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LIVRO LITERATURA E IDENTIDADE

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UAB 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI 
 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEAD 
 LICENCIATURA PLENA EM LETRAS / PORTUGUÊS 
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LITERATURA E IDENTIDADE�
 
 
PROFESSORES CONTEUDISTAS: 
 
ALGEMIRA DE MACEDO MENDES 
JOSELITA IZABEL DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA/PIAUI/2013 
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SUMÁRIO 
 
 APRESENTAÇÃO 
1. ASPECTOS GERAIS DA CULTURA BRASILEIRA 
1.1 Visão panorâmica da artes plásticas no Brasil: do período colonial 
ao século XX 
1.1.1 Desvinculando a arte da religião 
1.1.2 Os pintores holandeses no Brasil 
1.1.3 A regionalização da arte 
1.1.4 O domínio mineiro nas artes 
1.1.5 O neoclacissismo no Brasil 
1.1.6 A arte brasileira começa a perder sua identidade 
1.1.7 Romantismo e realismo chegam tardiamente 
1.1.8 Nacionalizando a pintura 
1.1.9 Acompanhando a evolução da arte 
 1.2 Manifestações literárias brasileiras de coloração nacional 
2 ASPECTOS SOBRE NACIONALISMO 
 
2.1 Nacionalismo e história da literatura 
2.2 Texto complementar 
 
 3.CONCEITO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE 
3.1 Identidade em questão 
 3.2 Texto complementar 
 
 
 4. OBRAS REPRESENTATIVAS DE AUTORES DE LITERATURAS DE 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
4.1 Os lusíadas, de Luís de Camões 
4.2 Os Maias, de Eça de Queiroz 
4.3 Mensagem, de Fernando Pessoa 
4.4 Mayombe, de Pepetela 
4.5 Iracema, de José de Alencar 
4.6 Os sertões, de Euclides da Cunha 
4.7 Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto 
4.8 Macunaíma, de Mário de Andrade 
4.9 Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto 
 5 . REFERÊNCIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
O presente livro integra o material de apoio pedagógico desenvolvido 
pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI, correspondente à disciplina 
Literatura e Identidade, que compõe a estrutura curricular do Curso de 
Licenciatura Plena em Letras / Português, na modalidade de Educação a 
Distância . Este material foi organizado e sistematizado com o objetivo de 
contribuir com os seus estudos e suas reflexões acerca da compreensão dos 
objetivos e da importância dos fatos literários no tocante à forma como as 
questões relativas à identidade se inserem nos textos literários, englobando os 
conteúdos correspondentes a diversos gêneros de literaturas de língua 
portuguesa dentro diferentes estilos de época. 
Para melhor apreensão dos conteúdos programáticos e eficácia nos 
estudos, estruturamos os nossos estudos a partir de pressupostos teóricos e 
formadores da história da literatura que discutem os elementos 
constituidores dos fatos literários. Os conteúdos estão distribuídos em quatro 
unidades, a saber: Unidade I - Aspectos gerais da cultura brasileira; Unidade II 
- Aspectos sobre o nacionalismo; Unidade III – Conceito e construção de 
identidade e Unidade IV – Obras representativas de autores de literaturas de 
língua portuguesa. 
 Visando colaborar com a metodologia de estudo, sugerem-se alguns 
passos: observe os objetivos de cada unidade e faça as atividades propostas 
no final de cada uma, isso ajudará você a aprofundar o assunto; valorize e 
empenhe-se nos trabalhos de grupo tanto quanto nas reflexões individuais; 
compartilhe ideias; atente para as referências bibliográficas e, se necessário, 
recorra a elas para aprofundar. 
Finalmente, leia, reflita, analise criticamente cada ideia e/ou teoria aqui 
apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor. 
Aproveite! 
Boa leitura. Bons estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I - ASPECTOS GERAIS DA CULTURA BRASILEIRA 
 
OBJETIVOS�
 
� Fornecer subsídios histórico-culturais sobre o Brasil colonial e os primeiros 
anos do regime republicano; 
 
� Identificar as influências do colonizador nas artes plásticas produzidas no Brasil 
nos anos de regime monárquico e nos primeiros anos da república. 
 
� Identificar manifestações literárias de autores brasileiros que contemplam 
elementos identitários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA BRASILEIRA 
Considerando que a Literatura, assim como qualquer manifestação 
artístico-cultural ou qualquer ramo de conhecimento, não deve ser abordada de 
forma desvinculada do contexto em que se insere, como se fosse algo 
completamente independente, necessário se faz que reflitamos sobre alguns 
aspectos histórico-político-culturais da vida brasileira antes de nos atermos 
especificamente ao estudo da literatura enquanto importante elemento de 
construção da nossa identidade. 
Segundo Luiz Roberto Lopez (1988), o Brasil foi a única colônia ibérica 
da América Latina que, ao completar a independência, manteve a unidade 
política e adotou a monarquia como forma de governo, lembra o autor que no 
México, na mesma época, tal experiência não vingou. 
O latifúndio produtor de artigos primários de exportação, tendo como 
base o trabalho escravo, constituía a base da infraestrutura brasileira. Dessa 
forma podemos entender como se deu a implantação do regime de monarquia 
e a consolidação da unidade política. A unidade do Império baseou-se na 
unidade da classe escravocrata. A continuidade do regime monárquico foi 
garantida pelo desejo da classe dominante de preservar terras e escravos. 
A partir do final da Regência, definida a hegemonia do café nas 
exportações e considerando a proximidade física da capital, a 
alta burocracia do regime passou a ser virtualmente 
monopolizada pelos aristocratas cafeeiros da região fluminense 
e do vale do Paraíba do Sul. Definido o Império como o regime 
do liberalismo econômico, da escravidão e do latifúndio 
monocultor e exportador, a imagem que fica é a do imobilismo 
histórico – um século de imobilidade sem convulsões, uma 
planície sem acidentes e imprevistos. Claro que é uma visão 
equivocada. A própria contradição entre um liberalismo burguês 
importado e a realidade social baseada na opressão e no 
escravismo veio a ser fonte permanente de lutas e conflitos. 
(LOPEZ, 1988, p. 8). 
A primeira etapa da Monarquia no Brasil durou pouco e foi bastante 
conturbada, ocorreu de 1822 a 1831. As indefinições desse período estavam 
diretamente ligadas à formação de D. Pedro I que , adepto do antigo regime, 
não assimilou o modelo da ordem liberal, seu autoritarismo não se coadunou 
com as expectativas da elite de então, de modo que, em meio a uma crise 
econômica e a impasses políticos, a queda de D. Pedro I foi inevitável e, junto 
com ela, os portugueses desapareceram do cenário de mando, instalando-se a 
Regência que durou de 1831 a 1840. 
O período regencial, como ficou conhecida a década acima na história 
brasileira, compreendido entre a renúncia de D.Pedro I e o chamado “Golpe da 
maioridade”, quando seu filho D. Pedro II teve a sua maioridade proclamada. 
Nascido em dezembro do ano de 1825, Pedro II contava, quando da 
abdicação do pai, pouco mais de cinco anos, não podendo, dessa maneira, 
assumir o governo que, por força de lei, seria dirigido por uma Regência 
integrada por três representantes. No decorrer do período em epígrafe, houve 
quatro regências, a saber: a Provisória Trina, a Permanente Trina, a regência 
Una do Padre Feijó e a também regência Una de Araújo Lima. 
Este foi, sem dúvida, um dos mais importantes e agitados períodos da 
nossa história, visto que foi nesta época que ocorreram dois fatos que 
merecem destaque: a unidade territorial do país e a estruturação das Forças 
Armadas, ademais foram discutidos o grau de autonomia das províncias e os 
termos da centralização do poder. 
Devemos assinalar que nesta fase ocorreuuma série de rebeliões 
localizadas, tais como: a Cabanagem, no Pará; a Balaiada, no Maranhão; a 
Sabinada, na Bahia e a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, sendo a 
última a maior e mais longa de todas. Estas revoltas traduziam o 
descontentamento com o poder central e as tensões sociais latentes do país há 
pouco “independente”, isto desencadeou o esforço conjunto de opositores por 
manter a ordem. Tratava-se de se construir um arranjo político que garantisse 
aos grupos a preservação de seus interesses, bem como a unidade territorial 
sob o controle da monarquia centralizadora. 
Cessadas as rebeliões, fragmentadas e perdidas no imenso território 
brasileiro, a Monarquia vence e se fortalece unindo-se à elite agrária, pois 
temia o que pudesse acontecer caso uma república se impusesse naquele 
período. 
O compromisso monárquico de assegurar a estabilidade 
das estruturas de dominação e privilégio foi realmente e 
definitivamente assumido pelo Governo de D. Pedro II 
(1840-89). A instalação do Parlamentarismo (1847-48) 
permitiu critérios institucionais-consensuais para que os 
dois maiores partidos da elite se alternassem no poder 
sem maiores problemas. (LOPEZ, 1988, p. 9). 
 
No período histórico relativo ao segundo reinado o que predominou, 
em termos de base de sustentação econômica do Brasil, foi a atividade 
cafeeira, especialmente desenvolvida na região do Vale do Paraíba do Sul, 
quando os barões do café mantinham o controle da máquina política do 
Império. Os tais barões eram ricos latifundiários e proprietários de escravos, 
entretanto, a partir de 1850, em decorrência de suas dívidas e da pressão 
britânica, foram obrigados a suspender o tráfico de escravos. Como 
consequência, a utilização de capitais desviados de tal prática, bem como a 
imigração destinada ao trabalho assalariado possibilitaram o deslanchar do 
desenvolvimento industrial com base capitalista. Além disso, os investimentos 
ingleses e a contínua produção de café aumentaram o capital interno. 
Também registramos uma considerável expansão da infraestrutura local, 
notadamente nos setores de transporte e bancário. Nessa época houve um 
aumento significativo do número de cidades e também surgiram novas 
camadas sociais, a exemplo da burguesia e do proletariado. 
Conforme Luiz Roberto Lopez, nas últimas décadas do Império, a nova 
classe cafeeira desenvolvida em São Paulo, à base da utilização do 
assalariado imigrante, substituto do escravo, por assim dizer, teve uma 
conotação mais empresarial que aristocrática. Ao fim da guerra do Paraguai, 
ocorrida de 1865 a 1870, o segmento militar, notadamente o Exército e a 
Marinha, emergiu com nova força política no cenário nacional. Conforme 
veremos, numa sociedade voltada ao litoral e à europeização como sinônimo 
de destaque cultural (o que significava o reflexo de uma economia totalmente 
dependente que exportava artigos primários e importava produtos 
manufaturados), na primeira metade do século XIX, criou o Romantismo um 
tipo idealizado e heroico do homem brasileiro, demonstrando as necessidades 
da criação de um Estado Nacional que buscava se afirmar livre de Portugal. 
Por outro lado, coincidindo com a eclosão da urbanização e da 
industrialização na segunda metade do referido século, o mesmo Romantismo 
incorporou ao pensamento nacional uma visão pessimista, racista e 
determinista, introduzindo um cientificismo europeu positivista. 
Na fase final, o Segundo Império começou a sofrer o impacto da sua 
incapacidade estrutural de atender aos novos grupos emergentes, 
especialmente os cafeicultores de São Paulo, que exigiam o federalismo 
como forma de chegar ao poder, e os militares, ávidos por ascensão social. O 
Positivismo impregnou o movimento republicano de uma respeitável 
justificativa ideológica, ao tempo em que garantia tradições conservadoras e 
autoritárias constantes na história brasileira. 
Assim como a abertura dos portos tinha tornado inútil, outrora, 
o prosseguimento do colonialismo português, a abolição da 
escravatura tornou inútil o prosseguimento do império: as 
formas políticas perdem a razão de ser quando já não 
respondem às motivações econômicas e sociais que lhe deram 
origem. Limitada e imperfeita como foi, a abolição da senzala 
levou, todavia, à abolição das testas coroadas. A república veio 
em 1889 como o regime que resolveria os problemas do povo – 
o regime da igualdade, da abolição dos privilégios e capaz de 
construir o futuro nacional com uma determinação política 
cientificamente racional. (LOPEZ, 1988, p. 10). 
A participação popular foi inexistente no golpe de 15 de novembro, 
como havia sido nos eventos ocorridos em 1822 e como inexistiria nos 
eventos de 1930, 1938, 1945 e 1964. 
 
 
 
 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/balaiada 
 
 
 
 
 
 
BALAIADA- 
1838-1841 
 
Rebelião popular ocorrida no 
Maranhão e em parte do Ceará e 
do Piauí durante a Regência, 
entre 1838 e 1841. Nasce das 
lutas partidárias e da pobreza no 
interior da província maranhense. 
A rivalidade entre grupos da elite 
local resulta em uma revolta que 
exige a intervenção das 
autoridades imperiais. É chamada 
Balaiada porque um dos líderes, 
Manuel Francisco dos Anjos 
Ferreira, era apelidado de Balaio.�
 
Teto da Igreja de São Francisco de Assis,(Ouro Preto - MG), 
 obra-prima do pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1837). 
Fonte: www.google.com 
1.1 Visão panorâmica das artes plásticas no Brasil: do período 
colonial ao século XX 
Antes de nos determos à literatura como elemento de identidade nacional, 
entendemos ser oportuno observarmos, ainda que de forma abreviada, o 
histórico de outras artes no Brasil, a fim de que vejamos como, a exemplo do 
que ocorreu com a literatura, a cultura do colonizador se impõe também a 
outras esferas artísticas. 
No Brasil colonial, a arte em geral girava em torno da Igreja Católica e dos 
cultos religiosos. É bem conhecida a presença, no Brasil, de religiosos 
europeus, como os jesuítas, franciscanos e beneditinos, os quais vieram ao 
país para catequizar seus habitantes. Alguns deles tinham experiência em 
pintura, escultura e arquitetura, adquirida no velho continente. Foram eles os 
primeiros a realizar obras artísticas no país e a recrutar artesãos e artífices 
para a decoração de suas construções. 
Os artistas do período costumavam ser autodidatas ou então eram 
orientados por esses religiosos, que ditavam paradigmas dentro da tradição 
ibérica. 
Com esse esforço, a pintura começa a aparecer nas construções 
nordestinas, principalmente em Salvador, cidade que era na época a sede do 
Governo. 
 
 
1.1.1 Desvinculando a arte da religião 
Já no Século XVII, surgem os primeiros sinais de desvinculação da arte à 
religião. Assim, por exemplo, o teto da Igreja da Santa Casa de Misericórdia, 
em Salvador apresenta figuras como santos e anjos com roupas como se 
usavam na época que o artista fez a obra. Também os rostos são pintados com 
mais liberdade, lembrando o tipo físico dos habitantes daquela cidade baiana. 
Ainda assim, o destaque do período na arte da pintura é um religioso, o 
Frei Ricardo do Pilar, que pintou o mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro e 
obras como "O Senhor Crucificado", de 1688 e "O Senhor dos Martírios", de 
1690. 
1.1.2 Os pintores holandeses no Brasil 
A ocupação holandesa em Pernambuco, no século XVII, traz artistas 
como pintores e naturalistas ao país que iriam, pela primeira vez, registrar a 
natureza brasileira. 
O conde deNassau, que aqui permaneceu entre 1637 e 1644 foi o 
responsável por grandes projetos de urbanização na cidade de Recife e trouxe 
com ele artistas holandeses como Franz Post e Eckhout. 
Entretanto, apesar de a ocupação holandesa e da estada desses pintores 
no Brasil ser considerada como de grande importância no Século XVII, seu 
papel foi apenas de registro de paisagens e costumes. 
Com efeito, tratou-se de um acontecimento isolado e os pintores que por 
aqui passaram não deixaram aprendizes ou começaram alguma tradição que 
pudesse dar continuidade aos seus trabalhos. 
Em síntese, não fizeram qualquer investimento na arte local e sequer 
podem ser considerados como pintores do Brasil, pois sua passagem por aqui 
deu-se tão somente como agentes de um país invasor, e retornando à sua terra 
antes mesmo que cessasse tal invasão. Não se pode deixar de destacar, 
contudo, que foram possivelmente as primeiras manifestações de pintura 
efetivamente fora do domínio religioso de que se tem registro no Brasil. 
 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
 Tela do pintor holandês Franz Post -Tela do pintor holandês Eckhout. 
Fonte: www.google.com 
1.1.3 A regionalização da arte 
No Século XVIII, a pintura tem maior desenvolvimento, principalmente 
devido à concentração de artistas em centros que então se desenvolviam, 
como Rio de Janeiro, Salvador e Vila Rica (atual Ouro Preto). 
A partir de então, pode-se falar em escolas distintas no país, como a 
fluminense, com pintores como José de Oliveira Rosa, Leandro Joaquim, com 
seus retratos e representações da cidade do Rio de Janeiro e Manuel da 
Cunha, com suas pinturas religiosas e retratos. 
Ainda no Rio de Janeiro, em 1732, Caetano da Costa Coelho começa a 
realizar na Capela-Mor da Igreja da Ordem 3ª de São Francisco da Penitência 
aquela que seria a primeira pintura perspectivista do Brasil. 
Em Salvador, na então escola baiana do Século XVIII, vivia-se a transição 
do barroco ao rococó e nela eram típicas principalmente pinturas de 
perspectiva ilusionista. Destacam-se nesse período, José Joaquim da 
Rocha, com o teto da Igreja de N. Senhora da Conceição da Praia, 
considerada uma das obras-primas da pintura barroca brasileira (1773). 
1.1.4 O domínio mineiro nas artes 
A mais famosa dessas escolas é a escola mineira, extremamente 
valorizada pela sua originalidade. 
O ciclo da mineração possibilitou a concentração de riquezas em Minas 
Gerais e a transformação de algumas cidades mineiras em verdadeiros centros 
urbanos da colônia. 
A primeira pintura de teto em Minas Gerais é realizada por Antônio 
Rodrigues Belo, em 1755, na capela-mor da matriz de Nossa Senhora de 
Nazaré, em Cachoeira do Campo. A partir de então Minas avança como ativo 
centro artístico nacional. 
O estilo dos artistas mineiros da época era o barroco com forte presença do 
rococó sem, no entanto, deixar de lado as formas brasileiras. 
O escultor Aleijadinho, um dos principais nomes de nossa arte, talvez 
seja o nome mais conhecido dessa escola. 
Já na pintura, destaca-se principalmente Manuel da Costa Ataíde. 
Outros pintores mineiros do período foram Manuel Rebelo e Souza e Bernardo 
Pires, João Nepomuceno Correia e Castro, entre outros. 
Ainda no século XVIII, fora desses centros, ganha relevo João de Deus 
Sepúlveda, com sua pintura "São Pedro Abençoando o Mundo Católico", em 
Recife, na Igreja de São Pedro dos Clérigos. 
Em 1800 há a primeira iniciativa de ensino de arte no país com a Aula 
Pública de Desenho e Figura, no Rio de Janeiro e seu regente, Manuel de 
Oliveira. 
1.1.5 O neoclacissismo no Brasil 
Em 1808, a Família Real e a Corte Portuguesa transferiam-se para o 
Brasil e a partir daí tem-se uma significativa mudança nos rumos que a arte 
brasileira seguia até então. 
Enfrentando problemas políticos após a queda de Napoleão, um grupo de 
artistas franceses freta um navio e se dirige ao Brasil. 
Em 1816 chega a então denominada Missão Artística Francesa, um grupo 
de artistas e artífices franceses de formação neoclássica que iriam exercer uma 
profunda influência na pintura brasileira a partir da primeira metade do Século 
XIX, até praticamente a Semana da Arte Moderna de 1922. 
Na Missão Artística Francesa encontravam-se artistas como Nicolas-
Antoine Taunay e Jean Baptiste Debret. Este último, em 1826, instalava a 
Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro e três anos depois eram 
abertas as primeiras exposições oficiais de arte brasileira. 
Pela primeira vez, chegava ao país um estilo artístico sem defasagem com 
o que estava acontecendo na Europa: o neoclassicismo. Seu prestígio, tanto 
pela "modernidade" quanto por ter caráter de arte oficial foi enorme. 
1.1.6 A arte brasileira começa a perder sua identidade 
Em poucos anos ocorreu uma brusca ruptura, embora dirigida, com o 
barroco-rococó, que era comum nas nossas pinturas para um estilo mais frio, 
racional e acadêmico, sem muitas afinidades com a cultura brasileira de então. 
Nossa pintura ganhava na técnica, mas perdia em espontaneidade. 
A falta de raízes pode ser aquilatada pelo fato de um pintor da época 
haver sugerido a importação de modelos europeus para garantir a pose em 
padrões estéticos acadêmicos. 
Os rígidos padrões adotados pela Escola Nacional de Belas Artes foi, de 
fato, uma das principais razões por que o modernismo tardou tanto em entrar 
no Brasil, só logrando êxito após 1922. 
Entretanto, apesar de distante do país, o estilo acadêmico passa a ser o 
dominante no Século XIX. 
Destacam-se, entre os artistas brasileiros do período, Vitor Meireles, 
Pedro Américo, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, além do escultor 
Rodolfo Bernardelli, que foi o diretor da Escola por quinze anos. 
1.1.7 Romantismo e realismo chegam tardiamente 
Nas últimas décadas do século XIX, tendências românticas e realistas 
surgiam entre nossos artistas como uma das poucas manifestações de rebeldia 
ao estilo acadêmico. Entretanto, essas tendências manifestavam-se 
efetivamente mais na escolha temática, como Moema, de Vitor Meirelles, do 
que na forma, que continuava acadêmica e presa ao neoclassicismo. 
A Belle Époque brasileira parece ter se estendido de 1889 a 1922. Nessa 
época, apesar da influência da academia ser ainda a principal, começam a ser 
notadas mais manifestações de estilo europeu: além do Romantismo e do 
Realismo, o Impressionismo, o Simbolismo e Art Nouveau, estilo decorativo, 
com uso de formas sinuosas dentre outros elementos. 
 1.1.8 Nacionalizando a pintura 
Almeida Júnior parece ter sido um dos primeiros a libertar-se das 
influências acadêmicas, realizando quadros como tipos e cenas brasileiras, 
sem idealizações neoclássicas. 
No começo do Século XX, Eliseu Visconti, com suas propostas 
neoimpressionistas adquiridas em anos de estudo em Paris é um dos pioneiros 
na modernização da arte brasileira. 
Entretanto, a primeira mostra de arte que romperia com o academicismo 
brasileiro foi feita por um estrangeiro, Lasar Segall em 1913. 
Quatro anos mais tarde Anita Malfatti realizaria uma exposição que 
abalaria os padrões artísticos vigentes e reuniria jovens ansiosos por 
mudanças nas artes brasileiras e que acabariam por realizar a Semana de Arte 
Moderna, em 1922, na cidade de São Paulo. 
Começava então o Modernismo brasileiro que procurava atualizar a arte 
brasileira e quebrar com o academicismo que a orientava, realizando trabalhos 
que nada devessem à arte europeia de vanguarda, ao mesmo tempo que 
preservasse e valorizasse a cultura nacional. 
1.1.9 Acompanhando a evolução da arte mundial 
Com o fim da II Guerra, os museus modernos são abertos e as Bienais 
facilitam a penetração da arte internacional no país. Por volta de 1960, vemos 
as últimas manifestações que podem ser consideradas pertencentes ao 
modernismo, com os abstracionistas e neoconcretos.As décadas de 60 e 70 assistem a variadas tendências e estilos, em que 
podem ser destacadas a influência da arte popular e uma grande busca de 
liberdade de expressão e experimentação. 
A década de 80 presenciou uma particular explosão na pintura, 
principalmente em seus primeiros anos, com grande número de novos pintores 
e produções de caráter híbrido. 
 
1.2 Manifestações literárias brasileiras de coloração nacional 
Se atentarmos para a literatura produzida no Brasil até o século XVIII 
facilmente iremos constatar que o que por aqui se escreveu estava bem 
distante da realidade local em termos de representação dos valores da nossa 
gente. Este é um pensamento que permeia grande parte dos estudos acerca 
do nacionalismo. Até mesmo os mais respeitáveis poetas mineiros, 
participantes do movimento inconfidente, engajaram-se na revolta separatista 
ocorrida na segunda metade do referido século. Entretanto, não transpuseram 
para a sua arte os motivos e temas nacionais. Suas obras procuravam seguir 
regiamente os padrões clássicos importados da Europa, tanto na forma quanto 
no conteúdo. 
 Somente no século XIX, com o advento do romantismo, é que vamos notar 
os primeiros sinais de uma literatura voltada para alguns elementos nacionais, 
notadamente com Gonçalves Dias e José de Alencar, ambos contemplando a 
paisagem brasileira e o nativo. A respeito desses dois escritores, 
principalmente referindo-se ao viés indianista de suas obras, Luiz Roberto 
Lopez (1988) observa: 
 A literatura indianista brasileira tem dois nomes superlativos: 
Gonçalves Dias e José de Alencar. Gonçalves Dias foi um 
poeta notável pelo jogo dos timbres, pela construção incisiva, 
pela emoção do verso e pelo virtuosismo rítmico. Fez do índio 
um herói sem mácula, à maneira dos guerreiros feudais.[...] 
Quanto a José de Alencar, se é verdade que ele caiu nos 
maniqueísmos e estereótipos característicos do romantismo, é 
também verdade que ele se esforçou para fazer uma crítica ao 
mundo civilizado e burguês. E a solução encontrada foi a 
evasão para o mundo natural e rústico do índio, do 
bandeirante, do gaúcho, do sertanejo. (LOPEZ, 1988, p. 45). 
 
 O que em geral se diz sobre de José de Alencar, mesmo os que lhe 
fazem alguma restrição (a despeito, por exemplo, do fato de ele ter silenciado 
sobre o papel do negro na formação social brasileira), é que ele ocupa o 
centro da literatura romântica e um lugar, sem dúvida, privilegiado na literatura 
brasileira, tanto pela extensão como pela natureza da sua obra. A 
nacionalidade pós-colonial vista em nossas letras talvez não tivesse atingido 
tamanho relevo, não fosse a produção do autor de Iracema. Acerca de José de 
Alencar, Nelson Werneck Sodré (1985), destaca: 
(...) foi um dos criadores da língua erudita nacional. Sua 
convicção da necessidade de criar uma linguagem literária 
própria da terra brasileira, seus temas e o indianismo como um 
modo de sublinhar a emancipação através da literatura foram 
as bases de sua ideologia pessoal. Deu um status literário ao 
índio e às paisagens. Por outro lado, o fato de ter sido um dos 
que se opôs à Lei do Ventre Livre é representativo de seus 
limites de classe. (WERNECK, 1965, p. 92) 
 
 Outros escritores também tiveram importância capital na defesa da 
identidade brasileira, dentre os quais, lembramos Euclides da Cunha, Lima 
Barreto, Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto, cujas obras modelares 
serão analisadas na última Unidade deste livro juntamente com obras de 
outros autores de literaturas de língua portuguesa, observando os aspectos 
identitários nelas contidos. 
 
ATIVIDADE 
1. Por que para o estudante (futuro profissional), especialmente o 
estudante de Letras, é importante apropriar-se de conhecimentos dos 
vários ramos do saber, principalmente no campo das artes? 
2. Nas décadas de 30 e 40 do século XIX ocorreram no Brasil alguns 
movimentos “revoltosos” localizados, a saber: Cabanagem, Balaiada, 
Sabinada e Guerra dos Farrapos. Destaque dois deles e redija um 
pequeno texto em que fiquem evidenciadas as causas e consequências 
das citadas rebeliões. 
3. De acordo com Luiz Roberto Lopez, na fase final do Segundo Império, 
novos grupos emergentes exigiam que o governo atendesse as suas 
demandas. Quais eram esses grupos e quais as suas reivindicações? 
4. Considerando as artes plásticas desenvolvidas no Brasil no século XVII 
por pintores holandeses, qual a real contribuição desses artistas para a 
pintura brasileira? 
5. Durante longo período da nossa história a arte literária produzida no 
Brasil esteve voltada ao modelo europeu. Quando é que a literatura 
brasileira começou a valorizar elementos tipicamente nacionais? Quais 
os escritores pioneiros do nacionalismo e como eles revelavam a 
brasilidade em suas obras? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II - ASPECTOS SOBRE NACIONALISMO 
 
OBJETIVOS 
 
� Apresentar os aspectos do nacionalismo na literatura de língua 
portuguesa; 
� Identificar as principais características do nacionalismo na literatura de 
língua portuguesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 ASPECTOS SOBRE NACIONALISMO 
 
2.1 Nacionalismo e história da literatura 
É mister que a ideia de nacionalismo moderno surge no Romantismo, 
inicialmente baseado nas ideais de Rousseau que, identificando a Revolução com a 
nação, declara que o amor à pátria é o meio mais seguro de ser um bom cidadão. 
Para Nelson Werneck ( 1982), o cidadão individual é a base da pátria e o fim do 
Estado é a felicidade e a liberdade individual. 
 Para Ada Maria Hemilewski, Frederico Wesphalen em seu artigo 
Nacionalismo e História da Literatura na Europa, as guerras empreendidas por 
Napoleão Bonaparte transformam o mapa político, contribuindo para a 
emergência de novos Estados inspirados, de um lado, nas ideias 
revolucionárias e, de outro, nas tradições culturais e folclóricas de povos que 
descobrem a sua consciência nacional e desejam conquistar um lugar entre as 
nações. 
Embora os conceitos de nação e nacionalismo comecem a circular, no 
mundo ocidental, no século XVIII, só passam a merecer uma maior atenção 
dos teóricos no final do século XIX e no século XX, quando se torna importante 
saber como os povos pré-industriais se sentiam a respeito da nacionalidade. As 
teorias discutem quais são os elementos ou princípios que despertam o 
sentimento nacional, permitindo o nascimento da nação. 
No movimento nacionalista romântico, dois períodos merecem 
destaque: o de 1815 a 1851, quando os conservadores procuram conter a 
grande onda revolucionária e o de 1851 a 1871, quando ocorre o triunfo das 
nacionalidades. 
O sentimento nacionalista também se faz sentir na história, uma vez 
que, segundo J. Guinsburg , o romantismo é um fato histórico "que assinala, 
na história da consciência humana, a relevância da consciência histórica. É 
pois uma forma de pensar que pensou e se pensou historicamente" . ( p.14) 
Guinsburg comenta ainda que no romantismo, o discurso histórico sofre 
uma mudança revolucionária, tornando-se basicamente interpretativo, 
formativo e genético. "O romantismo, em sua propensão historicizante, 
aglutina as sociedades em mundos, comunidades, nações, raças que têm 
antes culturas do que civilizações, que secretam uma individualidade peculiar, 
uma identidade, não de cada indivíduo, mas do grupo específico, diferenciado 
de quaisquer outros" (GUINSBURG, 1995, p. 15). 
. 
Afrânio Coutinho afirma que a fase das antologias e ensaios sintéticos 
diacrônicos é empírica e que só em 1847, com a publicação do Florilégio da 
poesia brasileira, de Francisco Adolfo de Varnhagen, a história da literatura 
brasileira atinge a fase erudita que faz uso de métodos históricos.Para ele, a 
obra é "a primeira manifestação de real espírito e método históricos, cuidando 
das fontes, informações e referências" (p. 277). Afrânio Coutinho, assim como 
José Veríssimo, considera Varnhagen o pai da historiografia literária nacional. 
Nesses estudos, a literatura passa a ser vista como a expressão da 
nacionalidade que precisa ser afirmada, daí a insistência no caráter original de 
nossa literatura. O nacionalismo literário é profundamente relacionado à 
questão política. A este respeito, Regina Zilberman, Eunice Moreira��afirmam: 
A política interfere principalmente quando obriga a 
literatura a se definir, como queria Gonçalves de 
Magalhães, enquanto expressão de uma dada nação. 
Esse processo começa a ocorrer no século XVIII, 
intensificando-se no século seguinte, porque a burguesia, 
solidamente instalada no poder, vai buscar na literatura a 
representação do Estado nacional que dirige e 
administra. (�����	
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	��	���������p.11) 
No Brasil, a independência política desperta nos intelectuais a 
consciência da necessidade de afirmação da existência de uma literatura 
nacional, diferente da antiga metrópole, com a qual compartilhamos a língua, 
daí a insistência em destacar a cor local nos autores e obras consideradas 
nacionais. 
 
Maria Eunice Moreira,(1991) diz que a questão da literatura brasileira 
está associada à problemática do Brasil enquanto possessão portuguesa e, 
mais tarde, a sua situação de nação recém emancipada em busca da 
afirmação de sua autonomia. Acrescenta ainda que “Na sustentação do caráter 
nacional da expressão literária de seu país, os estudiosos sinalizam na direção 
de duas relações: o nacional é reconhecido como expressão da cor local , em 
outras palavras uma mimetização da sua realidade imediata e o nacional 
definido pela língua utilizada para expressar seus escritos”. 
 
Por isso, diz Maria Eunice Moreira “a literatura brasileira tem de 
enfatizar o elemento de originalidade". Ser original significa, pois, ser 
independente. 
 
A nacionalidade literária revela-se como representativa 
de um determinado espaço que cumpre preservar e 
tende a narrar a sua história, porque ela serve para 
registrar a origem do material literário e a origem da 
própria nação. (MOREIRA, 1991,p.103) 
 
Reforçado pelos fatos políticos locais, o nacionalismo torna-se a 
principal característica da história da literatura brasileira, não apenas no século 
XIX, época do auge do movimento romântico. As histórias literárias publicadas 
posteriormente conservam, ainda, tal característica, muito embora os critérios 
de obra nacional tenham se modificado, através do tempo, principalmente 
pelos avanços da teoria e da crítica literária, bem como das teorias 
nacionalistas. 
No Romantismo, época em que o sentimento de aversão pela 
metrópole portuguesa é muito forte, devido à independência política da nação, 
os historiadores brasileiros não podem ter a linguagem como critério de 
nacionalidade, pois afirmá-la significa reforçar semelhanças com a antiga 
metrópole, quando é necessário afirmar diferenças. Por isso, os critérios 
limitam-se à "cor local" e ao aspecto geográfico. Porém, uma vez afirmada a 
existência de uma literatura com características efetivamente nacionais, 
reconhecida como tal pelas demais nações, torna-se possível considerar a 
língua como critério de nacionalidade. Um bom exemplo é o poema de 
Gonçalves Dias, Canção do Exílio: 
 
Canção do exílio 
 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar –sozinho, à noite– 
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
De Primeiros cantos (1847) 
 
 
 
Fruto da convergência das grandes transformações políticas, sociais, 
culturais e econômicas do século XIX, o nacionalismo historiográfico tem seu 
período áureo no movimento romântico, época da consolidação da maioria das 
nações do Ocidente. 
 
SAIBA MAIS!�
 
Ver em http://www.fw.uri.br/letras/artigos/nacionalismo.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
: 2.2 .Texto complementar 
 
 
 
Para entender mais sobre o Nacionalismo na literatura brasileira , leia o texto 
complementar que segue: 
 
FONTE ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Notícia da atual literatura 
brasileira - Instinto de nacionalidade . In: Critica. São Paulo: Agir, 1997. p. 
801 - 804 . 
Para saber mais sobre os primeiros estudos críticos sobre ao 
questão do nacionalismo , leia o que de Machado de Assis que 
segue:�
 
NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA 
INSTINTO DE NACIONALIDADE 
 
 
QUEM EXAMINA a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro 
traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do 
pensamento buscam vestir-se com as cores do país não há negar que semelhante 
preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves 
Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela 
que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e 
Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando 
a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto 
manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta 
outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará 
num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma 
geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo. 
Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal formada 
ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos apaixonada nestas questões 
de poesia e literatura. Há nela um instinto que leva a aplaudir principalmente as obras 
que trazem os toques nacionais. A juventude literária, sobretudo, faz deste ponto uma 
questão de legítimo amor-próprio. Nem toda ela terá meditado os poemas de Uruguai 
e Caramuru com aquela atenção que tais obras estão pedindo; mas os nomes de 
Basílio da Gama e Durão são citados e amados, como precursores da poesia 
brasileira. A razão é que eles buscaram em roda de si os elementos de uma poesia 
nova, e deram os primeiros traços de nossa fisionomia literária, enquanto que outros, 
Gonzaga, por exemplo, respirando aliás os ares da pátria, não souberam desligar-se 
das faixas da Arcádia nem dos preceitos do tempo. Admira-se-lhes o talento, mas não 
se lhes perdoa o cajado e a pastora, e nisto há mais erro que acerto. 
Dado que as condições deste escrito o permitissem, não tomaria eu sobre mim 
a defesa do mau gosto dos poetas arcádicos nem o fatal estrago que essa escola 
produziu nas literaturas portuguesa e brasileira. Não me parece, todavia, justa a 
censura aos nossos poetas coloniais, iscados daquele mal; nem igualmente justa a de 
não haverem trabalhado para a independência literária, quando a independência 
política jazia ainda no ventre do futuro, e mais que tudo a metrópole e a colônia criara 
a história a homogeneidade das tradições, dos costumes e da educação. As mesmas 
obras de Basílio da Gama e Durão quiseram antes ostentar certa cor local do que 
tornar independente a literatura brasileira, literatura que não existeainda, que mal 
poderá ir alvorecendo agora. 
Reconhecido o instinto de nacionalidade que se manifesta nas obras destes 
últimos tempos, conviria examinar se possuímos todas as condições e motivos 
históricos de uma nacionalidade literária, esta investigação (ponto de , e divergência 
entre literatos), além de superior às minhas forças, daria em resultado levar-me longe 
dos limites deste escrito. Meu principal objeto é atestar o fato atual; ora, o fato é o 
instinto de que falei, o geral desejo de criar uma literatura mais independente. 
A aparição de Gonçalves Dias chamou a atenção das musas brasileiras para a 
história e os costumes indianos. Os Timbiras, I-Juca Pirama, Tabira e outros poemas 
do egrégio poeta acenderam as imaginações; a vida das tribos, vencidas há muito pela 
civilização, foi estudada nas memórias que nos deixaram os cronistas, e interrogadas 
dos poetas, tirando-lhes todos alguma coisa, qual um idílio, qual um canto épico. 
Houve depois uma espécie de reação. Entrou a prevalecer a opinião de que 
não estava toda a poesia nos costumes semibárbaros anteriores à nossa civilização, o 
que era verdade, - e não tardou o conceito de que nada tinha a poesia com a 
existência da raça extinta, tão diferente da raça triunfante, - o que parece um erro. 
É certo que a civilização brasileira não está ligada ao elemento indiano, nem 
dele recebeu influxo algum; e isto basta para não ir buscar entre as tribos vencidas os 
títulos da nossa personalidade literária. Mas se isto é verdade, não é menos certo que 
tudo é matéria de poesia, uma vez que traga as condições do belo ou os elementos de 
que ele se compõe. Os que, como o Sr. Varnhagen, negam tudo aos primeiros povos 
deste país, esses podem logicamente excluí-los da poesia contemporânea. Parece-
me, entretanto, que, depois das memórias que a este respeito escreveram os Srs. 
Magalhães e Gonçalves Dias, não é lícito arredar o elemento indiano da nossa 
aplicação intelectual. Erro seria constituí-lo um exclusivo patrimônio da literatura 
brasileira; erro igual fora certamente a sua absoluta exclusão. As tribos indígenas, 
cujos usos e costumes João Francisco Lisboa cotejava com o livro de Tácito e as 
achava tão semelhantes aos dos antigos germanos, desapareceram, é certo, da 
região que por tanto tempo fora sua; mas a raça dominadora que as frequentou colheu 
informações preciosas e no-las transmitiu como verdadeiros elementos poéticos. A 
piedade, a minguarem outros argumentos de maior valia, devera ao menos inclinar a 
imaginação dos poetas para os povos que primeiro beberam os ares destas regiões, 
consorciando na literatura os que a fatalidade da história divorciou. 
Esta é hoje a opinião triunfante. Ou já nos costumes puramente indianos, tais 
quais os vemos n'Os Timbiras, de Gonçalves Dias, ou já na luta do elemento bárbaro 
com o civilizado, tem a imaginação literária do nosso tempo ido buscar alguns quadros 
de singular efeito dos quais citarei, por exemplo, a lracema, do Sr. J. Alencar, uma das 
primeiras obras desse fecundo e brilhante escritor. 
Compreendendo que não está na vida indiana todo o patrimônio da literatura 
brasileira, mas apenas um legado, tão brasileiro como universal, não se limitam os 
nossos escritores a essa só fonte de inspiração. Os costumes civilizados, ou já do 
tempo colonial, ou já do tempo de hoje, igualmente oferecem à imaginação boa e larga 
matéria de estudo. Não menos que eles, os convida a natureza americana cuja 
magnificência e esplendor naturalmente desafiam a poetas e prosadores. O romance, 
sobretudo, apoderou-se de todos esses elementos de invenção, a que devemos, entre 
outros, os livros dos Srs. Bernardo Guimarães, que brilhante e ingenuamente nos pinta 
os costumes da região em que nasceu, J. de Alencar, Macedo, Sílvio Dinarte 
Escragnolle Taunay), Franklin Távora, e alguns mais. 
 Devo acrescentar que neste ponto manifesta-se às vezes uma opinião, que 
tenho por errônea: é a que só reconhece espírito nacional nas obras que tratam de 
assunto local, doutrina que, a ser exata, limitaria muito os cabedais da nossa literatura. 
Gonçalves Dias por exemplo, com poesias próprias, seria admitido no panteão 
nacional; se excetuarmos Os Timbiras, os outros poemas americanos e certo número 
de composições, pertencem os seus versos pelo assunto a toda a mais humanidade, 
cujas aspirações, entusiasmo, fraquezas e dores geralmente cantam; e excluo daí as 
belas Sextilhas de Frei Antão, que essas pertencem unicamente à literatura 
portuguesa, não só pelo assunto que o poeta extraiu dos historiadores lusitanos, mas 
até pelo estilo que ele habilmente fez antiquado. O mesmo acontece com os seus 
dramas, nenhum dos quais tem por teatro o Brasil. Iria longe se tivesse de citar outros 
exemplos de casa, e não acabaria se fosse necessário recorrer aos estranhos. Mas, 
pois que isto vai ser impresso em terra americana e inglesa, perguntarei simplesmente 
se o autor do Song of Hiawatha não é o mesmo autor da Golden Legend, que nada 
tem com a terra que o viu nascer, e cujo cantor admirável é; e perguntarei mais se o 
Hamlet, o Otelo, o Júlio César, a Julieta e Romeu têm alguma coisa com a história 
inglesa nem com o território britânico, e se, entretanto, Shakespeare não é, além de 
um gênio universal, um poeta essencialmente inglês. 
Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve 
principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região, mas não 
estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do 
escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e 
do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. Um 
notável crítico da França, analisando há tempos um escritor escocês, Masson, com 
muito acerto dizia que do mesmo modo que se podia ser bretão sem falar sempre de 
tojo, assim Masson era bem escocês, sem dizer palavra do cardo, e explicava o dito 
acrescentando que havia nele um scotticismo interior, diverso e melhor do que se fora 
apenas superficial. 
Estes e outros pontos cumpria à crítica estabelecê-los, se tivéssemos uma 
crítica doutrinária, ampla, elevada, correspondente ao que ela é em outros países. Não 
a temos. Há e tem havido escritos que tal nome merecem, mas raros, a espaços, sem 
a influência quotidiana e profunda que deveram exercer. A falta de uma crítica assim é 
um dos maiores males de que padece a nossa literatura; é mister que a análise corrija 
ou anime a invenção, que os pontos de doutrina e de história se investiguem, que as 
belezas se estudem, que os senões se apontem, que o gosto se apure e eduque, e se 
desenvolva e caminhe aos altos destinos que a esperam. 
O ROMANCE 
De todas as formas várias as mais cultivadas atualmente no Brasil são o romance e a 
poesia lírica; a mais apreciada é o romance, como aliás acontece em toda a parte, 
creio eu. São fáceis de perceber as causas desta preferência da opinião, e por isso 
não me demoro em apontá-las. Não se fazem aqui (falo sempre genericamente) livros 
de filosofia, de linguística, de crítica histórica, de alta política, e outros assim, que em 
alheios países acham fácil acolhimento e boa extração; raras são aqui essas obras e 
escasso o mercado delas. O romance pode-se dizer que domina quase 
exclusivamente. Não há nisto motivo de admiração nem de censura, tratando-se de 
um país que apenas entra na primeira mocidade, e esta ainda não nutrida de sólidos 
estudos. Isto não é desmerecer o romance, obra d'arte como qualquer outra, e que 
exige da parte do escritor qualidades de boa nota. 
Aqui o romance, como tive ocasião de dizer busca sempre a cor local. A 
substância, não menos que os acessórios, reproduzem geralmente a vida brasileira 
em seus diferentes aspectos e situações. Naturalmente os costumes do interior são os 
que conservam melhor a tradição nacional; os dacapital do país, e em parte, os de 
algumas cidades, muito mais chegados à influência europeia, trazem já uma feição 
mista e ademanes diferentes. Por outro lado, penetrando no tempo colonial, vamos 
achar uma sociedade diferente, e dos livros em que ela é tratada, alguns há de mérito 
real. 
 Não faltam a alguns de nossos romancistas qualidades de observação e de 
análise, e um estrangeiro não familiar com os nossos costumes achará muita página 
instrutiva. Do romance puramente de análise, raríssimo exemplar temos, ou porque a 
nossa índole não nos chame para aí, ou porque seja esta casta de obras ainda 
incompatível com a nossa adolescência literária. 
O romance brasileiro recomenda-se especialmente pelos toques do 
sentimento, quadros da natureza e de costumes, e certa viveza de estilo mui 
adequada ao espírito do nosso povo. Há em verdade ocasiões em que essas 
qualidades parecem sair da sua medida natural, mas em regra conservam-se 
estremes de censura, vindo a sair muita coisa interessante, muita realmente bela. O 
espetáculo da natureza, quando o assunto o pede, ocupa notável lugar no romance, e 
dá páginas animadas e pitorescas, e não as cito por me não divertir do objeto 
exclusivo deste escrito, que é indicar as excelências e os defeitos do conjunto, sem 
me demorar em pormenores. Há boas páginas, como digo, e creio até que um grande 
amor a este recurso da descrição, excelente, sem dúvida, mas (como dizem os 
mestres) de mediano efeito, se não avultam no escritor outras qualidades essenciais. 
Pelo que respeita à análise de paixões e caracteres são muito menos comuns 
os exemplos que podem satisfazer à crítica; alguns há, porém, de merecimento 
incontestável. Esta é, na verdade, uma das partes mais difíceis do romance, e ao 
mesmo tempo das mais superiores. Naturalmente exige da parte do escritor dotes não 
vulgares de observação, que, ainda em literaturas mais adiantadas, não andam a rodo 
nem são a partilha do maior número. 
As tendências morais do romance brasileiro são geralmente boas. Nem todos 
eles serão de princípio a fim irrepreensíveis; alguma coisa haverá que uma crítica 
austera poderia apontar e corrigir. Mas o tom geral é bom. Os livros de certa escola 
francesa, ainda que muito lidos entre nós, não contaminaram a literatura brasileira, 
nem sinto nela tendências para adotar as suas doutrinas, o que é já notável mérito. As 
obras de que falo, foram aqui bem-vindas e festejadas, como hóspedes, mas não se 
aliaram à família nem tomaram o governo da casa. Os nomes que principalmente 
seduzem a nossa mocidade são os do período romântico, os escritores que se vão 
buscar para fazer comparações com os nossos, - porque há aqui muito amor a essas 
comparações - são ainda aqueles com que o nosso espírito se educou, os Vítor 
Hugos, os Gautiers, os Mussets, os Gozlans, os Nervals. 
 Isento por esse lado o romance brasileiro, não menos o está de tendências 
políticas, e geralmente de todas as questões sociais, - o que não digo por fazer elogio, 
nem ainda censura, mas unicamente para atestar o fato. Esta casta de obras, 
conserva-se aqui no puro domínio de imaginação, desinteressada dos problemas do 
dia e do século, alheia às crises sociais e filosóficas. Seus principais elementos são, 
como disse, a pintura dos costumes, e luta das paixões, os quadros da natureza, 
alguma vez o estudo dos sentimentos e dos caracteres; com esses elementos, que 
são fecundíssimos, possuímos já uma galeria numerosa e a muitos respeitos notável. 
No gênero dos contos, à maneira de Henri Murger, ou à de Trueba, ou à de Ch. 
Dickens, que tão diversos são entre si, têm havido tentativas mais ou menos felizes, 
porém raras, cumprindo citar, entre outros, o nome do Sr. Luís Guimarães Júnior, 
igualmente folhetinista elegante e jovial. É gênero difícil, a despeito da sua aparente 
facilidade, e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os 
escritores, e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitas 
vezes credor. Em resumo, o romance, forma extremamente apreciada e já cultivada 
com alguma extensão, é um dos títulos da presente geração literária. Nem todos os 
livros, repito, deixam de se prestar a uma crítica minuciosa e severa, e se a 
houvéssemos em condições regulares creio que os defeitos se corrigiriam, e as boas 
qualidades adquiririam maior realce. Há geralmente viva imaginação, instinto do belo, 
ingênua admiração da natureza, amor às coisas pátrias e além de tudo isto agudeza e 
observação. Boa e fecunda terra, já deu frutos excelentes e os há de dar em muito 
maior escala. 
A POESIA 
A ação de crítica seria sobretudo eficaz em relação à poesia. Dos poetas que 
apareceram no decênio de 1850 a 1860, uns levou-os a morte ainda na flor dos anos, 
como Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu, cujos nomes excitam 
na nossa mocidade legítimo e sincero entusiasmo, e bem assim outros de não menor 
porte. Os que sobreviveram calaram as liras; e se uns voltaram as suas atenções para 
outro gênero literário, como Bernardo Guimarães, outros vivem dos louros colhidos, se 
é que não preparam obras de maior tomo, como se diz de Varela, poeta que já 
pertence ao decênio de 1860 a 1870. Neste último prazo outras vocações apareceram 
e numerosas, e basta citar um Crespo, um Serra, um Trajano, um Gentil-Homem de 
Almeida Braga, um Castro Alves, um Luís Guimarães, um Rosendo Moniz, um Carlos 
Ferreira, um Lúcio de Mendonça, e tantos mais, para mostrar que a poesia 
contemporânea pode dar muita coisa; se algum destes, como Castro Alves, pertence à 
eternidade, seus versos podem servir e servem de incentivo às vocações nascentes. 
Competindo-me dizer o que acho da atual poesia, atenho-me só aos poetas de 
recentíssima data, melhor direi a uma escola agora dominante, cujos defeitos me 
parecem graves, cujos dotes - valiosos e que poderá dar muito de si, no caso de 
adotar a necessária emenda. 
Não faltam à nossa atual poesia fogo nem estro. Os versos publicados são 
geralmente ardentes e trazem o cunho da inspiração. Não insisto na cor local; como 
acima disse, todas as formas a revelam com mais ou menos brilhante resultado, 
bastando-me citar neste caso as outras duas recentes obras, as Miniaturas de 
Gonçalves Crespo e os Quadros de J. Serra, versos estremados dos defeitos que vou 
assinalar. Acrescentarei que também não falta à poesia atual o sentimento da 
harmonia exterior. Que precisa ela então? Em que peca a geração presente? Falta-lhe 
um pouco mais de correção e gosto, peca na intrepidez às vezes da expressão, na 
impropriedade das imagens na obscuridade do pensamento. A imaginação, que há 
deveras, não raro desvaira e se perde, chegando à obscuridade, à hipérbole, quando 
apenas buscava a novidade e a grandeza. Isto na alta poesia lírica, - na ode, diria eu, 
se ainda subsistisse a antiga poética; na poesia íntima e elegíaca encontram-se os 
mesmos defeitos, e mais um amaneirado no dizer e no sentir, o que tudo mostra na 
poesia contemporânea grave doença, que é força combater. 
 Bem sei que as cenas majestosas da natureza americana exigem do poeta 
imagens e expressões adequadas. O condor que rompe dos Andes, o pampeiro que 
varre os campos do Sul, os grandes rios, a mata virgem com todas as suas 
magnificências de vegetação, - não há dúvida que são painéis que desafiam o estro, 
mas, por isso mesmo que são grandes, devem ser trazidos com oportunidade e 
expressos com simplicidade. Ambas essas condições faltam à poesia contemporânea, 
e não é que escasseiem modelos, que aí estão, para só citar três nomes, os versos de 
Bernardo Guimarães, Varela e Álvares de Azevedo. Um único exemplo bastará para 
mostrar que a oportunidade e a simplicidade são cabais para reproduzir uma grande 
imagem ou exprimir uma grande ideia. N'Os Timbiras, há uma passagem em que o 
velho Ogib ouve censurarem-lhe o filho, porque seafasta dos outros guerreiros e vive 
só. A fala do ancião começa com estes primorosos versos: 
São torpes os anuns, que em bandos folgam. 
São maus os caititus que em varas pascem: 
Somente o sabiá geme sozinho, 
E sozinho o condor aos céus remonta. 
Nada mais oportuno nem mais singelo do que isto. A escola a que aludo não 
exprimiria a ideia com tão simples meios, e faria mal, porque o sublime é simples. Fora 
para desejar que ela versasse e meditasse longamente estes e outros modelos que a 
literatura brasileira lhe oferece. Certo, não lhe falta, como disse, imaginação; mas esta 
tem suas regras, o estro leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras, é 
porque as fazem novas, é porque se chamam Shakespeare, Dante, Goethe, Camões. 
Indiquei os traços gerais. Há alguns defeitos peculiares a alguns livros, como 
por exemplo, a antítese, creio que por imitação de Vítor Hugo. Nem por isso acho 
menos condenável o abuso de uma figura que, se nas mãos do grande poeta produz 
grandes efeitos, não pode constituir objeto de imitação, nem sobretudo elementos de 
escola. 
Há também uma parte da poesia que, justamente preocupada com a cor local, 
cai muitas vezes numa funesta ilusão. Um poeta não é nacional só porque insere nos 
seus versos muitos nomes de flores ou aves do país, o que pode dar uma 
nacionalidade de vocabulário e nada mais. Aprecia-se a cor local, mas é preciso que a 
imaginação lhe dê os seus toques, e que estes sejam naturais, não de acarreto. Os 
defeitos que resumidamente aponto não os tenho por incorrigíveis; a crítica os 
emendaria; na falta dela, o tempo se incumbirá de trazer às vocações as melhores 
leis. Com as boas qualidades que cada um pode reconhecer na recente escola de que 
falo, basta a ação do tempo, e se entretanto aparecesse uma grande vocação poética, 
que se fizesse reformadora, é fora de dúvida que os bons elementos entrariam em 
melhor caminho, e à poesia nacional restariam as tradições do período romântico. 
O TEATRO 
Esta parte pode reduzir-se a uma linha de reticência. Não há atualmente teatro 
brasileiro, nenhuma peça nacional se escreve, raríssima peça nacional se representa. 
As cenas teatrais deste país viveram sempre de traduções, o que não quer dizer que 
não admitissem alguma obra nacional quando aparecia. Hoje, que o gosto público 
tocou o último grau da decadência e perversão, nenhuma esperança teria quem se 
sentisse com vocação para compor obras severas de arte. Quem lhas receberia, se o 
que domina é a cantiga burlesca ou obscena, o cancã, a mágica aparatosa, tudo o que 
fala aos sentidos e aos instintos inferiores? 
E todavia a continuar o teatro, teriam as vocações novas alguns exemplos não 
remotos, que muito as haviam de animar. Não falo das comédias do Pena, talento 
sincero e original, a quem só faltou viver mais para aperfeiçoar-se e empreender obras 
de maior vulto; nem também das tragédias de Magalhães e dos dramas de Gonçalves 
Dias, Porto Alegre e Agrário. Mais recentemente, nestes últimos doze ou quatorze 
anos, houve tal ou qual movimento. Apareceram então os dramas e comédias do Sr. J. 
de Alencar, que ocupou o primeiro lugar na nossa escola realista e cujas obras 
Demônio Familiar e Mãe são de notável merecimento. Logo em seguida apareceram 
várias outras composições dignas do aplauso que tiveram tais como os dramas dos 
Srs. Pinheiro Guimarães, Quintino Bocaiúva e alguns mais, mas nada disso foi 
adiante. Os autores cedo se enfastiaram da cena que a pouco e pouco foi decaindo 
até chegar ao que temos hoje, que é nada. 
A província ainda não foi de todo invadida pelos espetáculos de feira; ainda lá 
se representa o drama e a comédia - mas não aparece, que me conste, nenhuma obra 
nova e original. E com estas poucas linhas fica liquidado este ponto. 
A LÍNGUA 
Entre os muitos méritos dos nossos livros nem sempre figura o da pureza da 
linguagem. Não é raro ver intercalados em bom estilo os solecismos da linguagem 
comum, defeito grave, a que se junta o da excessiva influência da língua francesa. 
Este ponto é objeto de divergência entre os nossos escritores. Divergência digo, 
porque, se alguns caem naqueles defeitos por ignorância ou preguiça, outros há que 
os adotam por princípio, ou antes por uma exageração de princípio. 
Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as 
necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de 
quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América 
não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há, 
portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do 
estilo e ganham direito de cidade. 
 Mas se isto é um fato incontestável, e se é verdadeiro o princípio que dele se 
deduz, não me parece aceitável a opinião que admite todas as alterações da 
linguagem, ainda aquelas que destroem as leis da sintaxe e a essencial pureza do 
idioma. A influência popular tem um limite, e o escritor não está obrigado a receber e 
dar curso a tudo o que o abuso, o capricho e a moda inventam e fazem correr. Pelo 
contrário, ele exerce também uma grande parte de influência a este respeito, 
depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão. 
Feitas as exceções devidas não se leem muito os clássicos no Brasil. Entre as 
exceções poderia eu citar até alguns escritores cuja opinião é diversa da minha neste 
ponto, mas que sabem perfeitamente os clássicos. Em geral, porém, não se leem, o 
que é um mal. Escrever como Azurara ou Fernão Mendes seria hoje um anacronismo 
insuportável. Cada tempo tem o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas 
da linguagem, desentranhar deles mil riquezas, que, à força de velhas se fazem 
novas, não me parece que se deva desprezar. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo 
têm os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio 
comum. 
Outra coisa de que eu quisera persuadir a mocidade é que a precipitação não 
lhe afiança muita vida aos seus escritos. Há um prurido de escrever muito e depressa; 
tira-se disso glória, e não posso negar que é caminho de aplausos. Há intenção de 
igualar as criações do espírito com as da matéria, como se elas não fossem neste 
caso inconciliáveis. Faça muito embora um homem a volta ao mundo em oitenta dias; 
para uma obra-prima do espírito são precisos alguns mais. 
 Aqui termino esta notícia. Viva imaginação, delicadeza e força de sentimentos, 
graças de estilo, dotes de observação e análise, ausência às vezes de reflexão e 
pausa, língua nem sempre pura, nem sempre copiosa, muita cor local, eis aqui por alto 
os defeitos e as excelências da atual literatura brasileira, que há dado bastante e tem 
certíssimo futuro. 
 
SAIBA MAIS!�
 
 
 
 
 
 
O ROMANTISMO 
 O Romantismo surgiu na segunda metade do século XVIII, junto com a 
revolução Industrial, que provocou profundas transformações na organização política e 
social de vários países da Europa. Esse período não foi nada tranquilo, pois foi marcado 
por uma série de movimentos políticos que tiveram inicio nos Estados Unidos da 
América em 1776, atingiram alguns países europeus, como, por exemplo, a Inglaterra, 
Holanda, Bélgica, Itália e Alemanha, culminando na França em 1789 com a Revolução 
Francesa. 
 Todos esses movimentos políticos visavam atender às aspirações políticas e 
econômicas da burguesia - classe social formada por banqueiros, industriais e 
comerciantes - bem como acabar com o feudalismo. Para a burguesia, era necessário 
chegar ao poder político porque a nobreza e o clero prejudicavam o seu crescimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS! 
 
Revista Nitheroy Brasiliense (1836)�
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
" Publicada em Paris, por um grupode jovens intelectuais brasileiros, e trazendo como lema 
“tudo pelo Brasil e para o Brasil”, a revista Niterói tem sido apontada como um dos marcos da 
instauração do Romantismo em nosso país. O outro é a publicação, no mesmo ano de 1836, 
do volume de versos Suspiros poéticos e saudades, de autoria de um dos redatores da 
revista, Domingos José Gonçalves de Magalhães.Niterói teve apenas dois números e boa 
parte dos seus textos foi assinada pelos redatores, que foram, além de Magalhães, Francisco 
de Sales Torres Homem, Manuel de Araújo Porto Alegre.Pela natureza e variedade dos 
assuntos, situa-se a Niterói na linha dos periódicos dedicados à difusão da cultura literária e 
científica e à atualização da inteligência. Seus antecessores imediatos são o Journal de 
connaissances utiles(1830), na França, e, entre nós, o “jornal literário político, mercantil 
etc.” O Patriota, que circulou no Rio de Janeiro em 1813. Com espírito semelhante, no ano 
seguinte ao do aparecimento da Niterói, Alexandre Herculano fundará o jornal O Panorama, 
órgão da “Sociedade Propagadora dos conhecimentos úteis”, em Lisboa. A ideia de 
conhecimento útil, aplicado ao desenvolvimento da civilização e ao aumento da glória 
nacional, comparece logo no prefácio “Ao leitor”, que abre o primeiro número da Niterói. Ali, a 
nova revista se apresenta em oposição aos demais periódicos, que desviam a atenção 
pública com “discussões sobre cousas de pouca utilidade”.Nesse tipo de periódico dedicado 
à ilustração do leitor médio, a diversidade das matérias é naturalmente grande. O primeiro 
número da Niterói traz lado a lado um longo estudo sobre a morfologia e tipologia dos 
cometas e um debate sobre a economia escravista; um artigo de economia, no qual se 
analisa um relatório do governo, e dois textos sobre arte: o primeiro sobre a literatura e o 
segundo sobre a música no Brasil. O segundo número não é menos eclético: há um breve 
artigo sobre a missão social da religião seguem-se um extenso estudo de química industrial, 
dedicado à produção do açúcar e destilação de aguardente, e um comentário ao estado atual 
do comércio da França com o Brasil; a esse primeiro conjunto, uma segunda parte, dedicada 
 
 
 
 
 
 
 
 
A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO: A COR LOCAL EM ÚRSULA DE MARIA 
FIRMINA DOS REIS 
 
O espaço constitui uma das mais importantes categorias da narrativa não só 
pelas articulações funcionais que estabelece com o restante da categoria, mas 
também pelas incidências semânticas que o caracterizam. Para Carlos Reis, são 
válidas todas as modalidades de espaço ficcionais: físico, social, psicológico e textual. 
 
No romance Úrsula, as várias modalidades de espaço estão de acordo com as 
categorias descritas acima. O psicológico é o mais amplo, visto que a maior parte da 
história é narrada do ponto de vista das personagens através de suas memórias, que 
recuperam suas vivências passadas: Tancredo, Susana, Luísa B...�
 
O espaço físico, na narrativa, está associado à natureza, à casa onde 
mora a matriarca, com sua filha e os dois escravos, ao convento, ao cemitério, 
em que a protagonista tem uma ligeira passagem, à senzala e à fazenda do 
antagonista. Os outros espaços físicos são mencionados através das memórias 
das personagens. 
 
O narrador não se refere aos espaços físicos determinando sua 
localização. Põe sempre reticências, indeterminando o lugar. No decorrer da 
narrativa como nas cenas introdutórias, através do contexto enunciativo em 
que o cavaleiro aparece, percebe-se que a província do Norte à qual ele se 
refere é o Maranhão. O leitor pode fazer essa constatação pela referência 
explícita, a abundância de palmeiras, vegetação típica dessa região. O 
Maranhão, ainda hoje, possui uma condição relativamente superior a outros 
estados do Norte e Nordeste. E à época em que o contexto da narrativa está 
sendo ambientado, o Maranhão era uma província promissora tanto no nível 
econômico como no cultural. 
 
Quando as personagens ou o narrador referem-se ao espaço da 
natureza é sempre com conotações de luz, ora do sol, ora das estrelas, ora da 
lua. A natureza é vista de forma idealizada. A valorização desse elemento 
coincide com o início da afirmação da nacionalidade, tema frequente nas 
narrativas dos séculos XIX. Segue trecho ilustrativo: 
 
[…] E Altivas erguem-se as milhares de carnaubeiras, 
que balançadas pelo soprar do vento recurvam seus leques em 
brandas ondulações. [...] atravessando porção de um 
majestoso campo, que se dilata nas planuras, de uma das 
melhores províncias do norte, deixava-se levar ao através dele 
por um alvo indolente ginete. Longo devia ser o espaço que 
havia percorrido; porque o pobre animal, desalentado, mal 
cadenciava os pesados passos. (REIS,1988,p.22-23) 
[...] 
Soltando as asas à sua ardente imaginação, seguia-o 
na sua divagação, escutava-lhe a voz no rumorejar do vento, 
via-o no meio da solidão, e afagava-o com seus meigos. (grifos 
nossos)��	��������������� 
 
O contexto maranhense, em que se passa a trama, insere-se numa 
moldura histórica que nos mostra o Maranhão como “uma das nossas 
melhores, mais ricas províncias do norte”. A contextualização histórica, porém, 
mostra que, apesar do cenário tranquilo, a vida da população, marcadamente a 
dos escravos, era assaz conturbada.�
 
O mesmo acontece com o refúgio onde a protagonista reflete sobre sua 
vida. No espaço de liberdade em que era feliz só as aves, o frescor dos verdes 
e a brisa eram suficientes para seu viver. A mata, como símbolo da natureza, 
realiza a simbiose do homem com seu hábitat: 
 
A donzela então saiu da mata; porque lembrou-se de sua mãe, 
e volveu-se para ela; mas no dia imediato à mesma hora do 
crepúsculo, voltou à mata, e imergida em sua meditação, às 
vezes esquecia-se de si própria para só pensar no seu 
Tancredo. (grifos nossos) (REIS,1988,p.87) 
 
O espaço idílico da donzela só é violado quando aparece a figura do 
caçador que agride a todos, a virgem, a mata e os pássaros. O clima de 
harmonia é rompido. A imagem do caçador sugere a figura do lobo mau do 
imaginário popular, transmitida pelos contos de fadas, que ataca a “mocinha” 
na floresta: 
 
Tancredo! aonde estás a essa hora? que fazes, que não me 
vens proteger contra a insolência e as ameaças desse caçador 
desconhecido? O teu amor há de amparar-me. Oh sim, o teu 
amor me dará forças para destruir suas loucas esperanças e 
esquecer suas temíveis ameaças.(Id.ib,p.38). 
 
A casa da matriarca é outro espaço privilegiado na narrativa. Sua 
simbologia está associada à mulher, espaço onde reina a mulher, que é o 
centro. Significa o ser interior. Segundo Bachelard, seus andares, seu porão e 
sótão simbolizam diversos estados da alma. O porão, o inconsciente; o sótão, a 
elevação espiritual. A casa também é um símbolo feminino com o sentido de 
refúgio, de mãe, de proteção e de seio materno. 
A casa de Luísa B... pode ser comparada a essa acepção da casa como 
refúgio, como proteção, como seio maternal. Viúva, em uma cama, só podia 
oferecer para sua filha, amor, carinho, proteção, mas muitas vezes essa 
proteção era inversa. Luísa, impossibilitada de agir, só podia ajudar a filha com 
palavras. Esse espaço também era o da dor, da irrealização, das frustrações e 
da carência: 
Dias inteiros estava à cabeceira do leito de sua mãe, 
procurando com ternura roubar à pobre senhora os momentos 
de angústia e aflição; mas tudo era em vão porque seu mal 
progredia, e a morte se lhe aproximava a passo lento e 
impossível; porém firme e invariável.��	�������������� 
 A cena em que Úrsula desmaia, no cemitério, junto ao túmulo de sua 
mãe, por si só transmite a significação do misticismo religioso em que a obra 
está envolta. A imagem do cemitério representa a última morada do ser em 
matéria, uma vez que os cemitérios passam umaideia de finitude e solidão. 
Era assim que a personagem se sentia, só e desolada. Ao acordar, é 
transportada para o convento, que também é uma representação de clausura. 
Outro espaço interior descrito na obra em análise é a senzala, vista por Túlio 
como um chão fétido, escuro, úmido, sombrio. Uma símile do conceito de 
escravidão sugerido no discurso enunciativo. Portanto, as imagens dos 
espaços interiores são todas sombrias. A visão edênica é representada tanto 
nos espaços reais como nos imaginários. A África para os escravos era um 
paraíso, o lugar da liberdade. Sua vida, aqui, a prisão, a escuridão. 
 
FONTE: 
MENDES , Algemira de Macêdo. A representação do espaço: a cor local em Úrsula de 
Maria Firmina dos Reis .In Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da 
literatura brasileira: representação, imagens e memórias nos séculos XIX e XX.(Tese 
de doutorado defendida na PUCRS,2006.) 
 
ATIVIDADES 
1. Pesquise sobre o conceito de Nacionalismo na literatura de língua 
portuguesa e produza um texto. 
2. Dê exemplo de três autores e obras em que o nacionalismo esteja presente. 
3. Identifique no poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, fragmentos que 
exemplifiquem o nacionalismo. 
4. Leia os textos complementares desta unidade e escreva com suas palavras 
como os autores tratam a questão do nacionalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 UNIDADE III - CONCEITO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE 
OBJETIVO 
Fornecer subsídios teórico-metodológicos para compreensão do conceito e 
construção do processo identitário nas literaturas de língua portuguesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. CONCEITO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE 
 
A temática da identidade nacional ocupou um lugar de destaque entre os 
intelectuais brasileiros, do Romantismo à contemporaneidade. Essa 
preocupação, no entanto, nos anos pós independência foi mais recorrente 
devido à necessidade de elaboração de uma consciência nacional que, 
afastando o risco da assimilação cultural, inspirasse no povo o sentimento de 
identidade, fundamental para o processo de autoafirmação. 
Porém Zilá Bernd (1992), em Literatura e identidade nacional, avalia 
que foi a partir dos anos 1960 que o conceito de identidade perdeu o conteúdo 
individual e adquiriu a conotação coletiva de identidade cultural. No campo dos 
estudos literários, as literaturas das nações jovens, ainda ligadas ao seu 
passado colonial, tornaram-se importantes para a elaboração da consciência 
nacional. Nessa busca de identidade, a literatura pode se revestir de duas 
funções: 
 Há a função de dessacralização, de desmontagem das 
engrenagens de um sistema dado, de por a nu os mecanismos 
escondidos, de desmistificar. Há também uma função de 
sacralização, de união da comunidade em torno de seus mitos, 
de suas crenças, de seu imaginário, ou de sua ideologia. 
(BERND, 1992, p. 17). 
 Neste sentido, pode-se falar de todas as literaturas dos países 
emergentes ou pós-coloniais como os países africanos que somente no século 
XX tiveram sua independência de Portugal. 
3.1 Identidade em questão 
 
Para compreendermos sobre o que estamos falando quando nos 
referimos à identidade cultural precisamos compreender, de forma breve, como 
de uma forma geral este conceito chegou a ser discutido tal como o 
percebemos na contemporaneidade. Um termo que não pode ser eximido 
desta compreensão é um panorama de .crise das identidades, identificando por 
boa parte dos autores revisados para esta pesquisa. 
 A identidade, mesmo passando muito tempo como uma questão de 
segunda ordem, hoje, emerge sobre um panorama agonístico onde as certezas 
plantadas no mundo cartesiano foram profundamente questionadas, 
paulatinamente, durante todo o período moderno. 
Nos anos 1990, Stuart Hall inicia efetivamente a teorização sobre 
identidade cultural e identifica duas razões para o surgimento da identidade 
cultural como objeto de pesquisa nos estudos culturais: (1) a desestabilização 
gerada pela modernidade e a discussão do panorama de crise moderno e (2) 
os processos de globalização que se intensificaram a partir desta última 
década do século XX. É a partir de Identidade Cultural e Diáspora que Stuart 
Hall descreve um posicionamento sobre as identidades culturais. Apoiado 
sobre uma perspectiva discursiva, particularmente localizada no texto, ele 
desenvolve um ensaio tendo como tema o cinema caribenho e o novo 
reconhecimento do povo do Caribe como negro, a descoberta de uma nova 
identidade a partir do tempo pós-colonial. 
. A identidade, neste momento, pode ser vista como uma ferramenta para 
o empreendimento de pesquisas sociais em um tempo em que as narrativas 
modernas passam por um panorama de crise e onde há uma busca por 
identificações e legitimação dos processos sociais. A principal tarefa para a 
discussão das identidades culturais é perceber como este conceito será 
articulado nas práticas comunicacionais face a um mundo interconectado, 
onde a perspectiva de uma identidade cultural que seja formada por diversas 
outras representações e experiências se torna cada vez mais importante. 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre indivíduos e 
grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a 
religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo 
dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no 
espaço. 
Como consequência do processo de globalização, as identidades culturais não 
apresentam hoje contornos nítidos e estão inseridas numa dinâmica cultural fluida e 
móvel. 
A globalização é uma nova e intensa configuração do globo, a resultante do novo ciclo 
de expansão do capitalismo não apenas como modo de produção mas como processo 
civilizatório de alcance mundial, abrangendo a totalidade do planeta de forma complexa 
e contraditória. O Estado-nação, símbolo da modernidade, entra em declínio. Como 
conseqüência, os mapas culturais já não coincidem com as fronteiras nacionais, fato 
acelerado pela intensificação das redes de comunicação que atingem os sujeitos de 
forma direta ou indireta. Grandes conceitos que informavam a construção das 
identidades culturais, como nação, território, povo, comunidade, entre outros, e que lhe 
davam substância, perderam vigor em favor de conceitos mais flexíveis, relacionais. 
Segundo Teixeira Coelho, as identidades, que eram achadas ou outorgadas, passaram 
a ser construídas. As identidades, que eram definitivas, tornaram-se temporáriasi. A 
diversidade cultural que o mundo apresenta hoje, as múltiplas e flutuantes identidades 
em processo contínuo de construção, a defesa do fragmentário, das parcialidades e das 
diferenças, trouxeram, como corolário, uma volatilidade das identidades que se 
inscrevem em uma outra lógica: da lógica da identidade para a lógica da identificação. 
Da estabilidade e segurança garantidas pelas identidades rígidas, à impermanência, 
mutabilidade e fluidez da identificação. Não é mais possível fechar em torno de uma só 
questão as referências da prática individual e coletiva, e as dimensões em que se 
situam, constantemente superpõem-se em vários estratos vacilantes, ressalta Tício 
Escobarii. 
O que se impõe hoje, a partir da noção contingente, contextualizada e relacional da 
identidade, é garantir que a multiplicidade e a diversidade sejam preservadas, que a 
cultura, como uma longa conversa entre partes distintas, permita que convivam sujeitos 
dos mais diferentes matizes. Em vez disso, quando a cultura local parece

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