a segunda não gera dano moral.
Tal regra está totalmente equivocada, pois o simples cadastro indevido já deveria gerar dano moral. A súmula ignora que a segunda inscrição viola a personalidade.
- Com a CRFB de 1988, o dano moral se afasta do sentimento negativo e ganha juridicidade (técnica).
- Se os direitos da personalidade são exemplificativos e estão ancorados na cláusula geral de dignidade humana, o dano moral também o é.
- Assim, o dano moral é a violação da personalidade, e, em última análise, a violação da dignidade humana.
- Essa autonomia do dano moral leva a ideia de Cumulabilidade entre danos morais e materiais.
- Súmula 37 do STJ: “São cumuláveis as indenizações por dano materiale dano moral oriundos do mesmo fato.”
- Cumulabilidade entre danos morais e danos morais: Dano moral pode ser cumulado com outro dano moral? A resposta a essa indagação vem sendo debatida no STJ há muitos anos.
Durante muito tempo se dizia que não, pois haveria bis in idem. Porém, essa não era melhor resposta, pois o dano moral é uma violação da personalidade, e esta é composta de diferentes faces (honra, imagem, privacidade, nome, ...).
Assim, quando a violação dizer respeito a bens jurídicos distintos, é possível haver sim a cumulação de dano moral. E nesse sentido o STJ já vem decidindo: STJ, REsp.347.978. 
E para sanar qualquer dúvida sobre o assunto, o STJ editou a Súmula 387: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.
- No Brasil, esse problema ocorre porque dano moral é a um só tempo gênero e espécie (Ver anotações da Aula 03).
- A prova do dano moral (in re ipsa): o STJ vem entendendo que a prova do dano moral é in re ipsa (insita na própria coisa), ou seja, não precisa provar o sentimento negativo (dor, vexame, vergonha, ...), mas basta que prove a violação da personalidade.
- O sentimento negativo (dor, vexame, vergonha, ...) pode ser elemento de prova para a quantificação do dano, mas não para o seu reconhecimento.
- A prova do dano moral é baseada em um elemento objetivo, a violação da personalidade.
- O STJ reconheceu isso no famoso caso do jogador Garrincha (REsp.521.697/RJ).
Trata-se o caso de biografia em que o autor Rui Castro revelou que o jogador Garrincha tinha o pênis avantajado. Por isso, os filhos requereram indenização.
Observa-se que dizer que alguém tem o pênis avantajado não configura violação a honra, tanto que o TJRJ até negou o pedido de indenização.
Contudo, o STJ reformou a decisão, pois, apesar de não haver violação da honra, houve no caso violação à privacidade.
		- A prescrição da pretensão reparatória por danos morais.
- Apesar do dano moral corresponder a uma violação do direito da personalidade, o dano moral tem uma natureza pecuniária/patrimonial, pois é a reparação pecuniária da violação do direito da personalidade.
Por isso, submete-se a prazo prescricional de 3 anos (CC, art. 206, § 3º, V).
* Exceção: No REsp. 816.209/RJ, o STJ estabeleceu que indenização decorrente de tortura não se submete a prazo prescricional.
O razão do julgado foi permitir que as famílias das pessoas perseguidas pela ditadura militar pudessem pleitear indenização.
- Esse motivo abriu precedente à família de negros escravos também pedirem indenização.
- Dano moral e pessoa jurídica: embora a pessoa jurídica não tenha personalidade (CC, art. 52), tem a proteção que deles decorre.
		- STJ 227: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
- O inadimplemento obrigacional (contratual) pode gerar dano moral? Não. Ordinariamente, o inadimplemento obrigacional pode gerar dano material.[4: Esse dano material pode, inclusive, estar previamente liquidado por cláusula penal.]
Porém, há alguns anos, a jurisprudência do STJ estabeleceu uma exceção. No REsp.257.036, o STJ reconheceu a possibilidade do Dano Moral Contratual.
O Dano Moral Contratual é a possibilidade do inadimplemento de um contrato gerar dano moral, quando esse inadimplemento, além de ocasionar o dano material, gerar também violação à dignidade do contratante.
- Importante destacar que o que gera o Dano moral contratual não é o inadimplemento puro e simples. Esse dano moral é gerado pela violação da personalidade. Portanto esse dano moral continua sendo de natureza extracontratual (aquiliana), e não contratual.[5: Por não ter natureza contratual, esse dano moral pode ser superior ao próprio valor do contrato.]
- Ex: Plano de saúde que se recusa a dar atendimento.
- Ex: Companhia de água ou energia que desliga indevidamente o fornecimento.
		- O dano moral punitivo (punitive damages) e o caráter pedagógico.
-No Brasil, o dano moral tem natureza compensatória. Logo, não se admite aqui o instituto norte-americano do punitive damages. [6: Compensação que se dá a vítima, embora não seja o preço da dor (pretium doloris).][7: Alguns traduzem a expressão indevidamente como dano punitivo. O correto seria indenização punitiva.]
- O STJ vem aduzindo que, apesar de não ter natureza punitiva, o juiz deve levar em conta a punição do agente, ou melhor dizendo, o caráter pedagógico da medida (STJ, REsp.838.550).
- No REsp.838.550, o STJ julgou caso de reportagem indevidamente vinculada pelo SBT em praia de nudismo.
- É estranha a posição do STJ, pois fala que o dano moral não tem natureza punitiva, mas diz que o juiz, ao fixar o valor da indenização, deve levar em conta a punição do agente.
- Exceção: quando se tratar de dano difuso ou coletivo, a natureza do dano moral é punitiva.
- Leva-se em conta a condição econômica do agente e da vítima.
AULA 14.4
- A questão da transmissibilidade da obrigação de reparar danos (CC 12, Parágrafo Único, e CC 943 / CPC 43).
- O art. 943 do CC reconheceu que a indenização por dano moral, ou qualquer outra reparação, pode ser transmitida.
- No REsp.324.886, o STJ admite a transmissão do direito de pleitear indenização por dano moral.
- É possível a transmissão ao Espólio o direito de se requerer uma indenização.
- Ex: João foi inscrito indevidamente no SPC.
Falecendo, posteriormente, sem ajuizar ação requerendo indenização por dano moral, o Espólio de João está habilitado a ajuizar a ação reparatória.
- Aspectos processuais da indenização por dano moral.
a) Parâmetros jurisprudenciais para a fixação do quantum reparatório: condição econômica da vítima e do lesante; extensão do dano e repercussão social (STJ, REsp.183.508). [8: Se o dano vai ter natureza compensatória, depende do que ganha cada um. Não significa que a honra de um valha mais que a do outro, mas aquilo que compensa a um não necessariamente compensa ao outro.]
- Lembra +- o que se pratica no direito penal na dosimetria da pena (CP, art. 68).
- Tratam-se de parâmetros que a jurisprudência criou para que o juiz estabeleça o quantum reparatório por dano moral.
- A indenização é fixado com esses parâmetros por meio de sentença.
- O STJ afirma que transcurso do tempo deve ser levado em conta pelo juiz (STJ, REsp.416.846).
- Se o sujeito demorou muito para propor a ação, o juiz deve levar isso e consideração no sentido de diminuir o quantum reparatório.
b) Os valores exorbitantes ou ínfimos e a admissibilidade de recurso especial, excepcionalmente. 
- Ordinariamente, as Súmulas 5 e 7 impediriam um Recurso Especial para discutir o valor da indenização. Porém, o STJ vem entendendo que quando o valor fixado pelo Tribunal de origem for exorbitante ou ínfimo, admite-se o REsp para discutir o quantum reparatório. Logo, reconheceu a Mitigação das Súmulas 5 e 7 do STJ (STJ, REsp.203.755/MG).
c) A possibilidade de utilização de salário mínimo como referência (CPC 475-Q e STF 490). 
- Inaplicabilidade da Súmula Vinculante 4, STF. Este enunciado não se aplica em matéria de indenização por dano moral, e o juiz pode perfeitamente se valer do salário mínimo como referência da indenização.
d) Possibilidade de interposição de recurso, caso o juiz conceda valor não aceito pelo autor.
- Nos casos em que o autor formula um pedido genérico, se o sujeito achar que o juiz fixou em valor baixo, o autor pode recorrer.
e) Possibilidade de formulação de pedido genérico e estimativo (STJ, REsp.674.174)
- Ex: Sujeito pode requerer que quer indenização não inferior a R$ 100 mil ou simplesmente não fazer nenhuma indicação, deixando a fixação por conta do juiz.
f) Inexistência de sucumbência recíproca quando o juiz fixa valor inferior ao pleiteado na inicial (STJ, REsp.726.576), sob pena da vítima, hipoteticamente, ter de pagar mais do que receberá (STJ, REsp.265.350).
- Ex: No caso de o sujeito pleitear indenização no valor de R$ 1 milhão, e o juiz dá R$ 50 mil, se for aplicado a sucumbência recíproca, in casu, o autor terá que pagar um valor maior do que ele ganhou.
- Nesse caso, oSTJ entende que inexiste sucumbência recíproca.
		- Liquidação do dano.
- A liquidação do dano, seja material seja moral, envolve a seguinte operação:
	1) Fixação do valor reparatório;
	2) Juros
- Conforme Súmula 54 do STJ, esses juros serão calculados a partir do evento danoso. Isso se for caso de responsabilidade extracontratual.
Já se a responsabilidade for contratual, os juros são devidos a partir da data da citação.
				3) Correção monetária
- Conforme Súmula 43 do STJ, a correção monetária incide a partir da data do efetivo prejuízo.
Quando se tratar de dano moral, todavia, a Súmula 362 do STJ dispõe que a correção monetária incide a partir da data do arbitramento (decisão judicial).
				4) Custas e honorários
- Constituem uma responsabilidade objetiva decorrente de uma fato objetivo, a derrota no processo.
* OBS: art. 475-Q do CPC: no caso de indenização paga em prestações periódicas (Indenização por homicídio, p.ex.), o juiz deve terminar ao réu, além dos juros, correção, custas e honorários, o oferecimento de uma garantia, chamada Constituição de Capital.
- As formas de Constituição de Capital estão expressas no § 1º.
- Em alguns casos, o oferecimento de garantia pode atrapalhar a vida do réu, por isso o § 2º permite ao juiz substituir a Constituição de Capital pela inclusão do beneficiário em folha de pagamento (desconto em folha).
- Para o autor o importante é receber. Para o réu o importante pois não irá imobilizar o seu patrimônio.
• A questão do nexo de causalidade.
	- Está disciplinado no art. 403 do CC.
	- Consagrada a Teoria da Causalidade Direta e Imediata.
- Só serão indenizáveis os danos decorrentes de forma direta e imediata da conduta culposa.
	- A teoria do nexo causal do direito civil é diferente do direito penal.
No CP, os arts. 13 e 29 consagram a Teoria da equivalência dos antecedentes. Ou seja, todo aquele que colaborou para o resultado danoso responde na proporção de sua culpabilidade.
- No direito civil, quis-se impedir, p.ex., que o fabricante do pneu respondesse pelo acidente automobilístico. Por isso, adotou-se uma teoria de causalidade mais rigorosa no âmbito civil.
- O melhor exemplo sobre causalidade é do prof. Antunes Varela.
	- Ex: Em Lisboa, haveria um espetáculo com um grande músico.
No dia do evento, o músico, ao se dirigir ao teatro, acabou sendo atropelado por carro guiado na contramão de direção. Por isso, como se lesionou, acabou não podendo se apresentar no espetáculo.
Como o espetáculo foi cancelado, o teatro teve que devolver o valor de todos os ingressos vendidos. O Jornal de Lisboa também teve prejuízo por contratar especialista para fazer crítica do espetáculo. E, além disso, o próprio músico teve prejuízo, pois deixou de receber pelo espetáculo (lucros cessantes) e teve gastos com tratamento médico (dano emergente).
Nessa situação o músico poderia pedir indenização do atropelador, mas o teatro não.
O teatro poderia ajuizar ação contra o músico, porém este não teve culpa.
O prof. Antunes Varela observa que se o teatro pudesse acionar o atropelador, o Jornal de Lisboa também poderia. Além disso, até mesmo um casal que foi assistir ao espetáculo, poderia pleitear contra o atropelador o prejuízo que tiveram na contratação de uma baba para cuidar de seus filhos naquela noite. Também o sujeito que foi assaltado após sair do espetáculo cancelado poderia ajuizar ação contra o atropelador.
Logo, quase tudo que aconteceu de ruim em Lisboa naquele dia poderia ser atribuído mediatamente ao atropelador.
- Essa teoria da causalidade direta também pode, de algum modo, causar injustiças. Podem existir situações que não tenham causalidade imediata, mas que merecia indenização.
- Assim, o STJ vem ao longo dos anos relativizando a Teoria da causalidade direta.
- Ex: Dano por ricochete ou dano indireto – situação de taxista que ficou 1 mês sem exercer a sua atividade por causa de acidente. 
Como esse taxista não teve dinheiro para prestar a sua obrigação de alimentos, o filho do taxista (alimentado) entrou com ação contra o causador do acidente.
Se fosse aplicada a teoria da causalidade direta, isso não seria possível.
In casu, o STJ alegou que a reparação não era devida a título de dano direto, mas a dano em ricochete. 
- Perda de uma chance – no exemplo dado acima acerca do Show do Milhão, há flexibilização do nexo de causalidade.
	- Ex: Causalidade alternativa – é o exemplo da queda de um saco de água da sacada de um apartamento.
O atingido, não sabendo de que apartamento proveio o objeto, entra com ação contra o condomínio.
Sendo condenado o condomínio, o mesmo paga e ajuíza ação regressiva contra os prováveis causadores do dano.
Nessa situação, sempre que houver um dano e o causador não é certo, mas é alternativo, o STJ flexibiliza o nexo de causalidade e permite a indenização contra os prováveis causadores do dano (STJ, REsp. 64.682).
	- As concausas e suas consequências.
- As concausas são novas causas que aderem a um processo causal em curso, agravando o seu resultado.
- Não será concausa se definir o resultado. Nesse caso é causa.
- Para o direito civil, as concausas são irrelevantes.
- Ex: Se você atirou no dedo de pé de um hemofílico e ele sangrou até morrer, há responsabilidade civil, pois a concausa é irrelevante (hemofilia).
- Ex: E se há mais de um determinando a concausa, solidariedade entre elas. Assim, se você atropelou alguém, mas a pessoa chegou viva no hospital e lá morreu por falta de socorro, há solidariedade entre o atropelador e o hospital.
Mas se a pessoa poderia ter ficado viva e só morreu por falta de socorro, ai não é concausa, mas causa nova. Logo, o atropelador não responde, mas sim o hospital.
	- Hipóteses excludentes do nexo causal e da responsabilidade civil.
		1) Fato de terceiro.
- Rompe o nexo, salvo naquelas hipóteses de responsabilidade pelo Fato de 3º.
- Ex: Arremesso de pedra no trem (STJ, REsp.108.757/SP). 
- Ex: Bala perdida (STJ, REsp.613.402/SP).
2) Fato exclusivo da vítima (CC, art. 945)
- Não confundir culpa exclusiva com culpa concorrente (Ver anotação acima).
- Ex: surfista de trem (STJ, REsp.60.929).
		3) Cláusula de não indenizar.
- Cláusula em que os contratantes não respondem pelos danos causados entre eles.
- Essa clausula será nula nos contratos de consumo ou adesão.
- Ex: STJ 130: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.”
- É invalida a previsão daquelas placas nas quais os Shoppings se eximem de responsabilidade sobre furtos nos carros guardados em seu estacionamento.
				- Se o contrato é paritário, essa cláusula vale.
		4) Caso fortuito/Força maior.
- Rompem o nexo de causalidade, exceto nos casos de Responsabilidade Objetiva com Risco Integral (Ver anotações da Aula 13).
-E sempre quem rompe é o fortuito externo, e não o interno.
- Caso fortuito e força maior não podem ser discutido em sede de REsp e RE (STJ 7 e STJ, REsp.253.552).
5) Legítima defesa própria e estado de necessidade e a incidência do CC 929 e 930.
- O estado de necessidade rompe o nexo de causalidade somente quando o bem jurídico sacrificado pertencer ao causador do perigo.
Se pertencer a terceiro, mantém-se o dever de indenizar.

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