Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS CURSO DE JORNALISMO João Vieira Neto REFÚGIO SP: AS HISTÓRIAS DE IMIGRANTES E REFUGIADOS EM SÃO PAULO São Paulo 2º semestre / 2016 João Vieira Neto REFÚGIO SP: AS HISTÓRIAS DE IMIGRANTES E REFUGIADOS EM SÃO PAULO Relatório Final do TCC II (Trabalho de Conclusão de Curso) apresentado ao Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do Título de Bacharel em Jornalis- mo, sob a orientação do Sr. Professor Rafael Fon- seca. São Paulo 2º semestre / 2016 Dedicatória A meus pais, Jailma Miranda e João Luiz, e à minha irmã, Juliana Vieira, que sempre me apoiaram e ofereceram o suporte necessário para meu crescimento dentro e fora da universidade. A meus avós, João Batista, João Vieira e Maria Aparecida, a quem sempre nu- tri orgulho imensurável e que, infelizmente, não estão mais em vida para pre- senciar este momento especial, mas que permanecem a olhar por mim assim como o faz a única ainda viva Cristina de Abreu. Agradecimentos Aproveito este espaço para lembrar de alguns nomes reconhecidamente impor- tantes durante os 18 meses dedicados à produção deste relatório e do livro- reportagem. Ao professor e orientador Rafael Fonseca fica a minha mais sincera gratidão pelas sugestões, opiniões e pelos conselhos dados durante boa parte das pes- quisas, e entrevistas, além do acompanhamento das redações de todos os ca- pítulos presentes no livro. A todos os demais professores que ministraram aulas durante o curso também fica meu agradecimento. Mesmo não tendo influência direta no trabalho, cola- boraram, sem dúvida, para o meu desenvolvimento estudantil e profissional. Agradeço também, claro, a Crispim Calonge, Cristiano Streeter, Raúl Mandela e Talal Al-Tinawi por apoiarem este trabalho e compartilharem suas vidas como exemplo da luta diária de todos os imigrantes e refugiados. Resumo A explosão da onda de movimentos migratórios na atual década deixou o mun- do pasmo. Só em 2015, cerca de 244 milhões de pessoas tiveram que aban- donar seus países. A estatística alarmante transmite a importância da situação de imigrantes e refugiados em todo o mundo e, consequentemente, o valor que tem o debate desse panorama. Assim, esta pesquisa visa discutir, sobretudo, o olhar da sociedade sobre esse grupo, a maneira como a mídia o retrata e as próprias perspectivas dos migrantes na capital paulista. Este estudo deu ori- gem a um livro-reportagem que pretendeu responder como poderia retratar a vida e os problemas enfrentados pelos imigrantes e refugiados em São Paulo. Palavras-chave: imigrante, jornalismo, refugiado Abstract The explosion of the wave of migratory movements in the current decade has left the world astonished. Only in 2015, about 244 million people had to leave their countries. The alarming statistic conveys the importance of immigrants and refugees’ situation all around the world and, consequently, the value of the de- bate on this panorama. Thus, this research intends to discuss, especially, the society's view of this group, the way the media portrays it and the perspectives of the migrants themselves in São Paulo. This study gave rise to a book that pretended to answer how could portray the life and the problems faced by the immigrants and refugees in São Paulo. Keywords: immigrants, journalism, refugee “A questão dos refugiados não é uma crise de números; é uma crise de solidariedade.” Ban Ki-Moon SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................9 2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................13 2.1. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL ..........................................13 2.2. IMIGRANTES NO BRASIL CONTEMPORÂNEO .............................14 2.3. DISCURSO JORNALÍSTICO, DIALOGISMO E IDEOLOGIA ........16 2.4. MODERNIDADE E IMIGRAÇÃO .........................................................22 2.5. O ESTADO E OS IMIGRANTES ..............................................................22 2.6. LIVRO-REPORTAGEM ..........................................................................25 3. APRESENTAÇÃO DA PEÇA JORNALÍSTICA (MAKING OF) ......................28 3.1. CONCEPÇÃO (PRÉ-PRODUÇÃO) ........................................................28 3.2. EXECUÇÃO (PRODUÇÃO) ....................................................................30 3.3. FINALIZAÇÃO (PÓS-PRODUÇÃO) .....................................................32 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................33 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................36 5.1. REFERÊNCIAS DE INTERNET ............................................................37 9 1. Introdução Esta pesquisa visa embasar um livro-reportagem que pretende evidenciar as diferentes rotinas e vivências de imigrantes oriundos de nações e culturas dis- tintas na cidade de São Paulo. Os objetos de estudo são os estrangeiros facilmente considerados “problema” por parte da sociedade, a qual, não raro, julga como inferiores as nações das quais saíram os “estranhos” e, em consequência, os próprios migrantes. São estes os principais alvos do preconceito resultante do choque de comportamen- tos e etnias na sociedade tupiniquim. O debate do tema se mostra fundamental ao passo que o país convive, ao me- nos nos últimos dez anos, com a vinda de grandes levas de vítimas de migra- ções forçadas1. Durante essa década, o número de imigrantes aumentou 160% no Brasil2. Acompanhando os alarmantes números mundiais de deslocamentos forçados nos últimos anos, o Brasil se mostra como reflexo das 65,3 milhões de pessoas afetadas por esse fenômeno em 2015, de acordo com o ACNUR, a agência da Organização das Nações Unidas para refugiados3. O fenômeno atingiu um re- corde global trágico afetando uma em cada 113 pessoas no mundo. Anterior a esse período, entretanto, já se notava a considerável presença de outros migrantes oriundos de países com índices de desenvolvimento menores do que os brasileiros. Um grande exemplo é a comunidade boliviana, consideravelmente presente na capital paulista desde o início da década de 1990. Atualmente, quase 90 mil bolivianos residem legalmente no Brasil4. Contudo, outras estimativas apontam 1 Migrações que ocorrem quando o elemento volitivo do deslocamento é inexistente ou minimi- zado e abrangem uma vasta gama de situações, segundo classificação de Liliana Lyra Jubilut e Silvia Menicucci. 2 Em 10 anos, número de imigrantes aumenta 160% no Brasil, diz PF <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/06/em-10-anos-numero-de-imigrantes-aumenta-160- no-brasil-diz-pf.html> 3 Dados disponíveis em: <http://www.acnur.org/portugues/noticias/noticia/deslocamento-forcado-atinge-recorde-global-e-afeta-uma-em-cada-113-pessoas-no-mundo/ > 4 Dados disponibilizados pela Polícia Federal em 15 de abril de 2016 10 para cerca de 500 mil só na região da Grande São Paulo5, sendo muitos deles submetidos a condições precárias de trabalho em oficinas do ramo da costura, as quais “normalmente operam cheias, com pouca luz e pouca ventilação” (CYMBALISTA e ROLNIK XAVIER, 2007, p.124), além de oferecer a seus fun- cionários baixíssimos rendimentos. Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso visa responder a seguinte per- gunta: como o livro-reportagem pode retratar a vida e os problemas enfrenta- dos pelos imigrantes e refugiados em São Paulo? [...] Essa é a hora da mobilização das lógicas consistentes e das ló- gicas paraconsistentes que consagram as contradições, da intercau- salidade, das forças contraditórias, da não aplicação dos maniqueís- mos, da noção de que não existe um universo sólido e sim um uni- verso poroso tal qual em enxame de abelhas, da compreensão do que é e o que não é controlável, do caos e dos caos dinâmico (ME- DINA, 2006, p. 60). A proposta da produção é evidenciar as experiências dos personagens que, pressionados por diversos fatores a fugir de seus países natais, escolheram desembarcar em solo paulistano. Carente de informações detalhadas a respeito das decisões tomadas pelos novos habitantes, o público necessita da compreensão dos antecedentes, das consequências e das particularidades de cada caso delineado. Buscando a construção de uma sociedade mais inclusiva, torna-se imprescin- dível levar em conta e apresentar aos leitores as intenções e os pensamentos dos migrantes ao estabelecerem o Brasil como seu novo ambiente de moradia. Dessa maneira, a pesquisa foi a campo no intuito de compreender as circuns- tâncias, em vez de enfrentá-las com o propósito de fortalecer suposições e va- lores sem base empírica. É preciso desobstruir o terreno encoberto pelos sentidos fechados e construir uma nova compreensão de mundo, que passa por outros sentidos, quase sempre em conflito com os do sujeito-autor (MEDI- NA, 2006, p. 61). 5 “Grande São Paulo pode ter até 500 mil bolivianos”. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/grande-sao-paulo-pode-ter-ate-500-mil- bolivianos-es0z58td2egmx78zzz8mk5npq> 11 Uma das essências do jornalismo é a capacidade de fazer democráticas as discussões sociais divulgando as vozes de “desajustados” antes pouco ouvi- dos. Dessa forma, é indispensável o aprofundamento desses debates, como o que é tratado neste trabalho, indo na contramão das estratégias atualmente coloca- das em prática por boa parte da mídia de massa, por meio da qual raramente se observa a presença dos desfavorecidos, como expõe Cremilda Medina. Os atuais meios de divulgação acentuam a incomunicação. [...] Esta- mos longe da rede de comunicação em que se resgate a presença da pessoa, se abram canais para os testemunhos anônimos (MEDINA, 1986, p.7). Dentre as histórias, objetiva-se levantar a questão da mudança de nativos de países de origem africana ao Brasil, o desconhecimento nacional sobre a situa- ção política de outras nações, a ignorância baseada na intolerância religiosa e também debater a recente leva de refugiados que chegou ao país e, sobretudo, à capital paulista, município brasileiro que mais atraiu esses migrantes nos úl- timos anos. A comunicação entre os diferentes se processa por meio das media- ções jornalísticas. Em todas essas situações, há o encontro dos afe- tos: só quando se está afeto a ocorre o ato educativo, o ato poético ou o ato comunicacional que, por sua vez, se traduz [...] nas narrati- vas da contemporaneidade (MEDINA, 2008, p.93). Assim, a intenção é se abrir às diferenças e promover não somente a discus- são sobre possíveis divergências existentes entre os vários povos que aqui habitam, mas também proporcionar o combate à invisibilidade sociológica des- sas pessoas, algumas delas vítimas de olhares xenófobos explicitados em epi- sódios ocorridos repetidamente no país. O intuito deste trabalho é, ao mesmo tempo, conhecer e divulgar ao público os olhares e pontos de vista dos estrangeiros perante a sociedade brasileira, sua cultura, suas opiniões e seus costumes. Tudo baseado no empirismo que expe- rimentaram e continuam a experimentar no Brasil. 12 Os processos que envolveram a adaptação de cada um dos personagens tam- bém são alvo do livro-reportagem, especificando os obstáculos – aparentes ou não -, as facilidades e as maneiras empregadas pelos indivíduos internacionais para lidar com os acontecimentos intrínsecos à nova realidade. Igualmente, o objetivo final da discussão recai sobre o embate entre o “Brasil afetuoso” - culturalmente já internalizado pela comunidade -, cuja gente recebe abertamente seus visitantes, e o “Brasil retrógrado”, o qual esquece o senti- mento que lhe parecia enraizado e reprova a vinda de estrangeiros, principal- mente aqueles oriundos de países considerados “inferiores” à nação brasileira. Como analisado pelo sociólogo Manuel Castells6, a imagem mítica do brasileiro existe só no samba. Na relação entre as pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpáti- ca, é uma sociedade que se mata. Essa agressividade sempre existiu (CASTELLS, 2015). 6 Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, na edição publicada no dia 18 de maio de 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/219703-a-imagem-mitica-do-brasileiro- simpatico-existe-so-no-samba.shtml> 13 2. Referencial Teórico 2.1. História da imigração no Brasil O fenômeno da imigração se caracteriza como um movimento de entrada de não-nativos em um país de maneira temporária ou permanente. De acordo com Jubilut e Menicucci (2010), as migrações podem ser classificadas como “volun- tárias” e “forçadas”. As migrações voluntárias “abrangem todos os casos em que a decisão de mi- grar é tomada livremente pelo indivíduo, por razões de conveniência pessoal e sem a intervenção de um fator externo”. Por sua vez, as migrações forçadas, tendo como maior exemplo os refugiados, são aquelas que “ocorrem quando o elemento volitivo do deslocamento é inexistente ou minimizado e abrangem uma vasta gama de situações” (JUBILUT e APOLINÁRIO, 2010, p. 281). A história do Brasil se confunde com a história da migração. Aqui, a imigração teve início a partir de 1530, quando os portugueses estabeleceram a primeira expedição colonizadora a fim de proteger e povoar o território brasileiro, orga- nizar sua administração e sistematizar sua exploração econômica. Já na segunda década do século XIX, os chineses, provenientes de Macau, foram os primeiros a desembarcar no Rio de Janeiro. Vistos como alternativa aos escravos africanos, os asiáticos eram alvo de grande interesse dos fazen- deiros. Em 1819, ao contrário dos chineses, os suíços chegam a Nova Friburgo (RJ) com a permissão de trazer consigo suas famílias. O município fluminense ga- nhou tal nome devido à origem do primeiro grupo de europeus, naturais da co- muna suíça de Fribourg. Embora sejam conhecidos por sua influência na região Sul do Brasil, os ale- mães fundaram sua primeira colônia no país na Bahia. Somente em 1824 os germânicos foram assentados no Rio Grande do Sul. Já italianos e japoneses, representantes de grande parcela da sociedade brasi- leira, desembarcaram relativamente tarde no Brasil. Enquanto os europeus chegaram em 1870, os asiáticos sóemigraram à nova terra em 1908. 14 Entre os séculos XIX e XX, emigrantes de mais de 70 países chegaram ao país com um objetivo comum: “fazer a América”. 2.2. Imigrantes no Brasil contemporâneo Caracteristicamente conhecido como um país de imigrantes, o Brasil continuou sendo alvo de fluxos migratórios nas últimas décadas do século XIX e no co- meço do século XX. Entretanto, o perfil dos estrangeiros que passaram a de- sembarcar em solo tupiniquim se transformou ao longo do período. Ao contrário do que ocorreu nos períodos anteriores, a Europa deixou de “ex- portar” mão de obra para a América do Sul. No lugar dos europeus, foram os asiáticos, africanos e sul-americanos que escolheram o Brasil para se fixarem permanentemente. Segundo relatório da ONU7, 60% dos imigrantes em todo o mundo saem de países subdesenvolvidos. A organização ainda avalia que 40% dos migrantes residem em países em desenvolvimento 8, como o Brasil. Os principais - mas não os únicos - representantes desses grupos em solo bra- sileiro são sírios, colombianos, haitianos e bolivianos. Estes, por exemplo, apresentam-se como a segunda maior comunidade estrangeira no país9. O retrato dos emigrantes da Bolívia se alterou ao longo do século XX. Embora o fenômeno migratório tivesse se iniciado nos anos 1950 com a vinda de estu- dantes, a partir de 1970 trabalhadores menos qualificados passaram a integrar o conjunto. A vinda dos sul-americanos com menos qualificações profissionais acaba por fortalecer as chances do encontro de vagas de trabalho restritas a condições ilegais e nocivas à saúde, ao passo que tais posições não exigem grande apti- 7 “Migrações e xenofobia: motivação política e econômica“. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/migracoes-e-xenofobia-motivacao-politica-e- economica.htm> 8 “Desafios em um mundo de imigrantes”. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/mundo/2013/07/20/noticiasjornalmundo,3095993/desafios -em-um-mundo-de-imigrantes.shtml> 9 Dados disponibilizados pela Polícia Federal em 15 de abril de 2016. 15 dão nem experiência prévia. Até mesmo menores de idade acabam sendo in- corporados às funções. Do trabalhador se exige apenas muita coragem para se adaptar às condições insalubres de trabalho, uma vez que é um setor no qual não há nenhuma regulamentação das relações trabalhistas (SILVA, 2016, p.161). Por outro lado, os haitianos identificaram o Brasil como possível nova moradia após o tsunami que devastou o país em 2004 e, sobretudo, depois do terremo- to de 2010. Devido às circunstâncias, o Itamaraty aprovou a concessão de vis- tos humanitários à população haitiana. Grande responsável pelo recente aumento de imigrantes oriundos de Estados pouco desenvolvidos foi a positiva virada econômica que o Brasil observou na última década. O panorama financeiro acabou por tornar o cenário do país mais favorável e atrativo àqueles que vislumbram melhores oportunidades. Especificamente quanto aos norte-americanos, a liderança brasileira na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), estabelecida no mesmo ano do tsunami, configurou-se como outro aspecto causador da migra- ção dos nacionais do país atingido pela catástrofe. Outra modalidade de autenticação estendida recentemente em considerável escala a imigrantes no Brasil é o refúgio, isto é, uma proteção legal que o país oferece a cidadãos de outros países que estejam sofrendo perseguição por motivos de raça, religião, naci- onalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou ainda, que estejam sujeitos, em seu país, a grave e generalizada violação de direitos humanos 10 (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, ONLINE). Os maiores beneficiados dessa permissão são os sírios, afetados pela guerra civil que atinge o país desde 2011 e responsável pela morte de quase 500 mil pessoas11. O Brasil recebeu 2.298 nativos da Síria, até abril de 2016, revelando-se o destino mais procurado dos asiáticos na América Latina12. 10 Definição do Ministério brasileiro da Justiça. Disponível em: <http://www.justica.gov.br/central-de-atendimento/estrangeiros/refugio> 11 Número de mortos em guerra civil na Síria chega a 470 mil, diz jornal. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/02/numero-de-mortos-em-guerra-civil-na-siria-chega- a-470-mil-diz-jornal-20160211100505516954.html> 12 Dados disponibilizados pela Polícia Federal em 15 de abril de 2016. 16 Os angolanos formam o segundo maior grupo de refugiados em solo tupiniquim. Os 37 anos de José Eduardo dos Santos na presidência de Angola e a dura re- pressão a protestos e pessoas contrárias ao governo podem ser pontuados como os grandes responsáveis pela trágica estatística. Embora a Constituição angolana garanta a democracia no país, na prática, o que os cidadãos reconhecem é uma ditadura voraz. Em terceiro lugar na lista de nações com mais refugiados no Brasil, aparece a Co- lômbia. Ao contrário da situação política de Angola, o conflito entre as Forças Ar- madas Revolucionárias da Colômbia e o Exército é de conhecimento amplo. A guerra, que perdura há mais de 50 anos, é vista como o principal motivo da fuga de colombianos ao Brasil e a outros países, sobretudo, da América do Sul. 360 mil deles se tornaram refugiados desde o início da batalha. 2.3. Discurso jornalístico, dialogismo e ideologia Os jornalistas, basicamente, têm como função informar ao público as realida- des do cotidiano. Entretanto, ao mesmo tempo, os profissionais da comunica- ção se deparam com a tarefa de interpretar sentidos e acabam por administrar as narrativas da contemporaneidade, embora sua missão seja mais abrangen- te. O jornalista, o comunicador como agente cultural, ocupa um lugar pri- vilegiado na sociedade – não pode se contentar em exercer a função administrativa dos sentidos já estabelecidos em qualquer instância de poder. Para renovar e criar uma narrativa rigorosa, sutil e solidária, é preciso contato e o movimento: o corpo inteiro abre a sensibilidade para a intuição criadora que, por sua vez, mobiliza a razão complexa para uma intervenção transformadora. (MEDINA, 2008, p.109). A produção de significados está claramente ligada à comunicação social, a qual percebe diante de si a possibilidade de criar novos sentidos aos fatos. Como afirma Cremilda Medina (2003), o fechamento das questões numa razão reducionista não permite “a emoção solidária” que assimila os sinais do outro. Como consequência, a decomposição da complexidade de fenômenos faz as tarefas jornalísticas se dissiparem. A abordagem dos diversos lados das estó- rias e a discussão da obscuridade de episódios deixam de ser cumpridas pelo profissional. 17 O resultado da supressão comunicacional se revela na tendência do discurso a se regular não para a problemática, mas sim para o acontecimento factual, dei- xando de proporcionar ao público um olhar clínico e crítico sobre o panorama estruturado e baseado, a priori, sob os fatos. Pelo contrário, os jornalistas têm a função de ponderar construções multiface- tadas e perspectivas sob o olhar consensual da verdade, de maneira que seja possível transmitir ao público a rota pela qual a sociedade segue e até mesmo a história da comunidade. Elevar a notícia ao status de “narrativa” a introduz em outra superfície, na qual as histórias não se limitam à simples atribuição de informar e explicar. “O noti- ciário funciona, desse modo, como referência de valores, reverberando um conjunto de emoções substitutivas, redefinindo tradiçõese crenças” (MARRO- QUIM, 2010, p.7). Por outro lado, além de dar origem a sentidos, faz-se necessário combater a comunicação unidirecional, deixando de preservar o indivíduo e passando a amparar o coletivo. É vital também cultivar a multiplicidade das versões, a qual colabora com o conflito dos dizeres, com a pluralidade e rechaça o vetor unila- teral. Essa autoria ocorre não nos juízos de valor individualizados, mas na competência profissional, na capacidade de as múltiplas vozes (poli- fonia) que expressam o conflito das versões. No caso da informação proveniente da ciência, uma das esferas de poder das sociedades avançadas, compete ao profissional da comunicação quebrar a práti- ca de dar voz a uma única corrente de pesquisa como se fosse a ver- dade absoluta e definitiva (MEDINA, 2006, p. 23). A percepção do sentido de um evento qualquer só se dá com a presença e o envolvimento de outra(s) pessoa(s), cuja(s) existência(s) e distinção(ões) me- rece(m) ser significada(s) e realçada(s). Tal destaque entra em evidência a par- tir do contato entre duas culturas diferentes, o qual proporciona mais visibilida- de aos costumes aos olhos do “diferente”. Dessa maneira, é preciso considerar a discussão mais complexa do que o transmitido pela sua apresentação inicial, lidando com o entrelaçamento e con- fusão de fenômenos. Diversas camadas interligadas encobrem a confusão de explicações para isso, como volta a explicar Cremilda: 18 Uma noção complexa que exige aprendizado na narrativa da contem- poraneidade é a da intercausalidade das coisas, substituindo a con- cepção de que qualquer situação decorre de um único fator causador (MEDINA, 2003, p. 118). O fortalecimento de respostas simplistas e práticas diante de situações multi- formes, que carecem de atenção especial, tem como resultado quase que ime- diato “o reforço e a amplificação das lacunas existentes entre a população mai- oritária e minoritária” (AVRAHAM apud SILVERINHA e PEIXINHO DE CRISTO, 2004, p. 5). Tal efeito é decorrente, principalmente, das ações de conglomerados podero- sos, muitas vezes interessados e seduzidos por condutas desviantes motiva- das por desejos ocultos. Assim, desloca-se contra um de seus deveres: repor- tar situações inserindo cada pessoa dentro de experiências de outros indiví- duos. Na medida em que as ideologias estão ligadas e nascem das práticas sociais e materiais e lhes dão expressão e articulação, os media têm, inevitavelmente, um efeito político na reprodução social (KRESS apud SILVERINHA e PEIXINHO DE CRISTO, 2004, p. 7). O discurso é responsável pela elaboração de episódios e histórias capazes de enfocar as questões intrínsecas da imigração, remetendo-os a fatos represen- tantes de um problema cultural, social e político maior. Diretamente, produz-se uma relação dialética entre a narrativa, a problemática social e a estrutura da sociedade ali discutida. O resultado da produção do dialogismo causa reações nos objetos da discus- são e naqueles que estão a sua volta. Assim, a imagem concebida dos imigran- tes define como são notados, recebidos e tratados pelas comunidades, influen- ciando opiniões e comportamentos, inclusive dos próprios estrangeiros. O uni- verso das informações midiáticas se configura efetivamente como o espaço da construção de conceitos e noções (MARROQUIM, 2010). Mostra-se nesse ponto a grande responsabilidade jornalística na cobertura da conjuntura aqui tratada. As opiniões formadas por cada pessoa, com base nas veiculações midiáticas, fundamentam reações diversas, nas quais se incluem a intolerância e abusos. 19 Como aborda Bourdieu (1997), os comunicadores, através de suas visões par- ticulares, observam e analisam determinados fenômenos conforme os valores que tomaram para si. Em consequência, ao produzir materiais à comunidade, efetivam uma seleção e uma concepção do que foi selecionado. Exemplo de triagem essencialmente unilateral de jornalistas é apontado em análise feita por Alex Manetta em um dos capítulos de “Bolivianos no Brasil e o discurso da mídia jornalística” (2012). No livro, comprova-se que, em boa parte, os membros da comunidade boliviana são ligados a “temáticas que tendem a gerar associações frequentes entre bolivianos e o crime, a informalidade e a contravenção” (MANETTA, p. 265). Embora devesse ser natural, pouco se de- nuncia as condições sob as quais esses estrangeiros vivem. Por outro lado, o levantamento de Manetta demonstra que metade dos relatos analisados discor- re sobre a prisão de bolivianos. O próprio autor alerta para a recusa do jornalismo em destacar as situações adversas pelas quais os imigrantes passaram durante seu trajeto rumo ao Bra- sil. Cria-se, dessa forma, uma associação, através da mídia jornalística, entre bolivianos e aspectos sociais negativos com tendência à gera- ção e manutenção de estereótipos ligados às pessoas daquela naci- onalidade. Torna-se fácil, então, associar bolivianos às manifestações sociais indesejáveis que ocorrem nas cidades brasileiras, como a mi- séria, a violência ou tráfico de drogas (MANETTA, 2012, p. 265). A saída para obter conhecimento mais próximo da realidade desses grupos é a assistência aos meios mais restritos e específicos criados dentro das próprias comunidades. Assim, passa a ser claramente notável a missão assumida por jornalistas de veículos pertencentes à “grande mídia” de elaborar enquadramentos a fim de gerar simbolismos visando conferir sentido a situações julgadas relevantes por eles, ocasionando visões distorcidas da realidade, mas concordantes com a proposta manifestada por eles próprios. A posição tomada entra na contramão do que é levantado pela Teoria do Espe- lho, ou seja, confronta a ideia de que o jornalismo se coloca como um reflexo do cotidiano, tendo como seu profissional um emissor de relatos equilibrados. 20 As publicações de um jornal são muitas vezes consideradas de fato espelho da realidade pelo público leitor, ao passo que o poder dos periódicos é institucio- nalizado, quase que indiscutivelmente, como confiável e legítimo. Como resultado, vê-se o compartilhamento social das opiniões e paisagens propagadas pela mídia, solidificada sob interesses múltiplos, mas escusos. Forma-se, assim, o senso comum moldado pelos grupos de comunicação que já oferecem pronta a interpretação do cotidiano ao espectador, em vez de ofe- recer simplesmente a informação para o próprio público fazer suas decisões e formular seus conceitos. Por conseguinte, combate-se as diferenças através de uma representação sociocultural deformada. Ao criar o conceito da “tradição inventada”, Erick Hobsbawm e Terence Ranger acabam por jogar luz aos erros implícitos em sentidos imputados a imigrantes- problema, vítimas de falácias a eles qualificadas pela sociedade preconceitu- osa, de onde não se pode excluir os grupos de comunicação. Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, nor- malmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, au- tomaticamente; uma continuidade em relação ao passado (HOBS- BAWM e RANGER, 1984, p. 9). É nesse mundo midiático onde se revelam as ideologias que, tomadas como verdade, reverberam os pré-conceitos sociais observados contra alas mais vul- neráveis da sociedade, na quais se incluem os imigrantes-problema. As ideolo- gias se referem a sistemas de pensamento, de valores e crenças, por exemplo, que de- notam um ponto de vista particular sobre o real, uma construção so- cial da realidade, independentementede aspirarem ou não à preser- vação ou à mudança da ordem social (GOUVEIA apud SILVERINHA e PEIXINHO DE CRISTO, 2004, p. 7-8). Desempenhando a função de defender as conveniências de grupos, as ideolo- gias formam-se por meio de valores socioculturais dos conjuntos, cujos mem- bros são conduzidos a determinadas atitudes, orientando suas práticas e pro- duções. 21 A reação defensiva derivada dos pontos de vista conservadores de parte da sociedade brasileira exemplifica a tentativa de fortalecer as identidades locais ante a chegada de membros de grupos étnicos “estranhos” ao seu cotidiano. A presença de outras culturas ameaça a dominação dos costumes dos que te- mem a modificação do status quo garantidor de sua supremacia. A tradução da conservação do panorama favorável a essa massa no cotidiano se dá na exclusão dos povos “inferiores”, obrigados a se submeter às vontades do sistema imposto pelo corpo social. Isto é, dificuldades de adaptação, obstá- culos no acesso à educação, baixa valorização e remuneração profissional e, em consequência, ampla oferta de subempregos. Acoplado ao pensamento tradicionalista, vale ressaltar, aparece não somente a xenofobia, mas também o racismo propriamente dito, ao passo que considerá- vel parcela dos imigrantes contemporâneos é negra. A política do “branquea- mento” ainda apresenta reflexos muito arraigados nas concepções de brasilei- ros e instituições nacionais, como os grupos de comunicação. A cultura, um novo campo de batalha política, passa a ser então uma “ameaça” às elites constituídas, que combatem os esforços de reco- nhecimento comunitário por terem ao seu lado um instrumento que já se mostrou historicamente infalível na manutenção da ordem constitu- ída: a igualdade liberal (CAMPOS, 2015, p. 42). Diferentemente do atual momento, ao longo do século XIX a vinda de imigran- tes era considerada uma medida positiva, quase que uma solução mágica para o país (CAMPOS, 2015). Entretanto, a alteração na concepção ante aos imi- grantes – à época, em sua maioria, europeus, que simbolizavam a prosperida- de econômica e social -, tem uma justificativa aproveitadora: Além de substituir a mão de obra escrava, […] os imigrantes ocupari- am áreas desabitadas do território brasileiro, trariam sua experiência como agricultores europeus e, de quebra, ajudariam a “melhorar a ra- ça” (CAMPOS, 2015, p. 38). A pregação no Brasil para a vinda de trabalhadores se pautava em teses euge- nistas, objetivando a cultivação de seres superiores. “A questão de imigração era, sobretudo, uma questão social e de cunho nacionalista” (CAMPOS, 2015, p. 165). 22 2.4. Modernidade e imigração A formação tardia do mundo moderno acarretou no estabelecimento de des- semelhantes divisões e antagonismos sociais que constituem uma diversidade de identidades no corpo social. Nas sociedades modernas, as culturas nacionais se configuram como uma das principais fontes de identidade cultural. As nações se identificam como algo que produz sentidos, tornando-se um sistema de representação cultural (HALL, 1998). As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições cul- turais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura naci- onal é um discurso - um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre "a nação", sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identida- des. Esses sentidos estão contidos nas histórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu pas- sado e imagens que dela são construídas (HALL, 1998, p. 51). Ao passo que derruba as barreiras da distância antes encaradas como empeci- lhos para o encontro entre as potências e as periferias mundiais, a globalização facilita e intensifica tal processo, aumentando, concomitantemente, os fluxos culturais entre as nações. O deslocamento tem características positivas. Ele desarticula as iden- tidades estáveis do passado, mas também abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades, a produção de novos sujeitos e o que Laclau (1990) chama de "recomposição da es- trutura em torno de pontos nodais particulares de articulação" (HALL, 1998, p.18). 2.5. O Estado e os imigrantes A elaboração ou a falta de políticas públicas possuei grande impacto na inclu- são ou exclusão da população migrante. A defasagem de planos direcionados a esse grupo pode criar ou, se já existentes, fortalecer as desigualdades, en- quanto a introdução desses indivíduos na sociedade propicia a segurança dian- te de violações de direitos estabelecidos. A política migratória inclui também toda a preocupação para que a população migrante que escolheu o Brasil para viver tenha acesso às políticas públicas universais, pensadas e implementadas no país, além de ações, programas e políticas que enfrentam os desafios es- pecíficos da população migrante (LUSSI, 2015, p.137). 23 A discussão sobre as dificuldades enfrentadas por estrangeiros se torna im- possível perante visões estreitas. Faz-se imprescindível o cultivo de aborda- gens amplas e irrestritas. Partindo dessa premissa, o Estado possui a respon- sabilidade de atuar junto a seus cidadãos aprofundando as relações com a so- ciedade civil a fim de promover a interação entre esta e seus novos companhei- ros migrantes. No entanto, a política migratória brasileira aparece na contramão das necessi- dades impostas pelo fenômeno cada vez mais crescente em todo o mundo. Baseados em leis obsoletas e insuficientes, os ideais nacionais direcionados a essas movimentações não garantem aos novos habitantes um adequado pen- samento social. O Estatuto do Estrangeiro (EE)13, lei que regula a imigração no Brasil, foi ideali- zado em 1980 sob a pretensão de garantir aos brasileiros o direito à seguran- ça. Trata-se de uma legislação antiquada para o panorama atual e símbolo da escassez de ações tomadas para incorporar os imigrantes. [...] não há qualquer menção à proteção dos direitos humanos, ao de- senvolvimento social e econômico do país, ou ao papel que o Brasil pretende desempenhar no cenário internacional. Trata-se de uma po- lítica que percebe o estrangeiro como um forasteiro e que objetiva, acima de tudo, garantir a segurança nacional (SICILIANO, 2013, p.32). Como consequência do estabelecimento de regras sob a pretensão da “segu- rança nacional”, reproduz-se um processo de criminalização dos imigrantes, munindo a população de argumentos para estimular a criação e/ou manuten- ção de estereótipos que facilitem a abolição de ligações entre as duas partes. A tentativa de tornar os deslocamentos internacionais um ato criminoso – ao menos quando o destino dos imigrantes-problema é o Brasil -, adota-se uma estratégia de resistência às diferenças e se converte um fenômeno social em um inconveniente penal (LUSSI, 2015). O aumento da criminalidade entre migrantes é diretamente proporcio- nal às políticas e práticas que criminalizam social e culturalmente os migrantes e refugiados, o que de fato dificulta sua inserção social e 13 Lei na íntegra disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6815.htm> 24 trabalhista, o acesso à moradia com dignidade e a integração na so- ciedade de destino (LUSSI, 2015, p. 141). Embora tramite no Congresso Nacional projeto para a substituição do Estatuto do Estrangeiro, a falta de celeridade no processo prejudica a atualização da política brasileira para os imigrantes. Todavia, apresentado em 2009, o texto tem omérito de eliminar grande parte das incoerências existentes no EE, mas não avança no sentido de apresentar uma política migratória propositiva para o país, tampouco se demonstra capaz de criar os mecanismos que transformem a imigração em componente do de- senvolvimento social, cultural e econômico do Brasil (SICILIANO, 2013, p. 50). Prova da falta de preocupação e do atraso tupiniquim na adequação de suas políticas ao mundo contemporâneo é a não adesão à “Convenção das Nações Unidas para a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias” 14, tratado da ONU que assegura as garantias dos migrantes e de seus familiares. O caso dos bolivianos empregados na indústria têxtil no centro da ci- dade de São Paulo é o maior exemplo da incapacidade do país em gerir contingentes de imigrantes nas cidades brasileiras. Em que pese todos os tratados assinados, a realidade é que os imigrantes, mesmo quando originários de Estado Associado ao Mercosul, enfrentam situ- ação de enorme vulnerabilidade e de supressão dos direitos e garan- tias fundamentais à pessoa humana (CACCIAMALI & AZEVEDO, 2005) (SICILIANO, 2013, p. 36). Mesmo que se note, nos últimos anos, o objetivo, sobretudo do poder Executi- vo, de abrir as fronteiras brasileiras a refugiados, por exemplo, é preciso ressal- tar que se verifica uma infraestrutura insuficiente para acolhê-los. Os haitianos parecem ser as maiores vítimas da falsa propaganda realizada pelo Brasil ao liderar a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah). Ao comandar a operação internacional, o país, naturalmente, atraiu o interesse daqueles que eram ajudados, porém, aplicou, em sua maioria, me- didas pontuais para tentar solucionar o problema que encarou, em vez de defi- nir estratégias mais sérias, concretas e duradouras. 14 “Relatora da ONU defende que Brasil ratifique convenção sobre trabalhadores migrantes”. Disponível em: < http://reporterbrasil.org.br/2012/11/relatora-da-onu-defende-que-brasil- ratifique-convencao-sobre-trabalhadores-migrantes/ > 25 2.6. Livro-Reportagem Através da escolha e da produção de um livro-reportagem, este trabalho pre- tende suprir os espaços consentidos pelos diários midiáticos. O livro possui a capacidade de oferecer a seu produtor a possibilidade de aprofundar o conteú- do marginalizado ou pouco abordado pelos canais tradicionais de comunica- ção. Por não ter um apelo temporal e permitir maiores períodos de apuração e pro- dução de textos, o jornalismo literário possibilita a ampliação significativa da discussão e da abordagem de sua complexidade com mais eficiência do que os periódicos (LIMA, 1993). É com este raciocínio que se pode compreender o espaço que o livro- reportagem acaba ocupando, preenchendo o vazio deixado pelas pu- blicações periódicas. Trata-se da questão da superficialidade e do ex- tremo oportunismo com que se apresenta o trabalho da imprensa co- tidiana (LIMA, 1993, p. 32). A complementação se manifesta no esforço para o livro “escapar da efemeri- dade e da superficialidade na imprensa cotidiana” (LIMA, 1993, p. 38). A super- ficialidade, sobretudo, configura-se como situação sempre combatida a fim de oferecer ao público embasadas discussões. Nesse tipo de obra, encontra-se um ambiente para o leitor conhecer os fatos narrados por meio de um olhar subjetivo e particular, embora haja sempre uma enunciação mais explícita das características universais intrínsecas ao fato (SAYÃO, 2011). Enquanto o jornalismo tem a tarefa de informar e orientar seu público quanto ao cotidiano, verifica-se no livro a mesma função com a adição da abordagem da complexidade e da profundidade que cabe ao objeto da reportagem, “trans- formando-se [...] num instrumento complementador e extensor dessa função declarada, individualizadora, do jornalismo” (LIMA, 1993, p. 37). Além disso, através de um meio alternativo aos recorrentes círculos de debate, é possível fugir das regras impostas por estes aos profissionais, que são obri- gados a se submeter às condições determinadas. 26 Mais que isso, o livro-reportagem maximiza o potencial dos processos do jorna- lismo, proporcionando visões amplas da realidade e extrapolando os limites dos acontecimentos cotidianos. Ademais, o ambiente o favorece a “romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profun- didade aos relatos” (PENA, 2007, p. 48-49). Se a preponderância do singular, no jornalismo, permite ao redator da notícia diluir-se no público, dissimular-se entre os espectadores, a conquista do típico pela reportagem literária conduz o espectador a vivencia os personagens e as situações como se fosse partícipe do acontecimento. Contudo, de maneira ainda mais evidente do que na arte, ele não deixa de ser um espectador, pois sabe que os fatos são reais e que ele não os viveu, embora pudesse tê-los vivido (GENRO FILHO, 1987, p. 202) Entretanto, vale apontar que nesta obra não se ignora os princípios básicos do jornalismo diário, tampouco algumas de suas técnicas narrativas. Porém, todas são desenvolvidas aliadas a outras características a fim de contribuir para o debate. Há ainda a possibilidade do exercício e do desenvolvimento da veia literária, cujas propriedades permitem ao autor abrir-se mais aos detalhes dos testemu- nhos antes anônimos, resgatando a presença do ser humano nas narrativas da realidade. Como efeito dessas oportunidades, pode-se dar origem a perfis humanizados dos personagens escolhidos para compor o trabalho, procurando entender sua vida em aspectos variáveis, desde a composição de seus valores até a cons- trução de sua história. Tal recurso se torna “um instrumento para a dramatização do acontecimento e a revelação mais explícita – e não apenas insinuada ou pressuposta – do con- teúdo universal do fenômeno produzido” (FILHO, 1987, p.122). Dessa maneira, potencializa-se os recursos jornalísticos, transpondo limites impostos pelo cotidiano e proporcionando visões acentuadamente mais amplas da realidade. 27 Desprezando a espetacularização dos fatos abordados, o livro-reportagem, naturalmente, propõe a realização de entrevistas com o objetivo da compreen- são da conjuntura levantada. Por outro lado, nota-se aqui que a produção do jornalista pode, se não houver atenção, perder seu objetivo principal: o relato do episódio pretendido. Assim, “o perigo da proximidade com a escrita literária é exatamente o de desviar atenção dos leitores para elementos desnecessários para apreensão e inter- pretação do fato” (SAYÃO, 2011, p.41). 28 3. Apresentação da Peça Jornalística (Making of) 3.1. Concepção (Pré-produção) Este Trabalho de Conclusão de Curso teve início com a leitura e o acompanhamento de reportagens de tradicionais plataformas jornalísticas, como canais televisivos, jornais, revistas, a fim de notar se os veículos da chamada “grande mídia” dedicam suas produções a divulgar e denunciar as culturas, as realidades, as dificuldades e as transgressões sofridas pelos imigrantes aqui colocados como objeto de pesquisa. A pauta desta peça teve origem com a percepção de que o drama dos imigrantes e refugiados, embora divulgado insistentemente nas mídias brasileira e internacional, era pouco contextualizado e aprofundado. Isto é, as causas do sofrimento exposto, sobretudo, nas imagens de multidões resgatadas de embarcações despreparadas em alto mar pareciam muito rasasdiante da importância e do impacto que provocam nas vidas de milhões de pessoas. A partir dessa observação, procurou-se pesquisar a melhor maneira de suprir os erros e intensificar os acertos dos canais de comunicação na cobertura da crise migratória. Não obstante a propagação do tema em vídeo pareça ser, à primeira vista, mais eficiente, devido a aliança entre textos e imagens impactantes, encontrou- se aqui no livro-reportagem a oportunidade de cumprir com a tarefa de detalhar os motivos e as consequências do que vivem figuras inseridas à força em um contexto massacrante. Além disso, o espaço do livro proporcionou também a chance de humanizar as histórias de imigrantes e refugiados que, como os próprios comprovam, em algum momento, foram abandonados pela sociedade. Planejou-se, então, fazer o que raramente se notava na abordagem feita pelas mídias: deixar para trás o simples factual, a rasa veiculação da morte ou do resgate de centenas de milhares de grupos que fugiam de seus países, e apostar em uma vertente diferente do “fazer jornalístico” tornando as vozes das 29 vítimas do caos em protagonistas em vez das falas de policiais, políticos ou quaisquer outras autoridades. Ao mesmo tempo, entretanto, o plano não era sustentar a peça somente com os relatos dos personagens. Naturalmente, as versões oficiais e os dados sobre refúgio ou qualquer outro relativo ao tema seriam importantes para evidenciar a proporção do assunto discutido e, claro, reforçar a identidade jornalística presente de forma ativa no trabalho. Na seleção de personagens, priorizou-se aqueles cujas nações se destacam nas estatísticas da Polícia Federal e do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), como Síria e Angola. Embora nativos da Bolívia não representem, de acordo com os dados dos órgãos citados, um grande grupo de refugiados, buscou-se ao menos um boliviano para participar da obra, já que boa parte da comunidade boliviana parece ainda ser vítimas do trabalho, principalmente, na indústria de confecção de roupas. Porém, todos os convidados para contar suas histórias se negaram a participar, pois dizem temer represálias. Planejou-se, ao longo dos capítulos, realçar as características dos imigrantes e seus traços humanos, revelando aos leitores que esses indivíduos devem ser tratados de forma natural, sem olhares preconceituosos. Como modelo de inspiração para a produção desta obra, a leitura de livros clássicos do estilo aqui pretendido foi de extrema importância. Sem dúvidas, Hiroshima, de John Hersey, apresentou-se como exemplo de tratamento de um tema através da vida de diversos personagens que estiveram diretamente liga- dos ao fato discutido. Por se assemelhar à proposta levada em conta neste trabalho, o livro, de certa forma, “ensina” os meios da abordagem a ser utiliza- da no produto aqui desejado. Artigos acadêmicos também se revelaram fundamentais na produção do traba- lho e foram responsáveis por evidenciar aspectos significativos quanto às reali- dades dos imigrantes e refugiados e também à atuação do jornalismo nesse mundo. 30 É necessário pontuar a importância de Jornalismo e construção social da reali- dade: o despertar do acontecimento e a composição da notícia para o entendi- mento da prática jornalística na formatação dos fatos de acordo com os inte- resses da mídia, cuja atuação influencia diretamente a opinião da sociedade e, certas vezes, inflama negativamente o debate da migração. 3.2. Execução (Produção) A primeira etapa da elaboração prática do livro-reportagem foi o contato com imigrantes e refugiados dispostos a contar suas trajetórias. A procura pelos personagens se deu através de diversos meios, como pesquisas em matérias de jornais e revistas, indicações de amigos em comum e até buscas pelo Fa- cebook. Ao contrário das sucessivas negativas de bolivianos ou mesmo pessoas liga- das à comunidade boliviana, o restante dos convidados se mostrou predisposto a colaborar com o trabalho. No total, sete pessoas dispuseram seus relatos. Após rápidas conversas sobre as vidas de cada migrante, partiu-se para os encontros presenciais, em lugares aleatórios na maioria das vezes escolhidos pelos próprios entrevistados. Nos locais de entrevista, os imigrantes e refugiados eram informados sobre o interesse e das características deste projeto, ao mesmo tempo em que se mos- travam à vontade para passar a revelar suas histórias de vida. A proposta executada em cada conversa foi permitir que todos os personagens expressassem suas realidades de maneira livre, democrática e com poucas interrupções. Em média, as entrevistas levaram cerca de duas horas. Algumas delas aconte- ceram em dois dias. Um ponto comum a quase todos os casos foi a dificuldade com o encontro de horários e atrasos consideráveis de parte dos entrevistados nos compromissos combinados previamente. Todos os depoimentos foram gravados em um celular e trechos considerados importantes, registrados em um caderno de anotações a fim de destacar sua relevância, além de realçar números ou eventos marcantes. 31 Depois da coleta de cada um dos áudios, passou-se à fase de decupagem do material na íntegra, selecionando as melhores passagens e excluindo os frag- mentos de menos importância. Vale mencionar que os trechos excluídos são ínfimos perto daqueles incluídos no livro. Eleitas todas as informações necessárias para a obra, teve início a redação dos textos, preservando os aspectos planejados na pré-produção e adicionan- do quaisquer outras ideias que surgissem. Uma delas, por exemplo, foi a união de duas histórias em um capítulo somente, já que se tratavam de nativos de um só país e um motivo semelhante para a fuga da terra natal. Embora inicialmente não planejado, em conversa com professor e orientador Rafael Fonseca, surgiu a ideia de fotografar os personagens para ilustrar os capítulos. Todas as fotografias foram produzidas com uma câmera da própria Universida- de Presbiteriana Mackenzie. Produziu-se as imagens com as cores naturais da paisagem, mas, depois, o estilo acabou alterado, deixando as fotos em preto e branco, com a justificativa de retratar com mais intensidade os personagens. Após a finalização dos três capítulos, visando o reforço do conteúdo destes e o amadurecimento do projeto, jornalistas que participam ativamente do debate da situação de imigrantes e refugiados no Brasil foram convidados para analisar, em forma de prefácio, a essência e os textos do livro. Para tal, tiveram à dispo- sição o relatório teórico parcial e, claro, os capítulos deste Trabalho de Conclu- são de Curso. Cerca de um mês depois da disponibilização do material, foi entregue a avalia- ção, cujo conteúdo, naturalmente, não sofreu nenhuma alteração por parte do autor que aqui escreve. Já a capa e a contracapa do livro foram feitas por um designer. Convidado para a produção, ele aceitou e compartilhou suas ideias com algumas já pensadas por mim para esta parte do trabalho, tornando-o uma mistura de propostas. 32 3.3. Finalização (Pós-produção) A conclusão da redação dos textos e o recebimento do prefácio foram seguidos por revisões feitas por mim mesmo e, claro, pelo professor Rafael Fonseca ao longo dos diversos encontros para a orientação do projeto. As correções buscaram eliminar quaisquer erros de digitação, concordância ou até mesmos de português. Foram necessárias cerca de dez revisões para ex- cluir falhas existentes nos capítulos. Após isso, dei início à diagramação do livro-reportagem, feita no programa Adobe Indesign nas instalações da universidade.O projeto gráfico é de compo- sição própria deste autor com a devida orientação do professor Rafael Fonse- ca. O passo seguinte ao do fechamento da diagramação, foi o envio do material à gráfica selecionada após pesquisas e indicações sobre a qualidade do trabalho da empresa. Depois de dois dias da disponibilização do projeto para a gráfica, recebi a im- pressão de um livro de prova para verificar o resultado da obra. O exemplar, então, foi levado para o orientador e, posteriormente, modificado de acordo com minhas percepções e as do professor. Aspectos como gramatura do papel de capa, espaçamentos e fontes no miolo do livro acabaram alterados para o novo pedido de impressão, o qual contou com diferentes características em cada capítulo da obra para efeito de compa- ração. A partir das novas impressões apreendidas com o novo livro de prova, definiu- se um estilo único para o projeto e, por conseguinte, o pedido final de 10 livros para a gráfica. 33 4. Considerações Finais O livro-reportagem produzido cumpriu com os objetivos determinados neste projeto, fornecendo aos leitores os fatos existentes por trás da vida de cada um dos personagens nele retratados e, por consequência, esclarecendo os moti- vos da fuga desses indivíduos de seus países, o que, não raro, parece ser pouco compreendido pela sociedade. Assim, decerto, facilitou-se o entendimento das histórias de uma pequena, mas importante, parte da comunidade de imigrantes e refugiados presentes em São Paulo, a qual aqui pode ser colocada como exemplo do grupo de migrantes que atravessam países e enfrentam o sofrimento para buscar novas oportuni- dades com uma única razão: sobreviver. Como delineado, esta obra se encarregou de transformar vítimas do preconcei- to e do ódio em protagonistas, oferecendo a chance de serem ouvidas como poucas vezes foram anteriormente. Suas versões dos fatos, opiniões e experi- ências encontraram aqui espaço para serem divulgadas abertamente, sem jul- gamentos ou censura. Dessa maneira, a partir de agora, sabe-se das dificuldades que esse grupo en- frentou e continua enfrentando diariamente no mundo e, especialmente, na ca- pital paulista. A ideia óbvia de que imigrantes e refugiados têm o direito de ser bem recebidos parece ter sido esquecida pelo corpo social, de acordo com os relatos dos pró- prios personagens. Assim, a discussão pretendida e desempenhada sobre o confronto entre o “Brasil afetuoso” e o “Brasil retrógrado”, comprova-se extre- mamente necessária para descortinar a realidade em que a sociedade perma- nece a se esconder. Vale salientar a importância do material acadêmico utilizado para a elaboração do referencial teórico, que garantiu uma base consistente para a produção do livro-reportagem. As escolhas de autores diversos e, consequentemente, a absorção de múltiplas visões sobre o tema discutido se apresentaram vitais no decorrer do trabalho, 34 uma vez que revelaram os pormenores do debate e da própria ação (ou falta dela) dos meios de comunicação frente à crise migratória enfrentada nos últi- mos tempos. Embora os diagnósticos dos especialistas tenham proporcionado a redução de possíveis inconvenientes, naturalmente, estes apareceram. Um dos principais foi a dificuldade de parte dos entrevistados em se comunicar facilmente na lín- gua portuguesa, o que provocou, certas vezes, o incômodo e a inibição de al- guns imigrantes. Por outro lado, o contato com os personagens foi extremamente positivo, não apenas para ouvir de perto seus relatos, mas também para sentir suas apreen- sões, perspectivas e, sobretudo, para conhecer quem realmente são as pesso- as regularmente vistas como complicações em nossa sociedade. Essa proximidade foi ativamente responsável por viabilizar a resposta da per- gunta-problema apontada no início deste Trabalho de Conclusão de Curso: “Como o livro-reportagem pode retratar a vida e os problemas enfrentados pe- los imigrantes e refugiados em São Paulo?” Aqui se descobriu que o livro-reportagem pode reproduzir as vivências dos imi- grantes e refugiados em território paulistano através de uma comunicação hu- mana, cuja missão não se resume a opinar e replicar julgamentos rasos defini- dos sem a compreensão de ambos os lados. Quem procura somente um lado dos fatos, conhece apenas uma parte da ver- dade. Por isso, esta obra contextualiza o presente dos migrantes evidenciando as causas e as consequências das circunstâncias esquecidas por quem os de- precia. É dessa maneira, tornando público os porquês, que o livro se mostra eficaz em esclarecer o verdadeiro retrato dos estrangeiros. Lembre-se ainda que não coube ao livro-reportagem transformar esse grupo em mera vítima das ocasiões, mas sim desnudar a realidade de cada imigrante e refugiado como ela foi e/ou é, notabilizando seus erros, acertos, quedas e triunfos. 35 A principal função desempenhada por esse livro-reportagem foi retratar os per- sonagens como humanos. Embora simples, tal ofício é pouco encontrado, prin- cipalmente, nas mídias tradicionais, as quais ainda têm em seu poder a maior parte do público brasileiro. 36 5. Referências Bibliográficas BERGER, Peter L.. A Construção Social da Realidade. Rio de Janeiro: Vozes Ltda., 1966. FEATHERSTONE, Mike. O Desmanche da Cultura: Globalização, Pós- Modernismo e Identidade. São Paulo: Nobel, 1997. FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de clas- ses. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 1965. 738 p. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de janeiro: José Olympio, 1987. 573 p. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A, 1998. HERSEY, John. Hiroshima. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 172 p. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como exten- são do jornalismo e da literatura. 2. ed. Campinas: Ed. UNICAMP, 1995. 271 p. MEDINA, Cremilda de Araújo. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidi- ano. São Paulo: Summus, 2003. 152 p. MEDINA, Cremilda de Araújo. Ciência e jornalismo: da herança positivista ao diálogo dos afetos. São Paulo: Summus, 2008. 118 p. MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. 3. ed. São Pau- lo: Ática, 1995. 96 p. MEDINA, Cremilda de Araújo. O Signo da Relação: Comunicação e Peda- gogia dos afetos. São Paulo, 2006. 197 p. MERTON, Robert. Social Theory and Social Structure. 1949 37 ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira & Identidade Nacional. São Paulo: Brasili- ense, 2011. TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2 ed. 2005- 2008. 224 p. 5.1. Referência de Internet BAENINGER, Rosana. Imigração Boliviana no Brasil. Campinas: Núcleo de Estudos de Populacão, 2012. Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/bolivianos/livro_bolivianos.pdf# page=258>. Acesso em: 4 abr. 2016. BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Oeiras: Celta, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 40142006000200012&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 mar. 2016. CAMPOS, Gustavo Barreto de. DOIS SÉCULOS DE IMIGRAÇÃO NO BRA- SIL: A construção da imagem e papel social dos estrangeiros pela imprensa entre 1808 e 2015. 2015. 539 f. Tese (Doutorado) - Curso de Comunicação e Cultura, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Dispo- nível em: <http://midiacidada.org/img/tese_final_GBC_final.pdf>.Acesso em: 2 abr. 2016. COGO, Denise. Mídia, imigração e interculturalidade: mapeando as estra- tégias de midiatização dos processos migratórios e das falas imigrantes no contexto brasileiro. Disponível em: <http://revistas.ufg.emnuvens.com.br/ci/article/view/23453/14025>. Acesso em: 3 abr. 2016. COGO, Denise; BADET, Maria. De braços abertos... A construção midiática da imigração qualificada e do Brasil como país de imigração. 2013. Dispo- nível em: <http://revistacomsoc.pt/index.php/cecs_ebooks/article/viewFile/1577/1495>. Acesso em: 3 abr. 2016. 38 FOLHA DE SÃO PAULO. Simpatia do brasileiro é um mito, diz sociólogo Manuel Castells. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/05/1630173-internet-so-evidencia- violencia-social-brasileira-afirma-sociologo-espanhol.shtml>. Acesso em: 5 dez. 2015. GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre, Tchê, 1987. Disponível em: <http://www.adelmo.com.br/bibt/t196-09.htm>. Acesso em: 3 abr. 2016. HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. Introdução: A Invenção das Tradi- ções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. Disponível em: <http://www.janduarte.com.br/textos/teoria/invencao_tradicoes.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2016. JUBILUT, Liliana Lyra; APOLINÁRIO, Silvia Menicucci. A necessidade de pro- teção internacional no âmbito da migração. 2010. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/revdireitogv/article/view/24228/2299 1>. Acesso em 28 de fev. 2016. LUCENA, Siomara Regina Cavalcanti de. A imigração e o imigrante nas im- prensas brasileira e espanhola: Exclusão/Inclusão Social. 2008. 181 f. Te- se (Mestrado) - Curso de Psicologia Social, Universidade Federal da ParaÍba, João Pessoa, 2008. Disponível em: <http://www.cchla.ufpb.br/ppgp/images/pdf/dissertacoes/siomara_2008.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2016. LUSSI, Carmem. Políticas públicas e desigualdades na migração e refú- gio. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n2/0103-6564- pusp-26-02-00136.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2016. MANETTA, Alex. Bolivianos no Brasil e o discurso da mídia jornalística. In: BA- ENINGER, Rosana. Imigração Boliviana no Brasil. Campinas: Núcleo de Es- tudos de Populacão, 2012. p. 265. Disponível em: <http://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/bolivianos/livro_bolivianos.pdf# page=258>. Acesso em: 5 abr. 2016. 39 MARROQUIM, Rafael. Jornalismo e construção social da realidade: o des- pertar do acontecimento e a composição da notícia. 2010. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/R5-1837-1.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2016. PENA, Felipe. O jornalismo Literário como gênero e conceito. 2007. Dispo- nível em: <http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/viewFile/349/152>. Acesso em: 6 abr. 2016. CYMBALISTA, Renato. A comunidade boliviana em São Paulo: definindo padrões de territorialidade. 2007. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/viewFile/8767/6492>. Acesso em: 6 mar. 2016. SILVEIRINHA, Maria João; PEIXINHO DE CRISTO, Ana Teresa. A constru- ção discursiva dos imigrantes na imprensa. 2004. Disponível em: <https://rccs.revues.org/1343>. Acesso em: 8 mar. 2016. SICILIANO, André Luiz. A política migratória brasileira: limites e desafios. 2013. 59 f. Tese (Mestrado) - Curso de Relações Internacionais, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.iri.usp.br/documentos/defesa_12-04-19_Andre_Luiz_Siciliano.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2016. SILVA, Érica Sarmiento da. A “não democracia” dos excluídos alguns pon- tos da política imigratória brasileira. 2006. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/logos/article/view/12474/9671>. Acesso em: 3 abr. 2016. SILVA, Sidney Antônio da. Bolivianos em São Paulo: entre o sonho e a rea- lidade. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 40142006000200012&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 mar. 2016.
Compartilhar