Buscar

Linguística I - Conteúdo Online

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LINGUÍSTICA I 
AULA 1 – LÍNGUA E LINGUAGEM 
Conversando Sobre Linguística e Linguagem 
Bem, o título desta seção da nossa aula é „Conversando sobre Linguística e Linguagem‟. 
Acredita-se que a linguagem seja a habilidade humana mais complexa: usamos a linguagem 
para compreender o mundo que nos cerca. 
A criança começa a experimentar o mundo através de seus sentidos e depois consegue 
explorá-lo através da linguagem. O surpreendente em nossa capacidade para a linguagem é o 
fato de uma criança começar a usar a linguagem simbolicamente muito cedo. Quando ela fala 
„mama‟, associa essa sequência sonora à mãe. Tanto faria se a sequência fosse „auau‟, „papa‟, 
pois essa associação é simbólica. 
Linguística: definida de forma bem genérica, Linguística é o estudo científico da linguagem. 
Em nossa aula 3 trataremos, especificamente, dessa temática. O foco da nossa aula hoje é a 
conceituação de LINGUAGEM, objeto de estudo da Linguística. Em nossas aulas 3 e 4 
trataremos da conceituação dessa ciência. 
Linguagem: “O termo „linguagem‟ apresenta uma notável flutuação de sentido, prestando-se 
aos usos mais diversos. Ele é comumente empregado para designar, indiferentemente, 
fenômenos tão afastados quanto a linguagem dos animais, a linguagem falada, a linguagem 
escrita, a linguagem das artes, a linguagem dos gestos.” 
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2001. 
Ingedore V. Koch, em A inter-ação pela linguagem (2001, p. 9), nos mostra três interessantes 
concepções da linguagem humana. 
 Linguagem como apresentação (“espelho”) do mundo e do pensamento. 
“[...] o homem representa para si o mundo através da linguagem e, assim sendo, a função da 
língua é representar (= refletir) seu pensamento e seu conhecimento de mundo.” 
 Linguagem como instrumento (“ferramenta”) de comunicação. 
“[...] considera a língua como um código através do qual um emissor comunica a um receptor 
determinadas mensagens. A principal função da linguagem é, neste caso, a transmissão de 
informações.” 
 Linguagem como forma (“lugar”) de ação ou interação. 
“[...] encara a linguagem como atividade [...]; como lugar de interação que possibilita aos 
membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos 
semelhantes nações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e 
compromissos anteriormente inexistentes.” 
Quando se fala em linguagem, geralmente se refere a uma capacidade humana, mas 
encarada como um sistema de comunicação, temos outras espécies se comunicando, não é 
mesmo? O uso de sons articulados não é uma propriedade básica da linguagem humana e é 
possível que os guinchos dos golfinhos, a dança das abelhas etc. representem sistemas 
semelhantes à linguagem humana. 
Linguagem, Linguagem Verbal, Linguagem Não Verbal. 
Se olharmos o conceito de linguagem de forma bem abrangente, teremos linguagem como 
todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. 
Linguagem verbal: língua em que os sinais utilizados para atos de comunicação são as 
palavras. 
Linguagem não verbal: aquela que utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as 
palavras. 
Exemplos. Um sinal de trânsito é um exemplo de linguagem não verbal. Por quê? As cores 
vermelho, amarelo e verde do sinal comunicam ideias diferentes: parar, diminuir a velocidade 
ou seguir adiante. 
Conversando Sobre a Linguagem Não Verbal 
No tempo em que ainda não havia a escrita, os homens usavam a pintura para comunicar 
suas ideias. Quando pensamos na comunicação de uma ou mais ideias, esse uso de 
linguagem não verbal, em alguns casos, carece de precisão. 
Você acha que o desenho possui uma única interpretação? Provavelmente sua resposta foi 
„Não‟. Vamos pensar sobre o que esse desenho quer significar? O que essas pessoas estão 
fazendo? 
1. Saíram para passear? 
2. Estão fugindo? 
3. Estão se exercitando? 
4. Apenas fizeram esse desenho para enfeitar a parede? 
Essas e outras interpretações acontecem pela imprecisão desse tipo de gravura. Muitos 
estudiosos afirmam que a linguagem verbal, ou seja, a linguagem que utiliza palavras para 
comunicar ideias, foi criada para resolver o problema causado pela imprecisão de certas 
gravuras na transmissão da mensagem. 
Linguagem Não Verbal: Os Gestos 
A Enciclopédia Mirador possui um extenso verbete que trata da linguagem. No item 6, 
intitulado Formas não verbais da linguagem humana, trata-se da linguagem dos gestos, tão 
importante à nossa capacidade de comunicação. 
Os gestos reforçam ou completam a manifestação verbal. Em geral, são inconscientes, mas 
podem ser portadores de um conteúdo preciso como os acenos de cabeça que significam „sim‟ 
e „não‟; com a mão para chamar alguém; com o indicador colocado sobre os lábios para pedir 
silêncio, etc. 
Os gestos constituem um sistema e substituem, de forma permanente ou não, a linguagem 
falada, como é o caso da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). 
As Múltiplas Leituras de um Texto: Unindo Linguagem Verbal e Não Verbal 
Você já pensou nos tipos de conhecimento que você aciona quando observa uma propaganda 
como a que temos ao lado? Em muitas propagandas, se não em sua maioria, temos que 
observar o verbal e o não verbal de modo a construir o significado. 
Ícone, Índice e Símbolo 
Mais adiante, trataremos mais profundamente de Charles Sanders Peirce (1839-1914) e do 
que é a Semiótica. Por enquanto, interessa-nos a conceituação de ícone, índice e símbolo, por 
Peirce, e tratada por Ernani Terra, em Linguagem, língua e fala de forma bem objetiva. 
Do grego eikón, imagem. “Nos ícones, que são uma espécie de signo criado pelos homens 
com a finalidade de estabelecer comunicação, ocorre uma relação necessária entre a imagem 
e o conceito que ela representa, razão pela qual têm sido largamente utilizados como uma 
espécie de linguagem universal”. (1997, p. 30). 
André Valente, em A linguagem nossa década dia, afirma que “[...] a relação icônica tem 
como traço principal a similaridade. São signos icônicos as maquetes, as estátuas, as 
fotografias, as caricaturas.” (VALENTE, p. 15). 
Você já pensou nos tipos de conhecimento que você aciona quando observa uma propaganda 
como a que temos ao lado? Em muitas propagandas, se não em sua maioria, temos que 
observar o verbal e o não verbal de modo a construir o significado. 
Há alguns ícones que possuem o mesmo significado, independentemente do país em que 
estejamos. 
E o que dizer de algo como :-), usado para indicar que a pessoa está alegre? Este também é 
um tipo de ícone que foi criado pelo homem para exprimir emoções. 
“A nuvem escura, indicando chuva, e a fumaça, indicando fogo, são signos naturais (ou 
índices) e não se prestam como elemento de comunicação, pois, na sua produção, não há 
intervenção do homem.” (TERRA, 1997, p. 30). 
“São objetos materiais (não linguísticos) que representam ideias abstratas. ”Símbolos resultam 
de uma convenção.” (TERRA, 1997, p. 30). Exemplo: Balança como símbolo da justiça. 
Segundo Valente (1997), “O símbolo opera por contiguidade instituída. [...] o símbolo tem 
caráter convencional; entretanto, não é gratuito. Existe uma ligação entre o significante e o 
significado. A „balança‟, por conter a noção de „equilíbrio‟, é símbolo da „Justiça‟ A escolha do 
símbolo do cristianismo decorre do fato de Cristo ter sido crucificado. A bandeira que simboliza 
a „paz‟ é branca porque esta cor nos remete à ideia de „quietude‟, „mansidão‟, „calma‟, 
„tranquilidade‟.” 
Linguagem e Língua 
Linguagem, língua e fala são três aspectos da comunicação humana. 
Conversando com Platão Sobre a Linguagem 
CRÁTILO - Em sua obra Crátilo, Platão (428-347 a.C.)nos apresenta um diálogo entre dois 
personagens Crátilo e Hermógenes, acerca do nome desse último. Crátilo considera que há 
um problema no nome de Hermógenes, pois essas palavras significa "filho de Hermes". Como 
Hermógenes estava com problemas financeiros, não justificava o nome que tinha. 
Hermógenes, nesse diálogo, advoga em favor do convencionalismo e afirma que não há 
relação entre os nomes e aquilo que eles representam: essa relação seria arbitrária. Crátilo, 
no entanto, acredita haver uma relação entre a coisa e seu nome, assumindo, portanto, uma 
posição conhecida como naturalista. 
Platão reconhecerá o convencionalismo - um mesmo objeto terá nomes diferentes nas 
diversas línguas, mas afirmará que não se pode trocar o nome das coisas, pois isso 
prejudicaria a comunicação. 
FEDRO - Em Fedro, Platão se referiu a linguagem como pharmakon, termo que originou a 
palavra pharmáco, daí a nossa palavra „pharmácia‟, que possui três sentidos principais: 
remédio, veneno e cosmético. Platão considerava que a linguagem poderia ser um remédio 
para fortalecer o conhecimento porque é pelo diálogo que trocamos ideias, ouvimos opiniões, 
descobrimos e aprendemos coisas novas, com os outros remediando a ignorância. Também 
considerava que poderia ser um veneno que seduz e nos faz aceitar fascinados, o que lemos 
ou escutamos, sem mesmo indagar se tais palavras são verdadeiras ou falsas. A linguagem 
venenosa coloca quem a ouve à disposição de quem a expressa. Podemos nos defender deste 
veneno quando indagamos, pedimos prova e questionamos o que ouvimos. Nesse caso, 
aquele que utiliza a palavra para seduzir, inicia então um novo discurso, utilizando a palavra 
como um cosmético (maquiagem), tentando manter uma ilusão mascarada da verdade de 
uma forma paliativa. 
AULA 2 – LINGUAGEM: CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA 
A Comunicação Humana 
A atividade de comunicação é uma constante em qualquer escala da vida animal: todos os 
animais se comunicam de alguma forma em algum período de sua vida, seja por necessidade 
de sobrevivência seja por imperativos biológicos. 
A comunicação é a função essencial da linguagem. Não existe comunidade sem comunicação. 
É necessário que seus integrantes levem a outros conteúdos de consciência formados em seu 
interior e que esses outros também os tornem seus, participando todos de uma realidade que 
é de um e de todos, e realizada por cada um e por todos. 
Sem a linguagem, bem pouco os homens teriam em comum que pudesse originar uma 
sociedade. A linguagem é, portanto, o instrumento que determina uma sociedade e congrega 
seus membros. 
Pode-se dizer que nada existe que não possa ser expresso, em qualquer língua que seja, 
exceção feita quando na experiência das pessoas nada corresponde à realidade que se quer 
comunicar. 
Entretanto, há uma pergunta interessante a se fazer: os animais têm linguagem? 
Certamente, se fizéssemos essa pergunta a um biólogo ou veterinário, eles diriam que sim. 
Mas, como o nosso ponto de vista é linguístico, precisamos considerar alguns aspectos da 
linguagem humana, antes de nos determos nesta resposta. Por isso, vamos verificar alguns 
traços característicos da linguagem humana: 
Simbolização: a linguagem opera com elementos que representam a realidade. Por exemplo, a 
sequência fônica „gato‟ representa a ideia de um determinado animal. A forma „amizade‟ 
representa uma determinada forma do comportamento humano. Toda comunicação se faz 
com base nesse processo de simbolização, resulta que ele é totalmente arbitrário com relação 
ao que comunica: não há nenhuma relação direta entre a cadeia fônica e seu conteúdo 
significativo. 
Articulação: em latim, a palavra articulus quer dizer „parte, subdivisão‟. Assim, quando se diz 
que a língua é articulada considera-se que as unidades linguísticas podem ser divididas em 
unidades menores. As línguas naturais se articulam em dois níveis diferentes: na primeira 
articulação, há unidades significativas, de natureza mórfica; na segunda articulação, há 
unidades distintivas, de natureza fônica. 
Por exemplo, as palavras „as gatas‟ podem ser segmentadas da seguinte forma: a- , artigo 
definido; -s morfema de plural; gat- radical que indica tratar-se de um felino de pequeno 
porte, -a, morfema de feminino e –s, morfema de plural. Todas essas unidades possuem 
matéria fônica e sentido. Assim, tem-se que na primeira articulação o enunciado pode ser 
dividido em unidades menores dotadas de sentido. 
No entanto, cada morfema pode articular-se em fonemas, unidades menores desprovidas de 
sentido como, por exemplo, o morfema gat- que pode subdividir-se em /g/ /a/ /t/. 
Desse modo, chega-se à segunda articulação da linguagem em que as unidades têm apenas 
valor distintivo. Se /g/ for substituído por /p/, tem-se um outro radical que aparece na palavra 
pata. A dupla articulação da linguagem possibilita grande economia, pois com número limitado 
de fonemas forma-se um número infinito de unidades da primeira articulação. 
Regularidade: as unidades linguísticas têm uma significação permanente capaz de repetir-se 
nas mesmas circunstâncias. Embora as unidades linguísticas variem no tempo, no espaço e 
no meio social, essa variação não ultrapassa certos limites impostos já que pode-se utilizar 
uma unidade com novo sentido desde que haja relação com o primeiro significado. 
Intencionalidade: os atos de comunicação humanos têm um propósito claro e definido. A 
linguagem humana refere-se a alguma coisa, existente ou não. 
Produtividade: a linguagem humana produz um número infinito de mensagens. Seria possível 
escrevermos TODAS as frases de uma língua? Nem vale a pena tentar, pois rapidamente 
descobriríamos que esse número de frases é ilimitado. Essa é uma importante diferença entre 
a linguagem humana e a linguagem animal: os animais produzem um número limitado de 
sinais. 
Aí você pode pensar: “mas nós também temos, de certa forma, um número finito de 
símbolos…” 
Sim, mas nós humanos podemos produzir um número infinito de enunciados a partir de um 
número finito de símbolos. 
Por mais que nossos cachorrinhos fiquem muito felizes quando chegamos a casa, eles não 
seriam capazes de discutir conosco como podemos organizar nossa semana de trabalho, por 
exemplo. 
Com o objetivo de atender a outras necessidades comunicativas, os seres humanos 
inventaram a escrita, tornando-se uma ferramenta fundamental, principalmente, em contextos 
em que se exigia um alcance maior no tempo e no espaço. Desse modo, podemos saber hoje 
o que se escreveu há milhares de anos, assim como as nossas ideias, registradas, podem 
atingir a um grande número de pessoas. 
Vale lembrar que nem todas as línguas do mundo apresentam um sistema de escrita. São as 
chamadas línguas ágrafas. 
Segundo os dados de Terra (1997), há em torno de 3 mil línguas sem tradição escrita. Este 
fato, de modo algum, desvaloriza a importância das línguas. Não devemos considerar uma 
língua superior à outra somente pela ausência da escrita. Cada língua possui suas 
particularidades e seus estágios de desenvolvimento. 
Quando a escrita foi inventada, os indivíduos já faziam uso da linguagem oral como forma de 
comunicação: 
“Escrevemos para resolver problemas que a fala, a linguagem oral, não consegue resolver. 
Podemos até dizer que o homem inventou a escrita, há milhares de anos, quando só a 
conversa não conseguia dar conta de todas as suas necessidades” (FARACO e TEZZA, 2003, 
p.10). 
Elementos da Comunicação e Funções da Linguagem 
Samira Chalhub (1990) explica-nos como surgiu essa visão dos elementos da comunicação. 
“O psicólogo austríaco Karl Bühler compusera esse modelo 
[o modelo da comunicação] de forma triádica, apontando três fatoresbásicos: o destinador 
(mensagens de caráter expressivo), o destinatário (mensagens de caráter apelativo) e o 
contexto (mensagens de caráter comunicativo). Roman Jakobson, no ensaio Linguística e 
poética, amplia essas funções de três para seis, complementando o modelo de Bühler [...]. 
Assim, seguindo o modelo de Jakobson, para haver comunicação (humana, é claro!), é preciso 
que alguns elementos estejam envolvidos no processo de interação. São eles: 
Os elementos da comunicação são: emissor ou destinador e receptor ou destinatário. 
 Emissor ou destinador: é aquele que emite a mensagem. Pode ser uma pessoa, um 
grupo, uma empresa, uma instituição. 
 Receptor ou destinatário: é aquele a quem se destina a mensagem. Pode ser uma 
pessoa, um grupo ou mesmo um animal, como um cão, por exemplo. 
OBS.: evidentemente que, em um diálogo, emissor e receptor alternam-se a todo momento, 
bem como a mensagem. 
 Código: é formado por um conjunto de sinais, organizados em torno de regras, e deve 
ser de conhecimento dos envolvidos no ato da comunicação. São exemplos de códigos 
a língua, oral ou escrita, gestos, código Morse, sons etc. 
 Canal: é o meio físico ou virtual, que deve assegurar que a mensagem seja tanto 
enviada quanto recebida. Além disso, o canal para garantir a comunicação, não deve 
apresentar ruídos. 
 Mensagem: é o objeto da comunicação e é formada pelo conteúdo das informações 
transmitidas pelos interlocutores. 
 Contexto ou referente: é o contexto, a situação a que a mensagem se refere. Esse 
contexto pode se constituir tanto pelo texto quanto pela situação, nas circunstâncias de 
espaço e tempo em que se encontra o destinador da mensagem. 
Funções da Linguagem 
As funções da linguagem organizam-se em torno de um emissor (quem fala) que envia uma 
mensagem (referente) a um receptor (quem recebe), usando um código, que flui através de 
um canal (suporte físico). 
Referencial ou denotativa: o que (referente) 
Samira Chalhub, em Funções da linguagem, nos diz que a melhor forma de se caracterizar a 
função referencial é separar aspectos conotativos de aspectos denotativos da linguagem. Não 
vamos nos alongar aqui nesta discussão, mas devemos observar as palavras da autora: “a 
linguagem denotativa seria, então, construída em bases convencionais [...], produzindo 
informações definidas, claras, transparentes, sem ambigüidades” (1990, p.11). 
Exemplo: 
“Ler por prazer é o X da questão. Há quem leia, por exemplo, apenas para se informar, 
dedicando regularmente algumas horas de seu precioso tempo a jornais e revistas - como 
você, caro leitor, está fazendo neste exato momento. Trata-se de um hábito mais que 
saudável, a ser preservado e disseminado, e de suma importância na chamada "sociedade da 
informação" em que vivemos.” 
Função emotiva ou expressiva: o quem 
O objetivo nesta função é expressar emoções, sentimentos, estados de espírito. O que 
importa são as impressões do emissor, daí o registro em primeira pessoa. Samira Chalhub 
afirma que “A função emotiva implica, sempre, uma marca subjetiva de quem fala, no modo 
como fala” (1990, p. 18). 
Função conativa ou apelativa: para quem (receptor) 
“Quando a mensagem está orientada para o destinatário, trata-se da função conativa. Esta 
palavra tem sua origem no termo latino conatum, que significa tentar influenciar alguém 
através de um esforço. A função conativa é também chamada de apelativa, numa ação verbal 
do emissor de se fazer notar pelo destinatário, seja través de uma ordem, exortação, 
chamamento ou invocação, saudação ou súplica” (CHALHUB, 1990, p. 22). O objetivo é 
convencer o receptor a realizar determinado comportamento. 
Função Fática: onde (canal) 
Segundo Chalhub (1990, p. 28), o objetivo da função fática é estabelecer, manter ou 
prolongar o contato (através do canal) com o receptor, ou até mesmo para testar se a 
comunicação está se realizando. As expressões usadas nos cumprimentos, ao telefone e em 
outras situações apresentam este tipo de função. Veja um exemplo de função fática: 
observem que a pessoa que faz o anúncio testa o canal, tenta perceber se as pessoas estão 
prestando atenção. 
Função Metalinguística: com o que (código) 
Nesta função, o objetivo é o uso do código para explicar o próprio código. Veja como André 
Valente, em A linguagem nossa de cada dia, explica a função metalinguística. 
“Palavras que explicam palavras, cinema que fala de cinema, teatro de teatro, poesia de 
poesia, quadrinhos de quadrinhos, tudo isso constitui metalinguagem ou função 
metalinguística” (1987, p. 95). 
Veja o texto Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, presente em Valente (1987, p. 111) 
Gastei uma hora pensando um verso 
Que a pena não quer escrever. 
No entanto, ele está cá dentro 
Inquieto e vivo. 
Ele está cá dentro 
E não quer sair. 
Mas a poesia deste momento 
Inunda minha vida inteira. 
Função Poética: como (mensagem) 
O objetivo é dar ênfase à elaboração da mensagem. O emissor constrói seu texto de maneira 
especial, realizando um trabalho de seleção e combinação de palavras, de ideias ou de 
imagens, de sons e/ ou de ritmos. Explora-se bastante a conotação. 
Importante! Chalhub (1990) nos diz que as funções da linguagem não existem isoladas em 
cada texto. Embora uma delas acabe predominando, elas convivem, mesclam-se, 
entrecruzam-se o tempo todo, obtendo de suas combinações os mais diferentes efeitos. No 
último exemplo, temos a combinação das funções poética e emotiva. 
Viu, agora, como a linguagem humana é complexa? Sem mencionar ainda o fato de que além 
de falarmos, escrevemos... coisa que nenhuma outra espécie faz. 
O homem possui algo essencial à manutenção dos povos e do conhecimento: cultura. Por isso, 
somos tão complexos! Como manifestamos toda essa complexidade? Pela linguagem, e a 
oralidade, sozinha, não é suficiente para eternizarmos tudo isso. Por isso, a escrita promoveu 
diversas mudanças em nossa sociedade e tornou-se algo socialmente muito valoroso. 
Agora que vimos e analisamos alguns traços importantes da linguagem humana, podemos 
refletir um pouco acerca da pergunta que fizemos anteriormente. Você se lembra dela? Não?! 
Então vamos repeti-la: Os animais têm linguagem? 
Para início de conversa, vamos ver o que nos diz LANGACKER (1980, p. 28): 
“Podemos observar que os sistemas de comunicação animal são fechados, enquanto que as 
línguas são abertas. Sempre que as abelhas se comunicarem, só serão capazes de usar 
variantes da mesma mensagem – a direção em que se encontra o néctar e a que distância. Os 
macacos não podem se comunicar livremente sobre qualquer coisa para a qual não 
disponham de um sinal específico e, mesmo quando o têm, as possibilidades são 
extremamente restritas. 
As pessoas, por outro lado, podem falar sobre qualquer coisa que possam observar ou 
imaginar. Além disso, o que podemos dizer sobre qualquer assunto é praticamente ilimitado. 
Esta grande flexibilidade tem na maior parte sua origem na estrutura gramatical complexa das 
línguas humanas” (LANGACKER, 1980, p. 28). 
Bem, isso nos leva a crer que a linguagem animal é, dentre outras coisas: 
Linguagem Animal: 
Características Linguagem Animal: a linguagem é incipiente; utilizada somente para fins de 
sobrevivência das espécies; não determina a formação de uma comunidade; pobre, pois não é 
capaz de promover comunicações minimamente mais complexas. 
Ato de Manifestação: a partir do que vimos até agora, é possível observar que, na linguagem 
animal, cada ato de manifestação constitui um todo não analisável, não divisível em unidades 
passíveis de ocorrer em outros atos conservando seu valor. 
Comportamento: os animais herdam as formas de comportamento que pretendem ser de„linguagem‟, como herdam as condições e impulsos que conduzam à autoconservação e à 
reprodução. 
Meios de Comunicação: entendemos linguagem como sendo qualquer forma de comunicação. 
Nesse sentido, é pertinente dizer que todos os animais, sejam eles racionais ou não, 
apresentam a sua forma de comunicação, de acordo com características típicas de cada 
espécie. A linguagem animal é instintiva. Limita-se a questões ligadas à sobrevivência da 
espécie, como abrigo e comida. Cada espécie tem a sua forma de comunicar, mas, em termos 
de complexidade, a linguagem dos outros animais não é tão complexa quanto à linguagem 
humana. A dança das abelhas e o som produzido pelos golfinhos são modos de comunicar 
restritos a questões relacionadas à preservação de cada espécie como abrigo e comida. 
Linguagem Humana: 
Por outro lado, a linguagem humana é um fenômeno universal e uno na essência, mas diverso 
em sua realização concreta. Cada grupo social se utiliza de um instrumento particular de 
comunicação, com características e combinações próprias – a „língua‟ „ que, por sua vez, 
apresenta variações de indivíduo para indivíduo – o „idioleto‟. As formas de comportamento de 
manifestação animal são as mesmas para todos os indivíduos da mesma espécie. 
Atividade Cultural: entendemos linguagem como algo que se refere especificamente à 
capacidade humana de se comunicar, ou seja, a linguagem é entendida como sendo uma 
capacidade exclusivamente humana. Dentro dessa perspectiva, acreditamos que, em termos 
de complexidade, nada é compara à nossa linguagem. A linguagem humana é uma atividade 
cultural. É universal. Faz parte das relações sociointeracionais. É diversa em sua realização 
concreta. 
AULA 3 – LINGUÍSTICA: O ESTUDO CIENTÍFICO DA LINGUAGEM 
O Que É e o Que Não É Linguística? 
“Dada nossa tradição escolar, há uma tendência em se identificar o estudo da linguagem com 
o estudar da gramática. A Linguística, no entanto, distingue-se da gramática tradicional e da 
normativa. Ela não tem, como esta gramática, o objetivo de prescrever normas ou ditar regras 
de correção para o uso da linguagem. Para a Linguística, tudo o que faz parte da língua 
interessa e é matéria de reflexão. Mas não é qualquer espécie de linguagem que é objeto de 
estudo da Linguística: só a linguagem verbal, oral ou escrita.” (1999, p. 10) 
(ORLANDI, Eni P. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999.) 
A Linguística, como a ciência que estuda a linguagem, oferece uma base teórica para uma 
grande variedade de aplicações: tratamento de perturbações da fala, como a afasia ou 
problemas de leitura, luta contra o analfabetismo em muitos países do mundo, 
desenvolvimento da produção e reconhecimento das linguagens computacionais inspiradas em 
modelos humanos, aprendizagem de línguas estrangeiras. 
A definição clássica afirma que “Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal 
humana, oral ou escrita”. Atualmente, já cuida também da não verbal. Por lidar com algo 
referente ao homem, a Linguística envolve aspectos, tais como biologia, neurofisiologia, 
psicologia, sociologia entre outros. 
Linguística e Gramática Tradicional 
“Hoje em dia, é comum fazer uma distinção bem nítida entre a linguística como ciência 
autônoma, dotada de princípios teóricos e de metodologias investigativas consistentes, e a 
Gramática Tradicional, expressão que engloba um espectro de atitudes e métodos 
encontrados no período do estudo gramatical anterior ao advento da ciência linguística. A 
tradição, no caso, tem mais de 2000 anos de idade, e inclui o trabalho dos gramáticos gregos 
e romanos da antiguidade clássica, os autores do Renascimento e os gramáticos prescritivistas 
do século XVIII.” 
(WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: Parábola, 2002. p. 10) 
O que é Gramática Tradicional? 
É a teoria Linguística ocidental iniciada pelos gregos, em Alexandria, no século III a.C. com o 
objetivo de preservar a pureza da língua grega. Um dos nomes mais famosos é Dionísio da 
Trácia. 
A Gramática Tradicional e sua derivada, a Gramática Normativa, são doutrinas e não ciências: 
estabelecem o que é certo ou errado a partir de um ponto de vista. 
Gramática Tradicional e Gramática Normativa são a mesma coisa? 
Não. A Gramática Normativa é a gramática de uma língua codificada sob a forma de um livro e 
que estabelece as regras e normas do que é considerada a forma correta em relação à escrita 
e à fala. A Gramática Normativa também é chamada de Gramática Prescritiva, já que ela 
prescreve esse conjunto de normas. 
Como surgiu a Gramática Tradicional? 
Maria Helena de Moura Neves, em A gramática: história, teoria e análise, e ensino, apresenta-
nos em seu primeiro capítulo „uma incursão pela história da gramática‟. Nele, após passar pela 
visão platônica dos estudos da linguagem, a autora chega ao período helenístico e traz a 
figura do philólogos (p. 20) e do gramatikós (p. 21). 
Profissionais da linguagem 
Antes de aprofundarmos nossa discussão sobre Linguística, vamos conhecer três profissionais. 
Vejamos como esses profissionais trabalham com a linguagem. 
O Filólogo: Segundo Câmara Jr., em seu Dicionário de Linguística e Gramática, a filologia 
“Hoje, designa, estritamente, o estudo da língua na literatura, distinto, portanto, da 
linguística” (1986, p. 117). 
O linguista: Estuda a linguagem humana. Sem prescrever normas ou definir padrões em 
termos de julgamento de correto-incorreto, pode documentar uma língua tal como ela se 
manifesta no momento da descrição (Sociolinguística), estudar o processamento da linguagem 
(Psicolinguística e Neurolinguística) e observar a relação entre línguas e cultura 
(Etnolinguística) etc. 
O gramático: Elabora o conjunto de regras do que se considera o uso correto da língua. Essas 
regras são codificadas em um livro chamado „Gramática Normativa‟ e esse olhar prescritivo 
começou com os gregos e sua Gramática Tradicional. 
Linguística X Filologia 
“De fato, a distinção entre linguística e filologia tinha que ver, no século XIX, e em grande 
medida ainda tem, com questões de atitude, ênfase e objetivo. O filólogo se preocupa 
primordialmente com o desenvolvimento histórico das línguas tal como se manifesta em textos 
escritos e no contexto da literatura e da cultura associada a eles. 
O linguista, embora possa se interessar por textos escritos e pelo desenvolvimento da língua 
através do tempo, tende a priorizar as línguas faladas e os problemas de analisá-las em um 
dado período de tempo.” (WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: 
Parábola, 2002. p. 10) 
Para Finalizar: Mais um Tipo de Gramática 
Depois de conversarmos sobre Linguística, Gramática Tradicional e Gramática Normativa, fica 
uma pergunta: nas aulas 1 e 2 conversamos sobre língua, linguagem, fala e escrita. Nessas 
aulas, estabelecemos que um indivíduo aprende sua língua no convívio e que ele pode não 
frequentar uma escola e, ainda assim, saberá as regras de sua língua. 
Vocês podem estar se perguntando: essas regras não são um tipo de gramática? São sim. 
Chamamos de gramática internalizada o conjunto de regras que o indivíduo internaliza 
durante o processo de aquisição. 
“Existem duas maneiras básicas de olhar para a linguagem (ou a língua) e suas 
manifestações. Uma é a do guardião, outra, a do curioso. À primeira, costuma-se chamar de 
atitude normativa. À outra, em de uma certa tradição, fundamentalmente do século XX, de 
descritiva.” 
(POSSENTI, Sírio. É o ponto de vista que... In: A cor da língua e outras croniquinhas de 
linguista. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de leitura do Brasil – ALB, 2001. p. 
59) 
A tradição citada por Sírio Possenti tem início com a publicação doCurso de Linguística Geral, 
do suíço Ferdinand de Saussure. 
Como a Linguística Procede? 
A Linguística é empírica: análise os dados a partir de um corpus. 
Como ciência as análises da Linguística não se baseiam em julgamentos de valor, e sim na 
explicação dos fatos. 
A Linguística elabora uma gramática que descreve os fatos da língua: não é uma questão de 
certo e errado, e sim uma questão de uso. 
Exemplo: Avalie as respostas possíveis para a pergunta “Você conhece o João?” em termos de 
preenchimento do objeto direto. 
a) Eu o conheço desde criança. 
b) Eu conheço ele desde criança. 
c) Eu conheço Ø desde criança. 
Escolaridade do falante: Se o fenômeno do preenchimento do objeto direto fosse estudado, 
após coleta de dados, seria feita uma análise na tentativa de descobrir, por exemplo, a 
escolaridade do falante que utiliza uma ou outra estrutura: 
Você conhece o João? 
Eu o conheço desde criança. (Uso do pronome oblíquo = forma prescrita) 
b) Eu conheço ele desde criança. 
(Uso do pronome ele como acusativo = forma marcada?) 
c) Eu conheço Ø desde criança. 
(Uso da categoria vazia: forma não marcada) 
d) Eu conheço o João desde criança. 
(Uso de sintagma nominal: forma não marcada) 
Por Que a Diferença de Tratamento a Um Mesmo Fenômeno? 
Gramática Normativa X Linguística 
Gramática Normativa 
 Tem caráter ideológico (Gramática Prescritiva). 
 Aponta como deve ser. 
 As formas apresentadas são dotadas de prestígio. 
 Trabalha com noções de certo e errado. 
 Segue o modelo proposto pela Gramática Tradicional. 
Linguística 
 Tem caráter científico (Gramática Descritiva). 
 Aponta como é. 
 Trabalha com a adequação ao ambiente. 
AULA 4 – ESTUDOS PRÉ-SAUSSURIANOS SOBRE LÍNGUA 
As discussões linguísticas dos filósofos gregos aconteceram, em grande parte, pelo interesse 
que eles tinham em relacionar linguagem, pensamento e realidade. Por isso, houve discussões 
acerca da relação entre as palavras e aquilo que elas designavam: haveria uma relação direta 
ou a relação seria arbitrária? 
a) Naturalistas. Platão (427-347 a.C.) encaixava-se nesse grupo que considerava haver 
relação entre a forma da palavra e o referente (relação entre 'essência' e 'aparência'). 
Segundo os naturalistas, era preciso buscar a etimologia das palavras para descobrir o seu 
verdadeiro significado. 
Etymo (grego) - verdadeiro; verdadeiro significado (a análise das partes da palavra levaria à 
descoberta do verdadeiro significado; da ideia original). 
b) Convencionalistas: Aristóteles (384-322 a.C.) fazia parte desse grupo que acreditava que a 
forma da palavra é resultado da convenção social. 
Estoicos: não se preocupavam com a língua em si mesma: consideravam a língua como 
expressão do pensamento e dos sentimentos. São os primeiros a tratar as questões 
linguísticas de modo mais concreto: diferenciavam a dicotomia significante x significado; 
 trataram da fonética, da etimologia, entre outros temas. 
Período Alexandrino: criação da primeira grande biblioteca na colônia grega de Alexandria 
(séc. III a.C.). A cidade de Alexandria se torna centro de pesquisa literária e linguística porque 
há, pela primeira vez, grande volume de obras reunidas em mesmo lugar. 
Dionísio da Trácia (segunda metade do século III a.C.): primeira descrição da língua grega e 
primeira descrição gramatical publicada no mundo ocidental. Essa gramática servirá de base 
para a elaboração de diversas outras ao longo de nossa história e, por 13 séculos, foi a base 
para os estudos gramaticais em várias línguas. Em sua gramática, Dionísio afirma que a 
gramática é o espaço para que seja apresentado o suo que poetas e prosadores fazem da 
língua. 
Segundo dados da Enciclopédia Mirador Internacional, “sua gramática começa pela definição 
de gramática e suas funções. Trata-se, em seguida, de acentos, sinais de pontuação, letras e 
sílabas, mas nada diz sobre regras de sintaxe ou sobre estilo. Essencialmente destinada à 
escola primária, manteve-se em uso no mundo de fala grega até o século XII” (1995, p. 6863) 
Como ele trabalhou? 
Colhia material nos clássicos gregos para justificar sua descrição (atitude empírica: 
conhecimento prático). 
Qual foi seu principal objetivo? Apreciação adequada da literatura grega clássica (não se 
preocupou com sintaxe). 
Como a Tradição Gramatical Grega Chegou aos Nossos Dias? 
Os romanos tomam conhecimento dos estudos gregos sobre gramática e esses princípios 
foram utilizados por gramáticos latinos como: 
Varrão (116 a 27 a.C.): foi o primeiro gramático latino importante. Escreveu De língua latina, 
composto por 25 livros. Atualmente, restam seis livros inteiros e fragmentos de alguns dos 
restantes. Entre seus estudos, há importantes observações: a) as palavras mudam de 
significado (Hostis: “estrangeiro” passou a significar “inimigo”); b) as línguas 
apresentam maior número de distinções lexicais com relação aos setores da cultura mais 
importantes. 
Por exemplo, temos Equus – cavalo/ Equa = égua, mas havia uma única palavra para indicar 
o masculino e o feminino de corvo (Corvus); c) diferença entre formação derivacional e 
flexional: 
Flexão: grande generalidade; quase não apresenta omissões (“variação natural” - declinatio 
naturalis); derivação: natureza facultativa; menos ordenada (“variação voluntária” - 
Declinatio voluntaria) Ovis “ovelha” - ovile “redil” / sus “porco” - suile “pocilga”. Mas: Bos “boi” 
→ Bubile. 
Prisciano (500 d. C.) publicou 18 livros, com cerca de 1000 páginas. 
 Não distinguiu flexão e derivação (ignorou Varrão). 
- Descrição sintática: verbos ativos (transitivos); verbos passivos; verbos neutros 
(intransitivos). 
- Subordinação: pronomes relativos qui, quae, quod relacionavam um verbo ou uma oração a 
outro verbo ou oração principal. 
Idade Média 
O que temos na primeira parte da Idade Média? 
• Grande influência da Igreja: nobreza e clero no alto da pirâmide social; mercadores, 
artífices / servos (maioria). 
• Igreja – progresso pessoal dependia do conhecimento do latim, mas para muitos o latim era 
língua estrangeira. 
• Surgem livros didáticos sobre latim porque surge a necessidade de se aprender latim: língua 
escrita da erudição, do ensino, da diplomacia e da Igreja. 
• O que se tem na segunda parte da Idade Média (1100 até o fim do período)? É o período 
da filosofia escolástica (1200-1350). 
R. H. Robins, em Pequena história da linguística, fala-nos sobre o trabalho de Alexandre de 
Villedieu (1200): sua obra Doctrinale foi um manual de gramática latina que contém 2.645 
versos e que apresentou um latim mais próximo da língua franca do que da língua dos autores 
clássicos descritos por Prisciano. 
A Filosofia Escolástica 
Segundo Robins (1979), a filosofia escolástica surge devido a uma conjuntura interessante: 
temos homens intelectualmente capazes, um período de maior tranquilidade durante a Baixa 
Idade Média, o conhecimento das obras dos autores gregos, possível após a tomada de 
Constantinopla, em 1204. 
Os filósofos escolásticos consideravam que estudar a língua é um meio de analisar a 
realidade: 
1) Quais os princípios universais que unem um signo ao espírito humano? 
2) Quais os princípios universais que ligam o signo à coisa? 
Durante o período da filosofia escolástica, tem-se as „gramáticas especulativas‟, também 
chamadas De Modis Significandi (“Sobre os modos de significar”) e, por isso, esses 
gramáticos foram chamados de modistae (“modistas”). 
Segundo os princípios dos gramáticos especulativos, a mente abstrai o modī essendī (modo de 
ser) das coisas e a língua permite que essa abstração seja comunicada pelo modī significandī 
(modo de significar). Robins (1979, p. 64)nos apresenta também Tomás de Erfurt e seu 
sistema sintático: para que uma frase seja aceitável as palavras devem: 
1) poder associar-se sintaticamente; 
2) estar adequadamente flexionadas; 
3) ser colocáveis. 
Exemplo: 
a) Capa preta 
b) *capa categórica (b) é inadequada 
Para Tomás de Erfurt, existiriam pseudo-orações, ou seja, orações cujas palavras não seriam 
„colocáveis‟: 
*A pedra ama o menino. A sinceridade admira o João. 
Do Renascimento Até a Gramática Comparada 
1453: tomada de Constantinopla (capital do Império do Oriente pelos turcos): ida para a 
Itália, local de textos de sábios gregos e manuscritos clássicos. 
1492: Colombo descobre a América (ampliam-se os horizontes linguísticos): conhecimento de 
outras línguas não europeias (“o descobrimento de Babel”). Esse conhecimento será agregado 
ao adquirido durante a segunda parte da Idade Média, no período conhecido como Baixa 
Idade Média, em que se travou conhecimento com o trabalho gramatical dos árabes e judeus. 
1547, 1560 e 1639: publicação de gramáticas do nahualt (México), do quíchua (Peru) e do 
guarani (Brasil). 
Séc. I: invenção do papel na China no séc. I d.C. e invenção da imprensa durante o 
Renascimento: difusão da cultura e estímulo ao estudo das línguas estrangeiras e das línguas 
clássicas (grande número de textos impresso, de gramáticas e de dicionários.) 
Séc. XIV: Dante. No início do séc. XIV, Dante publica De vulgari eloquentia no qual apelou 
para o cultivo de um vernáculo comum. O livro foi escrito em uma língua vernácula que se 
tornou uma variedade literária do italiano e que mais tarde se tornou a língua oficial da 
península. Dante considerava as línguas orais aprendidas na infância mais importantes que o 
latim escrito (língua segunda aprendida na escola). 
Séc. XV e Séc. XVI: com o nascimento dos Estados Nacionais, surge um sentimento patriótico 
e tem-se a ascensão das línguas vernáculas europeias no período pós-medieval. Como havia 
um grande número de dialetos, uma das variedades da língua falada em território nacional é 
escolhida para língua oficial e codificada sob a forma da gramática desse novo Estado 
Nacional. No séc. XV, tem-se as primeiras gramáticas em italiano e espanhol e no séc. XVI – 
primeira gramática do francês. 
1534: em 1534, Lutero imprime a Bíblia em alemão; posteriormente, há publicação em outras 
línguas vernáculas da Europa. Dessa forma, o latim diminui sua importância e abre-se espaço 
para novos estudos sobre a linguagem como é o caso da Gramática de Port Royal (nos séculos 
XVII e XVIII, as reflexões sobre a natureza da linguagem, assim como as análises de sua 
estrutura, deram continuidade às propostas gregas. A chamada Gramática de Port Royal, 
publicada em 1660, retoma de forma rigorosa a visão aristotélica da linguagem como reflexo 
da razão e busca construir, tendo como base a lógica, um esquema universal de linguagem, 
que estaria subjacente a todas as línguas do mundo” (MARTELOTTA, 2010, p.46)). 
 
Desde a antiguidade, os homens estudavam as línguas. No período conhecido como PRÉ-
LINGUÍSTICA, segundo Camara Jr. (1986), houve os seguintes estudos: 
Estudo do certo e do Errado: nesse tipo de estudo, não há uma visão científica da linguagem, 
já que a preocupação maior é estabelecer a diferença entre o que é considerado certo e o que 
é considerado errado. O modo de falar das classes superiores é considerado correto e há 
preocupação em se passar esse modo de falar de uma geração para outra. 
Estudo da Língua Estrangeira: através do contato entre comunidades com línguas diferentes, 
tem-se um estudo com a comparação entre diferentes sistemas linguísticos. Após a Pré-
Linguística, temos o período conhecido como PARALINGUÍSTICA e que é representado por 
estudos que não entraram no domínio da linguagem. 
Estudo Filológico da Linguagem: busca compreender textos antigos, comparando-se textos do 
presente com textos do passado, através da literatura. Esse estudo ainda não é considerado 
ciência, pois não há busca por explicações. 
Estudo Lógico da Linguagem: após a Pré-Linguística, temos o período conhecido como 
PARALINGUÍSTICA e que é representado por estudos que não entraram no domínio da 
linguagem. Nesse período, aconteceu o: Estudo lógico da linguagem. Estudo que mesclou 
filosofia e Linguística e que buscou descobrir a relação entre pensamento e linguagem. 
Estudo Biológico da Linguagem: encara-se a linguagem como inerente ao ser humano e 
dependente de aspectos biológicos do corpo humano. Estudavam-se as características 
biológicas que permitem ao homem falar. 
Como Surgem os Estudos Linguísticos? 
O período LINGUÍSTICO começa antes da publicação do Curso de Linguística Geral. É preciso 
que se compreenda que Saussure não foi o inventor da Linguística, e sim o responsável pela 
mudança no foco dos estudos linguísticos. No início do século XIX, há o início dos estudos 
históricos, que podem ser considerados linguísticos. Vejamos alguns fatos que antecedem 
essas pesquisas. 
1. Descoberta do Sânscrito: no século XIX, publica-se a primeira gramática de sânscrito em 
inglês: Gramática de Pãnini, Astãdhyãyi (“Outro livros”) escrita entre 600 e 300 a.C. O objetivo 
dessa gramática era preservar da ação do tempo textos religiosos transmitidos oralmente 
desde 1200 a.C. 
Os gramáticos hindus mostravam conhecimento sobre a língua, já que se preocupavam com: 
a natureza semântica da palavra e da frase; a arbitrariedade entre forma e significado; a 
variabilidade e extensibilidade do significado das palavras; a fonética hindu estudava 
processos de articulação; os segmentos (vogais e consoantes); as estruturas fonológicas. 
Embora já se conhecessem alguns aspectos da gramática do sânscrito, a conquista da Índia, 
pelos ingleses, nos séculos XVIII, possibilitou o acesso a textos que facilitaram os estudos 
comparativos. 
Perceberam-se semelhanças entre o sânscrito e algumas línguas da Europa, o que despertou 
interesse para o desenvolvimento de um estudo entre as línguas. Tenta-se mostrar que a 
mudança lingüística é um processo: 
a) regular: princípio de regularidade das mudanças; 
b) universal: todas as línguas evoluem; 
c) constante: qualquer língua está em evolução contínua. 
2. Sir William Jones: em 1786, Sir William Jones (1746-1796,), o juiz britânico, em uma 
palestra em Calcutá, na Royal Asiatic Society, apresentou o resultado de seus estudos sobre o 
sânscrito, antiguíssimo idioma sagrado dos Hindus. Ele concluiu que inúmeras palavras 
sânscritas eram parecidas com o latim, grego, alemão, inglês, e outros idiomas europeus. 
A Gramática Comparada 
No século XIX, surge a preocupação com o caráter histórico da língua porque nos séculos 
anteriores, os estudiosos conhecem outras línguas como as da América, da África, semíticas, 
entre outras. Isso, aliado ao fato de se trabalhar com a gramática do sânscrito, possibilitou o 
desenvolvimento do método comparativo, ou seja, o estudo do parentesco linguístico. Os 
estudos comparativos trouxeram a compreensão de que as línguas mudam com o passar do 
tempo, ao mesmo tempo em que essa observação foi feita através da análise de dados. 
Assim, tem-se um trabalho realizado através de investigações científicas. 
Daí: Gramática Comparada ou Linguística Histórica – estudo das transformações pelas quais 
as línguas passavam (comparação de sucessivos estados de língua). 
Os primeiros comparativistas estavam interessados em confrontar o Sânscrito com outras 
línguas Indo-europeias, especialmente o Grego e o Latim. 
A partir da descoberta do Sânscrito: 
1) interesse em identificar as famílias de línguas; 
2) mostrar que a mudança linguística é um processo: 
a) regular: princípio de regularidade das mudanças;b) universal: todas as línguas evoluem; 
c) constante: qualquer língua está em evolução contínua. 
Rasmus Rask (1787-1832), Jakob Grimm (1787-1863), Franz Bopp (1791-1867) são 
considerados os fundadores da linguística histórica científica. 
Rasmus Rask: foi o primeiro a obter sucesso nas técnicas de comparação histórica entre 
língua com o livro Investigação, no qual estudou o escandinavo antigo. No entanto, como seu 
livro foi escrito em dinamarquês, língua pouco conhecida, Franz Bopp é considerado o 
fundador da Ciência Histórico-Comparativa da Linguagem (CÂMARA JR, 1990, p. 31). 
Franz Bopp: Segundo Martelotta (2010, p. 49), Bopp é o fundador da gramática comparativa. 
Em 1816, chamou a atenção para as relações morfológicas entre o sânscrito, o latim, o grego, 
o persa e o germânico, em sua obra Sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita, em 
comparação com a do grego, latim, persa e germânico. 
Jacob Grimm: as investigações de Rask foram retomadas pelo linguista alemão Jacob Grimm, 
que publicou um tratado em quatro volumes (1819-1822) intitulado Deutsch Grammatik 
(“Gramática Alemã”). Nesse monumental trabalho, Grimm discute as alternâncias vocálicas do 
indo-europeu e contribuiu para o estabelecimento de certas correspondências fonéticas entre 
o sânscrito, o grego, o latim e o germânico. 
Os estudos comparativistas foram um método de comparação baseado em dados, ou seja, um 
método empírico que observou a mudança nas línguas. 
Esses estudos proporcionaram conhecimento acerca da história das línguas e sobre o papel 
dos indivíduos sobre essa mudança. Embora essa visão do papel do indivíduo não tenha sido 
aprofundada, ela foi importante para estudos posteriores e será retomada em outros 
momentos, mesmo que seja em tom de crítica. 
AULA 5 – AS NOÇÕES DE LÍNGUA E FALA 
Como Surgem os Estudos de Saussure? 
Como vimos nas aulas anteriores, os estudos sobre língua partem da visão grega de uma 
gramática que reproduza o conhecimento dos escritores dos clássicos gregos, passa por visões 
filosóficas e estudos filológicos e chegando, no século XIX, por estudos comparativistas*, de 
abordagem histórica. É nesse contexto de estudos que se insere Saussure. 
* A partir de 1870, começa-se a questionar o que é uma língua. 
Percebeu-se que as analogias apresentadas pelos estudos comparativistas representam uma 
das possibilidades de se estudar o fenômeno lingüístico, já que a comparação seria apenas um 
meio para que se reconstituíssem os fatos. 
Ainda que Saussure tenha realizado estudos históricos, critica-se na introdução do CLG (1995, 
p. 10) o fato de as investigações comparativistas terem sido limitadas porque: (1) fixaram-se 
nas línguas indo-europeias; (2) não buscou compreender o que significavam as analogias 
descobertas: 
“Foi exclusivamente comparativa, em vez de histórica. Sem dúvida, a comparação constitui 
condição necessária de toda reconstituição histórica. Mas, por si só, não permite concluir nada 
[...] considerava-se a língua como uma esfera à parte, um quarto reino da natureza [...]” 
(CLG, 1995, p. 10) 
O Ponto de Vista Cria o Objeto 
Por considerar que há outras possibilidades de se estudar as línguas, Saussure afirma que „o 
ponto de vista cria o objeto (CLG, 1995, p. 15). 
“Outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que podem considerar, em 
seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo, nada de semelhante ocorre. Alguém 
pronuncia a palavra nu: um observador superficial será tentado a ver nela um objeto 
linguístico concreto; um exame mais atento, porém, nos levará a encontrar no caso, uma após 
outras, três ou quatro coisas perfeitamente diferentes, conforme a maneira pela qual 
consideramos a palavra: como som, como expressão duma ideia, como correspondente ao 
latim nūdum etc. Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o 
ponto de vista que cria o objeto [...]” 
O que isso significa? A ideia é de que um mesmo objeto pode ser estudado de pontos de vista 
diferentes, podem ser feitas perguntas diferentes sobre esse objeto que nos levarão a 
respostas diferentes acerca desse objeto. Por exemplo, podemos analisar o fonema /s/ na 
palavra „gatas‟: 
a) do ponto de vista morfológico: morfema de plural; 
b) do ponto de vista fonético: consoante fricativa dental surda; 
c) do ponto de vista fonológico: /s/ é um fonema e distingue significado quando consideramos 
o par sente/gente, já que opomos [s] a [Ȝ]. 
Saussure e a Mudança de Perspectiva 
Em 2012, foi lançado o livro Compreender Saussure a partir de manuscritos de Loϊc Depecker 
pela Editora Vozes. Nele, temos oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos acerca de 
Saussure assim como podemos compreender como ele chegará aos fundamentos teóricos da 
Linguística moderna. 
Em Escritos de linguística geral*, publicado pela Cultrix, em 2004, temos que “a linguagem é 
um fenômeno; é o exercício de uma faculdade que existe no homem. A língua (observe-se a 
importância dada À língua, determinada por um artigo definido, e aos indivíduos que a 
utilizam: essa é mais uma das mudanças de perspectiva introduzidas por Saussure) é o 
conjunto das formas concordantes que esse fenômeno assume em uma coletividade de 
indivíduos e em uma época determinada” (Apud DEPECKER, 2012, p. 32). 
* Em um desses manuscritos recentemente acessíveis, As notas sobre a acentuação lituana, 
Saussure nos diz que o acento é apenas uma entre as muitas relações de oposição que temos 
em língua. Quando tratarmos da metáfora do jogo de xadrez, retornaremos a essa questão da 
oposição. Por agora, o que devemos considerar é a capacidade de observação de Saussure, a 
mudança de perspectiva que originará a Linguística como a conhecemos hoje. 
Com a publicação do Curso de Linguística Geral (1916): 
a) a Linguística ganha um objeto de estudo: a Língua 
b) o estudo passa a ser sincrônico, ou seja, analisa-se estado de língua (não mais se 
cimparam sucessivos estados de língua) 
c) estuda-se a linguagem humana dividida em língua e fala; 
d) o considera-se que a língua não é só um conjunto de nomenclaturas, e sim um 
conjunto de signos linguístico: significante e significado. 
e) muda-se o eixo temporal e passa-se a estudar a língua sincronicamente; 
f) analisam-se os signos em termos de sua organização em torno de sintagmas e 
paradigmas. 
Como Saussure Chega à Conclusão de que o Objeto de Estudo da Linguística é a 
Língua? 
Em primeiro lugar, Saussure considera que é preciso deixar de lado o ponto de vista vigente 
na época de que a língua é um organismo vivo. Depecker (2012, p. 35) nos mostra que, 
segundo Saussure, a língua não é uma vegetação, não é algo que exista sem a influência do 
homem. 
“A cada instante a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma 
evolução; a cada instante ela é uma instituição atual e um produto do passado.” (CLG, 1995, 
p. 16) 
O capítulo III do CLG tem por objetivo fixar o verdadeiro objeto da Linguística. Como Saussure 
faz isso? “O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, tem por 
objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é 
unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale 
dizer a fala, inclusive a fonação, e é psicofísica.” (CLG, 1995, p. 27) 
A noção de língua como sistema é considerada, por muitos estudiosos, o mais importante 
conceito saussuriano. O sistema é superior ao indivíduo (supraindividual) e todo elemento 
linguístico deve ser estudado a partir de suas relações com outros elementos do sistema e de 
acordo com sua função. 
A língua é o objeto de estudo da linguística, pois a linguística como ciência sópode estudar 
aquilo que é recorrente, constante e sistemático. 
“A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o 
outro” (CLG, 1995, p. 16). Para Saussure, a distinção entre linguagem, língua e fala é 
essencial para que se defina o verdadeiro objeto de estudo da linguística: a língua. 
A Faculdade da Linguagem 
Para Saussure, “a língua é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de 
convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade 
nos indivíduos” (CLG, 1995, p. 17). 
Por que „faculdade da linguagem‟? 
Saussure afirma que, no conjunto ao qual corresponde a linguagem, podemos localizar a 
língua. No CLG (1995, p.19), ele postula que duas pessoas estão conversando e que no 
cérebro de cada uma delas há um conjunto de signos lingüísticos armazenados. Aí, temos um 
processo psíquico, seguido de um processo fisiológico: “[...] o cérebro transmite aos órgãos 
da fonação um impulso correlativo da imagem: depois, as ondas sonoras se propagam da 
boca de A até o ouvido de B: processo puramente físico. Em seguida o processo se prolonga 
em B numa ordem inversa: do ouvido ao cérebro, transmissão fisiológica da imagem acústica 
[...]”. 
Vejamos o que nos diz Saussure sobre a língua. Recapitulemos os caracteres da língua: 
1º. Ela é um objeto bem definido no conjunto heteróclito dos fatos da linguagem. 
Pode-se localizá-la na porção determinada do circuito em que uma imagem auditiva vem 
associar-se a um conceito. Ela é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo que, por si 
só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de 
contrato estabelecido entre os membros da comunidade. [...] 
2º. A língua, distinta da fala, é um objeto que se pode estudar separadamente. 
Não falamos mais as línguas mortas, mas podemos muito bem assimilar-lhes o organismo 
linguístico. 
3º. Enquanto a linguagem é heterogênea, a língua, assim delimitada, é de natureza 
homogênea. 
Constitui-se num sistema de signos onde, de essencial, só existe a união do sentido e da 
imagem acústica, e onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas. 
4º. A língua, não menos que a fala, é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande 
vantagem para o seu estudo. 
Os signos linguísticos, embora sendo essencialmente psíquicos, não são abstrações; as 
associações, ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a língua, são 
realidades que têm sua sede no cérebro.” (CLG, 1995, p. 23) 
Como Fica a Fala? 
“A fala é, ao contrário, um ato individual de vontade e de inteligência [...]” (CLG, 1995, p. 22). 
 Por ser „individual‟, Saussure considera que ela é heterogênea. Possui caráter privado: 
pertence ao indivíduo que a utiliza. Pessoas que falam a mesma língua conseguem se 
comunicar porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua. A heterogeneidade 
característica da fala não se presta a um estudo sistemático. 
Língua: Sistema de Valores 
Vejamos o que Robins (1979), em seu Pequena História da Linguística, nos diz sobre a 
dicotomia língua/fala. 
 Gaveta dos nomes: Maria, Menina, Carlos 
 Gaveta dos verbos: querer, ler, comprar, rasgar 
 Gaveta dos determinantes: esse, aquele, um, o 
 Gaveta dos substantivos: livro, carro, papel 
A língua é um sistema de valores: um signo se opõe aos demais. 
Vejamos o que Robins (1979), em seu livro Pequena História da Linguística, nos diz sobre a 
dicotomia língua/fala. 
“[...] Saussure separou a competência linguística do falante dos fenômenos ou dados 
linguísticos reais (enunciados), dando-lhes respectivamente os nomes de langue, „língua‟ e 
parole, „fala‟ (de modo geral, esses termos passaram a ser internacionalmente usados em 
suas formas originais, i.e., sem serem traduzidos). A parole representa os dados 
imediatamente acessíveis ao observador, mas o objeto próprio da linguística é a langue de 
cada comunidade: o léxico, a gramática e a fonologia que são interiorizados por cada 
indivíduo e que lhe permite falar e entender a língua da sociedade em que foi educado. 
Muito influenciado pela teoria sociológica de Durkheim, Saussure talvez tenha 
exageradamente atribuído uma realidade supraindividual à langue. Contudo, embora declare 
que o indivíduo não pode modificar a língua, ele próprio reconhece que as mudanças nela 
efetuadas procedem de mudanças introduzidas pelos indivíduos em sua parole.” (1979, p. 
163) 
A característica heterogênea da fala não significa que as pessoas falem de forma tão diferente 
a ponto de não conseguirem se comunicar, e sim que temos liberdade de escolha entre as 
estruturas da língua. É como se a língua equivalesse a roupas guardadas em gavetas e 
pudéssemos abrir a gaveta e escolher a roupa que quiséssemos usar. 
A Relação Entre a Língua e a Fala 
Saussure separa os fatos da língua dos fatos da fala: os fatos da língua dizem respeito à 
estrutura do sistema linguístico e os fatos da fala dizem respeito ao uso desse sistema. 
Apesar de língua e fala serem estudadas separadamente, elas são interdependentes: “A língua 
é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos, mas esta é 
necessária para que a língua se estabeleça [...]”. (CLG, 1995, p. 27) 
É a fala que faz evoluir a língua. Um sistema linguístico que não é mais falado e, portanto, não 
sofre modificações, não evolui. Também não conseguimos nos comunicar sem um sistema 
linguístico: se, porventura, ele não existe, podemos criá-lo para atender uma determinada 
necessidade, como é o caso da Libras. 
Língua e fala são interdependentes: a língua é instrumento da fala (sem a língua o indivíduo 
não pode se comunicar) e é produto da fala (é através das mudanças ocorridas na fala dos 
indivíduos que a língua se comunica). A fala é necessária para que a língua se estabeleça. 
Forma e Substância 
Voltando à consideração de Saussure sobre a língua como sistema. Por que essa visão é tão 
importante? 
“O sistema da língua apresenta regras (fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas) que 
determinam o emprego das formas e relações sintáticas, necessárias para a produção de 
significados.” (LOPEZ, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 
2004, p. 76-77) 
“A língua é uma forma e não uma substância”. (CLG, 1995, p. 141) 
Por que a língua é forma? „Forma‟ para Saussure significa „essência‟ (= sistema e estrutura). 
A forma é constituída pela teia de relações entre os elementos da língua, enquanto a 
substância é constituída pelos elementos dessa teia. Vejam os exemplos: 
a) As menina é bonita‟. Podemos produzir uma sentença como essa: ela apresenta alterações 
na substância, mas não na forma, já que ela é fundamental para o funcionamento do sistema 
linguístico. 
b) Bonita é menina as. Essa sentença não deveria ser produzida porque apresenta problemas 
na forma, que é a essência do funcionamento do sistema linguístico. 
No material do aluno, no capítulo „Língua/Fala‟, de Castelar de Carvalho, há um interessante 
exemplo retirado de Saussure: a metáfora do jogo de xadrez. Dê uma lida e veja como ela é 
interessante! 
Eugênio Coseriu e a Crítica à Dicotomia Língua/Fala 
Eugênio Coseriu, linguista romeno, em 1979, acrescenta o conceito de norma e reformula a 
relação estabelecida por Saussure entre língua e fala. Segundo ele, as variantes linguísticas 
fazem parte do sistema da língua e, por isso, ele substitui „língua‟ por „sistema‟. Entre o 
sistema, abstrato, e a fala, uso concreto, haveria a norma, um nível intermediário, um 
conjunto de realizações consagradas pelo uso (COSERIU apud CARVALHO, p. 55). 
“[...] a norma é o como se diz e não o como sedeve dizer. Castelar de Carvalho também 
afirma que “A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala. Considerando-se a 
língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma* seria então um conjunto 
de realizações concretas e de caráter coletivo da língua. 
* No Rio de Janeiro, a norma estabelece que chamemos de „aipim‟ o mesmo elemento 
chamado de „macaxeira‟ em outros estados. O sistema da língua portuguesa é o mesmo: uma 
pessoa no Rio diz „Eu gosto muito de aipim‟ e uma pessoa de outro estado poderia dizer „Eu 
gosto muito de macaxeira‟, mas ambas não utilizariam „Aipim gosto muito de eu‟ ou „Macaxeira 
gosto muito de eu‟. 
AULA 6 – A TEORIA DO SIGNO LINGUÍSTICO 
Ao definir a língua como o objeto de estudo da Linguística, Saussure nos mostra uma nova 
maneira de estudar os sistemas linguísticos. Para ele, ao invés de se estudar apenas um 
conjunto de nomenclaturas, deve-se estudar a língua como um sistema. Para Saussure, a 
verdadeira natureza da língua está em seu sistema. Surge aí a pergunta: de que é composto 
esse sistema chamado língua? Na visão saussuriana, esse sistema é composto por signos 
lingüísticos. 
Por Que „Signos‟? 
Saussure estabelece que uma das características do signo linguístico é o fato de ele ser 
arbitrário, característica que discutiremos mais adiante, em nossa aula. Será essa 
característica a responsável pela escolha do termo „arbitrário‟. Vejamos a explicação da 
escolha de „signo‟ e não de „símbolo‟. 
“O símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está 
vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o significado. O símbolo 
da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por 
exemplo.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 82) 
Quando considera o signo linguístico, Saussure afirma que não há vínculo entre o nome e 
aquilo que ele denota. Se não existe essa relação, torna-se inadequado o uso de „símbolo‟, já 
que este é semiarbitrário. 
Signo e Palavra se Equivalem? 
Ao tratarmos da noção de signo, podemos pensar: signo então é um sinônimo para palavra? 
Pietroforte (2002, p. 83), no capítulo A língua como objeto de estudo da linguística, nos diz 
que essas noções são diferentes porque uma palavra como „goleiro‟ é um signo formado por 
outros signos - os morfemas. 
“[...] Antes de tudo, ao afirmar que a relação é entre um significante e um significado [...] o 
mundo e suas coisas passam para um domínio fora dos estudos linguísticos e a língua ganha 
uma especificidade própria. Um significante e um significado [...] formam um signo que, por 
sua vez, é definido dentro de um sistema [...] Esse conceito de signo traz a significação para 
dentro da língua e de sua estrutura. O que significa são os signos e suas relações uns com os 
outros e não a relação entre as palavras e as coisas do mundo.” (PIETROFORTE, 2001, p. 85). 
Os Signos Linguísticos 
Na aula passada, vimos que Saussure afirma que a língua é “[...] um sistema de signos que 
exprimem ideias [...]”. Como já dissemos, em Saussure, a língua deixa de ser um sistema de 
nomenclaturas e passa a ser estudada como esse sistema em que os itens se relacionam entre 
si. 
Por exemplo, „casa‟ vai se relacionar com „apartamento, „moradia‟, „lar‟ – palavras com as 
quais possui relação de significado - mas também pode se relacionar a verbos, adjetivos e 
pronomes – e todos esses elementos são signos - para construir frases. 
Esses signos aos quais ele se refere são os signos linguísticos. Como Saussure define esses 
„signos linguísticos‟? 
O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem 
acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) 
psíquica desse som [...] tal imagem é sensorial [...] (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, 1995, p. 
80). 
Signo linguístico, para Saussure, é a combinação de um conceito – o significado – com uma 
marca psíquica do som – o significante. 
Assim, Saussure considerava que o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, 
representada em sua obra Curso de linguística geral (p. 80). 
Se o signo linguístico é uma entidade psíquica, então ele é uma abstração? Não. Como vimos 
na aula 5, para Saussure, os signos linguísticos são uma realidade armazenada nos cérebros 
dos indivíduos que compõem a comunidade que utiliza a língua. 
Saussure nos diz que a língua é um objeto de natureza concreta e se a língua* é composta 
por signos, esses signos também seriam de natureza concreta. Saussure considera também 
que os signos são tangíveis, já que podem ser recuperados pela escrita. 
* “A língua, não menos que a fala, é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande 
vantagem para o seu estudo. Os signos lingüísticos, embora sendo essencialmente psíquicos, 
não são abstrações; as associações, ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto 
constitui a língua, são realidades que têm a sua sede no cérebro.” (CURSO DE LINGUISTICA 
GERAL, 1995, P.23). 
A língua é um sistema composto por signos lingüísticos. Esses signos são formados por 
significante e significado. Os significantes correspondem à imagem acústica, ou seja, à 
impressão psíquica do som. Os significados correspondem ao conceito, ou seja, são a parte 
inteligível do signo. 
Qual a Relação Entre Língua, Signos Linguísticos e Massa Falante? 
Saussure compara a língua a um dicionário, cujos exemplares tivessem sido distribuídos entre 
todos os membros de uma sociedade. Esse dicionário que é a língua existe no cérebro dos 
indivíduos como a soma de sinais todos idênticos. Ele é imposto como um código ao qual se 
deve obrigatoriamente seguir. Por apresentar esse aspecto social, a língua e, por 
consequência, os signos linguísticos, só existem na massa: o aspecto social, ao lado da 
homogeneidade, é o responsável pela manutenção do sistema da língua. 
“Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes 
à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, 
mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa 
em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, 
p. 21). 
“Ela [a língua] é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo que, por si só, não pode 
nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato 
estabelecido entre os membros da comunidade.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 22). 
Ainda que os signos sejam arbitrários, já vimos que não podemos utilizá-los da forma como 
quisermos. Reflita sobre esse fato a partir desse primeiro trecho do livro Marcelo, martelo, 
marmelo, de Ruth Rocha (p. 14-15) e observe que, na tentativa de renomear os objetos, 
Marcelo, na verdade, retrabalha significados já conhecidos. 
Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua: 
- Mamãe, quer me passar o mexedor ? 
- Mexedor? O que é isso? 
- Mexedorzinho, de mexer café. 
- Ah, colherinha , você quer dizer. 
- Papai , me dá o suco de vaca ? 
- Que é isso, menino? 
- Suco de vaca, ora! Que está no suco de vaqueira. 
- Isso é leite, Marcelo; quem é que entende esse menino ? 
O pai de Marcelo resolveu conversar com ele: 
- Marcelo , todas as coisas têm um nome. E todo o mundo tem que chamar 
pelo mesmo nome, porque senão ninguém se entende... 
- Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas? 
- (Marcelo) BIRIQUITOTE XEFRA! 
- Deixe de dizer bobagens, menino! Que coisa feia. 
- Está vendo como você entendeu, papai ? Como é que você sabe que eu disse 
um nome feio? 
E o pai de Marcelo suspirou: 
- Vá brincar, filho, tenho muito o que fazer. 
 
(ROCHA,Ruth. Marcelo, martelo, marmelo e outras histórias. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 
1999) 
 
Leonor Scliar Cabral, em Introdução à linguística (1979), traz uma interessante consideração 
acerca do significado. 
“Na verdade, o significado representa uma classe. Os vários significados se organizam num 
sistema, conforme a visão de mundo de uma dada comunidade linguística. [...] Só se pode ter 
acesso ao significado através do significante. Esse, por sua vez, só o é em relação ao 
significado, do contrário seria uma massa amorfa de sons, como quando escutamos uma fala 
em língua desconhecida. Portanto, significante e significado são solidários na constituição do 
signo linguístico. 
A atualização do significado ocorre no ato da fala, quando, através de processos linguísticos e 
extralinguísticos se transmitem experiências particulares. O significado do signo linguístico não 
se deve confundir, pois, com a interpretação do texto, quando emissor e receptor, cercados 
por uma situação, emitem mensagens. 
Assim, se uma pessoa diz para outra: “Ontem tive um dia bom”, essa mensagem denota, 
exatamente a data, e, para o emissor, “bom”, adquire valores dentro dos gostos individuais 
dessa pessoa.” (CABRAL, 1979, p. 29-30). 
Primeira Característica do Signo Linguístico: Arbitrariedade 
Arbitrariedade: Para Saussure, o signo linguístico possui duas características: arbitrariedade e 
linearidade, Nesta aula, trataremos apenas da arbitrariedade, ficando a linearidade para a 
próxima. 
O que significa arbitrário, para saussure? 
O uso da palavra arbitrário possui dois significados: 
1) não há relação entre significante e significado; 
2) o signo é imotivado. 
“A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a ideia de que o 
significado dependa da livre escolha do que fala [...] queremos dizer que o significante é 
imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço 
natural na realidade.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 83). 
Chamamos essa planta de „flor‟, mas poderíamos chamar de „árvore‟, „mar‟, „chinelo‟ ou utilizar 
outro nome qualquer. Isso porque não há nada na flor que nos obrigue a chamá-la dessa 
forma. 
“[...] a ideia de “mar” não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r 
que lhe serve de significante: poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, 
não importa qual [...]” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 82). 
A diferença que existe entre as línguas justifica o caráter arbitrário do signo. Em cada língua 
há significantes diferentes para representar um mesmo conceito comum a todas: cadeira, 
chair, etc. 
A língua é uma instituição social: compartilhamos um sistema lingüístico com os membros da 
comunidade à qual pertencemos. Além disso, o fato de haver signos diferentes para os 
mesmos objetos é mais uma prova de que o signo lingüístico é arbitrário. 
Arbitrariedade e Convenção 
Não podemos nos esquecer de que o signo linguístico é uma convenção social. Por isso, ainda 
que o signo linguístico seja arbitrário e não haja relação entre significante e significado, não 
podemos utilizá-los da forma que desejarmos. 
O princípio da arbitrariedade parte da ideia de que não há uma razão natural para se unir 
determinado conceito à determinada sequência fônica, por isso, qualquer sequência fônica 
poderia se associar a qualquer conceito e vice-versa, desde que fosse consagrado pela 
comunidade linguística. 
Para continuar refletindo sobre a arbitrariedade do signo, temos outro trecho do livro Marcelo, 
martelo, marmelo, de Ruth Rocha. Vejamos o que acontece quando alteramos a natureza do 
signo. Será que conseguiremos nos comunicar? 
Uma vez Marcelo cismou com o nome das coisas: 
- Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo? 
- Ora, Marcelo, foi o nome que eu e seu pai escolhemos. 
- E por que é que não escolheram martelo? 
- Ah meu filho, martelo não é nome de gente, é nome da ferramenta... 
- E por que é que não escolheram marmelo? 
- Porque marmelo é nome de fruta, menino! 
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo? 
[...] 
Mas Marcelo continuava não entendendo a história dos nomes. E resolveu 
continuar a falar a sua moda. 
[...] 
Quando vinham visitas, era um caso sério. Marcelo só cumprimentava dizendo: 
- Bom solário, bom lunário... – que era como ele chamava o dia e a noite. E os pais de 
Marcelo morriam de vergonha das visitas. Até que um dia... 
O cachorro de Marcelo, o Godofredo, tinha uma linda casinha de madeira, que 
seu João tinha feito para ele. E Marcelo só chamava a casinha de moradeira, e o cachorro de 
Latildo. 
E aconteceu que a casa do Godofredo pegou fogo. 
Alguém jogou uma ponta de cigarro pela grade, e foi aquele desastre! 
Marcelo entrou em casa, correndo: 
- Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo! 
- O que, menino? Não estou en 
tendendo nada! 
- A moradeira, papai, embrasou... 
- Eu não sei o que é isso, Marcelo. Fala direito! 
- Embrasou tudo, papai, está uma branqueira danada! 
Seu João percebia a aflição do filho, mas não entendia nada... 
Quando seu João chegou a entender do que Marcelo estava falando, já era tarde. 
A casinha estava toda queimada. Era um montão de brasas. 
O Godofredo gania baixinho... 
E o Marcelo, desapontadíssimo, disse para o pai: 
- Gente grande não entende nada de nada, mesmo! (pp. 8-23) 
 
(ROCHA, Ruth. Marcelo, martelo, marmelo e outras histórias. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 
1999.) 
AULA 7 – A TEORIA DO SIGNO LINGUÍSTICO 
O Arbitrário Absoluto e o Arbitrário Relativo 
Em nossa aula 6, vimos que Saussure estabelece o princípio da arbitrariedade com uma das 
características do signo linguístico. Mesmo considerando que o signo linguístico é arbitrário, 
Saussure considerou a existência do arbitrário absoluto e do arbitrário relativo. 
“O princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada língua, o 
que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só o é relativamente. Apenas 
uma parte dos signos é absolutamente arbitrária; em outras, intervém um fenômeno que 
permite reconhecer graus no arbitrário sem suprimi-lo: o signo pode ser relativamente 
motivado. 
Assim, vinte é imotivado, mas dezenove não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos 
quais se compõe e outros que lhe estão associados, por exemplo, dez, nove, vinte e nove, 
dezoito, setenta etc. O mesmo acontece com „pereira‟ que lembra a palavra simples „pera‟ e 
cujo sufixo „-eira‟ faz pensar em cerejeira, macieira etc., nada de semelhante ocorre com 
freixo, eucalipto etc. 
[...] 
Não existe língua em que nada seja motivado; quanto a conceber uma em que tudo o fosse, 
isso seria impossível por definição. [...] Os diversos idiomas encerram sempre elementos das 
duas ordens – radicalmente arbitrários e relativamente motivados [...]”(CLG, 1995, p. 152-
154, grifos do autor) 
A palavra „flor‟ seria um exemplo do que ele chamava de „arbitrário absoluto‟: seria o signo 
arbitrário, imotivado. 
No entanto, palavras como „florista‟ e „floreira‟ seriam parcialmente motivadas, já que nelas 
podemos perceber a palavra „flor‟. Assim, elas seriam exemplos daquilo que Saussure chamou 
de „arbitrário relativo‟. 
Atividade 
 Signo: combinação arbitrária de um significante e de um significado 
 Significante: imagem acústica, representação sonora 
 Significado: imagem psíquica, conceito ou representação mental. 
 Arbitrário absoluto: dez 
 Arbitrário relativo: dezenove 
Discutindo a Arbitrariedade do Signo: Onomatopeia e Exclamações 
Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário, mas será que todos concordam? 
Não. Aqueles que discordam da tese da arbitrariedade do signo apoiam-se na existência de 
duas estruturas na língua, imitativas

Outros materiais