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Produção Textual I - Conteúdo Online

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PRODUÇÃO TEXTUAL I 
AULA 1 – FALANDO SOBRE A ESCRITA 
Sem comunicação, não seríamos capazes de vivem em grupo. Percebemos que, para 
comunicar as nossas idéias verbalmente, ou seja, fazendo uso de palavras, falamos ou 
escrevemos. Há vários ditados que ilustram a importância da fala e da escrita na nossa 
sociedade. 
Fala e Escrita: Modalidade de Uso da Língua 
Sabemos que fala e escrita são modalidade distintas de uso da língua. Com a nossa 
experiência ao longo da vida escolar, já entendemos que a escrita não é uma simples 
transcrição da fala. Quando escrevemos, diferentemente do que ocorre quando falamos, o 
contexto de produção e o contexto de recepção não coincidem. Se, em uma conversação 
natural, o planejamento e a execução acontecem ao mesmo tempo, em um texto escrito, 
temos tempo para planejar, escrever e revisar o que produzimos. 
Nosso objetivo não é tratar fala e escrita de modo polarizado, ou seja, de um lado a fala, de 
outro, a escrita. Concordamos com Koch e Elias (2009, p.14) e tantos outros autores quando 
ressaltam que fala e escrita não devem ser vistas “de forma dicotômica, estanque, como era 
comum até há algum tempo e, por vezes, como acontece ainda hoje”. 
Sobre esse aspecto, destacamos a proposta de Marcuschi (2004) que afirma que “as 
diferenças entre fala e escrita se dão dentro de um continuum tipológico das práticas sociais e 
não na relação dicotômica de dois pólos opostos.” (apud, Koch e Elias (2009:14)). 
Desse modo, poderíamos situar os diversos tipos de práticas sociais de produção textual ao 
longo desse contínuo, partindo da conversação espontânea, coloquial até chegarmos à escrita 
formal. Percebíamos, assim, que alguns textos escritos como bilhetes, cartas familiares e 
textos de humor estariam mais próximos às nossas conversações naturais. Por outro lado, 
alguns contextos de língua falada como conferências e algumas entrevistas profissionais 
estariam mais próximas à escrita formal. 
Como Surgiu a Escrita? 
Já vimos que a comunicação é indispensável para a vida em sociedade, mas como o homem 
interagia com os outros membros do seu grupo? Ao longo da história, vimos que o homem, 
inicialmente, fazia uso de imagens para expressar suas idéias. Depois, vieram as palavras 
orais e, só mais tarde, a escrita. 
Vale lembrar a existência de comunidades ágrafas, ou seja, sem tradição escrita. 
Segundo Sautchuk (2011:2), “o fato de a escrita ocupar uma posição segunda dentre as 
possibilidades de comunicação verbal não significa que ocupe uma posição secundária. Pelo 
contrário: saber escrever é e sempre será requisito essencial para promover a ascensão social, 
cultural, profissional e econômica de qualquer indivíduo”. 
Hoje em dia, percebemos a facilidade no acesso à escrita, mas nem sempre foi assim. Houve 
um tempo em que a escrita era uma atividade de difícil acesso e realizada por poucos 
privilegiados. A invenção da prensa contribuiu muito para as atividades de leitura e de escrita. 
Por Que Escrevemos? 
Ao longo da vida, escrevemos diferentes textos para diferentes destinatários e com diversos 
objetivos. Notamos que escrever é um ato individual, pois é o produtor do texto o responsável 
por algumas decisões: a quem escrever, o que escrever, como escrever. 
 Função de Transferência: a partir da escrita, é possível transferir o ato de comunicação 
para um outro momento ou um outro local. No entanto, isso não seria suficiente para 
explicar a necessidade de continuarmos escrevendo. Como saliente o autor, temos, 
hoje, uma série de recursos tecnológicos capazes de exercer a mesma função que a 
escrita, como as gravações em DVD. 
 Função de Preservação: segundo essa função, escrevemos para armazenar 
informações, o que, atualmente, pode ser feito também por meio de outros recursos. 
 Função de Memorização: escrevemos para registrar dados que serão utilizados ainda 
no presente. Como exemplo, podemos destacar o uso de agendas. 
 Função Sócio-Político-Cultural: a escrita é uma forma de preservar a identidade cultural 
de um povo, o que salienta a relação entre língua e nacionalidade. 
 Função Artística: por mais que se posso, na língua falada, produzir obras artísticas de 
qualidade, percebemos que a escrita é o veículo de grandes obras da literatura. 
 Função de Produção de Conhecimento: à medida que escrevemos, estamos formando 
um pensamento. A escrita é uma grande aliada no desenvolvimento da cultura de um 
povo por ser uma ferramenta na produção de conhecimentos e na manutenção de 
conhecimentos acumulados ao longo da vida. 
O Papel da Escola na Aquisição da Escrita 
Já vimos que a fala é desenvolvida a partir do convívio com os nosso familiares, mas como 
podemos adquirir a escrita? 
A primeira observação a ser feita refere-se aos verbos utilizados na pergunta apresentada: a 
fala é “desenvolvida”; a escrita é “adquirida”. Desse modo, para que um indivíduo adquira um 
sistema de escrita, é necessário que ele passe por um processo de educação formal. Por outro 
lado, para falar, basta que esse indivíduo esteja exposto a uma língua. 
Muitos estudos sobre aquisição da escrita, como os das pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana 
Teberosky, apresentam a tese de que esse processo acontece bem antes do ingresso à escola. 
É importante refletir que o fato de um indivíduo não dominar o sistema de escrita não 
compromete seu desempenho ao utilizar a língua falada. 
AULA 2 – ESCREVER – MISSÃO POSSÍVEL 
Planejar é Importante! 
Em algumas situações da vida, falamos sem pensar e acabamos em arrependimento. Nos 
contextos da língua falada, não podemos voltar atrás. No entanto, isso não acontece na língua 
escrita. Nela, podemos refletir sobre o que vamos abordar em nosso texto. O planejamento 
serve exatamente para isso. 
Planejar faz parte da execução de uma atividade. Um arquiteto, antes de construir a casa, faz 
uma planta. O empresário planeja a sua indústria antes de começar as suas atividades. O 
Estado programa a aplicação dos recursos. Imagine o caos de oferecer uma festa de 
aniversário, convidar seus amigos e não planejar nada! Você acha que a festa seria um 
sucesso? Será que você e seus convidados ficariam satisfeitos? 
Percebemos que “planejar” é o primeiro passo para o sucesso da festa. Pode até ser que 
alguma coisa dê errado, mas, com um planejamento bem feito, as chances de isso acontecer 
são minimizados. Bem, como acontece em quase todas as situações da vida (sabemos que 
algumas fogem ao nosso controle...), precisamos de planejamento. Nas conversações 
naturais, planejamos a nossa fala no momento da interação, mas, quando produzimos um 
texto escrito, temos a possibilidade de fazer isso com mais TRANQUILIDADE. 
Não vamos, por ora, nos referir aos contextos escritos na Internet, onde, como salienta 
Marcuschi (2008), “o próprio estado de anonimato dos bate-papos favorece o lado instintivo, 
desde a escolha do apelido até as decisões linguísticas, estilísticas e liberalidades quanto ao 
conteúdo”. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São 
Paulo: Parábola Editorial, 2008. p.199. 
Abordamos um determinado tema, ou seja, já sabemos sobre o que vamos escrever. As ideias 
surgem. Temos, portanto, uma (ou mais) ideia, e agora? Precisamos planejar o que vamos 
escrever! Se você planejar o seu texto, você conseguirá expor suas ideias com mais clareza. 
Sem isso, você estará mais suscetível a ter dificuldades, pode se perder e acabar tendo como 
resultado um texto superficial. 
Por isso, ter um plano é fundamental para tornar o seu texto mais claro. Assim, organizamos o 
nosso pensamento e não caímos no erro de repetir as ideias. O plano representa a estrutura 
do que vamos abordar. 
O segundo passo é preencher essa estrutura.Ao construir o plano, trabalhamos a organização 
do nosso texto: o que vem primeiro, o que virá em seguida, etc. Desse modo, organizamos o 
conjunto. 
Observe os desfiles das escolas de samba. A ideia é contar uma história acerca de um 
determinado tema. Cada ala representa uma ideia, uma parte de um todo maior que se 
relaciona ao tema, é claro. A partir disso, vamos preencher o “recheio” dessa estrutura. Para 
isso, os carnavalescos usam os carros alegóricos, os componentes das alas com suas 
coreografias e fantasias, etc. Qual é o papel dos jurados ao avaliar o desfile de uma escola de 
samba? Eles estão analisando o conjunto da obra, se a história foi bem contada, se as partes 
(alas) estão conectadas e fazem sentido. Por isso, o planejamento é tão importante. 
O resultado é, de fato, muito bonito. Notamos que, mal acaba o carnaval, os carnavalescos já 
começam a preparação do próximo desfile. Por isso, quando alguns autores dizem que para 
escrever é preciso inspiração, dizemos que, para executar tal tarefa com propriedade, é 
necessário, antes de tudo, planejamento. 
Aliás, podemos, inclusive, pensar que, para realizar algumas tarefas na vida, devemos sempre 
antes pensar em planejá-las. Isso vale para a apresentação do projeto ao gestor, para a festa 
de casamento, para o gerenciamento das tarefas do dia a dia... enfim, planejar é preciso! 
É importante salientar que, ao longo da nossa produção, trabalhamos com um plano 
provisório, responsável por nos ajudar a delimitar o assunto abordado, a estabelecer as partes 
do texto a ser construído. 
Uma versão mais definitiva do plano vai surgindo à medida que desenvolvemos o texto. 
Nesse momento, trabalhamos a organização das ideias, o modo como vamos desenvolvê-las e 
apresentá-las no texto ao nosso leitor. Podemos concluir, portanto, que o esquema 
estabelecido, inicialmente, é um guia para o caminho percorrido; não há um “único plano” ou 
um “plano ideal”. Tudo depende do nosso propósito ao construir um texto. 
Como se Planeja Um Texto? 
A tarefa é árdua: riscamos, anotamos, rasgamos a folha, recomeçamos e assim por diante. 
Propomos uma sugestão de direcionamento. Primeiramente, vamos pensar sobre o próprio ato 
de escrever: por que escrever? Para quem escrever? Qual é o meu objetivo ao escrever? Com 
isso em mente, é hora de apresentar ao seu leitor o assunto que será abordado. Em seguida, 
vamos desenvolver as ideias, formando assim o corpo do texto. Por fim, vamos finalizá-lo, 
apresentar ao leitor um fechamento sobre o que escrevemos. 
Pensando no Meu Leitor... 
A regra básica da comunicação é “Alguém diz alguma coisa a uma outra pessoa”. Por essa 
razão, quando produzimos um texto escrito, sempre escrevemos a alguém. Esse “alguém” 
pode ser um leitor identificado, conhecido ou não. Assim, os colunistas escrevem aos leitores 
de um determinado jornal. Não sabemos dizer se é o fulano ou beltrano, mas sabemos que o 
leitor daquele jornal apresenta um determinado perfil. 
Você pode estar pensando no que acontece quando escrevemos um diário. Quem será o 
nosso leitor? Nós mesmos (por que não?) ou até nossas próximas gerações. A ideia é registrar 
um fato para sua lembrança em um momento futuro. 
Pensamos no nosso leitor, mas também não podemos nos esquecer da nossa intenção ao 
produzir o texto, assim como das ideias que vão compor esse material e do modo como 
vamos organizá-lo para o nosso destinatário, não é mesmo? 
E as ideias? Como Surgem? 
Partimos sempre do conhecido, daquilo que já temos armazenado, não é mesmo? Sendo 
assim, escrevemos com mais facilidade sobre um assunto do nosso interesse, cujos conteúdos 
sejam dominados por nós. Se você é um especialista em restauração de objetos de arte 
conseguirá escrever mais facilmente, por exemplo, sobre o papel dos restauradores na 
preservação da nossa cultura do que alguém que nem conheça essa atividade. Então, só 
podemos escrever sobre assuntos que façam parte da nossa vida cotidiana? Será que 
precisamos ser especialistas em um determinado assunto para conseguir escrever sobre ele? 
A resposta é NÃO, mas, obviamente, precisaremos de mais tempo para recuperar o que temos 
armazenado em nossa memória em relação a um assunto que não nos seja tão familiar. Por 
isso, precisaremos pesquisar, nos informar mais sobre o que vamos escrever. Concluímos, 
então, que levaremos um pouco mais de tempo no nosso planejamento, mas nada disso 
impedirá a realização da nossa tarefa. Veremos, inclusive, que o tempo, que alguns podem 
considerar “perdido” no trabalho de pesquisa, será compensado na realização da tarefa em si. 
Independentemente do tema escolhido, após ter uma “enxurrada” de ideias sobre o assunto, 
você deve ter em mente a melhor forma de apresentá-las ao leitor. 
Lembre-se: a ordem de apresentação das ideias, no texto, é um importante facilitador para o 
processo de construção do sentido do seu leitor. 
Como Começar um Texto? 
O que faz você se interessar por um filme? O que o leva a passar dos seus primeiros minutos 
e assistir à película até o final? Certamente, você respondeu que o início do filme é 
fundamental para que você se interesse pelo desenrolar da história, não é mesmo? Pois é, 
assim como, em um primeiro encontro, queremos chamar a atenção do nosso pretendente, 
em um texto, isso também acontece. 
Uma apresentação bem feita atrai o olhar do leitor ao nosso texto e o leva a percorrê-lo até o 
final. Por isso, podemos dizer que “ganhamos” o nosso leitor na introdução, o ponto de 
partida de tudo. Isso vale para a produção de qualquer texto. A introdução dever ser 
“atraente” até mesmo em uma tese de doutorado, por exemplo, ainda que seja um texto que 
circule no meio acadêmico. 
Segundo Boaventura (2007, p. 16), definição e indicação são requisitos imprescindíveis a 
qualquer introdução. O escritor deve, primeiramente, definir a questão a ser apresentada, de 
modo a despertar o interesse do leitor. Em seguida, ele deve indicar o caminho a ser seguido 
pelo leitor na construção do sentido do texto. Afinal de contas, todo leitor que se propõe a ler 
um determinado texto quer saber o que será tratado naquele material. 
Para que a ideia seja apresentada adequadamente ao leitor, antes de tudo é preciso que o 
próprio produtor do texto tenha em mente exatamente o que deseja abordar em seu texto. 
Por isso, delimitar o assunto a ser tratado é também um grande desafio para um escritor 
competente. Veja a seguir um exemplo de plano de introdução. 
O papel do setor público no desenvolvimento do Nordeste (cf. Boaventura, 2007:22) 
Introdução. 
• A região e o setor público (ideia geral do tema). 
• A situação geográfica (situação do assunto). 
• As disparidades de renda entre as regiões (motivação, ideias diretrizes). 
• A ação do Estado na coordenação de seus recursos e na incitação ao setor privado (anúncio 
do plano). 
Qual é o Objetivo do “Desenvolvimento” e da “Conclusão” do Texto? 
Portanto, devemos agir como pescadores: usar a introdução como uma isca apetitosa aos 
leitores à leitura de todo o texto. 
Depois da introdução, precisamos desenvolver o nosso texto em partes e finalizá-lo com uma 
conclusão. 
Desenvolver o assunto do texto em partes é uma maneira interessante de facilitar a vida do 
nosso leitor. Ao planejar a divisão do texto, temos em mente tornar a interação produtor-leitor 
mais dinâmica, pois cada ideia será desenvolvida separadamente sem, entretanto, 
esquecermos o todo do texto. 
Finalmente, é necessário concluir o texto. Chegou o momento de retomar as ideias que foram 
apresentadas para que o leitor possa relembrar o caminho percorrido ao longo do seu 
processo de leitura. A conclusão, portanto, é uma boa forma de resumir o que foi trabalhadono texto. 
Não queremos apresentar, aqui, um modelo pronto, uma “receita de bolo” a ser seguida para 
construir um bom texto. Por isso, vamos apenas exemplificar o plano da exposição da 
seguinte maneira (Boaventura, 2007, p. 20): 
1) Introdução – anúncio do tema. 
• Fornecer a ideia geral do tema, 
• Situar na história, na teoria, no espaço e no tempo. 
• Motivar para prender a atenção. 
• Fornecer as ideias diretrizes. 
• Anunciar o plano. 
2) Corpo da exposição – o desenvolvimento por partes. 
3) Conclusão – o resumo marcante. 
Os Mitos do “Escrever Bem”. 
Assim como acontece quando falamos, ao escrever um texto queremos ser lidos, e mais: 
queremos que o nosso leitor entenda o que escrevemos e goste daquilo que leu. Para isso, 
precisamos “escrever bem” o nosso texto. O que significa “escrever bem?” 
Alguns autores destacam a capacidade de ser conciso, ou seja, de dizer muito com poucas 
palavras como uma qualidade fundamental do bom escritor. No entanto, como salienta 
Carneiro (2001), “escrever bem não se resume à concisão e, muito menos, às qualidades 
literárias do texto”. O autor afirma que a tarefa não é assim tão difícil: 
“(...) basta evitarmos certos conceitos ultrapassados e prestarmos muita atenção a todos os 
elementos que participam do ato comunicativo em que estamos inseridos. Quanto mais 
adequados estivermos a esses elementos, melhor escreveremos. Como tais elementos variam, 
também se devem modificar as qualidades da escritura e talvez aí esteja o segredo: na 
adequação à variação. Escrever bem, antecipando nossa conclusão, é produzir estratégias 
comunicativas adequadas, ou seja, variar segundo as circunstâncias.” (CARNEIRO, 2001, p. 
20.) 
Para escreve bem, não basta: 
 Escrever de forma gramaticalmente correta; 
 Escrever de forma culta e elaborada, utilizando sempre palavras rebuscadas; 
 Pensar bem; 
 Apresentar boas construções sem considerar a situação comunicativa; 
 Ler muito. 
Escrevendo Com Qualidade 
Ao escrever um texto, devemos pensar em alguns fatores, que serão responsáveis pela 
qualidade daquilo que produzimos. Sautchuk (2011, p. 5) destaca alguns fatores de decisão e 
de escolha envolvidos nesse ato: 
 para quem estou escrevendo – é o destinatário, o leitor. 
 por que estou escrevendo – é o seu objetivo, a sua intenção. 
 o que vou escrever – é o conteúdo do texto. 
 como vou escrever – é o formato, o molde do texto e também a maneira como você 
via expressar as ideias no papel, a “aparência” escrita do seu texto, construída por 
meio das palavras, das frases. 
AULA 3 – O CONCEITO DE TEXTO – TECENDO IDEIAS 
Leia o verbete “texto” retirado de um dicionário etimológico: 
Texto sm. „as próprias palavras de um autor, livro ou escrito‟ |XIV, textu XIV| Do lat. textum –i 
„entrelaçamento, tecido‟ „contextura (duma obra)‟ 
(Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Antônio Geraldo da Cunha. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.) 
Ao analisarmos a etimologia da palavra “texto”, temos a indicação de um caminho para 
chegarmos ao seu conceito. Assim como acontece na produção de um tecido, em que 
precisamos entrelaçar os fios, ao produzirmos um texto, tecemos ideias, entrelaçamos partes 
para que tenhamos um todo inter-relacionado. 
TEXTO, TEXTURA, TEXTUAL, TEXTUALIZAR, TEXTUALIDADE 
Como o nosso objetivo é trabalhar a produção textual, precisamos, neste momento, refletir 
sobre o conceito de texto. Segundo Val (1999): 
Para se compreender melhor o fenômeno da produção de textos escritos, importa entender 
previamente o que caracteriza o texto, escrito ou oral, unidade linguística comunicativa básica, 
já que o que as pessoas têm para dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, 
são textos. (p.3) 
(VAL, M. G. C. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.) 
Desse modo, entendemos que o texto é o elemento fundamental para a realização da 
comunicação humana e pressupõe alguns elementos fundamentais: produtor do texto, 
mensagem, leitor/ouvinte. Dissemos leitor ou ouvinte, pois não podemos nos esquecer de que 
um texto pode ser oral ou escrito. 
Comentário sobre a comunicação verbal, cf. Sautchuk (2011): 
“A comunicação verbal, oral ou escrita, sempre se realiza por meio de textos. De modo geral, 
as pessoas acham que só podem chamar de texto aquilo que está impresso em livros. Não é 
bem assim. Quando você deixa um bilhete para alguém, você escreveu um texto. Quando 
você faz um trabalho para o professor de economia, você fez um texto (com dez páginas, mas 
é um texto). Se você escrever uma tese de doutorado, com cinco capítulos e trezentas 
páginas, você fez um texto. E todas aquelas folhas de papel que você entregava para o 
professor de português corrigir – e que tanto ele quanto você chamavam de redação – 
sempre foram um texto. Um e-mail, com duas palavras ou com duas páginas, é um texto. 
Conclusão: toda unidade de comunicação escrita, elaborada por alguém, enviada para outro, e 
que transmita uma mensagem para esse outro, é um texto. Na verdade, também quando 
estamos nos comunicando pela fala, nós o fazemos por meio de textos, só que orais. E é claro 
que você não se esqueceu de que comunicação significa literalmente “pôr em comum”, dividir 
alguma coisa com alguém.” (p. 3) 
De acordo com a citação apresentada, palavras ou frases isoladas não são textos. Tomamos, 
como exemplo, a palavra “socorro”, que, isoladamente, não constitui um texto, mas vamos 
analisar as situações abaixo: 
Nas situações apresentadas, percebemos que a palavra “socorro”, inserida nesses contextos 
comunicativos, traz uma significação. Entendemos que, na situação A, ela é utilizada para um 
pedido de ajuda; na situação B, trata-se do nome de uma das participantes do ato de 
comunicação. Portanto, podemos concluir que um texto é uma unidade de significação que 
pressupõe, necessariamente, um contexto, um evento comunicativo para se realizar. 
Retomando a ideia de “textura”, apresentada no início da aula, temos que ter em mente que o 
significado de uma parte do texto não é autônomo. Quando produzimos um texto, devemos 
pensar como suas partes se relacionam. Isso vale para a atividade de leitura também. Afinal, 
não basta entender as partes do texto isoladamente. É preciso, de fato, relacioná-las de modo 
a construir um sentido para aquele todo. 
O efeito do humor só é produzido a partir da leitura de todos os quadrinhos da tirinha. 
Isoladamente, não seríamos capazes de “achar graça” no que foi apresentado. 
Texto Verbal e Texto Não Verbal 
Como afirma Sautchuk (2011), “há duas maneiras básicas de comunicação: ou você a faz por 
meio de palavras faladas (comunicação verbal oral) ou palavras escritas (comunicação verbal 
escrita) ou por meio de imagens ou gestos (comunicação não verbal)” (p.1). 
A escolha pelo texto verbal ou pelo não verbal depende muito da intenção daquele que quer 
comunicar e aquilo que se quer comunicar. Em alguns casos, uma imagem, uma música (sem 
a letra, só a melodia), um gesto podem valer muito mais do que algumas palavras. Por 
exemplo, ao nos depararmos com a imagem ao lado (enfermeira pedindo silêncio), em um 
hospital, logo saberemos que devemos fazer silêncio: 
Vale ressaltar que, na nossa vida em sociedade, lidamos com combinações de textos escritos e 
imagens, sejam elas ilustrações, gravuras ou fotografias. 
Além da imagem utilizada, há também palavras que reforçam a mensagem transmitida. Ainda 
que uma pessoa não domine o inglês, sistema linguístico utilizado na campanha, a 
comunicação é estabelecida porque a imagem, por si só, é portadora de informações e 
significados. Por isso, neste caso, para aqueles que desconhecem o inglês, o apelo visual 
chamará mais atenção.O que dizer, por exemplo, sobre as tirinhas? Nelas, percebemos o quanto a interação entre o 
texto verbal e o não verbal é fundamental no processo de construção de sentido. 
Texto Literário e Texto Não Literário 
Como estamos falando sobre texto, deve ter vindo à sua mente os conceitos de texto literário 
e texto não literário. Como distingui-los? 
Apesar de ainda haver muita discussão a esse respeito, vamos partir dos critérios utilizados 
por Platão e Fiorin (1999:358). Segundo os autores, não é o tema abordado pelo texto que 
fará com que ele seja um texto literário ou não. Afinal, podemos pensar que não há conteúdos 
específicos da literatura. É bem verdade que, ao longo das nossas aulas de literatura, 
sabemos que alguns temas foram tratados em determinadas épocas (os autores da época 
barroca, por exemplo, contemplaram muito a ideia de que a vida é transitória e a morte, 
inevitável). 
Podemos resumir, brevemente, a distinção entre texto literário e texto não literário feita pelos 
autores: 
Texto Literário: Tem função estética, apresentando, portanto, os seguintes traços: relevância 
do plano da expressão, intangibilidade da organização linguística (se, por exemplo, 
resumíssemos uma poesia; ela não teria mais “graça”), criação de conotações (o autor cria 
novos significados), plurissignificação (apresenta mais de um sentido). 
Texto Não Literário: Tem função utilitária (informar, convencer, explicar, responder, ordenar 
etc.), há uma busca por um único significado, uso denotativo das palavras (significado real). 
Vale dizer que é preciso ter cautela na distinção entre texto literário e texto não literário. Uma 
propaganda, por exemplo, pode ter uma função estética, em função do jogo de palavras, e, 
ainda assim, não ser um texto literário. Os autores destacam que a literatura é “apenas o 
lugar privilegiado” da utilização dessa função da linguagem (p. 363). 
Os Contextos Sociais, Históricos e Ideológicos Presentes nos Textos 
Um texto, querendo ou não, apresenta suas marcas sócio-históricas e ideológicas. Como 
leitores, podemos ou não ter consciência disso. Entretanto, é importante enfatizar que, para 
ser um bom leitor e produtor de texto, temos de entender como as vozes estão relacionadas 
no texto. Para exemplificar este conceito, analisemos a música “Meu caro amigo”, do 
compositor e cantor Chico Buarque de Holanda. 
Nela, ele e Francis Hime produzem uma carta musicada ao amigo Augusto Boal que estava 
exilado na época da ditadura militar brasileira. 
Para depreender o verdadeiro sentido desse texto, é preciso entender que ele foi composto no 
período da ditadura militar no Brasil como uma crítica à situação vigente na época. Se não 
soubermos quem é Marieta (Marieta Severo, ex-mulher de Chico Buarque e mãe de seus 
filhos); quem é Francis (Francis Hime, amigo de Chico Buarque), fazemos uma leitura parcial 
desta letra de música. 
O Que Faz, Então, Um Texto Ser Um Texto? 
Para que um texto seja um texto e não uma sequência de frases, devemos pensar na noção 
de textualidade. Beaugrande e Dressler (1983), citados em Val (1999), apresentam sete 
fatores responsáveis pela textualidade: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, 
situcionalidade, informatividade, intertextualidade. 
Platão e Fiorin (1999) apresentam algumas propriedades de um texto. Para os autores, um 
texto tem que: 
I - ter coerência de sentido – em um texto, “um sentido de uma frase depende do sentido das 
demais com que se relaciona; (...) o sentido de qualquer passagem de um texto é dado pelo 
todo” (p.14). 
II - ser delimitado – um texto é “delimitado por dois brancos. Se o texto é um todo organizado 
de sentido, ele pode ser verbal (um conto, por exemplo), visual (um quadro), verbal e visual 
(um filme) etc. Mas, em todos esses casos, será delimitado por dois espaços de não sentido, 
dois brancos, um antes de começar o texto e outro depois” (p.17). 
III - estar inserido em um contexto histórico-social – um texto é “produzido por um sujeito 
num dado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social 
num tempo e num espaço, expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as 
expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto tem um caráter histórico, não no 
sentido de que narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as concepções de um 
grupo social numa determinada época” (p.17). 
Com base no que vimos sobre o conceito de texto, podemos refletir sobre os conhecimentos 
utilizados quando produzimos um texto escrito (cf. KOCH e ELIAS, 2009): 
 Conhecimento linguístico: precisamos conhecer a ortografia, a gramática e o léxico da 
nossa língua; 
 Conhecimento enciclopédico: recorremos aos conhecimentos que temos, em nossa 
memória, sobre as coisas do mundo. Temos, portanto, segundo as autoras, uma 
“enciclopédia” mental; 
 Conhecimento de textos: ativamos nossos conhecimentos sobre “modelos” de práticas 
comunicativas configuradas em texto. Assim, pensamos do modo de organização 
textual, estilo, função etc. Quando produzimos, por exemplo, um currículo, sabemos 
quais informações devem ser apresentadas, sua estrutura etc.; 
 Conhecimentos interacionais: devemos apresentar, no texto, nossa intenção ao 
produzi-lo. Além disso, precisamos refletir sobre a quantidade de informações que 
vamos apresentar ao nosso leitor, sobre o grau de formalidade do texto que estamos 
produzindo, sobre recursos linguísticos que ajudarão o leitor etc. 
AULA 4 – O PARÁGRAFO COMO UNIDADE DO TEXTO 
Em um primeiro momento, vimos que a noção de parágrafo é visual: “na escrita, a noção de 
parágrafo é, antes de tudo (mas não apenas!) uma noção visual.” (FARACO, C. A. e TEZZA, C. 
Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis: Vozes, 1992.). Em qualquer texto 
escrito, logo percebemos que o produtor do texto apresenta, em blocos (ou seja, em 
parágrafos), suas ideias. 
Você sabia? 
O símbolo § é utilizado para representar o parágrafo naqueles textos em que não há o recuo à 
esquerda. Sua utilização é comum em códigos e leis. Ele representa dois “SS”, abreviatura de 
signum sectionis, que significa “sinal de separação ou de seção”. (GARCIA, 2006) 
Vejamos algumas definições de parágrafo: 
“É a unidade de composição do texto que apresenta uma ideia básica à qual se agregam 
ideias secundárias relacionada pelo sentido.” (ANDRADE, M. M.; HENRIQUES, A. Língua 
Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. Rio de Janeiro: Atlas, 2007.) 
“É uma estrutura superior à frase, que desenvolve, eficazmente, uma única ideia-núcleo.” 
(ABREU, Antonio Suarez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2001.) 
“É uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se 
desenvolve determinada ideia central ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, 
intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.” (GARCIA, Othon M. 
Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006.) 
Observamos, nas definições, o fato de que, a cada parágrafo, o produtor do texto desenvolve 
uma idéia. Há, assim, uma idéia central e outras idéias secundárias, responsáveis pelo 
desenvolvimento dessa idéia central. Desse modo, percebemos que o parágrafo é um 
importante elemento de organização textual, um recurso utilizado pelo produtor do texto 
escrito para facilitar a compreensão de suas idéias pelo leitor. 
Por isso, devemos pensa que “a noção de parágrafo depende, de certo modo, da percepção 
mais ou menos intuitiva que nós temos de uma hierarquia de idéias e de fatos, de uma 
organização de mundo que não se reduz a um macete ou a uma regra fixa.” (FARACO E 
TEZZA, 1992:168). 
Cabe destacar que esse conceito de parágrafo pode ser atribuídoa um tipo de parágrafo 
considerado padrão, que, segundo Garcia (2006), é composto por: 
 Introdução ou tópico frasal. Um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de 
maneira sucinta a idéia-núcleo. 
 Desenvolvimento. Explanação da idéia-núcleo. 
 Conclusão. Mais rara, principalmente em parágrafos curtos. 
Como destaca Sautchuk (2011), o parágrafo “constitui uma unidade de processamento do 
conteúdo do texto, que sinaliza uma mudança não de assunto, mas de enfoque da ideia 
central, de argumento, de ponto de vista, de detalhes complementares, sempre relacionados à 
idéia nuclear do texto. Se cada parágrafo contiver diferentes temas ou assuntos, o resultado 
será um texto „colcha de retalhos‟ em que o autor fala um pouquinho de muitas coisas 
diferentes e acaba não dizendo nada de mais aprofundado.” (p.69). Devido a isso, 
recomenda-se, antes de começar a escrever sobre um assunto, delimitá-lo, ou seja, reduzi-lo 
a um tema, que deve ser mantido e desenvolvido até o final do texto. 
Cada parágrafo, portanto, contém uma unidade e essa unidade é parte de um todo. Isso 
acontece, pois existe apenas uma idéia predominante por parágrafo. Vemos que as idéias 
expostas fazem sentido, ou seja, há uma relação intrínseca entre a idéia principal e as idéias 
secundárias de um parágrafo. 
O título, em conjunto com os parágrafos, promove o encadeamento das idéias do texto, 
possibilitando sua coesão 
E o Título? 
Em alguns gêneros textuais, é preciso que se coloque um título, elemento importante para 
atrair a atenção do leitor ao nosso texto. Portanto, sua criação merece o nosso cuidado. 
Afinal, quantas vezes assistimos a um filme só por causa do título? Por isso, vamos vê-lo como 
uma ferramenta útil à construção do sentido do texto. Como afirma Sautchuk (2011), “um 
bom texto também é coeso se apresentar uma conexão significativa entre o título (se tiver 
um) e aquilo que for expresso sob esse título” (p.185). 
Como Iniciar um Parágrafo? – O Tópico Frasal 
Vimos que o parágrafo auxilia na leitura, pois indica ao leitor que estamos trabalhando 
posições, idéias sobre o assunto. 
Dessa forma, mesmo sem ler o que está escrito no parágrafo, apenas a percepção da sua 
presença já pode nos trazer uma série de interpretações e, em decorrência, um protocolo de 
leitura em relação ao texto. 
O primeiro parágrafo de um texto é o nosso abre-alas. 
Boaventura (2007) ilustra a importância da introdução com a seguinte metáfora: ”Ao se 
receber uma visita, a primeira coisa é abrir-lhe a porta. Da mesma forma, na exposição é 
preciso abrir o assunto (...). Não se começa viagem sem se saber o destino; fazem-se 
provisões; avisam-se os amigos e hotéis” (p.11). 
Como salienta o autor, devemos “caprichar” na introdução de modo a convidar o leitor a 
participar da construção do sentido de um texto. Por isso, todos os parágrafos (especialmente 
o primeiro) devem ser bem construídos. 
Uma possibilidade é iniciar o parágrafo com um tópico frasal, “que literalmente significa „a 
frase do topo‟ ou „a frase que contém a idéia principal‟. É essa frase ou período que orienta ou 
governa as informações restantes do parágrafo.” (SAUTCHUK, 2011, p.187). 
Ao usar um tópico frasal para construir um parágrafo, estamos chamando a atenção do nosso 
leitor para a ideia que será desenvolvida mais adiante naquele bloco. Por essa razão, o tópico 
frasal marca uma organização do assunto. 
Esse procedimento pode ser feito em todos os parágrafos de seu texto. 
No entanto, vale destacar que nem sempre é obrigatório que o produtor do texto o apresente 
logo no início de seu parágrafo. Há casos em que ele pode ser apresentado apenas do final, 
como uma estratégia para atrair o leitor. 
Há também casos em que o tópico frasal não fica claro em um parágrafo. Nessas situações, 
não conseguimos perceber a presença de uma única idéia-núcleo. Desse modo, nenhum dos 
períodos, isoladamente, podem funcionar como um tópico frasal, como ocorre no exemplo 
citado por Sautchuk (2011:194): 
São Paulo possui a maior população do Brasil e vários problemas daí decorrem. Apesar da alta 
arrecadação do município, o sistema de transporte não funciona. O trânsito é um tormento, 
pois o acréscimo constante de milhares de novos veículos à frota existente dilui os benefícios 
que o rodízio poderia trazer. Em média o paulistano perde três horas de seu dia para ir e 
voltar no trajeto ao trabalho. 
Recomendações importantes sobre os tópicos frasais, segundo Sautchuk (2011, p.194): 
 Não os coloque em frase demasiadamente longa; 
 Não os deixe com um conteúdo vago e genérico; 
 Não os use em frase com inserção(ões); 
 Obedeça à ordem SVC (Sujeito-Verbo-Complemento), evitando a ordem indireta. 
Alguns Modos Possível de Construção de Tópicos Frasais (cf. Garcia, 2006) 
Embora tenhamos destacado a importância do tópico frasal, vale lembrar que há outras 
formas de se começar um parágrafo. A utilização de um tópico frasal é apenas uma delas. 
Devemos sempre considerar a nossa intenção ao produzir um texto, nosso estilo etc. Abaixo, 
vemos alguns modos de apresentar um tópico frasal em um parágrafo segundo Garcia (2006): 
 Declaração Inicial: uso de frase afirmativa ou negativa para declarar uma idéia. 
Ex.: Os estudos de um cientista brasileiro abrem novas possibilidades de controle da malária 
e, no futuro, da dengue. Gustavo Rezende, do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisou a 
formação da casca impermeável dos ovos de mosquitos. Pesquisador do Laboratório de 
Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores (IOC), o biomédico identificou um conjunto de 
genes associados à impermeabilização dos ovos do mosquito Anopheles gambiae, principal 
transmissor de malária na África. 
 Definição: apresentação de uma definição do assunto a ser explorado. 
Ex.: Os índices de preço, ou de inflação, são, portanto, indicadores que procuram mensurar a 
evolução do nível de preços. É um número que está associado à média ponderada dos preços 
de um conjunto de produtos, denominado cesta, em um determinado período. Assim, se de 
um mês para outro determinado índice de preços sofre uma elevação de 0,6%, por exemplo, 
significa que os preços que fazem parte da cesta corresponde a esse índice aumentaram, em 
média, 0,6%. 
 Divisão: divisão do assunto, sinalizando ao leitor como o tema será tratado. 
Ex.: Quando assumi o cargo de Editor de Qualidade no JB, em 1º de outubro de 1995 (deixei-
o em 15 de outubro de 1996, para tornar-me, com grande alegria para mim, um auxiliar do 
velho amigo Orivaldo Perin no trabalho de dar forma final à 1ª página), tinha três 
preocupações básicas: 1. o empobrecimento da linguagem de jornal; 2. a vulgarização da 
linguagem de jornal; 3. a correção da mesma linguagem. (CASTRO, Marcos de. Revista de 
Comunicação, maio, 1997) 
 Interrogação: uso de uma pergunta para iniciar o parágrafo. 
Ex.: Onde estão os melhores programas da TV a cabo? Que programas merecem que se 
reserve um bom tempo para a televisão? Quais as diferenças entre canais que oferecem 
programação do mesmo gênero? Onde encontrar bons documentários, filmes inéditos, notícias 
ao vivo, transmissões esportivas? A equipe da revista da TV sentou-se na frente da televisão, 
de controle remoto em punho, e apresenta este número especial, concebido como um guia da 
TV que os gaúchos assinam. (Zero Hora, 27 de junho de 1999) 
 Alusão histórica: referência a um fato histórico ou às palavras de uma outra pessoa. 
Ex.: Um exame de sangue simples pode ser capaz de diagnosticar o mal de Alzheimer, 
disseram pesquisadores dos Estados Unidos na segunda-feira (13), numa descoberta que 
pode ampliar a detecção da doença. 
Dicas Para Produção de Bons Tópicos Frasais 
Sautchuk (2011: 196)fornece-nos algumas dicas para a produção de bons tópicos frasais. 
 Nunca use em suas definições as expressões é quando ou onde: 
Ex.: Dirigir irresponsavelmente é quando não damos valor à vida dos outros. 
 Não use para a definição a mesma palavra que está sendo definida (ou outra dela 
derivada): 
Ex.: Uma narração acontece quando se narra um fato qualquer. 
 Não faça definições empregando termos mais difíceis do que aquele que está sendo 
definido. 
Ex.: A descrição literária é um detalhamento de características, usando-se, de preferência, 
imagens sinestésicas. 
AULA 5 – O DESENVOLVIMENTO DE PARÁGRAFOS NARRATIVOS, 
DESCRITIVOS, DISSERTATIVOS (EXPOSITIVOS E ARGUMENTATIVOS) E 
INJUNTIVOS 
Podemos classificar um texto em relação à tipologia e ao gênero. Primeiramente, vamos rever 
o conceito de tipologia textual. 
Quando pensamos na tipologia de um texto, devemos refletir as sequências presentes no 
texto ao modo como o texto foi estruturado, e as suas características internas. 
Assim podemos ter sequências em que descrevemos alguém ou um fato, em que contamos 
uma história, em que ensinamos alguém a fazer algo ou em que apresentamos uma idéia. 
Os tipos textuais “designam uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza 
lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)” 
(cf. MARCUSCHI, 2002). 
Os tipos textuais são limitados a algumas categorias fundamentais: narração, descrição, 
dissertação (exposição ou argumentativa) e injunção. 
Narração: o autor conta uma história que pode ser real ou imaginária. 
Descrição: apresenta as características, qualidades ou especificações dos objetos, seres ou 
processos. 
Dissertação: o autor expõe idéia, expressa o que sabe ou acredita saber a respeito de 
determinado assinto, podendo ou não ter como objetivo convencer o leitor. Por isso, temos a 
distinção entre um texto expositivo (cujo objetivo é informar) e um texto argumentativo (cujo 
objetivo, além de informar, é convencer o leitor sobre um determinado ponto de vista). 
Injunção: “o autor pede, recomenda ou ordena algo ao leitor” (cf. SAUTCHUK, 2011, p.159). 
Os textos injuntivos têm como objetivo instruir ou prescrever. 
É importante destacar que “um texto, porém só raramente apresenta-se em estado puro, ou 
seja, totalmente pertencente a um só modo de organização discursiva. Na maioria das vezes, 
sua classificação se faz pela predominância de sequências de um tipo sobre os demais” 
(CARNEIRO, 2001). 
É comum, portanto, termos, em um texto narrativo, algum trecho descritivo. Vemos, no 
exemplo a seguir, apresentado por Sautchuk (2011, p.142) um trecho descritivo entre dois 
trechos narrativos. 
No dia seguinte, acordei às quatro horas da manhã, ainda frio e escuro. Coloquei a cesta nas 
costas e fui para a casa do meu avô materno que era feirante. A feira, aos domingos, era no 
largo da Câmara (praça de Toledo). A praça tinha muitas árvores, e a iluminação se fazia por 
postes de ferro trabalhado com um lustre pontiagudo e com fios embutidos. (...) Quando 
cheguei à sua casa, já o encontrei fazendo o café que ele tomava com um sanduíche muito 
extravagante. 
(GALHARDO, J. B. O vendedor de camomila. Crônicas. Araraquara: Zerocriativa, 2008) 
Em vermelho: trechos narrativos 
Em azul: trecho descritivo 
E os Gêneros Textuais 
Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam 
características sociocomunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e 
composição característica (cf. MARCUSCHI, 2002). 
Para entendermos melhor o conceito de gênero textual, vamos pensar em uma receita 
culinária. 
Em geral, os falantes, leitores da língua, reconhecem um receita em uma revista, em um livro 
de culinária ou em um programa de televisão. 
 Que características esse texto apresenta? 
 Em que contexto esse texto pode ser utilizado? 
 Qual é a intenção de quem apresenta, escreve ou lê uma receita? 
Temos, portanto, o gênero “receita culinária”, pois esse texto apresenta uma série de 
características que faz com que ele pertença a um conjunto de textos das “receitas culinárias”, 
ou seja, textos que compartilham as mesmas características em sua construção. 
São exemplos de gêneros textuais: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, 
romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, bula de remédio, resenha, lista de 
compras, cardápio de um restaurante, edital de concurso, piada, e-mail, bate-papo por 
computador etc. 
O gênero “horóscopo” é veiculado em jornais, revistas ou rádio. 
Esse gênero textual é endereçado às pessoas que têm interesse em astrologia e têm o 
propósito de aconselhar as pessoas sobre amor, dinheiro, trabalho. 
Em relação aos aspectos lingüísticos, percebemos, nesse gênero textual, o uso de registro 
informal (utilização do pronome de tratamento “você” e de verbos no imperativo). 
Os gêneros textuais existem em grande quantidade na nossa sociedade. Por isso, o domínio 
de diferentes gêneros textuais, ao longo da vida, o entendimento de sua estrutura, suas 
marcas peculiares, objetivos e propósitos comunicativos e seu uso nas diferentes situações de 
comunicação é fundamental na formação do escritor/leitor competente. 
Vale lembrar que um tipo textual pode aparecer em qualquer gênero textual, da mesma forma 
que um único gênero pode conter mais de um tipo textual. Uma carta, por exemplo, pode ter 
passagens narrativas, descritivas, injuntivas e assim por diante. 
Como Desenvolver os Parágrafos? – Reconhecendo as Características Estruturais 
dos Tipos de Parágrafos. 
Para produzirmos um parágrafo, partimos da explanação da idéia-núcleo. No entanto, também 
precisamos entender que cada tipo de parágrafo apresentará características estruturais 
específicas. 
Em parágrafos descritivos e narrativos, temos uma referência ao mundo natural. Por isso, 
usamos elementos concretos (substantivos concretos, complementados por adjetivos e 
verbos), em nosso texto, para mostrar ao leitor uma representação de uma forma real ou 
imaginária. 
Para distinguir um trecho narrativo de um descritivo, devemos refletir a questão do tempo. Em 
uma descrição, temos a apresentação dos elementos como se estivessem estáticos no tempo. 
Segundo Sautchuk (2011, p.131), “as descrições podem e devem ter verbos de ação, desde 
que não obedeçam a qualquer ordem cronológica. Para que esse efeito ocorra – o da anulação 
da passagem do tempo -, basta que se empreguem os verbos em um único tempo: ou no 
pretérito imperfeito do indicativo ou no presente do indicativo. Também não poderá ser usada 
qualquer palavra que sirva para marcar a passagem de tempo (como hoje, ontem, agora, por 
exemplo), mas apenas para citar o momento em que se está descrevendo algo”. 
Por outro lado, em uma narração, o tempo regride ou progride. Desse modo, a mudança de 
tempos verbais e o uso de advérbios ou expressões utilizados como marcadores de tempo são 
fundamentais para estabelecer esse distinção. 
Para Sautchuk (2011, p.143), “nos trechos narrativos, o centro de referência ao tempo é 
representado por verbos no pretérito perfeito do indicativo; tudo o que acontecer para trás 
desse tempo – portanto, voltando mais ainda ao passado – será assinalado por verbos no 
pretérito mais - que – perfeito e o que ocorrer para adiante será assinalado por verbos no 
futuro do pretérito”. 
O exemplo apresentado por Sautchuk (2011, p.142) foi retomado abaixo para ilustrar a 
questão dos tempos verbais: 
No dia seguinte, acordei às quatro horas da manhã, ainda frio e escuro. Coloquei a cesta nas 
costas e fui para a casa do meu avô materno que era feirante. A feira, aos domingos, era no 
largoda Câmara (praça de Toledo). A praça tinha muitas árvores, e a iluminação se fazia por 
postes de ferro trabalhado com um lustre pontiagudo e com fios embutidos. (...) Quando 
cheguei à sua casa, já o encontrei fazendo o café que ele tomava com um sanduíche muito 
extravagante. 
(GALHARDO, J. B. O vendedor de camomila. Crônicas. Araraquara: Zerocriativa, 2008) 
Analisando o parágrafo apresentado, temos: 
 Verbos no pretérito perfeito, indicando o que ocorre no momento da narrativa: acordei, 
coloquei, fui, cheguei, encontrei. 
 Marcadores de tempo responsáveis pela progressão temporal: no dia seguinte, quando, 
já. 
 Verbos no pretérito imperfeito, caracterizando a descrição: era, tinha, fazia. 
Como Ficam os Parágrafos Dissertativos – Expositivos e Argumentativos? 
Quando produzimos um parágrafo expositivo, temos como objetivo informar o leitor: definir, 
enumerar, compara dados, comunicar algo. Nele, predominam os seguintes tempos verbais: o 
presente do indicativo, o pretérito perfeito (indicando retrospectiva) e o futuro do presente. 
Exemplo 
Vamos a um exemplo (SAUTCHUK, 2011, p.150) com verbos no presente do indicativo: 
Marketing é uma orientação da administração que visa proporcionar a satisfação do cliente e o 
bem-estar do consumidor a longo prazo, como forma de satisfazer os objetivos e as 
responsabilidades da organização (PHILIP KOTLER). 
Nos textos argumentativos, além de informar, o autor, a partir de seu posicionamento crítico, 
busca convencer o leitor. Em sua estrutura, percebemos o desenvolvimento de um raciocínio 
lógico a fim de que não haja contradição. Observamos marcas de avaliação pessoal do autor 
apresentadas de modo atemporal. Vejamos, como exemplo, o trecho abaixo em que o autor 
faz uma crítica favorável a um filme infantil. Os trechos em itálico ilustram o posicionamento 
crítico do autor que argumenta a favor do filme: 
Kung Fu Panda 2 foi talvez uma das sequências mais esperadas nos últimos anos quando 
falamos em animações. E a espera valeu a pena, o filme é realmente impressionante, tanto no 
quesito visual como também nas cenas de ação, além de fazer você das boas gargalhadas 
durante a projeção. Mais uma vez, temos Jack Black fazendo a vos de Po, o Panda, assim 
como temos outros grandes atores interpretando outros personagens como Jackie chan, 
Angeline Jolie, Seth Rogen e Dustin Hoffman. 
E um trecho injuntivo? Produzimos parágrafos injuntivos quando queremos pedir, recomendar 
ou ordenar. Vamos observar três exemplos que ilustram o caráter mais convidativo (exemplo 
A), instrucional (exemplo B) e impositivo (exemplo C) de trechos injuntivos: 
a) “Invista em imóveis comerciais. Você não irá se arrepender! (Propaganda de 
imobiliária)” 
b) Bata no liquidificador o leite condensado, a lata de leite in natura e 4 gemas e leve ao 
fogo brando até engrossar. Espalhe esse creme num refratário médio. Em seguida, 
dissolva o achocolatado no copo de leite in natura, molhe os biscoitos nessa mistura e 
coloque em camadas sobre o creme. Em seguida, bata as claras em neve e junte o 
creme de leite e o açúcar, cubra os biscoitos com esse chantilly e leve à geladeira por 
cerca de 2 horas. Decore a gosto e sirva geladíssimo. 
c) Art. 6º. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando 
autorizado por lei. (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.) 
Como salienta Sautchuk (2011, p.161), em uma sequência injuntiva, notamos as seguintes 
características: predomínio de verbos de ação; verbos no modo imperativo; verbos modais 
como mandar, ordenar, determinar, pedir, suplicar, sugerir, recomendar etc. 
Como reconhecer a Necessidade de Mudarmos de Parágrafo? 
Veremos, por exemplo, que, dependendo do tipo de texto, teremos critérios diferentes para 
estabelecer a mudança de parágrafo. 
Em um trecho predominantemente narrativo, a mudança de parágrafo acontecerá em função 
de mudanças de tempo e lugar, de personagem e de ação, como se tivéssemos uma 
sequência de cenas. Em um texto descritivo, tomamos como base para a paragrafação a 
ordem de focalização do que está sendo descrito ou a intenção do autor. Em textos 
dissertativos (expositivos e argumentativos), levamos em consideração a lógica e a clareza de 
exposição das idéias. 
Vale lembra que essas são algumas possibilidades de desenvolver um parágrafo. Tudo 
depende de determinadas escolhas que o produtor do texto faz em seu planejamento. Com 
isso em mente, precisamos entender que o parágrafo, apesar de ser uma unidade significativa 
completa, faz parte de um texto maior. 
Desse modo, os parágrafos que compõem o texto precisam estar bem articulados, 
contribuindo para um todo textual. 
AULA 6 – COMO PRODUZIR UM TEXTO? A QUESTÃO DA COERÊNCIA 
Antes de abordarmos os aspectos que envolvem a coerência, leia o texto abaixo de Abaurre e 
Abaurre (2007:284): 
“Escrever um bom texto exige de nós a capacidade de estabelecer relações claras entre as 
várias idéias a serem apresentadas. O desafio a ser enfrentado é descobrir a melhor maneira 
de construir essas relações com os recursos que a língua nos oferece. 
Pense, por exemplo, na construção de uma casa. As paredes são essenciais para a sua 
sustentação. No texto, as idéias, as informações e argumentos equivalem aos tijolos que, 
dispostos lado a lado, permitem que as paredes de uma casa sejam erguidas. 
Mas, assim como os tijolos precisam de argamassa para mantê-los unidos, o texto precisa de 
elementos que estabeleçam uma ligação entre idéias, informações e argumentos. 
A “argamassa” textual se define em dois níveis diferentes. O primeiro deles é o aspecto 
formal, lingüístico, alcançado pela escolha de palavras (elementos lingüísticos específicos) cuja 
função é justamente a de estabelecer referências e relações, articulando entre si as várias 
partes do texto. A isso chamamos de coesão textual. 
O segundo nível da “argamassa” textual é o da significação. Somente a seleção e a articulação 
de idéias, informações, argumentos e conceitos compatíveis entre si produzirão como 
resultado um texto claro. Nesse caso, como a articulação textual promove a construção do 
sentido, ela é chamada de coerência textual.” (p. 284) 
(ABEURRE, M. L. e ABAURRE, M. B. M. Produção de texto: interlocução e gêneros. São 
Paulo: Moderna, 2007.) 
Compara a coesão e a coerência a uma “argamassa” textual foi uma ótima estratégia das 
autoras para mostrar como esses dois elementos são fundamentais à articulação do texto. 
Que tal começarmos pelo “segundo nível da argamassa textual”? 
Coerência: o sentido do texto 
Vamos conhecer a análise etimológica da palavra “coerência”, apresentada por Savioli e Fiorin 
(1999): 
“A palavra coerência, da mesma família de aderência e aderente, provém do latim cohaerentia 
(formada pelo prefixo co = junto com + o verbo haerere = estar preso). Significa, pois, 
conexão, união estreita entre várias partes, relação entre idéias que se harmonizam, ausência 
de contradição. É a coerência que distingue um texto de um aglomerado de frases.” (p. 393) 
Ao observarmos a origem da palavra “coerência”, notamos a referência à união e à harmonia 
das partes do texto. Entendemos, assim, que um texto é coerente a partir do momento que o 
leitor consegue perceber como as idéias que compõem o texto se articulam. 
O que fazemos quando lemos ou construímos um texto coerente: Segundo Abaurre e Abaurre 
(2007), “quando avaliamos a coerência de um texto, o que fazemos é investigar se os nexos 
de sentido estabelecidos entre as informações, dados, argumentos correspondem, de fato, a 
relações possíveis entre as idéias apresentadas. Para construir um texto coerente, portanto, 
precisamos garantir que a articulação entre as idéias seja estabelecida de modo adequado”. 
(p. 284)Ex.: “A globalização é a nova realidade econômica que se impões no século XXI e contra a 
qual nada é possível fazer. Tecnologia de ponta, especialização crescente da mão de obra, 
predomínio do setor financeiro sobre o produtivo – esses são alguns fatores que emergem 
desse novo quadro. E os países como o Brasil, que ainda não estiverem preparados para 
entrar nessa competição, acabam ficando apenas com os efeitos negativos desse fenômeno, 
como o desemprego. Por isso, é essencial que países subdesenvolvidos ou em 
desenvolvimento, que ainda não estão preparados para essa nova etapa do capitalismo, se 
unam contra a tirania dos países desenvolvidos, sob risco de poderem globalizar apenas a 
miséria”. (CEREJA e COCHAR, 2009) 
O tópico frasal é “A globalização é a nova realidade econômica que se impões no 
século XXI e contra a qual nada é possível fazer”. O desenvolvimento é “Tecnologia 
de ponta, especialização crescente da mão de obra, predomínio do setor financeiro 
sobre o produtivo – esses são alguns fatores que emergem desse novo quadro. E os 
países como o Brasil, que ainda não estiverem preparados para entrar nessa 
competição, acabam ficando apenas com os efeitos negativos desse fenômeno, 
como o desemprego”. A conclusão é “Por isso, é essencial que países 
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, que ainda não estão preparados para 
essa nova etapa do capitalismo, se unam contra a tirania dos países desenvolvidos, 
sob risco de poderem globalizar apenas a miséria”. 
Esse parágrafo é dissertativo. Além de haver problemas na compreensão desse parágrafo, 
pois a idéia apresentada na introdução é uma contradição ao que foi exposto na conclusão. 
É importante destacar que a coerência não está no texto, mas é construída a partir dele. 
Como diz Marcuschi (2008:121), “a coerência é em boa parte uma atividade realizada pelo 
receptor de um texto que atua sobre a proposta do autor. E, nesse afã, o receptor segue as 
pistas (deixadas pelo autor nas operações de coesão textual) como primeiros indicadores 
interpretativos. De todo modo, a coerência é uma atividade interpretativa e não uma 
propriedade imanente ao texto. Liga-se, pois, a atividade cognitivas e não ao código apenas”. 
Ao lermos um texto, estamos construindo o seu sentido a partir da interação entre o texto, o 
escritor e o leitor. 
Como exemplifica Sautchuk (2011:204), “é por isso que um mesmo texto – um artigo 
científico, por exemplo – pode não ter sentido algum para um determinado leitor, ter poucas 
informações novas para outro e ser altamente informativo para outro. A coerência não existe 
antes do texto, mas vai se construindo simultaneamente à construção/recepção do próprio 
texto”. 
Devemos Ter Cuidado com a Coerência na Hora de Produzirmos o Nosso Texto 
O que fazer para que seu texto tenha coerência? (cf. Sautchuk, 2011:205) 
“Primeiramente, cuide para que seu texto não apresente incoerências locais, aquelas que se 
originam de qualquer defeito que afete a clareza ou a exatidão. Depois confira, principalmente 
em texto mais extenso, se ele forma um todo organizado, se não há contradição entre os 
diversos segmentos textuais. E, finalmente, avalie muito bem para que tipo de leitor você está 
escrevendo e quais são os objetivos reais que você quer atingir.” (SAUTCHUK, I. Perca o 
medo de escrever – da frase ao texto. São Paulo: Saraiva, 2011.) 
Desse modo, podemos dizer que a coerência: 
 Relaciona-se à possibilidade de se construir um sentido para o que lemos ou ouvimos; 
 É uma atividade interpretativa, construída a partir do texto. 
A Importância do Conhecimento de Mundo no Estabelecimento da Coerência 
Textual. 
As relações de sentido de um texto são estabelecidas de várias maneiras. No entanto, é 
fundamental que tenhamos em mente a importância do conhecimento de mundo. Analisemos 
o exemplo a seguir: 
Maria está com TPM porque comeu todo o bolo de chocolate. 
Sigla de tensão pré-menstrual (conjunto de manifestações físicas e psíquicas que antecedem a 
menstruação); 
Por que achamos o texto coerente? Apesar de termos o conectivo “porque”, não vamos 
pensar em uma relação de causa e conseqüência. Afinal, Maria não está com TPM por ter 
comido o bolo de chocolate. Quem produziu esse enunciado conhece a Maria e sabe que 
quando ela está com TPM come chocolate. De todo modo, qualquer um de nós podemos 
achar o texto coerente, basta que o nosso conhecimento de mundo seja acionado para que 
possamos recuperar algumas informações: 
 O significado de TPM (tensão pré-menstrual). 
 Algumas mulheres sofrem com a TPM. 
 Um dos sintomas da TPM é a ansiedade. 
 Algumas mulheres acham que comer doces, em especial chocolate, é uma das formas 
de “aliviar” a ansiedade comum em época de TPM. 
 Maria é uma mulher que tem TPM. 
 Maria costuma comer chocolate quando está com TPM. 
Nosso conhecimento de mundo vai sendo ampliado a partir do momento que vamos tendo 
contato com o mundo. Por isso, podemos dizer que esse conhecimento tem a ver com 
aspectos socioculturais. A todo o momento, ao vivenciarmos certas situações, estamos 
adquirindo conhecimentos que vão sendo armazenados na nossa memória. Por isso, uma 
criança de 4 anos, por exemplo, talvez não consiga construir um sentido para o texto: Maria 
está com TPM porque comeu todo o bolo de chocolate. 
A tirinha do “Rato de Sebo”, de Custódio, serve como ilustração para a importância do 
conhecimento de mundo no estabelecimento da coerência de um texto. Devemos observar 
que os personagens não compartilham o mesmo grau de conhecimento de mundo, mas, 
mesmo assim, cada um, ao seu modo, tendo em vista as experiências adquiridas, é capaz de 
estabelecer a coerência do texto. 
 
A análise das respostas do rato e do burro, personagens da tirinha, nos leva a perceber que 
ambos apresentam conhecimentos diferenciados. Enquanto que o rato cita uma série de 
pensadores, o burro torna o texto coerente, tendo como base o seu conhecimento de mundo. 
Na prática, quando escrevemos um texto, devemos ter muita atenção ao modo como vamos 
desenvolver o tema, pois, dependendo do nosso público-alvo, precisaremos ter cuidado com a 
seleção e apresentação das nossas idéias. Sem isso, corremos o risco de o nosso leitor achar o 
texto incoerente, independentemente do fato de que ele tenha sido produzido com clareza, 
objetividade, precisão e correção. Assim, mesmo que o texto esteja bem escrito, devemos 
pensar no conhecimento prévio que o nosso leitor tem sobre o que será abordado. 
Coerência Textual: Conhecimento Compartilhado e Focalização 
A coerência de um texto depende de uma série de fatores. Com base em Sautchuk 
(2011:206), vamos destacar dois desses fatores: o conhecimento partilhado e a focalização. 
Entenderemos como eles podem ser úteis na construção de um texto coerente. 
Fatores de coerência: Carneiro (2001) apresenta, além de conhecimento de mundo, 
focalização e conhecimento partilhado, outros fatores de coerência, tais como: o 
conhecimento lingüístico, inferências, fatores de contextualização, situacionalidade, 
informatividade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade, consistência e relevância. 
Diferentemente do conhecimento de mundo, o conhecimento partilhado envolve apenas 
determinado escritor e determinado leitor (ou grupo de leitores). É necessário que um texto, 
para ser coerente, apresente uma série de conhecimentos comuns entre escritor e leitor. 
Quanto menos conhecimento for compartilhado, mais será preciso explicitar as informações. 
Por outro lado, quando escritor e leitor compartilham conhecimentos, essa explicitação será 
desnecessária, ou então seremos redundantes. 
Será que o enunciado abaixo faz sentido para você? 
A chaleira está acabandocom nossas economias. As formigas voltaram a importunar. Dor na 
coluna! Não vou enviar mais o café. (SAUTCHUK, 2011, p. 207) 
Poderíamos imaginar um contexto em que o enunciado apresentado seja aceitável, mas só 
conseguiremos perceber sua coerência, se soubermos que se trata de um e-mail enviado 
entre parentes. 
Outro fator de coerência, que merece a nossa atenção quando produzimos um texto, é a 
focalização. Esse fator de coerência refere-se ao modo de ver específico de determinado 
conhecimento. Há casos em que nos deparamos com informações que nos fornece uma pista 
de como devemos estabelecer o sentido do texto. Há outros em que buscamos em nossa 
mente ao ler um texto. 
Ex.: “Leão reconhece assaltantes” 
A manchete foi apresentada na seção de Esportes de um jornal eletrônico. Nós a acharíamos 
incoerente se a tivéssemos lida na seção “Cotidiano”, por exemplo. Certamente, pensaríamos 
“como será que um leão conseguiu reconhecer os assaltantes?”. Teríamos, portanto, um 
problema na focalização. No entanto, com base em nosso conhecimento de mundo e 
considerado o lugar onde a frase foi publicada, conseguimos entender perfeitamente o sentido 
do texto. Em uma seção que fale sobre Esportes, é esperada a referência ao técnico do São 
Paulo, Emerson Leão. 
Sautchuk (2011:208) cita outra possibilidade de focalização: a cobertura do casamento de 
uma atriz famosa feita por dois repórteres de uma mesma revista. Na festa, um deles focaliza 
o que foi servido e o modo como o bufê trabalhou. Seu texto será publicado na seção de 
culinária da revista. O outro, por ser especialista em moda, ocupa-se com os trajes dos 
convidados e dos noivos. Esse texto será publicado na seção de moda da mesma publicação. 
Segundo a autora, teremos o perfeito ajuste de focalização do que foi escrito. Por isso, 
teremos textos coerentes. 
A Exploração da Incoerência de um Texto Pode ser Intencional? 
Há casos em que a incoerência de um texto pode ser proposital, cumprindo, de algum modo, 
as intenções do seu produtor. Isso é muito comum em textos publicitários, humorísticos e, até 
mesmo, jornalísticos (manchetes de jornal). 
Vamos a um outro exemplo, citado por Savioli e Fiorin (1999:403). Veja como a manchete 
Canadá em São Paulo, publicada no Jornal da Tarde, em 1º de julho de 1992, chama a 
atenção do leitor pela sua incoerência 
Canadá em São Paulo 
Parque Canadense será inaugurado hoje. 
São Paulo ganha hoje um parque que reúne duas grandes “paixões” do paulistano: o verde e 
a água. O verde está na farta arborização do novo local de lazer: 2100 árvores, de 120 
espécies diferentes. E a água está no lago que cobre 70% dos 110 mil metros quadrados de 
área do parque Cidade de Toronto. 
A vegetação procura fazer jus ao nome do novo local de lazer. Batizado com este nome graças 
ao Programa Municipal de Intercâmbio Profissional firmado entre São Paulo e Toronto – que 
doou parte das verbas necessárias à sua construção (...). (Jornal da Tarde, em 1º de julho de 
1992 apud SAVIOLI e FIORIN, 1999). 
É preciso ler toda a matéria para que possamos entender que o título não é incoerente, pois, 
nele, a palavra Canadá está sendo usada de modo metonímico, ou seja, como parte do nome 
do parque construído em São Paulo que homenageia Toronto (“Parque Cidade de Toronto”), 
uma vez que foi construído com a ajuda de recursos dessa cidade canadense. 
AULA 7 – COMO PRODUZIR UM TEXTO? A QUESTÃO DA COESÃO (PARTE 
I) 
A Coesão Textual 
Na aula 3, ao definirmos “texto”, recorremos à sua etimologia, que se relaciona à palavra 
“tecido”. Podemos pensar nos fios que se unem para compor, perfeitamente, um tecido. Da 
mesma forma, ao construirmos um texto, devemos refletir sobre elementos/recursos 
lingüísticos que podem ser usados para garantir o entrelaçamento do que se quer dizer. Como 
queremos que o nosso leitor entenda o que escrevemos, precisamos facilitar essa tarefa com 
uma boa utilização dos recursos coesivos. 
Saber usar os elementos que promovem a ligação das idéias no texto é um importante passo 
para um texto bem escrito e um sinal de maturidade do escritor. As crianças, por exemplo, 
quando começam a produzir seus textos, geralmente produzem algo como: “Minha mãe é 
bonita. Minha mãe é legal. Minha mãe me dá presentes.”, ou: “Aí, o menino chegou. Aí, a mãe 
brigou com o menino.” Percebemos, assim, estruturas sintáticas bem simples. 
Com o passar dos anos, ampliamos o nosso conhecimento de mundo, o que é fundamental 
para estabelecermos a coerência de um texto. Além disso, com os anos de prática de leitura e 
escrita, também ampliamos o domínio de recursos lingüísticos que promovem a coesão de um 
texto. 
Vale destacar, no entanto, que nem sempre a presença ou ausência de elementos coesivos 
garantirá a coerência do texto. Como afirma Marcuschi (2008, p.102), “a coesão explícita não 
é uma condição necessária para textualidade. (...) Mas isto não é um entrave à 
compreensão”. Vamos comparar os exemplos I e II a seguir: 
Exemplo I 
A Pesca – Affonso Romano de Sant‟Anna 
o anil 
o anzol 
o azul 
o silêncio 
o tempo 
o peixe 
 
a agulha 
vertical 
mergulha 
 
a água 
a linha 
a espuma 
 
o tempo 
a âncora 
o peixe 
 
a boca 
o arranco 
o rasgão 
 
aberta a água 
aberta a chaga 
aberto o anzol 
 
aquelíneo 
ágil-claro 
estabanado 
 
o peixe 
a areia 
o sol 
 
Exemplo II 
O João comprou um livro. Maria casou-se com ele, pois o peixinho do aquário morreu. Eu 
devolvi o livro na biblioteca, que ficou velha. O peixinho azul nada no mar. 
Apesar da ausência de elementos coesivos no exemplo (I), tendo em mente as peculiaridades 
de uma pescaria, conseguimos estabelecer a coerência do texto. Por outro lado, apesar de 
haver, de algum modo, mecanismos coesivos entre as frases apresentadas no exemplo (II), 
não é possível estabelecer um sentido global para o que lemos. 
Ao produzirmos um texto, podemos usar os recursos coesivos para estabelecer funções 
diferentes. Segundo Koch (1989), apud Marcuschi (2008), há dois tipos de coesão: a 
referencial e a seqüencial*. Vamos à explicação 
* Há alguns autores como Fávero (1995) e Carneiro (2001) que trabalham com mais um tipo 
de coesão: a recorrencial, segundo a qual, a partir da utilização de alguns recursos coesivos, é 
possível articular informações novas e antigas no texto. 
Coesão referencial: são usados diferentes recursos para retomar um elemento já mencionado 
no texto, substituindo-o ou reiterando-o. Vejamos os exemplos abaixo: 
Exemplo 1: Minha mãe é bonita. Ela é legal. 
Percebemos que o pronome “ela” substitui o referente “minha mãe” mencionado na primeira 
oração. 
Exemplo 2: Um leão foi encontrado abandonado em uma praça no subúrbio. O animal estava 
muito ferido. 
“Um animal” foi a forma encontrada para fazer menção ao referente “um leão”, apresentado 
inicialmente. O uso de um termo com um significado mais genérico foi o recurso para reiterá-
lo. 
Coesão seqüencial: é a utilização de diferentes recursos para estabelecer uma relação lógica 
ou significativa entre diferentes segmentos do texto, fazendo com que ele apresente uma 
progressão. 
Exemplo 1: A noiva foi pontual, pois o trânsito estava bom. 
Percebemos a articulação das duas orações. O “pois” introduz uma explicação ou justificação 
para o fato apresentado na primeira oração. 
Mais importante do que se lembrar da nomenclatura – referencial e seqüencial – é perceber 
como a coesão atua em um texto. É, efetivamente, entender como cada tipo de coesão pode 
ser utilizado pelo autor para promover para a articulação textual. Ao escrever um texto, 
devemos refletir sobre a utilização desses recursos coesivos demodo a conduzir o trabalho do 
leitor. 
Vamos, então, conhecer os mecanismos da coesão referencial. 
Os Mecanismos da Coesão Referencial 
A coesão referencial refere-se ao modo de retomada de referentes que já foram introduzidos 
no texto. Vejamos a definição de Koch (1989 apud MARCUSCHI, 2008, p.108): 
“Chamo, pois, de coesão referencial aquela em que um componente da superfície do texto faz 
remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual.” 
Devemos estar atentos ao que afirma Abreu (2001). Segundo o autor, a coesão referencial 
pode representar uma marca da enunciação. Vamos aos exemplos citados pelo autor e 
retomados abaixo: 
Exemplo I: João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, Sua Santidade disse que a Igreja 
continua a favor do celibato. 
Exemplo II: João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, o mais recente aliado do 
capitalismo ocidental, disse que a Igreja continua a favor do celibato. 
Percebemos, no exemplo (I), uma apreciação positiva do Papa João Paulo II, o que não 
acontece no exemplo (II) em que o modo como o referente João Paulo II foi retomado (“o 
mais recente aliado do capitalismo ocidental”) denota uma apreciação negativa. A análise dos 
exemplos reforça a idéia de que os mecanismos de coesão referencial estão, sobretudo, 
ligados à significação ou à referência. 
É possível perceber duas formas de coesão referencial. Uma relacionada à utilização de itens 
lexicais plenos (repetições, sinônimos, hiperônimos, hipônimos, nomes genéricos, expressões 
nominais definidas, nominalizações); outra, à utilização de itens gramaticais, tais como: 
pronomes, artigos, numerais, formas verbais e advérbios. 
Vejamos exemplos do primeiro grupo: 
Repetição: Comprou o livro, mas o livro estava rasgado. 
Sinônimos: O menino estava com fome. O moleque devorou o sanduíche num minuto. 
Hiperônimos: Comprei um novo automóvel. O veículo estava com um ótimo preço. 
Hipônimos: João comprou flores e deu as violetas para a sua amada. 
Nomes Genéricos: Comprei cadernos, livros e canetas. Essas coisas são importantes. 
Expressões nominais definidas: Ronaldo foi à Espanha, onde o Fenômeno foi premiado. 
Nominalizações: Estudar é bom e o estudo amplia os conhecimentos. 
Exemplificamos, a seguir, o segundo grupo: 
Pronomes: Maria e Paula foram à festa, mas elas não comeram nada. 
Paulo e Pedro são irmãos. Este é calmo. Aquele é agitado. 
 Adorei o novo carro. Vou pagá-lo com o dinheiro da minha herança 
Artigo: Pedi um sanduíche. O sanduíche, entretanto, estava estragado. 
Numerais: Comprei o livro de matemática e o de português. Os dois custaram caro. 
Formas verbais: O diretor pediu demissão, mas o gerente não fez o mesmo. 
Advérbios Pronominais: A casa da minha avó é legal. Lá posso brincar na rua. 
Atividade: 
O céu 
O céu vai tão longe e está perto 
O céu fica em cima do teto 
O céu tem as quatro estações 
Escurece de noite, amanhece com o sol 
O céu serve a todos 
O céu ninguém pode pegar 
O céu cobre a terra e a lua 
Entra dentro do quarto, rua do avião 
Dentro do universo mora o céu 
O céu paraquedas e saltos 
O céu vai do chão para o alto 
O céu sem começo e sem fim 
Para sempre serei seu fã 
Olhai pro céu, olhai pro chão 
A partir do nosso conhecimento de mundo, conseguimos estabelecer a coerência do texto 
apresentado. No entanto, o que podemos dizer sobre a sua coesão? Temos ou não um texto 
coeso? 
O texto é coeso e coerente. Construímos um significado para o que lemos a partir do nosso 
conhecimento de mundo sobre “o céu”. Podemos verificar também a coesão do tipo 
referencial porque os autores fazem uso da repetição elemento coesivo. 
AULA 8 – COMO PRODUZIR UM TEXTO? A QUESTÃO DA COESÃO (PARTE 
II) 
Os Mecanismos de Coesão Sequencial 
Vimos que a coesão refere-se à ligação significativa entre as partes do texto. Além dos 
mecanismos de coesão referencial, temos também outros recursos responsáveis por essa 
ligação. Ao escrever, é preciso estar atento à utilização de alguns elementos que têm como 
tarefa promover ligações semânticas e sintáticas entre as partes que compõem um texto. 
Por que ligações semânticas e sintáticas? Vamos observar os exemplos abaixo: 
A polícia conseguiu prender os ladrões. 
O dinheiro roubado ainda não foi recuperado. 
Nos exemplos, temos duas sentenças que podem ser articuladas sintaticamente. Como 
queremos atribuir um valor de oposição, precisamos de um elemento que promova esse tipo 
de articulação. Nesse caso, podemos usar os seguintes “articuladores”: mas, porém, contudo, 
entretanto, todavia, no entanto. 
Vamos observar, a seguir, a articulação das duas sentenças apresentadas: 
A polícia conseguiu prender os ladrões, mas o dinheiro roubado ainda não foi recuperado. 
A polícia conseguiu prender os ladrões, o dinheiro roubado, entretanto, ainda não foi 
recuperado. 
A polícia conseguiu prender os ladrões, o dinheiro, no entanto, roubado ainda não foi 
recuperado. 
Vimos, nos exemplos (3), (4) e (5), a importância dos articuladores. Além de promoverem a 
integração entre as duas sentenças, atribuem o valor de oposição entre as ideias contidas 
nessas estruturas. Precisamos chamar a atenção para a posição ocupada pelo articulador. O 
“mas” apresenta uma posição fixa no início da sentença. Por outro lado, “entretanto” e “no 
entanto” apresentam mobilidade e podem ocupar diferentes posições na sentença. 
Podemos pensar em outras formas de articular as duas sentenças: 
Embora a polícia tenha conseguido prender os ladrões, o dinheiro roubado ainda não foi 
recuperado. 
Apesar de a polícia ter conseguido prender os ladrões, o dinheiro roubado ainda não foi 
recuperado. 
Após analisarmos a articulação dessas sentenças, a que conclusões podemos chegar? 
1- Tendo em mente a classificação tradicional, fazem parte do grupo dos articuladores 
sintáticos as conjunções (mas, porém, entretanto...), as locuções conjuntivas (muito embora, 
ainda que, posto que...) e as locuções prepositivas (apesar de, a despeito de...). 
2- Devemos estar atentos à posição (fixa ou móvel) ocupada pelos articuladores ao utilizarmos 
alguns articuladores para relacionar sentenças. 
3-Devemos ajustar o verbo utilizado (“conseguiu”, “tenha conseguido” e “ter conseguido”). 
Qual é o melhor articulador para relacionar as sentenças quando escrevemos? 
Para responder a essa pergunta, precisamos mais uma vez pensar na nossa intenção ao 
produzirmos um texto. Abreu (2001) destaca que, quando articulamos sentenças como, por 
exemplo, temos um efeito de modalização, ou seja, procuramos mostrar um determinado 
posicionamento em relação ao que foi dito. A modalização, portanto, pode servir para 
confirmar, atenuar ou impor uma determinada ideia. 
Outras ideias, além da de oposição, podem ser veiculadas por outros articuladores. Listamos, 
a seguir, com base em Abreu (2001), outras funções semânticas de principais articuladores: 
Causa: porque, pois, como, por isso que, já que, visto que, uma vez que, por, por causa de, 
em vista de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de. 
Condição: se, caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que. 
Fim: para, a fim de, com o propósito de, com a intenção de, com o fito de, com o intuito de, 
com o objetivo de. 
Conclusão: logo, portanto, então, assim, por isso, por conseguinte, pois (posposto ao verbo), 
de modo que, em vista disso. 
Outras funções semânticas de principais articuladores: 
Causa: porque, pois, como, por isso que, já que, visto que, uma vez que, por, por causa de, 
em vista de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de. 
Condição: se, caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que. 
Fim:

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