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75Rev. Bras. Farm., 90(1): 75-80, 2009 Avaliaçªo das boas prÆticas de manipulaçªo nas farmÆcias com manipulaçªo de CuiabÆ e VÆrzea Grande, Estado de Mato Grosso Good Manufacturing Practices evaluation in compounding pharmacies from CuiabÆ and Varzea Grande, Mato Grosso state Alex Piva Alves; Analu de Moura; Eliezer Richardi Van Neutgem; Juliany Mônica da Silva; Nœbia Santos Cunha; Solange Kazuko Oka & Sílvia Regina Pengo Machado Recebido em 09/6/2008. 1AcadŒmicos de FarmÆcia do 9” semestre da Faculdade de FarmÆcia da Universidade de CuiabÆ. 2Professora Doutora das disciplinas de Tecnologia FarmacŒutica e Controle de Qualidade de FÆrmacos e Medicamentos da Faculdade de FarmÆcia da Universidade de CuiabÆ e orientadora do projeto SUMMARY So as to have good compounding practice in magisterial preparations, the quality control of all process must be ensured, including facilities, equipment, human resources, raw material acquisition, storage, pharmaceuticals prescriptions evaluation, handling, conservation, transportation and preparations delivery. On this direction, every component above are indispensable in compounding pharmacies for assuring microbiologi- cal, chemical and physical-chemical quality of raw materials and finished goods, guarantying the efficacy, safety and reliability of medicines that are dispensed for the population. This study aimed to evaluate the applicability of Good Manufacturing Practices in manipulation pharmacies from CuiabÆ and VÆrzea Grande cities, Mato Grosso state. The survey was conducted based on the Resolution of Directors Collective (RDC 67, 2007) estab- lished by the National Sanitary Surveillance Agency (ANVISA). In relation to this guideline (RDC 67, 2007) a questionnaire was made and used as support for the research in 19 manipulation pharmacies which 18 agreed to participate in the study. The results concluded that most pharmacies are adequate for handling drugs, according to the requirements established by ANVISA. KEYWORDS Compounding, RDC 67, Pharmacy, Quality Control. RESUMO Para se ter Boas PrÆticas de Manipulaçªo em farmÆcias com manipulaçªo, deve-se assegurar o controle de qualidade de todo um processo, ou seja, instalaçıes, equipamentos, recursos humanos, aquisiçªo de matØria-prima, armazenamento, avaliaçªo farmacŒutica da prescriçªo, manipulaçªo, conservaçªo, transporte e a dispensaçªo das preparaçıes. Assim sendo, todos os componentes citados acima realizados nas farmÆcias com manipulaçªo sªo indispensÆveis para assegurar a qualidade microbiológica, química e físico-química das matØrias- primas e produtos acabados, garantindo eficÆcia, segurança e credibilidade aos medicamentos dispensados à populaçªo. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a aplicabilidade das Boas PrÆticas de Manipulaçªo nas farmÆcias com manipulaçªo das cidades de CuiabÆ e VÆrzea Grande no estado de Mato Grosso. A pesquisa foi realizada baseada na Resoluçªo de Diretoria Colegiada (RDC 67, 2007) estabelecida pela AgŒncia Nacional de Vigilância SanitÆria (ANVISA). Com base nessa resoluçªo, foi formulado um questionÆrio submetido a 19 farmÆ- cias de manipulaçªo das cidades de CuiabÆ e VÆrzea Grande, das quais, 18 aceitaram participar do estudo. A partir dos resultados, concluiu-se que a maioria das farmÆcias de manipulaçªo estÆ adequada às exigŒncias estabelecidas pela ANVISA (RDC 67, 2007). PALAVRAS-CHAVE Manipulaçªo, RDC 67, FarmÆcia e Controle de Qualidade INTRODU˙ˆO Aatividade farmacŒutica teve origem na preparaçªo ar- tesanal de medicamentos, posteriormente evoluindo para fase industrial. Nas œltimas dØcadas a atividade da mani- pulaçªo teve uma retomada expressiva ocupando atualmente nœmeros expressivos no mercado comercial. Segundo dados da Anfarmag, representante de 70% das farmÆcias com manipulaçªo do país, em 1998, o setor empregava 8.700 farmacŒuticos no Brasil. Hoje, sªo mais de 15 mil profissionais. A entidade estima que existam no país cerca de 5.500 estabelecimentos especializados em 166/475 FarmÆcia Magistral Pesquisa (Avaliaçªo das farmÆcias com manipulaçªo) manipulaçªo de medicamentos inscritos no Conselho Fe- deral de FarmÆcia (CFF) e 12 mil lojas. Dados do CFF apontam que sªo formados, por ano, 12 mil farmacŒuticos, nas 314 faculdades de farmÆcia exis- tentes no Brasil. E de acordo com o MinistØrio da Fazenda, o mercado de manipulaçªo de medicamentos no país re- presenta 5% em relaçªo ao setor farmacŒutico em geral(7), o que corresponde a um faturamento de 3 bilhıes de reais ao ano, representando 40% do faturamento da Ærea latino- americana(14). Os determinantes sócio-econômicos desse crescimento ainda precisam ser esclarecidos. Entretanto, um fator que certamente contribuiu para a expansªo Ø o 76 Rev. Bras. Farm., 90(1), 2009 fato do setor oferecer medicamentos a preços inferiores aos do produto industrializado(2). A preocupaçªo sobre a qualidade e a segurança dos alimentos e medicamentos vem desde o início das civili- zaçıes. A regulamentaçªo de alimentos nos Estados Uni- dos data dos tempos coloniais e o controle sobre os me- dicamentos se iniciou com a inspeçªo de remØdios im- portados em 1848. As Boas PrÆticas para a Fabricaçªo (BPF) de produtos farmacŒuticos foram elaboradas em 1967 e tiveram a versªo revista em 1975 pelos especialis- tas da OMS (Organizaçªo Mundial de Saœde). No Brasil, a traduçªo parcial da versªo Good Manufactoring Prac- tices, da Organizaçªo Mundial de Saœde, foi editada em 1994, em trabalho realizado por especialistas do MinistØ- rio da Saœde e da Secretaria da Vigilância SanitÆria(16). Assim, as BPF sªo um conjunto de normas e requisitos que foram editados e regulamentados em praticamente todos os países fabricantes de produtos voltados para saœde e alimentaçªo humana(17). No Brasil, a ANVISA, por meio da promulgaçªo da Re- soluçªo de Diretoria Colegiada (RDC 33) assinada em 19 de Abril de 2000, regulamentou as Boas PrÆticas de Mani- pulaçªo (BPM); entretanto, esta foi revogada em 4 de ou- tubro de 2003 pela RDC 210 que determinava a todos os estabelecimentos fabricantes de medicamentos, o cumpri- mento das diretrizes estabelecidas no Regulamento TØcni- co das Boas PrÆticas para Fabricaçªo de Medicamentos. Em 12 de Dezembro de 2006, após a consulta pœblica (20/ 4/2004) e audiŒncia pœblica (24/8/2006), a ANVISA apro- vou um novo Regulamento TØcnico sobre Boas PrÆticas de Manipulaçªo de Medicamentos para Uso Humano em farmÆcias e afins, pela RDC 214/06 e que foi substituída pela RDC 67/07, de 8 de Outubro de 2007, afim de atuali- zar os requisitos necessÆrios para as Boas PrÆticas de Ma- nipulaçªo em FarmÆcias Magistrais. Segundo a RDC 67/07, as BPM sªo regulamentos tØc- nicos que fixam os requisitos mínimos exigidos para exer- cício das atividades de manipulaçªo de preparaçıes magis- trais e oficinais, como: - instalaçıes, equipamentos, recursos humanos, aquisi- çªo e controle de matØrias-primas, armazenamento, avalia- çªo farmacŒutica da prescriçªo, manipulaçªo, fracionamen- to, conservaçªo, transporte, dispensaçªo de preparaçıes, alØm da atençªo farmacŒutica aos usuÆrios, visando garan- tia de sua qualidade, segurança, efetividade e promoçªo do uso seguro e racional(6). Para obtençªo de medicamentos com qualidade, todo processo envolvido na produçªo deve ser monitorado, in- cluindo: controle do meio ambiente, controle da fabricaçªo e controle final do produto acabado(13,18,15). A contaminaçªo cruzada Ø um dos pontos críticos para a manutençªo da qualidade dos medicamentos. Os fatores predisponentes da ocorrŒncia sªo: utilizaçªo de equipamentos e vidrarias mal lavadas, presença de pó suspenso no ar, alØm das con- diçıes relacionadas ao próprio manipulador. O conhecimen- to, disciplina, cumprimento de procedimentos e atençªo para a limpeza e higienizaçªo sªo mØtodos a serem obser- vados para que a contaminaçªo cruzada tenha menor inci- dŒncia(18,7). Umavez que, em Mato Grosso, inexistem dados so- bre o tema, este trabalho visa traçar um panorama da ade- quaçªo das farmÆcias com manipulaçªo da Grande Cuia- bÆ (CuiabÆ e VÆrzea Grande), em relaçªo às Boas PrÆticas de Manipulaçªo de Preparaçıes Magistrais e Oficinais de acordo com o estabelecido pela ANVISA, atravØs da RDC 67/07. MATERIAL E MÉTODOS Com base nas diretrizes da RDC 67/07 (Anexo I - Boas PrÆticas de Manipulaçªo em FarmÆcia) um questionÆrio foi submetido aos farmacŒuticos responsÆveis pelos estabele- cimentos para a realizaçªo da pesquisa direta nas farmÆcias com manipulaçªo das cidades de CuiabÆ e VÆrzea Grande que aceitaram espontaneamente participar do estudo. Antes de receberem o formulÆrio os voluntÆrios assina- ram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O software empregado na anÆlise estatística dos dados foi Excel 7.0. (Tabela I - pÆg. 80). RESULTADOS E DISCUSSˆO O grande desafio das farmÆcias com manipulaçªo, atual- mente, Ø a sobrevivŒncia a longo prazo diante das exigŒn- cias impostas pela ANVISA, atravØs da Resoluçªo de Dire- toria Colegiada (RDC 67). Alguns fatores dificultam a implementaçªo das BPM pelas farmÆcias com manipulaçªo: alto custo, necessida- de de investimento inicial para adequaçªo de Ærea física e aquisiçªo de equipamentos bÆsicos para a realizaçªo dos testes mínimos exigidos, necessidade de treinamento con- tínuo de pessoas, complexidade de algumas anÆlises, en- tre outros(3). A Vigilância SanitÆria fica responsÆvel pela verificaçªo da adequaçªo das farmÆcias aos requisitos estabelecidos pela RDC 67, sendo a fiscalizaçªo realizada por meio de um roteiro de inspeçªo, no qual estªo dispostos os itens a se- rem avaliados de acordo com o risco potencial inerente a cada um. A farmÆcia tem por obrigaçªo submeter todas as matØrias-primas, e por amostragem, os produtos acaba- dos, aos testes exigidos, podendo a farmÆcia realizar ou terceirizar os testes de teor de princípio ativo e pureza mi- crobiológica, quando, nesse caso, a empresa terceirizada precisa estar tecnicamente capacitada para esse fim. É inquestionÆvel a necessidade das farmÆcias disporem de um local apropriado, de pessoal tØcnico qualificado e equipamentos adequados para a realizaçªo do controle de qualidade. Todas as farmÆcias entrevistadas dispıem des- ses recursos. Para a utilizaçªo da Ægua nas formulaçıes, Ø fundamen- tal que ela seja obtida por meio de processos de purifica- çªo, quer por destilaçªo ou deionizaçªo ou sistema de os- mose reversa, a partir da Ægua potÆvel. A limpeza dos siste- mas utilizados para purificaçªo da Ægua requer uma atençªo especial, uma vez que, uma manutençªo inadequada desses equipamentos comprometerÆ a qualidade da Ægua purifica- da. Foi observado que todas as farmÆcias pesquisadas que utilizam sistemas de purificaçªo, realizam a manutençªo e limpeza dos equipamentos. Os resultados obtidos em nosso estudo em relaçªo aos processos de purificaçªo da Ægua estªo demonstrados na Figura 1. Em relaçªo ao tipo de Ægua utilizada verificou-se que nenhuma farmÆcia utilizava Ægua potÆvel para a manipula- çªo de suas formulaçıes. A maioria utilizada como mØtodo de escolha, o processo de destilaçªo. 77Rev. Bras. Farm., 90(1), 2009 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Destilada,DeionizadaeOsmose F re q u ê n c ia (% ) Destilada Deionizada OsmoseReversa DestiladaeDeionizada DestiladaeOsmoseReversa Destilada,DeionizadaeOsmose Reversa ReversaFIG. 1- Processos utilizados para purificaçªo da Ægua nas farmÆcias pesquisadas. De acordo com FERREIRA(9), todos os mØtodos de purificaçªo da Ægua sªo vÆlidos, mas, entre eles, existem algumas peculiaridades. O processo de destilaçªo permite a remoçªo de compostos orgânicos dissolvidos, material particulado e sais ionizados. JÆ, deionizaçªo remove gases dissolvidos e sais ionizados. O processo de osmose rever- sa Ø mais completo, pois garante a eliminaçªo dos gases dissolvidos, compostos orgânicos dissolvidos, material particulado e sais inorgânicos. ANDRADE & et al.,(1) avaliou o controle microbioló- gico de produtos semi-acabados, Ægua purificada, matØ- rias-primas vegetais em GoiÆs. Os resultados desse es- tudo mostraram que a qualidade microbiológica da Ægua deionizada constitui um problema nas farmÆcias com ma- nipulaçªo, pois, 65% das amostras analisadas estavam com limites de carga microbiana acima das especifica- çıes. Na maioria das amostras reprovadas foram en- contrados Bastonetes Gram-positivo nªo-fermentadores de lactose. Outro fator importante na qualidade da Ægua Ø o seu armazenamento. Segundo a ANVISA (RDC 67/07), nªo se deve armazenar Ægua, caso seja necessÆrio que o mesmo seja no mÆximo por 24h em condiçıes adequadas, que ga- rantam a manutençªo da qualidade, incluindo a sanitizaçªo dos recipientes a cada troca de Ægua(6). Dos estabelecimen- tos pesquisados, 83,3% armazenavam Ægua por um perío- do menor que 24h; 5,5% por menos de 48h; 5,5% por atØ uma semana e 5,5% nªo responderam. A qualidade da Ægua deve ser acompanhada periódica e sistematicamente, pois Ø uma das matØrias-primas de maior consumo nos laboratórios farmacŒuticos e um dos princi- pais fatores de desencadeamento de alteraçıes nas formu- laçıes. Esse acompanhamento deve detectar se a Ægua uti- lizada satisfaz rigorosamente as especificaçıes prescritas pelas farmacopØias, tais como: pH, turbidez, cloro resi- dual, etc.(8). A prÆtica do armazenamento por períodos lon- gos Ø desaconselhada, pois pode propiciar a proliferaçªo microbiológica. Para tanto, Ø necessÆrio que a Ægua potÆvel e a Ægua purificada sejam submetidas a testes físico-químicos e microbiológicos, sendo apenas a periodicidade diferente. A Ægua potÆvel deve ser analisada no mínimo a cada 6 meses, jÆ a Ægua purificada deve ser submetida a testes mensal- mente, podendo ser realizados pela própria farmÆcia ou por terceirizaçªo. Tabela II. Os resultados mostraram que a maioria das farmÆcias realiza as anÆlises-físico-químicas e microbiológicas nos prazos especificados pela ANVISA e todas relataram apre- sentar um registro dos testes. A utilizaçªo de equipamentos de proteçªo pessoal tais como, toucas, mÆscaras, luvas, jalecos e pró-pØ sªo indis- pensÆveis para garantia das Boas PrÆticas de Manipulaçªo. Todos os estabelecimentos consultados afirmaram utilizar esses itens, bem como, possuir equipamentos de proteçªo coletiva, a fim de garantir a segurança no ambiente de tra- balho. De acordo com RDC 67, Ø obrigatória a realizaçªo dos ensaios de caracteres organolØpticos, solubilidade, pH, peso e volume, ponto de fusªo e densidade nas farmÆcias com manipulaçªo. Para realizaçªo destes sªo necessÆrios alguns equipamentos e utensílios bÆsicos tais, como ba- lança analítica, pHmetro, determinador de ponto de fu- sªo, estufa, picnômetro, provetas, tubos e bØqueres(12). (Figura 2). Os resultados mostraram que os ensaios simples de qualidade podem ser realizados sem dificuldade na maioria dos estabelecimentos. Segundo a legislaçªo, todos os equipamentos e instru- mentos de mediçªo utilizados devem ser calibrados para ga- rantir medidas corretas e resultados de anÆlises confiÆveis. Essa averiguaçªo deve ser executada por empresa certifica- da, utilizando padrıes rastreÆveis à Rede Brasileira de Cali- braçªo, no mínimo uma vez ao ano ou, em funçªo da fre- quŒncia de uso do equipamento. O registro das calibraçıes realizadas dos equipamentos, instrumentos e padrıes devem ser mantido. Concomitantemente, todos os dias antes do início das atividades diÆrias o estabelecimento deve realizar a verificaçªo dos equipamentos. Este processo Ø feito por pes- soal treinado do próprio estabelecimento, empregando pro- cedimentos escritos e padrıes de referŒncia, com orienta- çªo específica, mantidos os registros. TABELA II FrequŒncia na realizaçªo de anÆlisesfísico-químicas e microbiológicas na Ægua purificada empregada nas farmÆcias participantes do estudo FrequŒncia AnÆlise físico-química (%) AnÆlise Microbiológica (%) Mensalmente 94,4 94,4% Bimestralmente 0 0% Trimestralmente 5,6% 5,6% Semestralmente 0 0% Equipamentos 0 20 40 60 80 100 120 Viscosímetro F re q u ê n c ia (% ) pH Balançaanalítica Picnômetro Estufa Viscosímetro FIG. 2 - Porcentagem de equipamentos e utensílios presentes nas farmÆcias com manipu- laçªo de CuiabÆ e VÆrzea Grande. 78 Rev. Bras. Farm., 90(1), 2009 Observa-se na Figura 3 que houve uma dificuldade no entendimento da questªo formulada. A legislaçªo prevŒ que a verificaçªo deve ser realizada diariamente, enquanto que a calibraçªo anualmente. Dos estabelecimentos estudados, 76,2% relataram realizar as calibraçıes com periodicidade menor que anual. Todas as farmÆcias relataram que man- tØm arquivados seus registros de calibraçıes. Tanto para preparaçªo das fichas de especificaçıes, quanto para determinaçªo de quais sªo ensaios de quali- dade adequada para cada matØria-prima e produto acaba- do Ø imprescindível dispor de material científico como farmacopØias, compŒndios oficiais e outros para consul- tas. Pela Figura 4, presume-se que as farmÆcias com mani- pulaçªo possuem literatura científica adequada para aquisi- çªo das informaçıes necessÆrias no seu cotidiano. Um dado surpreendente Ø que nem todas as farmÆcias demonstra- ram a preocupaçªo de possuir na sua biblioteca as legisla- çıes da ANVISA. As especificaçıes tØcnicas das matØrias-primas, pro- dutos manipulados e materiais de embalagem sªo informa- çıes essenciais que a farmÆcia deve possuir. O estudo mos- trou que 100% dos estabelecimentos afirmaram contŒ-las para todos itens adquiridos e manipulados. A qualificaçªo dos fornecedores de matØria-prima Ø uma etapa dentro do processo de manipulaçªo que merece uma atençªo especial. As farmÆcias de manipulaçªo devem rea- lizÆ-la de maneira criteriosa para, realmente, assegurar a qualidade do material adquirido. Das farmÆcias participan- tes, todas afirmaram realizar controle de qualidade da ma- tØria-prima no ato do recebimento e exigir de seus fornece- dores certificados de anÆlise das matØrias-primas adquiri- das. Na Figura 5 estªo representados alguns dos critØrios utilizados pelas farmÆcias para a qualificaçªo dos fornece- dores. Constatou-se que a maioria das farmÆcias estÆ preocu- pada inicialmente, com a qualidade da matØria-prima ad- quirida por meio da Verificaçªo da Licença de Funciona- mento do fornecedor, emitida pela ANVISA e da Auditoria a Empresa Fornecedora que vŒm sendo realizada pelas as- sociaçıes da categoria. Entretanto, o fator financeiro Ø um outro item relevante, acima atØ, da reanÆlise da matØria- prima adquirida em outro laboratório de controle de quali- dade credenciado. As anÆlises exigidas pela RDC 67 dependem das carac- terísticas físicos químicas das matØriasprimas e produto manipulados preparados, como pode ser observado na Ta- bela III. Para matØria-prima, o nœmero de ensaios Ø redu- zido se aquisiçªo do produto for realizada em fornecedores qualificados. Os resultados da Figura 6 demonstraram que os testes TABELA III Ensaios de Controle de Qualidade Preconizado pela ANVISA Produtos Ensaios exigidos Características organolØpticas, pH, peso, volume, MatØria-prima ponto de fusªo, densidade e avaliaçªo do laudo de anÆlises do fornecedor; Líquidos nªo-estØreis Descriçªo, aspecto, caracteres organolØpticos, pH, peso ou volume antes do envase; Semi-sólidos Descriçªo, aspecto, caracteres organolØpticos, pH, peso antes do envase; Sólidos Descriçªo, aspecto, caracteres organolØpticos e peso mØdio Fonte: Elaborada baseada na RDC 67/2007. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Outros FatoresConsiderados F re q u ê n c ia (% ) CertificadodeReanálise Licençada ANVISA PreçoePrazodeEntrega Auditoria Outros FIG. 5 - CritØrios utilizados pelas farmÆcias com manipulaçªo para qualificar seus forne- cedores. 0 5 10 15 20 25 30 LivroseRevistas LiteraturaDisponível F re q u ê n c ia (% ) Legislação ANVISA FarmacopéiaBrasileira FarmacopéiaPortuguesa Farmacopéia Americana LivroseRevistas FIG 4 - Disponibilidade de literatura científica específica nas farmÆcias. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Anual VerificaçãodosEquipamentos F re q u ê n c ia (% ) Diário Mensal Trimestral* Semestral FIG. 3 - FrequŒncias da verificaçªo dos equipamentos nos estabelecimentos participan- tes. *Nªo houve verificaçªo trimestral (0%). 0 5 10 15 20 25 laudo Testes F re q u ê n c ia (% ) CaracterísticasOrganolépticas Solubilidade pH Peso Volume PontodeFusão Densidade LaudodoFornecedor FIG. 6 - FrequŒncia dos ensaios de qualidade frequentemente realizados nas farmÆcias com manipulaçªo. 79Rev. Bras. Farm., 90(1), 2009 realizados com mais assiduidade, sªo os de mais simples execuçªo que geram informaçıes concretas. Todos os es- tabelecimentos afirmaram possuir Procedimentos Opera- cionais Padrªo para cada matØria-prima e produto acaba- do, realizar controle de qualidade de todas as formas ma- gistrais e oficinais preparadas, alØm de manter o registro do controle de qualidade realizado. A farmÆcia com manipulaçªo pode ter um estoque mínimo das bases galŒnicas utilizadas, porØm deve ser feita uma avaliaçªo mensal de sua pureza microbiológi- ca em sistema de rodízio(6). Das farmÆcias pesquisa- das, somente 50% afirmaram realizar esse ensaio de acordo com recomendado pela resoluçªo. É importan- te salientar que os estabelecimentos que nªo realizam este ensaio podem nªo ter estoque mínimo desse mate- rial ou estar mantendo bases galŒnicas pelo período menor que um mŒs. Para todas as formas farmacŒuticas sólidas preparadas quando for realizado o ensaio do peso mØdio, devem ser calculados tambØm, o desvio padrªo e o coeficiente de va- riaçªo em relaçªo ao peso mØdio. AlØm disso, trimestral- mente Ø obrigatória a anÆlise de teor de, pelo menos, um diluído preparado(6). O resultado sobre esta questªo demons- trou que 24% das farmÆcias submetem as formas farma- cŒuticas sólidas ao ensaio previsto por lei com periodicida- de recomendada. O restante dos estabelecimentos nªo res- pondeu esta questªo. De acordo com o proposto pela RDC 67, as farmÆcias podem terceirizar alguns testes devido à complexidade de realizaçªo, tais como teor de princípio ativo e pureza mi- crobiológica. Analisando-se a Tabela IV, alguns dados confirmam ou- tros jÆ descritos no decorrer do artigo. Em relaçªo ao dose- amento do teor do ativo, dados anteriores demonstravam que 24% dos estabelecimentos realizavam esse ensaio de qualidade. PorØm, na Tabela IV, 61,1% das farmÆcias pes- quisadas disseram realizar o teste no local ou terceirizar. Ressalte-se que os resultados obtidos podem apresen- tar um percentual de erros, tanto devido à omissªo de al- guns dados por parte das farmÆcias ou mau entendimento das questıes pelos entrevistados. CONCLUSˆO Constata-se que a maioria das farmÆcias com manipu- laçªo das cidades de CuiabÆ e VÆrzea Grande, Estado de Mato Grosso, estªo se adequando em relaçªo às Boas PrÆ- ticas de Manipulaçªo estabelecidas pela ANVISA atravØs da RDC 67/2007, visando a manutençªo da eficÆcia, esta- bilidade e segurança dos medicamentos manipulados e das matØrias-primas utilizadas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Associaçªo dos FarmacŒuti- cos Magistrais (Anfarmag), Regional de Mato Grosso, na pessoa da presidente Dra DØbora Ferreira Pinto, pela im- portante colaboraçªo e às FarmÆcias com Manipulaçªo das cidades de CuiabÆ e VÆrzea Grande, estadode Mato Gros- so pela disponibilidade de participar do estudo; à Faculdade de FarmÆcia, da Universidade de CuiabÆ, pelo apoio finan- ceiro. Este estudo teve aprovaçªo do ComitŒ de Ética em pes- quisas da Universidade de CuiabÆ e seguiu os preceitos Øti- cos das diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesqui- sa envolvendo seres humanos, de acordo com a Resoluçªo 196/96, do Conselho Nacional de Saœde. REFER˚NCIAS BIBLIOGR`FICAS 1. ANDRADE, F.R.O.; ARANTES, M.C.B.; SOUZA, A.A.; PAULA, J.R & BARA, M.T.F. AnÆlise Microbiológica de MatØrias-primas e Formulaçıes FarmacŒuticas. Rev. Elet. Farm. 2 (2): 9-12, 2005. 2. ASSOCIA˙ˆO NACIONAL DE FARMAC˚UTICOS MAGISTRAIS (ANFAR- MAG). 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FERREIRA, A.O. Guia PrÆtico da FarmÆcia Magistral. 1“ ed. Juiz de Fora, 2000. 11. FORCINIO, H. Materiais de embalagem: a qualidade do fechamento afe- ta a vida œtil do produto. Pharm. Technol., 3 (1): 20-24, 1999. GENNARO, A.R. Remington: a CiŒncia e a PrÆtica da FarmÆcia. 20“ ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2004. p. 1191-1192. 12. GIL, E.S & ORLANDO, R.M. Controle Físico-Químico de Qualidade de Medicamentos. 2“ ed. Sªo Paulo, Pharmabooks, 2007. 437p. 13. KOROLKOVAS, A. DicionÆrio TerapŒutico Guanabara. Ed.1999/2000. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1999. LEAL, L.B.; SILVA, M. DE C.T & DE SANTANA, D.P. Preços X Qualidade e Segurança de Medicamentos em FarmÆcias Magistrais. Infarma 19: 28-31, 2007. 14. NOGUEIRA-PRISTA, L.N.; ALVES, A.C & MORGADO, R. Tecnologia Far- macŒutica. 4“ ed. Sªo Paulo, Fundaçªo Calouste Gulbenkian, 1996. 15. REVISTA BANAS CONTROLE DE QUALIDADE, Sªo Paulo, 59 (4): 42-41, 1997. 16. ROSENBERG, G.A. ISO 9001 na Industria FarmacŒutica. 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( ) sim ( ) nªo 03. O laboratório de controle de qualidade estÆ equipado com equipamentos ( ) sim ( ) nªo adequados para executar as anÆlises? 04. Qual tipo de Ægua Ø utilizada na farmÆcia para preparaçªo ( ) Ægua potÆvel; ( ) Ægua destilada; das formas magistrais e oficinais? ( ) Ægua deionizada; ( ) Ægua osmose reversa; 05. Existe sistema de armazenamento da Ægua matØria-prima? ( ) sim ( ) nªo 06. Por quanto tempo? ( ) < 24 horas; ( ) < 48 horas; ( ) atØ 1 semana; 07. Sªo realizados testes físico-químicos na Ægua matØria-prima? ( ) sim ( ) nªo 08. Qual Ø a freqüŒncia? ( ) mensal; ( ) trimestral; ( ) semestral; ( ) anual; 09. Sªo realizados testes microbiológicos na Ægua matØria-prima? ( ) sim ( ) nªo 10. Qual Ø a freqüŒncia? ( ) mensal; ( ) trimestral; ( ) semestral; ( ) anual; 11. Existem registros dos testes realizados? ( ) sim ( ) nªo 12. Existe procedimento escrito para limpeza e manutençªo do sistema ( ) sim ( ) nªo de purificaçªo da Ægua? 13. Existem equipamentos de proteçªo individual (touca, luvas, óculos, jaleco, etc) ( ) sim ( ) nªo e coletiva no estabelecimento (chuveiro, lava-olhos, etc)? 14. Quais sªo os equipamentos para anÆlise de controle de qualidade que a farmÆcia possuem? ( ) balança analítica; ( ) pH; ( ) picnômetro; ( ) viscosímetro; ( ) ponto de fusªo; ( ) estufas; ( ) outros ( por favor especificar); 15. Existe programa de limpeza e manutençªo periódica dos equipamentos? ( ) sim ( ) nªo 16. Os equipamentos sªo calibrados? ( ) sim ( ) nªo 17. Existem registros da calibraçªo? ( ) sim ( ) nªo 18. A verificaçªo dos equipamentos Ø realizada por pessoal treinado e utilizando ( ) sim ( ) nªo procedimentos escritos? 19. Com qual freqüŒncia? ( ) mensal; ( ) trimestral; ( ) semestral; ( ) anual; 20. A farmÆcia dispıe de especificaçıes escritas para matØrias-primas, produto acabado ( ) sim ( ) nªo e materiais de embalagem utilizados? 21. Existe literatura especifica na farmÆcia para consulta? ( ) sim ( ) nªo 22. Quais (assinale)? ( ) Legislaçªo (RDC, normas, decretos) Anvisa; ( ) FarmacopØia Brasileira; ( ) FarmacopØia Portuguesa; ( ) FarmacopØia Americana; ( ) Livros, Manuais e Revistas Científicas; 23. As matØrias-primas sªo analisadas no ato de seu recebimento? ( ) sim ( ) nªo 24. É exigido o fornecimento do certificado de anÆlise das matØrias-primas? ( ) sim ( ) nªo 25. Sua farmÆcia qualifica os seus fabricantes e fornecedores? ( ) sim ( ) nªo 26. Quais sªo critØrios adotados para qualificaçªo? (pode assinalar atØ trŒs alternativas) ( ) comprovaçªo de regularidade perante as autoridades sanitÆrias competentes; ( ) preço e prazo de entrega; ( ) auditoria a empresa; ( ) laudo analítico de qualidade por reanÆlise do produto em outro laboratório; ( ) outros (por favor especificar); 27. Quais sªo os testes realizados com mais freqüŒncia? (Pode assinalar atØ 3 testes) ( ) caracteres organolØpticos; ( ) solubilidade; ( ) pH; ( ) peso; ( ) volume; ( ) ponto de fusªo; ( ) densidade; ( ) avaliaçªo laudo de anÆlise do fornecedor. 28. Existem registros das analises efetuadas pelo próprio estabelecimento? ( ) sim ( ) nªo 29. Em sua FarmÆcia existem procedimentos operacionais descritos para realizaçªo ( ) sim ( ) nªo das anÆlises de matØrias primas e produto acabado? 30. Para formas magistrais e oficinais sªo realizados ensaios em todas as preparaçıes ( ) sim ( ) nªo dispensadas? 31. Os resultados destes ensaios sªo registrados as junto as demais informaçıes ( ) sim ( ) nªo da preparaçªo manipulada? 32. No caso das bases galŒnicas, a avaliaçªo da pureza microbiológica Ø realizada ( ) sim ( ) nªo em sistema de rodízio mensal? 33. Para formas farmacŒuticas sólidas (comprimidos e cÆpsulas) os testes de teor ( ) mensal; ( ) trimestral; e homogeneidade sªo realizados com qual freqüŒncia? ( ) semestral; ( ) anual 34. Assinale os ensaios que sªo realizados no próprio estabelecimento: ( ) ensaios físico-químicos da Ægua ; ( ) ensaios microbiológicos da Ægua ; ( ) caracteres organolØpticos; ( ) solubilidade; ( ) pH; ( ) densidade; ( ) volume; ( ) ponto de fusªo; ( ) peso; ( ) teor ( ) anÆlise microbiológicas das bases galŒnicas35. Assinale os ensaios que sªo tercearizados: ( ) ensaios físico-químicos da Ægua; ( ) ensaios microbiológicos da Ægua; ( ) caracteres organolØpticos; ( ) solubilidade; ( ) pH; ( ) densidade; ( ) volume; ( ) ponto de fusªo; ( ) peso; ( ) teor ( ) anÆlise microbiológicas das bases galŒnicas Fonte: Elaborado baseado na RDC (67)
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