Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) O VALOR DA PROGRAMAÇÃO NA PRODUÇÃO: GERENCIAMENTO DE RECURSOS PARA A EFICIÊNCIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL Carla Conte Martini Mercedes Lusa Manfredini Tassiara Baldissera Camatti Maria Emilia Camargo Marcia Rohr da Cruz RESUMO Este estudo foi realizado com a intenção de explicitar, com base em referências bibliográficas baseadas nas teorias de programação da produção, em especial teorias da administração da produção voltadas para a área da construção civil. Procurou-se com o levantamento bibliográfico apresentar práticas que tenham como resultado a partir da sua aplicação, a redução de custos, a otimização dos recursos e como conseqüência se obtenha como resultados uma maior lucratividade e competitividade. Para isso buscou-se verificar a aplicação real para fins de amplo entendimento dos benefícios das práticas e também das lacunas teóricas existentes na aplicação prática, utiliza-se para isto o método PDCA aplicado à construção civil. Palavras-chave: programação da produção; produção; construção civil. ABSTRACT This study was intended to clarify the basis of references based on the theories of production planning, especially theories of production management aimed at the construction area. We tried to make the bibliographic practices which result from its implementation, cost reduction, optimization of resources and consequently to obtain results as increased profitability and competitiveness. To this aim was to verify the actual application for a broad understanding of the benefits of practical and theoretical gaps also exist in practical application, is used for this method PDCA applied to construction. Key-words: production scheduling; production; construction. 1. INTRODUÇÃO Para Drucker (1992) os fatores tradicionais de produção, sendo estes terra, mão-de- obra e dinheiro, em especial por sua mobilidade não são suficientes para garantirem vantagem competitiva a uma empresa, e muito menos para nação. Ao invés disso, o gerenciamento tornou-se o fator decisivo da produção. 2 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) Dessa forma, em um contexto de grande mudança, a indagação de Drucker (1992) vem corroborar com o novo cenário em que se encontram as organizações, onde o diferencial que agrega valor ao produto ou serviço não é mais concebido mediante somente os fatores de produção, mas sim, dos agregados necessários para que o consumidor perceba esses diferenciais. Nesse sentido, as organizações deixam de ser representadas por meio de pirâmides, símbolos representativos da estrutura, controle, posição e burocracia, e passam a ser entendidas como redes e teias, caracterizadas pelo alto desempenho, equipes especializadas, processos horizontais, sistemas virtuais, sem fronteiras e caóticos (DRUCKER, 1992). Neste cenário, as organizações são vistas como sistemas que interagem em um ambiente de grande e constante mudança, buscando sedimentar uma forma produtiva que agregue resultados positivos à gestão do negócio. Na área dos sistemas de produção, uma das ferramentas eficazes para a administração de recursos é a programação em produção, que define o ritmo e a forma da produção. 2. SISTEMAS DE PRODUÇÃO Os sistemas de produção nunca estiveram em destaque como nos dias atuais. Fruto de uma acirrada disputa por mercados globalizados, as organizações investem em melhorias dos sistemas produtivos, buscando vantagens competitivas. Queda de barreiras alfandegárias, mercados comuns, privatizações, novas tecnologias e concorrência sem limites pressionam as organizações para que seus sistemas produtivos sejam flexíveis, rápidos na implantação de novos projetos e apresentem baixos lead times e estoques (PALOMINO, 1995). Em seu trabalho, Palomino (1995), coloca que toda empresa, para poder funcionar, adota um sistema de produção com vistas a realizar suas operações e produzir seus produtos ou serviços da melhor maneira possível, e com isto garantir sua eficiência e eficácia. Um Sistema de produção começa a tomar forma desde que se formula um objetivo e se elege o produto que se vai comercializar. Deste modo, toda empresa, como um sistema de produção, tem por finalidade organizar todos os setores que fazem parte da mesma para realizar suas operações de produção, adotando uma interdependência lógica entre todas as etapas do processo produtivo, desde que as matérias primas ou materiais deixam o almoxarifado até chegar posteriormente (depois de sofrer uma alteração) ao depósito de produtos acabados na qualidade de produto final (PALOMINO, 1995). 3 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) MOREIRA (2000) define sistema de produção como o conjunto de atividades e operações inter-relacionadas envolvidas na produção de bens ou serviços. O autor identifica alguns elementos constituintes fundamentais no sistema de produção: os insumos, o processo de conversão, os produtos/serviços e o subsistema de controle, conforme figura 1. Os insumos são os recursos a serem transformados diretamente – matérias-primas – e os recursos que movem o sistema – mão-de-obra, capital, instalações e outros. O processo de conversão muda o formato das matérias-primas em manufatura, enquanto em serviços cria-se o serviço. O sistema de controle objetiva assegurar que as programações sejam cumpridas por meio de padrões pré-estabelecidos. Como o sistema de produção é um sistema aberto, está sujeito às influências e restrições do meio ambiente. Figura 1: Elementos do sistema de produção Fonte: MOREIRA (2000). Estas influências e restrições vêm de duas linhas: internas e externas. As internas dizem respeito às outras áreas funcionais da empresa (Marketing, Finanças, Recursos Humanos e outras). As externas abordam as condições econômicas gerais do país, as políticas e regulações governamentais, a competição e a tecnologia. Para TUBINO (1997), os sistemas produtivos exercem uma série de funções operacionais, que podem ser agrupadas em três categorias: Finanças, Produção e Marketing. Estes três grupos seguem a tendência de serem Inter-relacionados, eliminando barreiras funcionais, que limitam o sucesso do sistema de produção. Assim, as três funções devem ter 4 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) suas atividades desenvolvidas em perfeita harmonia, num livre trânsito de comunicação para os reais objetivos de melhoria do sistema de produção. O trabalho em sinergia visa aproximar toda a organização dos seus objetivos agregando valor ao produto de diversas formas. A importância da função produção está justamente, em transformar insumos em bens ou serviços por meio de um ou mais processos adicionando valor aos mesmos durante o processo de transformação. Ou seja, a organização que funciona como um sistema integrado em suas atividades, sendo um organismo altamente complexo, é dissecada em processos de produção para que seja possível o gerenciamento, planejamento e controle de sua produtividade, com vistas aos objetivos traçados e seu posicionamento no mercado. 3. O MACROSSETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL A atividade da construção impacta a economia brasileira de forma bem mais ampla do que aquela diretamente visualizada através de um produto imobiliário ou de uma obra de construção pesada como uma estrada, por exemplo. Na verdade, a importância e o impacto desta atividade sobre o ambiente econômico se estabelece a partir do notável padrão de articulação intersetorial que se forma através da cadeia produtiva,que liga desde fornecedores de matérias-primas, insumos diversos e equipamentos (que estão para trás da cadeia), até mesmo atividades de serviços (aluguéis, hotéis, consultorias, etc), que estão para frente. Através da identificação das inter-relações entre os elos da cadeia, é possível dimensionar o macrossetor e, assim, pode-se avaliar o impacto resultante do seu efeito multiplicador sobre a economia em termos da geração de produto, renda, emprego, impostos, etc. Com base nos dados contidos no trabalho realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia – IBRE da Fundação Getúlio Vargas – FGV, intitulado “Macrossetor da Construção”, é possível desenvolver-se alguns tópicos que sintetizam a relevância e a importância estratégica que a dinamização permanente do macrossetor da construção proporcionaria para a economia brasileira. O macrossetor da construção representa 18,4% do PIB do País, considerando-se os efeitos diretos, indiretos e induzidos. O efeito induzido pode ser explicado da seguinte forma: o macrossetor para produzir paga salários aos trabalhadores, que por sua vez, se convertem em demanda por bens produzidos fora do macrossetor, tais como alimentos, roupas, eletrodomésticos, automóveis, etc. Isto significa, considerando-se a última estimativa oficial (Contas Nacionais de 2004) apresentada pelo IBGE para o PIB brasileiro – R$ 1,766 trilhão a 5 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) preços de mercado e R$ 1,581 trilhão referentes ao valor adicionado, que o macrossetor da construção movimenta cerca de R$290 bilhões na economia nacional. A participação das atividades econômicas mais importantes que agregam o produto gerado pelo macrossetor é a seguinte: - Atividade da construção: 71,78% do macrossetor; - Indústria associada à construção: 19,66% do macrossetor; - Serviços associados à construção: 8,57% do macrossetor. Outra característica importante do macrossetor da construção é a sua elevada capacidade de gerar empregos: cerca de 6,2 milhões de trabalhadores estão diretamente ocupados na cadeia produtiva da indústria da construção, em 2004, o que corresponde a 8,5% do total de postos de trabalho existentes no país no período. Já considerando-se o somatório dos efeitos multiplicadores (diretos, indiretos e induzidos) de emprego do macrossetor na economia, o número atinge a 12,1 milhões de trabalhadores ocupados em toda a economia brasileira. Em outros números: Para cada R$ 1 bilhão aplicado na produção da indústria da construção, através do exemplo, de financiamentos à produção habitacional, são gerados, considerando-se os efeitos multiplicadores diretos, indiretos e induzidos, 39,9 mil empregos na economia. O macrossetor e a indústria da construção civil são responsáveis por grande parte do crescimento da economia brasileira, no que tange ao impacto gerado pelos efeitos diretos, indiretos e induzidos. 4. A PRODUÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL A construção civil é tida por inúmeros autores, como uma das áreas de atuação que ainda desenvolvem sua técnica de forma primária, utilizando recursos humanos para executar trabalho 90% braçal e onde se estabelece um limiar entre a aplicação técnica e a efetividade humana. Nesse sentido, vê-se necessário acessar a ferramentas de planejamento e controle da produção em construção civil para que se possibilite a otimização dos recursos disponíveis para maior produtividade. Neste contexto, diversas pesquisas se intensificaram almejando uma metodologia de gestão da produção que se adequasse às peculiaridades do sistema de produção da construção civil. Segundo Souza (1997) e Melhado (1999), as empresas construtoras passaram a investir na melhoria da qualidade através do uso de tecnologias inovadoras e da implantação de sistemas de gestão de qualidade. 6 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) Durante a década de oitenta, a indústria da construção civil iniciou seu processo de absorção da filosofia de Gestão da Qualidade Total, direcionando o foco do seu negócio para o consumidor final e aprimorando continuamente seu sistema de produção (Ahuja, 1994). A partir da década de noventa, os sistemas de gestão da qualidade já estavam presentes em muitas empresas construtoras, dos mais variados níveis de faturamento (Melhado, 1998). A qualidade passou, então, a ser vista pelas empresas construtoras não apenas sob o ponto de vista do produto industrial – Controle de Qualidade – mas também sob a óptica da gestão e como um vetor determinante na competitividade das organizações. A adoção de um sistema de Gestão de Qualidade Total pelas empresas de construção civil, segundo Vieira Netto (1988), tinha o objetivo de assegurar que todas as metas fossem cumpridas durante a execução do projeto, a otimização do desempenho técnico e de produção e a compatibilização dos custos em função do empreendimento. A intenção era incrementar a eficiência visando ganhos de competitividade. Para que todas as tarefas fossem cumpridas, seria necessária a adoção de um sistema de gerenciamento que envolvesse as diversas fases do empreendimento e os insumos. Isto devido à necessidade de planejar, programar, executar e controlar o andamento dos trabalhos, como solucionar problemas que surgem devido à participação de várias e diferentes entidades no processo (projetista, empreiteiros, fornecedores, órgãos públicos, etc.). Outros pontos que justificam a adoção do sistema de Gestão da Qualidade pelas empresas de construção são os fatores externos a organização, tais como: a abertura do mercado nacional, a crescente competitividade, melhor adequação do produto as expectativas do cliente, redução de custos, prazos de entrega e garantia de qualidade. Nesta perspectiva, diversos métodos de gestão da produção foram idealizados para a construção civil, alguns contendo uma metodologia convergente com a descrita no método PDCA. Um desses métodos pode ser apontado por Ahuja (1994), que em seus estudos apresenta um “ciclo de vida” para um projeto de construção civil. Este é composto de quatro fases e denominado CDEF – Conceive (concepção), Develop (desenvolvimento), Execution (Execução) e Finish (Finalização). A primeira etapa do ciclo de Ahuja consiste no planejamento do projeto, sua identificação e posterior concepção. Para tanto, desenhos preliminares, estudo e projetos arquitetônicos indicando o cronograma físico da obra são executados, assim como a viabilidade físico-financeira do projeto em questão. 7 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) A segunda etapa determina os recursos necessários para prover o desenvolvimento do projeto, desenvolvendo, definindo e aprovando planilhas de recursos financeiros e humanos que são incorporadas ao corpo do projeto, finalizando-o. A terceira etapa do ciclo CDEF é a execução, que consiste na efetivação dos planos, projetos, metas e planilhas, definidos na etapa concepção. Ahuja (1994) aponta como sendo esta a etapa mais dispendiosa, pelo volume de trabalho e controle financeiro que agrega. Seu principal objetivo é fazer com que o trabalho seja concretizado conforme o planejado. Esta etapa envolve grande número de funcionários e parceiros (subempreiteiras), assim como fornecedores. A última etapa do ciclo CDEF é a finalização, o término da obra, onde são avaliados e analisados os indicadores de produtividade, apontados na fase de execução, buscando a melhoria contínua e o aprimoramento do processo produtivo. Estabelecendo uma análise comparativa do ciclo CDEF de Ahuja com o ciclo PDCA, verifica-se que: - as duas primeiras etapas do ciclo CDEF, definidas comoConcepção e Desenvolvimento, correspondem à etapa “PLAN” do ciclo PDCA, regida pelo planejamento e o estabelecimento de metas. - a segunda etapa, definida como Execução se apresenta de forma idêntica a fase “DO” do ciclo PDCA. - a terceira etapa, definida como Finalização, assemelha-se a fase “ACT” do ciclo PDCA, envolvendo os quesitos de análise final, finalização do projeto e das metas estabelecidas. Para a fase “CHECK” do ciclo PDCA, onde tem-se a presença da verificação da eficácia das ações, entende-se que o processo produtivo da construção civil deixa a desejar, por não apresentar uma etapa única que valorize e implante esta atividade. No entanto, muitas construtoras efetivam esta fase agregada à execução ou finalização, trabalhando com um acompanhamento constante da obra e de seus cronogramas, deixando em segundo plano a avaliação crítica geral. Vieira Netto (1988) descreve um método de gestão da produção para a indústria da construção civil nacional nos moldes descritos por Ahuja (1994), estabelecendo o conceito de ciclo de vida do empreendimento. Este consiste em quatro etapas também citadas por Ahuja (1994), estabelecidas por Vieira Netto (1988) da seguinte forma: concepção ou viabilidade, 8 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) planejamento ou projeto, execução e entrada em serviço ou operação comercial. As etapas se apresentam de maneira semelhante às já descritas no método de Ahuja (1994). Assim, verifica-se que existem diversos métodos de gestão idealizados para o setor produtivo da construção civil, com nomenclaturas e definições diversas. Esses podem ser aplicados ao empreendimento como um todo ou a cada etapa do processo. O importante, no entanto, é entender que a cadeia produtiva na construção civil é um emaranhado de detalhes que agregam formação técnica específica, conhecimento da legislação, gerenciamento de recursos e controle de programação, a fim de conceber um empreendimento realmente viável. 5. ASPECTOS METODOLÓGICOS O presente estudo pode ser caracterizado como pesquisa de levantamento bibliográfico, tendo em função disso um cunho qualitativo. Essa forma de pesquisa foi utilizada, tendo em vista a possibilidade de um melhor entendimento e compreensão do fenômeno analisado (MALHOTRA, 2001). A pesquisa também pode ser caracterizada como exploratória, em função de que buscou-se o entendimento do fenômeno a partir do objetivo e problema de pesquisa proposto. Segundo Tripodi et al. ( 1975), o estudo exploratório tem por objetivo fornecer uma quadro de referência que possa facilitar o processo de dedução de questões pertinentes na investigação de um fenômeno. A partir dessa exploração, é possível ao pesquisador a formulação de conceitos e hipóteses a serem aprofundadas em estudos futuros. Para a sistematização dos conceitos e a partir das teorias estudadas utilizou-se como objeto de estudo o uma empresa de negócios imobiliários, construção e incorporação com sede em Caxias do Sul. 6. RELATO DA EMPRESA ESTUDADA 6.1 - Perfil da Empresa Fundada há 15 anos e estabelecida há 4 anos em Caxias do Sul, a empresa do ramo imobiliário foca suas atividades nas áreas de compra e venda, regularização incorporação, projeto e construção de imóveis residenciais. Com a missão de “Satisfazer e beneficiar todos os clientes através da realização do sonho da casa própria”, a empresa desenvolve um trabalho voltado as 28 mil famílias da Serra Gaúcha que possuem renda entre R$ 600 e R$ 3000. Sua visão de futuro é “ser líder de mercado na venda de imóveis para a população da serra gaúcha e referência regional em serviços de habitação”. 9 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) Com princípios baseados em administrar pela razão e trabalhar respeitando a rede de relacionamentos que envolve clientes, colaboradores, parceiros e fornecedores, a empresa busca agregar em sua estrutura o trabalho técnico especializado de arquitetos, engenheiros, administradores e consultores de negócios que estejam voltados ao atendimento das necessidades do cliente, trabalhando com quatro macro objetivos essenciais em seu planejamento estratégico, utilizando, para isso, a análise das quatro premissas do BSC: financeiro, cliente, processos e aprendizagem e desenvolvimento. Com um crescimento pontuado em 35% no último ano, a Camatti Negócios visa em 2006 obter a certificação máxima nos programas de qualidade PBQP-H e ISO 9001:2000. Para tanto, estruturou sua política de qualidade da seguinte forma: “A Camatti Negócios está comprometida em ser um agente facilitador para os seus clientes em busca da realização do seu sonho de aquisição da casa própria, oferecendo produtos e serviços de acordo com suas condições e necessidades. Busca manter um ambiente de trabalho adequado de forma a propiciar a segurança e o crescimento profissional de seus colaboradores”. De forma geral, pode-se dizer que a empresa vem obtendo bons resultados no ramo de atividade que desenvolve, tanto no crescimento de número de clientes e serviços oferecidos, quanto na qualificação de seus colaboradores para o atendimento personalizado e ágil aos clientes, dentro dos critérios pré-estabelecidos e das relações com parceiros, agentes de financiamento para casa própria, em geral órgãos públicos. 6.2 – Etapas do processo de produção (CDEF/PDCA) A Camatti Negócios desenvolve seus empreendimentos através do processo exposto por Ahuja (1994), o ciclo CDEF – Conceive (concepção), Develop (desenvolvimento), Execution (Execução) e Finish (Finalização), visto que na área da construção civil a programação é fundamental para o êxito frente aos gargalos existentes. São eles: - Agente financiador: como grande parte dos recursos aplicados nos empreendimentos deriva de financiamento bancário, a programação da produção deve obedecer ao calendário pré-estabelecido na contratação junto ao banco quanto ao prazo de vistoria das etapas da obra. Isso define a liberação dos pagamentos dos valores estimados e aprovados na planilha do empreendimento, conforme modelo estabelecido pelo agente financiador. Cabe ressaltar que ao todo, o banco efetiva quatro vistorias em cada obra, com engenheiros diferentes, a fim de verificar com veracidade a obediência aos critérios inicialmente definidos, visto que o imóvel servirá como garantia por 25 anos. 10 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) - Prefeitura: outro gargalo desta atividade é o poder público, responsável pela liberação do Habite-se da obra, que autoriza o registro do imóvel. Neste sentido, o empreendimento deve inicialmente ter projeto aprovado na prefeitura e obedecer as especificações do mesmo a fim de que a vistoria aprove a obra e libere o registro. Para tanto, tem-se o regramento pela legislação local, que define alguns critérios como caixa d´água de no mínimo 500L, fossa séptica individual para cada residência de no mínimo 1500L para casas de 2 dormitórios e 2100L para casas de 3 dormitórios, entre outras descritas no Código de Obras, no Plano Físico Urbano e Normas ABNT. - Recursos Humanos: para que o empreendimento obedeça as etapas estabelecidas é necessário forte gerenciamento dos recursos humanos. Engenheiros, mestre de obras, pedreiros e serventes, são os profissionais que atuam diretamente na obra, sendo necessária a programação para que o material esteja disponível no tempo certo, no canteiro de obras, a fim de possibilitar que a equipe de trabalho desempenhe suas atividades dentro dos prazos definidos. Para isso, têm-se três pessoas chave: * o controler que acompanha a programação inicial, controla os recursos necessáriose disponíveis e atua com auxilio do MS-Project; * o engenheiro responsável que visita diariamente a obra a fim de verificar se os requisitos técnicos e especificados no projeto estão cumpridos, utilizando para isso o registro fotográfico e o diário de obras; * o mestre de obras, que atua diretamente com a equipe no canteiro de obras, fiscalizando os detalhes do trabalho. Para que o processo de produção se desenvolva a contento, visando minimizar o efeito dos gargalos, é necessário amplo entendimento técnico a fim de definir as etapas, concebê-las com a equipe em tempo hábil e realizar o trabalho em conformidade com os padrões exigidos. 6.2.1 – Primeira Etapa: Conceive (concepção) A Camatti Negócios desenvolveu o fluxograma de todos os seus processos, a fim de visualizar as etapas de forma prática. Nesse sentido, faz parte da Etapa Conceive o PP1 – Processo Produtivo 1 – Projetos. Esse é composto por 7 etapas e 22 atividades, englobando também o orçamento. 6.2.2 – Segunda Etapa: Develop (desenvolvimento) A partir da aprovação do projeto, inicia-se o trabalho de desenvolvimento. Este é composto pela programação do empreendimento no MS-Project, preenchimento da 11 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) documentação necessária para aprovação do projeto nos órgãos competentes e preenchimento da planilha de custos do agente financiador. 6.2.3 - Execution (Execução) Após a liberação do projeto e assinatura do agente financiador, inicia-se o processo de execução. Para tanto se utiliza o controle das etapas planejadas no MS-Project e alguns formulários padrão como o “Diário de Obras” e as “Ordens de Compra”. Cabe ressaltar que há política de compras estabelecida e atendimento aos recursos programados no orçamento da obra. O “Diário de Obras” agrega, inclusive, espaço para ações corretivas imediatas visando regularizar as não-conformidades encontradas na obra pelo engenheiro responsável, em sua visita diária. Estas além de relatadas são fotografadas e protocoladas junto ao mestre de obras. 6.2.4 - Finish (Finalização) Com a conclusão do cronograma físico da obra, inicia-se a parte final do processo produtivo que antecede a entrega do empreendimento. Esta é composta pela vistoria de Habite-se, pelo registro do imóvel, pagamento de taxas de liberação de documentos, quitação financeira e vistoria final com assinatura do Termo de Entrega pelo proprietário. Esta última compreende o relatório fotográfico de todo empreendimento, em detalhes, a fim de demonstrar o estado real do imóvel na entrega. A avaliação dos indicadores de produtividade, apontados na fase de execução, é efetivada utilizando o formulário de Análise Crítica, contando com a participação dos gerentes de projeto e os técnicos responsáveis, buscando definir as melhorias necessárias para o aprimoramento do processo produtivo. A implantação das melhorias dá-se de forma imediata nos demais projetos em que se verifica a presença das mesmas não conformidades. A empresa desenvolve diariamente o processo produtivo de construção civil. Em apenas seis meses, a empresa quadruplicou seu volume de unidades residenciais produzidas, possuindo atualmente mais de 100 obras em andamento em diversos bairros do município de Caxias do Sul. Nesse contexto, verifica-se que a opção da empresa por efetivar um trabalho focado na gestão da produção, foi fundamental para alavancar o cenário atual e efetivar a visão de futuro. Verifica-se que as ferramentas de programação utilizadas possuem coerência em sua aplicação e efetivam o controle do processo de forma seqüencial e integrada. Os recursos humanos envolvidos entendem, em sua maioria, o processo produtivo a que estão ligados e possuem conhecimento para desenvolver as atividades definidas. A empresa está voltada a resultado global, avaliando constantemente todas as etapas do processo e buscando melhorias para que a eficiência esteja efetivamente presente no desenvolvimento das atividades. Os 12 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) gargalos estão controlados e em constante monitoramento, a fim de prevenir eventuais paradas ou a estagnação do processo produtivo. É visível que a empresa possui inúmeros desafios em sua atuação no mercado. O maior deles é a grande demanda de imóveis entre R$45mil e R$80mil que proporcionam menor lucratividade (comissão base é 6%), mas que possuem o processo produtivo padrão, demandando o controle efetivo de etapas, gargalos e recursos como qualquer outro grande empreendimento que esteja em conformidade com as exigências do PBQP-H. Ou seja, como são unidades residenciais de menor valor a empresa possui lucratividade individual mínima, ao mesmo tempo em que necessita gerenciar o grande volume de empreendimentos como as grandes construtoras. No entanto, pela visão estabelecida pela própria empresa, este é o foco do trabalho: buscar lucratividade pelo volume, desenvolvendo um trabalho de qualidade em construção civil para as 28mil famílias da Serra Gaúcha que buscam moradia entre R$ 45mil e R$ 80mil reais. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizarmos este artigo, entendemos que a programação da produção é fundamental para o gerenciamento dos recursos de forma eficiente na área da construção civil. Para isso, buscamos na teoria as bases da programação em produção, a fim de elucidar as etapas do processo produtivo e verificar por meio da aplicação das ferramentas de controles disponíveis, identificarem as melhores práticas no mesmo. O processo definido por Ahuja (1994), o ciclo CDEF – Conceive (concepção), Develop (desenvolvimento), Execution (Execução) e Finish (Finalização), representa de forma verídica o efetivado na prática pela empresa estudada e demonstra resultados positivos de sua aplicação. Para que o projeto arquitetônico de um imóvel residencial se torne realidade, é necessário mais que a vontade do cliente. A programação da produção visa, dessa forma, auxiliar que o processo aconteça de forma satisfatório, otimizando recursos e promovendo a integração dos objetivos das diversas áreas da empresa: conceber um imóvel residencial que atenda as necessidades do cliente obedeça aos requisitos técnicos definidos, esteja em conformidade com a legislação e seja financiável. Implantar o controle do processo produtivo na área de construção civil não é tarefa fácil, mas possível. Para isso, vê-se a necessidade de treinamento para os recursos humanos a fim de que possam, em todas as áreas interagentes no processo, possuir visão sistêmica e 13 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) entender a importância do papel individual na concepção da obra final. A programação da produção é assim, uma alternativa para envolver recursos físicos e pessoas em um cronograma estabelecido, identificando e minimizando gargalos, propondo novas formas de trabalho e efetivando a melhoria contínua no processo produtivo. Acredita-se que por meio da programação na produção, a área da construção civil agrega maior eficiência as etapas do processo produtivo e maior resultado na conclusão dos empreendimentos propostos. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHUJA, H.N. et.al. Project Management: techniques in planning and controlling construction projects. New York: John Wiley & Sons, 1994. 505p. ANDRADE, F.F. O Método de Melhorias PDCA. 2003. 169p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Universidade de São Paulo. São Pulo, 2003. CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO – CBIC, Relatório 2003/2004, Banco de Dados CBIC – Comissão de Economia e Estatística. Home page: www.cbic.org.brCENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕES – CTE. Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras. São Paulo: SindusCon-SP, 1994. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 6ªed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. v.1. DRUCKER, P. Managing for the future – The 1990´s and beyond. New York: Truman Talley Books Dutton, 1992. IBRE - Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas – FGV. MELHADO, S.B. Novos desafios da gestão da qualidade para a indústria da construção civil. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO TECNOLOGIA E GESTÃO DA PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS, São Paulo, 1998. Soluções para o Terceiro Milênio. São Paulo: EPUSP/PCC, 1998. 2v. p. 341-347. MOREIRA, M. Teoria da Aprendizagem. São Paulo: EPU, 2000. PALOMINO, R.C. Uma abordagem para modelagem, análise controle de sistemas de produção utilizando redes de Petri. 1995. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção e Sistema, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. PALOMINO, R.C. Uma abordagem para modelagem, análise controle de sistemas de produção utilizando redes de petri. 1995. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção e Sistema, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. 14 Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol.13. No 1 (2012) ROSSATO, I.F. Uma Metodologia para a Análise e Solução de Problemas. 1996. 187p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistema, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. SINDUSCON-RS - Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul. SLACK, N. et.al. Administração da produção. São Paulo: Editora Atlas, 1996. TUBINO, Dálvio F. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 1997. TUBINO, Dálvio F. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999. TRIPODI, T. et al. A análise da pesquisa social. Petrópolis: Alves, 1975. VIEIRA NETTO, A. Como gerenciar construções. São Paulo: Pini, 1988. YIN, R.K. Estudo de caso: Planejamento e Métodos. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Compartilhar