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Parentalidade Socioafetiva e a Possibilidade da Múltipla Filiação Registral.

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE FOZ DO IGUAÇU - CESUFOZ 
 
MAIARA BELO SIMONETT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA E A POSSIBILIDADE 
 DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO REGISTRAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOZ DO IGUAÇU-PR 
 2017 
 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE FOZ DO IGUAÇU – CESUFOZ 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
MAIARA BELO SIMONETT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA E A POSSIBILIDADE 
 DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO REGISTRAL 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito do Centro de Ensino Superior de 
Foz do Iguaçu, como requisito parcial 
para a obtenção do título de Bacharel 
em Direito. 
 
Orientador: Marcos Apolloni Neumann 
 
 
 
 
 
FOZ DO IGUAÇU-PR 
2017 
 
MAIARA BELO SIMONETT 
 
 
 
PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA E A POSSIBILIDADE 
 DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO REGISTRAL 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito do Centro de Ensino Superior de 
Foz do Iguaçu, como requisito parcial 
para a obtenção do título de Bacharel 
em Direito 
 
 
 
COMISSÃO AVALIADORA 
 
 
_____________________________________________________________________ 
Prof. Marcos Apolloni Neumann 
Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu 
 
 
_____________________________________________________________________ 
Prof. 
Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu 
 
 
_____________________________________________________________________ 
Prof. 
Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu 
 
 
Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu 
Foz do Iguaçu, 16 de Outubro de 2017 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família, em especial minha mãe, 
Adriana, que nunca mediu esforços para 
me ajudar a alcançar meus sonhos. Ao 
meu pai, Nelson (in memoriam), que 
sempre me ensinou a buscar meus 
objetivos de uma forma digna e honesta. 
E a meu marido, Marcelo, por todos 
esses anos de dedicação e 
companheirismo. 
 
AGRADECIMENTO 
 
 Primeiramente, agradeço a Deus por mais um sonho realizado, a 
minha família por sempre me apoiar em minhas decisões e por estar ao lado sempre 
que eu precisar. 
 Agradeço aos meus amigos por estar sempre junto comigo nos 
momentos de angustia e alegrias, por não se importarem pela minha ausência em 
diversas datas especiais. 
 Agradeço ao meu orientador Marcos pelo conhecimento compartilhado 
e pela orientação prestada até a conclusão deste trabalho, todo o apoio e troca 
informações foram imprescindíveis para o termino deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se você não é capaz de ser feliz com sua 
família, dificilmente será feliz com você 
mesmo. 
 Luiza Gosuen 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho visa analisar alguns institutos sobre a família e apresentar a 
importância da divulgação de forma clara e objetiva das recentes conquistas no 
âmbito jurídico. A família vem passando por transformações relevantes e está se 
renovando de acordo com os valores e costumes da sociedade, neste trabalho serão 
apresentados os tipos de família, os princípios que norteiam o direito de família, tipos 
de filiação e os modos de reconhecimento de filho, voluntário e o judicial, as 
principais mudanças legislativas, bem como, breves comentários ao provimento 
12/2010 que regulamenta sobre a investigação de paternidade e também sobre o 
provimento 16/2012 do CNJ, o qual possibilitou o reconhecimento de filho 
espontâneo via extrajudicial. Assim, em especial será abordado sobre a família 
afetiva que, é aquela constituída de amor, carinho e afeto, onde há respeito entre 
seus membros. Diante disso, com a necessidade de regulamentar o instituto da 
família socioafetiva, foi instituído o provimento no Paraná 265/17 do Conselho 
Nacional de Justiça, pois a socioafetividade é uma característica da família atual e 
será objeto de estudo deste trabalho. E por fim, analisar a possibilidade do 
reconhecimento da parentalidade socioafetiva e a possibilidade da múltipla filiação 
registral, demonstrando os principais reflexos jurídicos no âmbito de direito de família 
e sucessões. 
 
Palavras-chave: Socioafetiva; provimento; parentalidade. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work aims to analyze some institutes on the family and to present the 
importance of the clear and objective disclosure of the recent conquests in the 
juridical scope. The family has undergone significant transformations and is being 
renewed in accordance with the values and customs of society. In this work, the 
types of family, the principles that guide family law, types of membership and the 
ways of recognizing children, voluntary and judicial, the main legislative changes, as 
well as brief comments on the 12/2010 regulation that regulates the investigation of 
paternity and also on the provision 16/2012 of the CNJ, which made possible the 
recognition of spontaneous child via extrajudicial. Thus, in particular will be 
approached about the affective family, which is that of love, affection and affection, 
where there is respect among its members. In view of this, with the need to regulate 
the socio-affective family institute, the Paraná 265/17 of the National Council of 
Justice was instituted, since socio-affectivity is a characteristic of the current family 
and will be the object of study of this work. Finally, we analyze the possibility of 
recognition of socio-affective parenting and the possibility of multiple registration, 
demonstrating the main legal repercussions within the scope of family law and 
inheritance. 
 
Keywords: Socio-affective; provision; parenting. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SIGLAS 
 
ADI- Ação Direta de Inconstitucionalidade 
ANADEP- Associação Nacional dos Defensores Públicos 
CC- Código Civil 
CJF- Conselho de Justiça Federal 
CNJ- Conselho Nacional de Justiça 
CGJ- Corregedoria-Geral da Justiça 
 CRFB- Constituição da República Federativa do Brasil 
DF- Distrito Federal 
DNA- Ácido Desoxirribonucleico 
ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente 
IBDFAM- Instituto Brasileiro de Direito de Família 
PR- Paraná 
STF- Supremo Tribunal Federal 
STJ- Superior Tribunal de Justiça 
TJ- Tribunal de Justiça 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 
2 A FAMÍLIA .............................................................................................................. 12 
2.1 Evolução legislativa do direito de família ....................................................... 13 
2.2 Princípios norteadores do direito de família ................................................... 15 
2.3 Entidades familiares.......................................................................................... 20 
2.4 Concepção moderna da família ....................................................................... 23 
3 PARENTESCO E FILIAÇÃO ................................................................................. 26 
3.1 Presunções de paternidade .............................................................................. 27 
3.2 Modos de reconhecimento dos filhos ............................................................. 30 
3.2.1 Reconhecimentovoluntário .............................................................................. 30 
3.2.2 Reconhecimento judicial................................................................................... 32 
3.3 Comentários ao provimento 12/2010 e ao provimento 16/2012 do CNJ ....... 33 
4 PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA ...................................................................... 36 
4.1 Conceito ............................................................................................................. 37 
4.2 Requisitos da socioafetividade ........................................................................ 38 
4.2.1 Da posse de estado de filho ............................................................................. 39 
4.3 Parentalidade socioafetiva e biológica ............................................................ 41 
4.4 Múltipla filiação registral .................................................................................. 41 
4.4.1 O reconhecimento voluntário e o papel do cartório de registro civil ................. 43 
4.4.2 Comentários ao provimento 265/2017 CNJ ...................................................... 44 
4.4.3 Efeitos da parentalidade socioafetiva ............................................................... 45 
4.4.4 Entendimento dos tribunais .............................................................................. 52 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 58 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60 
 
 
 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O direito de família é um ramo do direito que sofreu mudanças ao longo dos 
tempos, e essas mudanças vieram inclusive para os novos moldes de família que 
estão se formando, ou seja, aquelas diferentes da convencional, composto por um 
pai e uma mãe, unidos ou não pelo matrimônio. 
As mais relevantes em relação à família ocorreram entre o Código Civil de 
1916 e o de 2002, bem como ainda com a promulgação da Constituição Federal de 
1988 que, trouxe uma realidade atual de conceito de família. 
Diante disso, para resguardar direitos e deveres aos membros das novas 
formações familiares utilizam-se princípios constitucionais, os quais serão citados 
neste trabalho aqueles que têm aplicabilidade direta as novas entidades familiares, 
em especial a família afetiva. 
Atualmente, ordenamento jurídico estabelece os modos de reconhecimento 
de filhos, tanto no Código Civil- como também em provimentos que regulamentam o 
reconhecimento dos filhos via extrajudicial. 
Vale ressaltar ainda, que, existem vários projetos pelos estados brasileiros, 
que realizam campanhas para obtenção do reconhecimento dos filhos. 
Diante dessa perspectiva, no Estado do Paraná foi instituído pelo Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) alguns provimentos, o mais conhecido foi o “programa pai 
presente” que se refere ao reconhecimento espontâneo do filho via extrajudicial ou 
até mesmo do filho ou a mãe que queira indicar a paternidade. 
Neste ano, foi instituído o provimento 265 do CNJ que trata sobre o 
reconhecimento de paternidade/maternidade socioafetivo. Esse procedimento até 
então, veio para facilitar esse o reconhecimento afetivo e contribuir para um 
processo de desburocratização na vida das pessoas, que buscam tais recursos. 
Tendo a família socioafetiva um eixo hermenêutico no princípio da dignidade 
da pessoa humana, os valores da família contemporânea buscam base nos 
princípios constitucionais. 
Desse modo, considerando que somos um estado democrático de direito, o 
Estado tem o dever de garantir o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias 
fundamentais, neste caso para esta formação familiar. 
No entanto se faz necessário esclarecer os requisitos exigidos para a 
aplicação, pois este reconhecimento socioafetivo gera direito e deveres entre as 
11 
 
partes, no que concerne ao direito ao nome, parentesco, direito a sucessão, a 
guarda e deveres como, por exemplo, a prestação alimentar. 
A presente monografia fundamenta-se na análise bibliográfica e 
jurisprudencial, está dividido em cinco capítulos e tem como objetivo apresentar a 
importância da divulgação de forma clara e objetiva das recentes conquistas no 
âmbito jurídico acerca da parentalidade socioafetiva, uma vez que essa nos dias 
atuais exerce características muito acentuadas na sociedade em geral. 
 
 
12 
 
2 A FAMÍLIA 
 
A família é um ramo do direito que está se renovando e se modificando com 
o decorrer dos anos. Em meados do século XX pouco importava se havia afeto ou 
felicidade, o matrimônio era o que constituía a família e o seu objetivo era a 
procriação. 
Neste sentido, tem-se o ensinamento de Maria Berenice Dias: 
 
A família tinha uma formação extensiva, verdadeira comunidade rural, 
integrada por todos os parentes, formando unidade de produção, com 
amplo incentivo à procriação. Era uma entidade patrimonializada, cujos 
membros representavam força de trabalho. O crescimento da família 
ensejava melhores condições de sobrevivência a todos. O núcleo familiar 
dispunha de perfil hierarquizado e patriarcal. (DIAS, 2015. p. 30). 
 
Diante disso, a família para ser reconhecida e ter a aceitação social, tinha 
que ser moldada pelo modelo familiar único que era representado pelo casamento 
indissolúvel. 
Naquela época o homem é que tinha o poder supremo e provia a segurança 
e a proteção da família, sendo a mulher submissa, pois ele era o principal titular do 
pátrio poder. 
Nos dias atuais o cenário modificou, tendo essas características sofrido 
alterações significantes na sociedade. A moldura predefinida de família já não existe 
mais, uma vez que a constituição familiar está se dando de formas variadas. 
Para Maria Berenice Dias: “as mais diversas conformações de convívio 
passaram a ser aceita pela sociedade, tal revela a liberdade dos sujeitos de 
constituírem a família da forma que lhes convier, no espaço de sua liberdade”. 
(DIAS, 2015, p.35). 
Sendo assim, hoje a família pode ser composta por laços sanguíneos ou 
pelo afeto, é onde o indivíduo encontra-se feliz e satisfeito, pois lhe é garantido por 
lei livre arbítrio de viver como melhor lhe convier. 
Portanto, a ideia de família precisa ser construída a partir dos valores 
existentes no indivíduo e na sociedade, de modo a preservar o afeto, amor, carinho, 
companheirismo, cumplicidade, respeito, enfim, pilares para uma família sólida e 
promissora. 
 
13 
 
2.1 Evolução legislativa do direito de família 
 
As leis que regulam as relações da família passaram por alterações 
legislativas substanciais no decorrer dos anos até os dias atuais, as mudanças 
culturais e sociais de cada indivíduo contribuíram para formação de novos modelos 
de família. 
O Código Civil de 1916, retratou uma época em que a família era conhecida 
por ser hierarquizada e patrimonialista, e só era constituída se fosse pelo 
matrimônio, tendo como requisito para o casamento a virgindade da mulher. 
Desse modo, a mulher tinha total dependência do homem, pois, para praticar 
qualquer ato, dependia da anuência do marido, ele que ditava as regras dentro do 
lar, sendo o único que trazia o sustento para a casa. 
No Código civil anterior, os Capítulos II, III e IV, tratavam dos modos de 
reconhecimento dos filhos, que eram identificados como legítimos, ilegítimos e 
legitimados. 
Insta esclarecer que, existia essa diferença porque os filhos legítimos eram 
os filhos gerados na constância do casamento, os ilegítimos concebidos fora do 
casamento estes se classificavam em naturais e espúrios, e por último os 
legitimadoseram os filhos que só poderiam ser reconhecidos em situações 
especificas, sendo que o filho jamais poderia reivindicar a paternidade em juízo. 
(BRASIL, 1916). 
Diante disso, houve um grande processo de transformação, a Constituição 
Federal de 1988 significou um marco no progresso da família, trazendo então 
proteção à família contemporânea. 
Nesse novo modelo de família e estado democrático de direito, houve 
importantes alterações no texto constitucional e nos textos legais abrindo horizontes 
aos institutos jurídicos da família. 
A CRFB estabeleceu a igualdade entre o homem e a mulher, conforme 
previsto no art.5º, I – “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos 
termos desta Constituição.” 
Neste sentido Maria Berenice Dias explica que: 
 
 
14 
 
Instaurou a igualdade entre o homem e a mulher e esgarçou o conceito de 
família, passando a proteger de forma igualitária todos os seus membros. 
Estendeu proteção à família constituída pelo casamento, bem como à união 
estável entre o homem e a mulher e à comunidade formada por qualquer 
dos pais e seus descendentes, que recebeu o nome de família 
monoparental. (DIAS. 2015.p 29). 
 
E determinou o tratamento igualitário entre os filhos não importando sua 
origem, conforme artigo 227, §6 “Os filhos, havidos ou não da relação do 
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas 
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” 
Após a constituição estabelecer a igualdade de filiação, houve à substituição 
no Código Civil, do capítulo II de “Família legitima” para “Da filiação”, proibindo 
qualquer discriminação relativa à filiação ou hierarquia entre os tipos de filiação 
(art.1.596). 
Houve também, alteração no Capítulo do “Pátrio Poder” para o de “Poder 
Familiar”, a expressão pátrio poder, era utilizada porque no código anterior trazia a 
figura paterna com exclusividade, onde o pai é que tinha poder sobre seus filhos. 
(BRASIL, 2002). 
Diante disso, o novo Código Civil, tratou de modificar esses termos, devido à 
igualdade da filiação estabelecida na CRFB/88, desse modo, incluiu em seu texto a 
presunção de filhos (art. 1.597), bem como, os modos de reconhecimento dos filhos 
(art. 1.609), de modo que, se subdividiram em dois capítulos e excluiu os termos 
utilizados que os diferenciavam. (BRASIL, 2002). 
Neste sentido Maria Berenice Dias entende que: 
 
Talvez o grande ganho tenha sido excluir expressões e conceitos que 
causavam grande mal-estar e não mais podiam conviver com a nova 
estrutura jurídica e a moderna conformação ela sociedade. Foram 
sepultados dispositivos que já era letra morta e que retratavam ranços e 
preconceitos, como as referências desigualitárias entre o homem e a 
mulher, as adjetivações ela filiação, o regime datal etc. (DIAS, 2015, p.33). 
 
Assim, instituiu novos valores sociais, e impôs à valorização da pessoa 
humana. A família hoje tem como uma estrutura funcional que busca a proteção dos 
seus membros para melhor desenvolvimento e realização plena. 
Portanto, conclui-se que, a família esta se reinventando e se construindo de 
acordo com o momento e espaço, logo, seu conceito também estará naturalmente 
se renovando, visto que o afeto passou a ser considerado um sentimento que 
15 
 
vincula os membros mudando assim a função social da família. 
 
2.2 Princípios norteadores do direito de família 
 
Os princípios regulam as relações jurídicas e tem como objetivo a 
interpretação de todas as normas em geral, pois, algumas regras não conseguem 
acompanhar a evolução social e por essa razão, é necessária uma interpretação 
para melhor aplicação do direito na sociedade. 
Esclarece Elda Maria Gonçalves Menezes apud Rodrigo da Cunha Pereira: 
 
Os princípios exercem uma função de otimização do Direito. Sua força deve 
pairar sobre toda a organização jurídica, inclusive preenchendo lacunas 
deixadas por outras normas, independentemente de serem positivados, ou 
não, isto é, expressos ou não expressos. Eles têm, também, uma função 
sistematizadora. (MENEZES, 2010 apud PEREIRA, 2004, p.34). 
 
Sendo assim, os princípios buscam sempre viabilizar o alcance da dignidade 
humana, exercem uma função de otimização do direito, diante disso, dentre os 
inúmeros princípios que existem, serão abordados neste trabalho os que são 
pertinentes ao tema. 
Desta forma, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, 
expressamente previsto no artigo 1º, III da Constituição vigente, é o princípio da 
dignidade da pessoa humana, sendo o mais universal de todos, considerado um 
superprincípio, uma vez que, conduz outros princípios como o da liberdade, 
cidadania, da busca da felicidade, entre outros. 
 Ainda, pautado neste princípio, o art. 227 da CRFB, prescreve ser da 
família, da sociedade, do estado o dever de assegurar a criança e ao adolescente 
com absoluta prioridade o direito à vida, a saúde a educação, o lazer, a alimentação, 
a cultura, a dignidade, o respeito à liberdade e a convivência familiar e comunitária, 
pois são garantias mínimas de uma vida tutelada sobre o digno da dignidade da 
pessoa humana. (BRASIL, 1988). 
Assim Entende Matheus Antonio da Cunha apud Maria Berenice Dias: 
 
O princípio da dignidade humana não representa apenas um limite à 
atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua ação 
positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos 
que atentem contra a dignidade humana, mas também deve promover essa 
dignidade através de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para 
16 
 
cada ser humano em seu território. (CUNHA, 2011.p.10 apud DIAS, 
2009.p.62). 
 
Deste modo, inclui-se a idéia da busca pela felicidade, que tem fundamental 
importância para as famílias socioafetivas e a multiparentalidade, considerando que, 
o Estado tem do dever de garantir o mínimo existencial para estas famílias que estão 
se formando, pois seria indigno dar tratamento diferenciado as novas formações 
familiares. 
Neste sentido Rolf Madaleno leciona: 
 
O Direito de Família tem a sua estrutura de base no princípio absoluto da 
dignidade humana e deste modo promove a sua ligação com todas as 
outras normas ainda em vigorosa conexão com o direito familista, pois 
configurando um único sistema e um único propósito, que está em 
assegurar a comunhão plena de vida, e não só dos cônjuges, dos unidos 
estavelmente, mas de cada integrante da sociedade familiar. (MADALENO, 
2015.p 81). 
 
Diante disto, sabe-se que a dignidade de cada indivíduo, só será atendida se 
respeitada for sua individualidade, o que não exige não só do direito, mas de toda 
sociedade. 
Desta forma, outro princípio importante é o da solidariedade familiar (art. 3º. I 
CRFB) a solidariedade implica na responsabilidade para com o outro, de modo que, 
devemos proteger às crianças, os adolescentes, os idosos e aos filhos. 
 Acolhida pelo ordenamento jurídico atribui primeira a família, a sociedade e 
depois ao estado o dever de garantir com prioridade os direitos ao indivíduo em 
formação. (BRASIL, 1988). 
Desta forma Rolf Madaleno leciona: 
 
A solidariedade é princípio e oxigênio de todas as relações familiares e 
afetivas, porque esses vínculos só podem se sustentar e se desenvolver em 
ambiente recíproco de compreensão e cooperação, ajudando-se 
mutuamente sempre que se fizer necessário. (MADALENO, 2011, p.90). 
 
Assim, como menciona o autor, a solidariedade é o oxigênio das relações 
familiares, esse princípio é visto como o objetivo fundamental de construir uma 
sociedade livre, justa e solidária. 
O Princípio da diversidade Familiar e o do pluralismo das entidades 
familiares, estes princípios tem fundamentoem uma das grandes mudanças no 
17 
 
direito de família, e a proteção da família diversa da tradicional, como por exemplo: o 
reconhecimento da união estável e das relações homoafetivas como entidades 
familiares. 
Assim menciona Rolf Madaleno apud Rodrigo da Cunha Pereira: 
 
Podem existir várias outras entidades familiares além daquelas previstas na 
Carta Federal, porque “a família não se constitui apenas de pai, mãe e filho, 
mas é antes uma estruturação psíquica em que cada um dos seus membros 
ocupa um lugar, uma função, sem estarem necessariamente ligados 
biologicamente. (MADALENO, 2015 apud PEREIRA, 2004, p.68). 
 
Sendo assim, a democracia no direito de família, implica na liberdade de 
constituir qualquer família, garante ao indivíduo a escolha da entidade familiar que 
melhor lhe convier, e que qualquer que seja sua família terá a proteção estatal. 
Existe também, o princípio da Afetividade que, apesar de não estar explícito 
na constituição é interpretado como o princípio que rege todo o fundamento das 
relações familiares, pois se tornou um valor jurídico, o afeto, amor e carinho. 
Rolf Madaleno entende que: 
 
A afetividade deve estar presente nos vínculos de filiação e de parentesco, 
variando tão somente na sua intensidade e nas especificidades do caso 
concreto. Necessariamente os vínculos consanguíneos não se sobrepõem 
aos liames afetivos, podendo até ser afirmada a prevalência desses sobre 
aqueles. (MADALENO, 2015.p 124). 
 
Portanto, a afetividade é um dos principais elementos para o 
desenvolvimento humano, visto que, as novas concepções de família têm como 
base o afeto. 
Assim, destaca-se o trecho do acórdão do Superior Tribunal de Justiça: 
 
O que deve balizar o conceito de “família” é, sobretudo, o princípio da 
afetividade, que “fundamenta o direito de família na estabilidade das 
relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as 
considerações de caráter patrimonial ou biológico. (STJ, REsp n. 945.283, 
Rio Grande do Norte. Rel. Luis Felipe Salomão, j. em 15/09/2009). 
 
Desta maneira, os casos da parentalidade, reconhecimento dos filhos 
socioafetivos e da multiparentalidade, tem como alicerce esse princípio que a cada 
dia está ganhando força na jurisprudência. 
Dentre esses princípios, o princípio do melhor interesse da criança e do 
adolescente tem grande destaque na família socioafetiva, seu amparo encontra-se 
18 
 
no artigo 227 da CRFB vigente, que proíbe a discriminação entre os filhos e presta 
prioridade absoluta ao direito à vida, saúde a educação, entre outras garantias e 
imputou á todos a responsabilidade por essas pessoas em fase de desenvolvimento. 
O artigo 227 CRFB/88 preceitua que: 
 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). 
 
Da mesma forma, a lei 8.069/1990 dispõe sobre a proteção integral à criança 
e ao adolescente e tem por objetivo proteger e assegurar os direitos fundamentais 
destas, mediante efetivação de políticas sociais. (BRASIL, 1990). 
A criança e o adolescente merecem total proteção, devendo ser observado o 
melhor interesse para ambos, todavia, essa definição do “melhor” só será possível 
quando houver averiguação no caso concreto. 
Sendo assim, a busca o melhor interesse, é aplicado também nos casos de 
guarda compartilhada, adoção e parentalidade socioafetiva, atendendo sempre com 
prioridade absoluta a eles, que tem a especial condição de pessoas em 
desenvolvimento. 
Outro princípio importante é o da função social da família, que preconiza 
sobre o funcionalismo de proporcionar o crescimento dos indivíduos e o 
desenvolvimento de seus integrantes, mediante valores dignos para uma 
convivência em sociedade. 
Neste sentido, esclarece Flavio Tartuce apud Pablo Stolze Gagliano e 
Rodolfo Pamplona Filho: 
 
 A principal função da família e a sua característica de meio para a 
realização dos nossos anseios e pretensões. Não é mais a família um fim 
em sim mesmo, conforme já afirmamos, mas, sim, o meio social para a 
busca de nossa felicidade na relação com o outro. (TARTUCE, 2017.p.30 
apud GAGLIANO; FILHO, 2011. p. 98). 
 
Sendo assim, a função da família é buscar a felicidade, a realização do outro 
e essa função engloba toda a estrutura da família, que se caracteriza com a 
proteção de uns aos outros e fazer ao máximo o outro feliz. 
Destaca-se também, o Princípio da Igualdade (art. 5 caput) e Isonomia dos 
19 
 
Filhos (art. 227 §6), previsto na Constituição Federal, proíbe qualquer discriminação 
relativa aos filhos biológicos e adotivos no exercício do poder familiar e a igualdade 
no que diz respeito aos homens e mulheres na sociedade conjugal. (BRASIL, 1988). 
Todavia, estas proibições designatórias referem-se também ao respeito dos 
dados constantes no registro da criança, aqueles lavrados e arquivados nas 
serventias. 
Desse modo, o Código de Normas Extrajudicial no artigo 130, estabelece 
que o oficial ou registrador quando lavrar o registro, não poderá mencionar o estado 
civil dos pais e nem que o documento deriva de um processo de adoção/mandado 
judicial ou que nele conste reconhecimento de paternidade, isto, para não diferenciá-
lo dos demais. (CGJ- Código de Normas Extrajudicial, 2013). 
Desta forma, Flavio Tartuce explica: 
 
Em suma, juridicamente, todos os filhos são iguais perante a lei, havidos ou 
não durante o casamento. Essa igualdade abrange também os filhos 
adotivos, os filhos socioafetivos e aqueles havidos por inseminação artificial 
heteróloga (com material genético de terceiro). Diante disso, não se pode 
mais utilizar as odiosas expressões filho adulterino ou filho incestuoso que 
são discriminatórias. Igualmente, não podem ser utilizadas, em hipótese 
alguma, as expressões filho espúrio ou filho bastardo, comuns em passado 
não tão remoto. Apenas para fins didáticos utiliza-se o termo filho havido 
fora do casamento, eis que, juridicamente, todos são iguais. Isso repercute 
tanto no campo patrimonial quanto no pessoal, não sendo admitida qualquer 
forma de distinção jurídica, sob as penas da lei. Trata-se, desse modo, na 
ótica familiar, da primeira e mais importante especialidade da isonomia 
constitucional. (TARTUCE, 2017, p. 23). 
 
Diante desta grande isonomia constitucional, homens e mulheres assumem 
mútuas funções, as mulheres deixaram de ser coadjuvantes e tornaram-se 
responsáveis tanto quanto os homens nas relações e decisões da família. 
E dentro deste novo cenário, um princípio fundamental é o da paternidade 
responsável e do Planejamento Familiar, princípios estes que, trazem o que 
prevêem no ordenamento jurídico, a obrigação dos pais com seus filhos, dar a 
melhor educação e criação possível. 
Daniel Ferreira Vinicius da Silva apud Rodrigo da Cunha Pereira faz o 
seguinte apontamento: 
 
Independente da convivência ou relacionamento dos pais, a eles cabe a 
responsabilidade pela criação e educação dos filhos, pois é inconcebível a 
ideia de que o divórcio ou termino da relação dos genitores acarrete o fim 
da convivência entre os filhos e seus pais. (SILVA, 2017, p.22 apud 
PEREIRA, 2012, p.246). 
20 
 
 
Desta forma, a paternidade responsável está atrelada ao dever de cuidado, 
não apenas no dever de prestação da assistência material, sendo assim, 
independentemente do estado civil dos pais, é necessário haver cuidado e a 
responsabilidade em relação aos filhos.Diante disso, a Constituição Federal dispõe no artigo 226 §7 sobre esse 
princípio: 
 
 Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo 
ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício 
desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições 
oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988). 
 
Em suma, o princípio do planejamento familiar é também regulado pela lei, 
9.263/1996, é um dos mais importantes para a socioafetividade, visto que, é livre a 
decisão do casal na escolha entre ter ou não filhos. 
 
2.3 Entidades familiares 
 
Com o surgimento de novas entidades familiares, a CRFB passou a 
reconhecer, por exemplo: a união estável entre o homem e a mulher (art. 226, §3), a 
família monoparental (art.226, §4) que é aquela constituída por pais ou qualquer 
deles e seus filhos, visto que, essas são as entidades explícitas na constituição 
federal. (BRASIL, 1988). 
Ademais, na busca pela realização pessoal calcada no afeto e igualdade, 
foram nascendo novas formações familiares e todas com suas necessidades e 
particularidades. 
Importante salientar que existem as entidades implícitas na Constituição, 
uma delas é a família homoafetiva formada por pessoas do mesmo sexo, no entanto, 
é implícita, mas, a constituição em seu artigo 5° caput, proibiu a distinção de 
pessoas do mesmo sexo. (BRASIL, 1988). 
Em relação ao artigo 226 §3, Maria Berenice Dias se posiciona: 
 
Só pode ser por preconceito que a Constituição emprestou, de modo 
expresso, juridicidade somente às uniões estáveis entre um homem e uma 
mulher. Ora, a nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto 
pode-se deixar de conferir status de família, merecedora da proteção do 
21 
 
Estado, pois a Constituição (l. º III) consagra, em norma pétrea, o respeito à 
dignidade da pessoa humana. (DIAS, 2015.p. 134). 
 
Acerca disso, diante de inúmeras decisões judiciais atribuindo a concepção 
da família homoafetiva, o STF decidiu reconhecê-la como união estável (ADI 4277-
DF ano 2011), em seguida, a justiça passou admitir a conversão da união estável em 
casamento. 
Vejamos a ementa: 
 
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 
(ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE 
REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 
UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO 
JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE 
NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos 
fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de 
conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código 
Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE 
DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO 
PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO 
DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO 
PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO CONSTITUCIONALISMO 
FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-
POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA 
SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA 
DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA 
PÉTREA. O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou 
implícita em sentido contrário, não se presta como fator de desigualação 
jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da 
Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional 
de “promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a 
respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana 
“norma geral negativa”, segundo a qual “o que não estiver juridicamente 
proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido”. Reconhecimento do 
direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da 
“dignidade da pessoa humana”: direito a auto-estima no mais elevado ponto 
da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo 
da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade 
sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade 
das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos planos da 
intimidade e da privacidade constitucionalmente tuteladas. Autonomia da 
vontade. Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA 
INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO 
“FAMÍLIA” NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRÓPRIA 
TÉCNICA JURÍDICA. A FAMÍLIA COMO CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E 
PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE CONSTITUIR 
FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO-REDUCIONISTA. O caput do art. 226 
confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado. Ênfase 
constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial 
significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou 
informalmente constituída, ou se integrada por casais heteroafetivos ou por 
pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utilizar-se da expressão 
“família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade 
22 
 
cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição 
privada que, voluntariamente constituída entre pessoas adultas, mantém 
com o Estado e a sociedade civil uma necessária relação tricotômica. 
Núcleo familiar que é o principal lócus institucional de concreção dos direitos 
fundamentais que a própria Constituição designa por “intimidade e vida 
privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia entre casais heteroafetivos e pares 
homoafetivos que somente ganha plenitude de sentido se desembocar no 
igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família. Família 
como figura central ou continente, de que tudo o mais é conteúdo. 
Imperiosidade da interpretação não-reducionista do conceito de família 
como instituição que também se forma por vias distintas do casamento civil. 
Avanço da Constituição Federal de 1988 no plano dos costumes. 
Caminhada na direção do pluralismo como categoria sócio-político-cultural. 
Competência do Supremo Tribunal Federal para manter, 
interpretativamente, o Texto Magno na posse do seu fundamental atributo 
da coerência, o que passa pela eliminação de preconceito quanto à 
orientação sexual das pessoas. 4. UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO 
CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS 
PARA ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO 
CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAÇÕES JURÍDICAS 
HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO 
GÊNERO HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS 
DE “ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA”. A referência constitucional à 
dualidade básica homem/mulher, no § 3º do seu art. 226, deve-se ao 
centrado intuito de não se perder a menor oportunidade para favorecer 
relações jurídicas horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades 
domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à renitência 
patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da 
Constituição para ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há 
como fazer rolar a cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. 
Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “entidade familiar”, não 
pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia ou diferença 
de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e 
autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado “entidade familiar” 
como sinônimo perfeito de família. A Constituição não interdita a formação 
de família por pessoas do mesmo sexo. Consagração do juízo de que não 
se proíbe nada a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de 
um legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não se dá 
na hipótese sub judice. Inexistênciado direito dos indivíduos heteroafetivos 
à sua não-equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos. 
Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da Constituição Federal, a evidenciar que 
outros direitos e garantias, não expressamente listados na Constituição, 
emergem “do regime e dos princípios por ela adotados”, verbis: “Os direitos 
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes 
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais 
em que a República Federativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS 
LATERAIS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação de 
que os Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso 
convergiram no particular entendimento da impossibilidade de ortodoxo 
enquadramento da união homoafetiva nas espécies de família 
constitucionalmente estabelecidas. Sem embargo, reconheceram a união 
entre parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de entidade familiar. 
Matéria aberta à conformação legislativa, sem prejuízo do reconhecimento 
da imediata auto-aplicabilidade da Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO 
ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO 
CONFORME”). RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA COMO 
FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de 
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do 
Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização 
23 
 
da técnica de “interpretação conforme à Constituição”. Isso para excluir do 
dispositivo em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da 
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como 
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e 
com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva. (STF - ADI: 
4277 DF, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento: 05/05/2011, 
Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 
14-10-2011 EMENT VOL-02607-03 PP-00341). 
 
 Desta maneira, após o reconhecimento do STF o Conselho Nacional de 
Justiça admitiu por meio da resolução 175, de 14 de maio de 2013, a habilitação do 
casamento de pessoas do mesmo sexo, sem mesmo precisar da união estável 
podendo habilitar diretamente no registro civil. (CNJ, Resolução, 2013). 
Portanto, pode se constatar que o direito de família está se modificando, e é 
imprescindível a proteção do Estado às novas constituições familiares, de modo que 
garanta os direitos e garantias fundamentais previstas na CRFB. 
 
2.4 Concepção moderna da família 
 
Diante dos avanços e transformações observados, atualmente não existem 
apenas as famílias tradicionais, com as variáveis mudanças entre os indivíduos e as 
novas instituições familiares, a família deixou de ser patriarcal e está moldada pela 
afetividade. 
Sendo assim, a manutenção da família atual busca a felicidade, visto que, 
hoje não é mais necessário manter uma família apenas por tradição ou que 
desempenha funções procriativas e religiosas. 
Neste sentido, Maria Berenice Dias leciona: 
 
A família, apesar do que muitos dizem, não está em decadência. Ao 
contrário, houve a repersonalização das relações familiares na busca pelo 
atendimento aos interesses mais valiosos das pessoas humanas: afeto, 
solidariedade, lealdade, confiança, respeito e amor. (DIAS, 2015. p.34). 
 
É visto que, a família ganha características e responsabilidades diferentes, e 
não a dúvidas que a repersonalização nos núcleos familiares ocasionaram 
transformações na própria sociedade. 
 Dentre todas as formas de concepção familiar, a primeira família constituída 
foi à matrimonial, família esta, derivada do direito romano conhecida também como 
família natural, foi adaptada assim pela igreja católica. (CUNHA, 2010.p.12). 
24 
 
Diante disso, começaram gradualmente a surgir famílias informais que são 
as decorrentes de união estável, as homoafetivas formadas por pessoas do mesmo 
sexo, as famílias monoparentais que se formam pelo vínculo de um dos genitores 
com seus filhos. 
 Logo ademais, a família eudemonista que, refere-se à busca da realização 
plena, configurando o afeto recíproco e respeito mútuo entre os membros, que se 
compõe independentemente do vínculo biológico, pois o que importa é a felicidade e 
a realização pessoal. 
Enfim, a família anaparental aquela decorrente da convivência entre 
parentes e entre outras pessoas, as famílias recompostas e as socioafetivas são as 
que se enquadram nos casos da multiparentalidade, pois, muitas vezes as famílias 
se reconstituem e passam a formar outras famílias que se estabelecem pelo afeto e 
muitas vezes buscam a permanência do laço biológico com o afetivo. (BARONI, 
2016.p.3). 
Neste Sentido a ANADEP publicou uma notícia referente a essa realidade 
social, nesse caso da família socioafetiva com reconhecimento da dupla 
paternidade. Vejamos: 
MS: ACORDO EXTRAJUDICIAL GARANTE SOBRENOME DE PAIS 
BIOLÓGICO E AFETIVO EM REGISTRO CIVIL - FONTE: ASCOM/DPE-MS 
ESTADO: MS 
Nos últimos anos a Defensoria Pública tem conseguido na Justiça garantir 
que os sobrenomes de pais biológico e afetivo sejam inseridos no registro 
civil. Desta vez, nem foi preciso entrar com uma ação. Um acordo 
extrajudicial, intermediado pela Defensoria, deu a uma menina de quatro 
anos de idade o direito ao reconhecimento da dupla paternidade. O acordo 
foi proposto pelo defensor público substituto Giuliano Stefan Ramalho de 
Sena Rosa, que atua no município de Pedro Gomes, a 260 quilômetros da 
Capital, após ser procurado pela mãe e o pai biológico da criança. Eles 
tinham dúvida quanto a paternidade e por isso realizaram o exame de DNA, 
que deu positivo. No entanto, a menina já tinha em seu registro civil o nome 
do pai afetivo, com quem a mãe conviveu na época do nascimento da 
criança. Apesar do resulto do exame, segundo a família nada influenciou no 
relacionamento de pai (afetivo) e filha. Por isso, a Defensoria realizou 
reuniões com os pais e a mãe que demonstraram ter bom relacionamento. 
Diante disso, o defensor oficiou ao Cartório de Registro Civil para obter o 
reconhecimento da dupla paternidade. Depois de algumas reuniões, o 
acordo foi feito e os dois pais foram reconhecidos e passaram a ter 
responsabilidades em relação à filha. (Fonte: ANADEP, 2017). 
 
Neste vértice, para uma definição contemporânea de família, a lei 
11.340/2006, conhecida como lei Maria da penha dispõe em seu artigo 5°, II que, “a 
família é compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se 
25 
 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa”. (BRASIL, 2006). 
Portanto, conclui-se que, o rol que contém na Constituição Federal é 
exemplificativo, podendo assim existir outras manifestações familiares além 
daquelas expressas em seu texto. 
26 
 
3 PARENTESCO E FILIAÇÃO 
 
As relações de parentesco são vínculos de afinidade e de consanguinidade 
que ligam as pessoas no seio familiar. 
Assim estabelece o artigo 1.593 do Código Civil que “O parentesco é natural 
ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem.” (BRASIL, 2002). 
Rolf Madaleno conceitua o parentesco como: 
 
São parentes as pessoas que descendem umas das outras ou de um tronco 
comum, e, no caso da afinidade, o que aproxima cada um dos cônjuges dos 
parentes do outro, e também há vínculo de parentesco na relação 
estabelecida por ficção jurídica entre o adotado e o adotante, subdividindo-
se o parentesco em: a) consanguíneo ou natural, quando as afinidades 
decorrem das relações de sangue; b) por afinidade, quando resultante dos 
vínculos de casamento ou da união estável, onde o elo se forma entre um 
componente da entidade familiar e os familiares dooutro parceiro e, por fim; 
c) o parentesco civil emanado dos vínculos de adoção. (MADALENO, 2015, 
p.536). 
 
Desta forma, o parentesco é a relação que une duas ou mais pessoas por 
vínculos de sangue, que são os descendentes e ascendentes ou por vínculos de 
afinidade que se constituem pelo casamento ou adoção. (Art. 1.591 a 1.595 CC). 
Assim ensina Maria Berenice Dias: 
 
As distinções entre parentesco em linha reta, em linha colateral e por 
afinidade são de duas ordens. Os parentes em linha reta descendem uns 
dos outros. São parentes na linha colateral quem tem um ascendente 
comum. O parentesco em linha reta é ilimitado e, na linha colateral, limita-se 
ao quarto grau, ao menos para efeitos jurídicos. Os vínculos em linha reta 
são perpétuos - quer decorram de parentesco, quer de afinidade -, não se 
extinguindo nem quando findo o casamento ou a união estável (CC 1. 595 § 
2. º). Quanto à linha colateral, se a relação é por consanguinidade, o 
parentesco se estende até o quarto grau. Em se tratando de afinidade, o 
limite é o segundo grau. Ambos terminam quando finda o relacionamento. 
(DIAS, 2015.p. 376). 
 
Por se tratar de um vinculo jurídico, atende o critério da proximidade, pois 
conforme for à proximidade a lei estabelece deveres e direitos entre elas. 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, (2014. p.320 apud MONTEIRO, 
1995.p.305): “Todas as regras de parentesco consangüíneo se estruturam a partir da 
noção de filiação, pois a mais próxima, a mais importante, a principal relação de 
parentesco é a que se estabelece entre pais e filhos.” 
Sendo assim, a filiação é uma relação de parentesco consanguíneo ou não 
27 
 
mais valoroso no âmbito familiar, atualmente devido à equiparação constitucional a 
classificação entre os filhos, que eram identificados como legítimos e ilegítimos não 
é mais utilizada, sendo que, hoje é empregada a todos a chamada filiação. 
Assim menciona Lívia Ronconi Costa apud Cristiano Chaves de Farias e 
Nelson Rosenvald: 
 
A liberdade de cada pessoa de efetivar a filiação pode ser realizada através 
de mecanismos biológicos (através de relacionamentos sexuais, estáveis ou 
não), da adoção (por decisão judicial), da fertilização medicamente assistida 
ou por meio do estabelecimento afetivo puro e simples da condição 
paternofilial. Seja qual for o método escolhido, não haverá qualquer efeito 
diferenciado para o tratamento jurídico (pessoal e patrimonial) do filho. 
(COSTA, 2012, p.01 apud ROSENVALD, 2010. p.564). 
 
Desse modo, diante dessa liberdade de escolha, as relações familiares de 
origem biológica ou afetiva, por fecundações artificiais, adoção ou de 
reconhecimento socioafetivo, todos são filhos não havendo qualquer tratamento 
diferenciado entre eles. 
 
3.1 Presunções de paternidade 
 
O critério jurídico legal é pautado na confiança do casamento, o qual tem a 
paternidade por meio de presunções, pois, independente de verdade biológica a 
regra derivada do direito romano que prevaleceu durante muito tempo é que a 
maternidade será sempre certa (mater semper certa) e o marido é o pai de seus 
filhos, sendo essa presunção conhecida como “pater is est quem nuptiae 
demonstrant”. (VENCELAU, 2010.p.21). 
 Desse modo, naquela época a presunção era absoluta, sendo assim a 
tradução desse critério é que: pai é aquele que as núpcias demonstram, e qualquer 
que seja a origem o filho é do marido, até porque adultério era crime na época dessa 
expressão latina. 
Desta maneira entende Rolf Madaleno: 
 
E mesmo assim, é só no casamento que prevalece a presunção de 
paternidade pelo princípio do pater is est quem nuptias demonstrant (CC, 
art. 1.597), criada sobre um cálculo de probabilidades, capaz de ceder ante 
a realidade delegada ao marido de contestar livremente o vínculo de filiação 
e provar não ser ele o pai. Trata-se de uma presunção legal de direito, iuris 
tantum ou relativa, porque admite prova em contrário. (MADALENO, 2015, p 
614). 
28 
 
 
De fato, tal presunção é consagrada no Código Civil no artigo 1.597 no 
inciso I - presumem-se os filhos havidos na constância do casamento após 180 dias 
do casamento, também no mesmo artigo, mas no inciso II os filhos ainda que os pais 
tiverem até 300 dias após a dissolução conjugal. (BRASIL, 2002). 
Diante disso, Maria Berenice Dias enfatiza: 
 
Mas o que a lei presume, ele fato, nem é o estado de filiação, é a fidelidade 
ela esposa ao seu marido. “Com base no “dever” de fidelidade da mulher, e 
não na sua fidelidade” efetiva “, é que se formou a regra pater est. 
Presumida a fidelidade da mulher, a paternidade torna-se certa. Com isso 
regula-se a geração de sucessores. Há justificativas históricas para essa 
certeza. A mulher era obrigada a casar virgem, não podia trabalhar, ficava 
confinada no lar cuidando do marido, a quem devia respeito e obediência. 
Claro que os seus filhos só podiam ser filhos do marido. (DIAS, 2015, 
p.390). 
 
Desta forma, com o uso expressão latina referida acima, muito usada pelos 
antigos e a lei de fato, imputa a paternidade jurídica presumida, pois não presumi 
apenas a filiação, mas a fidelidade da esposa ao marido. 
Todavia, a lei não estende a presunção de paternidade à união estável que 
são as relações extramatrimoniais, motivado pela ausência de registro oficial e a não 
alteração do estado civil, pois, o artigo corresponde à presunção aos concebidos na 
constância do casamento. 
Neste sentido, Maria Berenice Dias faz seu apontamento: 
 
A diferenciação é de todo desarrazoada. Se a presunção é de contato 
sexual exclusivo durante o casamento, esta mesma presunção existe na 
união estável. Cabe um exemplo. Falecendo o genitor durante a gravidez, 
ou antes, de ter registrado o filho, esse teria de intentar ação declaratória de 
paternidade. A ação precisaria ser proposta pelo filho representado pela 
mãe e, no polo passivo, teria de figurar sua mãe, na condição de 
representante da sucessão. A saída seria nomear um curador ao autor para 
iniciar uma demanda que pode durar anos. Enquanto isso, o filho ficaria 
sem identidade. Claro que a melhor solução é admitir a presunção da 
filiação também na união estável. Assim, ainda que a referência legal seja à 
constância do casamento, a presunção de filiação, de paternidade e de 
maternidade deve aplicar-se à união estável. (DIAS, 2015.p 390). 
 
Nesta mesma linha Rolf Madaleno aponta que: 
 
Não pode existir para o instituto da união estável uma proteção diferente 
daquela outorgada ao matrimônio, em cuja instituição a lei presume ser a 
prole originária do casamento, especialmente quando em seu resultado final 
discrimina os filhos. Também na estável convivência deve prevalecer esta 
29 
 
mesma presunção de paternidade, haja vista que a presunção de os filhos 
serem fruto do matrimônio não advém exatamente da instituição 
“casamento”, mas, decorre sim, da coabitação dos cônjuges, tanto que a 
paternidade pode ser elidida pelo marido, se ele provar, por exemplo, 
ausência de coabitação. A convivência sob o mesmo teto é elemento 
secundário no dever de coabitação, posto que sua principal função está na 
prestação sexual, para permitir a satisfação do débito conjugal. O dever 
coabitacional não é diferente na união estável, como dever implícito de 
convivência pública, constante do artigo 1.723 do Código Civil. Induvidoso, 
portanto, que a coabitação dos cônjuges é a primeira presunção de fato da 
Lei e esta mesma coabitação serve como presunção para a união estável, e 
presunção de que os filhos decorrem desta pública convivência, podendo 
também a companheira que deu à luz, no ato do registro da perfilhação, 
atribuir ao seu companheiro a paternidade do filho que pariu. (MADALENO, 
2015.p. 615). 
 
Portanto diante desta grande diferenciaçãoentre união estável e casamento, 
hoje apenas pais casados têm o direito registrar seu filho sozinho, respeitando o 
prazo estabelecido para ter o direito de registrar em nome de ambos, podendo 
apenas apresentar a certidão de casamento e incidirá a presunção legal. 
Assim sendo, com a evolução da sociedade e da ciência, o Código Civil 
dispõe sobre os filhos havidos por inseminação artificial, fecundação artificial 
homologa inseminação artificial heteróloga, fertilização in vitro ou proveta, visto que, 
nem sempre a filiação decorre de ato sexual podendo decorrer de intervenção 
médica. 
Conforme prescreve o artigo 1.597, do Código Civil: 
 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: 
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a 
convivência conjugal; 
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade 
conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; 
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o 
marido; 
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões 
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; 
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia 
autorização do marido. (BRASIL, 2002). 
 
Portanto, a presunção que o Código estabelece é com base na 
probabilidade, é aquela que o casamento demonstra, ou seja, que o filho gerado é 
do marido, até que ele mesmo prove ao contrário, e nos demais incisos a garantia 
ao feto da presunção nos casos de fecundação por intervenção médica, quando o 
genitor falece ou se divorcia da genitora antes do nascimento. 
30 
 
 
3.2 Modos de reconhecimento dos filhos 
 
O reconhecimento dos filhos é um ato jurídico que, se reveste de 
características por ser um ato personalíssimo, porque somente os pais têm 
legitimidade, visto que, é um ato unilateral porque se perfaz com a declaração de 
vontade somente pela atuação de quem irá reconhecer na forma da lei. 
O ato de reconhecimento de filho é irrevogável, pois, uma vez praticado não 
pode ser desfeito, nem mesmo quando feito em testamento pelo falecido (art.1.610 
CC), salvo se houver vício de vontade. (BRASIL, 2002). 
Desta maneira, existem dois modos de reconhecimento dos filhos, o 
voluntário e o judicial. 
 
3.2.1 Reconhecimento voluntário 
 
O reconhecimento voluntário é decorrente da vontade do pai e da mãe que 
poderá ser feito diretamente ao Cartório de registro civil, conforme art.1.607, de 
maneira que, poderá ser procedido conjunta ou separadamente pelos pais. (BRASIL, 
2002). 
Atualmente são quatro, os modos de reconhecimento, conforme estabelece 
o artigo 1.609 do Código Civil sobre as formas de reconhecimento voluntário: 
 
I. no registro de nascimento, II- por escritura pública feita em tabelionato de 
notas ou escrito particular, a ser arquivado no cartório, III- por testamento, o 
que se torna irrevogável, mesmo embora o testamento seja essencialmente 
revogável, não poderá sê-lo na parte em que o testador reconheceu o filho, 
IV- por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o 
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o 
contém. (BRASIL, 2002). 
 
Diante disso, o reconhecimento voluntário tem efeito erga omnes, e seu 
efeito é absoluto. Visto que, é um ato que se torna irrevogável (art. 1610 cc) e 
irretratável depois de formado. (BRASIL, 2002). 
Flavio Tartuce faz seu apontamento: 
 
Ainda com relação à análise do reconhecimento voluntário, trata-se de ato 
irrevogável, justamente porque envolve estado de pessoas. Pelo art. 1.610 
do CC/2002, essa irrevogabilidade ocorre mesmo que o reconhecimento 
31 
 
seja feito por testamento, que, como se sabe, é ato revogável. O conteúdo 
pessoal ou existencial do testamento relativo ao reconhecimento de filho 
não pode ser atingido pela revogação do seu conteúdo patrimonial. O ato de 
reconhecimento de filhos é incondicional, não estando sujeito a condição 
(evento futuro e incerto). Também não pode estar sujeito a termo (evento 
futuro e certo). Nos dois casos, devem ser considerados sem efeito, 
ineficazes, somente a condição e o termo apostos no reconhecimento, 
aproveitando-se o restante do ato, o que é aplicação do princípio da 
conservação do negócio jurídico (art. 1.613 do CC). Em outras palavras, a 
condição e o termo, como elementos acidentais, não atingem a validade do 
ato referente ao reconhecimento. Vale o reconhecimento, sendo ineficazes 
os elementos acidentais apostos. (TARTUCE, 2017.p 273). 
 
 
Desse modo, é um ato pessoal dos genitores, não podendo outra pessoa 
fazer, apenas pessoas munidas de poderes especiais por meio de procuração ou 
instrumento particular para tal reconhecimento. (CNJ, Código de Normas 
Extrajudicial, 2013). 
Nesse sentido, Maria Berenice Dias entende que: 
 
O reconhecimento voluntário da paternidade independe da prova da origem 
genética. É um ato espontâneo, solene, público e incondicional. Como gera 
o estado de filiação, é irretratável e indisponível. Não pode estar sujeito a 
termo, sendo descabido o estabelecimento de qualquer condição (CC 
1.613). É ato livre, pessoal, irrevogável e de eficácia erga omnes. Não é um 
negócio jurídico, é um ato jurídico stricto sensu. Assim, inadmissível 
arrependimento. Não pode, ainda, ser impugnado, a não ser na hipótese de 
erro ou falsidade do registro. O pai é livre para manifestar sua vontade, mas 
seus efeitos são os estabelecidos na lei. (DIAS, 2015, p 412). 
 
Ademais, é um ato jurídico que tem como característica a voluntariedade de 
manifestação de vontade, pois o reconhecimento voluntário tem natureza 
declaratória e jamais poderá ser feito mediante condição ou termo. 
 Importante ressaltar que, para o reconhecimento de filho maior é necessário 
seu consentimento e, caso menor o mesmo poderá impugná-lo nos quatro anos que 
seguirem sua maioridade ou emancipação. (BRASIL, 2002). 
Portanto, além das formas previstas em lei, hoje existem provimentos que 
regulamentam os reconhecimentos de filiação de forma voluntária, o qual será 
abordado no decorrer do trabalho. 
 
32 
 
 
 
3.2.2 Reconhecimento judicial 
 
O reconhecimento do filho via judicial é um ato jurídico irrevogável, não 
podendo desconstituir o registro formalizado, podendo haver a anulabilidade, apenas 
se constatar vício de vontade. (BRASIL, 2002). 
É Caracterizada por uma ação investigatória imprescritível, conforme prevê o 
artigo 27 do ECA: 
 
O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, 
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus 
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. 
(BRASIL, 1990). 
 
E, por se tratar de um direito personalíssimo e indisponível, a ação pode ser 
proposta a qualquer tempo, e os efeitos da sentença que declara a paternidade são 
os mesmos do reconhecimento voluntário e será ex tunc, ou seja, retroage a data do 
nascimento. 
Assim ensina Rolf Madaleno: 
 
Essa ação tem natureza declaratória, porque a decisão judicial não constitui 
a filiação biológica existente desde a concepção. O reconhecimento forçado 
da paternidade é uma ação de estado da pessoa, com o escopo de declarar 
a relação jurídica de filiação, considerada um direito personalíssimo, 
indisponível e imprescritível, não obstante todos estes conceitos estejam 
sendo relativizados pela doutrina e pela jurisprudência, a começar pela 
legitimidade extraordinária conferida ao Ministério Público, pela Lei n. 
8.560/1992, para investigar em nome próprio, e não por representação do 
menor, a paternidade de quem só tem em seu assento de nascimento o 
estabelecimento da maternidade. (MADALENO,2015.p 626). 
 
Diante disso, a referida lei 8.560/1992 citada pelo autor, tratou de regular a 
investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento, e criou o instituto 
da averiguação oficiosa de paternidade. (BRASIL, 1992). 
Neste sentido, Rolf Madaleno tem seu entendimento: 
 
A Lei n. 8.560/1992 não entra em rota de colisão com a codificação civil 
brasileira, mas antes uma e outra se complementam, porque a função 
precípua da lei de averiguação oficiosa da paternidade foi a de incentivar o 
pronto reconhecimento voluntário da perfilhação, e só num segundo 
momento impulsionar a ação judicial de investigação compulsória da 
33 
 
paternidade, inclusive com a legitimação processual ativa do Ministério 
Público. Isso porque muitos nascimentos terminavam registrados apenas 
em nome da mãe, omissa no ajuizamento da investigatória de paternidade, 
e assim agia pelos mais diferentes motivos, privando o filho do registro 
paterno e causando previsíveis traumas psicológicos, dificuldades e 
frustrações. (MADALENO, 2015.p. 616) 
 
No entanto, essa lei não teve seu objetivo alcançado, mas sua prática é 
reforçada pelos Provimentos 12/2010 e 16/2012 do Conselho Nacional de Justiça 
(CNJ)-PR, pois existe certa preocupação por parte do judiciário, em correr atrás de 
uma solução para a falta do pai, e ou da mãe do registro. 
 
3.3 Comentários ao provimento 12/2010 e ao provimento 16/2012 do CNJ 
 
No Paraná existem provimentos que regulamentam o reconhecimento de 
filiação, tais provimentos, são criados por atos administrativos e estabelecem sobre 
reconhecimento do filho via extrajudicial, com intuito de desjudicializar e facilitar a 
vida de pessoas, garantindo para aqueles, o direito de ter sua filiação reconhecida. 
Desta forma, o Provimento 12/2010, foi instituído em razão de, que durante 
as inspeções realizadas em inúmeras varas e serviços extrajudiciais do País, a 
Corregedoria de Justiça observou que o número de averiguações de paternidade 
impostas pela lei 8.560/92, era insignificante. (CNJ, Provimento, 2010). 
Diante disso, o provimento dispõe em seu artigo 1°: 
 
Determina que seja remetido, em forma que preserve o sigilo, para cada 
uma das 27 Corregedorias Gerais dos Tribunais de Justiça, o CD 
(cadastros) com os nomes e endereços dos alunos que, naquela unidade da 
Federação, não possuem paternidade estabelecida, segundo os dados do 
Censo escolar. (CNJ, Provimento, 2010). 
 
Desta maneira, o art. 3° estabelece que, recebida a informação sobre os 
cadastros dos alunos sem a paternidade, o juiz competente notificará a mãe, para 
que compareça ao ofício/secretaria, para que, querendo, informes os dados do 
suposto pai, e, no caso de filho maior, ele que será notificado pessoalmente para 
que indique a paternidade. (CNJ, Provimento, 2010). 
 A finalidade deste provimento é facilitar mães de filhos menores já 
registrados sem paternidade estabelecida, com intuito de sanar a lacuna e apontar 
os supostos pais e assim adotar providências já estabelecidas na lei n° 8.560/92. 
34 
 
Diante disso, observa-se que existe uma grande preocupação com os filhos 
que não tem a paternidade estabelecida no documento, desta maneira considera-se 
um passo inicial muito importante para incentivar o reconhecimento, pois mostra o 
quão importante é este ato de cidadania. 
Assim, com alentadores resultados do programa, e com o alto alcance social 
foi instituído o provimento 16/2012. 
O Provimento n° 16 de 17 de fevereiro de 2012 da Corregedoria Nacional de 
Justiça (CNJ), tem a finalidade de facilitar o reconhecimento dos filhos já registrados 
sem a paternidade por meio de indicações, bem como, o reconhecimento 
espontâneo dos filhos no cartório, também com objetivo de aplicar as medidas 
adotadas pela lei 8.560/1992. 
Sendo assim, o provimento n° 16/2012, em uma das hipóteses, estabelece 
que as mães ou os filhos maiores possam indicar os supostos pais via extrajudicial, 
perante o cartório de registro civil, desta forma o oficial colherá as informações e 
assinatura da genitora ou do filho maior e assim colherá maior número possível de 
elementos para identificação do genitor. 
E assim, remetera o termo de reconhecimento ao magistrado competente 
que notificará o suposto pai para que se manifeste sobre a paternidade que lhe é 
atribuída. (CNJ, Provimento, 2012). 
O provimento procurou dar mais efetividade à averiguação oficiosa, e tem 
como fulcro atender ao “Programa Pai Presente”. 
Assim determina na cartilha do CNJ sobre a investigação de paternidade 
oficiosa: 
 
De acordo com a Lei n. 8.560/1992, a investigação de paternidade oficiosa é 
o processo administrativo que envolve todas as etapas de apuração 
(conduzidas pelo juiz) das informações fornecidas pela mãe em relação ao 
suposto pai. Trata-se de um procedimento obrigatório, uma iniciativa do 
Estado que assegura a todos o direto à paternidade, mesmo que apenas em 
forma de documento, na certidão/registro de nascimento. (Fonte: CNJ, 
Notícia, 2014). 
 
É, uma etapa fundamental na garantia da cidadania plena dos brasileiros. O 
provimento já beneficiou várias famílias, primeiro por facilitar o reconhecimento e 
tornar menos burocrático para os pais e os filhos. 
Conforme Notícia do CNJ: 
 
35 
 
O programa Pai Presente, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), desde 
2010 facilita o reconhecimento de paternidade no país e já possibilitou mais 
de 40 mil reconhecimentos espontâneos tardios, geralmente em mutirões 
realizados em escolas, sem necessidade de advogado e sem custos para o 
pai ou mãe. (Fonte: CNJ, Notícia, 2015). 
 
Assim sendo, aplica-se também aos pais que querem reconhecer seus filhos 
espontaneamente, é necessário comparecer ao registro civil, o pai e o filho maior, e 
quando filho menor de idade, o pai e a mãe, com os documentos necessários e 
declarar a paternidade, o oficial vai lavrar a declaração e fará os procedimentos 
previstos em lei e concluirá. (CNJ, Provimento, 2012). 
Neste sentido vejamos a notícia publicada na página do CNJ sobre a 
campanha do programa “pai presente”: 
 
A campanha busca orientar mães pais e filhos sobre a importância e a 
facilidade de realizar o registro, mesmo que tardiamente. Em fevereiro deste 
ano, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, publicou o 
Provimento 16, que facilitou o procedimento, permitindo às mães, cujos 
filhos não possuem o nome do pai na certidão de nascimento, recorrer a 
qualquer cartório de registro civil do país para dar entrada no pedido de 
reconhecimento de paternidade. O mesmo procedimento pode ser adotado 
pelo pai que desejar espontaneamente fazer o registro do seu filho. O 
procedimento é gratuito. (Fonte: CNJ, Notícia, 2012). 
 
Desse modo, dependendo da forma do reconhecimento, se o registro do 
filho for da mesma serventia que ocorreu o reconhecimento, poderá entregar a 
certidão de nascimento já constando o nome do pai, nome dos avos e o sobrenome 
do pai que o reconheceu. 
Todavia, se o registro for de outra serventia o oficial comunicará o ato do 
reconhecimento para que o oficial responsável faça a devida anotação do 
reconhecimento. A conclusão do procedimento dependerá da concordância desse 
filho, se maior, ou de sua mãe, caso o filho seja menor. (CNJ, Provimento, 2012). 
Portanto, esses provimentos e campanhas do conselho nacional de justiça, 
têm a finalidade de demostrar à importância do registro, para a vida e a formação 
dos filhos, sejam eles crianças, adolescentes ou maiores de 18 anos, de modo que, 
além do valor afetivo, o reconhecimento de filiação assegura aos filhos os direitos e 
garantias previstas na CRFB. 
 
 
 
36 
 
4 PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA 
 
A parentalidadesocioafetiva é um novo modelo de família, a qual passa dar 
maior importância aos laços afetivos, o que, não necessariamente precisa ser de 
descendência genética ou civil, mas sendo fundamental o afeto. 
Rolf Madaleno conceitua a filiação socioafetiva como: 
 
É um vínculo de filiação construído pelo livre-desejo de atuar em interação 
entre pai, mãe e filho do coração, formando verdadeiros laços de afeto, nem 
sempre presentes na filiação biológica, até porque a filiação real não é a 
biológica, e sim cultural fruto dos vínculos e das relações de sentimento 
cultivados durante a convivência com a criança e o adolescente. 
(MADALENO, 2015, p.545). 
 
Nesse mesmo sentido, Caio Mario da Silva Pereira enfatiza: 
 
Os vínculos de afetividade projetam-se no campo jurídico como a essência 
das relações familiares. O afeto constitui a diferença especifica que define a 
entidade familiar. É o sentimento entre duas ou mais pessoas que se 
afeiçoam pelo convívio diuturno, em virtude de uma origem comum ou em 
razão de um destino comum que conjuga suas vidas tão intimamente, que 
as torna cônjuges quanto aos meios e aos fins de sua afeição até mesmo 
gerando efeitos patrimoniais, seja de patrimônio moral, seja de patrimônio 
econômico. (PEREIRA, 2014.p.35). 
 
É um vínculo de filiação construído pelo livre desejo, formando verdadeiros 
laços de afeto, onde existe o vínculo afetivo construído durante a convivência e a 
pessoa detém a posse de estado de filho. 
O Superior Tribunal de Justiça tem o posicionamento de que o ordenamento 
jurídico brasileiro acolhe sobre a parentalidade socioafetiva: 
 
RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL-FAMÍLIA - 
AÇÃO DECLARATÓRIA DE MATERNIDADE SOCIOAFETIVA-
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE EXTINGUIRAM O FEITO, SEM 
RESOLUÇÃO DO MÉRITO, SOB O FUNDAMENTO DE 
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. INSURGÊNCIA RECURSAL 
DA AUTORA. CONDIÇÕES DA AÇÃO - TEORIA DA ASSERÇÃO -PEDIDO 
QUE NÃO ENCONTRE VEDAÇÃO NO ORDENAMENTO PÁTRIO - 
POSSIBILIDADE JURÍDICA VERIFICADA EM TESE -RECURSO 
ESPECIAL PROVIDO. Ação declaratória de maternidade ajuizada com 
base com os laços de afetividade desenvolvidos ao longo da vida (desde 
os dois dias de idade até o óbito da genitora) com a mãe socioafetiva, 
visando ao reconhecimento do vínculo de afeto e da maternidade, com a 
consequente alteração do registro civil de nascimento da autora. 1. O 
Tribunal de origem julgou antecipadamente a lide, extinguindo o feito, sem 
resolução do mérito, por ausência de uma das condições da ação, qual 
seja a possibilidade jurídica do pedido. 1.1. No exame das condições da 
37 
 
ação, considera-se juridicamente impossível o pedido, quando este for 
manifestamente inadmissível, em abstrato, pelo ordenamento jurídico. 
Para se falar em impossibilidade jurídica do pedido, como condição da 
ação, deve haver vedação legal expressa ao pleito da autora. 2. Não há 
óbice legal ao pedido de reconhecimento de maternidade com base na 
socioafetividade. O ordenamento jurídico brasileiro tem reconhecido as 
relações socioafetivas quando se trata de estado de filiação. 2.1. A 
discussão relacionada à admissibilidade da maternidade socioafetiva, por 
diversas vezes, chegou à apreciação desta Corte, oportunidade em que 
restou demonstrado ser o pedido juridicamente possível e, portanto, 
passível de análise pelo Poder Judiciário, quando proposto o debate pelos 
litigantes. 3. In casu, procede à alegada ofensa ao disposto no inciso VI do 
artigo 267 do Código de Processo Civil e ao artigo 1.593 do Código Civil, 
visto que o Tribunal de origem considerou ausente uma das condições da 
ação (possibilidade jurídica do pedido), quando, na verdade, o pedido 
constante da inicial é plenamente possível, impondo-se a determinação de 
prosseguimento da demanda. 4. Recurso especial PROVIDO, para, 
reconhecendo a possibilidade jurídica do pedido, determinando-se o 
retorno dos autos à instância de origem, de modo a viabilizar 
a constituição da relação jurídica processual e instrução probatória, tal 
como requerido pela parte." (Superior Tribunal de Justiça- REsp 
1291357/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 
20/10/2015, DJe 26/10/2015). 
 
No caso em tela, a mãe socioafetiva conviveu com a criança desde seus 
dois anos de idade, após o falecimento de sua mãe biológica e depois de um 
tempo a mãe socioafetiva buscou o reconhecimento do vínculo entre elas, a 
decisão deu provimento ao reconhecimento à filiação afetiva, configurando assim a 
múltipla filiação registral. 
Sendo assim, pode-se constatar que o ordenamento jurídico tem 
reconhecido as relações socioafetivas mesmo não tendo óbice legal, pois a 
socioafetividade tornou-se um valor jurídico, e é uma realidade na sociedade atual. 
 
4.1 Conceito 
 
A parentalidade socioafetiva é a filiação ligada no afeto entre seus membros, 
é caracterizada pelo vínculo afetivo, podendo ser exercida a paternidade e a 
maternidade em prol dos filhos independentemente da ascendência biológica. 
 Desta forma, a parentalidade constitui uma modalidade de parentesco civil, 
conforme preceitua o enunciado 256 do Conselho da Justiça Federal: “A posse do 
estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil”. 
(CJF, Enunciado, 2013). 
Diante disso, às denominações de filiação, paternidade e maternidade 
sociofetiva, decorrem do reconhecimento do estado de filho. 
38 
 
Assim, menciona Paulo Luiz Netto Lobo: 
 
A posse do estado de filiação constitui-se quando alguém assume o papel 
de filho em face daquele ou daqueles que assumem os papéis ou lugares 
de pai ou mãe ou de pais, tendo ou não entre si vínculos biológicos. A posse 
de estado é a exteriorização da convivência familiar e da afetividade (…). 
Na experiência brasileira, configuram posse de estado de filiação a adoção 
de fato, em que muitas vezes se converte a guarda, os filhos de criação e a 
chamada ‘adoção à brasileira. (LOBO, 2004.p.49). 
 
Desse modo, pode ser conceituada como o vínculo de parentesco civil entre 
duas ou mais pessoas que não possuem entre si o vínculo biológico, sendo o afeto e 
amor um sentimento forte entre elas, e assim vivem como se parentes fossem, pois 
detém a posse de estado de filho. 
Portanto, conclui-se que, a parentalidade socioafetiva é a posse do estado 
de filho, formado através dos laços criados no âmbito familiar onde existe o afeto 
recíproco e o indivíduo molda a sua personalidade e suas aptidões. 
 
4.2 Requisitos da socioafetividade 
 
Ao tratar de filiação temos a fonte jurídica da paternidade e/ou maternidade 
que se divide em três: a presumida, que é aquela que o Código Civil dispõe no art. 
1.597 CC, a biológica, formada por laços sanguíneos que se comprava com exames 
de DNA e por ultimo a afetiva, que é construída com o tempo (1.593 CC). 
Para esta última, um dos requisitos é a existência de afeto recíproco entre os 
membros no seio familiar, tanto que tem tribunais que não reconhecem a filiação 
pela inexistência de vínculo afetivo. 
Assim é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: 
 
Ação negatória de paternidade. Pedido de anulação de registro de 
nascimento e de extinção de obrigação alimentar. Paternidade reconhecida 
em ação anterior de investigação de paternidade. Exame de DNA. 
Paternidade afastada. Paternidade socioafetiva. Não comprovação. 
Relativização da coisa julgada. Recurso provido. Procedência da ação. 
Embora a paternidade que se pretende desconstituir tenha sido reconhecida 
e homologada em ação de investigação de paternidade anterior, in casu, 
impõe-se a relativização da coisa julgada, considerando que àquela época 
não se realizou o exame de DNA, o que somente veio a ser feito nestes 
autos, anos depois, concluindo-se pela

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