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O Meio é a Mensagem: McLuhan e as Mídias

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D.O.S. RELATÓRIO FAPESP [2008] 22 
#### O meio é a mensagem: uma aproximação a McLuhan. 
“O meio é a mensagem” significa, em termos da era eletrônica, que já se criou um ambiente 
totalmente novo. O conteúdo deste novo ambiente é o velho ambiente mecanizado da era 
industrial. O novo ambiente reprocessa o velho tão radicalmente quanto a TV está reprocessando o 
cinema.” (McLUHAN, 1974: p. 11) 
Herbert Marshall McLuhan, professor de diversas universidades no Canadá e nos Estados Unidos 
aparece como teórico com especial atenção à pesquisa, devido sua influência como pensador do universo de 
mídias de comunicação em massa que surgiam com a eletricidade (em especial rádio e televisão). Dentre seus 
livros que tiveram grande influência, detacam-se “A galáxia de Gutenberg” de 1962 (livro que Castells faz alusão 
no seu “A Galáxia da Internet”) e “Os meios de comunicação como extensões do homem” de 1974. Entender 
minimamente McLuhan é de extrema importância graças as suas preocupações, mais com a abrangência das 
mídias do que das mensagens e seus conteúdos, garantindo um panorama da ação comunicativa como 
norteadora da comunicação em rede, hoje em abundância com as tecnologias digitais, como discutido na 
passagem anterior. A obra de McLuhan, portanto, apresenta um conteúdo chave para a compreensão dos meios 
de comunicação como ferramentas de compartilhamento de informação e conhecimento que se redimensionam 
na era eletrônica, portanto, dos meios de comunicação como (necessárias) extensões do homem através das (na 
época) novas mídias. 
No período da Guerra Fria, desenvolvimento de tecnologias de comunicação era sinônimo de poderio 
em alcance global, cientes os envolvidos da importância estratégica adquirida. O rádio, por exemplo, tecnologia 
barata dada o número de pessoas atingidas e a economia técnica necessária, era um exemplo de como era 
possível que as informações atingissem esse âmbito global, fato que foi posteriormente reiterado pela televisão. 
Dentro das cidades, ocorriam as principais influências dessas mídias: 
“As cidades, ao mesmo tempo em que ganhavam a possibilidade de reflorescerem suas 
características ímpares via rádio, ao invés do pensamento nacionalizante do jornal, ganhavam 
dimensões intercontinentais e delas recebiam influencias. Com o radio as informações de diversas 
partes do mundo chegavam ao vivo e influenciavam as comunidades locais – um exemplo típico era 
o movimento das bolsas de valores. O radio inaugurava a dimensão elétrica das cidades, 
proporcionando uma multiplicidade informacional e reaviando a percepção auditiva que fora 
abandonada pelo jornal.” (DUARTE, 1999: p.67) 
A televisão, como já discutido anteriormente, potencializaria ainda mais esse alcance global de 
informação proporcionada pelo rádio na medida em que envolvia e criava opiniões. Desta forma, o conceito de 
McLuhan – o meio é a mensagem, se une à sua noção de “aldeia global”, que, de fato, caracteriza a abrangência 
dessas novas tecnologias na, então nascente, era da informação. Para Castells: 
“A difusão da televisão nas três décadas após a Segunda Guerra Mundial (...) criou uma nova 
galáxia de comunicação, permitindo-me usar a terminologia de McLuhan. Não que os outros meios 
de comunicação desaparecessem, mas foram reestruturados em um sistema cujo coração 
compunha-se de válvulas eletrônicas e cujo rosto atraente era uma tela de televisão. O rádio 
D.O.S. RELATÓRIO FAPESP [2008] 23 
perdeu sua centralidade, mas ganhou em penetrabilidade e flexibilidade, adaptando modalidades e 
temas ao ritmo da vida cotidiana das pessoas.” (CASTELLS, 1999: p. 415) 
E mais além: 
“O que era fundamentalmente novo na televisão? A novidade não era tanto seu poder centralizador 
e potencial como instrumento de doutrinação [afinal o rádio já o era]. (...) O que a TV representou, 
antes de tudo, foi o fim da Galáxia de Gutenberg, ou seja, de um sistema de comunicação 
essencialmente dominado pela mente tipográfica e pela ordem do alfabeto fonético.” (CASTELLS, 
1999: p. 417) 
Para McLuhan, e daí uma de suas análises bem apropriadas, o meio é essencialmente a mensagem na 
medida em que “é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas” e 
“o conteúdo desses meios são tão diversos quanto ineficazes na estruturação da forma das associações 
humanas”, já que o “conteúdo” de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou veículo. Utilizando 
como exemplo a luz elétrica como meio, McLuhan afirma que ela é informação pura (quando não ilumina um 
anúncio) e que não quer constituir nenhum tipo de significado, embora haja dificuldade na percepção da luz 
elétrica como meio de comunicação, ou seja: 
“A mensagem da luz elétrica é como a mensagem da energia elétrica na industria: totalmente 
radical, difusa e descentralizada. Embora desligadas de seus usos, tanto a luz como a energia 
elétrica eliminam os fatores de tempo e espaço da associação humana como o fazem o rádio, o 
telégrafo, o telefone e a televisão, criando participação em profundidade.” (McLUHAN, 1974: 
p.23) 
E indo além, a mensagem seria, no caso: 
“a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas 
humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade 
humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores, criando tipos de 
cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos.” (McLUHAN, 1974: p. 22) 
Como coloca Duarte (1999), a eletricidade foi um dos mais excepcionais e revolucionários meios do 
século XX, superando a linearidade nas tecnologias mecânicas e atribuindo novas dinâmicas na sociedade e seus 
meios de produção, desde a ruptura da seqüência dia/noite até a possibilidade de transmissão de informações 
em redes globais. Como propõe: 
“As transformações tecnológicas recriam nossas noções de território e habitat, que são a base da 
arquitetura; e McLuhan, vivendo num universo polissensorial de circuitos elétricos, propunha que 
vivíamos num mundo onde as mudanças territoriais seriam cruciais, a ponto de todas as 
transformações recentes – como a consolidação dos nacionalismos do século XIX – serem 
implodidas. Acreditava-se que, se a palavra impressa possibilitou a explosão de nossa consciência, 
exemplificando com a consolidação dos Estados nacionais, a era elétrica, notadamente da televisão, 
implodiria a nossa civilização, transformando-a numa “aldeia global”, onde todas as ações seriam 
interdependentes e, com isso, viveríamos todos num território informacional único.” (DUARTE, 
1999: p.70) 
D.O.S. RELATÓRIO FAPESP [2008] 24 
 Para McLuhan, a “aldeia global” seria a representação mais clara da ligação do mundo inteiro através 
de circuitos elétricos, propagados pelos meios de comunicação emergentes (telefone, rádio, televisão), capazes 
de criar um mundo altamente conectado, onde cada um deveria compreender seu papel e suas relações, ou 
seja, a substituição de uma consciência individual para uma idéia global. E foi essa galáxia imaginada por McLuhancapaz de construir interações sólidas nos modos de vida na expressão cultural de muitos povos. Para Baudrillard 
o conceito de McLuhan, “o meio é a mensagem”, era “a fórmula-chave na era da simulação” e, com muita 
certeza o grau de complexidade que as tecnologias de informação e comunicação imprimiram nas ações 
cotidianas, muito tinha a ver também como uma certa deformação da realidade, da exposição plena e 
escancarada de simulacros que se tornaram lugar-comum na então dita pós-modernidade. E talvez seja essa a 
fórmula central da cultura de nossa época: 
“(...) a mídia é a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona principalmente por 
intermédio dos materiais propiciados pela mídia. Nesse sentido fundamental, o sistema de mídia de 
massa completou a maioria das características sugeridas por McLuhan no início dos anos 60: era a 
Galáxia de McLuhan. Entretanto, o fato de a audiência não ser objeto passivo, mas sujeito 
interativo, abriu o caminho para sua diferenciação e subseqüente transformação da mídia que, de 
comunicação de massa, passou à segmentação, adequação ao público e individualização, a partir do 
momento em que a tecnologia, empresas e instituições permitiram essas iniciativas.” (CASTELLS, 
1999: p. 422) 
É claro que hoje as dimensões que essa galáxia tomou é capaz de absorver de forma ainda mais integral 
a relação que o indivíduo/usuário tem com espaço, sobretudo com o espaço virtual já que, na grande maioria das 
vezes, as inovações conseguidas pelas tecnologias de informação e comunicação não são incluídas na 
configuração espacial/organizacional de um projeto. É claro que, se pensarmos na relação entre os espaços 
urbanos de nossas cidades atuais e as extensas redes de comunicação, irrelevante seria a influência física numa 
primeira instância já que os cabos e fibras óticas são capazes de contornar as velhas estruturas urbanas, 
conectando o que (ou quem) anteriormente não passava de fragmento. Talvez devêssemos repensar nossas 
ferramentas e redefinir conteúdos, já que o meio nos abre possibilidades de novas mensagens.

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