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Anotações Curso CERS 2013 Direito Civil - Mod. 01 - Aula 01

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AULA 1.1
INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL
Quadro evolutivo do Direito Civil
- Do Direito Romano até a Revolução Francesa: divisão do Direito em Civil e Penal
- Revolução Francesa (Code de France, 1804): divisão do Direito em Público e Privado.
- 1804 é a primeira data relevante para o estudo do Direito Civil, pois nessa data foi editado o primeiro código moderno, o “Code de France”, apelidado de Código Napoleônico.
- Até esse momento histórico, o direito era dividido em direito civil e direito penal. Era direito civil tudo que não era direito penal. Em suma, o direito civil era o tudo e o nada.[1: Tudo o que não era penal.][2: Quem pretende ser tudo acaba sendo o nada, pois não consegue ter uma referência ou explicação autônoma científica.]
Logo, até a Revolução Francesa, o direito era marcado por uma dicotomia com o direito penal.
- Dentro do direito civil estava o direito do trabalho, direito processual, direito comercial, direito administrativo,...
- Além disso, nessa época estava-se vivendo o absolutismo estatal. Nesse cenário, existia o problema muito sério de ingerência do poder público sobre as relações entre os particulares.[3: O Estado é o centro das relações, inclusive as jurídicas.][4: Inclusive em razão do direito administrativo estar alocado dentro do direito civil.]
- A Revolução Francesa precisava honrar os seus compromissos com a burguesia, pois ela patrocinou a revolução, e queria o liberalismo econômico, intervenção estatal menor nas relações econômicas.
Por isso, Napoleão encomendou um código civil a fim de se retirar o Estado das relações entre os particulares.
- Foi esse código civil que inaugurou a dicotomia entre direito público e direito privado, de modo que o Estado se colocou fora do direito civil. Assim, o direito civil passou a cuidar da autonomia privada enquanto o direito administrativo da supremacia do interesse público sobre o privado.
- Em 1896 foi editado o segundo código civil da era moderna, o BGB – Código Civil Alemão.
- Tinha o mesmo princípio do Código Napoleônico, qual seja, retirar o Estado das relações privadas e criar uma nova visão para o Direito (Direito Público x Direito Privado).
* OBS: Um código precisa ter substrato. Essa, aliás, é a diferença entre código, compilação e consolidação. 
Uma compilação é um agrupamento de norma que já existem em ordem cronológica. No Brasil, nós não temos nenhuma.
Já a Consolidação, é um agrupamento de norma que já existem sistematizadas sobre uma matéria. No Brasil, temos a CLT. São norma que já existiam sobre direito material e processual do trabalho que foram consolidadas. Não havia um ingrediente novo na CLT, eram normas que já existiam: 13º, férias, ... 
A Codificação, por sua vez, é uma técnica legislativa diferente na qual edita-se uma nova norma para sistematizar uma matéria. Por isso, toda codificação tem seus valores (valorativa). 
O Código Francês e o BGB tinham o seus valores: individualismo e patrimonialismo.
- Propriedade privada: até o advento da Revolução Francesa, a propriedade era pública.
- Pacta sunt servanda: contrato faz lei entre as partes. Tal máxima faz referência a ideais individualista e patrimonialista.
- Constituição Imperial e o Direito Civil
- No Brasil, a história do direito civil começa em 1824, com a Constituição Imperial.
- No seu art. 179, essa Constituição previa que em 1 ano deveriam ser editados um código civil e um código criminal. Porém, somente em 1832 foi editado o código criminal do Império e somente em 1855 foi contratado Teixeira de Freitas para elaborar um código civil.
- Em 1862, Teixeira de Freitas (BA) apresentou seu projeto de código civil que ele humildemente apelidou de “Esboço” de Código Civil, com aproximadamente 5 mil artigos.
- Interessante destacar, que o esboço apresentava questões muito atuais: Revisão de contrato, Tutela jurídica do nascituro, dissolução do casamento, ...
- Por falar em temas tão avançados para época, principalmente em relação à dissolução do casamento, o projeto foi arquivado e o Teixeira de Freitas foi interditado, inclusive.
- Em abril de 1899, contratou-se Clóvis Beviláqua (CE) para elaborar um código civil e em outubro do mesmo ano foi apresentado o projeto de código civil.
- Esse projeto foi discutido e aprovado finalmente em 1916. Nessa data, o Brasil passou a ter o seu primeiro Código Civil.
- Beviláqua, com inspiração dos Códigos Francês e Alemão, adotou o valores do individualismo e patrimonialismo.
		- Eram esses os valores que existiam na época.
- Silvio Rodrigues dava como exemplo o instituto da Tutela. No CC de1916, ao cuidar da tutela, o legislador, em 24 artigos, se preocupou em 23 artigos com o patrimônio do tutelado e em 1 artigo somente se preocupou com a pessoa, não do tutelado, mas do tutor. Logo, nenhum artigo se preocupou com a pessoa do tutelado, ou seja, o órfão.[5: É a colocação do menor órfão em família substituta.]
- O direito civil se confundia com o direito constitucional. Estabeleceu-se a divisão sumária entre Direito Público (supremacia do interesse público sobre o privado) e Direito Privado (tutela individual do patrimônio da pessoa).
- O Código Civil de 1916 e a estrutura do Direito Civil: parte geral e parte especial.
	- O direito civil é um dos ramos mais lógicos e coerentes dos ramos jurídicos.
- Pode-se comparar as situações existente no direito penal. 
Muitas vezes, o estudioso do direito penal tem que inventar situações esdrúxulas para conseguir entender a aplicabilidade a algumas regras do direito penal. Ex: embriaguês culposa – cair acidentalmente em um tonel de cerveja e praticar um crime em seguida.
- Parte Geral: o direito civil estuda os elementos componentes de uma Relação Jurídica (qualquer).
		- Toda RJ tem:
			- Sujeito -> Pessoa;
			- Objeto -> Bem;
			- Vínculo -> Fatos Jurídicos.
- Na Parte Geral não se tem ainda a disciplina do direito civil. Seria um tipo de teoria geral do direito.
- Por isso, inclusive, alguns código no mundo não tem parte geral (Espanha, p. ex.) e já começa na parte especial. Nesses lugares, há uma outra lei que disciplina a parte geral relativa às RJ.
- Isso acentua a ideia de que a parte geral de nosso código tem aplicação universal.
- Ex: O contrato de trabalho precisa ter objeto lícito, possível, determinado ou determinável; O contrato administrativo exige agente capaz;
	
- Parte Especial: coisa dos 3 ramos da RJ privada:
1) Trânsito/Circulação Jurídico: trata-se das relações de circulação de riquezas. Ex: compra de bens, aluguel, depósito, .... 
É estudado pelo Direito das Obrigações (Teoria Geral, Contratos e Responsabilidade Civil);
- Nesse ramo está incluído o Direito do Consumidor.
2) Titularidades/Apropriações: é estudado pelo Direito Real.
- Nesse ramo está incluído o Estatuto da Cidade e o Estatuto da Terra.
3) Afeto: É estudado pelo Direito de Família.
- Nesse ramo está incluído o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso (Relações familiares especiais).
	
AULA 1.2
- A neutralidade e indiferença das Constituições brasileiras em relação ao Direito Civil
- Neutralidade porque nenhuma Constituição se preocupou com o direito civil 
- As Constituições anteriores a 1988 se ocupavam com o direito público (supremacia do interesse público sobre o privado).
- O direito civil passou a ser preocupação do CC a partir de 1916.
- Quando o CC/16 foi elaborado estávamos sob a égide da Constituição Republicana de 1891. Depois advieram as cartas de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969 em que nenhum dela cuidava de direito civil.
- Pulverização das relações privadas e perda da referência (o ocaso da codificação)
- O CC de 1916 representava o direito civil, porém a partir das décadas de 40 e 50 houve uma pulverização do direito civil. Isso porque surgiram diversas situações fáticas que não estavam previstas no CC.
- Ex: Década de 60 surgiu o Código de Águas, Código de Minas, Estatuto da Mulher Casada, Lei de Condomínios e Incorporações, ...[6: Em 1916, não existiam prédios. Comoo CC/16 iria falar de algo que não existia?]
- Assim, cada vez que surgiam situações não previstas no CC/16, editava-se uma nova lei. A esse movimento se denominou de Microssistemas Jurídicos.
		- Todos esses microssistemas eram irradiados pelos valores do CC/16.
- Em 1974, Orlando Gomes (BA) questionou em seu livro intitulado “Novíssimos Temas em Direito Civil” que há tantos problemas no mundo que o direito não vai conseguir em um código prever todas as situações da vida humana (aspiração das codificações).[7: Problema da Completude do Direito.]
Para resolver esse problema, o autor aduzia que era preciso que houvesse uma norma superior que estabelecesse os fundamentos do direito civil, e, dessa forma, conferisse maior mobilidade ao direito civil. Essa norma superior é a Constituição.
- O Direito Civil-Constitucional (A constitucionalização do Direito Civil). A nova tábua axiológica imposta pelo Texto Constitucional (papel reunificador do Direito Civil).
- A partir de 1988, adotando a crítica feita desde a década de 70 por Orlando Gomes, inspirando-se em modelo da Itália, a Constituição de 1988 superou a neutralidade/indiferença das Constituições anteriores em relação ao Direito Civil.
- Quando o CC/16 foi elaborado estávamos sob a égide da Constituição Republicana de 1891. Depois advieram as cartas de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969 em que nenhum dela cuidava de direito civil.
Observa-se que o CC de 1916 consegui permanecer incólume por 6 Constituições diferentes. Essa ausência de variação do CC/16 no passar dessas 6 Constituição se deve justamente porque o direito civil não era tratado em nenhuma dessas constituições. 
Somente com a Constituição de 1988 é mudado esse panorama.
- A Constitucionalização é a interpretação dos clássicos institutos de direito civil conforme os valores constitucionais - nova tábua axiológica imposta pelo Texto Constitucional.
- O contrato, a propriedade e a família, que sempre foram interpretados conforme o CC, passam a ser interpretados conforme a Constituição.
- O contrato era pacta sunt servanda, agora de obedecer também a função social.
- A propriedade era absoluta e perpétua, agora tem de obedecer a função social.
- A família somente se instituía pelo casamento, agora admitisse outros formatos de família: união estável, família monoparental, união homoafetiva, ...
- A Constitucionalização não alterou a as disposições e estrutura do direito civil, mas sim a forma de interpretação. Agora, cada instituto do direito civil deve ser interpretado conforme a Constituição.
- A interpretação do direito civil conforme a Constituição traz uma consequência. Não é mais necessário dividir o direito em público e privado (fim da summa divisio).
- O direito civil vive agora um novo momento de repersonalização, pois está irradiado por novos valores garantistas, humanistas, cidadania ... da Constituição. Assim, o direito civil está se ocupando com a tutela jurídica da pessoa.[8: A CRFB/88 é garantista devido aos direitos e garantias fundamentais previstos nos arts. 5º, 6º e 7º da CRFB. É humanista pois protege a dignidade da pessoa humana. E é cidadã, pois garante o exercício da democracia. ]
* Com o movimento de constitucionalização do direito civil houve uma ruptura da necessidade de dividir o direito em Direito Público e Direito Privado, haja vista que qualquer matéria jurídica busca seus fundamentos na Constituição.
Assim, existe a tese do “Direito Civil mínimo” (intervenção mínima do Estado na relação privada), que é uma consequência do movimento de constitucionalização do direito civil.
- O Estado somente deve interferir em uma relação privada quando for necessário resguardar direito e garantias fundamentais.
- Ex: Se um pai recalcitrante se recusa a reconhecer a paternidade de seu filho, justifica-se a intervenção do Estado (MP e Defensoria Pública), pois ter um pai é direito fundamental.
A relação entre pai e filho é privada, mas ali periclita um direito fundamental.
- Ex: o pai que se recusa a prestar alimentos. O Estado pode intervir.[9: O juiz pode, inclusive, fixar alimentos de ofício (Lei 5478, art. 4º).]
- Ex: Na relação entre marido e mulher, se teve ou não adultério não é problema do Estado. O art. 1513 do CC/2002 consagra a intervenção mínima do Estado na família.
	- Constitucionalização ≠ Publicização do direito civil.
		- Publicização é encontrado também como Dirigismo Estatal.
- A Constitucionalização do direito civil é a interpretação dos institutos do direito civil conforme os valores da Constituição.
- A Publicização é a intervenção do Estado em uma relação privada para se garantir igualdade das partes.
- Ex: quando se adere a um plano de Telefonia celular, o particular não tem margem de escolha no que diz respeito à fixação de tarifas. Nessa relação o Estado penetra para estabelecer os limites de cobrança. Aqui estamos em uma situação de Publicização.
Isso também acontece em planos de saúde, fornecimento de água, de energia elétrica, ...
- Evidentemente que se pode encontrar os dois movimentos juntos. No direito do consumidor e no direito do trabalho, podem coexistir os dois movimentos.
* Aplicação prática:
(XL Concurso MP/MG) Dissertação: Em poucas linhas, elabore dissertação, respondendo à seguinte pergunta: “O Direito Civil está em crise?”
	- Deve-se interpretar “crise” como mudança de paradigma.
- A mudança passa da visão individualista e patrimonialista para o movimento de Constitucionalização do direito civil. 
AULA 1.3
* Código Civil de 2002 e os seus paradigmas (diretrizes): eticidade, operabilidade e socialidade (BOBBIO e Da estrutura à função).
- Abandono da ideia do CC de 1916 (individualização e patrimonialismo) e harmonização com o movimento de constitucionalização.
- Assim, com essa mudança de paradigma com a Constituição de 1988, o CC de 1916 tornou-se incompatível com a nova realidade jurídica.
O CC/16 incorria em inúmeras inconstitucionalidades.
- Ex: o CC/16 dizia que o casamento poderia se anulado se o noivo descobrisse o desvirginamento da noiva, não praticado por ele. Além de retrógrado, como isso não poderia ser aplicado a mulher, foi considerado inconstitucional com a CRFB de 1988.
A solução foi a edição de um novo código, adaptando o direito civil ao novos ideais da Constituição de 1988.
- Assim, foi editado o CC de 2002, com 3 novos paradigmas:[10: Paradigmas advindos da obra “Da estrutura à função” de Norberto Bobbio. ]
1) Eticidade: é a interpretação do direito civil conforme a ética comportamental que se exige das partes.[11: Ética não se confunde com Moral. Moral é pessoal, filosófica, religiosa, ... . Ética é comportamental/coletiva.]
		- Ex: Boa-fé objetiva (CC/2002, art. 422): 
2) Operabilidade: é a facilitação na aplicação do direito. O direito não deve ser complexo, mas deve ser simples de se operar.
- Ex: a distinção entre prescrição e decadência é muito mais simples de ser entendida do que no CC/16.
	3) Sociabilidade: é a função social do direito.
- Ex: função social da propriedade (CC/2002, art. 1228, § 1º), função social do contrato (CC/2002, art. 421).
	
		* Quem patrocinou esses ideais de Bobbio no Brasil foi Miguel Reale.
* Aplicação prática:
(TJ/GO, 06) De acordo com os dizeres de CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, “o Código Civil de 2002 persegue três grandes paradigmas: a socialidade, a eticidade e a operabilidade”. Discorra sobre o significado de cada um destes “paradigmas” e sobre a sua aplicabilidade no Direito das Obrigações.
- A incidência direta dos direitos fundamentais nas relações privadas. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais. STF, RE 201.819/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes (o caso da associação dos compositores).
- A doutrina e jurisprudência passaram a discutir, logo depois do movimento de constitucionalização, se os direitos fundamentais vinculariam as atividades privadas. 
- Ex: dois sujeitos poderia celebrar um contrato abrindo mão de algum direito fundamental?
- Essa discussão surgiu e o STF teve quese manifestar. Trata-se do caso da associação dos compositores do RJ, em que um dos seus membros foi expulso pelos demais em razão de divergências de opiniões. Conforme o estatuto da associação, a exclusão de um dos membros poderia se dar por meio de votação em assembleia. 
Dessa forma, esse membro excluído foi à justiça pleiteando a invalidade da exclusão, haja vista que não lhe foi oportunizado o exercício da ampla defesa e contraditório (devido processo legal). 
Assim, ação chegou ao STF e formou-se o leading case RE 201.819/RJ que consagrou a tese da “Eficácia horizontal dos direitos fundamentais”. Ou seja, toda a relação privada precisa respeitar os direitos e garantias fundamentais, in casu, o devido processo legal.
- arts. 1336, § 2º, e 1337 do CC/2002: nesses dois artigos se encontram sansões ao condômino antisocial. Mas que para o condômino seja multado, é preciso que se respeite os seus direitos fundamentais. Isso não está no código, mas ele terá direito de se defender na assembleia, de constituir advogado, in dubio pro reo, ...
- A aplicação direta dos direitos sociais nas relações privadas. Eficácia horizontal dos direitos sociais.
- A doutrina e a jurisprudência apresentaram uma nova controvérsia. Depois de afirmar a Eficácia Horizontal dos direitos fundamentais, passou-se a discutir a Eficácia Horizontal dos Direitos Sociais.
- Tanto os direitos fundamentais (CRFB, art. 5º), quanto os direitos sociais (CRFB, art. 6º e 7º), devem ser respeitados na relação privada.
		- Pode-se chamar isso também de Aplicação direta de Direitos Sociais.
- O STJ teve oportunidade de se manifestar sobre o assunto e já reconheceu a Eficácia horizontal dos direitos sociais ao lado da Eficácia Horizontal dos direitos fundamentais.
- STJ 302: “É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.”
- Trata de violação ao direito a saúde.
- STJ 364: “O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.”
- Trata de violação ao direito a moradia. Protege à moradia das pessoa sozinha (ou “single”).[12: Expressão usada pelo STJ para se referir a pessoas sozinhas.]
	* Aplicação prática:
(MPF/05) Constitucionalização e personalização do Direito Civil. Esboço histórico e fontes. A eficácia privada dos direitos fundamentais.
- Esboço histórico: buscar na França de 1804 (individualismo e patrimonialismo) até o Brasil com a CRFB de 1988 (Constitucionalização do direito civil e Eficácia Horizontal de Direitos Fundamentais e Sociais);
- A incidência direta dos tratados e convenções internacionais no âmbito das relações privadas. O controle de convencionalidade do Direito Civil (Convencionalização do Direito Civil).
- Em 3 de dezembro de 2008, o STF teve que se manifestar sobre a eficácia dos tratados e convenções internacionais para o direito civil.
A Corte suprema aduziu que existem 3 tipos de tratados e convenções internacionais, e cada um deles terá uma diferente eficácia para o direito civil:
1) Tratados internacionais que versam sobre direitos humanos e que foram aprovados na forma da EC 45.
		- Requisito Material: Direitos Humanos.
- Requisito Formal: Aprovados nas formas da EC 45 – 2 turnos de votação com maioria de 3/5 (CRFB, art. 5º, § 3º).
- Esses tratados possuem Eficácia Constitucional, ou seja, tem valor de norma constitucional.
- Ex: Convenção de Nova Iorque (aprovada pelo Decreto Legislativo 186/08).[13: Trata de pessoas com deficiência.]
2) Tratados internacionais que não versam sobre direitos humanos.
		- Há a prevalência da norma especial interna.
- Ex: afastamento da Convenção de Varsóvia (versa sobre Transporte Aéreo) para aplicação do CDC, STJ, REsp. 169.000/RJ.[14: P. ex., pode-se pensar no conflito de normas relativas a perda de bagagem, em que a Convenção prevê indenização no voo internacional no valor máximo de 300 dólares, enquanto o CDC dispõe que a indenização deve ser integral. Assim, no Brasil, prevalecerá a norma do CDC.]
3) Tratados e convenções internacionais que versam sobre direitos humanos, mas não foram aprovados na forma da EC 45.
		- Preenchem o requisito material, mas não o formal do item 1).
AULA 1.4
- Em 2008, o STF concebeu uma tese nova, a da Eficácia Supralegal desses Tratados e Convenções internacionais (STF, RE 466.343/SP e STF, HC 87.585/TO).
Assim, ficou estabelecido que essas normas serão hierarquicamente inferiores à Constituição e superiores às norma infraconstitucionais.
- Ex: Pacto de São José da Costa Rica – Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto n° 678/1992).
- O art. 7º da Convenção dispõe que nenhum país signatário admitirá prisão civil por dívida, salvo o devedor de alimentos.
- A nossa Constituição permite a prisão civil do devedor de alimentos e do depositário infiel (CRFB, art. 5º, LXVII).
- A Constituição não afirma que vai ser preso, mas que “pode” na forma da lei. Ao devedor de alimentos, aplica-se o CPC (CPC, art. 733), enquanto ao depositário infiel, aplica-se o CC (CC, art. 652).
Logo, a Constituição diz que “pode” e a lei diz “como”.
- In casu, a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) não é norma constitucional, porém é supralegal. 
- Assim, no Brasil, a prisão do depositário é continua sendo constitucional, porém se tornou ilícita, haja vista o CC que regulamenta a prisão está superado pelo Pacto de São José da Costa Rica, que tem eficácia supralegal.
- Por isso foi editada a Súmula Vinculante STF 25: “É ILÍCITA A PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO INFIEL, QUALQUER QUE SEJA A MODALIDADE DO DEPÓSITO”. Revogação da Súmula 619, STF.[15: Embora constitucional, é ilícita em função da Eficácia Supralegal da Convenção Americana de Direitos Humanos.]
- Se, p. ex., fosse editada EC que regulamente a prisão civil do depositário infiel, essa passaria a ser constitucional e lícita.
* Prisão do depositário infiel judicial: surgiu a discussãono judiciário se era possível a prisão do infiel depositário judicial (do processo de execução), pois o CC estaria a se referir somente ao depositário infiel contratual.
Para sanar a dúvida, o STJ editou a Súmula 419: “Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel”.
	
- Temos agora, ao lado do movimento de Constitucionalização, o movimento Convencionalização do direito civil.
- O direito civil não só passa pelo controle de constitucionalidade, mas também pelo controle de convencionalidade. 
- Os Tratado e Convenção sobre Direitos Humanos aprovados na forma da EC 45 têm eficácia constitucional, então eles impõem um controle de constitucionalidade.
- Já os Tratado e Convenção sobre Direitos Humanos aprovados na forma da EC 45 impõem um controle de convencionalidade.
- A interpretação das normas do Direito Civil (normas gerais) e a possibilidade de diálogo das fontes (diálogo de conexão ou complementaridade).
- Historicamente, “Nos” acostumamos a dizer que sendo o direito civil uma norma geral, ela se submetia ao princípio da especialidade, ou seja, a norma especial afasta a norma geral. Assim, quando existir uma norma especial, cessará a incidência do direito civil.
- Todavia, a Tese do Diálogo das Fontes (diálogo de conexão ou complementaridade) permite uma inversão episódica do princípio da especialidade, ou seja, uma prevalência excepcional e episódica da norma geral sobre a norma especial.
- Essa tese foi trazida para o país pelo prof. Erik Jaime (Alemanha), e no Brasil é defendida pela prof. Cláudia Lima Marques (RS).[16: Autoridade em Direito do Consumidor.]
- O Diálogo das Fontes é a possibilidade de aplicação da lei geral (CC/2002) e não da lei especial sempre que a norma geral for mais benéfica. Assim, afasta-se episodicamente a prevalência da especialidade.
- Dois campos fecundos para se analisar essa teoria são o Direito do Trabalho e Direito do Consumidor. 
Nesses ramos, a CLT e o CDC são norma especiais, logo, ordinariamente, afastam a incidência do CC. Contudo, se o CCfor mais benéfico, ele será aplicado no lugar da CLT e do CDC.[17: Esse afastamento do CC, inclusive, está previsto no art. 8º, parágrafo único, da CLT.]
- Ex: O CDC nos art. 26 e 27 falam dos prazos para reclamação de vícios redibitórios, de 30 dias para produtos não duráveis e 90 dias para produtos duráveis. Mas o CC, no § 1º do art. 445, estabelece que o prazo será de 180 dias se o bem for móvel e 1 ano se for imóvel.
Nesse caso, como os prazos do CC são mais extensos, aplicam-se estes.
Interpretação do Direito Civil: regras e princípios
- José Gomes Canotilho afirma que Norma jurídica = Norma-regra + Norma-princípio.
- Essa ideia é compartilhada pelos grandes teóricos modernos como, p.ex., Robert Alexy e no Brasil Luis Roberto Barroso, Dirley da Cunha Jr e Paulo Bonavides.
- A ideia é de que todo princípio tem força normativa. O que se quer dizer que princípios e regra são norma que vinculam.
- A diferença: 
- Princípios: norma aberta, de solução casuística e com grau de indeterminação.
- Regras: norma fechada, de solução aprioristica e com grau de determinação.
* Ex: Condôminos deve se tratar com urbanidade e respeito -> Norma princípios; Condôminos só podem tomar banho de piscina até às 20h -> Norma Regra.
- Colisão entre norma-regra e norma-princípio.
- Cumpre ressaltar que a norma-princípio não vale mais que a norma-regra.
- Celso Antônio Bandeira de Mello aduz que mais grave do que violar a regra é violar o princípio. O autor sustenta que quando se está violando uma regra já se está violando um princípio.
- Contudo, para prof. esse entendimento é equivocado. A regra não está submetida ao princípio, mas estão harmonizados entre si. As regras são elaboradas a partir dos princípios.
- Assim, não há uma superioridade técnica ou hierárquica do princípio sobre a regra.
- Havendo colisão de regra e princípio, a solução parte da interpretação conforme a Constituição e controle de constitucionalidade em concreto (CC 422 e 448 – a questão da boa-fé objetiva como princípio geral).
- Isso só vale para normas em um mesmo plano hierárquico. Claro que se houver conflito com regra constitucional e princípio infraconstitucional, prevalece a norma constitucional.
- Colisão entre norma-princípio e norma-princípio.
- A solução advém da técnica da ponderação de interesses (proporcionalidade como técnica).[18: A proporcionalidade pode se apresentar com dois vieses: 1) princípio de interpretação das normas (razoabilidade), e 2) técnica de solução de conflitos (ponderação).]
- Ex: STJ, REsp.226.436/PR (relativização da coisa julgada na ação de reconhecimento de filhos)
- Ex: STJ 309: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”.
- Colisão entre norma-regra e norma-regra.
- A solução se dá pela utilização dos clássicos métodos hermenêuticos. 
		- Lei especial afasta lei geral.
		- Lei superior afasta lei superior.
		- Lei posterior afasta lei anterior.
- A excepcional possibilidade de derrotabilidade (defeseability) da norma-regra.[19: Chamada de Superabilidade pelo prof. Humberto Ávila.]
- Sempre que uma norma-regra é compatível com a Constituição, e foi formalmente editada, ela deve ser aplicada, a não ser que os fundamentos que justificaram a sua edição não estejam presentes.
- Ex: A regra do impedimento matrimonial visa impedir a casamento entre irmão de forma a evitar a eugenia.
Contudo, na Espanha, um casal casado com 4 filhos descobriu que eram irmãos, pois o marido nasceu em fertilização in vitro.
Assim, o MP da Espanha entrou com ação pedindo a anulação do casamento, pois é proibido o casamento entre irmãos conforme a regra do impedimento matrimonial.
Seria razoável anular esse casamento? Não, pois o casal já constitui um família a bastante tempo, inclusive com 4 filhos saudáveis. 
Os fundamentos que justificam a anulação do casamento entre irmão não está presente, pois eles se conheceram como marido e mulher, e não como irmãos. Nesse caso, derrota a regra e mantém o casamento.
- O STF e STJ nunca usaram a expressão derrotabilidade, mas já se valeram da técnica.
- Ex: STJ, REsp 799.431/MG (reprovação de aluno com nota 7.955 ao invés da nota mínima – 8.0)
- In casu, foi uma prova de título que reduziu a nota do candidato. Assim, como a candidato passou em todas as outras provas, a Corte decidiu aprová-lo.
Assim, derrotou-se a regra do edital.
- Ex: STF, RE AgRegRecl. 3034/PB (sequestro de verbas públicas)
- o STF autorizou um sequestro de verbas públicas mesmo fora das hipóteses previstas na regra.

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