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POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL VOLUME 1 CLÁUDIO DO PRADO AMARAL CAED - UFMG Belo Horizonte, MG 2014 POLÍTICAS PUBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL VOLUME 1 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Presidenta da República Federativa do Brasil Dilma Vana Rousseff MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Ministro de Estado da Justiça José Eduardo Cardozo DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL Diretor-Geral do Departamento Penitenciário Nacional Augusto Eduardo de Souza Rossini DIRETORIA DE POLÍTICAS PENITENCIÁRIAS Diretor de Políticas Penitenciárias Luiz Fabrício Vieira Neto ESCOLA NACIONAL DE SERVIÇOS PENAIS Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais Mara Fregapani Barreto UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor Prof. Jaime Arturo Ramirez Vice-Reitoria Profª. Sandra Regina Goulart Almeida Pró Reitor de Graduação Prof. Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi Pró Reitor Adjunto de Graduação Prof. Walmir Matos Caminhas Pró-Reitora de Extensão Profª. Benigna Maria de Oliveira Pró-Reitora Adjunta de Extensão Profª. Cláudia Andrea Mayorga Borges EQUIPE CASSP / UFMG Coordenação geral Prof. Fernando Selmar Rocha Fidalgo Coordenação pedagógica Prof. Eucidio Pimenta Arruda Coordenação tecnológica Prof. Wagner José Corradi Barbosa Coordenação de produção audiovisual Prof. Evandro José Lemos da Cunha Coordenação administrativa Thatiana Marques dos Santos CENTRO DE APOIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretor de Educação a Distância Prof. Wagner José Corradi Barbosa Coordenador da Univesidade Aberta do Brasil - UAB/UFMG Prof. Eucídio Pimenta Arruda EDITORA CAED-UFMG Editor Prof. Fernando Selmar Rocha Fidalgo Produção Editorial Marcos Vinícius Tarquinio Autoria Cláudio do Prado Amaral Colaboração Eucídio Arruda Gisela Colaço Geraldi Patrícia Sommer Sara Coutinho Design Educacional Durcelina Ereni Pimenta Arruda Revisão de Texto Jussara Frizzera Projeto Gráfico Departamento de Design/Caed Formatação Pedro Peixoto CONSELHO EDITORIAL Prof. André Márcio Picanço Favacho Profª Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben Prof. Dan Avritzer Profª Eliane Novato Silva Prof. Eucídio Pimenta Arruda Prof. Hormindo Pereira de Souza Profª Paulina Maria Maia Barbosa Profª Simone de Fátima Barbosa Tófani Profª Vilma Lúcia Macagnan Carvalho Prof. Vito Modesto de Bellis Prof. Wagner José Corradi Barbosa NOTA DO EDITOR A Universidade Federal de Minas Gerais atua em diversos projetos de Educação a Distância que incluem atividades de ensino, pesquisa e extensão. Dentre elas, destacam-se as ações vincula- das ao Centro de Apoio à Educação a Distância – CAED –, que iniciou suas atividades em 2003, credenciando a UFMG junto ao Ministério da Educação para a oferta de cursos a distância. O CAED-UFMG, Unidade Administrativa da Pró-Reitoria de Graduação, tem por objetivo admi- nistrar, coordenar e assessorar o desenvolvimento de cursos de graduação, de pós-graduação e de extensão na modalidade a distância, desenvolver estudos e pesquisas sobre educação a distância, promover a articulação da UFMG com os polos de apoio presencial, como também produzir e editar livros acadêmicos e/ou didáticos, impressos e digitais, bem como a produção de outros materiais pedagógicos sobre Educação a Distância - EAD. A Editora CAED-UFMG tem a honra de publicar esta obra que foi demandada pela Escola de Serviços Penais do DEPEN-MJ que será utilizada para a Capacitação de Servidores do Sistema Prisional. Esperamos que todos possam aproveitar bastante o que, neste momento, tornamos disponível para sua leitura, comentários e sugestões. Fernando Selmar Rocha Fidalgo Editor SOBRE OS AUTORES CLÁUDIO DO PRADO AMARAL Professor associado da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto-USP. Coordenador do Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP. Pesquisador e membro da equipe ins- titucional do Observatório Nacional do Sistema Prisional - Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça/UFMG. Graduado em direito pela USP, especialista em direito penal pela USP, mestre em direito penal pela USP, doutor em direito penal pela USP e Livre Docente em direito processual penal pela USP. Juiz de direito desde janeiro de 1991. Juiz corregedor da policia judiciária e Juiz corregedor dos Presídios de Piracicaba-SP de março/1995 a novembro/2003. Juiz corregedor dos Presídios de São Paulo-SP e dos Presídios de Segurança Máxima do Estado de São Paulo de abril/2007 a março/2009. Juiz da 2ª Câmara Criminal Extraordinária – “D”, do Tribunal de Justiça de São Paulo de fevereiro de 2008 a agosto de 2009. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACUDA – Associação Cultural de Desenvolvimento do Apenado e Egresso ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental CAHMP – Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa CF – Constituição Federal CIMI – Conselho Indigenista Missionário CNCD/LGBT – Conselho Nacional de Combate à Discriminação CNJ – Conselho Nacional de Justiça CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária CREAS – Centros de Referência Especializados de Assistência Social DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional DST – Doenças Sexualmente Transmitidas FUNAI – Fundação Nacional do Índio HIV/AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística InfoPen – Sistema de Informações Penitenciárias LEP – Lei de Execução Penal LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros LGBTTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Travestis e Transgêneros NBR – Normas Brasileiras de Normatização OEA – Organização dos Estados Americanos OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas PNAISP – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade no Sistema Prisional PNAMPE – Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas RAPS – Rede de Atenção Psicossocial SIC – Serviço de Informação ao Cidadão SPI – Serviço de Proteção aos Índios SUS – Sistema Único de Saúde USP – Universidade de São Paulo SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 10 UNIDADE 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL 13 1. Política: fins e sistema 16 2. Política criminal e política penitenciária 16 3. Sujeitos da política penitenciária 18 4. Finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de liberdade 19 5. Práticas de alternativas penais 22 6. Arquitetura prisional – a evolução da arquitetura prisional 30 7. Modernização do sistema prisional 37 UNIDADE 2 – ASSISTÊNCIA E GÊNERO NO SISTEMA PRISIONAL 41 1. O gênero no sistema prisional 42 2. O gênero feminino 43 3. O gênero conforme a opção afetiva 44 4. Separação etária 45 5. Separação conforme a situação jurídica 46 6. Separação conforme a natureza do crime 46 UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL 49 1. Educação e qualificação profissional de pessoas presas 50 2. Formação e qualificação profissional de servidores do sistema prisional 59 UNIDADE 4 – SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 67 1. Saúde no contexto carcerário 68 2. Qualidade de vida do servidor penitenciário 72 REFERÊNCIAS 81 POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 210 APRESENTAÇÃO Olá, seja bem-vindo ao curso Políticas Públicas no Sistema Prisional! Saiba que políticas públicas são conjuntos de ações e programas realizados, desenvolvidos e mantidos direta ou indiretamente pelo Estado, com a participação de entes públicos ou pri- vados; é assegurar um ou alguns direitos de cidadania, de forma ampla ou especificamente direcionada, para determinadoseguimento social, cultural, étnico ou econômico. Nesse sentido, a realização deste curso tem o intuito de apresentar e provocar uma ampla discussão a respeito das políticas públicas no sistema prisional. OBJETIVOS Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de: • Reconhecer a organização das políticas públicas no sistema prisional. • Identificar os sujeitos da política penitenciária. • Compreender as finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de liberdade. • Compreender a organização do sistema prisional. • Identificar a questão do gênero no sistema prisional. • Considerar a educação e qualificação profissional de pessoas presas. • Recomendar a formação e qualificação profissional de servidores do sistema prisional. • Analisar a saúde no contexto carcerário. • Discutir a situação da saúde dos envolvidos no sistema prisional. O material didático do curso Políticas Públicas no Sistema Prisional está estruturado em cinco Unidades, de modo a possibilitar a você oportunidade de debater e construir embasa- mento teórico e prático a respeito das políticas públicas no sistema prisional. Unidade 1 – A Política Pública no Sistema Prisional – consiste em apresentar o conceito de política, seus fins e sistema; a política criminal e a política penitenciária; os sujeitos da polí- tica penitenciária e as finalidades do sistema e da pena privativa de liberdade; A evolução da arquitetura prisional desde o início até os dias de hoje, bem como a unidade prisional como estrutura complexa; e a Resolução nº 09/2011 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP – que regulamenta como devem ser erguidas as novas unidades prisionais. Unidade 2 – A Questão do Gênero no Sistema Prisional – é apresentada nesta unidade o Artigo 5º da Constituição Federal, o qual versa sobre as garantias em favor da presa de maneira mais digna: “A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo da pessoa presa”. O tratamento penal que é dado a UNIDADE 1 11 uma pessoa do sexo feminino não pode ser igual a uma pessoa do sexo masculino. Em todos os aspectos deve ser adequado ao gênero feminino. Também será debatido o aumento da prisionalização de mulheres, hoje desproporcionalmente maior em relação o dos homens. Unidade 3 – A Educação no Sistema Prisional – assim como em qualquer outro ambiente, surge com o objetivo de ofertar os processos educativos promotores da vida humana, que são elementares para o desenvolvimento político e econômico e para o alcance da demo- cracia e da igualdade social. Constitui-se ainda em importante recurso para a ressocialização de pessoas em privação de liberdade, da mesma forma que o trabalho. O exercício de qual- quer profissão requer, ao menos, o aprendizado fundamental e o aprendizado profissionali- zante. Essa exigência pode aumentar conforme o grau de especialização da profissão, isto é, conforme suas particularidades. Por isso, em muitos casos, exige-se a educação formal em nível médio, em outros tantos o ensino técnico e, afinal, para muitas profissões exige-se o ensino superior. Unidade 4 – Saúde e Qualidade de Vida no Sistema Prisional – quatro fatores se asso- ciam e afetam a saúde do servidor: precárias condições de trabalho; insuficiência do qua- dro funcional; turno de 24 horas de trabalho por 72 de descanso; e baixo reconhecimento social do valor do trabalho do servidor. Com isso, o prazer de trabalhar diminui e a tensão laboral aumenta. A sensação de bem-estar no trabalho é baixa e não raro a sensação é de sofrimento. Em razão disso, as enfermidades psicológicas afetam expressiva porção dos servidores do sistema. Por vezes, o grau de infelicidade é tão grande que leva ao suicídio. Concentramos, portanto, nossas observações nesse tema: a questão da saúde psicológica do servidor. Os quatro elementos acima contribuem para a depressão, a angústia ou a ansie- dade do preso. Por fim, ao longo de todas as Unidades, você será solicitado a desenvolver atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. O desenvolvimento destas atividades é impor- tante, porque permite a você refletir a respeito dos temas tratados. Além disso, elas são avaliativas: fique atento para não perder os prazos de realização de cada atividade no AVA. TEMPO DE DEDICAÇÃO AO CURSO O curso Políticas Públicas no Sistema Prisional, com carga horária prevista de 60 (sessenta) horas, exige de você 01 (uma) hora por dia de dedicação durante 08 (oito) semanas. AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO As atividades avaliativas serão realizadas ao longo de todo o curso. Elas serão divididas em questões abertas, fechadas e de interação, totalizando 100 (cem) pontos. A pontuação mínima para aprovação é de 60 (sessenta) pontos. Bom estudo! O autor UNIDADE1POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL UNIDADE 1 13 UNIDADE 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL As políticas públicas correspondem a um direito que está positivado e assegurado na Constituição Federal. O conteúdo da nossa Constituição Federal (CF/1988), assim como em inúmeros outros países, é o produto de conquistas históricas do homem. São conquistas que asseguram ao ser humano ou a um grupo de pessoas contra a ingerência do Estado. A origem remota dessas conquistas está na primeira democracia de que se tem notícia: a democracia ateniense, que é a matriz da democracia moderna. Muitos saberes da Antiguidade também serviram de matriz ou protótipo daquilo que viriam a ser direitos fundamentais. Um expressivo marco dos direitos fundamentais é o princípio da legalidade, cuja origem é apontada com a promulgação da Magna Carta, de João Sem Terra, no ano de 1215, na Inglaterra. Pela primeira vez firmou-se um documento em que o Estado era obrigado a reconhecer direitos em favor de seus governados. FIQUE ATENTO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Na tentativa de organizar a discussão, esta Unidade está dividida em cinco itens: 1. Política: fins e sistema 2. Política criminal e política penitenciária 3. Sujeitos da política penitenciária 4. Finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de liberdade 5. Práticas de alternativas penais 6. Arquitetura prisional – a evolução da arquitetura prisional 7. Modernização do sistema prisional OBJETIVOS Esperamos que você, ao final do estudo desta Unidade, seja capaz de: • Reconhecer a organização das políticas públicas no sistema prisional. • Identificar os sujeitos da política penitenciária. • Compreender as finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de liberdade. • Compreender a organização do sistema prisional. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 214 São exemplos de políticas públicas a educação, a saúde e a habitação, todos reconhecidos na Constituição Federal. Existem, hoje, muitos direitos novos inseridos nas constituições das nações ao redor do mundo. Os juristas costumam classificar estes novos direitos conforme seu surgimento em gerações. Estamos na quarta geração de direitos fundamentais e é aqui que encontramos uma série de novas garantias de todo e cada cidadão contra o Estado, as quais devem ser efetivadas através das políticas públicas. Não estamos nos referindo à política no sentido de “politicagem”, que é uma prática antiética e desviada do bem público, pouco preocupada com o bem-estar da sociedade. Tratamos, aqui, da política no seu sentido original, que deriva da antiga polis grega, onde o trato da coisa pública era uma atividade muito ética e respeitosa. Para o desenvolvimento deste curso faremos uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle – AVA – e suas ferramentasde interação, as quais nos permitem momentos de interação síncrono e assíncrono. Por meio do AVA, compartilharemos nossas dúvidas, saberes, expectativas referentes à questão dos direitos humanos e da diversidade social. Além disso, estarão disponibilizados no AVA outros referenciais teóricos que abordam esta temática. Por fim, ao final da Unidade será solicitado a você que realize atividades avaliativas neste ambiente. UNIDADE 1 15 AGENDA A agenda é um instrumento importante para você planejar melhor sua participação em nosso curso, pois apresenta a sequência de atividades previstas para a Unidade. Marque com um “X” as datas em que pretende realizar as atividades descritas, bem como as atividades já concluídas. Período Atividade Seg Ter Qua Qui Sex Co nc lu íd a Semana De ___/___ a ___/___ 1 Leitura da Unidade 1 do Guia de Estudos. 2 Visualização da Videoaula “Aspectos gerais do sistema prisional” 3 Visualização da videoaula “Modernização do Sistema Prisional” 4 Leitura do texto 01 disponível no AVA 5 Visualização de Vídeo “Arquitetura dos limites – APAC Contagem”. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=9VM9Vy7OsGk 6 Visualização do Vídeo “Ótima aula de políticas públicas” Leitura do Texto Complementar 1: “Resolução nº 09/2011, que trata das novas diretrizes para a arquitetura prisional. Disponivel em: http://www.criminal.mppr. mp.br/arquivos/File/ExecucaoPenal/ CNPCP/2011Diretrizes_ArquiteturaPenal_ resolucao_09_11_CNPCP.pdf 8 Atividade de Reflexão no Guia 9 Atividade Avaliativa no AVA Procure se organizar para concluir estas atividades em duas semanas, conforme cronograma de atividade. Sugerimos uma dedicação diária de 45 (quarenta e cinco) minutos durante os dias úteis. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO Procure fazer uma busca na Internet ou em outras fontes de consulta e depois nos fale se você acha possível o tratamento ético da coisa pública no Brasil. Temos exemplos positivos? Se os temos, então é possível a prática das melhores políticas no Brasil? Como? Pense e espresse suas análises e expectativas a respeito do assunto no fórum no AVA. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 216 1. POLÍTICA: FINS E SISTEMA Em sua dinâmica, a política é um processo de diálogo. Por meio de sucessivos tratos éticos em busca do bem comum, escolhem-se quais são as ações e processos que melhorarão a vida em sociedade, garantindo um direito constitucionalmente reconhecido. A finalidade da política pública é melhorar a vida da sociedade como um todo. Uma política pública não deve ser contraproducente, isto é, não pode ter mais resultados negativos que positivos, sendo que estes devem superar em larga margem a quantidade de resultados negativos. Nesse sentido, a finalidade das políticas públicas de educação consiste em melhorar a qualidade e a quantidade de aquisição de conhecimentos das pessoas para a vida em comum através da educação formal, informal e profissionalizante. Se isso não ocorrer, isto é, se o sistema de educação forma pessoas sem os conhecimentos suficientes e adequados será contraproducente. Já a finalidade das políticas públicas de saúde tem como objetivo melhorar as condições de vida das pessoas por meio da prevenção de enfermidades, bem como curar os cidadãos que vierem a ser acometidos por doenças. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO Você já pensou qual é a finalidade das políticas aplicadas ao sistema prisional? Voltaremos a isso adiante. Por enquanto, dê uma pausa, pense a respeito e escreva um texto de cinco a dez linhas no fórum da unidade no AVA sobre o que concluiu para que possa comparar com o que será exposto mais adiante. Para refletir sobre o assunto, tenha em mente que toda política pública deve melhorar a vida em sociedade. 2. POLÍTICA CRIMINAL E POLÍTICA PENITENCIÁRIA A segurança é um dos direitos que o Estado assegura a todos nós, cidadãos brasileiros. Esta garantia está inscrita numa posição tópica de nossa Constituição Federal de 1988, no Art. 5º, caput. Isso significa que ocupa uma posição muito importante dentre tantos direitos que constam na nossa Carta Maior. Veja o que ela diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”. O significado da expressão segurança é muito amplo; é interpretado com maior ou menor amplitude, mas sempre de modo amplo. Todavia, existe um significado que está fora de dúvidas: o direito à segurança se expressa no direito que todos têm de viver em sociedade sem perturbações severas ou violentas em sociedade. Claro que conviver em sociedade é sempre complicado e exige concessões de todos para que haja paz. Referimo-nos, aqui, àquelas perturbações graves da vida em comunidade, como insurreições, violência e crime. UNIDADE 1 17 A nós nos interessa, precisamente, o direito à segurança como expressão de combate à criminalidade. Todos nós temos o direito de exigir do Estado ações voltadas ao combate contra a criminalidade. As estratégias e ações que o Estado usa para afrontar a criminalidade são chamadas de políticas criminais e estas se desenvolvem nos mais diversos âmbitos e graus de atuação. Podemos, por exemplo, falar em políticas criminais que são aplicadas já no âmbito da escola e da assistência social – sempre as mais eficientes de todas. Ou ainda, podemos ter políticas criminais realizadas através da promulgação de leis, das decisões do poder judiciário interpretando a lei penal, de ações administrativas dos Estados etc. VOCÊ SABIA? O combate contra o crime ocorre de duas formas: por meio de ações preventivas ou por meio de ações repressivas. As ações preventivas tentam evitar que um crime venha a ser praticado e estas devem ser sempre prioritárias. Portanto, em termo de política criminal, o ideal é que os crimes não sejam cometidos. Se houve crime, isso significa que o Estado falhou na etapa mais importante da política criminal, que é a preventiva. As segundas, isto é, as políticas criminais repressivas, atuam depois que o crime é praticado e têm por finalidade: • Identificar o autor do delito; • Encontrar o corpo do delito, isto é, os vestígios materiais que um crime pode deixar; • Obter uma condenação criminal; e • Executar esta condenação, ou seja, dar cumprimento à sentença penal condenatória. Na ponta final dessa política criminal, portanto, existe uma condenação que se deseja ser alcançada e executada. Para que isso seja possível, é preciso que a polí- cia que investiga o crime seja eficiente, bem como que o Ministério Público esteja munido de provas incontestáveis. Na condenação criminal, através da aplicação de uma pena privativa de liberdade, surge um desmembramento da política criminal, que tem praticamente um significado próprio. Trata-se da política penitenciária, que são as ações e os processos realizados para que o encarceramento seja realizado de acordo com os fins socialmente úteis perseguidos pela CF/1988. Note-se que a política penitenciária também pode ser necessária antes da sentença penal condenatória. Isso ocorre, com frequência, nas chamadas prisões provisórias ou cautelares. Vejamos: A regra é que alguém somente seja preso criminalmente após ser considerado POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 218 culpado por um crime, através de uma sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Mas muitos presos não possuem condenação. Eles estão aguardando o seu julgamento, ou seja, são inocentes, pois não foram condenados e estão à espera de sua sentença, que pode ser, inclusive, de absolvição. Esse tipo de prisão é denominada provisória, cautelar, processual, não-penal, ou ainda, não-defintiva.A respectiva população carcerária corresponde aproximadamente 40% dos presos no Brasil e também está sujeita às políticas penitenciárias. Assim, as políticas penitenciárias aplicam-se tanto aos presos que já possuem condenação definitiva e contra a qual não cabe mais recurso, como também aos presos provisórios. PARA REFLETIR Você acha fácil ver numa pessoa presa provisoriamente um inocente, isto é, alguém que não foi condenado e pode ser que não o seja? O que pode ser feito em relação a esta situação paradoxal? E o que pensar sobre aquele indivíduo que está cumprindo pena em meio aberto, por exemplo, em livramento condicional, mas vem a cometer um fato criminoso novo e aguarda preso provisoriamente o seu julgamento por este novo fato? Veja que ele também está condenado definitivamente pelo fato anterior, em razão do qual estava em livramento condicional. Pense nisso! 3. SUJEITOS DA POLÍTICA PENITENCIÁRIA Devido à insuficiente profissionalização e produção de conhecimento sobre as questões criminais no Brasil, existe tendência a acreditar que a política penitenciária é voltada apenas aos presos, definitivos ou cautelares. Não o é. Aplica-se igualmente aos trabalhadores de todo o sistema: agentes penitenciários, agentes administrativos, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, médicos, cirurgiões- dentistas, nutricionistas, dentre muitos. Assim, por exemplo, quando a administração penitenciária adquire materiais ou equipamentos para que os funcionários do sistema trabalhem em melhores condições, isso também é uma política pública. Mas não podemos esquecer que toda política pública tem por meta melhorar a vida em sociedade. Por isso, embora a política penitenciária seja aplicada sobre a população prisional e os trabalhadores do sistema, todos nós somos diretamente afetados por tais políticas. Sendo assim, toda a sociedade é afetada pelas políticas penitenciárias, todos nós sentimos os bons e os maus resultados do que é feito na condução das questões carcerárias. UNIDADE 1 19 PARA REFLETIR Como você acha que a sociedade brasileira é afetada pela política penitenciária? Como você vê a sociedade brasileira sendo afetada pela política penitenciária? Em que extensão isso ocorre? De que modo isso ocorre? Como tem se comportado a mídia em relação ao tipo e extensão dessa afetação social? Pense sobre este assunto, pois ele será importante para o desenvolvimento deste curso. 4. FINALIDADES DO SISTEMA E FINALIDADES DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE Para que você possa entender melhor o que se passa em termos de política penitenciária no Brasil, é preciso que nós façamos um breve excurso sobre as finalidades da pena, isto é, precisamos nos perguntar: Para que serve a pena? Porque se pune alguém? Dizer que se pune para fazer justiça é uma resposta muito simplista e não permite compreender a dignidade do problema prisional. Então vejamos a seguir. 4.1. A pena como castigo Desde a Revolução Francesa o sistema penal passou a ser amplamente criticado, pois até então o sistema era cruel, arbitrário e pouco racional. Após a Revolução, estabeleceram-se as bases que permitiram evoluir em direção a um sistema mais coerente e humano. “A Liberdade Guiando o Povo”, de Eugène Delacroix Até meados do século XIX, defendia-se que a pena não tinha finalidade alguma. Era um castigo, uma retribuição, uma expiação. A pena significava um mal, que era aplicado ao delinquente como retribuição a outro mal, que era o crime praticado por este infrator. Usava-se a expressão “pagar um mal (o crime) com outro mal (a pena)”. Nós chamamos estas teorias de absolutas ou retributivas. Esse pensamento está superado há muito tempo e esta superação ocorreu por uma razão simples: a pena criminal representa o uso legítimo da violência. Ademais, a pena é monopólio do Estado, isto é, uma pessoa em particular não pode aplicar uma pena à outra pessoa. Isso seria vingança privada e não pena. Algo tão importante como a pena criminal não poderia ser destituído de finalidades práticas. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 220 4.2. A pena como prevenção geral A natural reação foi o surgimento de correntes de pensamento que vislumbraram na pena criminal algo que deveria ter uma finalidade útil. Esta finalidade nada mais é que prevenir crimes futuros. Surgem então as teorias relativas da pena. Desde então, estabeleceu-se que a missão da pena é evitar a prática de crimes futuros. No entanto, isso pode ser feito de diversas maneiras. A primeira delas seria através da intimidação. Ou seja, a pena existe porque os cidadãos, sabendo de sua existência, iriam se sentir intimidados e deixariam de praticar delitos. A isso chamamos de “coação psicológica” do potencial delinquente. Todavia, este pensamento durou muito pouco. Ninguém é tão calculista a ponto de, no momento em que decide praticar um crime, pensar na pena que está prevista em um código ou uma lei penal a qual poderia lhe ser aplicada. A segunda forma de prevenir o crime através da pena seria por meio da sua aplicação, isto é, por sua inflição pelo juiz, no momento da sentença penal condenatória, reforçando em todos os demais cidadãos o sentimento de confiança no ordenamento jurídico que fora violado pelo infrator com sua conduta. A pena serviria para prevenir delitos futuros através da mensagem que passa para toda a sociedade, dizendo-lhe que a norma que foi violada pelo criminoso, naquele caso concreto, é válida e deve ser respeitada por todos. Essa é uma teoria muito aceita, mas serve muito mais para o momento da aplicação da pena que para o de sua execução. 4.3. A pena como prevenção especial Algumas teorias afirmaram que a pena é dirigida ao infrator que cometeu o delito no sentido de impedi-lo de voltar a delinquir, isto é, evitar a reincidência. Aqui, a pena não seria mais atuante sobre a sociedade como um todo, mas restringe-se a atuar sobre o autor do crime. O precedente deste pensamento está em Franz Von Liszt e seu famoso Programa de Marburgo (1883). Todavia, somente retomou vigor após a Segunda Guerra Mundial, quando então nasce o ideal de ressocialização através da execução da pena. Franz Von Liszt - Fonte: wikipedia A ressocialização poderia ser feita de duas formas. Uma, obrigando o condenado ao tratamento penitenciário, dispensando-se, portanto, o seu consentimento para ser tratado. Medidas extremas, inclusive, defendiam a ideia de intervenções cirúrgicas no delinquente, a fim de extirpar as tendências criminosas, como lobotomia, castração de criminosos sexuais etc. Já promover a ressocialização através da pena é o modo atualmente mais aceito. Isso ocorre por meio de um processo dialógico com o condenado, dirigido a convencê-lo a agir conforme o direito, isto é, estimulando no condenado as condições para que ele entenda, por suas próprias conclusões, que existem mais vantagens em retornar à sociedade e conviver sem cometer delitos que voltar a praticá-los. UNIDADE 1 21 4.4. A ressocialização como política penitenciária de sobreposição Essa é a finalidade da execução da pena: a ressocialização do condenado, alcançada de modo não impositivo. Todo o sistema e todas as políticas penitenciárias devem estar voltados a esse fim: ressocializar o condenado para que retorne à sociedade em condições de conviver sem praticar novos delitos. Por isso a ressocialização é política penitenciária que orienta todas as demais em tema carcerário. Vamos entender bem isso: não será obrigatoriamente a privação de liberdade que irá convencer o delinquente de que não deve cometer crimes novamente. Pode até ser que isso seja alcançado através da privação de liberdade. Mas o que de fato convence o condenado a agir conforme o direito são os estímulos e proposições que o incitam a refletir sobre sua conduta passada e seus prognósticosfuturos de comportamento. O mais importante é que o tempo de privação de liberdade seja utilizado para que se estabeleça um diálogo funcional com o preso, seja ele condenado ou provisório. No caso do primeiro, essa funcionalidade está nas tentativas de convencê-lo a não agir contra o direito e a ordem. Sendo preso provisório, esse diálogo deverá estimulá-lo a não se deixar contaminar pelo ambiente de privação de liberdade, dando continuidade a todas as atividades que não foram objetivamente limitadas pela decisão judicial que reduziu sua liberdade. O processo de convencimento não é necessariamente realizado verbalmente. Isto é, não se trata apenas de uma conversa entre um psicólogo ou pedagogo e o preso, na qual os primeiros tentam convencer o segundo. Esta é uma visão apequenada da ressocialização. A dialética de ressocialização de convencimento é realizada por meio das mais variadas formas; por exemplo, de assistências sociais e à saúde, por meio do lazer, dos contatos com a família, da realização de projetos sociais, do trabalho edificante, da educação profissionalizante etc. Todos esses recursos acabam por “dialogar” com o preso e são sempre capazes de demonstrar a ele o quão saudável é a sociabilidade e como ela pode ser bem realizada. PARA REFLETIR Você já pensou na seguinte situação: Um conhecido seu lhe diz que “o preso que cometeu tráfico tem mais é que ficar 50 anos na cadeia!”. Como ele está pensado em relação ao tema prisional? Você lhe diria algo nesse momento? O quê? Temos outra situação: Alguém faz algo contra a sua vontade por muito tempo se não estiver bem convencido de que o melhor a ser feito é agir deste modo? Como isso se aplica a ressocialização prisional? Algumas teorias dizem que a pena é castigo e também prevenção. São chamadas teorias ecléticas ou mistas da pena. A crítica que tais teorias sofrem é que algo não poderia, ao mesmo tempo, não ter uma finalidade útil (retribuição do mal com um mal) e ter uma finalidade útil (prevenção). Esta, aliás, é a teoria que o código penal brasileiro adotou. O que você acha? POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 222 5. PRÁTICAS DE ALTERNATIVAS PENAIS Quando falamos em práticas de alternativas penais, trazemos para o nosso curso uma questão mais ampla, pois não se resume à utilização de penas restritivas de direitos em substituição às penas privativas de liberdade. O que precisamos ter em conta nessa parte do nosso curso – e isso é da maior relevância – é o fato de que existem diversas práticas, chamadas alternativas penais, que podem ser tanto quanto ou mais eficientes e úteis que as penas restritivas de direitos. Portanto, o correto é dizer que as penas restritivas de direitos são penas alternativas, mas as penas alternativas não são todas as práticas alternativas de que se dispõe. Veremos adiante as práticas penais alternativas de que o mundo já dispõe, as quais podem ser aplicadas a todos os momentos do sistema de justiça (pré-processual, processual e executiva), começando pela pena restritiva de direito. 5.1. As penas restritivas de direitos Está absolutamente fora de dúvida que a utilização de penas não privativas de liberdade é um recurso fundamental para a melhoria do sistema de justiça penal e, consequentemente, para a vida em sociedade. Tratados internacionais, diversas leis, obras jurídicas, orientações jurisprudenciais já afirmaram por diversas vezes a utilidade e os benefícios da utilização das penas restritivas de direitos ou como costumam ser também chamadas penas alternativas. A utilidade de sua aplicação é resultado da comprovação científica de que toda forma de encarceramento dessocializa o indivíduo em algum grau. Por isso, especialmente para criminosos primários autores de delitos praticados sem violência ou grave ameaça, a medida correta a ser tomada é a aplicação de penas alternativas. São diversas as suas vantagens: • Tal pena reveste-se de seriedade, pois sendo pena, o descumprimento levará à sua conversão em pena privativa de liberdade. • Em algum grau colabora para minimizar o problema da superlotação nas unidades prisionais. • Também evita o contato de delinquentes primários com a nocividade do ambiente carcerário. • O custo financeiro da execução das penas alternativas é bem menor que o da pena privativa de liberdade. • O processo de ressocialização é mais fácil. O que se exige hoje do legislador brasileiro é o aumento das hipóteses de aplicação das penas restritivas de direitos, alargando o espectro de situações em que seja permitida a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, ou aumentando o grau de discricionariedade judicial na aplicação da pena. Veja, por exemplo: foi graças ao engessamento da legislação que o Supremo Tribunal Federal afirmou a possibilidade UNIDADE 1 23 de aplicação de penas restritivas de direitos para alguns casos de tráfico de drogas (para pequenos traficantes, em casos de tráfico eventual e não habitual). As penas restritivas de direitos não se resumem a prestação de serviços à comunidade. Podem ser diversas outras e até mesmo a multa (com a particularidade de que esta não se converte em pena privativa de liberdade se for descumprida). As penas restritivas de direitos podem ser de prestação pecuniária à vítima ou entidade pública ou particular de fins sociais, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou às entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana. A interdição temporária de direitos consiste na proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público, suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo e proibição de frequentar determinados lugares. E a limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 05 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. Aqui, embora tecnicamente seja um modo de privação de liberdade, não tem o mesmo grau impactante das penas de reclusão ou detenção. 5.2. As práticas de justiça restaurativa Já está cientificamente comprovado que existem outras formas de pacificação social, sem que seja necessário recorrer à pena clássica ou ao processo penal clássico. São práticas muito pouco utilizadas no Brasil, ou melhor, quase nada usadas. A escassa utilização de meios alternativos ocorre, principalmente, devido à cultura jurídica nacional. Toda vez que ocorre um delito, a sociedade se vê abalada em algum grau. A cultura jurídica nacional dominante não arreda pé da posição de que a paz social abalada pela prática do delito somente pode ser alcançada através do processo penal clássico e da pena executada em sua inteireza. Contudo, essa é uma visão míope. A justiça restaurativa – que também teve sua utilidade cientificamente comprovada – colabora para: • Redução do número de sentenças e custos nos tribunais; • Facilitação do acesso à justiça; • Aumento da qualidade da justiça; e • Pacificação social. Os procedimentos da restorative justice partem do pressuposto conceitual de que o delito é uma ofensa não somente contra o Estado, mas também contra a vítima individual, concretamente prejudicada pelo ato criminoso. A satisfação em sentido amplo da vítima ajudará a alcançar a paz jurídica afetada pela prática do delito. Não basta a reparação do dano para o restabelecimento da paz jurídica. É preciso também que autor e vítima neutralizem suas animosidades. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 224 As situações em que as vítimas de crimes – principalmente de crimes patrimoniais e crimes de menor gravidade – desejam encontrar-se com seusofensores em presença de um mediador treinado têm aumentado sensivelmente nos Estados Unidos desde 1970, quando foram criados os primeiros programas de mediação vítima-delinquente. Hoje, milhares de vítimas em quase 300 comunidades espalhadas por todos os Estados Unidos utilizam-se dos referidos programas. Em tais encontros não somente se tem conseguido com algum sucesso que os ofensores saibam de que forma o crime afetou as vítimas e respondam a algumas questões formuladas pelas vítimas, mas também se tem conseguido desenvolver um plano de restituição, onde o autor do fato assume responsabilidade na reparação dos danos causados à vítima. No caso do autor do fato não cumprir o acordo de restituição, sofrerá consequências mais gravosas no âmbito penal e processual penal. Sendo um programa de diversion, se é obtido um acordo satisfatório não se inicia o processo, ou este é encerrado caso já tenha sido iniciado. Se o autor do fato vier a descumprir o acordo, o processo judicial retomará o seu curso normal. Tudo impulsiona o autor do fato a assumir a responsabilidade pelo fato praticado, com benefícios diversos à vítima, sem que recorra ao caro e moroso processo criminal. A mediação vítima-delinquente é uma das expressões mais claras da restorative justice. Para o sucesso de tais programas exige-se, contudo, que haja: • Voluntariedade de participação no procedimento conciliatório; • Garantia de sigilo sobre as negociações; • Intermediação feita por um terceiro imparcial; • Seleção dos casos passíveis de serem submetidos ao programa; e • Obrigatoriedade de cumprimento do acordo que vier a ser homologado. Normalmente, o objeto do acordo obtido nos programas é uma soma em dinheiro. Mas pode ser também uma prestação à vítima de caráter diverso ou uma prestação de serviços à comunidade. Permite-se, até mesmo, que o acordo consista no mero pedido de desculpas. Pode ocorrer que a vítima não seja um sujeito individual, uma pessoa física determinada. Assim, por exemplo, nos casos de tráfico de drogas não existe um indivíduo especificamente afetado pelo crime, mas, sim, toda a comunidade. Mas, mesmo nesses casos, a justiça restaurativa se aplica. O procedimento consiste no confronto do infrator com as consequências de seu fato, seguindo-se a prestação de serviços à comunidade por parte do traficante. Veja-se, por exemplo, o caso de um indivíduo detido por tráfico de drogas, sendo classificado como pequeno traficante e que realizou o tráfico de modo não habitual e eventual. Em procedimento de justiça restaurativa, ele frequentará continuamente instituições para tratamento e recuperação de adictos, verá as consequências da venda e uso de drogas, seguindo-se da prestação de serviços à comunidade, preferencialmente em tais instituições ou congêneres. UNIDADE 1 25 Alguém duvidaria que em tais casos o recurso ao sistema de justiça formal seria desnecessário? Que a aplicação de uma pena privativa de liberdade seria desnecessária e contraproducente? A literatura registra casos de pessoas nessas condições que se tornaram dirigentes de missões religiosas ou instituições dedicadas ao tratamento e recuperação de drogados. 5.3. A reparação do dano antes do oferecimento da denúncia O Código Penal brasileiro, em seu Artigo 16, dispõe que “nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. Ou seja, mesmo reparando o dano, o agente é processado e condenado. Apenas se reduz sua pena. Todavia, a sociedade já está madura o suficiente para reconhecer que em tais casos é possível a extinção da punibilidade do infrator, impedindo-se o início do processo penal. Isto é, o agente sequer é processado. Não custa lembrar que, em crimes tributários, o pagamento do tributo pelo infrator, mesmo já iniciado o processo (logo, durante o processo) ou ainda que este processo esteja em grau de recurso (já havendo condenação em primeiro grau, portanto), extingue a punibilidade do agente. Basta pagar o tributo, que o processo criminal se encerra. Essa mesma lógica (qual seja, a reparação do dano em casos de delitos não violentos e de modo voluntário, não necessariamente espontâneo) deve ser levada em conta pelo legislador como prática alternativa ao processo penal e à pena clássica. 5.4. Os mecanismos de suspensão condicional do processo penal Outra prática penal alternativa que é eficiente consiste em suspender o andamento do processo penal já iniciado, por determinado período de tempo, durante o qual o réu fica sujeito a determinadas condições. O período é chamado de período de prova. Caso as condições sejam cumpridas até o final do período de prova, extingue-se a punibilidade do acusado e, consequentemente, extingue-se também o processo. A suspensão condicional do processo é também chamada de sursis processual. As condições a serem estabelecidas durante o período de prova devem ser as mais aptas possíveis para restabelecimento da paz social e, ao mesmo tempo, verificar a seriedade do acusado em manter-se dentro da ordem jurídica. No Brasil essa possibilidade existe. Todavia, da mesma forma que na pena restritiva de direito, as hipóteses de suspensão condicional do processo já poderiam ser ampliadas. Atualmente, o sursis processual está regrado pelo Artigo 89 da Lei nº 9.099/95. Lá está disposto que nos crimes cuja pena mínima prevista for igual ou inferior a um ano, o promotor de justiça poderá propor a suspensão do processo, pelo período de dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado por outro delito ou não tenha sido condenado por outro crime. Ademais, devem estar presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (sursis). É preciso que a proposta seja aceita pelo acusado e seu defensor na presença do juiz. E este, POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 226 ao receber a denúncia, suspende o andamento do processo pelo período estabelecido. Durante este período, o acusado ficará submetido às seguintes condições, sob pena de revogação do sursis processual e retomada do curso do processo: • Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; • Proibição de frequentar determinados lugares; • Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; e • Comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. O juiz também poderá determinar outras condições desde que sejam adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. Ao final do período de prova, sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade do acusado. 5.5. O abreviamento do tempo de pena privativa de liberdade A lei penal prevê diversas hipóteses em que há o abreviamento do tempo de prisão durante o cumprimento de pena. Assim, a pena pode ser reduzida através da remissão pelo trabalho, pelo estudo, através do livramento condicional etc. Contudo, as medidas de abreviação do tempo de pena privativa de liberdade não deve ser monopólio da lei. Para isso existe um juiz presidindo o processo de execução penal. Ele está presente na execução justamente para evitar as disfunções de ressocialização. Faria sentido que o juiz da execução tivesse sua função limitada a ser mero repetidor das disposições legais da execução? Não. As inusitadas e corriqueiras situações da execução da pena de prisão exigem da criatividade humana do juiz que sejam encontradas soluções que atendam ao ideal de ressocialização, sem denegrir a confiança na integridade do sistema de justiça penal. São inúmeras e imponderáveis as situações não previstas em lei que poderão exigir uma decisão judicial de encurtamento da pena privativa de liberdade, abreviamento do tempo de encarceramento,sua suspensão ou até mesmo sua extinção. Assim, seria desarrazoado declarar extinta a pena privativa de liberdade de uma presa condenada que sofreu aborto porque, durante a gestação, houve falta de exames pré- natais de responsabilidade da administração penitenciária? Não teria ela sofrido uma pena muitíssimo mais grave que aquela traçada no título penal condenatório? Certamente. E quanto à suspensão da pena privativa de liberdade por motivo de hiperlotação do estabelecimento penal? O correto não seria suspendê-la até que a administração penitenciária ofertasse condições de cumprimento de pena em conformidade com a lei? No direito italiano, por exemplo, existem dois tipos de suspensão da pena: obrigatório e facultativo. Em ambos os casos, dentre as excepcionais razões que autorizam tal medida, estão as questões graves de saúde do condenado. As hipóteses de suspensão obrigatória são divididas em dois grupos: questões de maternidade e graves condições de saúde. As situações que autorizam a suspensão obrigatória são três: pendência de pedido de graça; UNIDADE 1 27 grave enfermidade física; e mãe com filhos de idade inferior a três anos. Essas soluções não devem causar espanto. Está na consciência da sociedade que a prisão a ninguém ressocializa, e que o sistema de justiça penal tem sua confiabilidade mais comprometida com a ultradesconformidade da execução da pena de prisão que com sua suspensão por motivos de iniquidade ou intensa disfunção da pena. Nos casos em que o cumprimento da pena desde logo se apresente intoleravelmente contraproducente ou desumano, deverá ser feita a substituição por formas não reclusivas de seu cumprimento. Caberá ao julgador a espinhosa missão de encontrar uma forma para que o condenado cumpra a pena em meio aberto, sem que a sociedade perca a confiança na capacidade do sistema de justiça penal. 5.6. As medidas cautelares penais de natureza pessoal Como já dissemos, a prisão de alguém pode ocorrer no curso do processo, ou mesmo antes dele. São os casos de prisão preventiva e temporária. Vamos nos deter na prisão preventiva, cuja duração é muitíssimo superior a da temporária. Enquanto a temporária dura em regra de cinco a dez dias (em casos excepcionalíssimos, 60 dias), a preventiva pode durar mais de um ano. E se já houver sentença condenatória pode chegar a dois anos ou mais. As prisões preventivas são decretadas sempre que necessárias para o resguardo da ordem pública, da ordem econômica, da instrução criminal e da aplicação da lei penal. São motivos cautelares, portanto. Entretanto, a prisão preventiva não pode ser o único remédio para as situações que exigem da justiça a aplicação de uma cautela sobre o indiciado ou réu. Tampouco deve ser o principal. Antes, deve ser o último recurso de que o magistrado lança mão para assegurar a instrução criminal. É o que determina expressamente o Artigo 282, Parágrafo 6º, do Código de Processo Penal. Justamente por isso, o CPP prevê diversas alternativas à prisão preventiva, às quais o juiz deve recorrer, somente aplicando a prisão preventiva caso nenhuma das alternativas seja adequada e suficiente. Essas alternativas são: • Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades. • Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações. • Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante. • Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução. • Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 228 investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos. • Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais. • Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (Art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração. • Fiança nas infrações que a admitem para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou, em caso de resistência injustificada, a ordem judicial. • Obrigação de comparecimento a todos os atos do processo. • Proibição de mudar de endereço. A todas essas alternativas à prisão preventiva pode ser combinada monitoração eletrônica como mecanismo de controle. Note-se, portanto, que a monitoração eletrônica em si considerada não é uma alternativa penal, mas, sim, um mecanismo de controle destas alternativas. 5.7. A transação penal No ano de 1995 foi promulgada a Lei nº 9.099/95, que deu disciplina àquilo que a Constituição Federal chamou de delitos de menor potencial ofensivo. Tais delitos possuem menor lesividade social, menor impacto sobre a sociedade. Por isso, podem ser objeto de transação. Trata-se de um acordo penal e por isso é chamada de transação penal. Atualmente, estão definidos como delitos de menor potencial ofensivo os crimes cuja pena máxima prevista é de dois anos de pena privativa de liberdade (cumulada ou não com multa) e todas as contravenções, independentemente da pena máxima prevista. Nesses casos, o promotor de justiça propõe a aplicação de uma pena não privativa de liberdade ao autor do fato, que poderá aceitá-la ou não. A vantagem é que, caso seja aceita, o processo penal não poderá iniciar-se. Ademais, é uma pena especial, pois não induz em reincidência, não implica no reconhecimento do fato pelo suposto autor, não constará nos bancos de dados da polícia para fins de antecedentes e, em caso de descumprimento, não poderá ser convertida em pena privativa de liberdade, tendo como consequência a retomada do curso do processo. O representante do Ministério Público não poderá oferecer proposta de transação penal caso o autor da infração houver sido condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade por sentença definitiva; tenha sido beneficiado nos cinco anos antecedentes, pela transação penal. Também deverá ser indicado os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias necessárias e suficientes para a adoção da medida. A crítica que se faz é que já poderiam ter sido ampliadas, e muito, as hipóteses de transação penal, alcançando crimes não violentos, cuja pena máxima prevista é maior que dois anos; por exemplo, o furto. UNIDADE 1 29 5.8. A suspensão condicional da pena Afinal, vejamos a mais clássica forma de alternativa penal, que é a suspensão condicional da pena, conhecida como sursis. No sursis, o juiz aplica uma pena privativa de liberdade, através de sentença penal condenatória. Todavia, a execução desta pena fica suspensa por um determinado período chamado de período de prova. Ao final deste período, caso o condenado tenha cumprido determinadas condições, a pena será considerada extinta, sem que o condenado fosse recolhido à prisão. No direito brasileiro a execução da pena privativa de liberdade, pode ser suspensa quando não for superior a dois anos. O período de prova é de dois a quatro anos. São requisitos para a concessão do sursis: • O condenado não ser reincidente em crime doloso. • A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício. • Não seja indicada ou cabível a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos, conformeprevista no Artigo 44 do Código Penal. A condenação anterior à pena de multa não impede a concessão do benefício. Há também a previsão no direito brasileiro do sursis etário. Nessa hipótese, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade ou razões de saúde justifiquem, permite-se a suspensão da execução da pena privativa de liberdade de até quatro anos, a qual poderá ser suspensa por quatro a seis anos. No período de prova o condenado ficará sujeito às condições estabelecidas pelo Juiz. No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana. Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do crime lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência acima pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente: • Proibição de frequentar determinados lugares. • Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz. • Comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. O juiz poderá especificar outras condições, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado. O sursis não se aplica às penas restritivas de direitos nem às multas. Há revogação obrigatória do sursis caso o condenado, no período de prova: • Seja condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso. • Frustre, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetue, sem motivo POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 230 justificado, a reparação do dano. • Descumpre a condição de prestação de serviços à comunidade ou de limitação de fim se semana. Ocorre revogação facultativa, isto é, a critério do juiz, se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. Ao fim do período de prova, sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. ATIVIDADE DE FIXAÇÃO 1) Como você pode ver, não faltam práticas alternativas penais. São várias. Apesar disso, as unidades prisionais continuam superlotadas e a ressocialização é precária. Fale-nos por quais razões isso ocorre. 2) A Sra. “X” é esposa do preso “Y”, condenado a 10 anos de reclusão. Certa oca- sião, “X” foi surpreendida tentando entrar numa unidade prisional, em dia de visita, carregando drogas. Se vier a ser condenada por tráfico, o que geralmente ocorre, sua pena provavelmente será de cinco anos de reclusão, em regime fechado. Seria suficiente, como prática penal alternativa à prisão de “X” que o seu direito de visita, bem como o de “Y” fossem suspensos durante dois ou três anos? Por quê? Vá ao fórum da unidade e apresente suas reflexões. 6. ARQUITETURA PRISIONAL – A EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA PRISIONAL Na Antiguidade, a prisão servia para aguardar o julgamento. Não existia, propriamente, a noção de prisão como pena privativa de liberdade, salvo raras exceções. As penas eram, em geral, cruéis ou de morte. Logo, a ideia de ressocialização não existia. Assim, os espaços destinados ao aprisionamento não necessitavam de uma estrutura maior ou melhor que uma cela, com pequena abertura para o lado externo, a qual permitisse a passagem de ar e um pouco de luz. A primeira arquitetura prisional pensada com cientificidade somente ocorreu no século XVIII. Isso se deveu à importante figura de Jeremias Bentham (1748-1832), filósofo e jurisconsulto inglês, que criou o utilitarismo. Bentham afirmava que o objetivo existencial era alcançar “a maior felicidade possível para o maior número de pessoas”. Logo, este era também o objetivo de toda legislação. A transposição dessa lição para a área penal assumiu relevante aspecto, qual seja, o de que os presos deveriam cumprir a pena em condições dignas e favoráveis à sua recuperação, o que também traria diversos benefícios à sociedade. Bentham preocupou-se com a arquitetura penitenciária. Afirmava que eram necessários dois fatores para uma boa arquitetura prisional: a estrutura e o governo interior, isto é, o regime. Estas duas ideias conjugadas produziram o modelo panóptico de prisão (1789), UNIDADE 1 31 cujo projeto permite que um só vigilante possa observar todos os detentos sem que estes saibam. Tratava-se de um modelo mais econômico que o das prisões da época, uma vez que demandava menos empregados. O modelo panóptico também se aplica a outros locais de detenção, como manicômios e locais de estudo ou trabalho com rigidez de regras comportamentais; por exemplo, escolas, hospitais e fábricas. Uma importante característica desse modelo é a existência de uma torre de observação localizada no pátio central, capaz de permitir a observação de tudo. Os ambientes sujeitos à vigilância situam-se em um edifício anelar, ao redor do posto de observação. Os locais vigiados deste entorno são divididos em celas, cujo tamanho permita duas janelas, sendo uma para a entrada de luz externa e outra voltada para a torre de vigilância, permitindo a visualização do que se passa no seu interior. Bentham também previa o isolamento celular dos presos. A planta abaixo corresponde ao modelo panóptico clássico: Fonte: FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1996. P. 32 POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 232 A imagem a seguir apresenta um presídio modelo: Fonte: Wikipedia: panopticon Nessa mesma época ingressam na ciência penal os fins preventivos da pena. Desde então, aqueles que pensaram seriamente sobre arquitetura prisional, não puderam ignorar o fim útil da pena, o que deveria se refletir na arquitetura. No decorrer dos anos, as técnicas de arquitetura prisional evoluíram significativamente. Diversos modelos foram aplicados ao redor do mundo, cada qual atendendo às peculiaridades do cumprimento de pena e da geografia. Até hoje, muitos aspectos do modelo panóptico são utilizados. 6.1. A unidade prisional como estrutura complexa Uma constante se faz presente em toda a arquitetura prisional desde mais de um século: o estabelecimento penal é uma unidade estrutural complexa. Isso significa que um prédio destinado a ser estabelecimento penal não é usado apenas para o encarceramento. Ele serve também aos funcionários que lá trabalham, pois é o próprio ambiente de trabalho destes profissionais. A mesma estrutura que serve para o cumprimento de pena de detenção para uns, é o ambiente de trabalho para outros. Isso, por si só, já é uma complexidade. O mesmo conceito se aplica a hospitais e manicômios, por exemplo. A ambiência profissional exige instalações próprias para os profissionais, as quais assegurem o exercício pleno da profissão. São necessários todos os espaços específicos e indispensáveis para tal atividade, como banheiros (com chuveiros), vestiário, refeitório etc. Também são necessários ambientes para as atividades administrativas, guarda de materiais de escritório, armazenamento de materiais de limpeza, de armamentos etc. Ainda, é preciso que existam espaços específicos para a prestação das assistências UNIDADE 1 33 asseguradas pela LEP. Assim, exige-se que o estabelecimento penal esteja provido de ambientes para serviços de assistência social, psicológica, jurídica, médica etc. Mas a complexidade da estrutura prisional não se limita a dualidade detento-profissional. Além dela, a unidade prisional deve estar aparelhada para receber os visitantes dos presos. Isso implica na existência de sala de espera, local adequado para anotações e controle típicos de portaria, ambiente para revistas pessoais etc. São espaços destinados à instrumentalização dos contatos externos que a sociedade, familiares e amigos estabelecem com a população prisional. Desse modo, podemos resumir que existem três dimensõesfuncionais dentro de um prédio destinado ao encarceramento de pessoas, ou dito de outro modo: a estrutura de um estabelecimento penal deve possuir ao menos três subsistemas internos. Um destinado ao cumprimento de pena privativa de liberdade em condições de ressocialização. Outro, que objetiva o adequado desempenho das profissões e respectivas funções que atuam na unidade prisional. E um terceiro, relativo à viabilização dos fatores externos de ressocialização (sejam estes fatores pessoas ou objetos) que devem penetrar no estabelecimento penal. Essa perspectiva da unidade prisional é, portanto, de ordem funcional. E conforme exposto, é tridimensional. Certamente, existem outros aspectos que devem estar presentes numa unidade prisional, mas que, bem observados, irão necessariamente se encaixar em um dos três subsistemas funcionais acima referidos. Assim, por exemplo, se afirmarmos que todo estabelecimento penal deve ter uma copa, este ambiente será respectivo à segunda funcionalidade do prédio, isto é, o exercício adequado das atividades profissionais. Alguns ambientes podem ser elegíveis ou não obrigatórios, dependendo da política penitenciária adotada pela unidade prisional. É o caso, por exemplo, da cozinha para preparo das refeições dos presos. A existência desta instalação dependerá da opção de assistência material de alimentação dada ao preso, isto é, se haverá manuseio e preparo de toda a alimentação na própria unidade, ou se ocorrerá fornecimento terceirizado de alimentos. A questão da segurança da unidade prisional é inerente à sua arquitetura. Não deve permitir fugas. As soluções encontradas são as mais diversas, cada uma com as suas vantagens e desvantagens. O que um profissional do sistema precisa ter sempre em mente é que não existe arquitetura prisional a prova de fugas e/ou resgates. Existe, isso sim, estruturas que dificultam muito estas ações. Todavia, não há unidade prisional 100% segura. Isso deve servir, também, para que o profissional esteja sempre atento aos procedimentos de segurança, que devem ser respeitados de modo inexorável. Você consegue perceber, agora, porque a melhor denominação para uma unidade prisional é a de que se trata de uma estrutura complexa? Veja a quantidade de funcionalidades, atividades e contatos que uma mesma unidade deve ter em funcionamento. São diversas e nenhuma delas pode ser considerada simples. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 234 6.2. A Resolução nº 09/2011 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP Atualmente, no Brasil, existe normativa que regula de modo bastante detalhado como devem ser erguidas as novas unidades prisionais. Trata-se de Resolução nº 09/2011 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP. A referida norma dispõe sobre orientações gerais para a construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais em parceria com o governo federal, normas para a apresentação de projetos de construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e para a celebração de convênios com a União, conceituação e classificação de estabelecimentos penais, elaboração de projetos arquitetônicos e projetos específicos, tipologia arquitetônica, programas para estabelecimentos penais, critérios gerais de medição para a elaboração do orçamento, e conceituação dos projetos de arquitetura e engenharia para estabelecimentos penais. A atual normativa agregou novos e importantes elementos às normas arquitetônicas anteriores (Resoluções de 1994 e 2005) e aperfeiçoou a forma de dimensionamento usando o critério de proporcionalidade do uso. Além disso, inseriu novos conceitos como acessibilidade, permeabilidade do solo, conforto bioclimático e impacto ambiental. Também considerou recomendações de outros órgãos governamentais e ministérios, em especial da saúde e da educação, bem como da sociedade que se manifestou por meio de uma consulta pública. A Resolução nº 09/2011 do CNPCP prevê as lotações máximas para as unidades prisionais, isto é, o máximo de vagas que uma unidade prisional deve ter para que seja mantida sua funcionalidade. Ficou assim estabelecido o número máximo de pessoas presas conforme a unidade: penitenciária de segurança máxima – 300; penitenciária de segurança média – 800; colônia agrícola, industrial ou similar – 1.000; casa do albergado ou similar – 120; centro de observação criminológica – 300; cadeia pública – 800. Ademais, ficou estabelecido que “em nenhuma hipótese um módulo de celas poderá ultrapassar a capacidade de 200 pessoas presas”. Isso significa que aquilo que se convencionou chamar de raio, pavilhão ou ala de celas não pode ter capacidade superior a 200 pessoas presas. Também estão previstas situações especiais. Consta na norma que “em todas as penitenciárias e cadeias públicas que possuam celas coletivas, deverá ser previsto um mínimo de celas individuais (2% da capacidade total), para o caso de necessidade de separação da pessoa presa que apresente problemas de convívio com os demais por período determinado (Portaria Ministério da Justiça/DEPEN nº 01, de 27.01.2004) e pelo menos uma cela com instalação sanitária, por módulo, obedecendo aos parâmetros de acessibilidade (NBR 9050/2004)”. No tocante à localização, uma unidade prisional deve estar situada em local que não restrinja a visitação. Isso ocorre porque a pessoa presa deve ser estimulada os contatos não apenas com a família e amigos, mas também com a própria sociedade. Os estabelecimentos penais também devem estar situados em locais funcionais, isto é, não alijados do cotidiano, de maneira que estejam “asseguradas a presteza das comunicações UNIDADE 1 35 e a conveniência socioeconômica”, isto é, que possam ser aproveitados os serviços básicos e de comunicação existentes (meios de transportes, rede de distribuição de água, de energia e serviço de esgoto etc.), bem como possam ser aproveitadas as reservas disponíveis (hídricas, vegetais, minerais etc.) e as peculiaridades do entorno. De maneira geral, os complexos ou estabelecimentos penais não devem situar-se em zona central da cidade ou em bairro predominantemente residencial. Ao mesmo tempo, os estabelecimentos penais “deverão estar localizados de modo a facilitar o acesso e a apresentação das pessoas presas e processadas em juízo”. A normativa em referência se preocupa com a disposição das muralhas e respectivos recuos, vagas de estacionamento para servidores e autoridades, segurança contra incêndios, conforto ambiental projetado conforme a zona bioclimática brasileira, iluminação artificial, instalações sanitárias e elétricas, material para o revestimento de paredes e pisos etc. Ressalvadas as características e fins de cada estabelecimento penal, atualmente está, portanto, estabelecido de modo detalhado como devem ser projetadas as estruturas funcionais inerentes à nova arquitetura prisional, no tocante às instalações administrativas, de almoxarifado, de atuação de estagiários, de serviços (alimentação, lavanderia, manutenção – observando-se que podem ser terceirizados), de convivência, de solário, de refeição, de visitas às pessoas, de visita íntima, de atendimento médico, de atendimento odontológico, de atendimento psicológico, de atendimento do serviço social, de atendimento jurídico, de comunicação reservada entre a pessoa presa e seu advogado, de enfermaria, de alojamento para agentes ou monitores, de alojamento para guarda externa, de berçário e/ou creche, além de instalações religiosas, educativas, laborais e esportivas e de lazer. São consideradas parte das instalações da administração, ainda que não localizados no módulo específico, o alojamento e as demais dependências para profissionais que pernoitam no estabelecimento. O alojamento dos agentes penitenciários situa-se junto à entrada do estabelecimento ou doedifício. O alojamento dos vigilantes externos deverá “estar situado de modo a impedir trânsito de seus componentes dentro do recinto do estabelecimento, ou seu contato com as pessoas presas”. A LEP não traz metragem mínima para celas coletivas. O Artigo 88 da referida lei limita-se a dizer qual é a metragem mínima para celas individuais (6,00 m2). A explicação provável para isso é o fato de que comissão que a redigiu, em 1984, era composta exclusivamente por juristas. Havia um só membro não jurista, um religioso. A comissão de 1984 acabou trabalhando apenas sobre uma planta baixa para celas. A Resolução nº 09/2011, por sua vez, dispõe metragens mínimas para as celas coletivas: POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 236 Capacidade Tipo de cela Área mínima (m2) Cubagem mínima (m3) 01 celas individuais 6,00 15,00 02 celas coletivas 7,00 15,00 03 7,70 19,25 04 8,40 21,00 05 12,75 31,88 06 13,85 34,60 07 13,85 34,60 08 13,85 34,60 Quanto ao local destinado ao banho de sol, deve ser um pátio com diâmetro mínimo de 10,00m e com área de 6,00m2, acrescidos de 1,50m2 por pessoa presa. O pátio de sol poderá ser utilizado em forma de rodízio pelas diversas pessoas presas dos módulos. Veja alguns dos espaços que está normatizado e previsto na Resolução nº 09/2011 do CNPCP: comando de guarda; guarita com instalação sanitária; sala de armas; copa; dormitório da guarda (masculino e feminino); acesso único para a passarela localizado nos muros de segurança de guaritas de proteção; dormitórios dos agentes penitenciários; vestiários; sala de espera da portaria (externa e com bancos); sala de administração e controle; sanitários para visitantes (masculino e feminino); sala de pertences; depósito de materiais de limpeza; portaria de acesso e recepção; vestiário para presos com armários (no caso de presos que realizam trabalho externo); salas de atendimento familiar; central de monitoramento e apoio administrativo; sala para o diretor; sala de reuniões; instalação sanitária do diretor; sala do secretário ou da recepção; sala para o vice-diretor; sala para o prontuário; sala para apoio administrativo; sala administrativa da equipe técnica; almoxarifado central; oficina de reparos e manutenção; eclusa para desembarque de veículos; sala da chefia dos agentes; sala de identificação e biometria; sala de pertences pessoais das pessoas presas; sala de recepção e espera; sala de acolhimento multiprofissional; sala de atendimento clínico multiprofissional; consultório de atendimento ginecológico com sanitário; estoque; dispensação de medicamentos e estoque; cela enfermaria; sanitário para pacientes; solário para pacientes; consultório de atendimento odontológico; sala multiuso; sala de procedimentos; laboratório de diagnóstico; sala de coleta de material para laboratório; sala de raio x; cela de espera; consultório médico; sala de curativos, suturas e posto de enfermagem; cela de observação; central de material esterilizado/expurgo; rouparia; depósito de material de limpeza; sanitários para equipe de saúde; etc. UNIDADE 1 37 ATIVIDADE DE FIXAÇÃO Assista ao Vídeo “Arquitetura dos limites: APAC Contagem” e veja um modelo de presídio que atende a alguns aspectos da Resolução nº 09/2011. Leia a Resolução nº 09/2011 do CNPCP, responda o que você acha que poderia ser melhorado. De que modo? 7. MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL Após o advento da Revolução Industrial, a humanidade ingressou numa via de desenvolvimento vertiginosa. Muitos estudiosos dizem que não estamos mais na era moderna, mas, sim, na pós-modernidade ou na modernidade madura. De todo modo, o que importa frisar é que na atualidade – e já faz algum tempo – a sociedade é altamente heterogênea, os valores são constante e velozmente relativizados, a contracultura é inexorável, o desenvolvimento e o conhecimento tecnológico são objetivos eminentes e perenes, as fronteiras geográficas romperam-se, a lei de mercado se sobrepõe às regras jurídicas, o clássico eixo tempo-espaço rompeu-se etc. Nessa surpreendente sociedade pós-moderna, o dinheiro não é mais sinônimo de riqueza, tampouco a posse de bens imóveis, carros luxuosos etc. Informação é riqueza. Mas não um tipo qualquer de informação: a informação capaz de ser rapidamente transferida e informação de boa qualidade, isto é, que encontra lastro na realidade. Portanto, qualquer sistema que se pretenda moderno deve obedecer a essa lógica. O sistema prisional não foge à regra. A modernização do sistema prisional passa, necessariamente, pelo uso maciço da Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC. Isso implica na informatização de todo o sistema prisional e das instituições com as quais ele se relaciona. Isto é, é preciso também a informatização dos demais sistemas relacionados ao prisional, como o de justiça penal, segurança pública, Ministério Público, OAB, Secretarias de Estado etc. A implementação das medidas necessárias para a completa informatização do sistema prisional exige conhecimentos, procedimentos e tecnologia que não representam novidade, tampouco são especiais obstáculos. Isso não significa que não existiriam dificuldades. Estas existiriam, certamente. Por exemplo, a migração de dados de outros sistemas eventualmente já existentes. Mas mesmo isso não poderia ser seriamente considerado como óbice intransponível. Não há desafio excessivamente desconhecido ou de difícil superação, pois a efetivação da aplicação de TIC ao sistema prisional brasileiro demandará tarefas comuns à implementação de qualquer novo sistema de grande porte. Ou seja, um projeto trabalhoso, mas nada difícil. Os necessários contatos e trocas de informações entre os agentes e instituições que participam da questão prisional exigem, obviamente, adequadas interfaces entre as POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL – VOLUME 238 instituições e órgãos que interagem entre si (varas de execuções penais, Secretarias de Estado afins ao tema, todas as unidades prisionais, Ministério Público, Defensoria Pública, cartórios criminais etc.). Embora volumosos, os tipos de informações a serem trocados entre essas instituições têm formato simples. Os agentes que atuam nos sistemas devem, basicamente, trocar documentos, a fim de que o sistema seja alimentado com as manifestações pertinentes; por exemplo: pedidos de benefícios, incidentes processuais, remoções, andamento de processos criminais, inquéritos policiais, comportamento carcerário do detento, informações sobre a conclusão de sindicâncias que apuram faltas de presos, exame criminológico (quando exigido) etc. Impressiona que o Brasil ainda não tenha um cadastro único de pessoas presas, com seus respectivos históricos criminais e prisionais. A remoção de presos entre unidades prisionais e o acesso ao histórico poderia ser feito por simples leitura biométrica. Bastaria que o preso colocasse seu dedo no leitor para que se tenha acesso a uma enormidade de funcionalidades aplicáveis ao seu encarceramento. Note-se que até não muito tempo atrás não havia controle informatizado do número de presos no Brasil, conforme sexo e situação processual. SAIBA MAIS O Infopen ainda é uma ferramenta relativamente recente. Nele você encontrará dados ainda parciais, mas vale a pena conhecer. Visite a página http://www.infopen. gov.br/ e faça pesquisas e conheça a ferramenta de informações! Seria o adeus a morosidade que a troca de papéis e documentos provoca. Como consequência da aplicação de TIC, o próprio processo de execução de penas seria todo informatizado. Os benefícios para o sistema seriam expressivos, a começar pela redução do número de rebeliões. Como sabemos, com a forma física de tramitação de autos de execução penal, tudo conspira para que, na data do vencimento do benefício do sentenciado, inicie-se demorado processamento
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