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Literatura Brasileira I - Conteúdo Online

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LITERATURA BRASILEIRA I 
AULA 1 – A PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA E HISTÓRIA DA LITERATURA 
BRASILEIRA 
A primeira referência à literatura brasileira registra-se no ensaio “Bosquejo da história da 
poesia e língua portuguesa”, como introdução da antologia Parnaso Brasileiro, de Almeida 
Garret (1799-1854), publicada em 1826. Embora a Independência do Brasil já houvesse sido 
declarada desde 1822, a Literatura Brasileira ainda era entendida como um apêndice da 
literatura da metrópole, Portugal. 
A Independência teria sido fator determinante para o surgimento da literatura brasileira? Em 
que medida os fatos políticos e econômicos afetam a produção artística de uma nação? 
A tendência primeira, ao se estudar o conjunto de obras de um determinado país, manifesta-
se pela associação da história da literatura à história dos acontecimentos1, como se os fatos 
fossem determinantes para as manifestações literárias. Deve-se deixar bastante claro que o 
estudo da literatura não é um apêndice da história. 
1 “Com ser de natureza estética, o fato literário é histórico, isto é, acontece num tempo e num 
espaço determinados. Há nele elementos históricos que o envolvem como uma capa e o 
articulam com a civilização – personalidade do autor, língua, raça, meio geográfico e social, 
momento; e elementos estéticos, que constituem o seu núcleo, imprimindo-lhe ao mesmo 
tempo características peculiares, que o fazem distinto de outro fato da vida (econômico, 
político, moral, religioso): tipo de narrativa, enredo, motivos, ponto de vista, personagens, 
linha melódica, movimento, temática, prosódia, estilo, ritmo, métrica, etc., diferindo conforme 
o gênero literário e, ao mesmo tempo, contribuindo para diferenciá-lo”. COUTINHO, Afrânio. A 
Literatura no Brasil. 7.ed. São Paulo: Global, 2004. vol. 1. p. 9) 
O método adotado para o estudo das obras é fundado em um sistema que não se propõe a 
abolir os referenciais cronológicos, mas que considera como indicador de compilação, segundo 
René Wellek, o período como unidade de análise 
“O período é definido como uma secção de tempo dominada por um sistema de normas, 
convenções e padrões literárias, cuja introdução, difusão, diversificação, integração e 
desaparecimento podem ser seguidos por nós”. (WELEK, René. apud AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel. Teoria da Literatura. 8. ed. Coimbra: Almedina, 1979. p.35) 
Dessa forma, o período literário possui uma natureza que é cronológica, mas orientada pelo 
predomínio de valores estéticos específicos em determinada época e, por essa razão, não é 
adequado que demarquemos datas balizadoras para seu início ou fim, pois os períodos se 
interpenetram, algumas vezes dialogam ou se contrapõem. 
Como dissemos, o sistema periodológico é um dos vários métodos possíveis, e não é raro que 
seja contestado também. 
Hans Robert Jauss, em uma conferência apresentada na Universidade de Constança, em 1967, 
chamava a atenção para outros aspectos que devem ser considerados quando do estudo da 
história da Literatura e segundo ele: “A história da literatura é um processo de recepção e 
produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os 
recebe, do escritor, que se faz novamente produtor, e do crítico, que sobre eles reflete. A 
soma – crescente a perder de vista – de „fatos‟ literários conforme os registram as histórias da 
literatura convencionais é um mero resíduo desse processo, nada mais que passado coletado 
e classificado, por isso mesmo não constituindo história alguma, mas pseudo-história”. 
(JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sergio 
Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. p. 25) 
Então, onde ficamos? Será o escritor um porta-voz de seu tempo? Representaria ele, por meio 
de suas obras, a sociedade? Ou a obra deveria ser apenas a expressão do “espírito do autor”? 
Quais seriam os critérios para definir a representatividade das obras dentro de um conjunto? 
Essas e muitas outras questões são interpostas àqueles que pretendem estudar a História da 
Literatura. 
Essas indagações estão presentes na obra de Dominique Maingueneau. (MAINGUENEAU, 
Dominique. O contexto da obra literária. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 4) 
Segundo Dominique Maingueneau, existem duas atitudes dominantes entre os analistas da 
Literatura: “a da história literária”, considerando a obra a expressão de seu tempo, e a de 
“orientação mais estilística”, que prefere apreender a obra como um universo fechado. 
Por outro lado, não se pode ignorar que o autor manifesta, por meio de seu estilo, a 
distribuição de papéis dentro de uma sociedade e a ideologia que sustenta a divisão de 
classes. Tal posicionamento identifica a postura crítica marxista, que deve a Lucien 
Goldmann1, seguidor de G. Lukács, estudos importantes sobre a relação entre a arte e a 
ideologia. 
1 “Qualquer grande obra literária ou artística é a expressão de uma visão do mundo. Esta é 
um fenômeno de consciência coletiva que atinge o máximo de clareza conceitual ou sensível 
na consciência do pensador ou do poeta. Os últimos exprimem-no por sua vez na obra 
estudada pelo historiador, que se serve do instrumento conceitual que é a visão do mundo” 
(GOLDMANN, L. Lê Dieu cachê. Paris: Gallimard,1964, p. 218-219 apud MAINGUENEAU, D. 
p.8). 
A aproximação de posturas entre a crítica marxista e a crítica filológica é patente, uma vez 
que, de certa maneira, a obra de arte seria considerada como um reflexo de uma “visão de 
mundo”. Assim, a história seria determinante de uma determinada forma de expressão em 
uma determinada época. 
Os laços que unem a história literária à história dos acontecimentos são estreitos, até porque 
“a obra é indissociável das instituições que a tornaram possível” e, assim, “as obras falam 
efetivamente do mundo, mas sua enunciação é parte integrante do mundo que 
pretensamente representam” 1. 
1 O trecho foi extraído da obra já citada de Dominique Maingueneau, O contexto da obra 
literária. p. 19 
Outro aspecto relevante a se considerar é o próprio ato de leitura. Para Umberto Eco, o leitor 
tem um importante papel na decifração dos signos, à medida que ele é presentificado, desde 
o momento em que a obra é constituída. A obra só adquire sentidos na medida em que é lida 
em contextos variados. 
Assim, são múltiplos e variados os aspectos que norteiam a compilação das obras que 
compõem a história literária: a condição social do escritor na sociedade de seu tempo também 
é um deles, bem como a identificação do lugar do qual ele enuncia o seu texto. Por isso, seria 
correto pensar na importância da biografia do autor1, ou bio/grafia, para compreender todos 
os sentidos que a obra sugere ou que nela estão implícitos. 
1 “Para Maingueneau ao comentar os Ensaios de Montaigne: „Bio/grafia‟ que se percorre nos 
dois sentidos: da vida rumo à grafia ou da grafia rumo à vida. (...) a vida do escritor está à 
sombra da escrita, mas a escrita é uma forma de vida. O escritor „vive‟ entre aspas a partir do 
momento em que sua vida é dilacerada pela exigência de criar, em que o espelho já se 
encontra na existência que deve refletir.” (MAINGUENEAU, D. O contexto da obra literária. p. 
46-47) 
Um expediente muito eficiente quando estudamos a arte de um determinado período é a 
comparação. É por meio dela que se observam as convergências ou divergências entre a 
Literatura e as outras artes em uma determinada época. Esses estudos configuram a 
Literatura Comparada, uma disciplina que se propõe a estabelecer e analisar esses confrontos. 
Vejamos o Caso de um Estilo de Época, o Realismo. 
Contrapondo-se aos exageros emotivos do Romantismo, o Realismo é um estilo que se 
manifesta nas produções artísticas a partirde meados do século XIX. Na Literatura, há a 
predominância da narração em terceira pessoa, a objetividade e a busca pela descrição o mais 
fiel possível da realidade. 
Você observou o quadro do pintor francês Gustave Coubert e observe agora um trecho do 
conto A cartomante1, de Machado de Assis, ambos do período realista. 
1 “Deu por si na calçada, ao pé da porta: disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou 
pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão 
pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve 
ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; 
ele tornou a bater uma, duas, três pancadas.Veio uma mulher, era a cartomante. Camilo disse 
que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. 
Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, 
havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos 
trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o 
prestígio.” (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000257.pdf) 
Mesmo não recorrendo ao enredo do conto de Machado de Assis para nos ajudar, podemos 
perceber algumas semelhanças entre o quadro e o conto: 
 A descrição da realidade é feita de maneira bastante minuciosa, os detalhes são 
privilegiados. 
 A temática das duas obras se concentra em experiências do cotidiano, observadas pela 
ótica de uma terceira pessoa. 
À primeira vista, que semelhanças podemos encontrar entre os dois textos? 
Vamos fazer um teste? 
Os painéis a seguir compõem o mural da ONU, Guerra e Paz, de nosso genial pintor Candido 
Portinari. A obra foi pintada entre os anos de 1952 e 1956. Observe atentamente os detalhes, 
as figuras humanas, as diferenças entre os dois painéis, as cores etc. 
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido 
e não pela gramática. 
“O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob 
formas geométricas, com o predomínio de linhas restas. Não representa, mas sugere a 
estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, 
vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e 
volumes”. 
E na literatura, quais seriam os traços principais? 
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido 
e não pela gramática. 
Cidade 
Foguetes pipocam o céu quando em quando 
Há uma moça magra que entrou no cinema 
Vestida pela última fita 
Conversas no jardim onde crescem bancos 
Sapos 
Olha 
A iluminação é de hulha branca 
Mamães estão chamando 
A orquestra rabecoa na mata 
Oswald de Andrade 
Comentários: 
Tanto nos painéis quanto no poema de Oswald de Andrade observamos flashes da realidade, 
como se várias visões ou fotografias estivessem coladas lado a lado. 
No mural “Guerra”, por exemplo, temos momentos de desespero e de dor retratados: são 
cenas de mulheres chorando, pessoas de braços estendidos para o céu, como clamando pela 
misericórdia. No mural “Paz”, as cenas são de alegria, brincadeira e trabalho. 
Ao colocar lado a lado cada um dos fragmentos, da dor e da alegria, o pintor nos deu uma 
perspectiva panorâmica, de todas as visões, tanto da guerra quanto da paz. 
Na poesia de Oswald de Andrade temos também retratos do cotidiano: fatos que compõem 
uma paisagem e que ganham a mesma prioridade ao serem observados pelos poetas. Se 
fossem retratados um a um, os fragmentos perderiam o sentido ou a intenção de retratar a 
noite urbana em contraponto à percepção provinciana de início de século XX, na cidade de 
São Paulo. 
Convém mencionar outro conceito literário importante: a Geração. 
Geração, segundo Afrânio Coutinho, pode definir-se como “um grupo de escritores de idades 
aproximadas que, participando das mesmas condições históricas, defrontando-se com os 
mesmos problemas coletivos, compartilhando de idêntica concepção do homem, da vida e do 
universo e defendendo valores estéticos afins, assumem lugar de relevo na vida literária de 
um país mais ou menos na mesma data. Trata-se de um conceito suplementar em nossos 
estudos da periodicidade literária. 
No caso específico da Literatura Brasileira, a determinação do ponto de partida do estudo das 
histórias da literatura é dada com a publicação de História da Literatura Brasileira, de Silvio 
Romero, em 1888. Antes dessa obra, houve referências, como já mencionamos, à literatura 
produzida no Brasil, Entretanto, esta ainda era compreendida como colônia e, por isso, 
constante do capítulo ultramar da literatura portuguesa. 
Observa Marisa Lajolo que as histórias literárias surgem a partir dos processos de afirmação 
das nacionalidades européias e não foi diferente com o caso brasileiro. Desde o primeiro 
momento, existe uma forte aliança entre a produção literária e o “projeto de construção 
nacional”. Os efeitos dessa visão se refletem diretamente sobre a construção do que podemos 
chamar de cânon da Literatura Brasileira, que não pode ser compreendido como uma 
sequência, mas como sistema: 
“(...) trata-se de uma sequência cujo estabelecimento passa pela mediação de inúmeras 
leituras seletivas que, pautando-se por igualmente seletivos protocolos (de leitura literária), 
foram aprovando certas obras e rejeitando outras, num gigantesco processo de seleção e 
combinação, cujo resultado constitui o cânon da literatura brasileira”. 
O ensino da literatura brasileira nas escolas vigora desde os tempos da monarquia, fazendo 
parte de antologias escolares. Sua importância ultrapassa o mero conhecimento dos bons 
autores, pois reside principalmente no conhecimento mais profundo de nosso povo, de nossa 
cultura e de nossa história. O contato com as obras deve sempre ser guiado, merecendo 
grupos de debates e discussão, para que a apreensão transborde os momentos de leitura e 
venha a compor a bagagem do cidadão. 
A Literatura produzida no Brasil é um patrimônio cultural, manifestação genuína do povo 
brasileiro. Sua força é sentida além do mundo lusófono, como potência artística representativa 
de nossa identidade. 
Deleite-se agora com trechos de nossa poesia brasileira, para entrar no clima: 
Canção do exílio 
Gonçalves Dias 
 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
(...) 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu‟inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
(Coimbra – julho 1843) 
O navio negreiro 
„Stamos em pleno mar... Dois infinitos 
Ali se estreitam num abraço insano, 
Azuis, dourados, plácidos, sublimes... 
Qual dos dous é o céu? Qual o oceano?... 
Castro Alves 
 
Língua Portuguesa 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma. 
Olavo Bilac 
 
Vou-me embora pra Pasárgada 
E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
– Lá sou amigo do rei– 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada. 
Manuel Bandeira 
 
As sem razões do amor 
Eu te amo porque te amo. 
Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. 
Eu te amo porque te amo. 
Amor é estado de graça 
e com amor não se paga. 
Carlos Drummond de AndradeReinvenção 
(...) 
Mas a vida, a vida, a vida, 
a vida só é possível 
reinventada. 
Cecília Meireles 
 
Extravio 
Onde começo, 
onde acabo, 
se o que está fora está dentro 
como num círculo cuja 
periferia é o centro? 
Ferreira Gullar 
AULA 2 – TEXTOS DE INFORMAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO JESUÍTICA 
O alemão Hans Staden, em 1554, foi prisioneiro dos índios Tupinambás no litoral de São 
Paulo. 
VER MATERIAL ADICIONAL – VIAGEM AO BRASIL 
Conseguindo retornar à sua terra natal, publicou a obra que contaria os oito meses que ficou 
em poder da tribo indígena, bem como os hábitos e os costumes da tribo antropófaga. 
Sua obra, Viagens e aventuras no Brasil, publicada em 1557, teve várias edições, mas apenas 
em 1892 foi traduzida para a língua portuguesa. 
O sucesso que obteve a obra no século XVI muito se deve à curiosidade dos povos em relação 
aos indígenas e às terras recém-encontradas por portugueses e espanhóis. 
Hoje, textos como o de Hans Staden são considerados como documentos significativos que 
dão a conhecer os nossos antepassados, assim como avaliar o ponto de vista que orientava 
esses relatos e descrições. 
De acordo com a análise de textos como os de Hans Staden, podemos questionar: seria essa 
a origem da Literatura Brasileira? Qual seria a origem da Literatura Brasileira? 
Ao longo da história de nosso país, observamos o surgimento de artistas: pintores, escultores, 
músicos e escritores; alguns tiveram maior sucesso em seu tempo do que outros. Há obras 
que chegaram aos nossos dias e merecem elogios ou críticas, outras ficaram desconhecidas 
por muito tempo ou ainda não foram estudadas. 
Como estudar as obras literárias produzidas em Língua Portuguesa no Brasil? Que critérios 
adotar para agrupá-las? 
Primeiro devemos nos perguntar: o que se pode considerar como “literatura”? Leia a definição 
dada por Afrânio Coutinho: 
“A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto da imaginação criadora, cujo 
meio específico é a palavra, e cuja finalidade é despertar no leitor ou ouvinte o prazer 
estético. Tem, portanto, um valor em si, e um objetivo, que não seria de comunicar ou servir 
de instrumento a outros valores – políticos, religiosos, morais, filosóficos. Dotada de uma 
composição específica, que elementos intrínsecos lhe fornecem, tem um desenvolvimento 
autônomo.” (COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 7ª Ed. São Paulo: Global, 2004. vol. 
1. p. 61) 
Para Antônio Candido, só se podem considerar como “manifestações literárias” os primeiros 
textos produzidos aqui, porque, para ele, a literatura pode ser definida como um “sistema de 
obras ligadas por denominadores comuns1, que permitem reconhecer as notas dominantes 
duma fase.” 
1 “Estes denominadores são, além das características internas (língua, temas, imagens), certos 
elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se 
manifestam historicamente e fazer da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se 
distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes 
do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os 
quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida 
em estilos), que liga uns a outros.” (CANDIDO, Antônio.) 
Assim, no caso brasileiro, a consideração do marco inicial – ou seja, a partir de quais obras 
podemos afirmar haver literatura brasileira – define o objeto de análise. Vejamos: 
Quando aqui chegaram, os colonizadores portugueses encontraram indígenas que não 
possuíam registros escritos de sua cultura; logo, se não havia escritores, também não havia 
leitores entre os índios; 
O Brasil permaneceu como colônia portuguesa de 1500 a 1822, ano de nossa Independência. 
Até 1808, com a chegada da família real ao nosso país, não havia cursos superiores. As 
famílias mais abastadas enviavam seus filhos para a Universidade de Coimbra. 
Toda e qualquer atividade de imprensa, como a publicação de jornais ou livros, foi proibida 
em nosso país até a chegada da família real portuguesa, em 1808. 
Observe como os dois dos maiores autores de História da Literatura Brasileira delimitam o seu 
objeto de análise: para o primeiro, não há nenhuma referência a um público, apenas o 
receptor da obra; já para o segundo, para haver literatura, é necessário que para ela 
existam público e mecanismos de circulação. 
Compreender o panorama histórico da época da chegada dos portugueses ao Brasil e a 
relação de Colônia e Metrópole que duraria por três séculos é fundamental para a descrição do 
movimento evolutivo da Literatura Brasileira. Nesse sentido, consideram-se como documentos 
de valor inestimável os textos, mesmo que não literários, como as crônicas e as obras que 
registraram a especificidade de nossa natureza e cultura. São textos, em sua maioria, de 
origem portuguesa, escritos entre 1500 e 1627. 
É pelos olhos do colonizador “civilizado” que fomos vistos e descritos pela primeira vez, por 
isso o exotismo e a diferença de costumes são tomados como aspectos importantes nessa 
descrição. Mas interessam, sobretudo, por serem os primeiros registros que documentam a 
instauração do sistema colonial. 
O Éden1, o Eldorado, a fonte da eterna juventude fazem parte do imaginário como traço 
constante a destacar da perspectiva européia em relação à colônia. Essa visão ingênua ou 
otimista do mundo recém-descoberto é encontrada em alguns textos de viajantes e, de certa 
forma, corroboram e fundamentam a futura literatura no Brasil2. 
1 “A primeira grande manifestação dessas forças é a formação do mito do ufamismo, 
tendência à exaltação lírica da terra ou da paisagem, espécie de crença num eldorado ou 
„paraíso terrestre‟, (...) e que constituirá uma linha permanente da literatura brasileira de 
prosa e verso. Pero Vaz de Caminha, Anchieta, Nóbrega, Cardim, Bento Teixeira, Gandavo, 
Gabriel Soares de Sousa, Fernandes Brandão, Rocha Pita, Vicente de Salvador, Botelho de 
Oliveira, Itaparica, Nunes Marques Pereira, são exemplos da série de cantores da „cultura e 
opulência, ou autores de „diálogos das grandezas‟, que constituem essa singular literatura de 
catálogo e exaltação dos recursos da terra prometida. Essa literatura, diga-se passagem, não 
deveria estar longe de emergir de motivos econômicos de valorização da terra aos olhos 
europeus.” (COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura brasileira. p.79) 
2 “Quanto a literatura dos descobrimentos, quer nasça como descrição do novo „paraíso na 
terra‟ ou como pesquisa curiosa de diferentes modos de viver por parte de um europeu 
doente de civilização, ou como desejo de um europeu portador do Verbo de tornar 
semelhantes seus os „selvagens‟ transoceânicos, será ela o paradigma constante de todo 
futura ação literária „brasileira‟” (STEGAGNO PICCHIO, Luciana. História da Literatura 
Brasileira. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. p.86) 
Ao desembarcarem nas terras brasileiras, os portugueses registraram por escrito a primeira 
impressão do colonizador. Considera-se a Carta de Pero Vaz de Caminha1, datada de abril de 
1500, a “certidão de nascimento” do Brasil por ter sido esse o primeiro registro escrito, tendo 
como objeto nossas terras. O autor, o escriba da esquadra, tinha por 
responsabilidade informar o rei D. Manuel sobre as descobertas relevantes feitas ao longo da 
viagem. 
1 Não bastassem todos os aspectos históricos que revestem o texto de Caminha, ele constitui 
um documento de valor para a consolidação da identidade brasileira. Em alguns momentos de 
nossa literatura, autores como José de Alencar, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, dentre 
outros, estabeleceramcom a Carta um diálogo intertextual. Motivados pela recusa a um 
movimento estético vigente ou pela necessidade de recuperar a origem cultural, o certo é que, 
para esses autores, o atestado de achamento do Brasil significa um registro de como éramos 
ou deixamos de ser. 
Leia o trecho a seguir e observe o efeito provocado por esse encontro: 
“A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem 
feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de 
encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. 
Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de 
uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. 
Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é 
feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem 
lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.” 
(http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html) 
O escriba da esquadra de Cabral valorizava a terra, a natureza, a docilidade dos nativos, bem 
como sugeriu a presença de ouro e prata1. Esses eram dados importantes para o colonizador, 
preocupado em aumentar o seu patrimônio. 
1 “O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por 
estrado, e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e 
Simão de Miranda, e de Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele 
íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. 
Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao 
Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos 
com a mão em direção a terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia 
ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra 
e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!” 
(http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html) 
No século XVI, a Europa tinha por modelo econômico o Mercantilismo, que se baseava no 
comércio e no acúmulo de ouro, prata e pedras preciosas (metalismo). Nesse sentido, o texto 
de Caminha procurava dar notícia ao rei D. Manuel de aspectos de seu interesse: a terra fértil 
para a exploração de artigos agrícolas, inexistentes na Europa, e a presença de minérios, que 
garantiriam a lucratividade do negócio “além-mar”. 
Ainda na Carta de Caminha, um dado que merece atenção é a referência à salvação das almas 
dos gentios1. Não se pode esquecer que, naquele momento, a Europa vivenciava a Contra-
Reforma2, movimento religioso que teve em Portugal e Espanha a sua expressão mais radical. 
1 “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, 
seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as 
aparências. E, portanto, se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e 
os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão 
cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque 
certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer 
cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, 
como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto 
Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. 
E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!” 
2 Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/protestante.htm 
As crônicas dos viajantes, suas cartas e primeiras histórias são importantes porque são os 
primeiros registros escritos de nossa terra e do encontro de culturas. São perceptíveis, 
mediante a sua leitura crítica, o estranhamento ante os indígenas e os interesses econômicos 
vigentes. Como exemplo, observe o trecho a seguir onde Gandavo analisa a língua Tupi: 
“Esta é mui branda, e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há nela de que não 
usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras, 
convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não 
têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disso 
conta, nem peso, nem medido ( Cap. 10)” 
Não se ignora que há ironia na descrição. No entanto, seu conteúdo expõe de forma velada 
os meios de dominação utilizados para edificar a relação entre a metrópole e a colônia, a 
saber: a Religião, o Estado e a Lei. 
São da autoria de Pero Magalhães Gandavo os textos o Tratado da Terra do Brasil e a História 
da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil, os quais datam de 1570 e 
1576, respectivamente. 
É importante ressaltar o caráter pioneiro do autor em divulgar os aspectos positivos da 
colônia, incentivando a imigração dos reinóis para as terras recém-conquistadas. Além disso, a 
História registra com ricas descrições a exótica flora brasileira1 e os costumes indígenas, como 
a antropofagia, a poligamia e a “couvade”2. 
1 DAS PLANTAS, MANTIMENTOS E FRUITAS QUE HA NESTA PROVINCIA 
“São tantas e tam diversas as plantas, fruitas, e hervas que ha nesta Provincia, de que se 
podiam notar muitas particularidades, que seria cousa infinita escreve-las aqui todas, e dar 
noticia dos effectos de cada huma meudamente. E por isso nem farei agora mençam sinam de 
algumas em particular, principalmente daquellas de cuja virtude e fruito Participão os 
Portuguezes. 
Primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que la 
comem em logar de pão. A raiz se chama mandioca, e a planta de que se gera He de altura 
de hum homem pouco mais ou menos. Esta planta naum He muito grossa, e tem muitos nós: 
quando a querem plantar em alguma roça cortão-na e fazem-na em pedaços, os quaes metem 
debaixo da terra, depois de cultivada, como estacas e dahi tornaõ arrebentar outras plantas 
de novo: e cada estaca destas cria três ou quatro raizes e dahi pera cima (segundo a virtude 
da terra em que se planta) as quaes põem nove ou dez meses em se criar: salvo em Sam 
Vicente que põe tres annos por causa da terra ser mais fria.” 
História da Província Santa Cruz, de Pêro de Magalhães Gândavo. Disponível em: <http:// 
www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda2.html>. 
2 A “couvade” é o resguardo do pai da criança. 
Tratado Descritivo do Brasil 
Segundo Alfredo Bosi, o Tratado Descritivo do Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Sousa 
pode ser considerado “como a fonte mais rica de informações sobre a colônia no século XVI.” 
Composto de duas partes, a obra “percorre toda a flora e a fauna da Bahia fazendo um 
inventário de quem vê tudo entre atento e encantado.” ( BOSI, A. História concisa da 
literatura brasileira. São Paulo: Cultrix,1994. p. 18) Além disso, não deixa de fazer ver à 
metrópole as oportunidades que a colônia poderia representar em termos de exploração de 
seus possíveis minérios.” 
Segundo nos conta a história, teria herdado mapas de minas no interior do Brasil, mas sua 
expedição não foi bem sucedida. 
O trecho da introdução da obra ilustra a verve descritiva do autor: 
“Como todas as coisas têm fim, convém que tenham princípio, e como o de minha pretensão é 
manifestar a grandeza, fertilidade e outras grandes partes que tem a Bahia de Todos os 
Santos e demais Estados do Brasil, do que os reis passados tanto se descuidaram, a el-rei 
nosso senhor convém, e ao bem do seu serviço, que lhe mostre, por estas lembranças, os 
grandes merecimentos deste seuEstado, as qualidades e estranhezas dele, etc. 
É esta província mui abastada de mantimentos de muita substância e menos trabalhosos que 
os de Espanha. Dão-se nela muitas carnes, assim naturais dela, como das de Portugal, e 
maravilhosos pescados; onde se dão melhores algodões que em outra parte sabida, e muitos 
açúcares tão bons como na ilha da Madeira. Tem muito pau de que se fazem as tintas. Em 
algumas partes dela se dá trigo, cevada e vinho muito bom, e em todas todos os frutos e 
sementes de Espanha, do que haverá muita qualidade, se Sua Majestade mandar prover nisso 
com muita instância e no descobrimento dos metais que nesta terra há, porque lhe não falta 
ferro, aço, cobre, ouro, esmeralda, cristal e muito salitre...” 
(http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf) 
Os primeiro textos sobre o Brasil, como vimos, não podem ser considerados como literários; 
no entanto, trata-se de rico material que nos informa sobre as nossas origens e a relação 
entre o colonizador, a terra e seus habitantes. 
AULA 3 – O BARROCO E O BRASIL DO SÉCULO XVII 
Boa parte das expedições que cruzaram o Oceano Atlântico receberam estímulos da Igreja 
Católica, preocupada em expandir a fé cristã, devido à perda considerável de fiéis com o 
advento da Reforma Religiosa, promovida por Lutero. Assim, compunham também a 
tripulação da esquadra membros da igreja, missionários dispostos a propagar a fé cristã. 
Dois deles se destacaram no Brasil pelo pioneirismo de suas produções: Pe. Manuel de 
Nóbrega e Pe. José de Anchieta. 
A obra de Nóbrega constitui-se de Cartas e o Diálogo sobre a conversão do Gentio (1557 ou 
1558), texto em que discorre sobre aspectos da conversão do indígena por uma perspectiva 
objetiva. 
“O primeiro padre geral não é propriamente um homem de letras: sua Informação das terras 
do Brasil (1551) tem sobretudo interesse etnológico e catequético. Mas as Cartas, que da 
Bahia e de Pernambuco, a partir de 1549, ele envia ao provincial e aos coirmãos da 
Companhia em Lisboa, têm o sabor das coisas vividas: logo traduzidas para o italiano (...), 
levam para a Europa da Contrarreforma o eco de uma experiência missionária das mais 
aventurosas.” (Stegagno-Picchio, L. História da literatura brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova 
Aguilar, 2004. P.77) 
Vamos ler um trecho de uma de suas cartas? 
“E dahi_vem o_pouco credito que gozam os Christãos_entre os Gentios, os quaes não 
estimam mesmo nada, sinão vituperam aos que de primeiro chamavam santos e tinham em 
muita veneração' e já tudo o que se lhes diz acreditam ser manha ou engano e tomam á 
má"parte. Esses e outros grandes males fizeram os Christãos com o mau exemplo de vida e a 
pouca verdade nas palavras e novas crueldades e abominações nas obras. 
Os Gentios desejam muito o commercio dos Christãos pela mercancia que fazem entre si do 
ferro e disto nascem da parte destes tantas cousas illicitas e exorbitantes que nunca as 
poderei escrever, e não pequena dôr sinto n'alma, maxime considerando em quanta 
ignorância vivem aquelles pobres gentios e que pedem o pão de Deus e da santa Pé...” 
Observe, na Carta de Padre Manuel da Nóbrega, a denúncia da exploração dos índios pelos 
“cristãos”, expondo seu desagrado e desacordo com as práticas aviltadoras do gentio. 
José de Anchieta (1534- 1597) notabilizou-se por uma variada produção de textos. Sua verve 
foi registrada em latim, português e espanhol (sua língua materna, pois nasceu em Tenerife, 
uma das Ilhas Canárias) em obras que vão da poesia aos autos. É de sua autoria, igualmente, 
a primeira Gramática de Tupi – Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. 
Os autos1 anchietanos são peças produzidas com o objetivo tanto de introduzir o indígena nos 
rudimentos da fé cristã, quanto para os colonos que se estabeleciam próximos às missões. 
Dentre os mais conhecidos estão: o Auto da Representação na Festa de São Lourenço, Na Vila 
de Vitória e Na Visitação de Santa Isabel. 
1 Auto é uma palavra de origem latina, que tem o significado de ação, ato. Trata-se de uma 
pequena peça de teatro, geralmente de tema religioso. Surgiu no final do século XII, na 
Península Ibérica. 
No entanto, o processo de familiarização à crença e sua simbologia própria encontrou 
entraves. Um obstáculo considerável à catequese, segundo Alfredo Bosi, em Dialética da 
colonização, consistiu na ausência do conceito de “alma” para o silvícola, o que exigia do 
pregador a utilização de mecanismos de adaptação para transpor as diferenças culturais: 
“O projeto de transpor para a fala do índio a mensagem católica demandava um esforço de 
penetrar no imaginário do outro (...) Na passagem de uma esfera simbólica para a outra 
Anchieta encontrou óbices por vezes incontornáveis. Como dizer aos tupis, por exemplo, a 
palavra pecado, se eles careciam até mesmo de sua noção, ao menos no registro que esta 
assumira ao longo da Idade Média europeia?” 
As soluções encontradas basicamente consistiram em introduzir a palavra da língua 
portuguesa no idioma tupi ou buscar uma semelhança entre as duas línguas. Dessa forma, o 
sagrado transformava-se em uma “mitologia paralela” ou uma invenção de um “imaginário 
estranho sincrético”, como nos ensina Alfredo Bosi: 
“Bispo é Pai-guaçu, quer dizer, pajé maior. Nossa Senhora às vezes aparece sob o nome de 
Tupansy, mãe de Tupã. O reino de Deus é Tupãretama, terra de Tupã. Igreja, coerentemente 
é tupãóka, casa de Tupã. Alma é anga, que vale tanto para toda sombra quanto para o 
espírito dos antepassados.” (BOSI, A. Dialética da colonização. 3. ed. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1992. p. 65). 
O trabalho de adequação dos textos dramáticos ao público a que se dirigiam demonstra a 
preocupação pedagógica das peças, que em última análise corroboravam com o processo de 
aculturação1. 
1 “Os textos teatrais de Anchieta, de maneira geral, têm uma estrutura em comum, e seu 
principal objetivo era a catequese do índio e, em menor escala, a instrução dos colonos. 
Dentro de um projeto maior, o projeto colonizador português, a preocupação era em formar 
intencionalmente o homem necessário àquela época histórica, àquele contexto em específico. 
Foi para educar e manter o projeto colonizador, a “missão civilizadora”, que o padre José de 
Anchieta escreveu suas peças. Afinal, a Companhia de Jesus era a ordem oficial da Coroa 
portuguesa no Brasil colônia, uma vez que igreja e Estado estavam unidos pelos laços do 
padroado. 
Assim, a atuação dos padres jesuítas acabou por contribuir para a formação da própria cultura 
brasileira, tanto por meio dos escritos de José de Anchieta, como de outros jesuítas, como os 
padres Manoel da Nóbrega e Antônio Vieira.” TOLEDO, C. A. A; RUCKSTADTER, F. M. M.; 
RUCKSTADTER, V. C. M. O teatro jesuítico na Europa e no Brasil no século XVI. Universidade 
Estadual de Maringá – UEM. 
A poesia de Anchieta elaborada nos moldes medievais1 deixa conhecer a alma doce e 
fervorosa do jesuíta. Como se lê na singela A Santa Inês: 
“Cordeirinha linda, 
como folga o povo 
porque vossa vinda 
lhe dá lume novo. 
 
Cordeirinha santa, 
de Iesu querida, 
vossa santa vinda, 
o diabo espanta. 
 
Por isso vos canta, 
com prazer, o povo, 
porque vossa vinda 
lhe dá lume novo.” 
1 Comentário: 
O poema foi escrito nos moldes medievais, isto é, empregando a medida velha e recursos 
estilísticos sonoros, como o refrão. 
Medida velha2 é a técnica por meio da qual o poeta estrutura os versos em redondilha menor, 
ou seja, versos com cinco sílabas poéticas, ou redondilha maior, versos com sete sílabas. 
Refrão corresponde a um fragmento de verso ou a versos inteiros que se repetem ao final de 
cada estrofe ou de estrofes alternadas.2 Mas por que medida velha? Existe uma medida nova? 
Dá-se o nome de medida velha aos versos que têm métrica de cinco ou sete sílabas poéticas. 
Essa métrica era comum nas cantigas do Trovadorismo português. 
A medida nova foi uma métrica que surgiu no Renascimento e consiste em versos de dez 
sílabas, ou decassílabos. Tais versos são chamados de heroicos, quando são acentuados na 
sexta e na décima sílabas. 
Vale acrescentar ainda como obras que compõem o conjunto de textos de informação: o 
Diário de Navegação, de Pero Lopes e Sousa (1530); a Narrativa Epistolar e os Tratados da 
Terra e da Gente do Brasil, do padre jesuíta Fernão Cardim (1583); o Tratado Descritivo do 
Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587); os Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio 
Fernandes Brandão (1618); a História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador (1627), etc. 
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e 
tentar compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado 
contemplará com mais atenção a sociedade europeia e a sua história, tendo em vista a sua 
força-matriz e impondo-se sobre a nossa situação colonial. 
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi 
marcado por grandes transformações. O Feudalismo, sistema social e econômico, estava 
consolidado a esse tempo. Isso significa dizer que a sociedade medieval era dividida em 
estamentos: os nobres, o clero e os servos. E, por isso, quase não havia possibilidade de 
ascensão social. 
Os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, estes concediam a segurança 
contra invasores. O clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e 
igreja nesse tempo. Dessa forma, cabia-lhe o papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, 
caso tentassem revoltar-se contra o sistema. Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse 
período de Idade das Trevas, no entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já 
que o período foi também marcado, entre outros fatos, pela criação das Universidades e pela 
preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges copistas. 
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itália 
para toda a Europa, o movimento manteve características comuns, como a valorização da 
Antiguidade clássica, a recuperação dos modelos estéticos gregos e romanos e o prestígio do 
equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito medieval estava mais 
arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das idéias novas ganhou matizes 
diferenciadas. 
Os países da Península Ibérica conheceram o apogeu no século XVI, devido à centralização 
política e econômica precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido 
investimento estrangeiro. 
O Brasil não vivenciou o Feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país 
não tinha sido encontrado pelos colonizadores ainda. Na Idade Média, os indígenas ocupam o 
protagonismo histórico em nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui 
habitavam. 
Após 1500, pouco a pouco Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia, que se 
prolongou até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias 
que concorressem com os produtos da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa 
última. 
A partir de 1530, iniciou-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o 
objetivo de deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana de 
açúcar. Para tanto, o país foi dividido em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a 
nobres portugueses, que tinham o direito de explorar a terra, mas deveriam proteger seu 
território, bem como povoar e plantar cana de açúcar. 
O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549, instituiu o 
primeiro Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da 
Costa e Mem de Sá, cujo fim do mandato se deu em 1572. 
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, 
devido ao desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos 
produtos à Europa, já que é uma cidade litorânea. 
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento 
da relação entre Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o 
primeiro oferecia apoio militar e diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os 
portos de seu país e das colônias para os produtos manufaturados produzidos pelos ingleses. 
Essa aliança tornou Portugal dependente comercial, política e economicamente da Inglaterra. 
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores 
de engenho, detentores do poder político e econômico, as camadas médias, constituída pelos 
profissionais liberais, comerciantes, religiosos e militares e os escravos, principalmente negros 
de origem africana. 
Você poderia se perguntar: por que preciso saber de História para estudar Literatura? 
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento 
sobre o contexto social em que viveram os artistas, assim como entender as referências a 
fatos e personagens. Isso no auxilia a interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete 
os anseios do homem de uma determinada época. 
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade 
circundante pode auxiliar na sua compreensão. 
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As 
relações sociais acompanharam essas mudanças. 
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou 
adaptar-se aos novos tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero 
propôs o debate sobre as indulgências católicas e promoveu um movimento de grandes 
proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana. Esse movimento foi conhecido 
como Reforma Protestante. 
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por 
Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, protestou contra diversos 
pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios 
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas. 
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus, provocando uma revolução 
religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino 
Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a 
Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-
Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. 
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os 
católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo. 
Abalada pela Reforma, a Igreja Católica perdeu um grande número de fiéis para outras 
religiões e, em decorrência disso, criou um movimento chamado Contra-Reforma. 
Contra-Reforma, também denominada Reforma Católica, é o nome dado ao movimento criado 
no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante, iniciada com Lutero, a partir de 
1517. 
Em 1543, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento, estabelecendo, entre 
outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index 
Librorum Prohibitorum, com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à 
catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novasordens religiosas dedicadas a 
essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus. Outras medidas incluíram a 
reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e 
seminários e a supressão de abusos envolvendo indulgências. 
A Europa, nesse período, foi sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de 
uma e de outra parte, sendo criado um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de 
arte da época. 
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro do interesse e 
discussão, provocados pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida 
e pelas incertezas quanto à fé, à transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período 
recebeu o nome de Barroca. 
A Literatura brasileira foi inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não 
vivenciamos o Barroco em concomitância com a Europa, mas recebemos os ecos do 
movimento, que encontrou no Brasil três vozes: Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e 
Gregório de Matos Guerra. 
Para você entender como se sentia o homem barroco, veja a imagem a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O painel de azulejos acima se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em 
Salvador. 
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”. 
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas 
em uma fila. Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao 
barqueiro Caronte (veja ao fundo da imagem) – figura mitológica – que as levará ao reino dos 
mortos. 
Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o 
camponês (o que está com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa 
para todos, não há escapatória. 
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca. 
Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na 
morte. Essa é a mensagem transmitida pelo painel. 
A morte é tematizada pelo barroco com muita freqüência, porque o homem dessa época 
sentia-se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne. A 
angústia dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte. 
Para Afrânio Coutinho, 
“O Renascimento caracterizou-se pelo predomínio da linha reta e pura, pela clareza e nitidez 
dos contornos. O Barros tenta a conciliação, a incorporação, a fusão do ideal medieval, 
espiritual, supraterreno, com os novos valores que o Renascimento pôs em voga: o 
humanismo, o gosto das coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais. A estratégia 
pertenceu à Contrarreforma, no intuito, consciente ou inconsciente, de combater o moderno 
espírito absorvendo-o no que tivesse de mais aceitável. Daí nasceu o Barroco, novo estilo de 
vida, que traduz em suas contradições e distorções o caráter dilemático da época, na arte, 
filosofia, religião, literatura (...) São, por isso, o dualismo, a oposição ou as oposições, 
contrastes e contradições, o estado de conflito e tensão, oriundos do duelo entre o espírito 
cristão, antiterreno, teocêntrico, e o espírito secular, racionalista, mundano, que caracterizam 
a essência do espírito barroco. Daí uma série de antíteses – ascetismo e mundanidade, carne 
e espírito, sensualismo e misticismo, religiosidade e erotismo, realismo e idealismo, 
naturalismo e ilusionismo, céu e terra, verdadeiras dicotomias.” (COUTINHO, Afrânio. 
Introdução à literatura no Brasil. 17. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 99) 
Na Literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como 
antíteses, paradoxo, hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também 
o vocábulo rebuscado, hermético, que recobre a violência de um estado de alma em 
permanente conflito. 
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco: 
 Cultismo: entende-se por cultismo o jogo de palavras, provenientes do uso excessivo 
de figuras de linguagem. Trata-se de influência do poeta espanhol Luís de Gôngora e, 
por isso, também denominamos gongorismo esse aspecto do Barroco. Na poética de 
Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência. 
 Conceptismo: por conceptismo compreende-se a poética atribuída a Francisco 
Quevedo, cuja principal característica é o jogo de idéias, expresso por meio de 
silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da 
influência quevedista. 
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, 
podemos afirmar que houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia 
aqui a configuração de um movimento propriamente dito. 
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue 
dois momentos nesse período: 
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) 
b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade 
cultural quando a exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, 
Sabará, Mariana, São João d‟El Rei, Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades 
quinhentistas, como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro” (BOSSI, A. História concisa da 
literatura brasileira. 41. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. p.35) 
Em 1601, a publicação de Prosopopeia, de Bento Teixeira, é considerado o marco inicial do 
Barroco no Brasil. 
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com 
intenções encomiásticas, pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, 
Jorge de Albuquerque Coelho. A influência de Os Lusíadas, de Camões, é nítida na epopéia 
escrita em oitavas heróicas, principalmente nas inversões sintáticas peculiares. No entanto, 
em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma no poema, na referência à 
cidade de Olinda e na “Descrição do Recife de Pernambuco”. 
Vejamos a seguir uma estrofe ilustrativa: 
“É este porto tal, por estar posta 
Uma cinta de pedra, inculta e viva, 
Ao longo da soberba e larga costa, 
Onde quebra Netuno e fúria esquiva. 
Entre a praia e pedra descomposta, 
O estanhado elemento se diriva 
Com tanta mansidão, que uma fateixa 
Basta ter à fatal Argos Aneixa.” 
Também de origem portuguesa, nascido em Lisboa, figura Antônio Vieira, que se radicou 
ainda menino no Brasil, trazido pelos pais. Estudou na Bahia, mas foi cedo para Olinda com a 
incumbência de ensinar no seminário de Olinda. 
Tornou-se pregador em 1634 e o brilho de seus sermões ultrapassaram os púlpitos brasileiros, 
concedendo-lhe um papel político de relevância na Colônia e na Metrópole. 
A influência conceptista sobressai na parenética de Vieira, cuja verve argumentativa concilia 
“duas realidades historicamente díspares: o sistema nacional mercantil, de um lado; e as 
propostas de fraternidade contidas no Evangelho, de outro”. 
Leia agora o trecho do Sermão da Epifania, pregado em 1662 e, em seguida, a análise de 
Alfredo Bosi sobre o trecho: 
“As nações, umas são mais brancas, outras mais pretas, porque umas estão mais vizinhas, 
outras mais remotas do sol. E pode haver maior inconsideração do entendimento, em maior 
erro do juízo entre os homens, que cuidar eu que hei-de ser vosso senhor, porque nasci mais 
longe do sol, e que vós haveis de ser meu escravo, porque nascestes mais perto?!” (Vieira 
apud BOSI, A. Dialética da colonização. p.135). 
Veja também um belo trecho do Sermão do Mandato: 
“É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar: o 
melhorar de objeto. Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com 
outro se apaga. Assimcomo dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um 
sujeito, assim no mesmo coração não podem caber dois amores, porque o amor que não é 
intenso não é amor. Ora, grande coisa deve de ser o amor, pois, sendo assim, que não 
bastam a encher um coração mil mundo, não cabem em um coração dois amores. Daqui vem 
que, se acaso se encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor 
objeto. É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidade. Comumente se diz que o 
maior contrário da luz são as trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz 
maior. As estrelas no meio das trevas luzem e resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, 
que é luz maior, desaparecem as estrelas.” 
“O sermão é exemplar como xadrez de conflitos sociais, dados os interesses em jogo, 
obrigando o discurso ora a avançar até posições extremas, ora a compor uma linguagem de 
compromisso. No fundo, o pregador acha-se dividido entre uma lógica maior, de raiz 
universalista, tendecialmente igualitária, e uma retórica menor (...) particularista e 
interesseira. O efeito é um misto de ardor e diplomacia, veemência e sinuosidade, que define 
a grandeza e os limites de nosso jesuíta.” (BOSE, A. Dialética da colonização. p. 134) 
Triste Bahia 
Gregório de Matos e Guerra, nascido em 1633, na Bahia, foi inegavelmente, o primeiro poeta 
brasileiro. A sua biografia revela um personagem extremamente controvertido, tão paradoxal 
e surpreendente quanto a sua poesia. 
Gregório de Matos estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo 
para o Brasil quando contava perto de cinqüenta anos. Atuou como juiz. Voltou ao Brasil em 
1681, ocupando o cargo de vigário-geral. 
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se 
que teria deixado o dinheiro largado em casa e gastado desmedidamente. 
“Conta-se que teria, em certo momento da vida, abandonado tudo para vagar como cantador 
itinerante, convivendo com todas as camadas da população”. (MATOS, Gregório de. Poemas 
escolhidos/ Gregório de Matos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2010. p. 20) 
No entanto, embora tenhamos notícia de que sua produção poética foi bastante extensa, não 
se conhece nenhum poema assinado por ele ou impresso em vida. Reunidos, ao longo do 
tempo, por colecionadores, há casos de um mesmo poema apresentar versões bastante 
distintas. 
Além da dificuldade de se estabelecer a originalidade do texto do autor, há que se considerar 
as traduções livres de Quevedo e Gôngora, que aumentam a sua bibliografia. Como vermos, a 
obra de Gregório suscita, por si só, grande polêmica. No entanto, é importante destacar que a 
noção de autoria não tinha no século XVII o mesmo valor que tem hoje. 
Composta por sátiras, poemas religiosos, líricos e amorosos, a obra de Gregório revela sua 
mestria técnica e agilidade verbal, inclusive empregando palavras da língua tupi, como 
podemos observar no poema a seguir: 
AOS CARAMURUS DA BAHIA 
Um calção de pindoba, a meia zorra, 
Camisa de urucu, mantéu de arara, 
Em lugar de cotó arco e taquara 
Penacho de guarás em vez de gorra. 
 
Furado o beiço, e sem temor que morra 
O pai, que lho envasou Cuma titara 
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara 
Por reprimir-lhe o sangue que não corra. 
Alarve sem razão, bruto sem fé, 
Sem mais leis que a do gosto, quando erra 
De Paiaiá tornou-se em abaité. 
 
Não sei onde acabou, ou em que guerra: 
Só sei que deste Adão de Massapé 
Procedem os fidalgos desta terra. 
No poema, observa-se a crítica dura e impiedosa aos “nobres” da Colônia, os “caramurus”, os 
novos-ricos que detinham o poder econômico e político no Brasil colonial. A verve do 
esgrimista impiedoso das palavras rendeu-lhe o apelido Boca do Inferno. 
Note também que o ponto de vista de Gregório é o de um descendente nobre de uma família 
de proprietários de terras e engenho, cujos bens foram se perdendo, restando-lhes apenas a 
memória de fidalguia. O poeta assume, assim, o tom amargo ao expor as suas críticas à 
mestiçagem, mas também à corrupção e tematiza o rancor de um reinol de alta estirpe, 
injustiçado pela ralé que governa a Colônia. 
À BAHIA 
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 
Rica te vi e já, tu a mi abundante. 
A ti trocou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocado e tem trocado 
Tanto negócio e tanto negociante. 
Deste em dar tanto açúcar excelente 
Pelas drogas inúteis, que abelhuda 
Simples aceitas do sagaz Brichote. 
Oh! Se quisera Deus que de repente 
Um dia amanheceras tão sisuda 
Que fora de algodão o teu capote! 
“Uma primeira aproximação ao texto, de caráter abrangente, encontra dois movimentos de 
sentido oposto. Pelo primeiro, o eu lírico entra em simpatia com o tu, a cidade da Bahia, 
animada e personalizada. Pelo segundo, vem a separação: o eu, agora juiz, invoca um castigo 
para o outro, chamando a intervenção de uma terceira pessoa, Deus, mediador poderoso e 
capaz de executar a pena merecida. A primeira onde significação move os quartetos; a 
segunda, os tercetos.” (BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1992. p. 94-95) 
TEMPO A CIDADE DA BAHIA 
A cada canto um grande conselheiro, 
Que nos quer governar cabana e vinha; 
Não sabem governar sua cozinha, 
E podem governar o mundo inteiro. 
Em cada porta um bem frequente olheiro, 
Que a vida do vizinho e da vizinha 
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, 
Para o levar à praça e ao terreiro. 
Muitos mulatos desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda a picardia, 
Estupendas usuras nos mercados, 
Todos os que não furtam muito pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia 
(BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 
2007. p. 25) 
Destacam-se, na obra gregoriana os poemas religiosos cujos matizes barrocos podem ser 
assinalados. Embora a autoria seja questionada devido à semelhança com poemas de outros 
autores da época, a beleza dos versos e a riqueza estilística merecem atenção. Como no 
poema A Jesus Cristo Nosso Senhor. 
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR 
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque, quanto mais tenho delinquido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
 
Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirma na sacra história, 
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 
(BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 
2007. p.31) 
Nesse soneto, é perceptível a tensão barroca mediante o uso de figuras de linguagem como 
os pares antitéticos: peca/perdoar e lisonja/ofensa. No entanto, a força do poema reside no 
tom argumentativo com que pretende convencer Deus de sua salvação. 
O eu lírico vai buscar nas sagradas escrituras o exemplo que servirá de precedente: o episódio 
da ovelha desgarrada. Por analogia, a salvação de sua alma pecadora seria motivo de glória 
para Deus; e se pecava tanto, era por acreditar que seria perdoado, já que a condenação 
poderia significar a perda da glória divina. 
Veja que o tom de oração recobre a petição do “advogado”, cujo talento argumentativo se 
coloca a serviço da salvação da alma, conscientementepecadora. 
A lírica amorosa e filosófica de Gregório de Matos conta com significativa produção, em sua 
maioria de sonetos de inspiração camoniana. São temas comuns: a transitoriedade da vida, 
considerações sobre o ciúme, o silêncio e as declarações amorosas. 
AOS AFETOS E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM 
Ardor em firme coração nascido; 
Pranto por belos olhos derramado; 
Incêndio em mares de água disfarçado; 
Rio de neve em fogo convertido: 
 
Tu, que em um peito abrasas escondido; 
Tu, que em um rosto corres desatado; 
Quando fogo, em cristais aprisionado; 
Quando cristal em chamas derretido. 
Se és fogo como passas brandamente, 
Se és neve, como queimas com porfia? 
Mas ai, que andou Amor em ti prudente! 
 
Pois para temperar a tirania, 
Como quis que aqui fosse a neve ardente, 
Permitiu parecesse a chama fria. 
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/Gregório de Matos; seleção e organização José 
 Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.222) 
A beleza da descrição da lágrima metaforizada 
A beleza da descrição da lágrima metaforizada em fogo e neve, expressões antitéticas, 
desenvolve, ao longo do soneto, o lamento do eu lírico que pondera sobre o paradoxo do 
sentimento amoroso. 
A primeira estrofe apresenta, nos dois últimos versos, a estrutura quiasmática1 que reforça o 
contraste, mediante o espelhamento: 
Incêndio em mares de água disfarçado 
 
Rio de neve em fogo convertido 
1 Quiasmática provém do quiasma, que trata-se de uma figura estilística pela qual pode-se 
perceber o cruzamento, formando um movimento semelhante à letra X (qui, letra do alfabeto 
grego). 
O mesmo procedimento se percebe também nos dois últimos versos da segunda estrofe, onde 
o vocativo “tu”, a quem se dirige o poeta, são as lágrimas que sintetizam essa dualidade. 
Na terceira estrofe, o questionamento do eu lírico se responde, pois é o Amor que torna 
possível o paradoxo do fogo, que simboliza a paixão e o desejo, a ser sublimado pelo 
sentimento amoroso de castidade e pureza, representada pela neve – como se lê na quarta 
estrofe. 
Como vimos, a importância da poesia de Gregório de Matos se consolida não apenas pela 
variedade ou volume de obras, mas principalmente por apresentar os traços da literatura que 
inaugura: a hibridez, a intensidade e a conciliação. 
Pensar a literatura brasileira é também refletir sobre a maneira especial, própria da cultura de 
nosso povo, de compreender e expressar os sentimentos e angústias humanas. Assim como 
fizeram os autores do século XVII e como fazemos nós no século XXI. 
AULA 4 – O BARROCO (CONTEXTO): TENSÕES E EXPRESSÕES 
Sobre a Idade Média 
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e 
tentar compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado 
contemplará com mais atenção a sociedade européia e a sua história, tendo em vista a sua 
força- matriz impondo-se sobre a nossa situação colonial. 
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi 
marcado por grandes transformações. O feudalismo, sistema social e econômico, estava 
consolidado a esse tempo. Isso significa dizer que a sociedade medieval era dividida em 
estamentos: os nobres, o clero (os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, 
esses concediam a segurança contra invasores) e os servos (o clero detinha grande poder, 
pois não havia uma divisão entre Estado e igreja a esse tempo. Dessa forma, cabia-lhe o 
papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema). 
E, por isso, quase não havia possibilidade de ascensão social. 
Idade das Trevas? 
Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas. 
No entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já que o período foi também 
marcado, entre outros fatos, pela criação das Universidades e pela preservação dos escritos 
da Grécia e Roma antigas por monges copistas. 
Renascimento 
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itália 
para toda a Europa, o movimento manteve características comuns, como a valorização da 
Antiguidade clássica, a recuperação dos modelos estéticos gregos e romanos, o prestígio do 
equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito medieval estava mais 
arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das ideias novas ganhou matizes 
diferenciados. 
Os Diferentes Cenários 
Os países da Península Ibérica conhecem o apogeu no século XVI, devido à centralização 
política e econômica precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido 
investimento estrangeiro. 
A Península Ibérica é formada pelos territórios de Gibraltar (britânico), Portugal, Espanha, 
Andorra. 
O Brasil não vivenciou o feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país 
não tinha sido encontrado pelos colonizadores ainda. Na idade Média, os indígenas ocupam o 
protagonismo histórico em nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui 
habitavam. 
A Cronologia das Mudanças 
 Após 1500, pouco a pouco, Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia 
que viria a se prolongar até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não 
produzir mercadorias que viessem a concorrer com os produtos da Metrópole, bem 
como a comercializar apenas com essa última. 
 A partir de 1530, inicia-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, 
com o objetivo de deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e 
cultivar cana-de-açúcar. Para tanto, o país foi dividido em capitanias hereditárias, cuja 
posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o direito de explorar a terra, 
mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana-de-açúcar. 
 O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549 institui o 
primeiro Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por 
Duarte da Costa e Mem de Sá, cujo fim do mandato se deu em 1572. 
A Aliança entre Portugal e Inglaterra 
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, 
devido ao desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos 
produtos à Europa, já que é uma cidade litorânea. 
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento 
da relação entre Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o 
primeiro oferecia apoio militar e diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os 
portos de seu país e das colônias para os produtos manufaturados produzidos pelos ingleses. 
Essa aliança torna Portugal dependente comercialmente, politicamente e economicamente da 
Inglaterra. 
A Sociedade Brasileira 
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores 
de engenho, detentores do poder político e econômico; as camadas médias, constituída pelos 
profissionais liberais, comerciantes, religiosos e militares; os escravos, principalmente negros 
de origem africana. 
Você poderia se perguntar: por que preciso saber de história para estudar literatura? 
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento 
sobre o contexto social em que viveram os artistas, bem como entender as referências a fatos 
e personagens. Isso nos auxilia a interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os 
anseios do homem de uma determinada época. 
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade 
circundante pode auxiliar a compreenderos seus sentidos. 
A Reforma Protestante X Contra-Reforma 
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As 
relações sociais acompanharam essas mudanças. 
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou 
adaptar-se aos novos tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero 
propôs o debate sobre as indulgências católicas e promoveu um movimento de grandes 
proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana. Esse movimento foi conhecido 
como Reforma. 
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras 
religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma. 
Ecos do Barroco 
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue 
dois momentos nesse período: 
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes 
plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas 
permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d‟El Rei, 
Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e 
Rio de Janeiro.” (BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 
2003. p.35) 
O Barroco 
A Europa, nesse período, será sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de 
uma e de outra parte; criando um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte 
da época. 
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro de interesse e 
discussão, provocada pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e 
pelas incertezas quanto à fé, à transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período 
recebeu o nome de Barroco. 
A Literatura Brasileira 
A literatura brasileira será inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não 
vivenciamos o Barroco em concomitância com a Europa, mas recebemos aqui os ecos do 
movimento, que encontrará no Brasil três vozes: Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e 
Gregório de Matos Guerra. 
O Sentimento do Homem Barroco 
O painel de azulejos ao lado se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em 
Salvador. (PROCURAR NA INTERNET ESSES AZULEJOS) 
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”. 
Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o 
camponês (o que está com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa 
para todos, não há escapatória. 
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas 
em um fila. 
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca. 
Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na 
morte. Essa é a mensagem transmitida pelo painel. 
Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro 
Caronte (veja ao fundo da imagem) ― figura mitológica ― que as levará ao reino dos mortos. 
O Barraco na visão de Afrânio Coutinho 
A morte é tematizada pelo barroco com muita frequência porque o homem dessa época 
sentia-se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne. A 
angústia dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte. 
 
A Literatura no Período Barroco 
Na literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como 
antítese, paradoxo, hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também 
o vocabulário rebuscado, hermético, que recobre a violência de um estado de alma em 
permanente conflito. 
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco: o cultismo1 e 
o conceptismo2. 
1 Entende-se por cultismo o jogo de palavras, proveniente do uso excessivo de figuras de 
linguagem. Trata-se de influência do poeta espanhol Luís de Gôngora, por isso também 
denominamos gongorismo esse aspecto do Barroco. Na poética de Gregório de Matos, 
observamos traços dessa tendência. 
2 Por conceptismo, compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal 
característica é o jogo de idéias, expressso por meio de silogismos. Os sermões de Padre 
Antônio Vieira apresentam bons exemplos da influência quevedista. 
O Marco Inicial do Barroco no Brasil 
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, 
podemos afirmar que houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia 
aqui a configuração de um movimento, propriamente dito. 
É considerado o marco inicial do Barroco no Brasil a publicação de Prosopopéia, em 1601, de 
Bento Teixeira. Assunto de nossa próxima aula, juntamente com a análise dos sermões de 
Padre Antônio Vieira. 
AULA 5 – A POESIA INAUGURAL DE BENTO TEIXEIRA E A PARENÉTICA DE 
PADRE ANTÔNIO VIEIRA 
Recapitulando... 
O Barroco brasileiro como vimos na aula anterior, não se registra em concomitância com o 
movimento europeu e adquiriu aqui características próprias, marcadas pelo processo 
colonizador e as restrições impostas pela metrópole. No entanto, algumas vozes já se 
levantam e merecem que nos detenhamos em sua análise. 
Das primeiras manifestações literárias nascidas em nossa terra, a primeira delas foi o longo 
poema épico Prosopopeia de Bento Teixeira. 
Bento Teixeira 
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com 
intenções encomiásticas, pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, 
Jorge de Albuquerque Coelho. 
Segundo José Veríssimo, poemas como Prosopopeia eram frequentes na bibliografia da época. 
Em outras palavras, a poesia que elogiava os nobres e suas famílias concedia ao poeta um 
status diferenciado, pois, como menciona Veríssimo. 
A Análise de José Veríssimo Dias de Matos 
A influência de Os Lusíadas, de Camões, é nítida na epopeia escrita em oitavas heroicas, 
principalmente nas inversões sintáticas peculiares. Define Veríssimo: 
“É um poema de noventa e quatro oitavas, em verso hendecassílabo, sem divisão de cantos, 
nem numeração de estrofes, cheio de reminiscências, imitações, arremedos e paródias dos 
Lusíadas. Não tem propriamente ação, e a prosopopeia donde tira o nome está numa fala de 
Proteu, profetizando post facto, os feitos e a fortuna, exageradamente idealizados, dos 
Albuquerques, particularmente de Jorge, o terceiro donatário de Pernambuco, ao qual é 
consagrado.” 
Características do Nativismo 
Em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma o poema, na referência à 
cidade de Olinda e na “Descrição do Recife de Pernambuco”, configurando o olhar sobre a 
nossa terra talvez a primeira semente do nativismo. 
Vemos a seguir uma estrofe ilustrativa: 
A menção à cidade de Olinda, terra da capitania do homenageado, é articulada a Saturno, 
deus do tempo na mitologia greco-romana. 
Vale o poema pelo aspecto pioneiro de que se reveste, mas o excesso de referências à 
mitologia impede a comoção do leitor. 
Da poesia para a prosa, vamos conhecer um pouco da obra de um homem, mais 
precisamente, um pregador dessa época. Ele se notabilizou pela força e beleza de seus 
sermões e cartas: Padre Antônio Vieira. 
Padre Antônio Vieira 
Antônio Vieira nasceu em Portugal, mas veio para o Brasil ainda menino. Também muito cedo 
ingressou na Companhia de Jesus, tornando-se padre. Viveu intensamente conflitos entre 
brasileiros e holandeses, bem como foi capaz de analisar com agudeza a situação de 
indígenas, negros e judeus na sociedade colonial. 
Um aspecto notável em sua obra é a erudição de que se reveste a linguagem em

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