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Anotações Curso CERS 2013 Direito Civil - Mod. 01 - Aula 06

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AULA 6.1
FATOS JURÍDICOS
• Acontecimentos jurídicos
	- Fatos jurídicos nada mais são do que acontecimentos.
- O fato jurídico não é qualificado por sua origem, mas sim para onde vai. É aquilo que tem potencialidade de produzir efeitos no âmbito do direito.
	- Pontes de Miranda dizia que o mundo do direito é um recorte do mundo real/fático.
- Nem todo acontecimento é uma fato jurídico, porém todo fato jurídico é um acontecimento.
		- Ex: adquirir uma propriedade é acontecimento e fato jurídico.
- Ex: entrar em um recinto e não dar bom-dia às pessoas é um acontecimento, mas não um fato jurídico.
- Se, p.ex., uma convenção de condomínio determinar que quem não der bom-dia no elevador pagará uma multa. Agora esse acontecimento passa a ser fato jurídico.
- Fato jurídico é aquele acontecimento em que uma norma jurídica prevê a sua relevância.
- Ex: Adultério era crime, agora não é mais. Esse acontecimento deixou de ser fato jurídico, pois o sistema percebeu que não tinha mais relevância.
• Lógica do mundo jurídico
- A norma jurídica incide sobre um suporte fático (acontecimento), e resulta em um fato jurídico (subsunção).[1: Conhecido também no direito penal como tipicidade. A diferença para o direito civil é que a tipicidade é aberta.]
• Definição do fato jurídico
- “São acontecimentos em virtude dos quais começam, se modificam ou se extinguem as relações jurídicas” (CAIO MÁRIO).
- “São os acontecimentos de que decorrem o nascimento, a subsistência e a perda dos direitos contemplados em lei” (WASHINGTON).
- “São os fatos, ou complexos de fatos, sobre os quais incidiu a regra jurídica; portanto, o fato de que dimana, agora, ou talvez mais tarde, talvez condicionalmente, ou talvez nunca dimane eficácia jurídica” (PONTES DE MIRANDA)
* Caio Mário e Washington trazem o conceito tradicional, no qual afirmam que fatos jurídicos são aqueles acontecimentos que geram a produção de efeitos jurídicos.
		- Prof. apresenta crítica a essa definição.
Supondo que um sujeito vá a um cartório e faça um testamento (fato jurídico). Porém, pouco tempo depois vai ao mesmo cartório e revoga o testamento.
Veja-se que o testamento, apesar de ser fato jurídico, não produziu nenhum efeito.
Assim, para o prof., a incidência da norma sobre o acontecimento confere existência ao fato jurídico, o que não significa que vai produzir efeitos. A eficácia pressupõe a validade e a existência.
Por isso, na opinião do prof., quem traz melhor a definição de fato jurídico é Pontes de Miranda.
• Diferentes planos do mundo jurídico
1) Existência: plano ôntico (ser). A existência é adquirida pela incidência da norma (automaticamente). Diz respeito a pressupostos (suposições prévias).
2) Validade: plano legalista. Conformação com a ordem jurídica. Diz respeito a requisitos (atender requisitos da lei).
- Como é um plano legalista, os acontecimentos da natureza não passam por ele. Ex: morte, enchente, ... não podem ser invalidados.
3) Eficácia: vontade dos interessados de controlar os efeitos. Diz respeito a fatores de controle de eficácia.
* O comum é que para que se chegue no plano da eficácia é necessário se passar pelo plano da validade e da existência.
* Desses 3 planos, o da existência é prejudicial (sine qua non). Sem ele nunca haverá fenômeno jurídico válido e eficaz.
Assim, é possível existir, não ser válido e não ser eficaz. Também é possível existir, não ser válido e ser eficaz.
- Ex: contrato celebrado por menor de 16 anos é existente, inválido, mas pode produzir efeitos, pois o negócio jurídico pode produzir efeitos até que advenha decisão de anulação (CC, art. 172).
- Ex: O casamento putativo é um casamento nulo ou anulável ao qual o juiz presta efeitos por conta da boa-fé (CC, art. 1561).
- Ex: Contrato com termo inicial após de 6 meses da data de celebração. Nesse período 6 meses, o contrata será existente, válido, porém não eficaz.
AULA 6.2
* A doutrina mais contemporânea apelida esses três planos de “Escada Ponteana”, em homenagem ao Pontes de Miranda, pois foi ele quem primeiramente pensou nesses três plano.
- A definição de fato jurídico de Pontes de Miranda é a mais coerente segundo professor e vários outros autores contemporâneos.
• Classificação
	- Fatos jurídicos x Fatos ajurídicos
		- Fatos jurídicos são aqueles que interessam a norma.
		- Fatos ajurídicos são aqueles que não contam com previsão normativa.
	- Fatos jurídicos: são aqueles com potencial de produção de efeitos.
		- Não é aquilo que produz efeitos, mas que pode produzir.
		- Dividem-se:
- Ilícitos (civis, administrativos e penais): são aqueles cujos potenciais efeitos são contrários à norma.
			- Lícitos: são aqueles cujos potenciais efeitos são conforme a norma.
				- Subdividem-se:
- Naturais (Fatos jurídicos strictu sensu): emanam da natureza. 
- Como vem da natureza, não vai passar pelo plano da validade. Não se pode impor à natureza as regras humanas.
- Tem a potencialidade de produzir efeitos. Quando o sistema jurídico quer, pode prever e estabelecer efeitos para um acontecimento que vem da natureza. 
- Ex: o código prever responsabilidade ao contratante, porém o exime de responsabilidade caso o dano decorra de caso fortuito e força maior.
- Ex: a morte (fato natural) produz a suspensão imediata do processo (CPC, art. 265, I).
- Humanos (Ato jurídico lato sensu): emanam da pessoa humana.
- Emanando do homem, irão passar pelo plano da validade.
	- Subdividem-se:
- Ato jurídico stricto sensu: são aqueles que emanam do homem, mas que produz efeitos que já estão previstos na norma.
- Fala-se que há “adesão” aos efeitos anunciados na norma.
- Ex: No reconhecimento de filho, o pai não pode privar este filho do direito de herança, nome, ... Os efeitos do reconhecimento de paternidade estão previstos em lei.
- Ex: Quando o credor dá a quitação ao devedor, não pode manter o devedor submetido a ele, pois a quitação extingue a obrigação.
- Negócio jurídico: são aqueles que emanam do homem, mas aqui há a criação dos efeitos.
- Ex: no contrato as partes estipulam os efeitos.
- Ex: No casamento é possível escolher regime de separação, logo é negócio jurídico.
* Não deixa de ser negócio por existir restrição/limitação ao poder de escolha, basta que haja criação de algum efeito.
- Ex: no casamento é possível aos noivos pactuar o regime de separação, porém estão submetidos a vários requisitos obrigatórios previstos em norma. Entretanto, mesmo assim continua sendo negócio o casamento.
- Ex: No contrato de trabalho o empregado não pode renunciar a férias, 13º, horas extras, ..., mas mesmo assim é negócio jurídico. 
* Questão: Situação de aquisição de propriedade pela ocupação (CC, art. 1263), na qual o sujeito pesca um peixe (aquisição por ocupação) e depois o devolve ao rio (renúncia). Como se classificaria a ocupação? 
	- Não há ilicitude, logo não é Fato ilícito.
	- Não é fato da natureza, mas emana do homem, logo não Fato jurídico stricto sensu.
	- Não pode o homem escolher os efeitos, logo não é Negócio jurídico.
	* Sobra, portanto, o Ato jurídico stricto sensu. 
Contudo, há um problema. O conceito do Ato jurídico stricto sensu é cambiante.
- Para autores como Orlando Gomes, Maria Helena Diniz e Silvio Rodrigues, Ato jurídico stricto sensu é aquele que vem de uma conduta (comportamento) humana, e, portanto, poderia ser:
	- Voluntário;
	- Involuntário.
Assim, a ocupação seria um Ato jurídico stricto sensu Involuntário.´[2: Além da ocupação, pode-se tomar como exemplo é a descoberta (CC, art. 1233). No CC, a restituição da coisa descoberta dá direito à recompensa (achádego). Para a doutrina o achádego é Ato jurídico stricto sensu involuntário, pois aquele que acho a coisa não queria a recompensa.]
Entretanto, os autores que seguem Pontes de Miranda discordam dessa conclusão. Esses autores não definem o Ato jurídico stricto sensu como aquele que advém da conduta (comportamento) humana, mas sim como aquele que vem da vontade humana.[3: Não da vontade criativa,mas da vontade aderente.]
Nesse sentido Ponteano, não podemos dizer que a ocupação é Ato jurídico stricto sensu, pois não está presente a vontade. Assim, Pontes de Miranda e os autores que lhe seguem afastam a ideia do Ato jurídico stricto sensu Involuntário. Para eles todos os Atos jurídicos stricto sensu são voluntários.[4: Vale também para a descoberta (CC, art. 1233).]
Assim, Pontes de Miranda criou uma outra categoria abaixo dos Fatos Lícitos, chamada Ato-fato jurídico. Este seria um acontecimento que emana de conduta (comportamento) humana e que produz efeitos independentemente da vontade, e até mesmo contra ela.
Em suma, o que Pontes de Miranda chama de “Ato-fato jurídico”, autores como Orlando Gomes chamam de “Ato jurídico stricto sensu Involuntário”.
		- Ex: Pequenas transações celebradas por incapazes.
Algum caixa do McDonalds já se recusou a vender um produto para uma criança ou adolescente? Obviamente que não. 
Mas o que seria isso, um negócio jurídico? Se a resposta for sim, será nulo o negócio (CC, art. 166, I).
A pequena transação com incapaz subsiste porque não é negócio jurídico, mas Ato-fato jurídico. Vem da conduta humana e produz efeitos que estão na lei, independentemente da vontade.
O afastamento do elemento vontade é a única forma de permitir que essa conduta continue sendo praticada, pois se valorar o elemento vontade de um incapaz, o “negócio” será inválido.
- Para aqueles que não adotam a ideia de Pontes de Miranda, será Ato Jurídico stricto sensu Involuntário.
AULA 6.3
• Características de cada categoria jurídica:
	1) Ato Ilícito: potencialidade de efeitos contrários à norma jurídica.
		- Será abordado na Aula sobre fato ilícito.
	2) Fato jurídico stricto sensu: é aquele cujo suporte fático é um evento da natureza.
		- A vontade humana não interessa.
- Ex: nascimento, morte (mesmo no caso de assassinato), caso fortuito e força maior, ...
- Pode ser:
	- Ordinário: quando a sua expectativa já é corriqueira;
	- Extraordinário: quando não se imagina a sua ocorrência.
- Ex: caso fortuito e força maior é um evento da natureza inesperado, e, portanto, extraordinário.
- O CC não diferencia caso fortuito de força maior. Para o CC são expressões sinônimas.
Porém, para alguns autores, o caso fortuito vem do homem, enquanto a força maior viria da natureza.
Já outros autores preferem dizer que ambos são situações imprevisíveis, mas a força maior, além de imprevisível, seria incontrolável.
- Ex: responsabilidade objetiva do transportador, salvo força maior– art. 734 do CC.
* OBS: Essa regra não se aplica nos transportes por cortesia (carona, p.ex) – art. 736 do CC. Nesse caso, a responsabilidade será subjetiva.
Entretanto, se for o caso de transporte por cortesia interessada, a responsabilidade volta a ser objetiva.[5: É o transporte de alguém preta porque tem um interesse jurídico subjacente. É o caso, p.ex, de ônibus contratado por Shopping para passar em hotéis e pegar turistas. ]
- Não há em nosso código, e em nenhum no mundo, um capítulo dedicado ao Fato jurídico stricto sensu, pois quando o ordenamento quer, ele prevê o efeito, como, p. ex., no at. 734 do CC.
Não haverá esse capítulo, pois o Fato jurídico stricto sensu vem da natureza, logo não passa pelo crivo da validade.[6: A natureza não está submetida à casualidade jurídica.]
- O mais comum de todos os Fatos jurídicos stricto sensu é o passar do tempo.
No ordenamento, é muito importante a contagem de tempo, principalmente no direito processual.
		- Ex: prazo de ano e dia do esbulho – ações possessórias;
		- Regras de contagem de tempo no direito civil (CC, art. 132): 
- Ano e Mês: computado de data a data, pouco importando quantos dias têm entre elas.
- Ex: Prazo de 1 ano que começa em 01/02/2014 se encerra em 01/02/2015. Contudo, se for de 1 mês o prazo, o prazo se encerra em 01/03/2014.
- Não interessa se o ano é bissexto ou não, ou se o mês têm 31 dias ou menos.
- Portanto, 1 mês não é igual a 30 dias e um ano não é igual a 365 dias.
- Dias: é computado dia a dia, excluindo o primeiro e incluindo o último.
- Ex: prazo de 5 dias que começa no dia 04/09/2014 se encerra no dia 09/09/2014 (este dia incluído no prazo).
- Meado do mês: é sempre o dia 15, pouco interessando quantos dias tenha esse mês.
* Estas regras não se aplicam para a contagem de prazo de vacatio legis. Aplica-se o art. 8º da LC 95/98 que estabelece que o prazo deve ser expresso em numero de dias e a contagem inclui o primeiro e último dias. Além disso, a norma começa a viger no dia subsequente à sua consumação integral.
	- Na prática, da no mesmo.
- Ex: lei publicada no dia 04 com vacatio legis de 5 dias. O prazo se consumou no dia 08, mas só entra em vigor no dia subsequente, qual seja, dia 09.
3) Ato jurídico stricto sensu: é aquele que advém da vontade humana aderente ao efeitos previstos na norma.
	- Não há espaço para criação.
- Ex: reconhecimento de filho, quitação, aceitação e renúncia de herança, fixação de domicílio, ...
- Tem uma estrutura muito mais simples que o negócio jurídico.
- O art. 185 do CC é o único dedicado ao Ato jurídico stricto sensu.
- Aplica-se, no que couber, as regras do negócio jurídico (CC, arts. 104 a 184).
- Ex: Se o reconhecimento de filho foi feito por coação, o ato será anulável.
		- Se tem os efeitos previstos em lei, então são:
- Irrevogáveis; e 
- Irretratáveis.
- Alguns autores (Orlando Gomes, Maria Helena Diniz, ...) entendem que pode ser Voluntário ou Involuntário.
Pontes de Miranda, contudo, entende que todo Ato jurídico stricto sensu é voluntário. O homem deseja os efeitos que estão na lei.
4) Ato-fato jurídico: para quem segue Pontes de Miranda, é o que alguns autores chamam de Ato jurídico stricto sensu Involuntário. Assim, vem de uma conduta humana, independente ou contrária a vontade, da qual os efeitos decorrem de lei.
* Ver exemplos das pequenas transações realizadas por incapaz e da ocupação e descoberta.
- Como produz efeitos independente da vontade humana, são:
- Irrevogáveis; e 
- Irretratáveis.
* OBS: Na descoberta, se sujeito insolvente renuncia a achádego (recompensa), os credores podem alegar que a renúncia do direito configura fraude contra credores (fraude pauliana)? Sim, pois ao renunciar a recompensa, o sujeito está prejudicando os seus credores.
		* Aplicação Prática
- (82o Concurso MP/SP) Defina atos e fatos jurídicos, estabelecendo a diferenciação entre ambos e especificando os elementos constitutivos dos últimos.
- (TJ/RJ) Assinale a proposição correta:
a) o ato jurídico, segundo alguns doutrinadores, abrange até o próprio ato ilícito, já o negócio jurídico não pode compreender senão atos lícitos;
b) o fato jurídico, em sentido amplo, é sempre manifestação de vontade, produzindo efeitos jurídicos;
c) o ato jurídico identifica-se com o fato jurídico em sentido estrito;
d) os acontecimentos naturais configuram negócio jurídico;
e) todas as proposições estão corretas.
GABARITO OFICIAL – A
AULA 6.4
	5) Negócio jurídico:
- É o mais rico e complexo dos fatos jurídicos, pois tem em seu suporte fático a vontade humana criadora. Por isso, é:
		- Revogável; e 
		- Retratável.
- É a categoria baseada na vontade.
- Historicamente, a vontade e empregada no negócio jurídica é uma vontade absoluta, a qual é denominada de “Autonomia da Vontade”.
E essa foi tão ilimitada (absoluta), que consagrou a máxima do pacta sunt servanda (contrato faz lei entre as parte).
- Contudo, essa Autonomia da Vontade evolui muito. A ideia de autonomia ilimitada e absoluta ruiu.
Hoje utiliza-se a expressão Autonomia Privada/Negocial que está ligada por novos elementos:
	- Boa-fé objetiva;
	- Função Social do contrato; e
	- Equilíbrio econômico e financeiro.
- A vontade não pode ser vista mais por uma percepção puramente vinculante (pacta sunt servanda). A vontade não pode ser mais aprisionante.
-O movimento do direito civil constitucional chegou aos negócios jurídicos com essa percepção. 
Valores constitucionaiscomo dignidade humana, solidariedade social, igualdade, liberdade, ... chegaram para o negócio jurídico e transformaram a vontade.
- Com isso surge algo que nunca antes fora imaginado, como, p.ex., a possibilidade de revisão ou de resolução de negócios jurídicos. 
Logo, o juiz pode revisar ou resolver um negócio jurídico quando a boa-fé, a função social ou o equilíbrio econômico financeiro periclitarem.
		- Regras interpretativas (CC, arts. 106 a 116):
- A vontade nem sempre é esclarecedora. Por isso que o CC trabalha com regra de interpretação dessa vontade.
- As regra de interpretação dessa vontade estão divididas em 2 grupos:
- Principal (regra de ouro): estará presente em toda e qualquer interpretação de negócio jurídico.
	- A regra principal é a Boa-fé objetiva (CC, art. 113).
	- O CC trabalha com 2 forma distintas de boa-fé:
- Objetiva: é a boa-fé de comportamento. É uma norma-princípio (conteúdo aberto), ligada co comportamento probo, ético, ...
- Subjetiva: é a boa-fé de conhecimento. É uma regra psicológica.
* O CC não qualifica. Caberá ao interprete descobrir de que boa-fé está se referindo.
- A boa-fé objetiva nada mais é que a compreensão de um negócio jurídico pelo seu sentido ético.
- Ex: Em contrato de locação que continha cláusula que obrigava que o locatário restituísse o imóvel pintado, o locador consegui na justiça obrigar a pintura do imóvel.
Cumprindo a determinação, o locador pintou todo imóvel de preto, pois alegava que a cláusula não especificava a cor.
Levado o caso novamente ao judiciário, o juiz entendeu que houve violação à boa-fé objetiva, pois o locatário interpretou a claúsula contratual fora de seu sentido ético.[7: Ética ≠ Moral. A moral é pessoal, filosófica, religiosa, sexual ... Esta moral não adentra o negócio jurídico. Ao negócio jurídico interessa a ética, portanto tem um alcance coletivo. É aquele comportamento probo que se espera de todos.]
- Acessórias (combinantes): outras regras que se combinam com a regra principal em determinados casos. Logo, são regras específicas que não eliminam a incidência da regra principal.[8: Combinantes, pois não eliminam a regra principal. Elas se combinam com a regra principal.]
	- São 6 regras acessória/combinantes:
a) Negócios formais: são aqueles que tem de cumprir uma formalidade/solenidade.
- arts. 109 c/c 166 do CC – Integra a substância do ato. Se formalidade não for cumprida, o negócio será nulo.
- Ordinariamente, o negócio jurídico não é formal, mas consensual, baseado na vontade. Mas é possível que o negócio seja formal por força de lei ou pela vontade das partes.
- Ex: Os negócios imobiliários exigem escritura pública registrada em cartório.
- art. 108 do CC: apresenta regra baseada na função social dos contratos, pois estabelece que se o negócio imobiliário não exceder 30x o salário mínimo, dispensa-se a escritura pública. Contudo, continua precisando do registro.[9: Respeita a função social, pois homenageia os usos e costumes do povo do Brasil.]
b) Negócios com reserva mental: é o propósito secreto/obscuro de não cumprir o que se está prometendo. É, portanto, a intenção de um dos contratantes de não cumprir o que foi prometido.
- art. 110 do CC – se a reserva mental é conhecida pela parte contrária, o negócio será nulo por simulação.[10: Se a parte contrária sabe da reserva mental, é porque ela também não vai cumprir.]
Mas se a reserva mental é desconhecida, então a parte está de boa-fé. Por isso, o negócio é válido, e o eventual prejuízo será resolvido em perdas e danos.
- Ex: proprietário de imóvel quer despejar inquilino. Para criar motivo para isso, celebra contrato de compra e venda do imóvel com um amigo, de forma a simular a alienação do imóvel.
Nesse caso, a compra e venda é nula.
c) Negócios celebrados pelo silêncio:
- Às vezes o silêncio é eloquente (“vale mais mil palavras”).
- art. 111 do CC – reconhece a possibilidade de celebração de negócios jurídicos pelo silêncio, desde que os usos e circunstâncias autorizem e que não seja necessária a declaração expressa de vontade (sem exigência de formalidade).
- Ex: não se pode fazer uma doação por silêncio, mas pode-se aceitá-la pelo silêncio.
d) Manifestação de vontade nos negócios:
- art. 112 do CC – nas declarações de vontade, mais interessa a intenção do que o sentido literal da linguagem.
- Ex: Pessoa que fazer doação para José, bombeiro que salvou o seu filho. Contudo, quem salvo a vida menino foi o bombeiro João.
Nesse caso, quem receberá a doação será o bombeiro João, pois o que mais interessa é a intenção do que o sentido literal da linguagem.
e) Interpretação restritiva de negócios:
- art. 114 do CC – submetem-se à interpretação restritiva:
- Negócios benéficos;
- Cláusulas sancionatórias;
- Fiança e Aval; e
- Renúncia.
* STJ 214: “O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.”
- Não responde, pois a fiança deve ser interpretada restritivamente.
- Não se trata a súmula acerca da extensão temporal da fiança, pois o art. 39 da Lei de Locações diz que o fiador continua obrigado até a efetiva entrega das chaves.
Logo, a súmula não pode estar se referindo à prorrogação automática de contrato. Havendo prorrogação automática, o fiador continua obrigado até a efetiva entrega das chaves.
Contudo, se houver aditamento com a ampliação de outras obrigações (p.ex. taxa extras), o fiador não responde, pois não anuiu.
f) Interpretação do autocontrato (contrato consigo mesmo): é resultante de uma representação. É quando uma mesma pessoa figura nos dois polos de uma RJ por força de uma representação.
- Ex: Cristiano passa um mandato para Bárbara vender um terreno seu. Contudo, Bárbara vende o terreno para ela mesma.
In casu, trata-se de contrato consigo mesmo ou contrato consigo mesmo.
- art. 117 do CC – estabelece que se o representante causar prejuízo ao representado, o negócio será anulado.
- Contudo, se a cláusula de autocontrato vier no contrato de consumo ou adesão, não será caso de anulação, mas sim de nulidade.
- Ex: clausula de autocontrato em empréstimo (mútuo) bancário – sujeito assina conferindo poderes ao banco para gerir o contrato em seu nome. Ai, o banco pega os poderes conferidos a ele e emite uma cambial contra o sujeito. 
Nesse caso, o autocontrato é nulo.
STJ 60: “É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.”

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