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Literatura Brasileira I - Conteúdo Online

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LITERATURA BRASILEIRA I
AULA 1 – A PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA E HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA
A primeira referência à literatura brasileira registra-se no ensaio “Bosquejo da história da poesia e língua portuguesa”, como introdução da antologia Parnaso Brasileiro, de Almeida Garret (1799-1854), publicada em 1826.  Embora a Independência do Brasil já houvesse sido declarada desde 1822, a Literatura Brasileira ainda era entendida como um apêndice da literatura da metrópole, Portugal.
A Independência teria sido fator determinante para o surgimento da literatura brasileira? Em que medida os fatos políticos e econômicos afetam a produção artística de uma nação?
A tendência primeira, ao se estudar o conjunto de obras de um determinado país, manifesta-se pela associação da história da literatura à história dos acontecimentos1, como se os fatos fossem determinantes para as manifestações literárias. Deve-se deixar bastante claro que o estudo da literatura não é um apêndice da história.
1 “Com ser de natureza estética, o fato literário é histórico, isto é, acontece num tempo e num espaço determinados. Há nele elementos históricos que o envolvem como uma capa e o articulam com a civilização – personalidade do autor, língua, raça, meio geográfico e social, momento; e elementos estéticos, que constituem o seu núcleo, imprimindo-lhe ao mesmo tempo características peculiares, que o fazem distinto de outro fato da vida (econômico, político, moral, religioso): tipo de narrativa, enredo, motivos, ponto de vista, personagens, linha melódica, movimento, temática, prosódia, estilo, ritmo, métrica, etc., diferindo conforme o gênero literário e, ao mesmo tempo, contribuindo para diferenciá-lo”. COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 7.ed. São Paulo: Global, 2004. vol. 1. p. 9)
O método adotado para o estudo das obras é fundado em um sistema que não se propõe a abolir os referenciais cronológicos, mas que considera como indicador de compilação, segundo René Wellek, o período como unidade de análise
“O período é definido como uma secção de tempo dominada por um sistema de normas, convenções e padrões literárias, cuja introdução, difusão, diversificação, integração e desaparecimento podem ser seguidos por nós”. (WELEK, René. apud AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura. 8. ed. Coimbra: Almedina, 1979. p.35)
Dessa forma, o período literário possui uma natureza que é cronológica, mas orientada pelo predomínio de valores estéticos específicos em determinada época e, por essa razão, não é adequado que demarquemos datas balizadoras para seu início ou fim, pois os períodos se interpenetram, algumas vezes dialogam ou se contrapõem.
Como dissemos, o sistema periodológico é um dos vários métodos possíveis, e não é raro que seja contestado também.
Hans Robert Jauss, em uma conferência apresentada na Universidade de Constança, em 1967, chamava a atenção para outros aspectos que devem ser considerados quando do estudo da história da Literatura e segundo ele: “A história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe, do escritor, que se faz novamente produtor, e do crítico, que sobre eles reflete. A soma – crescente a perder de vista – de ‘fatos’ literários conforme os registram as histórias da literatura convencionais é um mero resíduo desse processo, nada mais que passado coletado e classificado, por isso mesmo não constituindo história alguma, mas pseudo-história”. (JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sergio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. p. 25)
Então, onde ficamos? Será o escritor um porta-voz de seu tempo? Representaria ele, por meio de suas obras, a sociedade? Ou a obra deveria ser apenas a expressão do “espírito do autor”?
Quais seriam os critérios para definir a representatividade das obras dentro de um conjunto?
Essas e muitas outras questões são interpostas àqueles que pretendem estudar a História da Literatura.
Essas indagações estão presentes na obra de Dominique Maingueneau. (MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 4)
Segundo Dominique Maingueneau, existem duas atitudes dominantes entre os analistas da Literatura: “a da história literária”, considerando a obra a expressão de seu tempo, e a de “orientação mais estilística”, que prefere apreender a obra como um universo fechado.
Por outro lado, não se pode ignorar que o autor manifesta, por meio de seu estilo, a distribuição de papéis dentro de uma sociedade e a ideologia que sustenta a divisão de classes. Tal posicionamento identifica a postura crítica marxista, que deve a Lucien Goldmann1, seguidor de G. Lukács, estudos importantes sobre a relação entre a arte e a ideologia.
1 “Qualquer grande obra literária ou artística é a expressão de uma visão do mundo. Esta é um fenômeno de consciência coletiva que atinge o máximo de clareza conceitual ou sensível na consciência do pensador ou do poeta. Os últimos exprimem-no por sua vez na obra estudada pelo historiador, que se serve do instrumento conceitual que é a visão do mundo” (GOLDMANN, L. Lê Dieu cachê. Paris: Gallimard,1964, p. 218-219 apud MAINGUENEAU, D. p.8).
A aproximação de posturas entre a crítica marxista e a crítica filológica é patente, uma vez que, de certa maneira, a obra de arte seria considerada como um reflexo de uma “visão de mundo”. Assim, a história seria determinante de uma determinada forma de expressão em uma determinada época.
Os laços que unem a história literária à história dos acontecimentos são estreitos, até porque “a obra é indissociável das instituições que a tornaram possível” e, assim, “as obras falam efetivamente do mundo, mas sua enunciação é parte integrante do mundo que pretensamente representam” 1.
1 O trecho foi extraído da obra já citada de Dominique Maingueneau, O contexto da obra literária. p. 19
Outro aspecto relevante a se considerar é o próprio ato de leitura. Para Umberto Eco, o leitor tem um importante papel na decifração dos signos, à medida que ele é presentificado, desde o momento em que a obra é constituída. A obra só adquire sentidos na medida em que é lida em contextos variados.
Assim, são múltiplos e variados os aspectos que norteiam a compilação das obras que compõem a história literária: a condição social do escritor na sociedade de seu tempo também é um deles, bem como a identificação do lugar do qual ele enuncia o seu texto. Por isso, seria correto pensar na importância da biografia do autor1, ou bio/grafia, para compreender todos os sentidos que a obra sugere ou que nela estão implícitos.
1 “Para Maingueneau ao comentar os Ensaios de Montaigne: ‘Bio/grafia’ que se percorre nos dois sentidos: da vida rumo à grafia ou da grafia rumo à vida. (...) a vida do escritor está à sombra da escrita, mas a escrita é uma forma de vida. O escritor ‘vive’ entre aspas a partir do momento em que sua vida é dilacerada pela exigência de criar, em que o espelho já se encontra na existência que deve refletir.” (MAINGUENEAU, D. O contexto da obra literária. p. 46-47)
Um expediente muito eficiente quando estudamos a arte de um determinado período é a comparação. É por meio dela que se observam as convergências ou divergências entre a Literatura e as outras artes em uma determinada época. Esses estudos configuram a Literatura Comparada, uma disciplina que se propõe a estabelecer e analisar esses confrontos.
Vejamos o Caso de um Estilo de Época, o Realismo.
Contrapondo-se aos exageros emotivos do Romantismo, o Realismo é um estilo que se manifesta nas produções artísticas  a partir de meados do século XIX. Na Literatura, há a predominância da narração em terceira pessoa, a objetividade e a busca pela descrição o mais fiel possível da realidade.
Você observou o quadro do pintor francês Gustave Coubert e observe agora um trecho do conto A cartomante1, de Machado de Assis, ambos do período realista.
1 “Deu por si na calçada,ao pé da porta: disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas.Veio uma mulher, era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar.
Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.” (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000257.pdf)
Mesmo não recorrendo ao enredo do conto de Machado de Assis para nos ajudar, podemos perceber algumas semelhanças entre o quadro e o conto:
A descrição da realidade é feita de maneira bastante minuciosa, os detalhes são privilegiados.
A temática das duas obras se concentra em experiências do cotidiano, observadas pela ótica de uma terceira pessoa.
À primeira vista, que semelhanças podemos encontrar entre os dois textos?
Vamos fazer um teste?
Os painéis a seguir compõem o mural da ONU, Guerra e Paz, de nosso genial pintor Candido Portinari. A obra foi pintada entre os anos de 1952 e 1956. Observe atentamente os detalhes, as figuras humanas, as diferenças entre os dois painéis, as cores etc.
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido e não pela gramática.
“O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas restas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes”.
E na literatura, quais seriam os traços principais?
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido e não pela gramática.
Cidade
Foguetes pipocam o céu quando em quando
Há uma moça magra que entrou no cinema
Vestida pela última fita
Conversas no jardim onde crescem bancos
Sapos
Olha
A iluminação é de hulha branca
Mamães estão chamando
A orquestra rabecoa na mata
Oswald de Andrade
Comentários:
Tanto nos painéis quanto no poema de Oswald de Andrade observamos flashes da realidade, como se várias visões ou fotografias estivessem coladas lado a lado.
No mural “Guerra”, por exemplo, temos momentos de desespero e de dor retratados: são cenas de mulheres chorando, pessoas de braços estendidos para o céu, como clamando pela misericórdia. No mural “Paz”, as cenas são de alegria, brincadeira e trabalho.
Ao colocar lado a lado cada um dos fragmentos, da dor e da alegria, o pintor nos deu uma perspectiva panorâmica, de todas as visões, tanto da guerra quanto da paz.  
Na poesia de Oswald de Andrade temos também retratos do cotidiano: fatos que compõem uma paisagem e que ganham a mesma prioridade ao serem observados pelos poetas. Se fossem retratados um a um, os fragmentos perderiam o sentido ou a intenção de retratar a noite urbana em contraponto à percepção provinciana de início de século XX, na cidade de São Paulo.
Convém mencionar outro conceito literário importante: a Geração.
Geração, segundo Afrânio Coutinho, pode definir-se como “um grupo de escritores de idades aproximadas que, participando das mesmas condições históricas, defrontando-se com os mesmos problemas coletivos, compartilhando de idêntica concepção do homem, da vida e do universo e defendendo valores estéticos afins, assumem lugar de relevo na vida literária de um país mais ou menos na mesma data. Trata-se de um conceito suplementar em nossos estudos da periodicidade literária.
No caso específico da Literatura Brasileira, a determinação do ponto de partida do estudo das histórias da literatura é dada com a publicação de História da Literatura Brasileira, de Silvio Romero, em 1888. Antes dessa obra, houve referências, como já mencionamos, à literatura produzida no Brasil, Entretanto, esta ainda era compreendida como colônia e, por isso, constante do capítulo ultramar da literatura portuguesa.
Observa Marisa Lajolo que as histórias literárias surgem a partir dos processos de afirmação das nacionalidades européias e não foi diferente com o caso brasileiro. Desde o primeiro momento, existe uma forte aliança entre a produção literária e o “projeto de construção nacional”. Os efeitos dessa visão se refletem diretamente sobre a construção do que podemos chamar de cânon da Literatura Brasileira, que não pode ser compreendido como uma sequência, mas como sistema:
“(...) trata-se de uma sequência cujo estabelecimento passa pela mediação de inúmeras leituras seletivas que, pautando-se por igualmente seletivos protocolos (de leitura literária), foram aprovando certas obras e rejeitando outras, num gigantesco processo de seleção e combinação, cujo resultado constitui o cânon da literatura brasileira”.
O ensino da literatura brasileira nas escolas vigora desde os tempos da monarquia, fazendo parte de antologias escolares. Sua importância ultrapassa o mero conhecimento dos bons autores, pois reside principalmente no conhecimento mais profundo de nosso povo, de nossa cultura e de nossa história. O contato com as obras deve sempre ser guiado, merecendo grupos de debates e discussão, para que a apreensão transborde os momentos de leitura e venha a compor a bagagem do cidadão.
A Literatura produzida no Brasil é um patrimônio cultural, manifestação genuína do povo brasileiro. Sua força é sentida além do mundo lusófono, como potência artística representativa de nossa identidade.
Deleite-se agora com trechos de nossa poesia brasileira, para entrar no clima:
Canção do exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
 
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(...)
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Coimbra – julho 1843)
O navio negreiro
‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? Qual o oceano?...
Castro Alves
Língua Portuguesa
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma.
Olavo Bilac
Vou-me embora pra Pasárgada
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei–
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
As sem razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Carlos Drummond de Andrade
Reinvenção
(...)
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível 
reinventada.
Cecília Meireles
Extravio
Onde começo,
onde acabo,
se o que está fora está dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?
Ferreira Gullar
AULA 2 – TEXTOS DE INFORMAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO JESUÍTICA
O alemão Hans Staden, em 1554, foi prisioneiro dos índios Tupinambás no litoral de São Paulo.  
VER MATERIAL ADICIONAL – VIAGEM AO BRASIL
Conseguindo retornar à sua terra natal, publicou a obra que contaria os oito meses que ficou em poder da tribo indígena, bem como os hábitos e os costumes da tribo antropófaga. 
Sua obra, Viagens e aventuras no Brasil, publicada em 1557, teve várias edições, mas apenas em 1892 foitraduzida para a língua portuguesa.
O sucesso que obteve a obra no século XVI muito se deve à curiosidade dos povos em relação aos indígenas e às terras recém-encontradas por portugueses e espanhóis.
Hoje, textos como o de Hans Staden são considerados como documentos significativos que dão a conhecer os nossos antepassados, assim como avaliar o ponto de vista que orientava esses relatos e descrições.
De acordo com a análise de textos como os de Hans Staden, podemos questionar: seria essa a origem da Literatura Brasileira? Qual seria a origem da Literatura Brasileira?
Ao longo da história de nosso país, observamos o surgimento de artistas: pintores, escultores, músicos e escritores; alguns tiveram maior sucesso em seu tempo do que outros. Há obras que chegaram aos nossos dias e merecem elogios ou críticas, outras ficaram desconhecidas por muito tempo ou ainda não foram estudadas. 
Como estudar as obras literárias produzidas em Língua Portuguesa no Brasil? Que critérios adotar para agrupá-las?
Primeiro devemos nos perguntar: o que se pode considerar como “literatura”? Leia a definição dada por Afrânio Coutinho:
“A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto da imaginação criadora, cujo meio específico é a palavra, e cuja finalidade é despertar no leitor ou ouvinte o prazer estético. Tem, portanto, um valor em si, e um objetivo, que não seria de comunicar ou servir de instrumento a outros valores – políticos, religiosos, morais, filosóficos. Dotada de uma composição específica, que elementos intrínsecos lhe fornecem, tem um desenvolvimento autônomo.” (COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 7ª Ed. São Paulo: Global, 2004. vol. 1. p. 61)
Para Antônio Candido, só se podem considerar como “manifestações literárias” os primeiros textos produzidos aqui, porque, para ele, a literatura pode ser definida como um “sistema de obras ligadas por denominadores comuns1, que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase.”
1 “Estes denominadores são, além das características internas (língua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazer da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros.” (CANDIDO, Antônio.)
Assim, no caso brasileiro, a consideração do marco inicial – ou seja, a partir de quais obras podemos afirmar haver literatura brasileira – define o objeto de análise. Vejamos:  
Quando aqui chegaram, os colonizadores portugueses encontraram indígenas que não possuíam registros escritos de sua cultura; logo, se não havia escritores, também não havia leitores entre os índios;
O Brasil permaneceu como colônia portuguesa de 1500 a 1822, ano de nossa Independência. Até 1808, com a chegada da família real ao nosso país, não havia cursos superiores. As famílias mais abastadas enviavam seus filhos para a Universidade de Coimbra.
Toda e qualquer atividade de imprensa, como a publicação de jornais ou livros, foi proibida em nosso país até a chegada da família real portuguesa, em 1808.
Observe como os dois dos maiores autores de História da Literatura Brasileira delimitam o seu objeto de análise: para o primeiro, não há nenhuma referência a um público, apenas o receptor da obra; já para o segundo, para haver literatura, é necessário que para ela existam público e mecanismos de circulação.
Compreender o panorama histórico da época da chegada dos portugueses ao Brasil e a relação de Colônia e Metrópole que duraria por três séculos é fundamental para a descrição do movimento evolutivo da Literatura Brasileira.  Nesse sentido, consideram-se como documentos de valor inestimável os textos, mesmo que não literários, como as crônicas e as obras que registraram a especificidade de nossa natureza e cultura. São textos, em sua maioria, de origem portuguesa, escritos entre 1500 e 1627.
É pelos olhos do colonizador “civilizado” que fomos vistos e descritos pela primeira vez, por isso o exotismo e a diferença de costumes são tomados como aspectos importantes nessa descrição. Mas interessam, sobretudo, por serem os primeiros registros que documentam a instauração do sistema colonial.
O Éden1, o Eldorado, a fonte da eterna juventude fazem parte do imaginário como traço constante a destacar da perspectiva européia em relação à colônia. Essa visão ingênua ou otimista do mundo recém-descoberto é encontrada em alguns textos de viajantes e, de certa forma, corroboram e fundamentam a futura literatura no Brasil2.
1 “A primeira grande manifestação dessas forças é a formação do mito do ufamismo, tendência à exaltação lírica da terra ou da paisagem, espécie de crença num eldorado ou ‘paraíso terrestre’, (...) e que constituirá uma linha permanente da literatura brasileira de prosa e verso. Pero Vaz de Caminha, Anchieta, Nóbrega, Cardim, Bento Teixeira, Gandavo, Gabriel Soares de Sousa, Fernandes Brandão, Rocha Pita, Vicente de Salvador, Botelho de Oliveira, Itaparica, Nunes Marques Pereira, são exemplos da série de cantores da ‘cultura e opulência, ou autores de ‘diálogos das grandezas’, que constituem essa singular literatura de catálogo e exaltação dos recursos da terra prometida. Essa literatura, diga-se passagem, não deveria estar longe de emergir de motivos econômicos de valorização da terra aos olhos europeus.” (COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura brasileira. p.79)
2 “Quanto a literatura dos descobrimentos, quer nasça como descrição do novo ‘paraíso na terra’ ou como pesquisa curiosa de diferentes modos de viver por parte de um europeu doente de civilização, ou como desejo de um europeu portador do Verbo de tornar semelhantes seus os ‘selvagens’ transoceânicos, será ela o paradigma constante de todo futura ação literária ‘brasileira’” (STEGAGNO PICCHIO, Luciana. História da Literatura Brasileira. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. p.86)
Ao desembarcarem nas terras brasileiras, os portugueses registraram por escrito a primeira impressão do colonizador. Considera-se a Carta de Pero Vaz de Caminha1, datada de abril de 1500, a “certidão de nascimento” do Brasil por ter sido esse o primeiro registro escrito, tendo como objeto nossas terras. O autor, o escriba da esquadra, tinha por responsabilidade informar o rei D. Manuel sobre as descobertas relevantes feitas ao longo da viagem.
1 Não bastassem todos os aspectos históricos que revestem o texto de Caminha, ele constitui um documento de valor para a consolidação da identidade brasileira. Em alguns momentos de nossa literatura, autores como José de Alencar, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, dentre outros, estabeleceram com a Carta um diálogo intertextual. Motivados pela recusa a um movimento estético vigente ou pela necessidade de recuperar a origem cultural, o certo é que, para esses autores, o atestado de achamento do Brasil significa um registro de como éramos ou deixamos de ser. 
Leia o trecho a seguir e observe o efeito provocado por esse encontro:
“A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.” (http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html)
O escriba da esquadra de Cabralvalorizava a terra, a natureza, a docilidade dos nativos, bem como sugeriu a presença de ouro e prata1.  Esses eram dados importantes para o colonizador, preocupado em aumentar o seu patrimônio.
1 “O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado, e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e de Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa.
Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção a terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!” (http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html)
No século XVI, a Europa tinha por modelo econômico o Mercantilismo, que se baseava no comércio e no acúmulo de ouro, prata e pedras preciosas (metalismo). Nesse sentido, o texto de Caminha procurava dar notícia ao rei D. Manuel de aspectos de seu interesse: a terra fértil para a exploração de artigos agrícolas, inexistentes na Europa, e a presença de minérios, que garantiriam a lucratividade do negócio “além-mar”.
Ainda na Carta de Caminha, um dado que merece atenção é a referência à salvação das almas dos gentios1. Não se pode esquecer que, naquele momento, a Europa vivenciava a Contra-Reforma2, movimento religioso que teve em Portugal e Espanha a sua expressão mais radical.
1 “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!”
2 Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/protestante.htm
As crônicas dos viajantes, suas cartas e primeiras histórias são importantes porque são os primeiros registros escritos de nossa terra e do encontro de culturas. São perceptíveis, mediante a sua leitura crítica, o estranhamento ante os indígenas e os interesses econômicos vigentes. Como exemplo, observe o trecho a seguir onde Gandavo analisa a língua Tupi:
“Esta é mui branda, e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disso conta, nem peso, nem medido ( Cap. 10)”
Não se ignora que há  ironia na descrição. No entanto, seu conteúdo expõe de forma velada os meios de dominação utilizados para edificar a relação entre a metrópole e a colônia, a saber: a Religião, o Estado e a Lei.
São da autoria de Pero Magalhães Gandavo os textos o Tratado da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil, os quais datam de 1570 e 1576, respectivamente.
É importante ressaltar o caráter pioneiro do autor em divulgar os aspectos positivos da colônia, incentivando a imigração dos reinóis para as terras recém-conquistadas. Além disso, a História registra com ricas descrições a exótica flora brasileira1 e os costumes indígenas, como a antropofagia, a poligamia e a “couvade”2.
1 DAS PLANTAS, MANTIMENTOS E FRUITAS QUE HA NESTA PROVINCIA
“São tantas e tam diversas as plantas, fruitas, e hervas que ha nesta Provincia, de que se podiam notar muitas particularidades, que seria cousa infinita escreve-las aqui todas, e dar noticia dos effectos de cada huma meudamente. E por isso nem farei agora mençam sinam de algumas em particular, principalmente daquellas de cuja virtude e fruito Participão os Portuguezes.
Primeiramente tratarei da planta e raiz de que os moradores fazem seus mantimentos que la comem em logar de pão. A raiz se chama mandioca, e a planta de que se gera He de altura de hum homem pouco mais ou menos. Esta planta naum He muito grossa, e tem muitos nós: quando a querem plantar em alguma roça cortão-na e fazem-na em pedaços, os quaes metem debaixo da terra, depois de cultivada, como estacas e dahi tornaõ arrebentar outras plantas de novo: e cada estaca destas cria três ou quatro raizes e dahi pera cima (segundo a virtude da terra em que se planta) as quaes põem nove ou dez meses em se criar: salvo em Sam Vicente que põe tres annos por causa da terra ser mais fria.”
História da Província Santa Cruz, de Pêro de Magalhães Gândavo. Disponível em: <http:// www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda2.html>.
2 A “couvade” é o resguardo do pai da criança.
Tratado Descritivo do Brasil
Segundo Alfredo Bosi, o Tratado Descritivo do Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Sousa pode ser considerado “como a fonte mais rica de informações sobre a colônia no século XVI.”
Composto de duas partes, a obra “percorre toda a flora e a fauna da Bahia fazendo um inventário de quem vê tudo entre atento e encantado.” ( BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix,1994. p. 18) Além disso, não deixa de fazer ver à metrópole as oportunidades que a colônia poderia representar em termos de exploração de seus possíveis minérios.”
Segundo nos conta a história, teria herdado mapas de minas no interior do Brasil, mas sua expedição não foi bem sucedida.
O trecho da introdução da obra ilustra a verve descritiva do autor:
“Como todas as coisas têm fim, convém que tenham princípio, e como o de minha pretensão é manifestar a grandeza, fertilidade e outras grandes partes que tem a Bahia de Todos os Santos e demais Estados do Brasil, do que os reis passados tanto se descuidaram, a el-rei nosso senhor convém, e ao bem do seu serviço, que lhe mostre, por estas lembranças, os grandes merecimentos deste seu Estado, as qualidades e estranhezas dele, etc.
É esta província mui abastada de mantimentos de muita substância e menos trabalhosos que os de Espanha. Dão-se nela muitas carnes, assim naturais dela, como das de Portugal, e maravilhosos pescados; onde se dão melhores algodões que em outra parte sabida, e muitos açúcares tão bons como na ilha da Madeira. Tem muito pau de que se fazem as tintas. Em algumas partes dela se dá trigo, cevada e vinho muito bom, e em todas todos os frutos e sementes de Espanha, do que haverá muita qualidade, se Sua Majestade mandar prover nisso com muita instância e no descobrimento dos metais que nesta terra há, porque lhe não falta ferro, aço, cobre, ouro, esmeralda, cristal e muito salitre...” (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf)
Os primeiro textos sobre o Brasil, como vimos, não podem ser considerados como literários; no entanto, trata-se de rico material que nos informa sobre as nossas origens e a relação entre o colonizador, a terra e seus habitantes.
AULA 3 – O BARROCO E O BRASIL DO SÉCULO XVII
Boa parte das expedições que cruzaram o Oceano Atlântico receberam estímulos da Igreja Católica, preocupada em expandir a fé cristã, devido à perda considerável de fiéis com o advento da Reforma Religiosa, promovida por Lutero. Assim, compunham também a tripulação da esquadra membros da igreja, missionários dispostos a propagar a fé cristã.
Dois deles se destacaramno Brasil pelo pioneirismo de suas produções: Pe. Manuel de Nóbrega e Pe. José de Anchieta.
A obra de Nóbrega constitui-se de Cartas e o Diálogo sobre a conversão do Gentio (1557 ou 1558), texto em que discorre sobre aspectos da conversão do indígena por uma perspectiva objetiva.
“O primeiro padre geral não é propriamente um homem de letras: sua Informação das terras do Brasil (1551) tem sobretudo interesse etnológico e catequético. Mas as Cartas, que da Bahia e de Pernambuco, a partir de 1549, ele envia ao provincial e aos coirmãos da Companhia em Lisboa, têm o sabor das coisas vividas: logo traduzidas para o italiano (...), levam para a Europa da Contrarreforma o eco de uma experiência missionária das mais aventurosas.” (Stegagno-Picchio, L. História da literatura brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. P.77)
Vamos ler um trecho de uma de suas cartas?
“E dahi_vem o_pouco credito que gozam os Christãos_entre os Gentios, os quaes não estimam mesmo nada, sinão vituperam aos que de primeiro chamavam santos e tinham em muita veneração' e já tudo o que se lhes diz acreditam ser manha ou engano e tomam á má"parte. Esses e outros grandes males fizeram os Christãos com o mau exemplo de vida e a pouca verdade nas palavras e novas crueldades e abominações nas obras.
Os Gentios desejam muito o commercio dos Christãos pela mercancia que fazem entre si do ferro e disto nascem da parte destes tantas cousas illicitas e exorbitantes que nunca as poderei escrever, e não pequena dôr sinto n'alma, maxime considerando em quanta ignorância vivem aquelles pobres gentios e que pedem o pão de Deus e da santa Pé...”
Observe, na Carta de Padre Manuel da Nóbrega, a denúncia da exploração dos índios pelos “cristãos”, expondo seu desagrado e desacordo com as práticas aviltadoras do gentio.
José de Anchieta (1534- 1597) notabilizou-se por uma variada produção de textos. Sua verve foi registrada em latim, português e espanhol (sua língua materna, pois nasceu em Tenerife, uma das Ilhas Canárias) em obras que vão da poesia aos autos. É de sua autoria, igualmente, a primeira Gramática de Tupi – Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil.
Os autos1 anchietanos são peças produzidas com o objetivo tanto de introduzir o indígena nos rudimentos da fé cristã, quanto para os colonos que se estabeleciam próximos às missões. Dentre os mais conhecidos estão: o Auto da Representação na Festa de São Lourenço, Na Vila de Vitória e Na Visitação de Santa Isabel.  
1 Auto é uma palavra de origem latina, que tem o significado de ação, ato. Trata-se de uma pequena peça de teatro, geralmente de tema religioso. Surgiu no final do século XII, na Península Ibérica.
No entanto, o processo de familiarização à crença e sua simbologia própria encontrou entraves. Um obstáculo considerável à catequese, segundo Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, consistiu na ausência do conceito de “alma” para o silvícola, o que exigia do pregador a utilização de mecanismos de adaptação para transpor as diferenças culturais:
“O projeto de transpor para a fala do índio a mensagem católica demandava um esforço de penetrar no imaginário do outro (...) Na passagem de uma esfera simbólica para a outra Anchieta encontrou óbices por vezes incontornáveis. Como dizer aos tupis, por exemplo, a palavra pecado, se eles careciam até mesmo de sua noção, ao menos no registro que esta assumira ao longo da Idade Média europeia?”
As soluções encontradas basicamente consistiram em introduzir a palavra da língua portuguesa no idioma tupi ou buscar uma semelhança entre as duas línguas. Dessa forma, o sagrado transformava-se em uma “mitologia paralela” ou uma invenção de um “imaginário estranho sincrético”, como nos ensina Alfredo Bosi: 
“Bispo é Pai-guaçu, quer dizer, pajé maior. Nossa Senhora às vezes aparece sob o nome de Tupansy, mãe de Tupã. O reino de Deus é Tupãretama, terra de Tupã. Igreja, coerentemente é tupãóka, casa de Tupã. Alma é anga, que vale tanto para toda sombra quanto para o espírito dos antepassados.” (BOSI, A. Dialética da colonização. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 65).
O trabalho de adequação dos textos dramáticos ao público a que se dirigiam demonstra a preocupação pedagógica das peças, que em última análise corroboravam com o processo de aculturação1. 
1 “Os textos teatrais de Anchieta, de maneira geral, têm uma estrutura em comum, e seu principal objetivo era a catequese do índio e, em menor escala, a instrução dos colonos. Dentro de um projeto maior, o projeto colonizador português, a preocupação era em formar intencionalmente o homem necessário àquela época histórica, àquele contexto em específico. Foi para educar e manter o projeto colonizador, a “missão civilizadora”, que o padre José de Anchieta escreveu suas peças. Afinal, a Companhia de Jesus era a ordem oficial da Coroa portuguesa no Brasil colônia, uma vez que igreja e Estado estavam unidos pelos laços do padroado.
Assim, a atuação dos padres jesuítas acabou por contribuir para a formação da própria cultura brasileira, tanto por meio dos escritos de José de Anchieta, como de outros jesuítas, como os padres Manoel da Nóbrega e Antônio Vieira.” TOLEDO, C.  A. A; RUCKSTADTER, F. M. M.; RUCKSTADTER, V. C. M. O teatro jesuítico na Europa e no Brasil no século XVI. Universidade Estadual de Maringá – UEM.
A poesia de Anchieta elaborada nos moldes medievais1 deixa conhecer a alma doce e fervorosa do jesuíta. Como se lê na singela A Santa Inês:
“Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
 
Cordeirinha santa,
de Iesu querida,
vossa santa vinda,
o diabo espanta.
 
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.”
1 Comentário:
O poema foi escrito nos moldes medievais, isto é, empregando a medida velha e recursos estilísticos sonoros, como o refrão.
Medida velha2 é a técnica por meio da qual o poeta estrutura os versos em redondilha menor, ou seja, versos com cinco sílabas poéticas, ou redondilha maior, versos com sete sílabas.
Refrão corresponde a um fragmento de verso ou a versos inteiros que se repetem ao final de cada estrofe ou de estrofes alternadas.
2 Mas por que medida velha? Existe uma medida nova?
Dá-se o nome de medida velha aos versos que têm métrica de cinco ou sete sílabas poéticas. Essa métrica era comum nas cantigas do Trovadorismo português.
A medida nova foi uma métrica que surgiu no Renascimento e consiste em versos de dez sílabas, ou decassílabos. Tais versos são chamados de heroicos, quando são acentuados na sexta e na décima sílabas. 
Vale acrescentar ainda como obras que compõem o conjunto de textos de informação: o Diário de Navegação, de Pero Lopes e Sousa (1530); a Narrativa Epistolar e os Tratados da Terra e da Gente do Brasil, do padre jesuíta Fernão Cardim (1583); o Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587); os Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618); a História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador (1627), etc.
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e tentar compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado contemplará com mais atenção a sociedade europeia e a sua história, tendo em vista a sua força-matriz e impondo-se sobre a nossa situação colonial.
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi marcado por grandes transformações.  O Feudalismo, sistema social e econômico, estava consolidado a esse tempo. Isso significa dizer que a sociedade medieval  era dividida em estamentos:  os nobres, o clero e os servos. E, por isso, quase não havia possibilidade de ascensão social.
Os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, estes concediam a segurança contra invasores. O clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e igreja nesse tempo. Dessa forma, cabia-lhe o papel de apaziguaros ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema. Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas, no entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já que o período foi também marcado, entre outros fatos, pela criação das Universidades e pela preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges copistas.
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itália para toda a Europa, o movimento manteve características comuns, como a valorização da Antiguidade clássica, a recuperação dos modelos estéticos gregos e romanos e o prestígio do equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito medieval estava mais arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das idéias novas ganhou matizes diferenciadas.
Os países da Península Ibérica conheceram o apogeu no século XVI, devido à centralização política e econômica precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido investimento estrangeiro.
O Brasil não vivenciou o Feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país não tinha sido encontrado pelos colonizadores ainda. Na Idade Média, os indígenas ocupam o protagonismo histórico em nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui habitavam.
Após 1500, pouco a pouco Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia, que se prolongou até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias que concorressem com os produtos da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa última.
A partir de 1530, iniciou-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o objetivo de deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana de açúcar. Para tanto, o país foi dividido em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o direito de explorar a terra, mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana de açúcar.
O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549, instituiu o primeiro Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da Costa e Mem de Sá, cujo fim do mandato se deu em 1572.
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, devido ao desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos produtos à Europa, já que é uma cidade litorânea.
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento da relação entre Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o primeiro oferecia apoio militar e diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os portos de seu país e das colônias para os produtos manufaturados produzidos pelos ingleses. Essa aliança tornou Portugal dependente comercial, política e economicamente da Inglaterra.
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores de engenho, detentores do poder político e econômico, as camadas médias, constituída pelos profissionais liberais, comerciantes, religiosos e militares e os escravos, principalmente negros de origem africana.
Você poderia se perguntar: por que preciso saber de História para estudar Literatura?
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento sobre o contexto social em que viveram os artistas, assim como entender as referências a fatos e personagens. Isso no auxilia a interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os anseios do homem de uma determinada época.
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade circundante pode auxiliar na sua compreensão.
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As relações sociais acompanharam essas mudanças.
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou adaptar-se aos novos tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero propôs o debate sobre as indulgências católicas e promoveu um movimento de grandes proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana. Esse movimento foi conhecido como Reforma Protestante.
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus, provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. 
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.
Abalada pela Reforma, a Igreja Católica perdeu um grande número de fiéis para outras religiões e, em decorrência disso, criou um movimento chamado Contra-Reforma.
Contra-Reforma, também denominada Reforma Católica, é o nome dado ao movimento criado no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante, iniciada com Lutero, a partir de 1517.
Em 1543, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento, estabelecendo, entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index Librorum Prohibitorum, com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas dedicadas a essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus. Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e seminários e a supressão de abusos envolvendo indulgências.
A Europa, nesse período, foi sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de uma e de outra parte, sendo criado um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte da época.
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro do interesse e discussão, provocados pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e pelas incertezas quanto à fé, à transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período recebeu o nome de Barroca.
A Literatura brasileira foi inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não vivenciamos o Barroco em concomitância com a Europa, mas recebemos os ecos do movimento, que encontrou no Brasil três vozes: Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra. 
Para você entender como se sentia o homem barroco, veja a imagem a seguir:
O painel de azulejos acima se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”.
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas em uma fila. Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro Caronte (veja ao fundo da imagem) – figura mitológica – que as levará ao reino dos mortos.
Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o camponês (o que está com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa para todos, não há escapatória.
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca.
Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na morte. Essa é a mensagem transmitida pelo painel.
A morte é tematizada pelo barroco com muita freqüência, porque o homem dessa época sentia-se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfaçãodos anseios da carne. A angústia dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte.
Para Afrânio Coutinho,
“O Renascimento caracterizou-se pelo predomínio da linha reta e pura, pela clareza e nitidez dos contornos. O Barros tenta a conciliação, a incorporação, a fusão do ideal medieval, espiritual, supraterreno, com os novos valores que o Renascimento pôs em voga: o humanismo, o gosto das coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais. A estratégia pertenceu à Contrarreforma, no intuito, consciente ou inconsciente, de combater o moderno espírito absorvendo-o no que tivesse de mais aceitável. Daí nasceu o Barroco, novo estilo de vida, que traduz em suas contradições e distorções o caráter dilemático da época, na arte, filosofia, religião, literatura (...) São, por isso, o dualismo, a oposição ou as oposições, contrastes e contradições, o estado de conflito e tensão, oriundos do duelo entre o espírito cristão, antiterreno, teocêntrico, e o espírito secular, racionalista, mundano, que caracterizam a essência do espírito barroco. Daí uma série de antíteses – ascetismo e mundanidade, carne e espírito, sensualismo e misticismo, religiosidade e erotismo, realismo e idealismo, naturalismo e ilusionismo, céu e terra, verdadeiras dicotomias.” (COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. 17. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 99)
Na Literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como antíteses, paradoxo, hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também o vocábulo rebuscado, hermético, que recobre a violência de um estado de alma em permanente conflito.
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco:
Cultismo: entende-se por cultismo o jogo de palavras, provenientes do uso excessivo de figuras de linguagem. Trata-se de influência do poeta espanhol Luís de Gôngora e, por isso, também denominamos gongorismo esse aspecto do Barroco. Na poética de Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência.
Conceptismo: por conceptismo compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal característica é o jogo de idéias, expresso por meio de silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da influência quevedista.
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, podemos afirmar que houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia aqui a configuração de um movimento propriamente dito.
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...)
b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades quinhentistas, como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro” (BOSSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)
Em 1601, a publicação de Prosopopeia, de Bento Teixeira, é considerado o marco inicial do Barroco no Brasil.
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com intenções encomiásticas, pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. A influência de Os Lusíadas, de Camões, é nítida na epopéia escrita em oitavas heróicas, principalmente nas inversões sintáticas peculiares. No entanto, em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma no poema, na referência à cidade de Olinda e na “Descrição do Recife de Pernambuco”.
Vejamos a seguir uma estrofe ilustrativa:
“É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno e fúria esquiva.
Entre a praia e pedra descomposta,
O estanhado elemento se diriva
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos Aneixa.”
Também de origem portuguesa, nascido em Lisboa, figura Antônio Vieira, que se radicou ainda menino no Brasil, trazido pelos pais. Estudou na Bahia, mas foi cedo para Olinda com a incumbência de ensinar no seminário de Olinda.
Tornou-se pregador em 1634 e o brilho de seus sermões ultrapassaram os púlpitos brasileiros, concedendo-lhe um papel político de relevância na Colônia e na Metrópole.
A influência conceptista sobressai na parenética de Vieira, cuja verve argumentativa concilia “duas realidades historicamente díspares: o sistema nacional mercantil, de um lado; e as propostas de fraternidade contidas no Evangelho, de outro”.
Leia agora o trecho do Sermão da Epifania, pregado em 1662 e, em seguida, a análise de Alfredo Bosi sobre o trecho:
“As nações, umas são mais brancas, outras mais pretas, porque umas estão mais vizinhas, outras mais remotas do sol. E pode haver maior inconsideração do entendimento, em maior erro do juízo entre os homens, que cuidar eu que hei-de ser vosso senhor, porque nasci mais longe do sol, e que vós haveis de ser meu escravo, porque nascestes mais perto?!” (Vieira apud BOSI, A. Dialética da colonização. p.135).
Veja também um belo trecho do Sermão do Mandato:
“É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar: o melhorar de objeto. Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga. Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito, assim no mesmo coração não podem caber dois amores, porque o amor que não é intenso não é amor. Ora, grande coisa deve de ser o amor, pois, sendo assim, que não bastam a encher um coração mil mundo, não cabem em um coração dois amores. Daqui vem que, se acaso se encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto. É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidade. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. As estrelas no meio das trevas luzem e resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas.”
“O sermão é exemplar como xadrez de conflitos sociais, dados os interesses em jogo, obrigando o discurso ora a avançar até posições extremas, ora a compor uma linguagem de compromisso. No fundo, o pregador acha-se dividido entre uma lógica maior, de raiz universalista, tendecialmente igualitária, e uma retórica menor (...) particularista e interesseira. O efeito é um misto de ardor e diplomacia, veemência e sinuosidade, que define a grandeza e os limites de nosso jesuíta.” (BOSE, A. Dialética da colonização. p. 134)
Triste Bahia
Gregório de Matos e Guerra, nascido em 1633, na Bahia, foi inegavelmente, o primeiro poeta brasileiro. A sua biografia revela um personagem extremamente controvertido, tão paradoxal e surpreendente quanto a sua poesia.
Gregório de Matos estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo para o Brasil quando contava perto de cinqüenta anos. Atuou como juiz. Voltou ao Brasil em 1681, ocupando o cargo de vigário-geral.
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se que teria deixado o dinheiro largado em casa e gastado desmedidamente.
“Conta-se que teria, em certo momento da vida, abandonado tudo para vagar como cantador itinerante, convivendo com todas as camadas da população”. (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/ Gregório de Matos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 20)
No entanto, embora tenhamos notícia de que sua produção poética foi bastante extensa, não se conhece nenhum poema assinado por ele ou impresso em vida. Reunidos, ao longo do tempo, por colecionadores, há casos de um mesmo poema apresentar versões bastante distintas.
Além da dificuldade de se estabelecer a originalidade do textodo autor, há que se considerar as traduções livres de Quevedo e Gôngora, que aumentam a sua bibliografia. Como vermos, a obra de Gregório suscita, por si só, grande polêmica. No entanto, é importante destacar que a noção de autoria não tinha no século XVII o mesmo valor que tem hoje.
Composta por sátiras, poemas religiosos, líricos e amorosos, a obra de Gregório revela sua mestria técnica e agilidade verbal, inclusive empregando palavras da língua tupi, como podemos observar no poema a seguir:
AOS CARAMURUS DA BAHIA
Um calção de pindoba, a meia zorra,
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó arco e taquara
Penacho de guarás em vez de gorra.
Furado o beiço, e sem temor que morra
O pai, que lho envasou Cuma titara
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra.
Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis que a do gosto, quando erra
De Paiaiá tornou-se em abaité.
Não sei onde acabou, ou em que guerra:
Só sei que deste Adão de Massapé
Procedem os fidalgos desta terra.
No poema, observa-se a crítica dura e impiedosa aos “nobres” da Colônia, os “caramurus”, os novos-ricos que detinham o poder econômico e político no Brasil colonial. A verve do esgrimista impiedoso das palavras rendeu-lhe o apelido Boca do Inferno.
Note também que o ponto de vista de Gregório é o de um descendente nobre de uma família de proprietários de terras e engenho, cujos bens foram se perdendo, restando-lhes apenas a memória de fidalguia. O poeta assume, assim, o tom amargo ao expor as suas críticas à mestiçagem, mas também à corrupção e tematiza o rancor de um reinol de alta estirpe, injustiçado pela ralé que governa a Colônia.
À BAHIA
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi e já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocado e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh! Se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
“Uma primeira aproximação ao texto, de caráter abrangente, encontra dois movimentos de sentido oposto. Pelo primeiro, o eu lírico entra em simpatia com o tu, a cidade da Bahia, animada e personalizada. Pelo segundo, vem a separação: o eu, agora juiz, invoca um castigo para o outro, chamando a intervenção de uma terceira pessoa, Deus, mediador poderoso e capaz de executar a pena merecida. A primeira onde significação move os quartetos; a segunda, os tercetos.” (BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 94-95)
TEMPO A CIDADE DA BAHIA
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia
(BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 2007. p. 25)
Destacam-se, na obra gregoriana os poemas religiosos cujos matizes barrocos podem ser assinalados. Embora a autoria seja questionada devido à semelhança com poemas de outros autores da época, a beleza dos versos e a riqueza estilística merecem atenção. Como no poema A Jesus Cristo Nosso Senhor.
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR 
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
 
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirma na sacra história,
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
(BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 2007. p.31)
Nesse soneto, é perceptível a tensão barroca mediante o uso de figuras de linguagem como os pares antitéticos: peca/perdoar e lisonja/ofensa. No entanto, a força do poema reside no tom argumentativo com que pretende convencer Deus de sua salvação.
O eu lírico vai buscar nas sagradas escrituras o exemplo que servirá de precedente: o episódio da ovelha desgarrada. Por analogia, a salvação de sua alma pecadora seria motivo de glória para Deus; e se pecava tanto, era por acreditar que seria perdoado, já que a condenação poderia significar a perda da glória divina.
Veja que o tom de oração recobre a petição do “advogado”, cujo talento argumentativo se coloca a serviço da salvação da alma, conscientemente pecadora.
A lírica amorosa e filosófica de Gregório de Matos conta com significativa produção, em sua maioria de sonetos de inspiração camoniana. São temas comuns: a transitoriedade da vida, considerações sobre o ciúme, o silêncio e as declarações amorosas.
AOS AFETOS E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/Gregório de Matos; seleção e organização José  Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.222)
A beleza da descrição da lágrima metaforizada
A beleza da descrição da lágrima metaforizada em fogo e neve, expressões antitéticas, desenvolve, ao longo do soneto, o lamento do eu lírico que pondera sobre o paradoxo do sentimento amoroso.
A primeira estrofe apresenta, nos dois últimos versos, a estrutura quiasmática1 que reforça o contraste, mediante o espelhamento:
Incêndio				em mares de água disfarçado
Rio de neve					em fogo convertido
1 Quiasmática provém do quiasma, que trata-se de uma figura estilística pela qual pode-se perceber o cruzamento, formando um movimento semelhante à letra X (qui, letra do alfabeto grego).
O mesmo procedimento se percebe também nos dois últimos versos da segunda estrofe, onde o vocativo “tu”, a quem se dirige o poeta, são as lágrimas que sintetizam essa dualidade.
Na terceira estrofe, o questionamento do eu lírico se responde, pois é o Amor que torna possível o paradoxo do fogo, que simboliza a paixão e o desejo, a ser sublimado pelo sentimento amoroso de castidade e pureza, representada pela neve – como se lê na quarta estrofe.
Como vimos, a importância da poesia de Gregório de Matos se consolida não apenas pela variedade ou volume de obras, mas principalmente por apresentar os traços da literatura que inaugura: a hibridez, a intensidade e a conciliação.
Pensar a literatura brasileira é também refletir sobre a maneira especial, própria da cultura de nosso povo, de compreender e expressar os sentimentos e angústias humanas. Assim como fizeram os autores do século XVII e como fazemos nós no século XXI.
AULA 4 – O BARROCO (CONTEXTO): TENSÕES E EXPRESSÕES
Sobre a Idade Média
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e tentar compreender os anseios do homem dosséculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado contemplará com mais atenção a sociedade européia e a sua história, tendo em vista a sua força- matriz impondo-se sobre a nossa situação colonial.
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi marcado por grandes transformações.  O feudalismo, sistema social e econômico, estava consolidado a esse tempo. Isso significa dizer que a sociedade medieval era dividida em estamentos: os nobres, o clero (os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, esses concediam a segurança contra invasores) e os servos (o clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e igreja a esse tempo. Dessa forma, cabia-lhe o papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema). E, por isso, quase não havia possibilidade de ascensão social.
Idade das Trevas?
Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas.
No entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já que o período foi também marcado, entre outros fatos, pela criação das Universidades e pela preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges copistas.
Renascimento
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento.  Da Itália para toda a Europa, o movimento manteve características comuns, como a valorização da Antiguidade clássica, a recuperação dos modelos estéticos gregos e romanos, o prestígio do equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito medieval estava mais arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das ideias novas ganhou matizes diferenciados.
Os Diferentes Cenários
Os países da Península Ibérica conhecem o apogeu no século XVI, devido à centralização política e econômica precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido investimento estrangeiro.
A Península Ibérica é formada pelos territórios de Gibraltar (britânico), Portugal, Espanha, Andorra.
O Brasil não vivenciou o feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país não tinha sido encontrado pelos colonizadores ainda. Na idade Média, os indígenas ocupam o protagonismo histórico em nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui habitavam.
A Cronologia das Mudanças
Após 1500, pouco a pouco, Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia que viria a se prolongar até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias que viessem a concorrer com os produtos da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa última.
A partir de 1530, inicia-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o objetivo de deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana-de-açúcar. Para tanto, o país foi dividido em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o direito de explorar a terra, mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana-de-açúcar.
O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549 institui o primeiro Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da Costa e Mem de Sá, cujo fim do mandato se deu em 1572.
A Aliança entre Portugal e Inglaterra
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, devido ao desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos produtos à Europa, já que é uma cidade litorânea.
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento da relação entre Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o primeiro oferecia apoio militar e diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os portos de seu país e das colônias para os produtos manufaturados produzidos pelos ingleses.
Essa aliança torna Portugal dependente comercialmente, politicamente e economicamente da Inglaterra.
A Sociedade Brasileira
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores de engenho, detentores do poder político e econômico; as camadas médias, constituída pelos profissionais liberais, comerciantes, religiosos e militares; os escravos, principalmente negros de origem africana.
Você poderia se perguntar: por que preciso saber de história para estudar literatura?
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento sobre o contexto social em que viveram os artistas, bem como entender as referências a fatos e personagens. Isso nos auxilia a interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os anseios do homem de uma determinada época.
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade circundante pode auxiliar a compreender os seus sentidos.
A Reforma Protestante X Contra-Reforma
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As relações sociais acompanharam essas mudanças. 
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou adaptar-se aos novos tempos.  A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero propôs o debate sobre as indulgências católicas e promoveu um movimento de grandes proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana. Esse movimento foi conhecido como Reforma.
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma.
Ecos do Barroco
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.” (BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)
O Barroco
A Europa, nesse período, será sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de uma e de outra parte; criando um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte da época.
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro de interesse e discussão, provocada pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e pelas incertezas quanto à fé, à transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período recebeu o nome de Barroco.
A Literatura Brasileira
A literatura brasileira será inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não vivenciamos o Barroco em concomitância com a Europa, mas recebemos aqui os ecos do movimento, que encontrará no Brasil três vozes: Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra.
O Sentimento do Homem Barroco
O painel de azulejos ao lado se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador. (PROCURAR NA INTERNET ESSES AZULEJOS)
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”.
Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o camponês (o que está com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa para todos, não há escapatória.
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas em um fila.
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca. 
Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na morte. Essa é a mensagem transmitida pelo painel.
Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro Caronte (veja ao fundo da imagem) ― figura mitológica ― que as levará ao reino dos mortos.
O Barraco na visão de Afrânio Coutinho 
A morte é tematizada pelo barroco com muita frequência porque o homem dessaépoca sentia-se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne.  A angústia dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte.
A Literatura no Período Barroco
Na literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como antítese, paradoxo, hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também o vocabulário rebuscado, hermético, que recobre a violência de um estado de alma em permanente conflito.
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco: o cultismo1 e o conceptismo2.  
1 Entende-se por cultismo o jogo de palavras, proveniente do uso excessivo de figuras de linguagem. Trata-se de influência do poeta espanhol Luís de Gôngora, por isso também denominamos gongorismo esse aspecto do Barroco. Na poética de Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência.
2 Por conceptismo, compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal característica é o jogo de idéias, expressso por meio de silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da influência quevedista.
O Marco Inicial do Barroco no Brasil
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, podemos afirmar que houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia aqui a configuração de um movimento, propriamente dito. 
É considerado o marco inicial do Barroco no Brasil a publicação de Prosopopéia, em 1601, de Bento Teixeira. Assunto de nossa próxima aula, juntamente com a análise dos sermões de Padre Antônio Vieira.
AULA 5 – A POESIA INAUGURAL DE BENTO TEIXEIRA E A PARENÉTICA DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA
Recapitulando...
O Barroco brasileiro como vimos na aula anterior, não se registra em concomitância com o movimento europeu e adquiriu aqui características próprias, marcadas pelo processo colonizador e as restrições impostas pela metrópole. No entanto, algumas vozes já se levantam e merecem que nos detenhamos em sua análise. 
Das primeiras manifestações literárias nascidas em nossa terra, a primeira delas foi o longo poema épico Prosopopeia de Bento Teixeira.
SLIDE 4
Bento Teixeira
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com intenções encomiásticas, pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. 
Segundo José Veríssimo, poemas como Prosopopeia eram frequentes na bibliografia da época. Em outras palavras, a poesia que elogiava os nobres e suas famílias concedia ao poeta um status diferenciado, pois, como menciona Veríssimo.
A Análise de José Veríssimo Dias de Matos
A influência de Os Lusíadas, de Camões, é nítida na epopeia escrita em oitavas heroicas, principalmente nas inversões sintáticas peculiares. Define Veríssimo:
“É um poema de noventa e quatro oitavas, em verso hendecassílabo, sem divisão de cantos, nem numeração de estrofes, cheio de reminiscências, imitações, arremedos e paródias dos Lusíadas. Não tem propriamente ação, e a prosopopeia donde tira o nome está numa fala de Proteu, profetizando post facto, os feitos e a fortuna, exageradamente idealizados, dos Albuquerques, particularmente de Jorge, o terceiro donatário de Pernambuco, ao qual é consagrado.”
Características do Nativismo
Em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma o poema, na referência à cidade de Olinda e na “Descrição do Recife de Pernambuco”, configurando o olhar sobre a nossa terra talvez a primeira semente do nativismo.
Vemos a seguir uma estrofe ilustrativa:
A menção à cidade de Olinda, terra da capitania do homenageado, é articulada a Saturno, deus do tempo na mitologia greco-romana. 
Vale o poema pelo aspecto pioneiro de que se reveste, mas o excesso de referências à mitologia impede a comoção do leitor.
Da poesia para a prosa, vamos conhecer um pouco da obra de um homem, mais precisamente, um pregador dessa época. Ele se notabilizou pela força e beleza de seus sermões e cartas: Padre Antônio Vieira.
Padre Antônio Vieira
Antônio Vieira nasceu em Portugal, mas veio para o Brasil ainda menino. Também muito cedo ingressou na Companhia de Jesus, tornando-se padre. Viveu intensamente conflitos entre brasileiros e holandeses, bem como foi capaz de analisar com agudeza a situação de indígenas, negros e judeus na sociedade colonial.
Um aspecto notável em sua obra é a erudição de que se reveste a linguagem em suas apresentações. No entanto, vale ressaltar que as obras que nos chegaram foram depuradas pelo próprio autor quando já idoso e que foram reescritas muitas delas. Como observa e cita Afrânio Coutinho.
O Destaque e a Atuação de Antônio Vieira
É importante saber que parenética é a arte de pregar sermões. Trata-se da rica oratória característica dos padres. 
Vieira teve um papel relevante na sociedade de seu tempo. Sua atuação transbordou a atuação religiosa, estendendo-se aos campos da política da colônia e da metrópole.
Quanto aos seus textos, mais precisamente nos sermões, destaca-se o virtuosismo da linguagem, resultante do emprego de figuras de retórica refinadas. Característico do Barroco, o conceptismo presente em seus textos se apura em movimentos argumentativos de grande impacto; por outro lado, no entanto, também lança mão dos excessos do cultismo, embora o renegue. Como podemos acompanhar neste trecho do Sermão da Sexagésima.
Características do Sermão Sexagésima
“O caráter polêmico desse sermão delata preliminarmente que há excesso em manifestações. Sem excluir de modo algum a sinceridade com que combateu as extravagâncias do cultismo, não deixava Vieira de praticar ali mesmo o que condenava em outros pregadores, veladamente os dominicanos.” (Coutinho, A. A literatura no Brasil. p. 87)
O Barroco está presente, como se vê no Sermão da Sexagésima. Primeiro, observe o emprego de figuras como a dubitação, ou seja, as indagações que visam a atrair a atenção do expectador, fazendo-o aderir aos argumentos apresentados de forma tácita. Depois, o uso de imagens, criadas por meio de símile, como a aproximação entre o trigo e as palavras do pregador. Por fim, observe o emprego de adjetivos em gradação. Há ainda, do ponto de vista fônico, repetições de termos no princípio, no meio ou final de orações seguidas.
Outro recurso bastante frequente na obra de Vieira é o uso de antônimos, criando antíteses com o objetivo de ampliar os sentidos do exposto e comover sua assistência. Como lemos neste trecho do Sermão do Mandato:
AULA 6 – GREGÓRIO DE MATOS: IRREVERÊNCIA E CONTRADIÇÃO
SLIDE 3
Estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo para o Brasil quando contava perto de 50 anos.  Atuou como juiz. Voltou ao Brasil em 1681, ocupando o cargo de vigário-geral. No entanto, foi desligado da função.  
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se que teria deixado o dinheiro largado em casa e gastado desmedidamente.
Conta-se que teria, em certo momento da vida, abandonado tudo para vagar como “cantador itinerante, convivendo com todas as camadas da população” (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/ Gregório de Matos; seleção e organização José  Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 20)
Embora tenhamos notícia de que sua produção poética foi bastante extensa, não se conhece nenhum poema assinado por ele ou impresso em vida. Reunidos, ao longo do tempo, por colecionadores, há casos de um mesmo poema apresentar versões bastante distintas. 
Além da dificuldade de se estabelecer a originalidade do texto do autor, há que se considerar as traduções livres de Quevedo e Gôngora, que aumentam a sua bibliografia. Como vemos, a obra de Gregório suscita, por si só, grande polêmica. No entanto, é importante destacar que a noção de autoria não tinha no século XVII, o mesmo valor que tem hoje.
Veremos alguns poemas e sonetos de Gregório se Matos, destacando trechos que irão revelar sua perspectiva e as principais

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