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DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA Aula 2: Doc. Fonte - O Boletim de Ocorrência Criminal DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 1 Índice Aula 2: Doc. Fonte - O Boletim de Ocorrência Criminal ........................................................ 2 Introdução .......................................................................................................................... 2 Conteúdo ............................................................................................................................ 3 Documentação fonte de dados da análise criminal ................................................... 3 Composição do boletim de ocorrência ........................................................................ 5 Modelos preditivos de análise ....................................................................................... 14 Tipos de planejamento ................................................................................................... 17 Estratégias de policiamento .......................................................................................... 19 Planejamento na prática ................................................................................................ 21 Avaliação do planejamento ........................................................................................... 30 Atividade proposta .......................................................................................................... 31 Aprenda Mais ................................................................................................................... 31 Referências ....................................................................................................................... 32 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 34 Notas ................................................................................................................................... 40 Chaves de resposta ............................................................................................................. 41 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 2 Dados Criminais na Gestão da Segurança Pública Apostila Aula 2: Doc. Fonte - O Boletim de Ocorrência Criminal Introdução Nesta aula, entenderemos a importância do boletim de ocorrência criminal como principal instrumento de coleta de dados criminais, veremos alguns tipos de boletim utilizados por forças de Segurança Pública no Brasil, conheceremos como sistemas inteligentes podem revolucionar o futuro do policiamento por meio das técnicas de análise preditiva, e veremos os tipos de planejamento e as estratégias de policiamento. Objetivo: 1. Conhecer os tipos de boletins de ocorrência criminal utilizados em algumas forças policiais; 2. Compreender a importância da análise criminal para a melhor distribuição de recursos no planejamento policial. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 3 Conteúdo Documentação fonte de dados da análise criminal Como pudemos ver em nossa aula anterior, os dados a serem analisados podem vir de qualquer lugar, podendo advir de fontes policiais ou até mesmo não policiais. Porém, os registros realizados em sede policial, cujo nome pode variar de uma organização para outra (em geral, é chamado de boletim de ocorrência, ou conhecido simplesmente como BO), ao nosso entender, é a peça mais importante de um procedimento policial: por meio dele uma notícia antes não divulgada torna-se pública para fins investigativos. O BO pode ser entendido como o clamor da sociedade em busca de justiça, pois, muitas vezes, o cidadão que procura um órgão policial, muito antes de querer apurar a autoria do feito, quer apenas ser ouvido e que as suas declarações sejam tomadas a termo para surtirem os efeitos legais. O boletim de ocorrência (BO) é o registro formal elaborado pela instituição policial após a ocorrência de um fato. Faz-se necessário entender o conceito de ocorrência. “Ocorrência policial é todo fato ou ato que necessite da intervenção da polícia militar.” (MOREIRA; ABREU, 2010. p. 18) A Constituição Federal de 1988, no Artigo 144, parágrafo 5º, atribui às polícias militares, dois grandes campos de atuação: “a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”. O primeiro campo é entendido como a vigilância das atividades normais da sociedade e de intervenção naquilo que se apresente como anormal, em geral, um ilícito penal. O policiamento ostensivo, com isso, tem por objetivo inibir práticas infracionais. O segundo campo de atuação, a preservação da ordem pública, é o esforço para manutenção da ordem jurídica, no estado de normalidade, seu restabelecimento quando rompida e seu aperfeiçoamento quando necessário (TELLES, 2014). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 4 Atenção Vários estados disponibilizam o registro também pela internet como um serviço disponibilizado ao usuário que não queira se deslocar até a delegacia para alguns tipos de ocorrência, tais como extravio de objetos e documentos, furto de objetos e acidente de trânsito sem vítima. Embora a contabilização dos BO seja o instrumento pelo qual as estatísticas oficiais são elaboradas, para que se entenda o retrato fiel do universo de crimes cometidos em uma determinada área, a quantificação de outros dados pode ser útil, como é o caso das pesquisas de vitimização. Além disso, a variação das estatísticas oficiais de criminalidade pode estar refletindo flutuações causadas por práticas policiais mais ou menos intensas, assim como pela disponibilidade do acesso do usuário ao sistema de segurança pública, assim como eventos sazonais, crescimento populacional ou implantação de novas formas de policiamento. Essa variação fica bem caracterizada ao se observar o gráfico apresentado, que representa o constante aumento dos registros de ocorrência no estado do Rio de Janeiro, com aproximadamente mais 71 % de ocorrências ao longo dos últimos 12 anos, aumento bem superior ao crescimento populacional (cerca de 12%, conforme censo do Instituto Brasileiro de Geografia – IBGE em 2010). Figura 1 – Número de ocorrências registradas pela Policia Civil do Rio de Janeiro DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 5 Fonte: ISP. Balanço das Incidências Criminais e Administrativas no Estado do Rio de Janeiro – 2013. Disponível em: http://arquivos.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/uploads/BalancoAnual2013.pdf Acesso em: 31 jul. 2015. A recente mudança em alguns estados no sentido de uniformizar o preenchimento do boletim de ocorrência para as polícias Militar e Civil vem ao encontro da necessidade de se acabar com a duplicidade de estatísticas decorrentes de bancos de dados separados. Composição do boletim de ocorrência Existe um padrão de produção de BO que deve ser seguido por todos, dependendo unicamente das normatizações internas das instituições policiais. No ato do preenchimento do BO, o policial responde aos quesitos em um formulário impresso composto quase sempre de campos de questionário fechado, sendo o campo destinado ao histórico da ocorrência um campo de questionário aberto. Geralmente, há uma orientação para o desenvolvimento do texto contendo informações imprescindíveis relacionadas à dinâmica do acontecimento dos fatos, bem como a formulação das declarações da vítima e do agente, depoimentos de testemunhas, observações referentes ao local docrime, entre outras. Nesse tipo de coleta, não há uma estrutura textual rígida a ser seguida, observa-se que há uma abertura para o policial narrar os dados que ele colheu e observou no local da ocorrência. Contudo, vale ressaltar que a observação do local passa pela percepção individual de cada policial. Dificuldade ou comprometimento da elucidação de um fato infracional; Ensejar o afastamento do policial da sua atividade para prestar o devido esclarecimento em juízo; DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 6 Dificuldade de tabulação e tratamento estatístico dos dados; Falha na produção de mapas criminais. A seguir, vamos acompanhar a estrutura geral de um BO. Estrutura geral do boletim de ocorrência (BO) Embora façam parte de um mesmo documento, para facilitar o entendimento didático podemos classificar de forma generalizada a organização de um Boletim quanto às suas partes em: Modelos de boletim utilizados nas diversas instituições policiais A maioria dos estados segue a mesma estrutura de arrumação dos dados, com pequenas diferenças entre eles, contendo mais ou menos variáveis dependendo do entendimento dos setores de planejamento policial acerca do que deve ser importante coletar durante as ocorrências. Figura 7. Modelo de um BO do Estado de Alagoas para o delito de Furto, disponível em http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=160584&e=12, acesso em 18jan2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 7 Figura 8. Modelo de um BO de Homicídio da Polícia Civil do Rio de Janeiro, disponível em http://www.sistemastaticos.com.br/artigos/docfonteanalise.htm, acesso em 18jan2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 8 Figura 9. Modelo de um BO de Ameaça da Polícia Civil do Maranhão, disponível em http://edvaldoreporter.blogspot.com.br/2010/04/pereirinha-e-ameacado- por-donos-de.html, acesso em 18jan2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 9 Figura 10. Modelo de um BO de Ameaça da Polícia Civil do Mato Grosso, disponível em http://www.rdnews.com.br/eleicoes/servidor-denuncia-dilemario- por-agressao-e-ameaca-confira-bo/36698, acesso em 18jan2015 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 10 Automatização das coletas de dados dos BO A extração de dados dos BO necessita ser automatizada para suporte das atividades de análise de dados com foco no planejamento operacional das ações de polícia. Dessa maneira, não há como pensar em preenchimento de BO pelo policial durante o atendimento de ocorrências sem que seja oferecido o suporte necessário à sistematização de dados. Figura 11. Infográfico do atendimento 190 e preenchimento do BO por meio do sistema TIDE1 1 O TIDE, sigla para Teleatendimento Integrado de Demandas Emergenciais, é um núcleo integrador de aplicativos e tecnologias destinadas a dar suporte ao atendimento oferecido pelo Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). O aplicativo contempla todo o processo de atendimento de emergências – do despacho ao preenchimento do Boletim de Ocorrência – com geração de relatórios para fins gerenciais. Desenvolvido a partir de um Termo de Cooperação Técnica entre a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro (SESEG-RJ) e a Geocontrol, o sistema teve como base a realidade Brasileira e integra informações das áreas operacionais das forças emergenciais (Polícia Militar, Bombeiros, SAMU e outras) que, associadas ao sistema de rastreamento veicular Georast e ao computador militar robustecido embarcado Conecta, permite mobilização rápida de todos os recursos necessários ao atendimento eficiente de qualquer fato em grandes cidades e eventos. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 11 A figura acima é o exemplo de sistema para atendimento de emergências implantando no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Geocontrol - http://ideiagrafica.com.br/~geocontr/tide As bases de dados de ocorrências policiais são formadas a partir da extração dos dados nos diversos sistemas de gestão de ocorrências. Tentativa de padronização e criação de um modelo único nacional Os formulários de BO poderão passar a ser padronizados nacionalmente; a ideia seria facilitar o trabalho da polícia e o intercâmbio de informações entre os estados. É o que prevê proposta de lei do Senado que se encontra em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara. Pelo Projeto PLS nº 65/2006, em tramitação conjunta com o projeto PLS nº 227/2012, são várias as informações que deverão constar obrigatoriamente em todos os boletins de ocorrência, e, ainda que não seja possível concluir qual delito foi cometido, deverá ser indicado o tipo provável e registrada a ressalva no campo das observações. A justificativa para a padronização do boletim de ocorrência, segundo o autor, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), atualmente cada estado define o modelo de boletim que entende mais adequado, “isso sem falar na inexistência de regras para preencher o documento”. Dessa situação, frisa o autor, resultam registros deficientes e mesmo incorretos das ocorrências, impossibilitando que se conheça com fidelidade o quadro da segurança pública no país, o que comprometerá a eficácia das ações policiais e dos programas implementados no setor. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 12 “‘A padronização dos boletins permite a elaboração de estatísticas confiáveis e a instituição de um banco nacional de dados sobre segurança pública, a partir dos quais as autoridades podem elaborar planos para reduzir a ocorrência dos delitos’, assinalou a relatora do PLS nº 65/2006, senadora Kátia Abreu (DEM- TO).” (AGÊNCIA SENADO). Sistemas inteligentes – epistemologia Entenderemos como a evolução da tecnologia pode auxiliar os sistemas de segurança pública. Sistemas inteligentes são sistemas que incorporam aspectos habitualmente associados ao comportamento inteligente humano, tais como percepção, raciocínio, aprendizagem, evolução, adaptação, autonomia, interação social e proatividade. Historicamente, esse tem sido o principal foco de interesse de estudo da inteligência artificial; entretanto, o dinamismo do mundo contemporâneo tornou tais características uma necessidade em praticamente todos os sistemas. Com o passar dos anos e o acelerado desenvolvimento tecnológico, sistemas inteligentes estão a se tornando cada vez mais factíveis e já passam a fazer parte do cotidiano do cidadão comum. Adicionalmente, o grande potencial da sua aplicação em diferentes áreas do conhecimento e setores da sociedade está tornando o interesse no seu desenvolvimento cada vez mais interdisciplinar, com contribuições de diversas áreas, não só da engenharia, ciência de computadores e informática, mas também das ciências sociais e humanas. Também pode ser definido como o ramo da ciência da computação que se ocupa do comportamento inteligente ou, ainda, o estudo de como fazer os computadores realizarem coisas que, atualmente, os humanos fazem melhor. O principal objetivo dos sistemas de IA (inteligência artificial) é executar funções que, caso um ser humano fosse executar, seriam consideradas DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 13 inteligentes. É um conceito amplo, que recebe tantas definições quanto damos significados diferentes à palavra inteligência. Hoje em dia, são várias as aplicações na vida real da inteligência artificial: jogos,programas de computador, aplicativos de segurança para sistemas informacionais, robótica (robôs auxiliares), dispositivos para reconhecimentos de escrita à mão e reconhecimento de voz, programas de diagnósticos médicos e muito mais. As aplicações práticas da inteligência artificial para as empresas são muitas. Os produtos com IA foram desenvolvidos para ajudá-lo a racionalizar e gerenciar uma empresa, objetivando aumentar a sua produtividade, bem como colocá-lo à frente dos seus concorrentes com significativo retorno na relação custo/benefício. A robotização, o auxílio a projetos de engenharia e o auxílio à própria programação de computadores são algumas das aplicações práticas da inteligência artificial. Essa tecnologia informática de vanguarda permite a criação de programas mais "inteligentes", entre os quais os sistemas especialistas capazes de tarefas complexas, como a criação de modelos preditivos de análise criminal que possam auxiliar no planejamento otimizado da distribuição de recursos humanos. Entre os temas mais comumente abordados nos periódicos relacionados à inteligência artificial estão: • Sistemas baseados em conhecimento em aquisição de conhecimento; • Conceitos sobre aprendizado de máquina; • Indução de regras e árvores de decisão; • Redes neurais artificiais. • Sistemas fuzzy; • Sistemas neurofuzzy; • Computação evolutiva; DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 14 • Sistemas inteligentes híbridos. • Agentes e multiagentes; • Mineração de dados; • Mineração de texto. Atenção Dentre esses, os que possuem maior interação com a área de segurança pública, devido às suas características e funcionalidades, são os sistemas baseados em lógica fuzzy, redes neurais e mineração de dados. Modelos preditivos de análise Em artigo publicado na Revista CIO de dezembro de 2014, Cezar Taurion, autor de seis livros sobre open source, inovação, cloud computing e big data, aborda modelos preditivos de análise: “O que é um modelo preditivo? A resposta é simples: uma função matemática que, aplicada a uma massa de dados, consegue identificar padrões ocultos e prever o que poderá ocorrer. Prever o futuro sempre foi um desafio e uma busca incessante... Daí a leitura da palma das mãos, a astrologia, etc. Agora, podemos pensar, sim, que é possível fazer previsões bastante razoáveis” (Cezar Taurion). Identificar padrões e tendências do crime baseado em eventos repetitivos no passado com a intenção de desenhar prováveis cenários futuros pode ser o foco de inovação do policiamento preditivo, que representa a versão mais contemporânea de uma linha de filosofia de gestão da segurança pública iniciada há anos atrás com a chamada "polícia comunitária". DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 15 Atenção Entre os conceitos de polícia comunitária e policiamento preditivo estão, na “linha de gestão” aludida, “policiamento orientado por problemas” e “policiamento guiado pela inteligência”. O denominador comum entre todas elas, ao que parece, é a integração de esforços entre a segurança pública e a comunidade. Tais esforços podem ser materializados na troca ativa de informações sobre o crime, criminosos e questões conexas, fruto da construção de um clima de confiança e respeito entre a comunidade e a polícia, com forte fundamento na filosofia e valores da doutrina de Direitos Humanos. O policiamento preditivo vem sendo apresentado na literatura pela máxima “de sentir e responder para prever e atuar”. Se a transposição entre responder e atuar marca uma superação da “reatividade”, algo por ser buscado em relação à “proatividade” tão aclamada no contexto genérico do policiamento comunitário, já a transposição entre “sentir e prever” não parece tão óbvia e de entendimento tão contextual. De fato, o que parece existir de novo e diferencial entre o policiamento preditivo e o policiamento orientado por problemas ou o policiamento guiado pela inteligência é a tecnologia envolvida no processo correspondente de análise de dados para implementação do novo modelo de gestão. O salto qualitativo entre o policiamento guiado pela inteligência e o policiamento preditivo está na maior antecipação proporcionada pelo último deles em relação ao primeiro (possibilitando “atuar” ao invés de apenas “responder”). Na prática, seria como poder antever “pontos quentes” antes mesmo da sua constituição. Na teoria, a localização espaço-temporal desses fatores adversos à segurança pública seria determinável com o concurso de instrumentos DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 16 tecnológicos (mineração de dados e utilização de sistemas de informação geográfica). Trata-se da previsão por intermédio da utilização de modelos probabilísticos que utilizam dados legados do passado e forte modelagem analítica operacional com base em tecnologias para projeção de cenários, já existentes em áreas aparentemente distantes da gestão da segurança pública, caso da epidemiologia médica, segurança bancária e inteligência financeira. É no atual contexto da Tecnologia da Informação (TI) que tais “modelos preditivos” estão sendo elaborados e materializados, apesar de não haver ações concretas no cenário brasileiro, com suas possibilidades de acerto sendo paulatinamente incrementadas em direção a um teoricamente possível, mas quase que certamente inalcançável 100% em termos práticos. Com tudo isso, a diferença probabilística entre o “antes” e o “depois” pode fazer a diferença entre “responder” e “atuar”. A seguir, veja como é realizado o planejamento de ações policiais. Planejamento de ações policiais Segundo Tavares (1991, p. 68), planejamento pode ser definido como: “o conjunto previamente ordenado de ações com o fim de alcançar os objetivos, compreendendo a alocação de recursos humanos, materiais e financeiros, e procedimentos de avaliação”. O processo de planejamento compreende uma ampla faixa de atividades, em toda a extensão, que vai do sentimento inicial de que algo precisa ser feito até a decisão firme sobre quem fará, o que e quando. Enfim, o planejamento não é algo que se faça uma só vez, mas um processo que precisa ser repetido com regularidade. O elemento importante não é o plano, mas sim a atividade criativa de planejar. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 17 Tipos de planejamento Segundo Oliveira (1998), são distinguidos três tipos de planejamento nos grandes níveis hierárquicos: estratégico, operacional e tático. Planejamento estratégico É conceituado como um processo gerencial que possibilita estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa, com vistas a obter um nível de otimização na relação da empresa com o seu ambiente, sendo, normalmente, de responsabilidade dos níveis mais alto da empresa e dizendo respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção dos tipos de ação a serem seguidos para a sua consecução, levando-se em conta as condições externas e internas à empresa e sua evolução esperada. Planejamento tático Tem por objetivo otimizar determinada área de resultado e não a empresa como um todo. Portanto, trabalha com decomposições dos objetivos, estratégias e políticas estabelecidas no planejamento estratégico, sendo desenvolvido em níveis organizacionais inferiores e tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia predeterminada. Planejamento operacional Pode ser considerado a formalização,principalmente através de documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implantação estabelecidas. Nessa situação, têm-se, basicamente, os planos de ação ou planos operacionais que correspondem a um conjunto de partes homogêneas do planejamento tático. O planejamento operacional se caracteriza pelo detalhamento com que estabelece as tarefas e operações, pelo caráter imediatista, focalizando apenas o curto prazo, e pela abrangência local, abordando uma tarefa ou uma operação a ser desenvolvida pela execução. Ele é constituído de uma infinidade de planos e ordens que proliferam dentro das organizações com o intuito de DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 18 otimizar e maximizar resultados Embora não exista uma linha divisória perfeitamente definida a partir da qual o gestor público possa efetuar uma distinção nítida entre essas três modalidades de planejamento, cabe destacar que o uso das estatísticas criminais pode ser considerado tanto no planejamento estratégico, como no tático e no operacional. Na verdade, entende-se a utilização das estatísticas criminais como um processo que ocorre nestes três níveis de planejamento. Desde o policial que atua na rua até a figura do analista criminal e do gestor tomador de decisão, a utilização do conhecimento gerado pela análise criminal depende da incorporação do seu entendimento como uma fonte de dados passível de ser utilizada nas tecnologias disponíveis de combate ao crime. Isto é, pode envolver mais que questões técnicas, mudanças no ambiente organizacional, e consequentemente da cultura, dos próprios profissionais que lidam com a segurança pública. Portanto, acredita-se que o discurso governamental na direção de uma mudança de paradigma voltado para o policiamento preventivo e a utilização de tecnologias no combate a criminalidade deve estar acompanhado de ações que garantam as condições materiais a este uso e que visem minimizar as resistências que podem ser encontradas na prática. Porém, como em qualquer situação policial tradicional, a simples presença policial é insuficiente para o combate eficaz da criminalidade. Para se conseguir os resultados desejados é necessário conseguir o apoio da comunidade. Quando os níveis de criminalidade aumentam, numa área geográfica, a resposta imediata dos responsáveis pelo planejamento policial é a de reforçar o policiamento dessa área. Este esforço visa sobretudo a prevenção de novas situações e a detecção de ocorrências criminais. Infelizmente, constata-se que, DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 19 tem um impacto pouco significativo na redução da criminalidade, já que os criminosos não deixam de cessar a atividade criminosa, apenas deslocam-se geograficamente para outra área. Entendido o planejamento, vamos acompanhar as estratégias de policiamento Estratégias de policiamento Em termos operacionais, a atuação policial desagrega-se em três vertentes estratégicas de atuação para o combate à criminalidade Atenção A inteligência policial favorece a predição de perigos e o afastamento de condutas desviantes socialmente alarmantes e facilita a gestão de incidentes na via pública. Condutas desviantes ou comportamentos divergentes são as ações daquele que se desvia das regras de um grupo (estando fora da norma, fora dos padrões socialmente estabelecidos pelas leis). A) Policiamento tradicional ou focado É o tipo mais comum de policiamento em todos os estados brasileiros, evidenciado pelo uso de radiopatrulhas como fundamentais para as ações reativa e preventiva da polícia, por meio do acionamento para atendimento de emergências. Por vezes, essa modalidade é mais reativa por atuar após a ocorrência do crime ou na tentativa de pôr em execução os resultados de uma investigação, cujo objetivo é realizar prisões, como é o caso das abordagens para cumprimento de mandado de prisão. B) Policiamento comunitário ou de proximidade (neighborhood and community policing – NCP) DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 20 i. Filosofia de uma organização focada em trabalhar junto a comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças; ii. Exige que todos ligados à polícia possam traduzir essa filosofia em prática; iii. Que a polícia possa transformar seus membros em agentes de polícia de proximidade; iv. O papel do agente de polícia de proximidade deve possibilitar a criação de uma sinergia de confiança mútua com a comunidade por meio de um contato contínuo e sustentado v. Implica em uma nova forma de contrato social que ofereça a esperança de que a polícia pode ser mais que vigilantes da comunidade; vi. Reúne o papel reativo da ação policial tradicional ao elemento preventivo de proteção à vida; vii. Desenvolve novas formas de proteção à vida e aos grupos mais vulneráveis; viii. Promove o uso da tecnologia, mas por outro lado acredita que nada substitui o que humanos dedicados, trabalhando e dialogando em conjunto podem conseguir (comunidades de prática2); ix. Deve concretizar a integração dos Agentes de Polícia de Comunidade no papel de especialistas na ligação entre a polícia e as pessoas servidas; x. Proporciona um serviço à comunidade com características descentralizadas e personalizadas, assume que a polícia não pode impor ordem na comunidade a partir de fora dela, mas que as 2 Wenger & Snyder (2000), “as Comunidades de Prática (COP´s Communities of practice), são novas formas organizacionais para a criação de conhecimento e têm como características o fato de serem: Informais, movidas pelo desejo de partilhar saber especializado, definirem a sua própria agenda, encontrarem um formato próprio, sustentadas pelo interesse e paixão dos participantes. Estas comunidades ao interagirem num ambiente de aprendizagem criam benefícios para os participantes e para a própria organização.” DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 21 pessoas devem ser encorajadas a pensarem na polícia como um recurso que podem usar na ajuda à resolução de problemas que preocupam as comunidades atuais. C) Policiamento orientado para os problemas (problem-oriented policing – POP) Define estratégias e programas de redução da criminalidade (Programa de Apoio aos Idosos, Escola Segura, Operação Natal etc.). Goldstein (1984), pioneiro no policiamento orientado aos problemas, reconhece que identificar claramente os problemas é uma tarefa difícil, pelo que propõe o processo IARA para auxiliar a análise dos problemas (uma concepção da resposta adequada, que pode ou não ser de natureza policial) e a avaliação, de modo a verificar se a resposta é a mais apropriada para um problema concreto. D) Policiamento orientado pelas informações ou pela inteligência (intelligence led policing – ILP) Nesse caso, dados do passado são analisados para elaborar novas estratégias de atuação. É muito exigente em termos de meios tecnológicos e qualificação dos recursos humanos, sendo também o que apresenta os melhores resultados por ter uma abordagem tanto preventiva como repressiva. Ratcliffe (2003, p. 3) defende uma concepção do modelo de policiamento orientado pelas informações como um processo contínuo e permanente de interação entre as informações, os responsáveis pelo planejamento operacional (gestores policiais) e o ambiente criminal da seguinte forma: Planejamento na prática Vamos analisar os dados da criminalidade na capital do estadodo Rio de Janeiro por meio de informações disponibilizadas pela Policia Civil, a título de exemplo da utilização das estatísticas criminais no planejamento da distribuição de policiamento. Veja a tabela a seguir e acompanhar o restante do conteúdo sobre planejamento na prática –, veja a comparação do delito de homicídio doloso DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 22 nos meses de dezembro de 2013 e dezembro de 2014 nas Áreas Integradas de Segurança Pública da capital do estado do Rio de Janeiro. A seguir, acompanhe como é avaliado o planejamento. AISP 2013 2014 DIF ABS % DIF 27ª AISP – Santa Cruz 13 18 5 38,5% 31ª AISP – Barra da Tijuca 0 3 3 3,0 05ª AISP – Centro 2 4 2 100,0% 03ª AISP – Méier 10 11 1 10,0% 19ª AISP – Copacabana 0 1 1 1,0 23ª AISP – Leblon 0 1 1 1,0 04ª AISP – São Cristovão 8 8 0 0,0% 09ª AISP – Rocha Miranda 18 18 0 0,0% 17ª AISP – Ilha do Governador 4 4 0 0,0% 06ª AISP – Tijuca 4 3 -1 -25,0% 16ª AISP – Olaria 11 10 -1 -9,1% 02ª AISP – Botafogo 2 0 -2 -100,0% 14ª AISP – Bangu 16 14 -2 -12,5% 18ª AISP – Jacarépagua 12 9 -3 -25,0% 22ª AISP – Maré 5 2 -3 -60,0% 41ª AISP – Irajá 25 19 -6 -24,0% Total Geral 139 131 -8 -5,8% Fonte: Dados da PCERJ – Processado pelo autor Observamos que as áreas encontram-se classificadas segundo os valores da diferença absoluta entre o último período e o período anterior, assim, os que obtiveram maior aumento, possuem maior destaque no topo da tabela. Essas áreas merecem maior aprofundamento na análise por possuir maior concentração percentual das diferenças absolutas. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 23 Porém, uma outra forma de analisar e priorizar os problemas seria organizar as áreas utilizando outra classificação, como por exemplo, pelos valores do último ano, conforme abaixo: A ordem de classificação da tabela ao lado, permite identificar as áreas que provavelmente possuem maior histórico de delitos, evidenciado pelo volume de casos. Observa-se que somente a 27ª AISP – Santa Cruz se repete no destaque das duas tabelas, permitindo concluir que essa área possui volume elevado de casos e na comparação estava entre as que acumularam maior aumento percentual, o que chama mais atenção para o problema. O processo analítico que orienta a tomada de decisão nesse caso deverá buscar as soluções dos problemas que desenham as características dessas áreas. Em outra análise, segundo o princípio de Pareto3, mais conhecido como a regra 80/20, estas áreas no interior do círculo são as que possuem maior concentração de problemas e correspondem a 20% das áreas em análise. Outra forma de visualizar seria utilizando um diagrama de Pareto como no gráfico a seguir, onde é possível observar que 53% dos casos, correspondem as áreas marcadas. 3 O princípio de Pareto, também conhecido como regra 80/20, estabelece que 20% das causas são responsáveis por 80% das consequências. O Diagrama de Pareto é uma técnica estatística que auxilia na tomada de decisão, permitindo identificar os problemas que merecem maior prioridade na solução AISP 2013 2014 41ª AISP 25 19 09ª AISP 18 18 27ª AISP 13 18 14ª AISP 16 14 03ª AISP 10 11 16ª AISP 11 10 18ª AISP 12 9 04ª AISP 8 8 37ª AISP 9 6 17ª AISP 4 4 05ª AISP 2 4 06ª AISP 4 3 31ª AISP 0 3 22ª AISP 5 2 19ª AISP 0 1 23ª AISP 0 1 02ª AISP 2 0 Total Geral 139 131 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 24 Baseado na análise dos dados e gráficos obtidos, podemos concluir que a melhor distribuição de policiamento, de forma proporcional, seria aquela que levasse em consideração as maiores concentrações de casos, e ainda, tivesse complementação nas informações de inteligência que auxiliassem a compreender a motivação para os delitos, agindo nas suas causas. Por isso a importância, na identificação do problema e na análise, buscarmos nos eventos repetitivos os padrões, coincidências e tendências para o crime que permitam otimizar a atuação policial. Veremos a seguir um exemplo disso, em um trabalho realizado em uma das cidades mais violentas do Pará no ano de 20134, verificou-se a seguinte série histórica. O pesquisador conclui que a importância do problema analisado é verificada comparando-se as taxas locais com as regionais e a do país, dessa forma, contextualiza que o Brasil vem experimentando um aumento exponencial de suas taxas de homicídio. “Atualmente, os assassinatos já são a principal causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos, superando qualquer doença ou causa externa e se consolidando como um gravíssimo problema não somente de segurança, mas de saúde pública do Brasil (ZILLI;VARGAS, 2012). 4 SILVEIRA JUNIOR, Roberto Silva da – Homicidio em Marabá: a desinformação na construção do perfil da vítima, do agressor e do delito – 2013. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 25 Em 2010 o ranking de homicídios no Brasil foi liderado pelo estado de Alagoas, sendo registrados 2.226 homicídios, que equivalem a uma taxa de 71,3 mortes por 100 mil habitantes. Nesse mesmo ano, o estado de São Paulo apresentou a menor taxa de homicídios dos últimos tempos, com o registro de 4.320 mortes, o que corresponde a 10,47 homicídios por 100 mil habitantes (GOMES; LOCHE; 2011). Minas Gerais alcançou a taxa de 19,8 homicídios para cada 100 mil habitantes, tendo como meta para o ano de 2011 o índice reduzido para 14,58 homicídios para cada 100 mil habitantes (SOUZA; REIS; 2006).” (SILVEIRA JUNIOR, 2013) Em sua análise comparativa verifica que Marabá vem apresentando taxas de homicídios alarmantes e assim define o problema. “Em 2010, a taxa foi de 75,32 mortes por 100 mil habitantes, superior à alcançada no estado de Alagoas; em 2011, foi de 85,88 mortes por 100 mil habitantes e 77,59 mortes por 100 mil habitantes em 2012. Marabá apresenta a taxa média de homicídio, aproximadamente 5 vezes maior que Belém, a capital do estado, que registrou em 2010 a taxa de 15,79 mortes por 100 mil habitantes.” (SILVEIRA JUNIOR, 2013) Um componente importante na análise dos casos é a busca da motivação para o delito, o que nem sempre é possível entender, mas que nesse caso, apesar de 48,47% dos casos não haver informação, foi possível verificar que a maioria dos homicídios foi motivada por ódio ou vingança. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 26 A medida que avança na busca de soluções no processo analítico verifica que o bairro onde há a maior concentração de delitos de homicídio é o bairro Nova Marabá com 37,81% dos casos. E que essa concentração pode ser justificada pelo horário de funcionamento de bares e festas, que em sua maioria, funcionam aos finais de semana, começando o expediente no final da tarde e encerrando pela madrugada. No período da noite o bairro Nova Marabá se destaca pelos muitos bares, danceterias e boates tendo um volume considerável de atendimentos a partir de sexta-feira até domingo e principalmente nos meses de junho a outubro. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 27 Uma característica que fica evidente na análise do bairro Nova Marabá está na desordem social relacionada à ocorrência de invasões que já nascem populosas, cita o caso das invasões Nossa Senhora Aparecida “Coca-Cola” e Araguaia “Fanta”. Acerca dessa relação entre urbanização e violência, Beato Filho(2012, p. 70) afirma que o fenômeno de maior estreitamento associado ao crescimento dos homicídios no Brasil é a urbanização. A rigor, poder-se-ia dizer que os crimes violentos são fenômenos urbanos associados a processos de desorganização nos grandes centros urbanos, nos quais os mecanismos de controle se deterioram. O principal meio empregado para a realização dos homicídios foi a utilização de arma de fogo (71,53%). A elevada quantidade de casos de homicídio com o uso de armas de fogo evidencia que a maior fiscalização sobre o uso indiscriminado de armas pode vir a ter um impacto importante para a redução da mortalidade. A maioria dos homicídios registrados no município de Marabá ocorreu em via pública (75,34%). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 28 De forma resumida, o perfil do delito de homicídio representado pelo organograma a seguir, demonstra que a distribuição do policiamento deve levar em conta o desenho do cenário do crime, onde se constatou que a maioria dos casos se concentrou no bairro Nova Marabá, motivado por ódio ou vingança, principalmente nos fins de semana à noite. A razão do número de homicídios entre homens e mulheres foi de aproximadamente 16 óbitos masculinos para cada óbito feminino. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 29 Entre a população masculina predominam os casos de agressões por estranhos, ocorridos no espaço público e relacionadas, em grande parte, com a criminalidade urbana. “De acordo com Beato Filho (2012, p. 152), as chances de morrer, vítima de homicídio quando se é um homem jovem habitante da periferia, chega a ser de até trezentas vezes mais do que para uma senhora de meia idade que habita bairros de classe média. É o que fica evidente nos casos de homicídio de Marabá, e pode ser descrito no perfil da vítima, em sua maioria do sexo masculino, jovens de 18 a 24 anos.” (SILVEIRA JUNIOR, 2013). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 30 Avaliação do planejamento A avaliação dos resultados do planejamento, checando o impacto das ações de policiamento, deve ser a etapa final do processo analítico e tem como objetivo realimentar novas estratégias de emprego. Consiste na identificação de aspectos e no levantamento de hipóteses que podem afetar positiva ou negativamente o planejamento. Em geral, a redução da criminalidade é o primeiro tipo de avaliação que pode traduzir a eficácia de determinada ação de policiamento. Contudo, a redução pode ter ocorrido por outros motivos diversos, como a não realização de algum evento rotineiro, o que não tem relação alguma com o planejamento, e isso deve ser levado em conta na análise de impacto. Atenção Além disso, de nada adianta a redução da criminalidade se a população continua com medo e não percebe tal diminuição. O modo como as pessoas se informam sobre o crime, o tipo e a quantidade de crimes apresentados pelos meios de comunicação, o grau de confiança na polícia, o aspecto físico da comunidade e muitos outros fatores influenciam esse sentimento, além de taxas de criminalidade. Para Beato (2000), o resultado de um programa ou estratégia bem sucedida de ação policial será, muitas vezes, o não acontecimento de algo. A ausência de crimes pode ser justamente um dos melhores indicadores da excelência da atividade policial. No entanto, esse autor relata que os gerentes de polícia estão apegados a indicadores de produção, como apreensão de armas, número de prisões efetuadas e operações realizadas; essas informações levariam, portanto, a uma avaliação equivocada se operações de apreensões e prisões tiverem sido dirigidas a locais e pessoas erradas. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 31 Somente com a avaliação será possível fechar o ciclo de emprego das ferramentas de análise criminal no planejamento das ações de segurança pública, oportunidade em que saberemos se houve ou não a efetiva aplicação dessas ferramentas na maximização dos resultados. Atividade proposta Vimos no decorrer das aulas que a filosofia de uma organização focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. Assim, elabore um projeto de ação de segurança pública, pautado por tal filosofia. Chave de resposta: Lembre-se que o policiamento comunitário ou de proximidade (neighborhood and community policing – NCP) é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade, baseado em premissas ou mandamentos, sendo sua característica basear-se em uma filosofia organizacional focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre os projetos PLS, acesse os links abaixo: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=7707 http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=10632 Para saber mais sobre modelo preditivo, acesse o link abaixo: http://cio.com.br/tecnologia/2014/12/15/o-que-e-um-modelo-preditivo/ DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 32 Referências BEATO, Cláudio C. Informação e desempenho policial. In: IV Seminário Brasileiro do Projeto Polícia e Sociedade. 2000. BEATO, Claudio C. Crime e cidades. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2012. CARTER, D.; RADELET, L. The Police and the Community. Prentice Hall, 1999. JANUZZI, Paulo. A Importância dos Indicadores na Elaboração de Diagnósticos para o Planejamento do Setor Público. In: Indicadores de Desempenho em Segurança Pública, Coleção Segurança, Justiça e Cidadania, Brasília, ano II, n. 4, 2011. GOLDSTEIN, H. Problem-Oriented Policing, Nova York: McGraw-Hill, 1990. MOREIRA, Juceli dos Santos; ABREU, Luíz Fernando Silveira. MBPO – Manual Básico de Policiamento Ostensivo. 2. ed. Porto Alegre: Polost, 2010. OLIVEIRA, D. P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1998. OLIVEIRA, J. As Políticas Públicas de Segurança e os Modelos de Policiamento. Dissertação de mestrado inédita. ISCTE: Departamento de Sociologia, 2001. RATCLIFFE, J. Chasing Ghosts? Police Perception of High Crime Areas: British Journal of Criminology, 2001. REZENDE, S. O. Sistemas Inteligentes: Fundamentos e Aplicações. Manole, 2005. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. 27 ed. São Paulo: Cultrix, 2006. SILVA, Ronaldo. Emprego das ferramentas de análise criminal no Planejamento Operacional nos Batalhões da 12ª Região da Polícia Militar: Análise e Diagnóstico. Monografia de curso de Especialização de Segurança Pública. Academia de Polícia Militar; Fundação João Pinheiro: Belo Horizonte, 2005. TAVARES, Mauro Calixta. Planejamento estratégico: a opção entre sucesso e fracasso empresarial. São Paulo: Harbra,1991. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 33 TELLES, José Carlos da Silva. Ocorrências policiais militares: Intenção dos enunciados no histórico do bo-tc. AGORA Revista Eletronica, nº 18, 2014, p. 132-148. TRISTÃO, Roberto Mauro de Souza. O boletim de ocorrência sob o aspecto da dêixis de base espacial como processo de instauração e manutenção de referência. Dissertação. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 34 Exercícios de fixação Questão 1 Os registros criminais elaborados nas sedes policiais são entendidos como o clamor da sociedade em busca de justiça, pois, muitas vezes, o cidadão que procura um órgão policial, muito antes de querer apurar a autoria do feito, quer apenas ser ouvido e que as suas declarações sejam tomadas a termo para surtirem os efeitos legais. Podemos afirmar que o conceito de boletim de ocorrência se trata de: a) Registro formal elaborado pela instituição policial após a ocorrência de um fato. b) Todo fato ou ato que necessite da intervenção policial. c) Serviço disponibilizado ao usuário que não queira se deslocar até a sede policial. d) Tornar pública uma notícia antes não divulgada. e) Contabilização através da qual as estatísticas oficiais são elaboradas. Questão 2 Sabendo-se que as estatísticas oficiais de criminalidade são elaboradas a partir da contabilização dos registros de ocorrência e que a variação das estatísticas pode ocorrer por diversos motivos, marque a alternativa incorreta quanto aos motivos que podem influenciá-las. a) Práticas policiais mais ou menos intensas. b) Facilidade de acesso do usuário ao sistema de segurança pública. c) Sazonalidade. d) Policiamento preditivo. e) Crescimento populacional. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 35 Questão 3 O preenchimento do BO depende de um padrão de preenchimento que deve ser seguido por todos. Considerando que a percepção individual de cada policial pode influenciar na descrição das ocorrências, marque a alternativa que exemplifica um dos problemas que podem surgir de um BO mal preenchido. a) Identificação dos fatores e das variáveis que influenciam no comportamento criminal. b) Permite conhecer tendências, comportamentos e atitudes, por vezes utilizando-se questionários ou entrevistas na coleta de dados. c) Resulta em dificuldade de tabulação e tratamento estatístico dos dados. d) Fornece informações detalhadas a perguntas ou problemas sobre um projeto ou atividade. e) Determina a proporção, em números, dos fatores que estão em estudo, quantificando as variáveis que influenciam no comportamento criminal. Questão 4 O preenchimento do BO depende de um padrão de preenchimento que deve ser seguido por todos. Considerando que a percepção individual de cada policial pode influenciar na descrição das ocorrências, marque a alternativa que exemplifica um dos problemas que podem surgir de um BO mal preenchido. a) Identificação dos fatores e das variáveis que influenciam no comportamento criminal. b) Permite conhecer tendências, comportamentos e atitudes, por vezes utilizando-se questionários ou entrevistas na coleta de dados. c) Resulta em dificuldade de tabulação e tratamento estatístico dos dados. d) Fornece informações detalhadas a perguntas ou problemas sobre um projeto ou atividade. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 36 e) Determina a proporção, em números, dos fatores que estão em estudo, quantificando as variáveis que influenciam no comportamento criminal. Questão 5 O preenchimento do BO depende de um padrão de preenchimento que deve ser seguido por todos. Considerando que a percepção individual de cada policial pode influenciar na descrição das ocorrências, marque a alternativa que exemplifica um dos problemas que podem surgir de um BO mal preenchido. a) Identificação dos fatores e das variáveis que influenciam no comportamento criminal. b) Permite conhecer tendências, comportamentos e atitudes, por vezes utilizando-se questionários ou entrevistas na coleta de dados. c) Resulta em dificuldade de tabulação e tratamento estatístico dos dados. d) Fornece informações detalhadas a perguntas ou problemas sobre um projeto ou atividade. e) Determina a proporção, em números, dos fatores que estão em estudo, quantificando as variáveis que influenciam no comportamento criminal. Questão 6 Analisando o conceito “o conjunto previamente ordenado de ações com o fim de alcançar os objetivos, compreendendo a alocação de recursos humanos, materiais e financeiros, e procedimentos de avaliação”, podemos afirmar que esse é o conceito de: a) Estatística b) Análise criminal c) Planejamento d) Policiamento orientado ao problema e) Ocorrência DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 37 Questão 7 O planejamento estratégico é um processo gerencial que possibilita estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa, com vistas a obter um nível de otimização na relação da empresa com o seu ambiente. Em qual nível da organização é elaborado esse tipo de planejamento? a) Nos níveis intermediários. b) Nos níveis mais inferiores. c) Elaborado pelos fornecedores a fim de garantir o pagamento das faturas. d) Elaborado pelos clientes da empresa, afinal esses são aqueles que realmente entendem da demanda. e) Nos mais altos níveis da organização. Questão 8 O policiamento de proximidade é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade. Considerando as premissas de atuação policial para essa estratégica, é correto afirmar que: a) Envolve um processo analítico, cuja metodologia consiste em identificar o problema, analisar as variáveis, buscar respostas para as possíveis soluções e avaliar as ações. b) É muito exigente em termos de meios tecnológicos e qualificação dos recursos humanos. c) Trata-se de processo contínuo de interação entre as informações, os gestores e o ambiente criminal. d) É a filosofia de uma organização focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. e) É a estrutura de policiamento baseada no binômio rádio e viatura. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 38 Questão 9 O policiamento de proximidade é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade. Considerando as premissas de atuação policial para essa estratégica, é correto afirmar que: a) Envolve um processo analítico, cuja metodologia consiste em identificar o problema, analisar as variáveis, buscar respostas para as possíveis soluções e avaliar as ações. b) É muito exigente em termos de meios tecnológicos e qualificação dos recursos humanos. c) Trata-se de processo contínuo de interação entre as informações, os gestores e o ambiente criminal. d) É a filosofia de uma organização focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. e) É a estrutura de policiamento baseada no binômio rádio e viatura. Questão 10 O policiamento de proximidade é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade. Considerando as premissas de atuação policial para essa estratégica, é correto afirmar que: a) Envolve um processo analítico, cuja metodologia consiste em identificar o problema, analisar as variáveis, buscar respostas para as possíveis soluções e avaliar as ações. b) É muito exigente em termos de meios tecnológicos e qualificação dos recursos humanos. c) Trata-se de processo contínuo de interação entre as informações, os gestores e o ambiente criminal. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 39 d) É a filosofia de uma organização focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. e) É a estrutura de policiamento baseada no binômio rádio e viatura.DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 40 Notas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP): Foram criadas através da Resolução SSP nº 263, de 27 de julho de 1999, como parte de uma política de segurança pública que tinha por objetivo estreitar a ligação entre as Polícias Civil e Militar, bem como destas com as comunidades abrangidas pelas AISP através da gestão participativa na identificação e resolução dos problemas locais de segurança pública. Nesse sentido, cada AISP foi estruturada com base nas áreas geográficas de atuação das Polícias Civil e Militar. Dessa maneira, o contorno geográfico de cada AISP foi estabelecido a partir da área de atuação de um batalhão de Polícia Militar e as circunscrições das delegacias de Polícia Civil contidas na área de cada batalhão. A atual divisão territorial do estado do Rio de Janeiro, segundo o critério de Áreas Integradas de Segurança Pública, contempla um total de 39 AISP, conforme a Resolução SESEG nº 478, de 11/05/2011, que visou adequar os limites geográficos de atuação das unidades das Polícias Civil e Militar, de forma a torná-las compatíveis aos objetivos da gestão territorial da segurança pública segundo Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP): Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP) e Circunscrições Integradas de Segurança Pública (CISP). Questionário aberto: É aquele formado por campos onde o sujeito pode responder livremente usando linguagem própria, sendo permitido que expresse suas ideias ou opiniões. Possibilita uma investigação mais profunda do assunto e a identificação do posicionamento do sujeito em relação ao assunto, contudo, por outro lado, dificulta a tabulação dos dados e o tratamento estatístico. Questionário fechado : É aquele formado por campos onde não se permite que o sujeito exprima uma opinião ou ideia, pois as perguntas pré-definidas. Isso facilita a tabulação dos resultados, porém restringe a liberdade de preenchimento do formulário. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 41 Chaves de resposta Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - A Justificativa: O conceito de boletim de ocorrência é o registro formal elaborado pela instituição policial após a ocorrência de um fato. Questão 2 - D Justificativa: O policiamento preditivo objetiva identificar padrões e tendências do crime baseado em eventos repetitivos no passado com a intenção de desenhar prováveis cenários futuros. Questão 3 - C Justificativa: Um BO mal preenchido gera maior demanda de trabalho de processamento, devido à necessidade de correção dos valores preenchidos, de modo a comprometer a credibilidade das informações. Questão 4 - C Justificativa: Um BO mal preenchido gera maior demanda de trabalho de processamento, devido à necessidade de correção dos valores preenchidos, de modo a comprometer a credibilidade das informações. Questão 5 - C Justificativa: Um BO mal preenchido gera maior demanda de trabalho de processamento, devido à necessidade de correção dos valores preenchidos, de modo a comprometer a credibilidade das informações. Questão 6 - C Justificativa: O conceito apresentado se refere ao planejamento, segundo Tavares (1991, p. 68). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 42 Questão 7 - E Justificativa: Nos mais altos níveis da empresa estão os gestores responsáveis pela tomada de decisões que podem mudar o rumo da empresa e definir os tipos de ação para sua consecução. Questão 8 - D Justificativa: O policiamento comunitário ou de proximidade (neighborhood and community policing – NCP) é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade, baseado em premissas ou mandamentos, sendo sua característica basear-se em uma filosofia organizacional focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. Questão 9 - D Justificativa: O policiamento comunitário ou de proximidade (neighborhood and community policing – NCP) é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade, baseado em premissas ou mandamentos, sendo sua característica basear-se em uma filosofia organizacional focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças. Questão 10 - D Justificativa: O policiamento comunitário ou de proximidade (neighborhood and community policing – NCP) é caracterizado pela atuação mais próxima da comunidade, baseado em premissas ou mandamentos, sendo sua característica basear-se em uma filosofia organizacional focada em trabalhar junto à comunidade buscando formas de resolver os problemas de crime, medo do crime, desordens físicas e sociais e degradação das vizinhanças.
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