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AS UNIÕES POLIAFETIVAS E O POLIAMORISMO NO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO
 
Nome do autor[1: Guilherme Tomizawa é Advogado. Bacharel em Administração e Direito pela UTP – PR. Pós-graduado em Direito de Família pela PUC – PR. Mestre em Direito Público pela UGF – RJ. Doutorando em Direito Civil pela UBA. Professor adjunto no curso de direito das faculdades OPET e pós-graduações em diversas instituições. Publicou livros e diversos artigos em revistas jurídicas no Brasil, Argentina, Colômbia e na Europa. ]
Resumo
O presente trabalho acadêmico, tem o objetivo de realizar um estudo e análise da discussão das uniões poliafetivas e o poliamorismo dentro do contemporâneo direito de família brasileiro. Tratar-se-á ainda da união poliafetiva à luz da Constituição Federal de 1988. Mais a frente teceremos comentários acerca do crime de bigamia. E por fim, analisaremos a aceitação da família poliafetiva e do poliamorismo na sociedade moderna.
Palavras chave: união poliafetiva, poliamor, direito de família.
Abstract
This academic work aims to conduct a study and analysis of the discussion of unions and poly-affective union and polyamory within the contemporary Brazilian family law. Treat will still Union poly-affective the light of the 1988 Federal Constitution. More forward will weave comments about the crime of bigamy. Finally, we analyze the acceptance of family and poly-affective polyamoryism in modern society.
Key-words:.Poly-affective union, polyamory, family law.
Sumário. 1. Introdução. 2. Como fica a “união pluriafetiva” à luz da Constituição Brasileira Federal de 1988? 3. A união poliafetiva no Brasil incorreria em crime de bigamia? 4. Como seria a família poliafetiva na sociedade moderna – mero concubinato ou fruto do poliamorismo? 5. Conclusão. 6. Referências Bibliográficas.
 
Introdução
“Assim, na busca do conceito de entidade familiar, é necessário ter uma visão pluralista, que albergue os mais diversos arranjos vivenciais. E preciso achar o elemento que autorize reconhecer a origem do relacionamento das pessoas. O grande desafio dos dias de hoje é descobrir o toque diferenciador das estruturas interpessoais que permita inseri-las em um conceito mais amplo de família.” (Maria Berenice Dias)
Recentemente no interior do Estado de São Paulo na cidade de Tupã, ocorreu um ato jurídico (declaração de convivência pública) reconhecido por um dos cartórios de registro civil dessa cidade. Tal ato jurídico chamou a atenção para redigir esse ensaio acadêmico. Um homem acompanhado de 2 mulheres em comunhão de vontades firmaram com a anuência do escrivão daquele cartório uma escritura pública que registrou a união plural ou melhor, poliafetiva, de 1 (um) homem e 2 (duas) mulheres, abrindo um precedente extra-judicial que além de ser polêmico e discutível, pode ser entendido como ineditamente ousado ou para alguns até como um ato irresponsável. Mas tal escritura pública teria validade jurídica para o Poder Judiciário? Como ficariam os direitos decorrentes dessa novel relação familiar? Como se interpretam os princípios da isonomia (artigo 5º, caput, da Constituição Federal Brasileira de 1988) e do Direito Civil (autonomia da vontade humana) e principalmente os hodiernos princípios constitucionais da família (monogamia, dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade e respeito à diferença, solidariedade familiar, pluralismo das entidades familiares, proibição de retrocesso social e afetividade), sob o enfoque das relações pluriafetivas oriundas do poliamorismo? A repulsa a tais núcleos familiares seria um caso flagrante de ato discriminatório, preconceituoso ou seria totalmente lícito perante a legislação vigente? Nos próximos capítulos iremos tratar de alguns dispositivos básicos e de alguns conceitos que são iniciais para aprofundar qualquer outro ponto de vista sobre a temática escolhida. [2: ROSALINO, Cesar Augusto. União poliafetiva: ousadia ou irresponsabilidade? Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/22501/uniao-poliafetiva-ousadia-ou-irresponsabilidade>. Acesso em 18 set. 2012.][3: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:][4: Cf. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Editora RT. 4ª edição revista, atualizada e ampliada, São Paulo, 2007. p. 58. “Não se trata de um princípio do direito estatal de família, mas sim de uma regra restrita à proibição de múltiplas relações matrimonializadas, constituídas sob a chancela do Estado (...) Mas a uniconjugalidade não passa de um sistema de regras morais, de interesses antropológicos, psicológicos e jurídicos, embora disponha de valor jurídico”. ][5: Cf. DIAS. Op. cit. p. 60 “O princípio da dignidade da pessoa humana significa, em última análise, igual dignidade para todas as entidades familiares. Assim, é indigno dar tratamento diferenciado às várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de família, com o que se consegue visualizar a dimensão do espectro desse princípio, que tem contornos cada vez mais amplos. A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, projeto de vida comum - , permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas”. (grifo dela).][6: Cf. DIAS. Op. cit. p. 61 “Em face do primado da liberdade, é assegurado o direito de constituir uma relação conjugal, uma união estável hétero ou homossexual. Há a liberdade de extinguir ou dissolver o casamento e a união estável, bem como o direito de recompor novas estruturas de convívio. A possibilidade de alteração do regime de bens na vigência do casamento (CC 1639 par. 2º) sinala que a liberdade, cada vez mais, vem marcando as relações familiares. ][7: Cf. DIAS. Op. cit. p. 63 “A relação de igualdade nas relações familiares deve ser pautada não pura e simples igualdade entre iguais, mas pela solidariedade entre seus membros, caracterizada da mesma forma pelo afeto e amor. (...) O princípio da igualdade não vincula somente o legislador. O intérprete também tem de observar suas regras. Assim como a lei não pode conter normas que arbitrariamente estabeleçam privilégios, o juiz não deve aplicar a lei de modo a gerar desigualdades.” ][8: Cf. DIAS. Op. cit. p. 63 “Solidariedade é o que cada um deve ao outro. Esse princípio, que tem origem nos vínculos afetivos, dispõe de conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o próprio significado da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade e a reciprocidade. A pessoa só existe quando coexiste. O princípio da solidariedade tem assento constitucional, tanto que seu preâmbulo assegura uma sociedade fraterna”. (grifo dela). ][9: Cf. DIAS apud ALBUQUERQUE FILHO, Carlos Cavalcanti. Op. cit. p. 64 “O princípio do pluralismo das entidades familiares é encarado como o reconhecimento pelo Estado da existência de várias possibilidades de arranjos familiares. (...) Excluir do âmbito da juridicidade entidades familiares que se compõe a partir de um elo de afetividade e que geram comprometimento mútuo e envolvimento pessoal e patrimonial é simplesmente chancelar o enriquecimento injustificado, e ser conivente com a injustiça”. ][10: Cf. DIAS. Op. cit. p. 66 ”A consagração constitucional da igualdade, tanto entre homens e mulheres, como entre filhos, e entre as próprias entidades familiares, constitui simultaneamente garantia constitucional e direito subjetivo. Assim, não podem sofrer limitações ou restrições da legislação ordinária. É o que se chama de princípio constitucional da proibiçãode retrocesso social”. ][11: Cf. DIAS. Op. cit. p. 67 “Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela jurídica as uniões estáveis, que se constituem sem o selo do casamento, tal significa que o afeto, que une e enlaça duas pessoas, adquiriu reconhecimento e inserção no sistema jurídico. Houve a constitucionalização de um modelo de família eudemonista e igualitário, com maior espaço para o afeto e a realização individual. (...) A teoria e a prática das instituições de família dependem, em última análise, de nossa competência em dar e receber amor. Talvez nada mais seja necessário dizer para evidenciar que o princípio norteador do direito das famílias é o principio da afetividade.” (grifo dela). ][12: Cf. COLAVITTI, Fernanda. Revista GALILEU. “O fim da monogamia?”. Outubro de 2007. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG79268-7855-195,00-O+FIM+DA+MONOGAMIA.html>. Acesso em 30 set. 2012. “A filosofia do poliamor nada mais é do que a aceitação direta e a celebração da realidade da natureza humana. O amor é um recurso infinito. Ninguém duvida de que você possa amar mais de um filho. Isso também se aplica aos amigos. O ciúme não é inato, inevitável e impossível de superar. Mas é possível lidar muito bem com o sentimento. Os poliamoristas criaram um novo termo oposto a ele: compersion (algo como `comprazer` em português). Trata-se do contentamento que sentimos ao sabermos que uma pessoa querida é amada por mais alguém. Segundo suas crenças, eles representam os verdadeiros valores familiares. Têm a coragem de viver um estilo de vida alternativo que, embora condenado por parte da sociedade, é satisfatório e recompensador. Crianças com muitos pais e mães têm mais chances de serem bem cuidadas e menos risco de se sentirem abandonadas se alguém deixa a família por alguma razão”. ]
Como fica a “união pluriafetiva” à luz da Constituição Federal Brasileira de 1988? 
Para uma análise e interpretação sistemática da legislação brasileira, não podemos ser simplórios a ponto de somente reconhecer e analisar um diploma legal de forma isolada. Antes de qualquer discussão devemos nos ater na mais importante norma do nosso ordenamento jurídico – A Constituição Federal Brasileira de 1988. O tema a priori deve ser analisado sob o aspecto constitucional para que nos aprofundemos no tema das uniões poliafetivas. Quando o Estado diz que reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, como quedaria a situação das relações poliafetivas? Se fizermos uma interpretação literal, gramatical ou filológica do dispositivo constitucional retro, obviamente que não se reconheceria, de maneira alguma, uma relação pluriafetiva entre duas mulheres e um homem ou vice-versa (ou seria meramente um indivíduo plurisexual? que não pode ser confundido com um pansexual), além do mais facilitar a sua conversão em matrimônio. Da mesma forma não podemos ser puramente simplistas e deterministas a ponto de encerrar a presente discussão, pois sabemos que com a evolução dos costumes dentro de uma sociedade a análise sociológica, antropológica e histórica do respectivo tema deve estar inserido dentro de um específico contexto com os mesmos moldes. A Constituição Federal de 1988, apesar de ter trazido mudanças significativas para a sociedade brasileira, não teria o condão de albergar e prever todas as situações e evolução dos costumes dentro de uma coletividade. Prova disso, foi o postulado da pluralidade das entidades familiares que veio para preencher tal omissão legislativa a fim de sustentar e dar guarida as relações matrimoniais não tradicionais, não reconhecidas pelo legislador constitucional naquele momento histórico, ou seja, reconhecendo tão somente a clássica concepção monogâmica, enclausurando-as em numerus clausus com bem advertiu o prof. Paulo Luiz Netto Lobo. Basta verificamos como no ano passado (2011), na emblemática e inédita decisão do STF que reconheceu os casais homoafetivos como entidades familiares, contrapondo o disposto na legislação civil em vigor. O Professor Eduardo de Oliveira Leite também foi o pioneiro acerca do tema das famílias monoparentais em sua tese acadêmica, previsto também na Carta Magna de 1988. [13: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.(...)§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.][14: De acordo com os experts em estudos poliamorísticos (praticado também nos EUA, Alemanha e Reino Unido), pode-se interpretar que os consortes possuem várias relações amorosas simultâneas, fincadas na ética, honestidade e transparência das mesmas, apesar de refutarem veementemente o princípio monogâmico estabelecido pelo legislador constitucional. Outrossim, parte-se da premissa de possuírem várias(os) parceiras(os), amorosamente, bem como prazerosamente, indagamos: Será que o poliamorismo se trataria de uma relação necessariamente de cunho sexual? Veja o que diz Pablo Stolze: “Uma união paralela, fugaz, motivada pela adrenalina ou simplesmente pela química sexual, não poderia, em princípio, conduzir a nenhum tipo de tutela jurídica.” Cf. GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil – direito de família – as famílias em perspectiva constitucional. Editora Saraiva. Volume VI, 1ª. Edição, São Paulo, 2011, p. 463. ][15: “O pansexual não se limita ao sistema binário, masculino ou feminino, mas seu objeto de prazer abrange homens, mulheres, transexuais, operados ou não, assexuados, drag queens ou drag kings”. Cf. ROSOSTOLATO, Breno. Professor de psicologia explica a diferença entre bi e pansexuais. Disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/pride/professor-de-psicologia-explica-a-diferenca-entre-bi-e-pansexuais.html#rmcl>. Acesso em: 30 set. 2012. ][16: Cf. GAGLIANO, e PAMPLONA FILHO, Op. Cit. p. 428. “Tal linha de raciocínio – a par de injusta – seria até mesmo pretensiosa, pois partiria da falsa premissa de que o legislador deteria o místico poder de prever todas as multifárias formas de família que pululam em uma sociedade, a fim de consagrar determinadas entidades e proibir outras, também merecedoras de tutela, pela simples ausência de menção expressa.”][17: Cf. DIAS, Op. Cit. p. 39: “O pluralismo das relações familiares – outro vértice da nova ordem jurídica – ocasionou mudanças na própria estrutura da sociedade. Rompeu-se o aprisionamento da família nos moldes restritos do casamento, mudando profundamente o conceito de família. A consagração da igualdade, o reconhecimento da existência de outras estruturas de convívio, a liberdade de reconhecer filhos havidos fora do casamento operaram verdadeira transformação na família.” (grifo dela) ][18: Do paradigma tradicional: “casamento, sexo e procriação” - bem pontuado pela profa. Maria Berenice Dias. Cf. Dias, Op. cit. p. 40.][19: LOBO, Paulo Luiz Netto. Entidades Familiares Constitucionalizadas para além do numerus clausus. In: FARIAS, Cristiano Chaves de (Coord.) Temas atuais de direito e processo de família. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2004.][20: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Supremo reconhece união homoafetiva. Disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931>. Acesso em: 20 set. 2012.][21: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.][22: LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. A situação jurídica de pais e mães solteiros, de pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. 2ª. Ed. rev., atual. e ampl. Imprenta: São Paulo, Revista dos Tribunais, 2003.][23: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.(...) § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.]
Antigamente,as escrituras sagradas já narravam, outrora, temas como adultério, infidelidade, união ilegal e casamento misto, sendo a última palavra de interesse ao presente estudo, já que as três primeiras estariam desenquadradas do conceito de poliafetividade. Existem passagens monogâmicas nas mesmas escrituras[24: NEW WORLD TRANSLATION OF THE HOLY SCRIPTURES PORTUGUESE (Brazilian Edition) (bi12-T) ISBN 85-7392-013-0 – (Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Tradução da versão inglesa de 1984 mediante consulta constante ao antigo texto hebraico, aramaico e grego – Revisão de 1986). ][25: Êxodo 20:14 “Não deves cometer adultério”, ou em Levítico 20:10 “Ora, o homem comete adultério com a esposa de outro homem é um que comete adultério com a esposa de seu próximo”. ][26: Tiago 4:4 “Adúlteras, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus?”][27: Mateus 19:9 ”Eu vos digo que todo aquele que se divorciar de sua esposa, exceto em razão de fornicação, e se casar com outra, comete adultério” e Mateus 5:31 “Outrossim, foi dito: `Quem se divorciar de sua esposa, dê-lhe certificado de divórcio`”.][28: Provérbios 21:9 “Melhor é morar num canto do terraço, do que com uma esposa contenciosa, embora numa casa em comum” ou Coríntios 7:8-9 “Digo, porém, aos não casados e as viúvas, que é bom que permaneçam assim como eu. 9 Mas, se não tiverem autodomínio, casem-se, pois é melhor casar-se do que estar inflamado [de paixão]. Deuteronômio 21:15-17 “Caso um homem venha a ter duas esposas, uma amada e a outra odiada, lhe tiverem dado filhos, e o filho primogênito veio a ser o da odiada” 16 então tem de suceder que, no dia em que ele der aquilo que tiver como herança aos seus filhos, não se lhe permitira constituir o filho da amada em primogênito as custas do filho da odiada, o primogênito. 17 Porque deve reconhecer como primogênito o filho da odiada, dando-lhe duas partes de tudo o que achou possuir, visto que este é o princípio da sua faculdade de procriação. O direito da primogenitura pertence à ele.” e Samuel 2:2 “Por conseguinte Davi subiu para lá e assim também suas duas esposas, Ainoa, a jezreelita, e Abigail, esposa de Nabal, o carmelita” e Samuel 3:7 “Ora Saul, havia tido uma concubina cujo nome era Rispa, filha de Aia.” (meu grifo) ][29: Gênesis 2:24 “Por isso que o homem deixará seu pai e sua mãe, e tem de se apegar à sua esposa, e eles têm de tornar-se uma só carne”. ]
Mesmo assim, só para esclarecer, no Brasil o adultério deixou de ser crime, e sim só foi mantido como tema para questões de infidelidade oriunda de relações matrimoniais ou não. Ademais, não seria o caso em tela, pois as relações multiafetivas existem com a total anuência de seus afetos, ou seja, se trata de um ato de vontade, uma relação afetiva (affectio maritalis) e voluntária entre as partes. Nem mesmo seria o caso de infidelidade, pois como dito antes, as relações são explícitas e concordes entre os participantes dessa modalidade de relação afetiva. Veremos a seguir como se enquadraria tal novel espécie de núcleo familiar com relação ao artigo 235 do Código Penal. [30: Com o advento da Lei 11.106/2005 revogando o crime de adultério. ][31: Cf. GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. Cit. p. 231: ”O novo Código Civil, pois, posto não considere o adultério lícito – eis que continua sendo uma quebra do dever de fidelidade, constituindo-se, na prática, em causa extremamente comum para a dissolução do casamento ou da união estável -, não mais impede que os adúlteros, uma vez livres da relação que os vinculava, possam contrair, entre si, matrimônio”. ][32: Bigamia - Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:Pena - reclusão, de dois a seis anos.§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. (grifo da lei).]
3. A união poliafetiva no Brasil incorreria em crime de bigamia?
Primeiramente, devem-se definir alguns conceitos primordiais e essenciais para que não incorramos em contradições ou má interpretações. Antes de tratar do crime de “bigamia”, é importante desmistificarmos e discernimos o significado de algumas palavras relevantes ao presente estudo. O concubinato históricamente definido pelo Prof. Paulo Luiz Netto Lôbo se tratava da “união não matrimonial, que no direito romano era comum e considerada como casamento inferior, de segundo grau, sob a denominação de concubinato” regulado também pela lei civil, que por sua vez não pode ser confundido com o “concubinato consentido” daquele cônjuge ou companheira(o) de boa-fé que descobre a relação adulterina e com o passar do tempo se acostuma ou se adequa com aquela situação, ignorando-a, se tornando connivente; e uma torrente de provas começa a se formar diante dessa situação de inércia do cônjuge ou companheira(o) inocente que a justiça já vem julgando. Verifica-se então, que não podemos de forma alguma confundir os vocábulos concubinato que está mais ligado ao conceito de direitos da(o) amante proposto pelo prof. Pablo Stolze no direito familiarista brasileiro, que é totalmente distinto de união estável (pessoas que constituem uma relação afetiva calcada no respeito mútuo, lealdade, assistência, guarda, sustento e educação dos filhos) como reza a legislação civil pátria em vigor. [33: Cf. GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 1ª. Ed., São Paulo: Editora Rideel Ltda, 1995. p. 130. “Condição de bígamo. Crime instantâneo contra a família que consiste em alguém, sendo casado, contrair novo casamento; estado da pessoa que se casa duas vezes sem que o primeiro matrimônio estivesse desfeito legalmente”. ][34: LOBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias, 2. Ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 148. ][35: Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.][36: Ver nota 46 do presente estudo.][37: Tópico aprofundado (nominado de `Direitos da(o) Amante na Teoria e na Prática dos Tribunais`) em coautoria pelo prof. Pablo Stolze em seu site disponível em: <http://pablostolze.ning.com/>. Acesso em 30 set. 2012. Ver também o Capitulo XX Concubinato e Direitos da(o) Amante In GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. Cit. p. 457-469.][38: Vide artigos 1723 e 1724 do Código Civil Brasileiro. ]
Obviamente se exclui desse raciocínio as relações onde uma pessoa que é casada, e vive simultaneamente com outra, importando em uma relação concubinária, como também de uma pessoa com o status de solteira que vive em regime de união estável e possui um amante sem a anuência do outro convivente ou companheiro(a).
Mister também diferenciar os casamentos putativos das uniões estáveis putativas como proposto pelo prof. Pablo Stolze, que poderiam se equiparar aos mesmos preceitos de casamento putativo, pela jurisprudência altaneira. Logicamente que na esfera civil, nossa legislação brasileira identifica automaticamente a nulidade do segundo casamento.[39: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. Cit. p. 266-267 “No casamento putativo, avulta, sem sombra de dúvidas, o aspecto subjetivo de boa-fé. O cônjuge que contrai matrimônio inválido o faz em absoluto estado psicológico de inocência, ausente, portanto, qualquer desiderato ardiloso ou má-fé. (...) Nesse diapasão, temos que o casamento putativo, na hipótese em que um dos cônjuges tem ciência do vício que o inquina, resulta em situação desleal inesperada ao inocente, em franca violação ao conceito ético do tu quoque”.][40: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. Cit. p. 462. “Teríamos, pois, uma situação de união estável putativa, semelhante a que se dá com o casamento. O jurista Rolf Madaleno também pensa do mesmo modo: “Desconhecendo a deslealdade do parceiro casado, instaura-se uma nítida situação de união estável putativa, devendo ser reconhecidos os direitos do companheiroinocente, o qual ignorava o estado civil de seu companheiro, e tampouco a coexistência fática e jurídica do precedente matrimônio, fazendo jus, salvo contrato escrito, à meação dos bens amealhados onerosamente na constância da união estável putativa em nome do parceiro infiel, sem prejuízo de outras reivindicações judiciais, como, uma pensão alimentícia, se provar a dependência financeira do companheiro casado e, se porventura o seu parceiro vier a falecer na constância da união estável putativa, poderá se habilitar à herança do de cujus, em relação aos bens comuns, se concorrer com filhos próprios ou à toda herança, se concorrer com outros parentes”. in MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 819. ][41: Art. 1.521. Não podem casar:(...) VI - as pessoas casadas;Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:(...)II - por infringência de impedimento.]
Em suma, fica solarmente entendido que bigamia não se trata de crime, pois não nos referimos aos casais casados, e sim tratamos de casais em regime de união estável que são institutos diversos, apesar de sensivelmente próximos. Realizando tal distinção desmitifica-se este tipo penal e cai por terra qualquer argumento que vá de encontro ao raciocínio aqui proposto no presente estudo. Mais importante que desnaturar ou descaracterizar o crime de bigamia nas relações pluriafetivas, seria ainda, saber como a sociedade contemporânea reagiria aos novos conceitos de família que paulatinamente emergem na ordem mundial.
Como seria a família poliafetiva na sociedade moderna – mero concubinato ou fruto do poliamorismo?
Primeiramente devemos diferenciar os vocábulos concubinato, união estável, e poliamorismo a fim de não discutirmos instituições totalmente distintas aos olhos da contemporaneidade. Concubinato que são as “uniões, surgidas sem o selo do matrimônio” sempre foram arraigadas com um toque cruel de preconceito, pois estão à margem da tradicional sociedade. A união estável vem gradativamente conquistando espaço legislativo e direitos dentro dos costumes brasileiros. Já no Poliamorismo ou poliamor “admite a possibilidade de coexistirem duas ou mais relações afetivas paralelas, em que os seus partícipes conhecem-se e aceitam-se uns aos outros, em uma relação múltipla e aberta”. Os tribunais brasileiros têm decidido de maneira incipiente e isoladamente com relação ao tema em diversos aspectos patrimoniais dessas relações ou ainda de pensão por morte até para evitar enriquecimento ilícito dos infiéis como bem tratou a profa. Maria Berenice Dias. As cortes superiores (tais como o TRF e o STJ) também vêm sinalizando decisões paradigmáticas no que tangem relações concubinárias que podem sutilmente ser confundidas concomitantemente com uniões estáveis, mas o quadro para tais relações não é o mais animador para as uniões pluriafetivas, ainda mais se tratando da nossa Suprema Corte Brasileira e o STJ. [42: Cf. DIAS. Op. cit. p. 155.][43: Ver o projeto do Estatuto das Famílias (Projeto de Lei nº 2285/2007) em trâmite no Congresso Nacional, disciplinando a união estável como uma entidade familiar (arts. 63 a 67) que possui como novidade o status de convivente como “novo” estado civil, já que atualmente o convivente é reconhecido como estado civil de solteiro, mesmo não o sendo faticamente. ][44: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. Cit. p. 459. “Segundo a psicóloga Noely Montes Moraes, professora da PUC – SP: `a etologia (estudo do comportamento animal), a biologia e a genética não confirmam a monogamia como padrão dominante nas espécies, incluindo a humana. E apesar de não ser uma realidade bem recebida por grande parte da sociedade ocidental, as pessoas podem amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo`.” ][45: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. Cit. p. 459.][46: ARPENPE - Compromisso com a cidadania. Publicada a sentença em que juiz admite união estável e casamento simultâneos. Disponível em:<http://arpenpe.org/?tag=poliamorismo>. Acesso em 30 set. 2012.][47: CRISTO, Alessandro. Consultor Jurídico. TRÊS É BOM - Juiz admite união estável e casamento simultâneos. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2008-nov-25/juiz_admite_uniao_estavel_casamento_simultaneos>. Acesso em 30 set. 2012.][48: Cf. DIAS, Op. Cit. p. 44: “Porém, tal era a rejeição à ideia de ver essas uniões como família que a jurisprudência, quando ausente patrimônio a ser partilhado, as identificava como relação de trabalho, concedendo à mulher indenização por serviços domésticos prestados. No máximo, em face da aparência de um negócio, aplicava-se, por analogia, o direito comercial, e as uniões eram consideradas sociedades de fato. Ditos subterfúgios eram utilizados para justificar a partição patrimonial e evitar o enriquecimento injustificado de um dos companheiros. Mas nada mais se cogitava conceder, nem alimentos, nem direitos sucessórios”. (grifos dela).][49: INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMILIA. Negada a concessão de pensão por morte a concubina. Disponível em: <http://ibdfam.jusbrasil.com.br/noticias/2028304/negada-a-concessao-de-pensao-por-morte-a-concubina>. Acesso em 30 set. 2012. 2 decisões do STJ contrarias as uniões estáveis simultâneas “(...) no tocante ao mérito da controvérsia, este Tribunal Superior consagrou o entendimento de ser inadmissível o reconhecimento de uniões estáveis paralelas. Assim, se uma relação afetiva de convivência for caracterizada como união estável, as outras concomitantes, quando muito, poderão ser enquadradas como concubinato (...)” (STJ. AgRg no Ag 1130816, 3ª T., Rel. Min. Vasco Della Giustina, j. 27/08/2010). “Cinge-se a lide a definir, sob a perspectiva do Direito de Família, a respeito da viabilidade jurídica de reconhecimento de uniões estáveis simultâneas. (...) uma sociedade que apresenta como elemento estrutural a monogamia não pode atenuar o dever de fidelidade – que integra o conceito de lealdade – para o fim de inserir no âmbito do Direito de Família relações afetivas paralelas e, por consequência, desleais, sem descurar que o núcleo familiar contemporâneo tem como escopo a busca da realização de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade. (...) Ao analisar as lides que apresentam paralelismo afetivo, deve o juiz, atento às peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade, bem assim, com redobrada atenção ao primado da monogamia, com os pés fincados no princípio da eticidade. Emprestar aos novos arranjos familiares, de uma forma linear, os efeitos jurídicos inerentes à união estável implicaria julgar contra o que dispõe a lei. Isso porque o artigo 1.727 do CC/02 regulou, em sua esfera de abrangência, as relações afetivas não eventuais em que se fazem presentes impedimentos para casar, de forma que só podem constituir concubinato os relacionamentos paralelos a casamento ou união estável pré e coexistente. (...)” (STJ, REsp 1.157.273/RN, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/05/2010).][50: “Companheira e concubina – distinção. Sendo o Direito uma verdadeira ciência, impossível é confundir institutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. União estável – proteção do Estado. A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato (...) Percebe-se que houve um envolvimento forte, projetado no tempo – 37 anos –, dele surgindo prole numerosa – nove filhos -, mas que não surte efeitos jurídicos ante a ilegitimidade, ante o fato de haver sido mantido o casamento com quem Valdemar contraíra núpcias e tivera onze filhos (...) No caso, vislumbrou-se união estável, quando, na verdade, verificado simples concubinato, conforme pedagogicamente previsto no artigo 1.727 do Código Civil. (...) O concubinato não se iguala à união estável referida no texto constitucional, no que esta acaba fazendo as vezes, em termos de consequências, do casamento. Tenho como infringido pela Cortede origem o parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal, razão pela qual conheço e provejo o recurso para restabelecer o entendimento sufragado pelo Juízo na sentença prolatada” (STF, RE 397.762/BA, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 3.6.2008).][51: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma não reconhece proteção do direito de família à situação de concubina. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=105220>. Acesso em 30 set. 2012.]
Só para relembrarmos, o atual Código Civil Brasileiro no capítulo que trata da união estável reconhece como família, “a união duradoura e contínua entre o homem e a mulher”, se fizermos o mesmo exercício de hermenêutica praticado anteriormente, veremos que não se aplicaria de pronto as relações poliafetivas nesse caso. A doutrina clássica também vem traçando alguns contornos com relações a confusão de tais relações. [52:  Art.1723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.][53: Cf. MONTEIRO, Washington de Barros e TAVARES DA SILVA, Regina Beatriz. Curso de Direito Civil, vol. 2: direito de família. 42ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 63/64, 68 e 71. “A união estável tem natureza monogâmica, sendo incabível o reconhecimento de duas uniões concomitantes como relações de família, desse modo, a relação que concorre com o casamento em que os cônjuges mantêm vida em comum chama-se concubinato, nos termos do artigo 1.727 do Código Civil, e não recebe a proteção do direito de família (...) Essa relação concubinária não gera os efeitos da união estável, como reconhece nossa melhor jurisprudência (...) Em suma, as relações adulterinas não tem as repercussões pessoais e patrimoniais das uniões estáveis, pois não constituem família e não recebem a respectiva proteção especial”. ]
Mas será que um dia o Supremo Tribunal Federal também não validará as relações poliafetivas e as converterá em entidade familiar? Contudo, validando tal proposta estaria a Corte legitimando a inconstitucionalidade por ofensa ao art. 226, parágrafo 6º da Constituição Federal de 1988 ou tal pensamento é vetusto e com uma carga genética de preconceito da sociedade brasileira e do Poder Judiciário? E se aquele mesmo trio de vontades requeressem em juízo o reconhecimento daquela união pluriafetiva a fim de legitimar tal ato praticado em cartório, e daquela relação fática a conversão em casamento estaria ofendendo preceito legal (civil?, constitucional, etc.) Ora uma leitura mais leiga do dispositivo retrocitado (conversão da união estável) fatalmente deveria de reconhecer tal união pluriafetiva.[54: A par de alguns ministros da excelsa Corte, tais como o atual presidente do STF, ministro Carlos Ayres de Britto se manifestou favorável às relações poliafetivas, apesar de vencido numa decisão emblemática do STF: “A luz do Direito Constitucional brasileiro o que importa é a formação em si de um novo e duradouro núcleo doméstico. A concreta disposição do casal para construir um lar como um subjetivo ânimo de permanência que o tempo objetivamente confirma. Isto é família, pouco importando se um dos parceiros mantém uma concomitante relação sentimental a dois.” ][55: Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.][56: Art. 226 (...), parágrafo 3º da CFB de 1988.]
Analisando um dos mais importantes princípios do direito civil de forma sistemática e ampla, se conclui que todas as pessoas têm o livre arbítrio e escolha de tomar as decisões que mais acharem coerentes com seus ideais, já que tudo que não é juridicamente proibido seria, em tese, permitido. Mas tal autonomia estaria acima das leis de um Estado de Direito ou da obrigação de proteção aos núcleos familiares ou seria outra norma sem eficácia constitucional? [57: Princípio da autonomia da vontade humana.][58: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (meu grifo)]
Todavia adentrando nos pressupostos básicos de uma união estável, como se poderia averiguar ou mensurar a lealdade, o respeito, a assistência e o dever de guarda estampados na lei civilista dessa nova modalidade de relação familiar, haja vista que se tratam de no mínimo 2 (duas) pessoas (ou mais) de um gênero sexual e 1 (uma) de outra (ou outras). Já não basta a incompatibilidade de gênios ou insuportabilidade da vida em comum (que corre somente entre duas pessoas de sexos opostos, ou não), como procederiam tais relações poligâmicas no quesito lealdade ou respeito mútuo, existiria essa possibilidade ou seria um ideal surreal, uma utopia platônica ou algo quase raro, inexistente? O homem é um ser confiável? Não poderia, exempli gratia, haver um alto grau de cumplicidade e “acordo” entre consortes do mesmo sexo (v.g.: 3 homens) versus a do sexo oposto (v.g.: 1 mulher) em minoria ou desvantagem num suposto caso de tríplice traição conjugal do sexo masculino? Como tais aspectos, tais como fidelidade e respeito resultariam no exemplo anterior? Ou ainda, como quedaria o patrimônio e guarda de filhos oriundos da constância dessas relações multiafetivas? Da mesma maneira das relações monogâmicas? Com a mesma interpretação dos nossos tribunais? [59: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. cit. p. 440. “Dever de lealdade, compreensivo do compromisso de fidelidade sexual e afetiva, remete-nos a ideia de que sua violação, aliada a insuportabilidade de vida em comum, poderá resultar na dissolução da relação de companheirismo.” (meu grifo).][60: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. cit. p. 440. “Dever de respeito fala por si só, é, dada a sua grandeza, e difícil de ser aprendido por meio de standards jurídicos tradicionais.” ][61: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, Op. cit. p. 440. “Dever de assistência, por sua vez pode ser traduzido não apenas na mutualidade de apoio alimentar mas também sob o prisma mais profundo, no auxílio espiritual e moral necessariamente existente entre os companheiros ao longo de toda a união.”][62: Cf. GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, p. 440. “Dever de guarda, sustento e educação dos filhos, vale relembrar, assim, como se dá no casamento, é decorrência do próprio poder familiar (...)”][63: Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. (meu grifo)][64: Motivos genericamente e amplamente utilizados nas separações e divórcios consensuais somente para constar, ou para não provocar embaraços na intimidade e vida privada dos mesmos a fim de evitar maiores discussões detalhadas ou minuciosas acerca de seus rompimentos afetivos ou amorosos. ][65: Fazemos alusão às uniões homoafetivas também.][66: Thomas Hobbes, quanto ao estado de natureza, em tom profético afirmou a celebre e notória frase: “O homem é o lobo do homem” (homo homini lupus).]
É possível controlar ou fiscalizar a lealdade nesse tipo de relação afetiva, já que é considerado uma característica sagrada das relações estáveis?
Se os primordiais princípios constitucionais de família são pautados principalmente no eudenomismo e no afeto, poderia existir uma relação de cumplicidade, respeito mútuo, ética, honestidade e transparência entre os vários consortes dessa relação, já que se trataria de relações poligâmicas ou quiçá poliandricas? [67: Cf. Dias, Op. Cit. p. 68. “A família e o casamento adquiriram um novo perfil, voltados muito mais a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes. Essa é a concepção eudenomista da família, que progride a medida que regride o seu aspecto instrumental.” ]
E os filhos oriundos de uma relação pluriafetiva entre 2 pais e 2 mulheres, poderiam sofrer algum tipo de pressão de diversidade cultural (aspectos religiosos, ou por exemplo sofrerem bullying escolar pelo fato de terem vários pais ou diversas mães publicamente?).Verifica-se que das partes mais afetadas desse tipo de relação seriam nitidamente os filhos. Com quem a criança ou adolescente se identificaria? E isso seria bom? Para quem?
A questão econômica para o Estado e para os próprios partícipes dessas relações seria um óbice para esse novel tipo de relação que se desponta na doutrina e jurisprudência brasileira? Ou facilmente se dividiria o quinhão dos bens pelo número de pessoas que compunham tal relação, como bem denominou o magistrado em uma decisão, usando o termo “triação”ou ainda, talvez, multi ou poliação de bens? E como os operadores do direito lidariam com essa nova roupagem de núcleo familiar? Como procederiam as audiências e sessões de julgamentos contendo inúmeros advogados para representar toda sorte de interesses de seus outorgantes?[68: CONSULTOR JURÍDICO. Dupla relação amorosa motiva partilha dos bens em três partes. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2008-nov-17/juiz_reconhece_uniao_estavel_casamento_mesmo_tempo?imprimir=1>. Acesso em: 30 set. 2012.]
São tantas perguntas que obviamente a doutrina, a legislação e a jurisprudência ainda não encontraram respostas. Como se procederia ao fim dessa união já que o divórcio seria incabível nessa situação? Uma ação de dissolução de união estável poliafetiva seria suficiente?[69: Pois tal ato jurídico somente se enquadraria para casamentos ou matrimônios oficializados em cartórios. ]
 Conclusão 
Será que pelo fato da sociedade brasileira ser tradicionalmente católica beiramos à hipocrisia, já que nos diversos “brasis” do Oiapoque ao Chuí, sabemos que existem diversas relações poliafetivas (leia-se poligâmicas) incógnitas ou à margem da sociedade como se fossem seres invisíveis aos nossos olhares? Essa é a verdadeira natureza ou condição (sine qua non), do ser humano? Será uma questão de tempo para que os “cegos” e preconceituosos da sociedade pós-industrial, arraigados em dogmas e pré-conceitos inquestionáveis vislumbrem a essência do direito natural? 
Psicólogos e especialistas no “poliamorismo” dizem que é possível várias pessoas amarem outras... Outros acham um tema mais complexo, que deve ser estudado mais cautelosamente. Contudo, será que (como os experts ressaltam em seus estudos) o amor de familiares, parentes e amigos queridos, é indistinto do amor com seus pares afetivos? Será que não estaríamos nos remetendo à espécie de “amores” diferentes?[70: O psicólogo Eduardo Coutinho Lopes ponderou sobre tais conflitos amorosos: "O importante numa relação como essa é estabelecer limites. (...) Não é possível prever os conflitos emocionais que essas três pessoas podem passar porque cada um é cada um, mas o ciúme, achar que está sendo preterida, por exemplo, apesar da poligamia, pode ser uma vertente" Cf. LOPES, Leandro de Oliveira. YAHOO Brasil Mulher. Pode beijar as noivas - união poliafetiva: justiça e comportamento. Disponível em: <http://br.mulher.yahoo.com/pode-beijar-noivas-uni-o-poliafetiva-justi-e-182200868.html>. Acesso em 01 out. 2012.]
O tempo e a contextualização histórica, sociológica e antropológica, fazem com que inexoravelmente os costumes de uma sociedade rígida realmente mudem? Os homossexuais, categoria que sempre viveu à margem da sociedade, conquistaram seu valor e seu respeito com a chancela do STF na decisão do ano passado, algo impensável a um tempo atrás. O princípio da proibição do retrocesso social realmente tem demonstrado sua verdadeira carga axiológica. 
Por óbvio, que liberdade de escolha não pode ser confundida com libertinagem e depravação. Seria a figura do “poliamor” realmente um verdadeiro amor incondicional, absoluto, irrestrito, sem amarras, ou limitações desprovido de proibições chanceladas pelo Estado? [71: Chamado pelos norte-americanos de “free will”.]
As opiniões se divergem, vários estudiosos no assunto tratam do tema, alguns são favoráveis, outros contrários, mas o que realmente importa para o presente estudo é saber se o paradigma monogâmico no Brasil está se rendendo aos “Cadinhos” da vida real, ou se tal situação como demonstrada pelas próprias passagens da bíblia a milênios atrás, façam com que voltemos, outrora, ao status quo ante das relações poligâmicas de nossos antepassados? Ou seja, no amor, realmente, Vale tudo? [72: Maria Berenice Dias, Flavio Tartuce, Paulo Luiz Netto Lobo, e Clever Jatobá. ][73: Washington de Barros Monteiro, Regina Beatriz Tavares da Silva, Pablo Stolze Gagliano e Cesar Augusto Rosalino.][74: Popular novela da Rede Globo que faz referência a um homem que convive publicamente com três mulheres com anuência das mesmas, resultando numa verdadeira união poliafetiva. Ver matéria sobre o assunto. GLOBO.COM. Cadinhos da vida real buscam reconhecimento de relações poliafetivas. Disponível em: <http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1681623-15605,00-CADINHOS+DA+VIDA+REAL+BUSCAM+RECONHECIMENTO+DE+RELACOES+POLIAFETIVAS.html>. Acesso em 30 set. 2012.][75: Música brasileira, do saudoso, compositor, Tim Maia. Letra curiosa, pois apesar do título (Vale tudo), o refrão da música diz que: “Vale tudo... só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher”, um verdadeiro exercício de futurologia para o drama dos casais homoafetivos já superado (teoricamente) em tempos hodiernos. ]
“Em conclusão, se nos permitem um conselho, sugerimos cultivar sempre a fidelidade a dois em nossas vidas, pois certamente assim, teremos mais paz e tranquilidade. E que Deus nos ouça ! E o nosso coração também...” (Pablo Stolze Gagliano) 
6. Referências Bibliográficas
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