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MECANISMOS DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 1 Prof. Alfredo Beckert Neto 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja muito bem-vindo à nossa primeira aula da disciplina de Mecanismos de Instituições Financeiras. Fique bem à vontade para estudarmos juntos. Mantenha sua mente relaxada e aberta aos novos conhecimentos. Esta Rota, tem como objetivo geral demonstrar os conceitos fundamentais que englobam a atividade econômica e os aspectos sobre a intermediação financeira. Por isso, iniciaremos abordando os fundamentos sobre a atividade financeira. Na sequência, faremos uma análise sobre a moeda e sua utilização. Além disso, aprenderemos a respeito de intermediação financeira e seus objetivos, assim como sobre as políticas do governo relacionadas ao tema. Para finalizarmos esta aula, estudaremos a respeito do mercado financeiro – o qual é de extrema importância para a sociedade e para as empresas. Aproveite para parar e refletir durante os pontos que considerar interessantes durante as aulas, pois podemos criar associações e, consequentemente, gerar novas ideias. Desejamos a você um ótimo estudo! CONTEXTUALIZANDO Nos últimos anos, com as mudanças ocorrendo cada vez mais rápido, a complexidade dos negócios e operações do mercado financeiro aumentou devido à globalização, fusões, redução de custos, aumento da competitividade e clientes mais exigentes. Isso fez com que o profissional da área financeira também evoluísse. Você já trabalhou com o mercado financeiro e de capitais? Você pode achar que não, mas com certeza sim, pois tratamos diariamente com bancos, financiamentos e empréstimos. Quando pegamos recursos financeiros emprestado ou quando aplicamos dinheiro na poupança, estamos utilizando e participando diretamente do mercado financeiro. No cenário corporativo, isso não é diferente. Com a globalização, a competição acirrada entre as empresas e a redução das margens de lucro, utilizar o mercado financeiro a seu favor tornou-se uma atividade obrigatória. Por isso, o conhecimento sobre o mercado financeiro e de capitais pode auxiliar os gestores das empresas a tomarem decisões com base em informações e 3 visando o objetivo traçado pela organização. E por que estudar sobre isso? Conhecer como funciona o mercado financeiro e de capitais pode ser a diferença competitiva entre uma empresa e seu concorrente, pois isso pode dar acesso ao capital ou melhor: acesso à rentabilidade por meio de investimentos. Portanto, podemos aumentar o resultado da empresa acessando um capital mais “barato” e maximizando a rentabilidade dos recursos financeiros. Atualmente, o tema é de grande importância para as empresas, pois está diretamente relacionado com a competitividade e, consequentemente, com a perenidade das organizações. Por isso, a própria Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) possui uma categoria sobre o mercado de capitais em seu site <http://www.anbima.com.br/pt_br/informar/relatorios/mercado-de- capitais/boletim-de-mercado-de-capitais/boletim-de-mercado-de-capitais.htm>. PESQUISE Chegou a hora de pesquisar. Lembre-se de que conhecimento nunca é demais. Vamos buscar como funciona a atividade econômica e o mercado financeiro? E ainda, como surgiram os primeiros bancos? E também, por que será que o tema possui tanta relevância dentro das organizações? TEMA 1 – A ATIVIDADE ECONÔMICA Primeiramente, vamos compreender o que é a atividade econômica. A atividade econômica deriva das relações materiais entre os indivíduos, principalmente aquelas efetuadas dentro dos mercados. Todos nós estamos inseridos nessas relações, pois temos desejos materiais maiores do que os recursos disponíveis. Em outras palavras, nossos desejos materiais podem não ter um limite definido, porém, produzir bens e serviços oferece diversas limitações. Portanto, essa relação entre o desejo, produção, escassez e necessidade de escolha reside na causa da atividade econômica. Pensando ainda nessa relação, podemos considerar a existência de diversos agentes que, justamente, realizam o desejo ou produção dos bens e serviços, criando a conexão entre oferta e demanda. Segundo Tebchirani (2008), os agentes dos sistemas econômicos possuem uma função importante na relação entre oferta e demanda, e estão 4 divididos nos seguintes grupos: famílias, empresas, governos e setor externo. O mesmo autor ainda descreve que podemos considerar as famílias como sendo o potencial de recursos para a realização de atividades produtivas; as empresas produzem com o intuito de suprir a demanda das famílias; o governo utiliza as famílias como fornecedoras de empregados e consome um percentual da produção das empresas com o finalidade de disponibilizar bens e serviços à sociedade; e o setor externo se refere aos agentes de um país realizando transações econômicas com agentes de outros países. Além dos agentes, é importante ressaltar a existência de uma relação inversa entre a demanda de um produto e o seu preço. Existem vários fatores que podem influenciar na demanda de bens, sendo alguns deles: nível de informação do consumidor, o preço, a expectativa de preços futuros e a disponibilidade de capital. É também importante conhecermos sobre os bens e serviços e suas classificações. Portanto, segundo Pereira (2013, p. 20), os bens e serviços podem ser classificados como: De capital: são usados para fabricar outros bens e que não se degradam inteiramente no processo produtivo. Como exemplo temos máquinas, equipamentos e ferramentas. De consumo: de acordo com sua durabilidade são divididos em bens de consumo duráveis (eletrodomésticos e automóveis) e não duráveis (alimentação e roupas). São bens que atendem às necessidades das pessoas. Intermediários: recebem transformações novas com o intuito de se tornarem bens de consumo de capital, como a soja e o minério de ferro. Além disso, existem outros conceitos utilizados que são importantes para nosso conhecimento. Pensando na atualidade, existem três setores principais de atividade econômica: Setor primário: esse segmento consiste, principalmente, na extração de recursos naturais. Além disso, a produção agrícola, a pecuária e pesca também são consideradas atividades desse setor. Seu produto é utilizado como matéria prima para um produto industrializado. Exemplos de bens: soja, carvão, ferro, arroz e madeira. 5 Setor secundário: baseia-se na manufatura de bens primários (advindos do setor primário), gerando produtos industrializados que serão absorvidos pelo setor terciário. Exemplos de bens: veículos e alimentos industrializados. Setor terciário: esse setor é representado pelo fornecimento de serviços e comercialização de mercadorias para as pessoas físicas e jurídicas, ou seja, engloba as atividades de comércio e de prestação de serviço. Temos como exemplos: assessoria jurídica, serviços de saúde, telemarketing, turismo e a venda de mercadorias. Compreendeu a classificação? Bom, agora teremos conceitos parecidos e devemos evitar a confusão. Podemos classificar as instituições como: primeiro setor, representado pelo governo; segundo setor, associado às empresas que buscam o lucro; terceiro setor, baseado nas organizações não governamentais (as ONGs). Além dessas classificações, dentro da atividade econômica existem alguns fatores que são fundamentais para sua realização e que formam a relação trabalho, terra e capital. Conforme Pereira (2013, p. 22), o trabalho é constituído dos indivíduos disponíveis para trabalhar, que são a mão de obra dentro do sistema econômico. Já a terra, se refere aos recursos naturais disponíveis,e o capital pode ser considerado as riquezas acumuladas pela sociedade, sendo que com elas é possível se preparar para a realização das atividades produtivas. Pensando em um país, é importante realizar o acompanhamento de sua economia, inclusive sendo essas informações de grande valia para as pessoas físicas e jurídicas também. Por isso, esse acompanhamento pode ser realizado, por exemplo, por meio da renda gerada e da quantidade de criação de empregos. Uma das principais informações da atividade econômica em um país é o Produto Interno Bruto (PIB). Ele representa o somatório do valor de mercado da produção dos bens e serviços finais produzidos dentro do país em um período pelos residentes e não residentes. Para resumir nosso aprendizado neste tema, temos que a atividade econômica precisa dos agentes que acabam gerando demanda e produção dos bens e serviços, com as famílias determinando o consumo e as empresas a produção. Mesmo assim, todos os agentes podem ser, paralelamente, consumidores ou ofertadores de bens e serviço. Isso acaba gerando a 6 movimentação de recursos financeiros e riquezas entre os agentes da atividade econômica, formando um fluxo circular. Para a realização desse fluxo, é necessária uma ferramenta ou meio que possibilite e facilite essa transferência. Atualmente a moeda realiza essa papel. #ficaadica Como acompanhar a atividade econômica do país: O IBGE fornece em seu site todas as informações relativas ao PIB e economia, com o foco no que foi realizado (no que aconteceu). Acesse: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm>. TEMA 2 – MOEDA Quando falamos em moeda, o que vem à sua mente? Moedas de metal? Ou quem sabe, dinheiro? Quer saber, de forma simples, como surgiram os bancos? Vamos lá! Como vimos, para a realização do fluxo entre ofertadores e consumidores, é necessário algo que facilite o processo. Por isso, segundo Pereira (2013, p. 22), “A moeda pode ser definida como um conjunto de ativos financeiros de uma economia que os agentes utilizam em suas transações”. O viver em sociedade associado ao desejo do ser humano resulta em trocas. Os indivíduos que desejavam um produto ou serviço e que possuíam sobras de outro, necessitavam de um possível meio de receber aquilo que desejavam. Pensando na história da humanidade, a forma mais simples e primitiva de comércio era baseada em trocas. Essa prática era chamada de escambo e foi muito utilizada pela humanidade. Por exemplo, se alguém precisava de 20 litros de leite, para obtê-los, forneceria 1 Kg de mel. Claro que, por ser primitivo, com a evolução da sociedade e o aumento do número de trocas, o escambo gerava diversos desafios. Analisando de forma simples, percebe-se que havia o risco de não haver o mútuo interesse em realizar a negociação, pois conforme o exemplo anterior, o vendedor de leite pode não precisar de mel, mas sim de arroz. Além disso, a armazenagem de alguns produtos poderia não ser possível. Ademais, a dificuldade em precificar a troca, ou seja, quantos gramas de mel equivaleriam a 1 litro de leite? Imagine a tabela de trocas que o leiteiro deveria ter: 1 litro de leite = 100 gramas de mel = 2 quilogramas de soja = 1/2 galinha... 7 Note que o fracionamento também é considerado um desafio no escambo, pois muitos produtos não podem ser fracionados sem alterar seu valor. A necessidade de realização da permuta de produção excedente cresceu vertiginosamente e dificultou ainda mais as operações na sociedade. Podemos até citar a Roma Antiga, que em um período utilizou o sal como meio de troca comum – o que inclusive isso gerou o termo “salário”. Quando existe um produto como meio de troca comum, este é chamado de moeda-mercadoria. Seguindo a evolução da sociedade, a atração pelos metais preciosos aumentou e sua aceitação era comum. Com isso, os metais preciosos se transformaram em meio de troca comum. A partir daí, surgiram as primeiras moedas, as quais eram peças de metal que possuíam peso e valores definidos. Além disso, estas eram, de certa forma, certificadas com selos de quem realizou a emissão da moeda. Vale ressaltar aqui que o valor da moeda estava associado ao material com que ela foi cunhada. A moeda cunhada também solucionava diversos problemas encontrados na utilização do escambo, inclusive sua armazenagem. Diante desta facilidade de armazenagem, tivemos o surgimento das casas especializadas em armazenar a reserva de valor, e cobrando por isso. Elas geravam recibos dos valores depositados com a finalidade de retirada futura do recurso. Com o passar do tempo, esses recibos se tornaram meios para a aquisição de bens e serviços, gerando assim o papel-moeda. Refletindo de forma prática, os recibos eram partes de papel, que intrinsicamente não valiam muito (pois não eram feitos de metal precioso), porém, nos recibos existia uma assinatura de alguma organização que garantia ao seu detentor a posse de uma quantidade de ouro ou outro metal precioso, conforme o conceito chamado de lastro-ouro ou padrão-ouro. Isso gerava o valor do recibo, mas também dependia da credibilidade do emissor. Com essa organização, as casas que armazenavam moedas e metais iniciaram a disponibilização de empréstimos de dinheiro, cobrando juros, dando assim origem aos bancos. 8 Ademais, para garantir a credibilidade do emissor da moeda, os governos se transformaram e assumiram o papel de emissores exclusivos, por meio do conceito de banco central. Observe que aquele padrão-ouro (do qual falamos anteriormente), atualmente não é mais utilizado, e que a moeda utilizada por nós continua a não possuir valor intrínseco. Mesmo assim, com a evolução da moeda e percebendo que esta não está mais lastreada em ouro, surgiram novos tipos de moeda, como os cartões de débito e crédito, o vale refeição, o vale transporte e até mesmo as moedas virtuais, como o bitcoin. A evolução da moeda e da economia é incrível. Existem outros conceitos relacionados à moeda. De acordo com Pereira (2013, p. 29), há três razões essenciais que fazem com que as pessoas utilizem a moeda: 1. A necessidade de realização de transações bancárias visando ao atendimento das demandas cotidianas, pois as pessoas precisam manter saldo em caixa e realizar depósitos à vista, necessitando ter dinheiro disponível na conta bancária; 2. Ter liquidez, que em outras palavras significa que as pessoas necessitam ter a moeda para realizar transações; 3. Para realizar especulação, pois como a moeda possibilita a reserva de valor, pode ser utilizada para acúmulo ou especulação. Devemos entender que a moeda sofre os efeitos da inflação ou mesmo da deflação. Explicando de forma simplificada, a inflação reduz o poder de compra da moeda, ou seja, significa que hoje com R$ 50,00 posso comprar 50 pães, mas daqui a 6 meses com os mesmos R$ 50,00 comprarei apenas 40 pães. Como sabemos, o Banco Central (Bacen) possui a responsabilidade de emissão monetária. Normalmente, ele pode agir visando dois objetivos. O primeiro seria financiar o déficit público, ou seja, ele emite moeda para que o governo pague suas dívidas (banco central fiscal ou orçamentariamente dominado). Todavia, isso gera uma consequência, e qual seria? Com o aumento 9 da oferta de moeda, ou seja, mais dinheiro circulando, a inflação pode crescer. O segundo objetivo seria visar a estabilidade da economia, buscando assegurar as metas da inflação (banco central independente). Percebe quanta evolução? Quando você utilizar um app, um caixa eletrônico ou seu cartão de crédito, lembre-se que foi um longo caminho para chegarmos até aqui. #ficaadicaPara saber mais sobre bitcoins acesse: <https://www.bitcoinbrasil.com.br/o- que-e-bitcoin>. TEMA 3 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA Agora que já conhecemos sobre a atividade econômica e a moeda, que tal pensarmos na intermediação financeira? Dentro da sociedade, o recurso dos poupadores pode ser aplicado em algo produtivo. Quando isso ocorre, chamamos de investir, ou seja, aumentar a capacidade produtiva com o uso dos valores poupados tanto próprios quanto de terceiros. Sendo assim, temos a fundação da intermediação financeira, baseada em poupadores e investidores. Então, de maneira simples, a intermediação financeira é receber o recurso dos poupadores e remunerá-lo, ou emprestar esse recurso a alguém, recebendo uma remuneração maior, para que deseja consumir ou ampliar a capacidade produtiva. Figura 1: Intermediação financeira Note que todos nós utilizamos esses intermediários. Quem são eles? Os bancos. Na figura anterior, temos duas transações distintas: uma de captação de recurso por meio do intermediário e outra de empréstimo de recurso também 10 do ponto de vista do intermediário. Cada uma das transações possui remunerações diferentes. Claro que quando o banco realiza um empréstimo utilizando o recurso de um poupador, ele cobrará uma taxa de juros maior do que pagará ao poupador. Por exemplo, de forma simples, se um poupador aplica seu dinheiro no banco, o banco oferece pagar 1% a.m. de juros. Até aqui tudo bem. O banco pega o dinheiro do poupador e o empresta para outra pessoa, entretanto, cobrando uma taxa de juros de 3% ao mês. Com isso, essa diferença entre as taxas de juros (de captação e de empréstimo), que seria de 2% é a remuneração do banco por intermediar tal operação financeira. A nomenclatura utilizada para denominar essa remuneração é o spread bancário. Inserido nessa remuneração, normalmente, estão considerados os custos administrativos, de tributos, assim como um prêmio de risco de inadimplência. Percebam que na intermediação financeira os conceitos da matemática financeira são fundamentais, principalmente o de juros compostos. Vale notar também que para ser um poupador é necessário evitar gastar recursos hoje para que se receba mais amanhã. Por exemplo, você prefere receber R$ 1000,00 hoje ou R$ 1100,00 daqui a um mês? Isso está baseado na ideia de que o dinheiro possui valor no tempo, pois R$ 100,00 hoje não valerão o mesmo que R$ 100,00 daqui a um ano devido à uma taxa de juros, que pode ser considerada um fator de correção. Além disso, devemos considerar também a inflação, que consiste no aumento geral dos preços. A título de conhecimento, é interessante saber que, normalmente, o governo define um regime de metas para a inflação. “E quem deve buscar manter a inflação na meta?” É atribuição do Bacen controlar a taxa de inflação seguindo um nível tratado entre os órgãos governamentais para o desenvolvimento do planejamento econômico existente. Compreendeu a intermediação financeira? Vamos agora tratar das duas formas de intermediação: direta e indireta. A forma direta ocorre quando a instituição financeira une os poupadores e investidores em um contato direto, realizando apenas um serviço. Logo, os poupadores e investidores negociarão suas taxas e condições. Já a forma indireta é a mais comum em nosso cotidiano. Ela acontece quando um poupador aplica recursos em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) de um banco, desconhecendo quem utilizará aquele recurso, não existindo um contato direto entre o poupador e tomador. 11 Voltando a mencionar o spread dos bancos, é relevante sabermos da existência de um item adicional dentro da composição do spread bancário: é o empréstimo compulsório exigido pelo Bacen. Isso faz com que quanto maior seja o percentual compulsório maior será o spread. E o contrário também é válido: caso o percentual compulsório seja menor, o spread tende a ser reduzido. Além disso, normalmente, os bancos fazem parte do sistema bancário e se comunicam entre si frequentemente, realizando trocas de seus excessos e falta de dinheiro por meio do mercado interbancário. Isso quer dizer que os bancos fazem operações entre si. Um banco empresta dinheiro para outro banco por meio do mercado interbancário. Pense que, se um banco sofre com muitos saques em determinado período, outro banco deve receber muitos depósitos, pois o dinheiro circula e, boa parte, acaba em outras contas bancárias. Portanto, aquele que recebeu os depósitos poderá emprestar para o que teve saques. A taxa de juros praticada no mercado interbancário é a taxa interbancária, que de certo modo, é utilizada como referência para as taxas de juros da economia. Por exemplo, em algumas aplicações bancárias, a remuneração será de 95% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), ou seja, a taxa de juros será baseada na taxa interbancária. Notem que o Banco Central possui influência na intermediação econômica, e por isso, em nosso próximo tema veremos as políticas governamentais no que tange à economia. Outro fato relevante é que a intermediação financeira cria um mercado. Esse mercado é conhecido como o mercado financeiro, último tema de nossa aula. #ficaadica Para saber mais sobre os depósitos compulsórios, leia: <https://www.bcb.gov.br/htms/novaPaginaSPB/compulsorios.asp>. TEMA 4 – POLÍTICAS DO GOVERNO As políticas governamentais da área econômica, conforme Pereira (2013, p. 33), são diretrizes responsáveis que buscam a evolução da economia, sendo 12 a função da autoridade pública essencial para gerir o controle monetário, fiscal, de câmbio e de geração de renda. O governo pode influenciar diretamente na economia de diferentes formas; por exemplo, reduzindo o dinheiro em circulação, ou aumentando a taxa de juros. Isso causa um impacto na economia e em nós, pois nosso acesso ao dinheiro fica mais difícil e custoso. E por que o governo interfere na economia? Normalmente para manter a sociedade estabilizada e para incentivar o crescimento econômico, pois, comumente, isso gera empregos, riquezas e melhor qualidade de vida para a população, inclusive reduzindo problemas sociais. Para isso, o governo realiza diversas políticas. Basicamente, a política monetária realiza o controle da oferta de dinheiro na economia. Ela possui o intuito de criar diretrizes relacionadas ao controle e gestão da circulação da moeda e do crédito, com o intuito de atender as necessidades da economia do país. A política monetária possui uma ampla abrangência e influencia diversos tópicos essenciais como o equilíbrio e expansão econômica, geração de emprego e metas de inflação. Ela pode ser categorizada em restritiva e expansiva. A política monetária restritiva representa a atuação do governo em um conjunto de medidas com o intuito de controlar a liquidez do sistema econômico, de forma a diminuir o crescimento da liquidez (quantidade de moeda) e aumentar o custo dos empréstimos. O governo pode fazer isso de diversas maneiras: Recolhimento compulsório: o Bacen realiza a custódia de uma parcela dos depósitos recebidos das pessoas pelas instituições financeiras. Isso reduz a liquidez da economia. Assistência financeira de liquidez: normalmente o Bacen empresta recursos financeiros aos bancos comerciais. Caso nesses empréstimos o prazo seja reduzido e a taxa de juros elevada, a taxa de juros aplicada na economia terá um aumento, também resultando na redução da liquidez. Venda de títulos públicos: nessa operação, o Bacen retira moeda da economia, pois essa é substituída pelos títulos, resultando na diminuição da liquidez. 13 A política monetária expansiva, porsua vez, é retratada por diretrizes que visam a aumentar a quantidade de moeda em circulação e reduzir o custo dos empréstimos, com a redução da taxa de juros. Isso fará, comumente, com que o consumo e os investimentos aumentem. Seguindo a lógica inversa da política restritiva, o governo utiliza dos seguintes recursos para atuar: Diminuição do recolhimento compulsório; Assistência financeira de liquidez: aumento de prazos e redução da taxa de juros; Compra de títulos públicos. Lembra-se da taxa de juros interbancária? Ela é considerada a taxa de juros básica da economia, e o Bacen pode interferir nessa taxa interbancária por meio de sua mesa de operações no sistema interbancário. O Bacen, por meio do Comitê de Política Monetária do Banco Central (o COPOM) estabelece a taxa de juros básica da economia aproximadamente a cada 40 dias. Esta taxa também é chamada de taxa SELIC, e ela define a taxa interbancária, que será referência para que o Bacen realize a compra e venda de dinheiro no mercado interbancário. O Bacen possui muita força, e por isso, quando ele deseja fomentar a demanda da economia, ele reduz a taxa do mercado interbancário, basicamente aumentando o dinheiro disponível nesse mercado ou nos bancos, realizando a compra de títulos públicos que estavam em posse dos bancos. Ou ainda, reduzindo o percentual compulsório, que é exigido no sistema bancário. O oposto também pode ocorrer, caso o Bacen deseje desestimular a demanda na economia. É muito comum o Banco Central utilizar essas ferramentas para controlar a inflação, pois o aumento da demanda na economia poder aumentar a inflação, assim como o desestímulo econômico pode retrair a inflação. Seguindo adiante com as políticas do governo, temos a política fiscal, que se refere às ações e medidas governamentais com o intuito de corrigir seus níveis de gastos e a carga tributária, influenciando a economia, isto é, fazendo a gestão e alinhamento das receitas (oriundas dos tributos) e dos gastos governamentais a fim de atuar na atividade econômica. Ela é utilizada para 14 reduzir as tendências de depressão (recessão acentuada) ou inflação. O governo necessita de recursos para pagar suas contas, e quanto maior o governo e seus serviços, maiores são seus gastos. Por isso, o governo cobra impostos para "bancar" toda esta estrutura. Para analisarmos a arrecadação do governo, podemos relacioná-la ao PIB, entendendo que do PIB temos um percentual que foi "utilizado" para tributos do governo, pois de tudo o que se produz no país, uma parte vai para o governo, para que então, retorne à sociedade na forma de serviços e investimentos públicos. A política fiscal pode também ser classificada como restritiva e expansiva, seguindo a mesma lógica da política monetária. A política fiscal restritiva é colocada em prática quando existe uma demanda maior que a capacidade produtiva da economia, no chamado "hiato inflacionário". Isso consequentemente levará ao aumento da inflação, pois o mercado não consegue atender a todos reduzindo os estoques. Para isso, as seguintes medidas são implantadas: Redução dos gastos públicos; Aumento da carga tributária sobre os bens de consumo, realizando um desestímulo nesses gastos; Incentivando o aumento das importações, reduzindo barreiras e tarifas. Por outro lado, o governo utiliza a política fiscal expansiva quando existe uma demanda menor do que a produção de pleno emprego. De maneira similar, isso é chamado de "hiato deflacionário", pois existe grande quantidade de estoques, gerando a redução no quadro de colaboradores e de estoques. Por isso, para conter esse cenário de desemprego, o governo aplicaria as seguintes ações: Elevação dos gastos públicos; Redução da carga tributária, como estímulo para o consumo e investimentos; Aumento das tarifas e barreiras para as importações, "protegendo" a produção nacional. O governo tem muitas formas de influenciar a economia. Além dessas duas políticas (monetária e fiscal), o governo ainda adota a política cambial, entre outras. 15 A política cambial pode ser considerada o conjunto de medidas e orientações visando ao equilíbrio econômico por meio da alteração das taxas de câmbio e controle das operações de câmbio. A taxa de câmbio se refere ao valor de moedas estrangeiras mensurada na moeda nacional. Por exemplo, um dólar é equivalente, agora em março/2017, a aproximadamente R$ 3,15. Conforme definição do Banco Central (2016) temos que a política cambial "É o conjunto de ações governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos. Agora que compreendemos, resumidamente, o cenário econômico, vamos conhecer o mercado financeiro inserido nesse contexto. #ficaadica Para saber quais as taxas em vigência: Taxa DI: <https://www.cetip.com.br/>; Taxa SELIC: <http://www.bcb.gov.br/Pec/Copom/Port/taxaSelic.asp>; Poupança: <http://www4.bcb.gov.br/pec/poupanca/poupanca.asp>. TEMA 5 – O MERCADO FINANCEIRO Aprendemos anteriormente, de forma sucinta, sobre os aspectos da atividade econômica e o que está relacionado a ela, inclusive as políticas governamentais. Agora, verificaremos o mercado financeiro. Como você deve saber, quando falamos em mercado, não é necessário a existência de um lugar específico. Ele pode ser virtual, como no caso da internet. Um mercado pode ser considerado como um processo em que existam pessoas querendo vender um produto ou serviço e pessoas que queiram comprar o que é oferecido. Trazendo esse conceito para a realidade financeira, temos que o mercado financeiro comercializa ativos financeiros, realizando a operação de intermediação financeira. Normalmente, quem compõe o mercado financeiro são poupadores (emprestadores) e tomadores de empréstimos. A remuneração pelo empréstimo 16 é conhecida como juros. Esse mercado permite a compra e venda de câmbio, valores mobiliários, mercadorias e outros ativos, mas grosso modo, é um mercado em que o dinheiro é comercializado. Com base na abrangência do mercado financeiro, há uma classificação, normalmente de uso didático. Figura 2: Classificações do mercado financeiro Mercado de crédito: é utilizado para atender necessidades de tomada e concessão de crédito de curto e médio prazo. Nele existem duas partes: a credora e a devedora. Normalmente a parte devedora são empresas que necessitam de capital de giro ou ativos permanentes, ou então são pessoas financiando seu consumo. É o mercado que acessamos quando precisamos financiar um carro, um imóvel ou ainda nossos gastos com o crédito rotativo do cartão de crédito. No mercado de crédito podemos apresentar como exemplo diversos produtos: cheque especial, empréstimo pessoal, leasing, hot money, desconto de recebíveis, operações de compror e vendor. Mercado monetário: é utilizado para negociações de curtíssimo e curto prazo, tendo como intuito o controle da liquidez dos meios de pagamento da economia. Há diversas ferramentas que o Bacen utiliza para isso. Podemos considerar que suas operações envolvem títulos do Tesouro Nacional, certificados de depósito interbancários, entre outros produtos. Mercado Financeiro Mercado Cambial Mercado de Crédito Mercado Monetário Mercado de Capitais 17 Mercado de câmbio: é o mercado que realiza operações de câmbio, ou seja, compra e venda de moedas estrangeiras. Nesse mercado, o Bacen também pode atuar comprando e vendendo moeda a fim de controlar ataxa de câmbio, por meio de oferta e demanda. Mercado de capitais: é o mercado que realiza operações de valores mobiliários (debêntures, ações e outros), gerando liquidez aos títulos emitidos por empresas, permitindo o processo de capitalização destas. Seu intuito é de criar um fluxo de capital das poupanças da sociedade direcionado para a indústria, comércio e demais atividades econômicas. Realiza operações de médio, longo e prazo indeterminado. Normalmente, possuem um ambiente de comercialização chamado de bolsa de valores. Alguns autores ainda citam outras classificações do mercado financeiro, mas podemos considerar as quatro mencionadas anteriormente como as principais. Compreende a abrangência e complexidade do mercado financeiro? É importante conhecê-lo, pois como gestor financeiro você deve acessá-lo sempre que necessário, tanto para realizar investimentos quanto para captar recursos, que são fundamentais para garantir a expansão e perenidade das empresas. Lembrando que nós, como gestores financeiros, devemos buscar o acesso ao capital de menor custo, pois isso poderá gerar um aumento de resultado da organização. Verificaremos que esse grupo de instrumentos e instituições atreladas ao mercado financeiro formam o sistema financeiro, tema de nossa próxima aula. TROCANDO IDEIAS A área econômica e financeira demanda muita leitura e informação. Por isso, na condição de gestores financeiros recomendamos a leitura diária de veículos de comunicação sobre economia e finanças, assim como o cadastro em blogs de seu gosto para receber atualizações do meio econômico. Outro fator importante, é o relatório Focus do Bacen, disponibilizado semanalmente por essa instituição. Nele constam projeções da inflação, taxa de juros e PIB, fatores que são fundamentais para a análise econômica. É possível acessá-lo em: <https://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/readout.asp>. Lembre-se de que para se gerir qualquer empresa é necessário tomar decisões e realizar o planejamento com base em informações. 18 SÍNTESE Como vimos, para se ter a atividade econômica de forma ativa, é necessária a atuação dos agentes econômicos: famílias, empresas, governo e setor externo. Para facilitar a troca e movimentação de recursos, a sociedade criou a moeda, que evoluiu de diversas formas. Dentro dos grupos de agentes existirão os poupadores e os tomadores de empréstimos, necessitando então da intermediação financeira para unir essas duas “pontas”. Logo, para controlar essas operações financeiras e influenciar diretamente sobre a economia, o governo se utiliza de diversas políticas (monetária, fiscal e cambial) para estabelecer seus interesses de controle da inflação e equilíbrio econômico. Com isso, o mercado financeiro, que comercializa ativos financeiros, além de receber influência governamental, pode ser classificado em quatro tipos: mercado cambial, mercado monetário, mercado de crédito e mercado de capitais. REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br>. Acesso em 23: mar. 2017. KERR, R. B. Mercado financeiro e de capitais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. PEREIRA, C. L. Mercado de capitais. Curitiba: InterSaberes, 2013. TEBCHIRANI, F. R. Princípios de economia micro e macro. Curitiba: Ibpex, 2008.
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