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CULTURA BRASILEIRA
AULA 1 (ANTIGA)
O estudo da cultura brasileira permite a compreensão da história de nossa cultura e o papel dos indivíduos na construção de nossa sociedade.
Busca refletir sobre a complexidade da cultura e da identidade cultural; proporcionar o domínio razoável das questões fundamentais das principais linhas de interpretação da sociedade brasileira no século XX, identificando-as, inclusive, numa perspectiva histórico-sociológica. Além de problematizar a questão da identidade cultural brasileira, assim como, caracterizar a cultura e as identidades nacionais num contexto da Globalização e do Multiculturalismo.
Compreender cultura como algo construído pelos indivíduos, na sua diversidade e sua relação com a história da humanidade, também é compreender a si mesmo como sujeito histórico e consciente.
Tal conhecimento permite uma visão mais crítica da realidade não só brasileira, mas global.
Nunca é demais reiterar a importância do papel da Cultura na construção das sociedades modernas. Para se compreender essa relação no caso da sociedade brasileira, partiremos das matrizes fundadoras das explicações do Brasil.
Os principais teóricos brasileiros em cultura, a partir dos anos 1930, deixaram de tentar responder quem eram os brasileiros e passaram a querer entender: o porquê do Brasil ser pobre, qual a razão de seu atraso social, cultural e econômico.  Além disso, houve uma mudança no pensamento da elite cultural brasileira.
AULA 1 (NOVA) – INTRODUÇÃO À CULTURA BRASILEIRA
Introdução à Cultura Brasileira
Dentre os fatores mais relevantes para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem está a motivação.
A motivação do adulto está principalmente em entender a relevância do que estuda, assim como em descobrir aplicabilidade do conhecimento que adquire ou pretende adquirir.
Por que estudar a Cultura Brasileira através desta disciplina?
Por permitir a compreensão da história de nossa cultura e o papel dos indivíduos na construção de nossa sociedade.
Quais os principais objetivos do curso?
Propiciar o conhecimento de matrizes fundadoras das explicações do Brasil.
Compreender o papel da cultura na construção da sociedade brasileira e de promoção do país no contexto mundial.
Como este conteúdo pode contribuir para a sua formação?
Ele contribuirá para a melhor compreensão do Brasil contemporâneo, de noções de cidadania e, consequentemente, ensejará uma visão mais crítica da realidade e um compromisso ético de sua profissão.
Esta disciplina pretende refletir sobre a complexidade da cultura e da identidade cultural; proporcionar o domínio razoável das questões fundamentais das principais linhas de interpretação da sociedade brasileira no século XX, identificando-as, inclusive, numa perspectiva histórico-sociológica. Além de problematizar a questão da identidade cultural brasileira, assim como, caracterizar a cultura e as identidades nacionais num contexto da Globalização e do Multiculturalismo.
É necessário destacar também a relação da disciplina Cultura Brasileira com as demais disciplinas do curso de Letras, visto que a riqueza do conceito de cultura e a perspectiva histórico-cultural do processo de formação da sociedade brasileira que cercam a disciplina certamente facilitam e deixam clara a compreensão daquela relação.
Como está estruturado o curso?
Temas
Os temas a serem abordados pela disciplina sempre estarão voltados para uma consciência histórico-cultural indispensável à construção do conhecimento e de um senso crítico fundamentais à formação de qualquer profissional.
Conceitos
Serão trabalhados quatro conceitos: Cultura e Identidade nacional brasileira (numa perspectiva histórica). Globalização e multiculturalismo (levando em consideração seus efeitos sobre a cultura).
Unidades
O conteúdo programático foi estruturado em três unidades.
Primeira - Abordará além do conceito de Cultura, conceitos fundamentais para a sua compreensão.
Segunda - Se ocupará, especialmente, das tentativas de interpretações da sociedade brasileira e da construção da identidade cultural. 
Terceira - Tratará do projeto de globalização, seus efeitos e desafios à cultura.
Cultura
Compreender cultura como algo construído pelos indivíduos, na sua diversidade e sua relação com a história da humanidade, também é compreender a si mesmo como sujeito histórico e consciente. Tal conhecimento permite uma visão mais crítica da realidade não só brasileira, mas global.
O Papel da Cultura
Nunca é demais reiterar a importância do papel da Cultura na construção das sociedades modernas. Para se compreender essa relação no caso da sociedade brasileira, partiremos das matrizes fundadoras das explicações do Brasil.
O Histórico da Cultura
Os principais teóricos brasileiros em cultura, a partir dos anos 1930, deixaram de tentar responder quem eram os brasileiros e passaram a querer entender: o porquê do Brasil ser pobre, qual a razão de seu atraso social, cultural e econômico.  Além disso, houve uma mudança no pensamento da elite cultural brasileira1.
1 A elite intelectual brasileira, especialmente as do campo sociológico e econômico, tomou cada vez mais consciência das desigualdades sociais, da miséria, dos desequilíbrios regionais, do mau funcionamento das instituições, das debilidades políticas e morais que prejudicavam o bom funcionamento das coisas, tratando de, cada um a seu modo, engajar-se na tarefa de explicar e transformar o país contemporâneo.
Essa disciplina será traduzida em conteúdo amplo, por meio de aulas expositivas que certamente irão contribuir para a compreensão das noções de cidadania, identidade cultural, memória coletiva e sua importância, nos dias atuais, para a construção da democracia e do futuro do país, inserido num sistema global e multicultural.
Todo e qualquer processo de ensino-aprendizado é sempre mais produtivo quando há empenho e interesse de todos, concorda?
Esse interesse pode ser manifestado quando há o acompanhamento por meio das leituras indicadas e da execução de tarefas e atividades propostas, por parte dos próprios alunos.
A educação é um processo de construção de conhecimento que deve estimular a criação de ideias e a sensibilidade para problemas recorrentes nas vidas de cada indivíduo. Nesse processo, professor e alunos são parceiros numa relação amigável, consciente e criativa.
Por parte do professor, a orientação do melhor caminho, a mediação de resultados e, se necessário, uma reorientação, isto é, a avaliação permitirá, após o resultado de cada etapa, uma reflexão acerca dos pontos positivos e recomendações acerca daquilo que não alcançou o estágio satisfatório. Este cuidado tem sentido inclusivo, acolhedor e não seletivo e autoritário.
E o seu papel aluno, você já sabe?
Além da leitura que mencionamos, a participação em fóruns e chats propostos também é importante, pois o debate estimula a criação de ideias e ajuda na compreensão das questões mais complexas. Sabemos que os estudos universitários exigem esforços ordenados e que é fundamental fazer anotações tanto das leituras quanto das falas de colegas e, sobretudo do professor para que estas sirvam como recurso auxiliar das leituras e reflexões que irão fortalecer a aprendizagem e enriquecer as aulas.
Também sabemos que não se aprende para um uso futuro somente, por isso é importante ir se autoavaliando e incorporando a aprendizagem no dia a dia.
Atenção
Aprender é um processo de superação de ideias preconcebidas, preconceituosas, estereotipadas e egocêntricas que devem ser modificadas à medida que se forma um senso crítico construído no processo de conhecimento. Isso dará lugar a ideias claras, inteligentes, formuladas com sensibilidade crítica, com a ajuda dos estudos sistemáticos.
AULA 2 – O QUE SE ENTENDE POR CULTURA?
É certo que a Cultura é uma preocupação contemporânea, muito presente nos tempos atuais. Além disso, é uma forma de entender os diversos caminhos que conduziram os grupos humanos a suas relações presentese suas perspectivas de futuro.
Significados Para Cultura ao Longo da História
Vinda do verbo latino colere (cultivar, criar, tomar conta e cuidar), Cultura teve como significado: 
1) o cuidado humano com a Natureza, neste caso, a agricultura; 
2) o cuidado dos homens com os deuses, entenda-se: culto;
3) o cuidado com a alma e com o corpo das crianças, ou seja, puericultura (puer, do latim, que significa menino). 
A cultura era a educação do espírito das crianças para tornarem-se membros excelentes e virtuosos da sociedade pelo refinamento e aperfeiçoamento das qualidades naturais, como o caráter, a índole e o temperamento sem excessos. 
Desta forma, Cultura seria o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido amplo.
No século XVIII, passa-se a entender por cultura os resultados da formação ou educação dos seres humanos. 
Resultados esses observados em obras realizadas, feitos, ações e instituições, tais como as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se, a Cultura, portanto, sinônimo de civilização. 
Os pensadores, dessa época, entendiam que o resultado dessa formação-educação se manifesta muito claramente na vida social e política ou na vida civil1 (do latim, cives, cidadão; civitas, a cidade-Estado).
1 Inicia-se o processo de separação e posterior oposição entre Cultura e Natureza. Os pensadores do século XVIII viam uma diferença essencial entre os seres humanos e a Natureza: enquanto homens e mulheres são dotados de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com valores e fins, a Natureza é da ordem da necessidade causal, do determinismo absoluto.
Enquanto a Natureza é repetição, a Cultura é transformação racional: relação, portanto, dos humanos com o tempo e no seu tempo.
No século XIX, observa-se uma atenção dirigida a formas sistemáticas de se estudar as culturas humanas, de se discutir sobre elas. Esses estudos se intensificaram na medida em que se aceleravam os contatos, nem sempre pacíficos, entre povos e nações. 
As reflexões em torno da cultura se voltaram tanto para compreensão das sociedades modernas e industriais quanto das que iam desaparecendo ou perdendo suas características originais em virtude daqueles contatos.  
É bom frisar que toda essa preocupação NÃO produziu uma definição clara e unânime do que seria cultura e isso mostra a dificuldade de conceituá-la. Hoje, pode-se elencar algumas concepções de cultura, para evidenciar sua complexidade.
Há duas concepções de cultura:
A primeira concepção, nos remete a todos os aspectos de uma realidade social. Embora ela seja mais genérica, é mais usual quando se fala de povos e de realidades sociais bem diferentes das nossas, com os quais partilhamos de poucas características em comum1.
1 Pode ser na organização da sociedade, na forma de produzir o necessário para sobrevivência ou nas maneiras de ver o mundo.
Na segunda concepção básica1 de cultura, observa-se também a referência à totalidade de características de uma realidade social, já que não se pode falar em conhecimento, ideias, crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. Essa concepção diz respeito a uma esfera, a um domínio, da vida social.
1 O que acontece é que há uma ênfase especial no conhecimento e dimensões associadas. Por exemplo: quando falamos em cultura francesa poderemos estar nos referindo à língua francesa, ou à literatura francesa, ou ao pensamento filosófico francês, etc.
Definição Mais Completa de Cultura:
Uma definição mais completa de cultura está formulada no Dicionário Filosófico Abreviado, de M. Rosental e P. Iudin que define cultura como sendo um nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituições correspondentes. Entre os índices mais importantes do nível cultural, em determinada etapa histórica, segundo esses autores, é preciso notar o grau de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produção social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de difusão da instrução, da literatura e das artes em geral entre a população.
O Que se Entende por Identidade Cultural?
Segundo os especialistas em Estudos Culturais, as identidades culturais dizem respeito àqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais.
Na construção da identidade nacional brasileira, se observa, que em diferentes épocas e sob diferentes aspectos, a questão da identidade nacional esteve vinculada, com frequência, à problemática da cultura popular1.  
1 Renato Ortiz informa que no século XIX, Sílvio Romero, precursor dos estudos sobre o caráter brasileiro e um dos fundadores da tradição dos estudos folclóricos, procurou encontrar na cultura popular os elementos que em princípio constituiriam o homem brasileiro. Também o movimento modernista, no começo do século XX, que busca uma identidade brasileira, se prolonga em Mário de Andrade em seus estudos sobre folclore, e na sua tentativa de criar um Departamento de Cultura, que entre outros aspectos se volta para a cultura popular. Nos anos 30, Gilberto Freire retoma as mesmas preocupações dos intelectuais do final do século XIX, e, não obstante o abandono dos argumentos racistas, o sociólogo caracterizará o brasileiro como homem sincrético, produto do cruzamento de três culturas distintas: a branca, a negra e a índia. No entanto, o conceito de povo permanece muito próximo àquele do século XIX, uma vez que o brasileiro seria constituído por este elemento popular oriundo da miscigenação cultural.
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e identidade nacional. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.
Vários são os exemplos, não só no Brasil, que associam a identidade nacional à cultura popular, por isso, pode-se dizer que a relação entre nacional e popular se manifesta no interior de um quadro mais amplo, isto é, o Estado1.
1 Vale ressaltar que no Brasil do século XIX, as obras de Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha se inserem numa tradição de pensamento dessa época, que procura insistentemente definir o fundamento do ser nacional como base do Estado Brasileiro.
Se for verdade que esta relação integra o quadro mais abrangente do Estado, é necessário saber que tipo de relação é esta. Para tanto, é necessário que se tenha a compreensão da noção de memória, pois para responder a essa questão, é preciso lançar mão da ideia de memória1, e de aproximar a problemática da cultura popular do Estado.
1 Através da relação entre memória coletiva e memória nacional, e que o nacional se definiria como a conservação “daquilo que é nosso”, a memória nacional seria o prolongamento da memória coletiva popular.
Um exemplo de memória coletiva popular é a prática do candomblé, que ao definir um espaço social sagrado, o terreiro, possibilita a encarnação da memória coletiva africana em determinados enclaves da sociedade brasileira. Assim, a origem é recorrentemente relembrada e se atualiza através do ritual religioso. A memória coletiva popular deve se transformar em vivência, pois somente dessa forma fica assegurada a sua permanência através das representações.
Enquanto a memória coletiva popular é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano.
O exemplo de memória coletiva (o candomblé) mostra a necessidade de a tradição se manifestar enquanto vivência de um grupo social restrito, a memória nacional se mostra em outro plano, visto que está vinculada à história e, assim sendo, pertence à esfera da ideologia.
Um mito é encarnado por um grupo restrito; já a ideologia se estende à sociedade inteira. A memória nacional, dessa forma, não é propriedade particularizada de nenhum grupo social, pois ela se define como um universal que se impõe a todos os grupos. Ela não possui umaexistência concreta, mas virtual, daí não poder se manifestar como vivência1.
1 Então, identidade nacional é uma entidade abstrata e como tal não pode ser apreendida em sua essência, pois não se situando na concretude do presente, revela-se como virtualidade, ou seja, como um projeto que se processa, ou se opera vinculado às formas sociais que lhe dão sustentação. É, portanto, através de uma relação política que se constitui uma identidade.
O Que é Etnocentrismo?
O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como "certo" ou "errado", "feio" ou "bonito", "normal" ou "anormal" os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. 
Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo1. Os estereótipos são uma maneira de biologizar2 as características de um grupo. 
1 O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao definir a priori quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se aproxima também do preconceito. Em nossa sociedade, existem práticas que sofrem um profundo preconceito por parte dos setores hegemônicos, ou seja, por parte daqueles/as que se aproximam do que é considerado "correto" segundo quem detém o poder. Assim, são utilizados vários meios para condenar as práticas homossexuais e homoafetivas, por exemplo, considerando-as contrárias à dita "normal e natural" heterossexualidade. Seguindo essa mesma lógica, os cultos afro-brasileiros seriam contrários ao "normal e natural" cristianismo europeu. O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está profundamente arraigado na sociedade brasileira por estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente estigmatizado e excluído.
2 Muitos acreditam, por exemplo, que a homossexualidade é inata, assim como a raça é geneticamente determinada ou que o cérebro das mulheres funciona de modo diferente do cérebro dos homens. A intolerância religiosa pode ser outro bom exemplo.
O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao definir a priori quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se aproxima também do preconceito1.
1 Várias coletividades sofrem um profundo preconceito no interior de nossa sociedade. Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual direcionam práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no campo das ideias, a discriminação está no campo da ação, ou seja, é uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar oportunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nesta perspectiva, a omissão e a invisibilidade também se constituem em discriminação.
Dinamismo Cultural
O caráter dinâmico da cultura é extremamente relevante, pois muitas vezes a cultura é associada à ideia de "tradição", quando na verdade foi pensada como algo imutável1, que tenderia a se reproduzir sem perder suas características2. 
1 O diverso é saudável e não implica diferença de direitos e oportunidades.
2 Sobre isso, pode-se dizer que a cultura é dinâmica, que muda e se transforma e que essas mudanças se aceleraram com a globalização, o que em grande medida significa a "ocidentalização" de boa parte do mundo.
A dinâmica cultural está diretamente relacionada à diversidade cultural existente em nossa sociedade. Esta se confunde muitas vezes com a desigualdade social – que deve ser combatida – e com um universo de preconceitos – que devem ser superados1.
1 Há todo um aparato legal e jurídico que promete a igualdade social e a penalização de práticas discriminatórias. Mas a própria sociedade deve passar por um processo de transformação que implica incorporar a diversidade.
Relativismo Cultural
Seria pertinente salientar que o mais correto politicamente é se pensar na possibilidade de um verdadeiro relativismo cultural cujo princípio afirma que todos os sistemas culturais são intrinsecamente iguais em valor, e que os aspectos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados dentro do contexto do sistema em que aparecem, por um lado; por outro, entender e interiorizar o diferente como um sujeito igual em direitos e oportunidades.
AULA 3 – O POPULAR, O ERUDITO E O PAPEL DO INTELECTUAL
Os conceitos popular e erudito são tomados como opostos.
Erudito: O vocábulo erudito vem do latim erudítus, aquele “que obteve instrução, conhecedor, sábio”.
Popular: A palavra popular, também tem origem  no latim populare, significa “de ou do próprio povo” 1.
1 A significação se estende a outros conceitos como: “feito para o povo, agradável ao povo, democrático”, até chegar em: “vulgar, trivial, ordinário, plebeu”.
Os conceitos popular e o erudito são tomados como opostos. Tradicionalmente, esses termos são carregados de ideologias1. 
1 Esses termos aparecem como categorias estáticas que carregam em si um julgamento, um juízo de valor.
Ao citar essas palavras em determinados contextos, já se revela a natureza do discurso. Trata-se de dois pólos extremos de um pensamento dicotomizado, maniqueísta e tendencioso.
Entretanto, a expressão cultura popular e erudita/elite é criticada por certos estudiosos, como Roger Chartier1 e Peter Burke, dada a sua extensão e impressão homogeneizante que passa. 
1 Roger Chartier, opõe-se a toda tentativa de estabelecer um nexo entre nível social e nível cultural (popular ou erudito), com base em categorias sociológicas. Para ele, o que define erudito e popular são as práticas. Quanto à cultura popular, torna-se assim impossível identificá-la a partir de textos (artefatos culturais) consumidos por ela. Na verdade, filiando-se ao princípio de circularidade, Chartier mostra que a oposição entre popular e erudito não tem mais sentido, em razão dos empréstimos e intercâmbios. O que interessa é o estudo das práticas, porque elas permitem a apropriação diferente dos materiais culturais.
O autor mostra que há imbricações entre a cultura popular e a erudita e diferentes maneiras de apropriação dos objetos, não sendo, por vezes, possível estabelecer claramente a fronteira entre popular e erudito, encontrando formas originais de cultura do povo como queria alguns historiadores.
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. São Paulo, n° 11, 1991.
Roger Chartier
Chartier, defende a ideia de que os sujeitos se apropriam e representam as práticas culturais de formas diversas.  
Peter Burke
Já Burke1, cunhou o termo “biculturalidade”, para expressar o quanto membros das elites conheciam e participavam da cultura popular, ao mesmo tempo em que preservam sua cultura.
1 Em outras palavras, práticas culturais eram compartilhadas entre membros do povo e das elites.
BURKE, Peter. Cultural popular na Idade Moderna. São Paulo: Cia das Letras, 1989, p.56.
O Popular e o Erudito no Modernismo Brasileiro
Na visão dos modernistas, somente a arte que integrasse a cultura erudita e a popular poderia representar o Brasil. 
O que os modernistas pretendiam era reformular a visão de cultura até então vigente, integrando as duas culturas, para unificá-las em uma só: a cultura brasileira. 
Essa visão de cultura popular modificou-se nos anos 60 do século XX, durante o regime militar, por aqueles que organizaram o movimento de contestação de caráter social e cultural chamado Contracultura1. 
1 A Contracultura, no Brasil, entendia cultura popular como sendo as representações do povo que deveriam ser usadas de forma a modificar, ou seja, a politizar este mesmo povo. Assim, eles faziam a distinção entre cultura erudita e popular. A primeira seria aquela que existiria como “instrumento de dominação”, “alienada e alienante”, visto que, segundo eles, não humanizava. Já a segunda seria a cultura que levaria o homem a assumir sua posição de sujeito da própria criação cultural e de operário consciente do processo histórico em que se acha inserido.
Assim, um movimento de cultura popular deveriaser fundamentalmente revolucionário e fazer arte com o povo, e não para o povo.
Entretanto, sabe-se hoje, que entre o popular e o erudito não há um abismo, mas uma passagem gradual1.
1 Esses conceitos estão imbricados, como polos de um mesmo fenômeno. Deste modo, deve-se pensa-los à luz de um sistema dialógico, em que se observa um constante processo de troca.
O Intelectual
Para tratarmos do intelectual vamos considerar três definições clássicas do termo:
INTELECTUAL ORGÂNICO: Pensado pelo cientista político italiano Antônio Gramsci. Na ideia de Gramsci, intelectual não requer uma formação acadêmica específica, mas uma ação social, um sujeito mediador de poder, que trabalha por meio do senso crítico.
Para Gramsci certo tipo de agente é capaz de fazer a ligação entre a “superestrutura” 1 e a “infraestrutura”2, independente de sua escolaridade específica, mas relacionada diretamente com o “lugar” que ocupa nas relações materiais/sociais de uma determinada produção social.
1 A base ideológica de uma sociedade, isto é, as crenças, o direito, a política, a moral, as ideias, a religião, a arte.
2 As relações materiais de produção.
Como alguém sustentado por uma base material econômica e por uma ideologia emanada desta base que procura mantê-la, e aqueles que estão fora do poder, mas produzindo para este poder e afetados por sua ideologia.
A mediação se daria por meio da organização e formação de um senso crítico, junto a esse grupo, construído com a contribuição dos intelectuais.
INTELECTUAL ENGAJADO: teorizado por Sartre. Este autor considera o intelectual o escritor de atualidades, aquele que opina e intervém em todos os acontecimentos relevantes, à medida que vão se sucedendo uns aos outros, num estado de vigília permanente.
O intelectual é uma figura que intervém criticamente na esfera pública, transgredindo a ordem e criticando o existente, inclusive, a forma e o conteúdo da própria atividade das artes, ciências, técnicas, filosofia e direito.
Um “personagem” engajado que é contra todas as formas de exploração e dominação vigentes; é a favor da emancipação ou da autonomia em todas as esferas da vida econômica, social, política e cultural, o que o diferencia do ideólogo que fala a favor da ordem vigente, justificando-a e legitimando-a.
INTELECTUAL UNIVERSAL: pensado pelo filósofo francês Michel Foucault. Para ele o intelectual é aquele cuja função passa por denunciar a produção da verdade – que se faz pelo eixo poder-saber – e examiná-la enquanto resultado de um “jogo de forças”.
O intelectual apresentado por Michel Foucault pode ser qualquer um, já que segundo ele a estrutura de poder deve funcionar em uma sociedade por meio de um sistema disciplinar disperso, que funciona anonimamente, através de um controle incessante que se faz valer de práticas discursivas para aplicar-se sobre os sujeitos; sujeitos estes que aparecem sujeitando-se, como efeito de operações de poder. 
Tal poder disciplinar está intrinsecamente ligado às ciências humanas, enquanto sistemas de conhecimento sobre seres humanos, dentre os quais a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise assumem posição privilegiada.
Enquanto mediador simbólico, os intelectuais são os agentes que constroem, por exemplo, a identidade nacional; são os artífices desta identidade e da memória nacionais, desempenhando a tarefa de mediadores simbólicos.
Todos se dedicam a interpretar1 o país cuja identidade será o resultado do jogo das relações apreendidas por cada autor, podendo ser chamados de mediadores simbólicos.
1 Na verdade, esses intelectuais são agentes históricos que operam uma transformação simbólica da realidade sintetizando-a como única e compreensível – o processo de construção da identidade nacional se fundamenta sempre numa interpretação.
A construção da identidade nacional necessita desses mediadores1, pois são eles que descolam as manifestações culturais de sua esfera particular e as articulam a uma totalidade que as transcendem.
1 Confeccionam uma ligação entre o particular e o universal, entre o singular e o global.
Embora as concepções do intelectual engajado de Sartre e do intelectual orgânico de Gramsci estejam presentes até hoje, sobretudo entre os pensadores ditos de “esquerda”, a urgência hoje, passa por uma reformulação desta moral do engajamento, desta “vontade de servir” (ou dever).  
Talvez hoje seja indispensável reavaliar a relação indivíduo/sociedade e consequentemente a relação entre intelectual e grupo social.  
Para se entender melhor o papel dos intelectuais hoje, seria preciso definir novos tipos de relações que unem o indivíduo aos grupos.
AULA 4 – CULTURA NAS SOCIEDADES DE CLASSES
Cultura nas Sociedades de Classes
Para relacionar cultura com as sociedades ditas de classes, como são as sociedades modernas, faz-se necessário, primeiramente, algumas reflexões em torno do termo IDEOLOGIA.
A ideologia, tanto em sua concepção marxista clássica (século XIX) como também nas reflexões dos frankfurtianos (Escola de Frankfurt, primeira metade do século XX), consiste na separação entre pensamento e ação, cultura e materialidade, sujeito e objeto.
Ideologia Marxista
Base da ideologia:
“...a separação da base produtiva material (o trabalho físico) da produção do conhecimento (atividade mental), como se estas partes fossem autônomas e dotadas de conteúdos independentes.”
Karl Marx afirmava que esta separação serve ao poder como forma de legitimação de uma determinada dominação.
A classe que detém os meios de produção (a riqueza) possui também os meios de produção do pensamento e, assim, essa classe justifica sua dominação por meio da imposição de suas ideias como dominantes.
Ideologia Segundo os Pensadores da Escola de Frankfurt
Base da ideologia:
“... na medida em que a cultura é transformada num bem de consumo, podendo ser adquirida por meio da troca livre no comércio de mercadorias, a falsidade daquela união é demonstrada por tomar a cultura unificada aos interesses da realidade vigente.”
A Escola de Frankfurt é o nome dado a um grupo de filósofos e de cientistas sociais de tendências marxistas que surge na Alemanha, ao final da década de 1920 e início dos anos de 1930.
O grupo de pensadores de Frankfurt não constituíram uma escola no sentido tradicional do termo. Representavam, na verdade, mais uma postura de análise crítica e uma perspectiva aberta para todos os problemas da cultura do século XX. Deve-se à Escola de Frankfurt a criação de conceitos como indústria, indústria cultural e cultura de massa.
O objetivo do grupo era romper os grilhões de todos os sistemas fechados de pensamento e combater tradições que haviam bloqueado o desenvolvimento do projeto crítico. 
Em suas análises, esses teóricos fazem referência à separação, largamente difundida na Alemanha, entre cultura e civilização1.
1 Com a finalidade de conservar os indivíduos submetidos e submissos ao sistema, fez-se necessário mudar os próprios padrões de produção de pensamento. Ocorre o que podemos chamar de uma “caricatura da reconciliação” entre os âmbitos separados da civilização e da cultura. 
A organização e a produção da cultura passam a ser cooptadas pelo aparato de produção de mercadorias, o que possibilitou o estabelecimento de novas formas de “distribuição” e “consumo” dos “bens culturais”.
O conceito marxista de ideologia sofre transformações importantes no século XX, provocadas pelo pensamento dos teóricos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Marcuse), na Alemanha dos anos de 1930.
A Indústria Cultural de Massas e a Sociedade de Consumo
Adorno e Horkheimer elaboraram o termo indústria cultural, com a finalidade de solucionar uma confusão a respeito da diferença entre cultura de massas e cultura popular.
O conceito indústria cultural esclarece que não se trata de uma cultura produzida pela massa, mas uma cultura do capitalismo1 voltada para o consumo em massa. 
1 Promover uma falsa aproximação entre a reprodução do mundo material e espiritual foio grande feito da indústria cultural. Este processo foi realizado por meio da mercantilização da cultura, pela união destas duas esferas distintas promovida pelo capital.
Ao ser transformada em bem de consumo que adapta os indivíduos à realidade existente e subjuga-o ao poder do sistema, a cultura resultará na indústria cultural. 
A potencialidade da cultura como esfera da formação do indivíduo, a qual pressupunha a autonomia do sujeito e de sua relação crítica e contestadora com a totalidade é transformada pela indústria cultural em esfera de alienação e adaptação acrítica do indivíduo à realidade.
A Indústria da Cultura no Brasil
A indústria cultural adquire seu pleno desenvolvimento no Brasil e se consolida em decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: um de natureza política e outro de natureza econômica1.
1 O fator econômico é representado pelo ingresso do País na etapa monopolista do capitalismo; o político, pela instauração do regime militar em 1964 e a consequente implementação de um projeto de desenvolvimento burocrático-autoritário fundamentado na Ideologia da Segurança Nacional (ISN).
O processo de implantação das indústrias de bens simbólicos, no entanto, começa antes, nos anos 60, embora só se consolide na década de 701.
1 Do ponto de vista econômico, os anos 60 e 70 representam o período de ingresso da economia nacional na etapa monopolista do capitalismo. Como ocorre em um momento em que a economia mundial capitalista está plenamente constituída, pode-se dizer que a inclusão do Brasil no sistema é tardia, retardatária. Do ponto de vista político, significa a fase mais dura de atuação do Estado autoritário sob comando militar que visava implementar um projeto de nação que vinha sendo articulado por segmentos autoritários da sociedade desde muito antes da chegada ao poder em 64.
Mesmo que nas décadas anteriores aos anos 1960 possam ser encontrados empreendimentos empresariais no setor da cultura e da comunicação (jornais, emissoras de rádio, editoras, gravadoras etc.), assim como um insipiente mercado para esses bens, não se pode dizer que tivessem as características próprias daquele tipo de atividade que Adorno e Horkheimer, em 1947, denominaram de indústria cultural.
Na década de 401, segundo o antropólogo Renato Ortiz, as empresas culturais existentes procuravam expandir suas bases materiais, mas encontravam grandes obstáculos que se interpunham ao desenvolvimento do capitalismo brasileiro, o que colocava limites concretos para o crescimento de uma cultura popular de massa.
1 O antropólogo Renato Ortiz (1991), numa das obras mais importantes sobre o processo de implantação das indústrias culturais do Brasil, lembra que na década de 40 já se pode passar a considerar seriamente a presença de atividades vinculadas a uma cultura popular de massa. Diz que, recuando-se às décadas anteriores, encontram-se jornais, revistas ilustradas e histórias em quadrinhos produzidos por organizações de caráter empresarial.
Dessa forma, é possível dizer que os anos 40 e 50 marcam o momento de incipiência de uma sociedade de consumo de massa no Brasil, porque a sociedade ainda não estava estruturada de forma a atribuir significado1 e amplitude social aos meios culturais que possuía. Já as décadas de 60 e 70 se definem pela consolidação do mercado de bens culturais.
1 Nas palavras de Renato Ortiz: “Se apontarmos os anos 40 como o início de uma ‘sociedade de massa’ no Brasil, é porque se consolida neste momento o que os sociólogos denominaram de sociedade urbano-industrial.”
AULA 5 – FORMAÇÃO ÉTNICA DO POVO BRASILEIRO
Formação Étnica do Povo Brasileiro
Para se falar da formação étnica de um povo, é necessário que comecemos por diferenciar o conceito de “etnia” do conceito de “raça”.
O conceito de raça é uma construção social forjada nas tensas relações entre brancos, negros e indígenas. Não tinha relação com o conceito biológico de raça1 cunhado no século XIX e que hoje está superado.
1 Em relação à raça, a área biológica comprovou que as diferenças genéticas entre os seres humanos são mínimas, por isso não se admite mais que a humanidade é constituída por raças.
Tem uma conotação política e é utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.
Quanto à etnia, o termo marca as relações tensas por causa das diferenças na cor da pele e nos traços fisionômicos que caracterizam a raiz cultural plantada na ancestralidade dos mais diversos grupos, que difere em visão de mundo, valores e princípios de origem indígena, europeia ou asiática.
O termo étnico é fundamental para demarcar que indivíduo pode ter a mesma cor da pele que o outro, o mesmo tipo de cabelo e traços culturais e sociais que os distingue, caracterizando assim etnias diferentes.
Miscigenação e Sincretismo
A heterogeneidade presente na formação (étnica, cultural, social) da população brasileira gerou discussões historicamente marcadas pela diversidade de enfoques desde os primeiros trabalhos, a partir do século XIX.
Esta visão da formação do povo brasileiro começa com a explicação biologizante da mescla de três raças: a branca, a indígena e a africana. 
Foi a chegada de imigrantes europeus que instigou a busca por uma visão biológica, salientando nossa capacidade singular de absorção do "outro". 
A fábula de três raças surgiu ainda no Brasil Império, entre os pesquisadores naturalistas e ganhou a adesão de cronistas e escritores, em meio às teorias da época que relacionavam os saberes biológicos com os sociais.
Os autores que formularam as impressões do que viam se consolidar por aqui inclinavam-se por caminhos divergentes1, mantendo, porém, uma matriz comum: a constatação da mestiçagem racial. Esta foi vista ou como uma elaboração biocultural inusitada e sublime ou como algo perigoso e lamentável.	
1 Para alguns intelectuais brasileiros do século XIX a mestiçagem seria, então, um entrave aos anseios progressistas da nação que pretendia desempenhar seu papel no mundo civilizado. Ela é, no primeiro momento, a marca racial para se tornar, então, a marca cultural do Brasil.
O Mito da Democracia Racial
A sociedade brasileira se identifica com o traço multietnico e cultural que lhe é constitutivo, mas vive este de forma tensa. 
Na prática, o Brasil branco e europeizado, mais tarde branco e americanizado, não soube como fazer com a diversidade cultural que a nossa formação configurou; não a integrou de fato, quando muito de direito. 
O conceito de “nação” pode ser utilizado como um dispositivo discursivo que apazigua elementos diversos em uma aparente unidade. Dessa forma, os vários grupos étnicos, classes sociais e gêneros que constituem a sociedade são representados como pertencentes à mesma identidade nacional, suprimindo as múltiplas identidades culturais que perpassam os membros de uma nação.
A Construção da Identidade Cultural
Se o imaginário nacional instaura uma suposta igualdade entre esses membros, isso não se confirma no espaço real, onde as desigualdades entre as classes sociais não permitem que todos usufruam dos mesmos recursos; assim, esse conceito é construído ao longo do tempo de acordo com as representações, nessa cultura nacional, de sua nacionalidade.
Uma nação constitui-se não apenas de uma organização política, mas, principalmente, de um sistema de significação cultural1.
1 “As pessoas não são apenas cidadãos (ãs) legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional."
Neste sistema, os discursos que narram a nação serão ambivalentes ideologicamente por serem o produto de um processo histórico contínuo. 
A identidade cultural, como sabemos, é algo que se constroi ao longo do tempo e se manifesta de muitas maneiras.
Não há nação sem identidadenacional, porém, tais identidades são construídas permanentemente e nunca completadas, e nesta construção estão envolvidos intelectuais, artistas, povo e Estado.
Discursos Fundadores
No Brasil, foram várias as tentativas de se pensar uma identidade cultural para a nação brasileira. Entre essas tentativas, destacamos alguns momentos:
Séc. XVI – 1ª metade do século XIX: Na fase colonial, a descoberta da terra e o movimento nativista (século XVI à Independência – 1ª metade do século XIX).
1822-1880: No Romantismo, a independência política e a formação de uma imagem positiva do Brasil e do brasileiro (1822-1880). Neste momento, a figura do índio como ícone da identidade nacional ganha destaque.
Virada do séc XIX – séc XX: As ciências sociais e a imagem pessimista do brasileiro (virada do século XIX para XX). Neste momento, cabe destacar os discursos de Silvio Romero e Euclides da Cunha.
Silvio Romero (1851 - 1914) e a Identidade Brasileira
Para Silvio Romero, o passado colonial foi um problema central. Os fundamentos essenciais da nacionalidade remontariam aos tempos coloniais, mas ali também estaria a origem do atraso brasileiro. Em última estância, a tradição colonial era um fardo, pois de lá provinham as “raças inferiores” e a pesada herança escravocrata.
Euclydes da Cunha (1866 - 1909) e o Brasil de Canudos
Autor de Os Sertões, de 1902, obra em que apresenta a realidade social do interior do país, em grande parte desconhecida pela consciência intelectual brasileira, republicana, racista e positivista.
Ao relatar a guerra de Canudos no sertão da Bahia em 1897, apresenta o sertanejo como homem antes de tudo forte no contexto de um meio ambiente natural e político-social gravemente hostil, quando esta era uma surpreendente novidade para uma intelectualidade que a época justificava o atraso cultural do país pelos maus costumes coloniais da mestiçagem.
Os Intérpretes do Brasil do Século XX
Gilberto Freyre (1900 - 1987): em 1933, Gilberto Freyre publica Casa Grande & senzala, obra de referência no que tange à nossa identidade cultural, onde examina as relações de convivência e influência que sobredeterminaram as relações de dominação dos senhores de engenho sobre os negros.
Sérgio Buarque de Holanda (1902 - 1982): autor do livro Raízes do Brasil, de 1936, investigou de forma definitiva os diferentes tipos de colonização espanhola e portuguesa nos países da América do Sul, Central e Caribe.
Caio Prado Júnior (1907 - 1990): através de sua obra Formação do Brasil Contemporâneo, de 1942, de orientação marxista, denuncia a dependência econômica, política e cultural da colônia brasileira em face de sua metrópole portuguesa.
Gilberto Freyre
A teoria do lusotropicalismo formulada pelo sociólogo, durante a primeira metade do século XX, supõe a existência de uma civilização original que se ergueu sobre os alicerces decorrentes da expansão portuguesa por zonas tropicais do mundo e do modo particular dos portugueses de se relacionar com as populações indígenas.  
Através desta interação, que contempla a mútua influência em várias dimensões da vida cotidiana, nomeadamente no estilo de se vestir, na culinária, no comportamento social, nos ritos religiosos, assim como, na expressão idiomática de dois ou, no caso do Brasil, de três elementos, que se criaram sociedades híbridas na sua composição etnocultural.
AULA 6 – A DIALÉTICA LITERATURA E HISTÓRIA
A Literatura Como um Fato Cultural
Entender a importância da relação entre literatura e história, na formação cultural brasileira,
é fundamental quando falamos sobre este assunto.
Como a Literatura pode ser entendida?
A literatura pode ser entendida como um sistema de obras ligadas por denominadores comuns que fazem dela aspecto orgânico da civilização, isto é, fazem dela parte constitutiva da civilização.
Assim, a literatura é vista como um fato de cultura, algo, portanto, que não surge pronto e acabado, mas que se configura ao longo de um processo cumulativo de articulação com a sociedade.
A reflexão sobre a “forma” (literária) deve ser entendida como uma dupla articulação – social e artística – que implica a percepção de que ela funcionaria como princípio mediador, capaz de organizar em profundidade os dados da ficção e do real, sendo parte dos dois planos.
Forma Literária e Função Histórica
A forma, como noção que abrange a esfera literária e a própria vida real, assinala que há uma articulação entre estética e fator social que se faz mediante um fundamento prático histórico.
A conjunção entre literatura e sociedade – enquanto  “estruturas” complementares – se dá na medida em que a concepção de forma é definida para além da esfera literária: a própria realidade histórica é, com efeito, ela mesma “formada”.
A Questão do Local e do Universal no Processo de Formação Cultural Brasileiro:
Ao pensarmos a dialética de local e universal, que está pressuposta no movimento crítico da “Malandragem”, podemos ressaltar um aspecto fundamental para a realidade do pensamento intelectual brasileiro: colhendo um problema histórico-social em sua cor local, opera-se a apreciação da cena internacional e a interpretação da sociedade contemporânea.
Trata-se de um primeiro estrato universalizador, em que fermentam arquétipos válidos para a imaginação de um amplo ciclo de cultura. 
Há, porém, um segundo estrato de cunho mais restrito, no qual se encontram representações da vida capazes de estimular a imaginação de um universo menor dentro deste ciclo: o brasileiro.
A “Dialética da Malandragem” ou “da Ordem e da Desordem”
Seria o universal no particular, fazendo com que esses dois mundos se toquem continuamente. E é nesse segundo estrato brasileiro que nos deparamos com a dialética da ordem e da desordem, como “modos de existência”.
São “brasilidades”: a casa e a rua, a comida quente, a religião, o malandro, o carnaval e o futebol – uma combinação dinâmica e especial de possibilidades universais.
AULA 7 – IDENTIDADE CULTURAL
Vamos começar essa aula com a reflexão de um crítico contemporâneo chamado Kobena Mercer, citado por Stuart Hall, que diz que:
“A identidade somente se torna uma questão quando algo que se supõe como fixo (...) é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza.”
Considerando essa reflexão, passamos ao foco da aula que é a questão da identidade na contemporaneidade.
O argumento dos debates que giram em torno da questão Identidade Contemporânea diz que as “velhas identidades”, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno.
É a chamada “crise de identidade”.
Ela é vista como parte de um processo mais amplo de mudança que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.
Identidade Cultural e o Sujeito Contemporâneo
As “velhas identidades” que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, visto até aqui como um sujeito unificado. 
A chamada “crise” é parte de um processo mais amplo de mudança eu está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.
Crise de Identidade
Um tipo diferente de mudança está transformando as estruturas das sociedades modernas desde os meados do século XX. 
Tal mudança é responsável pela fragmentação das paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais.
Essas transformações atingem nossas identidades pessoais, pondo em xeque a idéia que temos de nós mesmos como sujeitos integrados. 
Esta perda de um “sentido de si estável” é chamada de “deslocamento” ou “descentração” do sujeito.
Tal deslocamento/descentração do indivíduo tantode seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmo, constitui uma “crise de identidade” para esse indivíduo.
Breve Histórico das Concepções de Identidade do Sujeito
Sujeito do Iluminismo (1): o sujeito do iluminismo (século XVIII) que emerge com a consolidação da modernidade, baseava-se na concepção de uma pessoa humana: um indivíduo centrado, unificado, dotado da capacidade da razão, de consciência e de ação, cujo centro consistia num núcleo interior, que emergia quando este sujeito nascia e com ele se desenvolvia até a sua morte. Este sujeito permanecia o mesmo, era contínuo ou “idêntico” durante toda a sua existência.
Sujeito Sociológico (2): o sujeito sociológico emerge à medida que cresce a complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autosuficiente. Sua identidade era formado na “interação” entre o eu e a sociedade.
Sujeito Pós-moderno (3): após o sujeito sociológico, entra em cena o sujeito pós-moderno. O sujeito centrado, unificado, do início e do auge da modernidade, está se fragmentando nesses tempos ditos tardios, compostos de várias identidades; algumas vezes contraditórias ou não resolvidas.
As identidades, que compunham as paisagens sociais e que asseguravam a estabilidade de nossa subjetividade com as necessidades objetivas da cultura, estão entrando em colapso, por conta de mudanças estruturais e institucionais.
Identidade como Processo: as Identidades Híbridas
O processo de identificação por meio do qual nos projetamos em nossas identidades culturais tornou-se provisório e problemático.
A identidade tornou-se uma “celebração móvel”, negociada, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados nos sistemas culturais que nos rodeiam.
AULA 8 – A SOCIEDADE GLOBAL
O cientista social Otavo Ianni, em sua obra A sociedade Global afirmou que o mundo ampliou-se além da capacidade interpretativa dos conceitos já conhecidos, que partem sobretudo das ciências sociais.
Nessa afirmação, o autor faz referência a noções de sociedade global que experimentamos hoje. 
O indivíduo e a sociedade já não se situam apenas no âmbito da nação e de sua história.
As biografias já não expressam nem a autonomia ou identidade do indivíduo, nem podem ser explicadas, de modo satisfatório, no âmbito do grupo, classe ou sociedade nacional.
A Sociedade Global
A cultura está além das formas conhecidas, como expressão e condição de grupos, classes, etnias, minorias, sociedades, está impregnada de padrões e valores, idéias e imaginários, provenientes de grupos, classes, etnias, minorias e sociedades situados “além”. As relações, os processos e as estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e integração, ultrapassam fronteiras.
O Que é a Globalização?
A globalização se refere àqueles processos que atuam em escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo.
A globalização está deslocando as identidades culturais nacionais, pois atravessa fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações, em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo mais interconectado.
Duas tendências contraditórias estão presentes na globalização: a tendência à autonomia nacional e a tendência ao mundial (ou à globalização).
O Global, O Local
A era da globalização impõe transformações universalizantes que reconfiguram a tradição, seu abandono ou desincorporação. 
O local encontra-se de tal forma conectado ao global que influencia e é influenciado por este.
A tradição vivenciada no lócus do cotidiano, no espaço específico, é colocada em questão pela experiência vivenciada do indivíduo no tempo e espaço global. Por outro lado, o local também problematiza o global.
Local X Global
Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem consciência do fato de que suas atividades locais são influenciadas e, às vezes, até determinadas, por acontecimentos ou organismos distantes.
O reverso da medalha é menos evidente. Hoje em dia, as ações cotidianas de um indivíduo produzem conseqüências globais.
A decisão de comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um tipo específico de alimento, tem múltiplas implicações globais.
Há uma interdependência cada vez maior entre o espaço global e o local.
O global tem influência sobre as vidas individuais nos espaços locais; mas também as decisões dos indivíduos em seu cotidiano podem influenciar sobre os resultados globais. Esta inter-influência incide sobre as coletividades e grupos de todos os tipos, incluindo o Estado.
Todos têm que levar em consideração essa realidade, o que pressupõe repensar os papéis, sua reorganização e reformulação.
A experiência global da modernidade está interligada – e influencia, sendo por ela influenciada – à penetração das instituições modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. 
Não apenas a comunidade local, mas as características íntimas da vida pessoal e do eu tornam-se interligadas a relações de indefinida extensão no tempo e no espaço. Estamos todos presos às experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão abertos quanto aqueles que afetam a humanidade como um todo. 
As experiências do cotidiano refletem o papel da tradição – em constante mutação – e, como também ocorre no plano global, devem ser consideradas no contexto do deslocamento e da reapropriação de especialidades, sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos. A tecnologia, no significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel principal.   
As experiências do cotidiano na modernidade globalizada vinculam-se às questões fundamentais relativas à identidade, à percepção do “eu” e do “outro”; e, por outro lado, envolvem múltiplas mudanças e adaptações na vida cotidiana. Em tais circunstâncias, os indivíduos “sentem-se no ar” e, inseguros, se apegam à tradição. Os indivíduos resistem localmente à globalização e, simultaneamente, não podem desconsiderá-la.
A Dialética das Identidades
A globalização caminha junto ao reforço das identidades locais. 
Trata-se de um processo desigual e que tem sua “geometria de poder”.
A globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades culturais estão sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo.
Com o declínio das identidades nacionais, identidades híbridas entram em cena.
No debate sobre o novo interesse pelo local e a nova articulação entre o global e o local, há, portanto, uma verdadeira dialética das identidades: entre novas identidades globais e novas identidades locais.
Segundo Stuart Hall1, a globalização tem um efeito contestador e deslocador das identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional.
1 (Identidades culturais na pós-modernidade, Rio de Janeiro: D. P&A, 2003)
Esse efeito verdadeiramente pluralizante altera as identidades fixas, tornando-as menos fixas, mais plurais, políticas e diversas.
Tal movimento pode produzir dois efeitos: 
O primeiro efeito de “Tradição”, quando as nações tentam “recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que são sentidas como tendo sido perdidas”. (HALL: 2003: p.87) 
O outro efeito desse processo nas nações é denominado de “Tradução” quando as nações “aceitam que as identidades estão sujeitas ao plano da história, da política, da representação e da diferença”. (HALL: 2003: p.87) 
Assim, as nações estariam gravitando entre manter (a tradição) e transformar (a tradução), o que afeta diretamente as novas (ou velhas) formas de identidade cultural.
É nesse movimento/deslocamento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a tradição e a tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de modernidade tardia.
AULA 9 – TRADIÇÃO E MODERNIDADE 
O Binômio Tradição e Modernidade
A modernidade cultural e a tradição misturam-se de forma peculiar e dinâmica. Essa mescla entre otradicional e o moderno conduz a “tradicionalização do moderno”. 
A Modernidade, com respeito aos valores da tradição cultural, torna-se um tabu para alguns, daí a reflexão que a cultura está em processo de transformação na sociedade moderna e tem conduzido aos contrários a ela. 
Surgem afirmações errôneas como: “o Brasil não ingressou na modernidade” ou ainda; “o Brasil não tem tradição”.
Para a década de 70, tais afirmações teriam algum sentido. 
O Brasil era um país classificado pelos países ricos como subdesenvolvido.
O Que é Tradição?
A tradição é o elo que une as ordens sociais pré-modernas. A tradição envolve, de alguma forma, o controle do tempo. É uma orientação para o passado, de tal forma ele é construído para ter uma pesada influência sobre o presente.
A tradição integra e monitora a ação e a organização tempo-espacial da comunidade, ela é parte do passado, presente e futuro, é um elemento intrínseco e inseparável da comunidade.
A tradição está vinculada à compreensão do mundo fundada na superstição, religião e nos costumes, pressupondo uma atitude de resignação diante do destino, o qual, em última instância, não depende da intervenção humana, do “fazer a história”. 
Dessa forma, conhecer a tradição é ter habilidade para produzir algo que está ligado à técnica e à reprodução das condições do viver.
A ordem social sedimentada na tradição expressa a valorização da cultura oral, do passado e dos símbolos enquanto fatores que perpetuam a experiência das gerações. 
Por outro lado, a tradição também se vincula ao futuro. Mas este não é concebido como algo distante e separado, mas como uma espécie de linha contínua que envolve o passado e o presente. 
É a tradição que persiste, remodelada e reinventada a cada geração. Não há um corte profundo, ruptura ou descontinuidade absoluta entre o ontem, hoje e o amanhã.
A tradição envolve o ritual; este constitui um meio prático de preservação. Nas sociedades que integram a tradição, os rituais são mecanismos de preservar a memória coletiva e as verdades inerentes ao tradicional.
O ritual reforça a experiência cotidiana e refaz a liga que une a comunidade, mas ele tem uma esfera e linguagem próprias e uma verdade em si, isto é, uma “verdade formular” que não depende das “propriedades referenciais da linguagem”. Pelo contrário, “a linguagem ritual é performativa, e às vezes pode conter palavras ou práticas que os falantes ou os ouvintes mal conseguem compreender.
(...) “A fala ritual é aquela da qual não faz sentido discordar nem contradizer – e por isso contém um meio poderoso de redução da possibilidades de dissenção.”
Modernidade
No que tange à Modernidade, podemos dizer que:
A modernidade reincorpora a tradição, reinventa-a, e, neste sentido, também expressa continuidade. Grande parte dos valores relacionados à tradição permanecem e se reproduzem no âmbito da comunidade local.
Na verdade, as primeiras instituições da modernidade não podiam desconsiderar a tradição preexistente e, vários aspectos, dependiam delas. 
Porém, aos poucos a modernidade “inventou” novas e rompeu com a “tradição genuína”, isto é, aqueles valores radicalmente vinculados ao passado pré-moderno.
Neste sentido, a modernidade expressa descontinuidade, a ruptura entre o que se apresenta como o “novo” e o que persiste como herança do “velho”.
A modernidade expressa:
Ruptura com a ideia de comunidade (una e corporificada no dirigente) e passagem à idéia de sociedade (dividida em interesses conflitantes, classes antagônicas e grupos diversificados).
Ruptura com a ideia e a prática teológico-política do poder político encarnado na pessoa do dirigente e passagem à idéia da dominação impessoal ou da dominação racional, isto é, nascimento da idéia moderna de Estado.
A modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Vivemos uma época marcada pela desorientação, pela sensação de que não compreendemos plenamente os eventos sociais e que perdemos o controle. A modernidade transformou as relações sociais e também a percepção dos indivíduos e coletividades sobre a segurança e a confiança, bem como sobre os perigos e riscos do viver.
A modernidade, pode-se dizer, rompe com o referencial protetor da pequena comunidade e da tradição, substituindo-as por organizações muito maiores e impessoais. O indivíduo se sente privado e só, num mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido de segurança oferecidos em ambientes mais tradicionais.
De Que Modo Observamos a Relação Entre a Tradição e a Modernidade?
A modernidade, enquanto descontinuidade entre as ordens sociais tradicionais e as instituições sociais modernas, apresenta três características.
O ritmo de mudança que a era da modernidade põe em movimento.
O escopo da mudança, isto é, a abrangência global desta.
A natureza das instituições modernas (o sistema político do Estado-nação, a dependência por atacado da produção de fontes de energia, a transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado).
A modernidade nas condições da globalização amplia tanto as oportunidades quanto as incertezas e os perigos. Daí a sensação de mal-estar e de desorientação. O mundo tornou-se cada vez mais um lugar inseguro e essa insegurança é sentida pelo indivíduo em sua mais remota comunidade.
A experiência da modernidade em tempos globais colocou por terra as certezas: as surpresas e os riscos estão sempre à espreita e o futuro parece uma impossibilidade se pensado enquanto construção histórica a partir do passado e do presente.
A modernidade na globalização se assemelha a uma grande e perigosa aventura, à qual, independente da nossa vontade, estamos presos e temos que participar.
A modernidade solapa a confiança fundada nos valores tradicionais e pressupõe um novo ambiente em que possa se desenvolver a “segurança ontológica”, isto é, o “ser no mundo”. A segurança ontológica “se refere à crença que a maioria das pessoas têm na continuidade de sua autoidentidade e na constância dos ambientes de ação social e material circundantes”. Ela diz respeito ao sentimento que temos sobre a continuidade das coisas e das pessoas; um sentimento inculcado desde a infância e que se vincula à rotina e à influência do hábito. A necessidade de “segurança ontológica” produz um novo ambiente de confiança.
O Processo de Modernização e a Modernidade Cultural
Nas sociedades dependentes de origem colonial, o capitalismo é introduzido antes da constituição de uma ordem social competitiva.
Considerando essa defasagem temporal, há no Brasil, desde a tradição literária do final do XIX, uma aliança significativa entre a arte e os veículos de comunicação, neste caso referindo-se à dependência da literatura em relação aos jornais. Houve um modernismo no Brasil sem que houvesse modernização da sociedade, sendo este descompasso um elemento característico da sociedade brasileira periférica.
Os grandes centros foram tomados pelo frenesi e agitação da Belle Époque com o advento da eletricidade, as reformas urbanas, construção de jardins, sendo tudo isso vivido sob o signo do moderno. 
A ideia de moderno associa-se neste momento a conceitos como progresso e civilização e a preocupação gira em torno do que os estrangeiros diriam de nós, num esforço de esculpir um retrato do Brasil condizente com o imaginário civilizado. Dessa maneira, houve no Brasil o estabelecimento de uma ponte entre uma vontade de modernidade e a construção de uma identidade nacional.
O moderno passa a ser encarado como uma vontade de construção nacional. A necessidade de superar o subdesenvolvimento estimula o fortalecimento da modernização assumida como um valor em si sem ser questionada. Dentro deste contexto, a ansiedade pelo moderno e o aparecimento da indústria cultural passam a ser vistos sob o signo da modernização além de uma necessidade para efetivamente concretizar a nacionalidade brasileira.
O pensadormarxista Perry Anderson apontou três fatores como centrais para a concretização de um padrão de modernidade. 
Veja abaixo a apresentação desses fatores em contraposição a realidade brasileira.
Passado Clássico – No Brasil não existiu
Inovação Tecnológica – O Brasil carecia deste fator, o que possibilitou um experimentalismo marcante.
Utopia de Proximidade Revolucionária – No Brasil este fator foi convertido em uma questão nacional e toda sua efervescência política.
A modernidade no Brasil é sempre algo que trabalha com o novo e com isso se afirma contrapondo com a noção de atraso e por isso mesmo se impondo como necessário. 
No movimento de modernização brasileira, o nacional e o capitalismo são pólos que se integram e interpenetram. A autêntica cultura brasileira capitalista e moderna que se configura claramente com a emergência da indústria cultural é fruto da fase mais avançada do capitalismo brasileiro.
AULA 10 – A GLOBALIZAÇÃO E OS DESAFIOS PARA A CULTURA BRASILEIRA: INTEGRAÇÃO OU RESISTÊNCIA 
Mundialização e Cultura
Em sua obra Mundialização e Cultura, escrita em 1994, o cientista social Renato Ortiz reforça que a economia vem afetando as práticas socioculturais coletivas e individuais. 
Segundo o autor, a fragmentação da sociedade, em função da natureza das práticas político-econômicas, acabou reduzindo o grande sujeito coletivo (a sociedade enquanto um todo) a uma imensa quantidade de universos fechados.
Para Ortiz, o que passaria a existir, agora, seria uma sociedade dividida em segmentos, em estratos sociais que contêm apenas um único elemento de universalidade que os unia – e que mesmo assim, era de natureza bastante fluída, em função das realidades socioeconômicas de seus respectivos Estados: o seu poder de consumo.
Cabe ressaltar aqui uma característica peculiar do pensamento de Renato Ortiz, isto é, que a realidade segmentada, cuja orientação se daria a partir de uma relação de consumo material de bens, não se dá sem afetar a dimensão psicológica da sociedade.
O grande princípio orientador das ações humanas, na atualidade, é o consumo simbólico dos bens, através do significado de suas imagens, que fomentaria um todo cultural inteiramente novo, e que não substituiria as culturas locais e as identidades tradicionais, como em um passe de mágica.
O consumo simbólico de bens formaria uma cultura-mundo, cujos ícones, independente do idioma falado ou do segmento em que se encontraria um agente social qualquer, seria reconhecido em todas as partes do globo, a partir de discursos visuais (ORTIZ, 1994, p.56-57).
Em outras palavras, uma cultura-mundo se daria a partir do emprego da tecnologia, que aproxima cada vez mais as culturas do globo, sintetizando e cristalizando-as algumas vezes, sob a forma de bens materiais.
A síntese de uma cultura não se daria no intuito de reduzi-la a uma quase descaracterização de seus significados, mas sim de diminuir sua complexidade para melhor apreendê-la e reproduzi-la em escala global.
A Globalização e os Desafios para a Cultura Brasileira
A Indústria Cultural no Brasil
As indústrias culturais adquirem seu pleno desenvolvimento no Brasil, e se consolidam, em decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: um de natureza política e outro de natureza econômica.
O fator econômico1 é representado pelo ingresso do País na etapa monopolista do capitalismo.
1 O processo de implantação das indústrias de bens simbólicos, no entanto, começa antes, nos anos 60, embora só se consolide na década de 70.
Do ponto de vista econômico, os anos 60 e 70 representam o período de ingresso da economia nacional na etapa monopolista do capitalismo. Como ocorre em um momento em que a economia mundial capitalista está plenamente constituída, pode-se dizer que a inclusão do Brasil, no sistema, é retardatária. Do ponto de vista político, significa a fase mais dura de atuação do Estado autoritário sob comando militar que visava implementar um projeto de nação que vinha sendo articulado por segmentos autoritários da sociedade desde muito antes da chegada ao poder em 64.
O fator político2 é representado pela instauração do regime militar em 1964 e a consequente implementação de um projeto de desenvolvimento burocrático-autoritário fundamentado na Ideologia da Segurança Nacional – ISN.
2 Inicia-se no período do governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1956-1960) e se aprofunda nos governos militares pós-1964.
Do ponto de vista político, significa a fase mais dura de atuação do Estado autoritário sob comando militar que visava implementar um projeto de nação que vinha sendo articulado por segmentos autoritários da sociedade desde muito antes da chegada ao poder em 64.
A Mundialização da Cultura
O Que é Globalização?
Entende-se por globalização a progressiva e inconclusa integração econômica assimétrica e desigual de mercados (que supera a idéia de Estados-nacionais, embora os mantenha como unidade política de referência), com a exclusão daqueles que, não dispondo de importância estratégica no novo cenário em construção, não devem se tornar empecilhos ao modelo de sociedade econômica mundial idealizada pelo capital internacional.
O que é Mundialização da Cultura?
Para compreender o conceito de mundialização da cultura é necessário compreender dois pressupostos:
1)   Embora indispensável, a correlação entre economia e cultura no plano global não acontece de forma imediata1.
1 O que significa “que a história da cultura das sociedades capitalistas não se confunde com as estruturas permanentes do capitalismo”.
2)   É um equívoco imaginar que a pretendida integração   precise rechaçar a convivência das diferenças culturais1.
1 Em outras palavras, “uma cultura mundializada não implica o aniquilamento das outras manifestações culturais, ela coabita e se alimenta delas”.
O avanço tecnológico e a expansão do sistema informacional se encarregariam de veicular em esfera global os elementos constitutivos da cultura mundializada, oferecendo padrões de referência para a formação de identidades sociais.
Assim, não haveria um choque de culturas entre o comum e o diverso, mas uma tendência de aproximação entre as lógicas que os conformam, em que o local, para garantir sua sobrevivência, precisa adequar-se ao mundial.
Em síntese, estaria em desenvolvimento um processo de integração progressiva de aspectos de diferentes culturas regionais a uma cultura comum, reconhecida entre si, porém sem a negação dos seus traços distintivos próprios.
A mundialização da cultura não prescinde das culturas locais para as quais devolve padrões culturais próprios, modelados pela lógica do consumo (ORTIZ:1994). 
Sendo, portanto, necessária a implementação de estratégias que promovam igualmente a aproximação entre hábitos, valores e preferências de consumo em esfera planetária, garantido assim a criação de um mercado consumidor global para produtos que pouco diferem entre si. 
Em outras palavras, revelou-se necessária a produção de uma cultura de consumo tendencialmente homogênea em âmbito mundial, que reduzisse substancialmente as diferenças subjetivas de comportamento dos consumidores e que, anteriormente, eram mais influenciados pelas características identitárias das culturas locais/regionais.
O Brasileiro Como Cidadão Global e os Outros
O Que é Cidadania?
A cidadania é notoriamente um termo associado à vida em sociedade. Sua origem está ligada ao desenvolvimento das polis gregas, entre os séculos VIII e VII a.C. 
A partir de então, tornou-se referência aos estudos que enfocam a política e as próprias condições de seu exercício, tanto nas sociedades antigas quanto nas modernas. 
Por outro lado, as mudanças nas estruturas socioeconômicas, incidiram, igualmente, na evolução do conceito e da prática da cidadania, moldando-os de acordo com as necessidades de cada época.
Hoje, uma variedade de atitudes caracteriza a prática da cidadania. Assim, entendemos que um cidadão deve atuar em benefício da sociedade,bem como esta última deve garantir-lhe os direitos básicos à vida, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, trabalho, entre outros. Como consequência, cidadania passa a significar o relacionamento entre uma sociedade política e seus membros.
“A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres humanos não é um dado. É algo construído na convivência coletiva que requer o acesso ao espaço público. É esse acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo comum através de um processo de asserção dos direitos humanos.” 
                                                                                              Hannah Arendt
Deve-se considerar que a cidadania como acesso ao espaço público, é a luta pela participação e construção do próprio espaço de modo a reivindicar a efetivação dos direitos humanos em seu aspecto sociopolítico e cultural.
Por outro lado, a cultura do povo brasileiro é uma cultura de país colonizado, reflexo de muitos anos de exploração, o que se perpetua até hoje. A formação histórica brasileira é reprodutora de relações sociais autoritárias e conservadoras. Devido a essa herança cultural de submissão, torna-se difícil resgatar valores historicamente negados, que são a base para a construção de uma cidadania.
O acesso ao espaço público se dá pela politização do sujeito, no sentido de modificar esse pensamento que está arraigado nos costumes do povo brasileiro. Isso passa pela formação de uma cultura política, em que os sujeitos passem realmente a ocupar o espaço público como espaço de reivindicações e melhoria das condições de vida.
É por isso que se torna impossível estabelecer um conceito pronto e acabado do que seja a cidadania. As pessoas precisam aprender sempre para saber exigir e participar do meio em que vivem. Isso porque tanto os indivíduos quanto os direitos estão sempre em processo de mudança, e essa dinamização traz sempre elementos novos a serem agregados ao homem-cidadão. Desse modo, a cidadania significa pertencer a uma comunidade e ter a responsabilidade de construir uma identidade cultural dia após dia.
“Cidadãos do mundo”
Quem é Ele?
O cidadão do mundo é o cidadão público1, em um mundo que se transformou em Global, e que virtualmente é um espaço pequeno onde todos estão em qualquer lugar. Este cidadão, dotado de informação e conhecimentos, é entendido como um sujeito capaz de interferir no mundo, e participa, cotidianamente, deste mundo.
1 Esta cidadania deve emergir do sujeito comum, pois é no viver cotidiano na família, na escola, na empresa, na paróquia, na associação, no sindicato etc., que as relações humanas se tornam significativas e se constrói a consciência coletiva. Além disso, uma parceria mundial entre os setores público e privado – governos, fundações, empresas e cidadãos –, potencializando valores/saberes e poderes, é importante para que se promovam uma cidadania reflexiva e crítica local-global.
Há, portanto, a necessidade de se incluir algumas dimensões essenciais na construção da nova cidadania contemporânea, qual seja, a cidadania democrática, a cidadania social, a cidadania intercultural, a cidadania  entre gêneros, a cidadania  empresarial e ambiental.
Democracia e Contemporaneidade
Quando um sistema político pode ser considerado democrático? 
Quando seus principais tomadores de decisões coletivas são selecionados através de eleições periódicas, honestas e imparciais; se os candidatos de diferentes correntes de pensamento concorrem livremente pelos votos; 
Se virtualmente toda a população adulta têm direito de voto. 
De modo geral, esta concepção minimalista da democracia representa e representou um importante avanço diante dos regimes autoritários que predominaram durante muito tempo em muitas sociedades. 
Na atualidade, porém, esta concepção mínima de regime político parece ser muito limitada para encarar os grandes desafios políticos, econômicos e sociais presentes no mundo contemporâneo. 
Talvez a abordagem mais pertinente para avançar neste debate seja considerar a chamada democracia de cidadania.

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