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Literatura Hispano-Americana - Conteúdo Online

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LITERATURA HISPANO - AMERICANA 
AULA 1 – LITERATURA DA CONQUISTA 
O objetivo da missão do navegador italiano Cristóvão Colombo era chegar às Índias por um 
caminho que fosse bem mais rápido que o utilizado pelos portugueses, que detinham o 
domínio do comércio marítimo na Europa há 80 anos. 
O plano do famoso navegador, que foi apoiado pelos reis, era diferente do plano utilizado 
pelos portugueses. Ele viajaria seguindo a oeste pelos mares, pois estava convencido de que a 
Terra era redonda. Levando isso em conta, viajando em linha reta, chegaria mais rapidamente 
a seu destino: as Índias, onde encontraria grandes civilizações ainda desconhecidas pelos 
portugueses. 
Colombo afirmava que, fazendo este percurso, ele encontraria sociedades ricas em metais 
preciosos e pedrarias. Sendo assim, sua viagem prometia um retorno financeiro muito elevado 
para a Coroa Espanhola. 
É interessante saber que, até o ano de 1491, Portugal dominava o comércio marítimo na 
Europa, e a Espanha ainda não havia feito nenhuma investida. Por quê? Porque a Espanha 
esteve, durante aproximadamente 700 anos, sob o domínio do povo árabe, sob o domínio dos 
mouros. Em 1491, quando Colón (Cristóvão Colombo) propôs a incursão marítima, a coroa já 
estava quase que retomando todo seu território. Em 1492, os mouros foram completamente 
vencidos e tiveram de se retirar da Espanha. 
Os reis espanhóis - Fernão de Aragão e Isabel de Castela - aceitaram a proposta de expedição 
marítima comandada pelo navegador italiano. Em 3 de agosto de 1492, Colombo saiu da 
Espanha com três caravelas. 
Em 12 de outubro de 1492, depois de ter navegado por mais de dois meses, a expedição 
chegou a uma terra desconhecida, aportando em uma pequena ilha da América Central, 
denominada por ele de San Salvador. A gravura representa a descoberta da América. 
Ao retornar à Espanha, recebeu uma premiação por sua descoberta e realizou mais três 
viagens à América, mas sempre pensando que se tratava da Índia. Colombo, nestas viagens, 
visitou outras ilhas próximas a que encontrou, mas não avançou terra adentro. 
Por conta disso, não travou contato com as grandes civilizações que acreditava que existiam – 
Maias, Astecas e Incas – e também não retornou para a Espanha com a quantidade de ouro 
que havia prometido. Foi então destituído do cargo e outros navegadores foram indicados 
para dar continuidade a seu trabalho. 
Hernán Cortés viajou terra adentro e encontrou o que Colombo teorizou: a civilização Asteca, 
com toda sua opulência e riqueza, sediada pela cidade de Tenochtitlán. 
Américo Vespúcio, posteriormente, realizou também viagens à América e percebeu que o 
“Novo Mundo” encontrado não era a Índia, mas sim uma nova e grande extensão de terra que 
recebeu, em sua homenagem, o nome de América. 
O novo continente encontrado estava habitado por sociedades indígenas, consideradas “altas 
culturas”. Representadas por Maias, Astecas e Incas, este mundo indígena era complexo, 
variado e rico, constituído por sociedades hierarquicamente organizadas, que construíram 
magníficas cidades cuja riqueza provocou o deslumbre, o espanto e, é claro, a cobiça dos 
europeus. 
A Literatura Hispano-americana tem início como um capítulo colonial da Coroa Espanhola. O 
descobrimento e a conquista da América, sua terra e seus habitantes começam a ser 
descritos. Tais relatos chegam até a corte espanhola por meio de crônicas, viagens, 
documentos históricos ou eclesiásticos. 
A crônica, de grande tradição na Europa do século XV, surgiu na Espanha como derivação 
épica, com tendência moralizadora. Ao chegar à América, a crônica se popularizou e adquiriu 
característica menos individual. 
Os relatos por meio dos quais o cotidiano da colônia era relatado à corte espanhola são 
conhecidos como “Crônicas do descobrimento” ou “Crônicas da conquista”. 
São vários os cronistas instituídos por mandato real. Suas narrativas e descrições são 
consideradas relatos oficiais deste período de conquista e colonização da América, além, é 
claro, de ser textos literários. Podemos elencar alguns tipos de cronistas: 
Cronista Conquistador: 
 Cristovão Colombo (1451/1506 – Cristóvan Colón) 
Consta que o primeiro documento que se refere de modo concreto à América são as cinco 
Cartas de Colombo. Sabe-se que essas cartas são cinco, mas só quatro chegaram ao 
conhecimento público. Não se conhece o motivo do extravio da quinta carta. 
A primeira e a quarta são consideradas as mais importantes. A primeira, por dar conta do 
descobrimento, pela novidade de revelar o “Novo Mundo” à Europa. Esse mundo era 
apresentado como um paraíso, dada sua beleza e a fartura da terra. Ainda que não seja 
especificamente literária, a primeira carta já aponta para a idéia do “bom selvagem”. Quanto à 
quarta carta, sua importância está no fato de refletir os sentimentos do descobridor em toda 
sua complexidade, sobretudo seu lado visionário. 
 Hernán Cortés (1485/1547) 
As Cartas de Cortés são em tom ameno e destacam-se por seu entusiasmo diante das grandes 
civilizações indígenas encontradas e de sua riqueza material. Entretanto, suas crônicas 
merecem destaque tanto por sua bravura como por sua visão política. Cortés foi um homem 
típico do Renascimento europeu, com igual aptidão para as armas e para a vida literária. Foi 
nomeado como “algo poeta”. 
Em 1518, lhe foi conferido o poder de expedição ao México, cujas conquista e reorganização 
sociopolítica foram direcionadas por suas mãos. Escreveu cinco “Cartas-relaciones” (Crônicas) 
que, de estilo conciso e elegante, revelam sua surpresa diante do esplendor de tal civilização. 
Cronista Soldado: 
É sóbrio e despreza a cultura livresca. Suas narrações são, em geral, resumidas e breves. 
Percebe-se em seus escritos a tentativa de diminuir a crueldade e os vexames do conquistador 
em relação aos indígenas. 
Cronista Missionário: 
A conquista da América de forma definitiva, com o estabelecimento dos vice-reinados e das 
capitanias hereditárias, foi seguida pela conquista espiritual da igreja católica daquela época. 
Os missionários também procederam à evangelização destes povos por meio da tarefa de 
ensinar a nova língua aos índios. Foram vários os grupos missionários que se revezaram no 
“Novo Mundo” durante as décadas da colonização. Do encontro entre índios e missionários, 
resultam dois fatos culturais importantes: 
 A reconstrução histórica do passado indígena, com seus ritos, costumes, escritos 
literários – como, por exemplo, o livro El popol-Vuh, considerado a bíblia do povo maia-
quiché; 
 A busca pela reforma social, feita pelas denúncias dos padres em razão dos maus 
tratos sofridos pelos indígenas. 
Tais relações históricas e as denúncias foram feitas em crônicas enviadas à coroa espanhola. 
Nessas denúncias dos massacres, destaca-se especialmente o padre Bartolomé de lãs Casas 
(1474/1566), cuja principal obra, Brevísima relación de la destrucción de lãs Índias, resultou 
em uma busca de revisão, por parte do rei Carlos V, em 1542, do tratamento dado aos 
nativos. Observe bem: os colonizadores chegaram à América em 1492. 
Quando as revisões das leis ocorrem, em 1546, com a expedição do documento “Declaração 
dos direitos dos indígenas”, conseguido por Las Casas, grande parte das cidades e das 
populações indígenas já tinha sido destruída, massacrada. 
Cronista Mestiço: 
A figura máxima do período da crônica colonial é o mestiço Garcilazo de La Veja (1539/1616), 
apelidado de “El Inca”. Filho de princesa Inca e de um militar espanhol, tinha descendência 
nobre e refletia a fusão destas duas culturas no livro Los Comentarios Reales. A obra, cheia de 
emoção e ternura, revelara seu sentimento pela pátria. Embora a essência da obra seja a 
fantasia, é também memorialista e por isso ressalta seus problemas mais
íntimos: a tensão 
entre as duas culturas de origem (ora faz a defesa da nobreza incaica, ora apresenta honra ao 
conquistadores espanhóis). 
AULA 2 – O BARROCO HISPANO-AMERICANO 
O Século XVI é considerado decisivo para a Hispano-América, pois a transformação causada 
pela conquista e pela colonização, fez cair impérios e fez nascer novas sociedades, passando a 
América a estar vinculada à Europa por valores econômicos, políticos e culturais. 
Os padres foram os primeiros mestres da educação no Novo Mundo. Ao mesmo tempo em 
que catequizavam os índios, ensinavam a língua espanhola e os instruíam nas mais variadas 
práticas de conhecimentos, como pintura, escultura, ofícios mecânicos, etc. 
Surge, nesta época, um problema com o qual esta nova sociedade em formação – que não é 
mais asteca, inca, maia ou espanhola, mas a mescla das quatro – terá de conviver: o fazer 
artístico deve seguir os modelos europeus. Nessa época, a arte produzida na América, para 
que fosse aceita pela metrópole, tinha de seguir os grandes nomes da poesia e do teatro 
espanhol, como, por exemplo, os cânones Lópe de Veja, Calderón de la Barca e Tirso de 
Molina1. 
1 A Tirso de Molina é autor de El burlador de Sevilla, um clássico da literatura espanhola, e 
também de um mito muito popular, do qual certamente já ouvimos falar: “o mito de Dom 
Ruan”. O homem conquistador, personagem principal da referida obra, é um enganador de 
mulheres, que não mede esforços para aproveitar-se delas. 
“A América nasceu Barroca”, escreveu Luiz Alberto Sánchez, “retorcida, sobrecarregada de 
rodeios”. O autor também adverte que a arte incaica encontrada pelos colonizadores 
ostentava motivos ornamentais crispados e curvas angustiantes – bem semelhantes à arte 
produzida na Europa do mesmo período. 
Considerada representante máxima na poesia em terras hispânicas, Sóror – ou Sór – Juana, 
de obra intelectualista, é uma das escritoras mais pessoais da literatura colonial. 
Suas poesias deleitam-se no humano, tendo como temática principal o amor, analisando suas 
complicações, seus efeitos, suas causas, as circunstâncias que o afetam. Escreveu com 
liberdade e sua expressão alcançou o ponto mais alto e nobre que a literatura da época 
impunha. 
Aos 16 anos, Sor Juana Inés de la Cruz fez pasmar por sua cultura e erudição. Jovem, 
elegante e dominando vários instrumentos musicais, foi solicitada como dama de companhia 
da Vice-Rainha e viveu por dois anos na corte. Aprendeu a ler aos três anos. Aos sete, queria 
ser disfarçada de homem para frequentar a Universidade. Claro que sua mãe não aceitou isto. 
Por não ter como freqüentar a universidade, leu toda a biblioteca de seu avô. Jovem, bela, de 
rosto oval e cabeleira negra, era linda por dentro, recheada de poesia, música e toda uma 
gama de noções científicas. Era muito admirada e também muito respeitada por conta de sua 
sabedoria. 
Em 1667, decide ser freira. Até hoje teóricos e pesquisadores se perguntam o porquê. Terá 
ela amado sem ser correspondida? O que a influenciou na decisão de tornar-se religiosa? 
Segundo seus próprios escritos, afirma ter sido por total negação à vida mundana, o que fica 
em desacordo com a principal temática de sua escrita: o amor. 
A escrita de Sór Juana Inés de la Cruz parte de um sentimento de ansiedade, chegando a uma 
veemência temperamental que normalmente se finaliza, na poesia, com um resignado 
equilíbrio. A angústia humana, a dualidade, a dúvida entre o ser e o parecer são algumas das 
características mais marcantes da estética barroca a que sua obra pertence. 
El sueño – chamado também de Primer sueño -, com aproximadamente 609 versos, um 
extenso poema, é o único que, segundo confissão pessoal, escreveu de próprio gosto. Sór 
Juana afirma que seus outros belos poemas de amor foram sempre escritos a pedido de reis, 
príncipes ou duques, às vezes em louvor de alguma dama. 
A beleza de sua obra dramática também era o motivo de sempre ser convidada para participar 
dos festejos da Corte e da Igreja. Isso não agradava aos sacerdotes de postos mais altos da 
Igreja, pois, como afirma o escritor mexicano Octavio Paz, “A preeminência alcançada por 
Sóror Juana ofendia muitos prelados”. Escreve Paz que “todos eles eram seus superiores e 
quase todos se achavam teólogos, literatos e poetas. A freira encarnava uma exceção dupla e 
insuportável: a de seu sexo e de sua superioridade intelectual.” (PAZ, Octavio. Artigo: “Poesia 
e silêncio”. Revista Veja, 22/07/1998. p. 120-122). 
O Barroco hispano-americano segue os moles da produção européia: ao serem estabelecidas 
as novas cidades, fica proibida a circulação de obras de imaginação. Sendo assim, fica 
proibido também o intercâmbio entre as parte da América. Nesta época, destacam-se dois 
tipos de produção literária hispânica: o teatro e a poesia. 
O teatro americano não é exclusivamente “teatro espanhol” produzido e realizado em terras 
hispânicas. Ao modelo herdado da Europa será acrescentados fatores que lhe imprimirão 
caráter próprio e diferenciado. Um dos mais importantes é o substrato indígena, com suas 
danças e ritos bem peculiares. Percebe-se uma nova América nestes escritos literários, unida 
por um novo credo e uma nova língua – a espanhola. 
O teatro Hispano-americano subdivide-se em: 
 Teatro missionário – símbolo da fusão entre os espíritos espanhol e indígena; 
 Teatro escolar – de intenção didática, segue a tradição latina das universidades 
espanholas; 
 Teatro “criollo” – escrito por espanhóis e mestiços, reflete a nova sensibilidade 
americana (ainda em formação). 
Um dos maiores representantes do teatro “criollo” é o escrito mexicano Juan Ruiz de Alarcón y 
Mendonza (1580 - 1639). Filho de nobres espanhóis, este escritor cria, com a peça La verdad 
sospechosa, a comédia de caráter. Sua escrita revela uma nova consciência artística, urdindo 
comédias variadas, nas quais já se nota um afastamento dos cânones espanhóis implantados 
por Lope de Vega. 
Com Alarcón, a América deixa de somente receber influências literárias e passa também a 
influenciar a Europa. Este autor foi considerado por Manuel Bandeira a maior vocação teatral 
da América hispânica de sua época. 
A obra para o teatro, produzida na América, passa a ter, então, características e notas 
pessoais bem peculiares do autor que a escreve. 
AULA 3 – A POESIA DE ANDRÉS BELLO: AGRICULTURA DE LA ZONA 
TÓRRIDA 
O século XVIII é o momento em que se multiplicam os jornais e o saber circula e se difunde 
pelo mundo – e, conseqüentemente, pela América. 
A estética do Neoclassicismo tem a razão como qualidade fundamental do homem. Sendo 
assim, a verdade, o natural, é o ideal de beleza minuciosamente observado. Andrés Bello, 
aproveitando a força desta época, chama os povos hispânicos por meio de sua escrita jurídica 
e poética para a exaltação da vida rural, do homem e da natureza americana como um todo. 
Na geração hispano-americana que fez a independência da América, nenhum nome literário se 
sobrepõe ao de Andrés Bello (1781-1865). Poeta erudito e homem de ação social, Bello 
exerceu imensa influência na cultura sul-americana do século XIX. 
A unidade lingüística da América espanhola tornou-se uma de suas metas. Sua Gramática de 
La lengua castellana (1847) é ainda hoje fundamental para estudos lingüísticos históricos. 
Andrés Bello foi, sem dúvida, o precursor na interpretação da natureza americana. Publicou os 
livros de poemas Silvas americanas e Silva a la agricultura de la zona tórrida (1826), de 
exaltação à natureza americana. 
Literária e politicamente conservador, pretendeu renovar as letras americanas usando formas 
clássicas latinas. Seu objetivo era formar uma consciência cultural americana fundamentada 
na autonomia política e intelectual.
Andrés Bello acreditava que sua literatura alcançaria características próprias. Não através de 
um “indigenismo” ou de uma volta ao passado, mas assimilando os valores positivos da 
civilização contemporânea. Foi ele, no seu tempo, considerado o homem de maior cultura no 
Novo Mundo. 
Seus poemas são um convite ao cultivo do solo, são a exaltação do homem e da natureza 
hispano-americana apresentados em sua mais alta categoria. 
AULA 4 – O ROMANTISMO HISPANO-AMERICANO: A LITERATURA 
“GAUCHESCA”. O MOVIMENTO REALISTA 
O Romantismo se inicia na América após 1830, em uma época das lutas pelas independências 
e proclamações de República. Neste período tormentoso, liquida-se a tutela espanhola, mas 
não ainda o espírito e os interesses que esta representava. 
A história literária da América sofre o impacto desses acontecimentos. O pensamento estético 
aplica-se à realidade social, pois os escritores foram homens de ação. Neste momento, 
destaca-se a formação da “Literatura Gauchesca”, própria do movimento romântico hispânico, 
que observará a temática campesina versus a citadina, representadas pelas obras de 
escritores como José Hernández (Martín Fierro) e Domingo Faustino Sarmiento (Facundo), 
respectivamente. 
A atmosfera romântica que se alastrou na metade do século XIX foi captada também por 
escritores Hispano-americanos. O Romantismo hispano-americano vai corroborar para a 
formação das novas nações, das novas repúblicas. Como nos movimentos anteriores dentro 
da América, este pensamento estético aplica-se à realidade social: os escritores hispânicos 
foram homens de ação. 
Podemos citar Andrés Bello como exemplo de homem de ação. Conforme vista em aula 
anterior, ele usou sua escrita em prol da libertação dos povos da América e da formação das 
novas repúblicas. Também são exemplos aqueles que, além da escrita, estiveram também à 
frente das batalhas emancipadoras. 
Neste momento da História e da literatura hispânicas, não podemos deixar de mencionar a 
importância do grande libertador da América, Simon Bolívar (Venezuela – 1783/1830). Sua 
importância, além de político-econômica, faz-se também por suas qualidades literárias. 
Diferentemente do sentimento coletivista neoclassicista, o romântico vive envolto em 
sentimentos de melancolia e individualismo exasperado. Se no neoclassicismo Hispano-
americano a idéia era formar uma única consciência cultural americana, no romantismo nasce 
o sentimento da preponderância do “eu”. Por outro lado, este movimento estético acelera a 
criação de uma literatura autóctone, que buscava inspiração na própria terra americana. 
A “literatura gauchesca” vai ter como “herói” o cidadão natural da terra, trabalhador dos 
pampas, das planícies americanas. Homem viril, forte e valente, que foi solicitado durante as 
lutas pelas independências das regiões da América, guerreando nas revoluções para a 
formação das novas repúblicas. 
Entretanto, quando estas repúblicas se estabelecem, quando as independências ocorrem e as 
novas nações já são realidades, aquele homem tão importante nas frentes das batalhas 
emancipadoras deixa de ter valor. 
As nações hispano-americanas encontram no movimento romântico a primeira oportunidade 
de expressão autêntica de seu temperamento. É neste movimento que os escritores 
descobrem as singularidades de suas paisagens e de sua história, de suas gentes e de seus 
problemas sociais. 
Neste momento da literatura Hispano-americana, surgem dois grandes grupos literários na 
América: o grupo dos “citadinos” e o grupo dos “campesinos”, que serão representados por 
alguns dos mais importantes escritores hispânicos. Ambos os grupos vão defender a questão 
do homem do campo, o “gaúcho”, fazendo nascer assim a “literatura gauchesca”. 
O Romantismo se inicia na América após 1830. O percurso hispano-americano é marcado por 
uma série de lutas pelo poder entre os chefes revolucionários, revelando-se uma época 
tormentosa. Dentro destas lutas teremos os nomes de homens de letras, que foram desde os 
inícios homens de ação, como já vimos anteriormente. Esses homens eram tanto envolvidos 
com a vida política de suas repúblicas quanto escritores literários. Liquida-se, neste período, a 
tutela espanhola com as revoluções e independências, mas ainda não o espírito e os 
interesses que representava. 
Dessa forma, teremos pelo menos três nomes de destaque, que conduzirão o povo rumo à 
emancipação literária hispânica, almejada anteriormente por Andrés Bello. Esses nomes 
estarão diretamente ligados ao que chamam os teóricos de “literatura gauchesca”: 
 a) Estéban Echeverría (Argentina – 1805/1851); 
 b) José Hernández (Argentina – 1834/1894); 
 c) Domingo Faustino Sarmiento (Argentina – 1811/1888). 
Com estes escritores, a literatura hispano-americana apresenta como características 
específicas uma constante relação entre política, história e ficção. É comum que os teóricos 
dividam a expressão romântica na América em dois períodos: 
 1ª Geração – poesia romântica, de 1810 a 1837; 
 2ª Geração da poesia romântica, na segunda metade do século XIX. 
É na sua escrita que se inicia a poetização da geografia americana, tão ansiada e exortada por 
Andrés Bello. 
A primeira geração da poesia romântica caracteriza-se por movimentos de revolução, 
independência e organização política que se concluem com a formação das novas repúblicas. 
Destaca-se, neste período, o escritor Estéban Echeverría (Argentina – 1805/1851), 
considerado iniciador da estética romântica em terras da América. Sua estética era 
nacionalista, mas desenvolvia uma atitude aberta diante do mundo. Concebia a idéia de uma 
literatura nacional e a inicia, tornando o pampa um lugar comum na literatura, embora o tipo 
do “gaúcho” ainda não apareça em sua obra romântica. 
Como poeta, foi considerado um versificador fraco. Entretanto, apesar de suas falhas 
apontadas por estudiosos, é um escritor visto como iniciador de nova estética, sendo 
teorizador e formador de uma escola literária na América. Foi o homem que nacionalizou o 
movimento romântico, empregando categoria viva e nacional aos pampas argentinos. 
La Viguela 
Aqui me pongo a cantar 
Al compás de la viguela, 
Que el hombre que lo desvela 
Una pena estraordinaria 
Como el ave solitaria 
Com el cantar se consuela. 
 
Vengan Santos milagrosos, 
Vengan todos em mi ayuda, 
Que la lengua se me aniuda 
Y se me turba la vista; 
Pido a mi Dios que me asista 
Em esta ocasion tan ruda. 
 
Aqui me pongo a cantar 
Al compás de la viguela, 
Que el hombre que lo desvela 
Una pena estraordinaria 
Como el ave solitária 
Com el cantar se consuela. 
É na sua escrita que se inicia a poetização da geografia americana, tão ansiada e exortada por 
Andrés Bello 
A Estéban Echeverría é atribuída também a iniciação do movimento realista, com o conto El 
matadero. 
Embora tenha sido escrito no período chamado romântico e nem tenha sido publicado em vida 
pelo autor, foi publicado por amigos e seguidores seus em 1871 e reflete de modo 
contundente a busca pelo escritor de características argentinas. Essa procura de identificar a 
Argentina dentro da história contada marca o início do Realismo na América. Escrito no 
período da ditadura de Juan Manuel Rosas, esta narrativa é considerada o primeiro conto da 
América Hispânica. 
El matadero narra um episódio brutal e sangrento, descrito com admirável vigor e audácia 
realista. 
Principais características: 
 A honra e o sacrifício, norma de conduta social do homem dos pampas argentinos; 
 Liberdade e igualdade; 
 Continuação das tradições progressistas da Revolução de Maio; 
 Emancipação do espírito americano; 
 Confraternidade de princípios e fusão das doutrinas progressistas em um centro
unitário. 
Essas palavras e frases simbólicas refletem toda a escrita realista de Echeverría. No conto, 
observamos a relação entre literatura e história, daí o seu caráter realista. 
Na Argentina dos anos de 1810, no movimento Romântico, temos o destaque da “produção 
literária gauchesca”, que trabalha com a temática do “homem citadino” e do “homem 
campesino”. Dessa forma, surgem poemas populares, escritos por homens cultos, da cidade, 
mas que assumem a fala do homem simples, do trabalhador rural. 
Foi José Hernández (Argentina – 1834/1886) quem deu destaque ao gênero, com o poema 
Martín Fierro, que compreende todo um livro. É a história em versos de um gaúcho que se 
chama Martín Fierro. O livro, devido a seu êxito e sua aceitação, foi escrito em duas partes – 
Martín Fierro (1872) e La vuelta de Martín Fierro (1879). As duas partes resumem um protesto 
contra a industrialização em progresso na Argentina, que, aos poucos elimina da sociedade a 
presença do “gaúcho”. Por mais de 20 anos, este livro foi o preferido das campanhas que 
envolviam as discussões argentinas sobre a condição do homem gaúcho. 
O personagem principal era um gaúcho feliz, mas a ida para a guerra, para a luta pela 
independência, transforma toda sua vida, convertendo-o, de homem terno e sensível, em 
homem esmagado, marginalizado por uma sociedade dirigida por homens corrompidos, que 
não tem mais como absorver este trabalhador. Mas Martín Fierro é, sobretudo, uma narração 
em versos épica, um (ou “gaúcho”). E mais ainda: quer reivindicar os direitos sociais deste 
homem e fazer valer a importância da cultura popular argentina. 
Na literatura gauchesca, temos, na prosa, o nome de Domingo Faustino Sarmiento 
(1811/1888). Sendo conhecido como um dos mais célebres adversários de Bello. 
Sarmiento afirmava que de nada valiam as informações e formações universitárias se elas não 
educassem as massas. É deste pensamento que surge sua obra prima, Facundo (1845), 
escrita durante o exílio no Chile. 
Como seu autor, a obra se propõe definir a Argentina entre “civilização e barbárie”. No livro, 
tenta orientar a Argentina para o desenvolvimento econômico, como o fez durante seu 
mandato de presidente da República (1868-1974). E o fez, ainda, nas outras atividades que 
desempenhou como mestre, jornalista, governador e diplomata. 
Sua preocupação literária era representada pelo desejo de originalidade e de atendimento à 
realidade americana, buscando acompanhar a evolução histórica mundial. Segundo alguns 
teóricos, este escritor é o que melhor encarna as principais características do movimento 
romântico na América: a força da imaginação, o tom apaixonado das palavras e a 
sensibilidade americana. 
Embora Facundo Quiroga, personagem de Facundo, faça menção a um personagem histórico, 
o livro é uma “biografia romanceada”, da qual saltam cenas consideradas por Bandeira 
“inesquecíveis”, em virtude do heroísmo do personagem. Ainda que seja considerado um livro 
desorganizado, escrito “ao correr da pena”, Facundo mais uma vez prova que Sarmiento é um 
artista da prosa, que escrevia para comunicar e instruir. E este deveria ser, segundo ele, o 
objetivo de toda “palavra”: a instrução. 
Facundo Quiroga, personagem do livro, representa a vida Argentina, vivida através de duas 
concepções contrárias: a civilização e a barbárie. Sendo assim, é fácil perceber porque 
Sarmiento e José Hernández de certo modo se opõem em suas obras: o primeiro acredita que 
ao gaúcho era necessário o aprendizado de técnicas e saberes novos; para o segundo, a 
sabedoria popular, o saber campesino era suficiente ao gaúcho. 
Os dois escritores, contudo, buscavam, por meio de suas obras, uma melhor vida para este 
profissional dos pampas. E foram eles mestres na arte da escrita e da defesa do povo. 
Afirma Jacques Joset que “os escritores argentinos se definiam em relação à tirania do 
Governador Rosas e os cubanos em relação à luta contra a Espanha” (JOSET, p.29). 
Uma das personalidades máximas deste período é o escritor Ricardo Palma (Peru – 
1833/1919), que viveu em pleno romantismo mas o superou encontrando um caminho próprio 
e original, sem imitações européias. Com ares sátiro e irônico, sempre destacou os tipos 
humanos e sua linguagem. 
Considerado grande narrador, escreveu Tradiciones (1872/1893), no qual recria personagens 
e lendas da alma popular peruana. No livro, narra períodos históricos (entre os séculos XV e 
XIX) sem observar uma ordem cronológica progressiva, mas circunstancial. O que tem de 
romântico é a escolha do passado como tema. 
Tradiciones, de tom costumbrista – relato na qual a fala popular é valorizada -, revela a 
construção de uma galeria de quadros vivos e de costumes do passado peruano. As 
Tradiciones refletem de modo puro o mundo “criollo” (mestiço). O livro é para o Peru o que é 
Facundo para a Argentina: uma obra em que cada país representado se reconhece. 
AULA 5 – CARACTERÍSTICAS ESTÉTICAS: UM ENCONTRO COM JOSÉ 
MARTÍ E RÚBEN DARÍO 
O Modernismo hispano-americano revela uma época histórica e literária de otimismo e 
esperança. Iniciado em princípios de 1880, o Modernismo é considerado o primeiro 
movimento estético originado na América. Revela-se como uma tendência intelectual e 
cultural, resultado do “desenraizamento” espiritual em face da Europa. Você perceberá que 
este movimento mostra a forma literária de um mundo em transformação (o mundo 
hispânico) e tem como característica máxima a pluralidade de traços estéticos (o sincretismo). 
Tudo envolto em uma tonalidade aristocrática 
Por volta de 1880, a América Hispânica só havia se libertado culturalmente pela metade. Em 
virtude disto os escritores sentem a necessidade de uma renovação radical e definitiva. Em 
finais do século XIX, a libertação político-econômica ainda não é total. Algumas nações estão 
mais avançadas que outras, nesta área. Como é o caso do Chile, México e Venezuela. Mas 
todas se preparam para sofrer a curto ou longo prazo as investidas norte-americanas (dos 
Estados Unidos da América), que já se apresentam fortes. 
A partir do ano de 1914, o conjunto dos países da América Central encontra-se sob a 
“proteção” dos Estados Unidos, que recorrem cada vez mais com intensidade, à força para 
manter a ordem por eles imposta na região. Os escritores hispânicos se vêem então (como 
homens de ação e de letras) ameaçados pela invasão dos Estados Unidos da América e de sua 
cultura anglo-saxônica. 
É sob esta ótica então, que devemos compreender a estética dos modernistas hispano-
americanos: sua busca pelo novo, sua busca pela palavra musical, pelas correspondências 
sinestésicas, pela permanente renovação da linguagem. Sua busca pela liberdade: liberdade 
como nação hispânica, liberdade de escrita poética. 
É preciso ter em mente que o Modernismo, esse movimento que se origina na América 
Hispano-americana, não é somente uma escola literária. Pois, diante de todas estas novas 
investidas por dominação da América, nasce uma atitude intelectual, marcada tanto na política 
quanto na literatura de busca de identidade e autonomia. Uma atitude ampla, que envolve 
vários aspectos da vida hispânica e que foi nomeada de “Modernismo”. 
Na vida literária, esta atitude é marcada pela participação de escritores cultos que dialogam 
com o mundo. Escritores que se recusam a isolar-se dentro da civilização latino-americana e 
se abrem ao diálogo universal. Nasce então uma cultura hispânica “cosmopolita”, voltada para 
as cidades do mundo. Mas, com uma característica marcante: este voltar-se para o mundo 
visa receber e dar influências. Há um especial diálogo com a França, pois os ideais literários 
franceses de fim de século (“O século das luzes”) coincidem com as aspirações de uma
renovação cultural e artística hispano-americanas. É a vez então, da Espanha e outros países 
receberem lições de estilo vindas do “Novo Mundo”, da nossa América Hispânica. 
Segundo a prof. Bella Jozef, “o termo modernismo, bastante controvertido, usado na crítica 
anglo-americana para referir-se a textos anti-imitativos e anti-realistas, nas literaturas 
hispânicas designa um determinado movimento literário. Primeiro movimento estético 
originado na América, como signo de seu desenraizamento cultural, surgiu como uma 
orientação geral dos espíritos.” (JOZEF, Bella. História da literatura hispano-americana. p.110 - 
111). 
Aproveitando o que nos afirma a autora, acrescentamos que, embora o grupo de escritores 
que pertence a este período tenha entre si algumas características em comum, que os reúnem 
como pertencentes a uma mesma época literária e social, o mais importante neste momento é 
a manifestação da liberdade do poeta. 
Pois aquele escritor, que antes utilizava a sua escrita para a libertação do povo e proclamação 
das Repúblicas, pode agora buscar “a arte pela arte” e deleitar-se em sua escrita, tendo em 
vista que as repúblicas já estão acontecendo, e a liberdade política da América já é realidade 
em muitas localidades. E é exatamente esta independência e força hispânicas que chamam a 
atenção dos Estados Unidos da América. 
O modernismo caracteriza-se pelo sincretismo estético (pluralidade de traços estilísticos). 
Sendo assim, combinou o mundo antigo ao moderno, com tonalidades conformistas e 
rebeldes; renovadoras e tradicionalistas. Uma “arte combinatória” (como definiu o escritor 
Amada Alonso), unindo elementos de escolas anteriores ou de escolas literárias que estavam 
acontecendo em outros locais, na Europa. 
Diante desta liberdade de escrita proposta pelo modernismo, é difícil estabelecer 
características que determinem como seus seguidores se manifestam, uma vez que não há 
normas pré-estabelecidas que todos devam seguir. Cada escritor utiliza o que mais combina 
com suas tendências. 
Há, entretanto, algumas características que são coincidentes entre estes escritores: 
 Fim puramente estético: não se busca estabelecer critérios moralizantes. Busca-se a 
arte, a beleza e o prazer que provém da produção artística. 
 Um forte aristocracismo: o poeta manifesta-se utilizando como personagens, princesas, 
ninfas, musas, etc. Os ambientes são luxuosos, os instrumentos musicais são clássicos 
(violinos, flautas, harpas, etc.). 
 O cosmopolitismo: o intelectual sente-se cidadão do mundo. 
 Um escapismo: esta fuga se dá, para o mundo interior do poeta ou manifesta-se para 
outras quatro direções: para o passado hispânico, para a Grécia ou Roma, para o 
Oriente, ou ainda, para o passado indígena. 
 Musicalidade como elemento criador de beleza: a música tem importância fundamental, 
tanto na seleção de palavras (que lembrem a música), como no ritmo estabelecido 
dentro do poema. Há também o uso frequente da aliteração e da repetição. 
 Preocupação formal: o poeta quer que sua obra seja bela internamente, mas deseja 
expressá-la também no seu exterior. 
 Profunda base cultural: o escritor é um conhecedor do mundo, faz contínuas 
referências bíblicas, mitológicas, históricas, geográficas, etc. 
 Ênfases sensoriais: manifesta-se principalmente pela utilização constante de 
sinestesias. 
 Utilização de símbolos: os simbolistas se utilizam de símbolos, mas nem todos se valem 
deles do mesmo modo. Como exemplo, temos o uso das cores (são muito utilizadas, 
mas não é possível sistematizá-las, pois cada autor atribui significação diferente). 
Algumas cores se repetem, como o azul (símbolo do modernismo) e o branco (símbolo 
de beleza e pureza). O símbolo mais importante é o cisne, considerado um “leit motiv” 
da estética modernista hispano-americana. Na literatura francesa, normalmente o cisne 
era usado para representar tristeza, desespero. Mas sua significação muda 
completamente com os modernistas hispânicos, e especialmente com Darío. Na escrita 
deste poeta, o cisne representar o mensageiro da esperança; é a beleza, a nobreza e o 
mistério. 
Sendo assim, o Modernismo Hispano-americano tem um parentesco muito próximo com 
outros movimentos literários. Relacionamos alguns destes movimentos e as características 
aproveitadas pelos modernistas: 
 a) Romantismo - paixão pela morte, liberdade de inspiração, individualismo, sensibilidade, 
isolamento contemplativo; 
 b) Realismo – descrições e observação do real; 
 c) Simbolismo – exaltação da imaginação, misticismo, teoria das cores, sinestesia (mistura 
de sensações), as impressões das coisas, razão Versus intuição; 
 d) Parnasianismo – seleção de imagens, ambientes elegantes, seleção vocabular, 
refinamento das sensações, a arte pela arte como forma de refúgio; o interesse pela cultura 
clássica e pelo exotismo do oriente. 
Estas são algumas das características que mais aparecem; entretanto, há outras. Além 
também de criar novos princípios estéticos, como a busca do efeito novo do som, da luz e da 
cor. Criando ritmos raros e exóticos para o poema. A conexão de frases segundo a emoção do 
poeta. A exaltação da vida espiritual e religiosa, ampliando na escrita poética a presença do 
valor simbólico do mistério, através da presença de mundos ocultos e desconhecidos. 
Toda esta mescla de características revelou uma concepção de arte oposta à objetividade 
puramente didática e social. 
Cada escritor busca, então, uma expressão particular para o seu fazer artístico. A idéia que 
prevalece nos modernistas Hispano-americanos é o desejo de encontrar uma expressão 
artística cujo sentido fosse genuinamente americano. Dentro desta liberdade de expressão, 
que é a marca principal deste movimento, cada país onde o Modernismo se manifestou, 
buscou assumir matizes próprios. 
Entre 1881 e 1895, vive em Nova York. Trabalha nos jornais The Hour e The Sun. Em 1882, 
escreve para o jornal La Nación, na Argentina. Ainda em Nova York, publica seu primeiro livro 
de poemas, Ismaelíllo (1882), considerado livro precursor do Modernismo. Prosador, introduz 
também no ano de 1882, os procedimentos prediletos dos modernistas: sinestesia, harmonia 
colorida e metáforas rebuscadas. 
Seus Versos sencillos, publicados em 1891, são exemplos de musicalidade e imagens plásticas. 
São exemplos de um regionalismo de dimensão local e universal. Versos sencillos é um longo 
poema de amor. Amor à mulher, ao povo, à pátria, à natureza, à cultura e a humanidade. É 
considerada sua maior realização literária. O livro anuncia a revolução que em mãos de Rubén 
Darío se propagou por toda a América. O próprio Darío confessará, por várias vezes, sua 
dívida para com o Martí homem e escritor. Neste mesmo ano (1891), publica José Martí no 
México, o texto “Nuestra América”, onde expõe o objetivo de seu empenho: propõe a 
integração dos povos hispânicos como caminho necessário à integração continental. 
Um ideólogo curioso de todos os problemas sociais, políticos e educacionais, José Martí, sem 
dúvida, é o maior e mais completo modernista, pela imensidão de seus conhecimentos e pela 
variedade de suas atividades. Um homem que seduz pelo dom de constante invenção, sempre 
dentro de muita simplicidade. É o exemplo do homem cubano em sua totalidade. 
Martí rejeitava o artificial dos pensamentos importados que desconsideravam a realidade local. 
Crítico literário, insubmisso aos ditames europeus, buscava um desenvolvimento cultural com 
características próprias do “novo mundo” e para o “novo mundo”. Articulista de inúmeros 
jornais e revistas de Buenos Aires a Nova York, cônsul do Uruguai, Argentina e do Paraguai, 
nos Estados Unidos da América, é autor dos versos que
constituí a música “Guantanamera”, 
uma das canções mais conhecidas do planeta e que, por muito tempo, constituiu-se como um 
hino revolucionário. 
Considerado o mais universal dos cubanos, é morto em combate, em maio de 1895, aos 42 
anos, quando regressava para construir uma nova pátria. Cronista de sua época, do passado e 
do futuro, nunca deixou de servir o seu povo. Nos últimos anos de sua vida, teve apenas um 
objetivo: a libertação de Cuba. Conheceu, amou e defendeu ao que chamou de “Nuestra 
América”. 
“Conocer diversas culturas es el medio mejor de libertarse de la tirania de alguna de ellas.” 
(José Martí) 
José Martí é considerado um dos mais altos e nobres espíritos nascidos em “Nossa América”. 
“Com ânsia inextinguível de amor, acima de tudo o amor ao homem, o culto e o respeito de 
dignidade humana, soube dar o mais puro e complexo de si mesmo, (...) poucos oradores 
souberam imprimir o mesmo calor a seus discursos.” (JOZEF. História da literatura hispano-
americana. p. 115). Suas palavras resumiam um turbilhão de fé nacional. De maneira concisa 
e segura, pregou a independência americana, tanto literária, como política. 
Martí tem sido objeto de inúmeros estudos acadêmicos e é referência política nos países 
hispânicos. De família modesta, Martí se entregou, desde os dezesseis anos, de corpo e alma 
à causa da liberdade cubana. Em razão de uma carta particular comprometedora, encontrada 
pela polícia entre os papéis de um amigo, foi julgado e condenado à prisão. Realizou trabalhos 
forçados em pedreiras, o que definitivamente lhe prejudicou a saúde. Suas idéias políticas 
aparecem publicadas pela primeira vez em 1869, em jornais clandestinos. Objetivando a 
Revolução Cubana, José Martí inaugurou um discurso no qual o “sentido de nação” e a “luta 
contra o imperialismo” Norte Americano se difundem. Foi ele um dos inventores do conceito 
de “América Latina”. E, segundo o estudioso Octavio Ianni, este conceito resume a construção 
de uma problemática política, social e cultural. Martí começou a desenvolver este conceito de 
“latinidade”, quando deixou a Espanha, em 1875, e passou a viver no México, Venezuela e 
Guatemala. A convivência com estas pátrias e povos latinos o levou a repugnar, em definitivo, 
o legado espanhol sobre a América. 
Conversemos um pouco sobre este escritor que alcançou, dentro do movimento modernista, 
significação continental e universal: Rúben Darío. 
Diplomata, escritor e poeta nicaraguense (18/01/1867 – 06/02/1916), nascido na cidade de 
Metapa, mais tarde “Ciudad Darío”, em sua homenagem. Foi considerado o criador do 
modernismo literário em língua espanhola. Entretanto, antes dele, temos a participação 
fundadora e inigualável do escritor José Martí que, em 1893, encontra-se com o jovem Darío, 
a quem chama carinhosamente de “filho”. 
Descendente de uma família tradicional, Rubén Darío recebeu sólida formação religiosa e, 
ainda muito jovem, começou a trabalhar na Biblioteca Nacional de Nicarágua. Na sua 
juventude viaja por São Salvador, Chile e Argentina. Nesses países, lê e assimila os simbolistas 
franceses. No Chile desde 1886, publica em 1888, o livro Azul..., sua obra de estréia: uma 
coletânea de textos poéticos em prosa e verso, influenciado pelo parnasianismo francês. 
Entretanto, Darío não repete simplesmente as formas do modelo francês; há indícios 
suficientes de que intui o sentido da crise que abala o final do século. Crise que é universal, e 
deixa a marca do sofrimento e da ansiedade em sua alam e escrita. 
Azul... é considerado como do nascimento de uma nova poesia hispânica. Num afã de 
superação, sua temática é variada. Afirma em um de seus poemas: “yo persigo uma forma 
que no encuentra mi estilo”. Em 1892, translada-se para a Espanha e desenvolve amizade 
com outros escritores modernistas, da geração espanhola de 98. 
Depois de anos agitados, durante os quais casou-se duas vezes, é nomeado cônsul da 
Colômbia em Buenos Aires (1893) e inicia sua atividade diplomática. Rúben Darío desenvolve 
também intensa atividade jornalística. Tornou-se correspondente do jornal argentino La 
Nación, e mudou-se para a Madrid (1898). Depois fixou residência em Paris (1899) e 
continuou viajando com freqüência. Voltou como diplomata para a Espanha (1908). Doente e 
com graves dificuldades financeiras, iniciou uma viagem pelos Estados Unidos (1914), onde 
fez uma série de conferências e, com a debilidade crescente de sua saúde, decidiu voltar para 
sua terra natal. Morreu em León, Nicarágua. 
Paralelamente ao trabalho poético, escreveu contos, artigos jornalísticos e críticas literárias. 
Entre suas principais obras temos: Azul... (1888), livro de prosa e verso; Epístolas y poemas 
(1885); Prosas profanas y otros poemas (1896) – nessa coletânea de poemas, assinala o 
triunfo da nova sensibilidade poética, estando nele presentes os principais elementos do 
modernismo (o exotismo, os ritmos franceses, a sensualidade, a ornamentação e o colorido); 
Cantos de vida y esperanza (1905): contém poemas mais íntimos e de uma maior simplicidade 
expressiva; El canto errante (1907); Poema Del otoño y otros poemas (1908) e El viaje a 
Nicaragua (1909). 
AULA 6 – A PROSA MODERNISTA: RODÓ E HORÁCIO QUIROGA. PÓS-
MODERNISMO: A POESIA DE GABRIELA MISTRAL 
José Enrique Rodó (Uruguai- 1871/1917) e Horacio Quiroga (Uruguai-1879/1937), escritores 
que pertencem a uma denominada “2ª geração modernista”, quando os excessos do 
pluralismo estético já haviam sido suprimidos. Há na prosa produzida por Quiroga a 
identificação da justiça com o dever e o protesto ante as humilhações conferidas ao homem. 
A região selvática das missões foi marco dos contos de Quiroga. Sua obra apresenta de modo 
direto o efeito devastador do meio, do ambiente, sobre o ser humano. 
Rodó foi considerado o maior prosador do período modernista. Sua obra Ariel (1900) teve 
forte influência em sua época. 
A Prosa Modernista 
A prosa não foi negligenciada pelos modernistas. Tanto José Martí quanto Rubén Darío dão o 
exemplo de uma obra em prosa cuidada e abundante. Os prosadores modernistas preferiram 
os gêneros curtos: crônicas, ensaios não muito extensos, novelas e contos. 
As técnicas modernistas utilizadas na produção de poesias não se enquadraram bem na prosa, 
devido ao excesso e à mistura de características de estilos, marca da poesia modernista. 
O romance modernista vai então recorrer às características naturalistas. 
Coube ao Uruguai fornecer à América Hispânica sua primeira grande geração de prosadores 
de ficção. Selecionamos como representantes deste grupo os escritores: 
• José Henrique Rodó (1871/1917) 
• Horacio Quiroga (1878/1937). 
José Enrique Rodó 
Para Rodó, há uma profissão universal, que é “ser homem”. Sustenta que o fim da criatura 
humana não pode ser exclusivamente saber ou sentir ou imaginar, mas ser “real” e 
inteiramente “humana”. 
Assim, sua concepção do sentido de vida envolve o cultivo da plenitude do ser, contra a tirania 
de objetivos interessados. 
Nascido em Montevidéu, Rodó é considerado o mestre da prosa modernista. Aos catorze anos 
entrou para a universidade, abandonando-a antes de completar o bacharelado. Desde então 
foi autodidata, buscando, sobretudo na França, alguns mestres de sua predileção. Em 1900, 
aos 28 anos, publica um “livrinho”, de nome Ariel, em forma de ensaio, considerado sua 
principal obra. O livro teve ressonância grandiosa na literatura de língua espanhola. Este livro 
o colocou, por mais de uma década, como o mestre preferido da juventude hispano-
americana. 
Fundou com os irmãos Vigil e Victor Pérez a Revista nacional de literatura y ciencias sociales. 
A partir de 1896, Rodó surge em meio à atmosfera de pessimismo de fim do século, com suas
palavras de otimismo, nos ensaios El que vendrá e La novela nueva. Não há uma 
sistematização filosófica ou uma doutrina específica em sua obra. O que há é uma reação que 
parte do naturalismo literário e do positivismo, cujos aspectos favoráveis são aproveitados em 
sua obra, unidos a uma veneração pela ciência experimental. 
Ariel (1900) é uma parábola alegórica que propõe uma tentativa de definição da América 
Latina em relação ao materialismo dos Estados Unidos. É neste livro que ele coloca de modo 
evidente sua mensagem idealista e otimista. O ensaio está escrito sob a forma de oração, em 
que um velho e venerado mestre se despede de seus discípulos. Na história, começa 
elogiando a juventude, cuja função e obra é renovar a humanidade de geração em geração. 
Depois, aconselha aos seus discípulos manter como princípio fundamental o desenvolvimento 
da integridade humana, considerada como a plenitude do ser. 
Posteriormente a Ariel, publicou mais três livros: Liberalismo y Jacobismo (coletânea de 
artigos polêmicos, nos quais expõe suas idéias sobre o tema da religião); Motivos de Proteo 
(teoria moral sobre o desenvolvimento da personalidade humana, fundamentada no lema: 
Reformar-se é viver.); e El mirador de Próspero (no qual reuniu alguns trabalhos de vários 
gêneros, escritos ao longo de 20 anos). 
Entre os anos de 1902 e 1912, Rodó figurou na lista oficial dos deputados uruguaios, 
entretanto a preterição que sofreu durante a seleção para uma embaixada, na Espanha, 
lançou-o à oposição e a um profundo desgosto. Juntando-se esta tristeza ao abalo que sofreu 
com a guerra mundial de 1914, o resultado foi uma profunda melancolia, que se agravou 
levando-lhe a morte, quando estava em Palermo (Itália) como correspondente de uma revista 
argentina. 
Horácio Quiroga 
Algumas personagens são de um realismo brutal, como as dos contos La gallina degolada (A 
galinha degolada) e o Travesseiro de penas. 
Entre sua coleção de contos, destacam-se: Cuentos trágicos, Cuentos de amor, de locura y de 
muerte (1917) e Anaconda (1921). Escreveu também um livro de contos para crianças: 
Cuentos de la selva (1918). 
A maioria de seus contos reflete este lado sombrio e denso de sua vida. Na maioria dos 
ensaios críticos sobre a sua obra, predomina o interesse por sua característica mais 
conhecida: o de narrador incomparável do mundo do terror e da morte; o seu prazer pelos 
casos patológicos e o inesgotável tema da loucura. 
Quiroga captou a América vegetal em toda a sua opulência e hostilidade: em sua narrativa, 
tudo na selva trama contra o homem. Sua obra revela o seu gosto pelo grotesco e pelo 
extraordinário, do qual está recheada a própria vida. Seus temas mórbidos levam-nos à 
consciência da multiplicidade de realidades que envolvem a vida. São narrativas psicológicas 
que demonstram a miséria humana. Temas que levam o leitor ao contato com uma realidade 
coloquial, mas também mágica e densa. 
Estas características, tão marcantes em sua escrita, são precursoras da nova narrativa 
hispano-americana. Essa narrativa que vai trabalhar com o realismo mágico, com a literatura 
fantástica. 
Horácio Quiroga (1878/1937) pertence também à geração uruguaia de 1900. Entretanto, 
viveu a maior parte de sua vida na Argentina. O seu estilo adapta-se aos assuntos selvagens, 
aos personagens-bichos de suas narrativas terríveis. 
Quiroga foi escritor, professor e diplomata, tendo vivido uma existência bastante dramática, 
marcada pela tragédia, resultado de uma série de suicídios em sua família: a morte violenta 
do pai, num disparo acidental de sua própria arma; o suicídio do padrasto, da primeira esposa, 
dos três filhos e dele mesmo. 
A região selvática das Missões, inclusive a nossa Amazônia, foi ambiente marco de sua ficção 
e de sua própria vida. Apresenta de modo direto o efeito devastador do ambiente físico sobre 
o homem. O meio, para Quiroga, oferece conseqüências inevitáveis, e chega a ser uma das 
personagens principais em sua narrativa. Em seus contos, a selva é impiedosa, rege a ação 
dos homens e até o seu pensamento. 
Em sua narrativa, não encontramos o aconchego do campo e paisagens tranqüilas. A natureza 
apresenta-se de modo avassalador, avançando sobre o homem, não querendo deixar-se 
dominar. Impõe-se ao ser humano, levando-o, às vezes, até a ruína física. É o que acontece 
no conto “O travesseiro de penas” (livro A galinha degolada), no qual um bicho, diminuto no 
seu ambiente original, torna-se mortífero para a personagem central. 
Em 1935, Quiroga é eleito cônsul honorário, numa homenagem da nação uruguaia ao seu 
talento. Em 1937, suicida-se com cianureto, após a notícia médica de que seu câncer gástrico 
era irremediável. 
A Poesia Feminina de Gabriela Mistral: Pós-Modernismo 
Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, mundialmente conhecida por seu 
pseudônimo, Gabriela Mistral (1889/1957), começou a ser laureada após participar e vencer 
um concurso poético chamado “Los Juegos Florales”, em Santiago (1914) no Chile, quando se 
apresentou com os três considerados magníficos, Sonetos de la muerte. 
A escolha do pseudônimo Gabriela Mistral deu-se em homenagem aos seus poetas prediletos: 
o italiano Gabriele D’Annunzio e o provençal Frédéric Mistral. 
A autora produziu poemas intensamente femininos e maternais em sua essência. Em Gabriela 
Mistral, nota-se sempre a preocupação com as crianças em qualquer situação de abandono ou 
solidão. Os temas centrais nos seus poemas são o amor, o amor de mãe, memórias pessoais 
dolorosas, mágoa e recuperação. 
A poesia de Gabriela Mistral é feita de compaixão e de um grande amor pelos seres. Tomava a 
defesa de seus compatriotas desfavorecidos, mais não era uma “populista”. Entre seus 
escritos mais significativos podemos destacar: Sonetos de la Muerte (1914); Desolación 
(1922); Lecturas para Mujeres (1923); Ternura (1924); Nubes Blancas y Breve Descripción de 
Chile (1934); Tala (1938); Antología (1941); Lagar (1954); Recados Contando a Chile (1957); 
e o póstumo, Poema de Chile (1967). Infelizmente Gabriela Mistral não teve a preocupação de 
agrupar sua produção escrita em livros, salvo os quatro volumes de poesia (Desolación, 
Ternura, Tala e Lagar). É uma pena que grande parte de sua produção continue dispersa. 
Poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 
em 1945 (cuja notícia recebeu quando estava em Petrópolis, no Rio de Janeiro), transformou-
se em uma figura internacional. Viajou por todo o mundo representando o seu país em 
comissões culturais das Nações Unidas (UNESCO). Seus livros capitais intitulam-se: 
Desolación, Tala e Lagar. O título do primeiro livro traduz bem o caráter de sua poesia: uma 
alma desolada e angustiada. 
Motivos para toda esta gama de sentimento não faltam. Seu pai abandonou a família quando 
Lucila completou três anos de idade; a mãe de Lucila faleceu no ano de 1929 e a escritora lhe 
dedicou a primeira parte de seu livro Tala, a que chamou: Muerte de mi Madre; e o noivo se 
suicidou com um tiro no peito, em 1907. 
Educada em sua cidade natal, começou a trabalhar como professora primária, em 1904, e foi 
diretora do LICEU, onde estudaria o menino (e futuro poeta) Pablo Neruda. A notoriedade de 
sua produção poética e de suas conferências a obrigou a abandonar o ensino para 
desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa. Em 1922 é convidada pelo Ministério da 
Educação do México a trabalhar nos planos de reforma educacional daquele país. 
Tida como um exemplo de honestidade moral e intelectual, e movida por um profundo 
sentimento religioso, formou-se no trânsito de uma vida dolorosa. A tragédia do suicídio do 
noivo marcou toda a sua vida e foi motivo de sua participação
no concurso literário de 1914. 
Porém, não se limitou à análise de sua problemática individual. Rompeu a constante análise 
do “eu” e passou a olhar para o “outro”, colocando a sua escrita a serviço das mais nobres 
causas. 
Encheu seus versos de vida e de sentimentos autênticos. Afirma em um de seus poemas que 
“uma canción es uma herida de amor que nos abrieron lãs cosas”. São temas recorrentes em 
sua obra: o amor pelos humildes e um interesse amplo por toda a humanidade. No caminho 
de sua escrita, há uma simplicidade expressiva na qual se desfaz do excesso da decoração 
modernista, dos virtuosismos formais e dos artifícios retóricos, para se preocupar com o 
poético, gritando através de seus versos contra toda sorte de injustiça social. 
AULA 7 – OS MOVIMENTOS DE VANGUARDA: AS POESIAS DE JORGE LUIS 
BORGES E NICOLÁS GUILLÉN 
É preciso lembrar que o nome de “Vanguarda” é dado aos movimentos literários e artísticos 
que, de modo geral, se estenderam dos inícios do século XX até, mais ou menos, o 
Surrealismo, surgido, aproximadamente, em 1924. O Surrealismo é considerado o último 
movimento de vanguarda. 
A seguir, vamos conhecer alguns dos principais nomes deste período dentro do vanguardismo 
hispano-americano. 
O Vanguardismo na Hispano-América 
Os poetas da vanguarda adotaram posição distinta. Adotaram técnica desintegradora da 
paisagem e, principalmente, do homem argentino, buscando destacar a essencialidade da 
criação. 
A melhor descrição da arte de Vanguarda é o conceito de “obra aberta”, de Umberto Eco 
(L’Oeuvre, Edit. Du Seuil, Paris, 1965). Para este escritor, “a obra de arte é uma mensagem 
fundamental ambígua, uma pluralidade de significados que coexistem num só significante”. 
Na obra contemporânea – quando estudaremos Cortázar, García Márquez -, a pluralidade de 
significados é ainda maior. E, para realizar esta ambiguidade, os artistas recorrem 
frequentemente ao informe, à desordem, ao acaso, à indeterminação dos finais e resultados, 
contando sempre, é claro, com a participação ativa do leitor. 
Esta expressão artística descontínua, daquele mundo tradicional, elaborado pela ciência 
moderna, busca “reconstruir”, no nível da criação artística e imagística, formas que expressem 
o homem contemporâneo: seus anseios, lutas, alegrias e frustrações. 
A Poesia de Vanguarda Hispano-Americana 
Segundo a Prof.ª Bella Jozef, a nova sensibilidade poética “é um reflexo do Ultraísmo espanhol 
e do Criacionismo, do Futurismo italiano e outros ismos franceses”, que se combinou a uma 
poesia de espírito argentino e portenho. Uma renovação dentro do viver local hispânico, que 
culminou no “martinfierrismo”. 
Por volta do ano de 1925, o principal objetivo dos poetas “imaginistas” era a poesia em si, 
sem transcendência, como busca do novo. Junto do Ultraísmo acrescenta-se o Surrealismo 
com sua aspiração à libertação de forças obscuras, mais espontâneas do ser, ainda não 
expressas livremente nos poemas. 
A poesia passa a ser valorizada por si mesma. Os poetas querem apenas “ser poetas”. 
Jorge Luis Borges (Argentina, 1899-1986) 
Por sua imensa cultura de conhecedor de várias línguas e suas respectivas literaturas (línguas 
latinas, inglesa, alemã), os poemas de Borges são os que melhor exemplificam este período 
de compenetração de valores estéticos com a realidade argentina e sua história. 
Escritor de poemas, ensaios e, sobretudo, de contos (nunca quis escrever narrativas longas), 
sua obra impressiona pela mistura inusitada de erudição, conhecimento e criatividade. 
Explorador incondicional da “irrealidade”, construiu uma linguagem própria, cheia de símbolos, 
e com ela uma realidade que se confunde com o sonho. 
Para Borges, o mundo não passa de... indecifrável, é um labirinto, é múltiplo, 
infinito... 
Borges era dono de imensa cultura. Estudou em Genebra, impregnado de clássicos universais 
(Schopenhauer, De Quincey, Stevenson, Shaw, entre outros) que, segundo confissão, relia 
continuamente. Sua obra é fruto desta formação. 
Apresentou contribuição pessoal inestimável e inegável à produção literária hispânica e 
universal. O próprio García Márquez afirmou que “apesar de detestar Borges, carregaria um 
livro seu por toda a vida”. Em sua estreia na ficção, com o livro O nome da rosa, o escritor 
Umberto Eco cria um personagem em homenagem a Borges: o enigmático Jorge de Burgos, 
monge cego, guardião da biblioteca do mosteiro beneditino, no qual se passa a história do 
romance. Na adaptação deste livro levada ao cinema, há esta cena inspirada em Borges. 
Segundo a Prof.ª Bella Jozef, “a ficção do século XX não poderia explicar-se sem Borges e 
ficaria incompleta sem ele”. 
Algumas Características da Poesia Borgiana 
Para ler o texto borgiano, é preciso abandonar a busca de uma significação que concerne 
apenas a lógica. 
O texto de Borges não remete a nada fora dele. O questionamento que faz da linguagem e do 
universo, a metaforização do mundo e do homem, em uma conformação labiríntica, 
constroem uma literatura que é signo de si mesma. 
O temo do universo é o predileto de Borges. 
“De los muchos instrumentos inventados por el hombre, creo que ninguno puede compararse, 
siquiera de lejos, côn el libro.” (BORGES. Biblioteca, libros y lectura) 
Há, dessa forma, uma série de recursos simbólicos utilizados na escrita de Jorge Luis Borges. 
Alguns deles: 
 A negação do tempo: para Borges o tempo é uma ilusão, uma convenção. O único 
instante apreensível é o presente, o agora. O tempo é a ruína da vida. É a presença da 
morte. A cada momento vivido, o homem aproxima-se mais da morte. 
 A negação da realidade: a realidade é confusa e desorganizada, o universo é 
incompreensível. A ficção, não, pois ela pressupõe uma ordem atemporal, que absorve 
o instante. 
 O labirinto como metáfora do mundo: o labirinto é uma metáfora da existência humana 
e do lado obscuro do mundo. O mundo é o caos. O labirinto aplica-se à trajetória do 
homem, ao sonho, ao jogo, para indicar a imprevisibilidade. Funciona como um 
símbolo da perdição. 
 A roda e o labirinto: representam o eterno retorno. 
 O espelho: refutação da metafísica e a condenação do ceticismo. Multiplica a realidade, 
confere-lhe um grau atormentador de “irrealidade”. Revela o “outro” que se observa no 
reflexo. 
 O duplo: um dos temas recorrentes, obsessivos em Borges. 
 O tigre: símbolo do inalcançável, exemplo de beleza e crueldade. 
 O sonho: através do sonho, transpomo-nos a outras realidades e nos afastamos das 
falsas dimensões do que nos oprime. 
Nicolás Guillén (Cuba, 1902-1989) 
Sua voz é considerada a grande anunciadora do reino afro-caribenho. Para penetrar nos 
meandros de sua Cuba mestiça sem cair em maniqueísmos, Guillén lançou mão do conceito de 
“transculturação” de seu compatriota Fernando Ortiz, antropólogo e folclorista. Este conceito 
inaugura uma nova visão a respeito da convergência de culturas em nossa América. 
Para Ortiz, “transculturação” expressa muito bem as diferentes fases do processo de transição 
de uma cultura a outra. Este processo não quer dizer “adquirir uma cultura”, como a rigor 
indica a palavra “aculturação”. Indica, sim, uma síntese de elementos, que envolve a perda 
parcial de costumes, ritos, etc., somada à criação de novos fenômenos culturais. 
Neste processo, surge um fenômeno novo, original e independente. E esta cultura resultante 
foi magistralmente captada por Guillén em suas poesias. Nelas, o escritor deu categoria lírica 
ao mundo cubano, afro-caribenho, sem esquecer suas tradições, sendo autêntico. 
Vida e Obra 
Nicolás Cristóbal Guillén Batista nasceu em Camaguey, capital da província cubana. Na década 
de 50, sua família tinha um elevado nível social e cultural e pertencia a uma burguesia negra. 
A revolta política de 1917, em Cuba, arruinou a sua
cidade. Seu pai faleceu neste mesmo ano, 
deixando sua mãe com seis filhos, dos quais Guillén era o mais velho. 
Poeta militante comunista até a morte, Prêmio Nobel da Paz em 54, começa a publicar seus 
versos a partir de 1920, escrevendo para revistas da cidade de Camagüey. Em 1922, começa 
a estudar direito na Universidade de La Habana, mas logo abandona o curso por considerar o 
ensino “deprimente”. Essa sua impressão foi repassada no poema “Al margen de mis libros de 
estudio”, no qual satiriza a mediocridade da vida universitária. 
Seus mais de 50 anos de fazer poético rendeu uma obra vasta e variada que abarcou 
diferentes âmbitos: a cultura e a linguagem popular, o lado folclórico do povo, a política, o 
negro e a formação “racial” cubana; também abordou o amoroso, o satírico, o épico, a 
natureza; falou sobre suas viagens pela América Latina e pelo mundo. Vivenciou uma 
realidade que lhe permitiu aprofundar sua visão de mundo e tecer, em sua poesia, uma série 
de escritos que o consagraram como “cantor da América e do planeta”. O ritmo “son” foi a 
matriz geradora de seus primeiros livros: Motivos de son (1930) e Sóngoro, cosongo (1931), 
considerado um livro de grande estrutura artística e vocação reflexiva sobre a cultura cubana. 
Cronologia 
 Em 1926, trabalha na Secretaria do Governo e se instala na capital cubana. Seus 
interesses literários e intelectuais começam a se intensificar. 
 Em 1930, publica no Diário de la Marina algumas polêmicas sobre celebridades, o que 
aumenta sua popularidade. 
 Em 1932, recebe uma carta de admiração do escritor espanhol Miguel de Unamuno 
(clássico da literatura espanhola). 
 Em 1934, ocorre o golpe militar em Cuba, chefiado por Fulgêncio Batista. A situação 
econômica e política do país ficam confusas e sobrevêm a intervenção dos Estados 
Unidos da América. 
 Em 1940, Guillén candidata-se às eleições pelo partido da União Revolucionária 
Comunista, mas não consegue se eleger. 
 Entre 1939 e 1941, divide o seu tempo entre a política e a cultura, pois torna-se 
dirigente da Frente Nacional Antifacista. 
 Em 1942, viaja ao Haiti como enviado cultural do Governo Cubano, e como Delegado 
da Frente Nacional Antifacista. 
 Em 1945, inicia uma viagem pela América do Sul, que será fundamental para sua 
projeção nacional. 
 Em 1954, está em Estocolmo, para o Congresso da Paz, e recebe o Prêmio Nobel da 
Paz. 
 Em 1956, viaja por Paris, Varsóvia, Bruxelas, etc. A situação política da ilha o converte 
em exilado. 
 Em 1959, acontece o triunfo revolucionário cubano. Imediatamente regressa a Cuba e 
em 1961 funda a União dos Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), na qual ocupará o 
cargo de presidente até a sua morte. Nesta organização, tem participação direta e 
sistemática em toda a história cultural e artística cubana. 
Características da Poesia de Nicolás Guillén 
A musicalidade é um dos aspectos mais significativos na poesia de Guillén, é o que ele chama 
de “cor cubana” de sua escrita. Guillén foi em busca dos ritmos afro-cubanos, especificamente 
o son. O son é um canto acompanhado de percussão, que se faz com versos. Graças ao son, 
esta percussão que estava restrita aos bairros pobres das cidades cubanas teve a 
oportunidade de revelar, na poesia de Guillén, seus recursos musicais expressivos, alcançando 
categoria de valor universal. 
Seu canto foi de rebeldia e esperança, de combate e saudação. Guillén nasce no início da 
Nova República Cubana, que ganha sua liberdade em relação à Espanha, em 1898. 
Entretanto, a nova nação cubana torna-se livre, com a ajuda dos Estados Unidos da América. 
País que interveio na briga entre Cuba e Espanha para decidi-la interessadamente, é claro, a 
seu favor. Deste então, os Estados Unidos da América passa a ocupar militarmente a ilha de 
Cuba. 
Tem um lado de sua poesia que apresenta uma linguagem simples, salpicada de repetições e 
onomatopéias, muitas de origem africana, que provocam um ritmo animado, que na verdade 
funcionam como uma contraposição à realidade cubana poetizada. 
Seus poemas também têm uma natureza evocadora, perturbadora e revolucionária. Mostram 
a tensão entre a musicalidade e a dura experiência representada. 
De Colorido local, criou uma tonalidade mulata, com uma colorida afirmação geográfica e 
ética. 
AULA 8 – A POESIA DE PABLO NERUDA 
O escritor criou uma obra renovadora que, segundo suas próprias palavras, “aceitou a paixão, 
desenvolveu o mistério e abriu caminho entre os corações do povo”. 
Situou-se diante dos acontecimentos de sua época, consciente da realidade que lhe tocou 
viver. Era um apaixonado pela vida, pelo homem agônico do século XX. Soube relativizar em 
sua poesia os valores absolutos do conhecimento puramente racional, considerando que não 
há uma verdade única, mas valores e perspectivas. A poesia é “a realidade atrás da realidade” 
e nada poderia definir melhor a poesia de Pablo Neruda, seu olhar retrospectivo, sua 
autocontemplação. 
Pablo Neruda, conhecido como “poeta do povo”, transporta para a poesia suas viagens pelo 
mundo, suas amizades, seus amores. Seu verdadeiro nome era Neftalí Ricardo Reyes 
Basualto. Nasceu em Parral, pequeno povoado do Sul do Chile. Exerceu carreira diplomática 
na Ásia e na Europa. 
Suas idéias políticas o conduziram a vários momentos de exílio e perseguições. 
Desde muito jovem, viu-se interessado pela poesia e com apenas 13 anos escreve um artigo, 
“Entusiasmo y perseverancia”, que é publicado em um jornal de Temuco, em 1917. Temuco é 
a terra de sua infância, e será recuperada em muitos de seus poemas. Aos 16 anos adota de 
modo definitivo o pseudônimo de Pablo Neruda, em virtude da admiração que sentia pelo 
poeta checo Jan Neruda. Mas somente em 1946, já com 42 anos, converte-se em seu nome 
verdadeiro, registrado em cartório. 
De acento personalíssimo, escreveu cinco livros antes dos 22 anos. E desde então sua 
maestria poética e sua criatividade são reconhecidas no mundo das artes, alcançando 
estrondoso sucesso de vendas. Romântico, pelo sentimento tumultuoso; expressionista em 
virtude de seu modo eruptivo de se manifestar, sua poesia parece que se escapa de seu 
coração como os sonhos de que fala em sua poesia. 
Vida e Obra 
No início de sua vida poética, parte de uma poesia sensual, de dúvida e insatisfação. A 
paisagem de sua terra natal, universo de sua infância, se constitui no embasamento de seu 
imaginário. A terra, a mulher e amante, é sacralizada como divindade feminina. Estes 
elementos são vistos nas primeiras obras lançadas. Suas primeiras publicações, escritas aos 
20 anos, deram-lhe grande renome local e reconhecimento imediato no exterior. São elas: 
Crepusculario (1923), El Hondero, entusiasta (1923) e Veinte poemas de amor y uma canción 
desesperada (1924). Dizia que amava este último livro, pois “a pesar de su aguda melancolia 
está en el goce de la existência”. É o momento das paixões juvenis, das dúvidas. 
Na publicação do livro Tentativa Del hombre infinito (1926), já se percebe uma transição para 
o surrealismo, uma consubstanciação dos elementos cósmicos. Já em Residencia en la Tierra 
(1932), percebe-se um sistema de imagens materialistas, que marca uma mudança em sua 
expressão poética. O poeta se apresenta como um ordenador do caos surrealista. Confere à 
poesia o dever de entender o homem e realizar-se nele. Sua preocupação máxima é, agora, o 
social. 
Em Canto general, publicado em 1950, proclama sua fé na função social da arte. Quando 
começa a trabalhar em Canto general afirma que precisava de um lugar de trabalho. Então 
com a ajuda de alguns editores, compra, em 1939, a sua “casa de trabalho em Isla Negra”. 
Canto general tem a idéia de agrupar as incidências históricas do continente americano, as 
condições geográficas, a vida e as lutas dessas nações. Declara Neruda que a escrita deste
livro apresentava-se a ele “como o tumultuoso movimento oceânico”. 
 
Suas Odas elementales (1954,1956,1957) apresentam um canto ao dinamismo da matéria, 
onde a realidade é manifestada com evidência. Neles Neruda tem os sentidos abertos a uma 
realidade e natureza não idealizadas. Vê as coisas e assuntos com olhos cotidianos, 
fotográficos. Vê com os ouvidos, com o olfato, com o paladar. O amor e a natureza se 
manifestam através de metáforas românticas. 
Cronologia 
Homem engajado politicamente, participante da vida pública de seu país, Neruda foi cônsul 
geral do Chile em 1927 (permanecendo no cargo por 5 anos). Em 1936, quando se dá o início 
da guerra civil espanhola, o escritor Garcia Lorca, seu amigo, é assassinado pelos 
nacionalistas, seguidores do General Francisco Franco. Esta dolorosa experiência redireciona a 
poesia de Neruda para conteúdos mais libertários, como pode ser visto nas obras: Residencia 
en la Tierra (1942), Ode a Stalingrado (1942), Tercera Residencia (1947), e Canto general 
(1950), sendo este último uma epopéia de amor profundo à América. 
• Em 1945 é eleito senador pelo Partido Revolucionário. 
• Em 30 de setembro de 1968 é designado à presidência da República do Chile pelo 
Partido Comunista Chileno. 
• Em 1969, o partido lança a sua candidatura. Posteriormente renuncia para dar lugar à 
designação de seu amigo, Salvador Allende, que passa a ser então candidato único 
pelos Partidos Populares Chilenos (União Popular). 
• Em 1970, participa ativamente da campanha presidencial de Allende. Com o triunfo de 
seu amigo, Neruda é nomeado embaixador de seu país, em Paris. Mas em 1973, 
renuncia ao cargo, na França. E, em meados deste mesmo ano, dirige um apelo aos 
intelectuais latino-americanos e europeus para que evitassem a guerra civil no Chile. 
• Em 11 de setembro de 1973, um golpe militar, chefiado pelo general Augusto Pinochet, 
derruba o governo da Unidade Popular, invadindo o Palácio do Governo. Neste 
movimento Salvador Allende é morto. 
• Em 23 de setembro de 1973, morre Pablo Neruda. 
Pablo Neruda e suas premiações: 
• Recebe, no decorrer de sua vida, vários títulos nacionais e internacionais. 
• É declarado Doutor Honoris Causa em Filosofia e Letras da Universidade de Oxford 
(1965). Título dado pela 1 a. vez a um sul-americano. 
• Em 1968 é condecorado com a Medalha de Prata que se confere aos filhos ilustres do 
Chile. 
• Sua poesia foi honrada com o Prêmio Lênin da Paz, em 1953, e o Prêmio Nobel de 
Literatura, em 1971, em Estocolmo. 
A grande característica da poesia de Neruda é a intensidade, que pode estar tanto nos 
eventos da história do continente, quanto nas pequenas coisas, como nos vários livros de 
Odes. Poeta do movimento, da inconstância, do susto. Neruda apontou para a riqueza 
inesgotável do humano. 
Em algumas poesias, faz uma reivindicação poética do passado americano, invertendo a 
versão difundida na História oficial, de que a conquista européia teria trazido progresso e 
civilização ao Continente. Para Neruda, é totalmente o contrário: a conquista destrói 
populações e sua cultura autóctone interrompe o seu desenvolvimento natural. 
Dentro de seu interesse pelo mundo natural, destaca-se a temática do mar, dos oceanos, das 
águas, exercendo grande fascinação pelo poeta. 
Neruda era um poeta de caráter forte, não deixa escolha a seu leitor: ou se agarra 
apaixonadamente na leitura de seus livros, ou não terá acesso verdadeiro a ele. 
Neruda no Brasil 
Neruda visita o Brasil em várias ocasiões. Era um admirador da literatura brasileira. Foi grande 
amigo do baiano Jorge Amado. Definia o Brasil como “cristal verde da América”. Dedicou 
várias poesias ao Brasil. Não somente o seu livro Canto General tinha muitos versos referidos 
ao Brasil, mas toda a sua poesia volta-se ora ou outra para a terra brasileira. Seja 
descrevendo sua natureza, pela qual era deslumbrado, seja falando de suas mulheres e seus 
homens, entre os quais fez muitos e inesquecíveis amigos. Falou também sobre as lutas do 
povo brasileiro, pregou a democracia nesta pátria. Pois buscava uma América Latina mais 
generosa com os seus. Seu poema “Castro Alves do Brasil” é um bom exemplo disto. 
AULA 9 – A NOVA NARRATIVA HISPANO-AMERICANA 
O início dos anos 60 é marcado por uma grande variedade de tendências no romance da 
América Hispânica, por uma multiplicidade de escritores de características peculiares e de 
difícil classificação. 
Alguns dos escritores que vamos citar ainda vivem. Outros começaram sua carreira na época 
do, digamos, “nascimento” da forma romanesca contemporânea, que hoje temos em 
constante desenvolvimento e “re-escritura”. 
Como o campo é vastíssimo e estes escritores são consagrados mundialmente, vamos então 
nos limitar a citar alguns dos considerados grandes romancistas hispânicos e mencionar 
algumas tendências, que julgamos essenciais para a compreensão desta literatura que 
encanta e ganhou o mundo: a Literatura Hispano-americana. 
Segundo a Profª. Bella Jozef, “o romance nasce da História, mas a transcende”, pois, como 
apreensão da realidade (tendo em vista que o romancista capta a prática cultural de uma 
época), a nova narrativa se caracteriza pela ausência de regras. O romance da época moderna 
coincide com a ascensão da burguesia, alargando o domínio de seus motivo ficcionais e 
interessando-se pela áreas que dizem respeito ao “ser”, ao “existir”. 
Assim, a psicologia, os conflitos sociais e políticos, a narração de eventos, os testemunhos 
imediatos, a análise de sentimentos, as angústias particulares e os costumes coletivos, seus 
vícios e suas virtudes, são então a matéria-prima dessas novas narrativas. 
O novo romance vai culminar em novas técnicas narrativas e estilísticas. O difícil é distinguir 
características comuns a todos esses novos romancistas, pois suas correntes são divergentes, 
e suas personalidades bastante fortes. 
Podemos, entretanto, traçar uma linha entre eles: o romance atual, ao contrário do romance 
tradicional que via o homem em seu exterior, sabe que o homem “existe”, que ele “é” 
rodeado por uma sociedade e está imerso nela. 
O romancista pós-Rubén Darío dá à linguagem uma função criadora, cheia de caracteres 
complexos e ambíguos. 
O Modernismo hispanho-americano, ao mesmo tempo em que enriqueceu a prosa, despertou 
a consciência do homem americano, que passou de uma atitude regionalista para uma atitude 
de inquietação, debruçando-se sobre temas de maior universalidade. 
O escritor Alejo Carpentier (Cuba – 1904/1980) foi um dos que marcaram esta abertura. É 
considerado precursor e expoente do romance atual. 
Seu segundo romance, El reino de este mundo (1949), apresenta o mundo mágico do Haiti, 
contrapondo o racionalismo europeu ao misticismo do Maravilhoso hispânico, inserindo um 
mundo de entidades fantásticas e sobrenaturais no reino deste mundo. 
Para Carpentier, “la novela empieza a ser gran novela (Proust, Kafka, Joyce, etc.) cuando deja 
de parecerse a uma novela; es decir: cuando, nacida de uma noveslística, rebasa esta 
novelística, engendrando, com su dinámica propia, uma novelística posible, nueva, disparada 
hacia nuevos âmbitos, dotada de médios de indagación y exploración que pueden plasmarse – 
no siempre sucede – em logros perdurables.” (CARPENTIER, Alejo. Tientos y diferencias. 
Montevidéu, Arca, 2ª. Ed. 1970, pp. 13-14,16.) 
O novo romance busca a identidade, não através da realidade documental, do panfletarismo 
ou das denúncias sociais, mas, sim, através da realidade da obra de arte. Deste modo, o ser 
humano emerge em escritores como Julio Cortázar, com uma pesada carga de pensamento 
existencial, onde a solidão, a angústia, a alienação, a perda constante dos valores necessários 
para o exercício do viver, a degradação, o encontro terrível com o “outro” (que somos, ou 
estamos próximos)

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