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literatura brasileira I

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Prévia do material em texto

LITERATURA BRASILEIRA I 
PRESIDENTE DA REPÚBLICA 
Luiz Inácio Lula da Silva 
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad 
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Carlos Eduardo Bielschowsky
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
REITORA
Célia Maria da Silva Oliveira
VICE-REITOR 
João Ricardo Filgueiras Tognini
COORDENADORA DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA - UFMS
COORDENADORA DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UFMS
Angela Maria Zanon
COORDENADOR ADJUNTO DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UFMS
João Ricardo Viola dos Santos
COORDENADORA DO CURSO DE LETRAS: PORTUGUÊS E ESPANHOL (MODALIDADE A DISTÂNCIA)
Damaris Pereira Santana Lima
CÂMARA EDITORIAL
SÉRIE
Angela Maria Zanon
Dario de Oliveira Lima Filho
Damaris Pereira Santana Lima
Carina Elizabeth Maciel
Magda Cristina Junqueira Godinho Mongelli
Obra aprovada pelo Conselho Editorial da UFMS - Resolução nº 
CONSELHO EDITORIAL UFMS
Dercir Pedro de Oliveira (Presidente)
Antônio Lino Rodrigues de Sá
Cícero Antonio de Oliveira Tredezini
Élcia Esnarriaga de Arruda
Giancarlo Lastoria
Jackeline Maria Zani Pinto da Silva Oliveira
Jéferson Meneguin Ortega
Jorge Eremites de Oliveira
José Francisco Ferrari
José Luiz Fornasieri
Jussara Peixoto Ennes
Lucia Regina Vianna Oliveira
Maria Adélia Menegazzo
Marize Terezinha L. P. Peres
Mônica Carvalho Magalhães Kassar
Silvana de Abreu
Tito Carlos Machado de Oliveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Coordenadoria de Biblioteca Central – UFMS, Campo Grande, MS, Brasil)
SUMÁRIO
Introdução 05
CAPÍTULO I
Quinhentismo 11
CAPÍTULO II
Barroco 19
CAPÍTULO III
Arcadismo 29
CAPÍTULO IV
Romantismo 35
INTRODUÇÃO
Leitura
Uma proposta pedagógica não se reduz à simples 
discussão do método, n em a um rol de atividades e 
novidades, nem mesmo a uma relação de conteúdos. Ela 
deve ser mais radical no sentido primeiro da palavra, ou 
seja, deve atingir a raiz, o cerne da questão.
Lydia Bechara
Em âmbito escolar, pode-se observar que o gosto pela leitura se 
constrói, por meio de um longo processo. Para que esse gosto seja 
despertado, o próprio aluno precisa se ver como um sujeito-leitor, 
desafi ado diante dos “objetos de leitura”.
 Como sujeito, ele, leitor, sabe que precisa superar uma visão 
utilitarista da linguagem em que se privilegia apenas o domínio 
técnico da leitura. Para tanto, é preciso discutir o papel da escola 
na formação do leitor. Este livro pretende favorecer a literariedade 
presente nos poemas, contos, romances que fazem parte de um acervo 
cultural criado há várias décadas.
É importante destacar que o texto literário favorece a formação do 
leitor, pois lhe permite vivenciar a história e as emoções por meio da 
imaginação, desenvolvendo, assim, uma visão mais crítica do mundo. 
1) O que é leitura?
(CLUBE DA MAFALDA. Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.
com/2006_01_01_archive.html. Acesso em maio. 2010).
A leitura é um processo de instauração dos sentidos, determinado 
histórica e ideologicamente, relacionado à vida intelectual, à época e ao 
contexto social em que se vive. Nesta aula, tem-se consciência de que 
não há leitura ingênua, pré-cultural, longe de qualquer referência exte-
rior a ela. A leitura produz jogos de conotações, pois exige um sentido 
de conjunto, uma globalização e uma articulação aos sentidos produ-
zidos pelas sequências. Também não se concebe ler como encontrar o 
sentido desejado pelo autor, o que implicaria deduzir que o prazer do 
texto se originaria na coincidência entre o sentido desejado e o sentido 
percebido. Ler não é reconstituir um sentido, mas constituir. 
Na leitura, o leitor realiza um processo de compreensão 
abrangente de diferentes tipos de linguagem, cuja dinâmica, 
segundo Maria Helena Martins (1989, p.58), envolve componentes 
sensoriais, emocionais, intelectuais, fi siológicos, neurológicos, 
bem como culturais, econômicos e políticos. Enfi m, trata-se de 
uma perspectiva de caráter cognitivo-sociológico, em que o leitor 
participa com uma aptidão que não depende basicamente de sua 
capacidade de decifrar sinais, mas sim de sua capacidade de atribuir 
sentido a eles, de compreendê-los.
A leitura literária e a sua função humanizadora
Abordando esse assunto, Antonio Candido, no texto A Literatura e 
a formação do homem, apresenta algumas considerações signifi cativas 
sobre a função humanizadora da literatura. Chega a enfatizar a “função 
psicológica” atribuída à literatura. Segundo seu encaminhamento, o 
homem, no momento de fruição, precisa da fantasia, da fi cção, como 
uma necessidade elementar. De acordo com Candido:
as criações fi ccionais e poéticas podem atuar de modo subconsciente 
e inconsciente, operando uma espécie de inculcamento que não 
percebemos. Quero dizer que as camadas profundas da nossa 
personalidade podem sofrer um bombardeio das obras que lemos 
e que atuam de maneira que não podemos avaliar (CANDIDO, 
1999, p. 84).
No mesmo texto, Candido chama nossa atenção para o fato de 
que a literatura tem uma função formativa que se afasta do “ponto 
de vista estritamente pedagógico”, na medida em que ela mexe com 
as nossas “camadas profundas”. Segundo Candido:
A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia ofi cial, que 
costuma vê-la ideologicamente como um veículo da tríade famosa, 
- o Verdadeiro, o Bom, o Belo, defi nidos conforme os interesses dos 
grupos dominantes, para reforço da sua concepção de vida. Longe de 
ser um apêndice da instrução moral e cívica (esta apoteose matreira 
do óbvio, novamente em grande voga), ela age com o impacto 
indiscriminado da própria vida e educa como ela, com altos e baixos, 
luzes e sombras. (CANDIDO, 1999, p. 84). 
O que leva os alunos a rejeitarem a leitura?
Entendendo texto como objeto de criação, interessa, na sala de 
aula, que os alunos o percebam como refl exão sobre a experiência 
e experiência de refl exão. A rejeição por determinadas obras ou 
determinados autores por parte dos alunos deve-se ao fato de 
ignorarem, porque não explicitado, o diálogo existente entre textos 
de diferentes autores em diferentes épocas. O trabalho com textos, 
em sala de aula, objetiva a atribuição de sentidos numa perspectiva 
dinâmica e dialética, capaz de interpretar não apenas o ponto de 
vista que o autor manifesta, mas também fazer variar esse ponto de 
vista, construir outros textos e produzir conhecimento. A exposição 
a diversos tipos de texto é, portanto, necessária para que o aluno 
aprenda a ler, desenvolva uma atividade léxica, pratique, enfi m, 
atos de leitura.
O aluno passa a compreender esses múltiplos signifi cados que 
existem dentro de um mesmo texto e fora dele, quando em relação 
dialógica com outros. Ao refl etir sobre o conhecimento e ao controlar 
os seus processos cognitivos, o aluno coloca em ação todo seu sistema 
de valores, crenças e atitudes que revelam o grupo social em que foi 
criado. Segundo Vitor Manuel de Aguiar e Silva, a arte literária não 
reproduz o real, o concreto, ela se preocupa em criar um mundo 
verossímil, ou seja, o que pode acontecer, o que parece verdade.
Neste volume, relacionado à disciplina Literatura Brasileira I, 
você, aluno da EAD, vai entrar em contato, dentro de uma sequência 
cronológica, com obras literárias que representam o cânone, textos 
que foram consagrados em seus contextos de produção. O livro 
tenta resgatar textos expressivos, a começar pela carta do navegador 
português Pero Vaz de Caminha, autor do nosso Quinhentismo, 
até chegarmos à prosa romântica, adotando como eixo a sequência 
cronológica das escolas literárias, a periodização.
O critério da periodização
O critério de divisão periodológica da literatura pelos movimentos 
e estilos sempre ocupou, como método, um papel importante nas 
concepções de críticos e historiadores quese dedicaram, mais 
precisamente a partir da segunda metade do século XIX, ao estudo 
das correntes estéticas e literárias. 
Sabemos que tais críticos estabeleceram várias sequências 
cronológicas, enumerando elementos históricos, sociais e biográfi cos 
que permeavam escolas, autores e obras. Muitas vezes tais 
critérios foram questionados pela própria crítica por terem uma 
O que é verossililhança?
fisionomia reducionista, ou acusados de arbitrários na medida 
em que a concepção geral, o espírito da época, o zeitgeist e outros 
condicionamentos históricos acabaram por abafar o sentido estético 
da obra literária.
Ao refl etir sobre os primórdios da periodização, Vitor Manuel 
de Aguiar e Silva, no livro Teoria da Literatura, assinala que Petrarca 
(1304-1347), no Ocidente, foi o primeiro a exprimir de forma clara a 
consciência de que existe alternadamente um “ciclo de decadência” 
e um “ciclo de esplendor”. Em outra formulação, o crítico português 
chega a revelar que a ideia do “círculo” se reveste também de 
significados simbólicos, metafísicos e míticos. Analisando tais 
significados, o professor salienta que “a idéia da recorrência e 
da circularidade dos fenômenos culturais e artísticos inscreve-se 
sempre numa concepção dual, maniqueísta, da história humana (luz/
treva, positivo/negativo, norma/transgressão”. Baseada nesse perfi l 
dicotômico, que aponta para o eterno contraste entre o Clássico e o 
Romântico, a periodização, muitas vezes encarada como um sistema 
de normas estanques, tem merecido, ao longo do tempo, algumas 
críticas exatamente por apresentar paralelismos forçados. 
A obra de arte e a dimensão individual do escritor
O# o Maria Carpeaux, em História da literatura ocidental, rejeita com 
veemência tal mecanismo ao assinalar que o homem barroco, o homem 
romântico “seriam mudos e, por conseqüência, esquecidos, se certos 
entre eles não tivessem o dom individual da expressão artística”.
Além do ponto de vista de cada período, de cada escola, seja ela 
barroca ou renascentista, a obra de arte é determinada pelo ponto 
de vista individual do seu criador. No caso específi co da literatura, 
como vimos na apreciação de O# o Maria Carpeaux, a obra de arte 
resguarda a dimensão individual do escritor, ao observar que este 
tem suas especifi cidades, sua autonomia, considerando que ele, 
escritor, pode ter inclusive uma visão destoante da visão de mundo 
do seu tempo.
LITERATURA BRASILEIRA I
Neste material didático, você terá contato com a literatura brasileira. 
Conhecerá os principais textos e autores desde o início do período colonial, 
que tem como marco inicial a carta de Pero Vaz de Caminha, até o século XIX, 
com o Romantismo. Há também algumas atividades para você aprofundar seu 
conhecimento literário por meio da leitura das obras sugeridas e por meio de 
questões que enfocam, principalmente, o aspecto da construção literária.
EaD • UFMS 11Quinhentismo
Querelas do Brasil
Capítulo I
Quinhentismo
Aldir Blanc
O Brasil, não conhece o Brasil
O Brasil, nunca foi ao Brasil
Tapi, Jabuti, Liana
Alamandra, Alialaúde
Piau, Ururau, Aquiataúde
Pia, Carioca, Porêca, Metran
Jobim Akarore, Jobim Açu
Oh! Oh! Oh!...
[...]
O Brasil, não merece o Brasil
O Brasil, tá matando o Brasil
Gereba, Saci, Caandra
Desmunhas, Ariranha, Aranha
Sertões, Guimarães
Bachianas, Águas
E Marionaíma, Ariraribóia
Na aura das mãos do Jobim Açu...
EaD • UFMS12 LITERATURA BRASILEIRA I
LITERATURA INFORMATIVA
“Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os 
outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do 
achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta 
navegação achou, não deixarei de também dar disso 
minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, 
ainda que — para o bem contar e falar — o saiba pior 
que todos fazer!
[...]
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, 
de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, 
sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir 
ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar 
a cara. Acerca disso são de grande inocência.”
O texto acima mostra o interesse do cronista Pero Vaz de Caminha, 
escrivão da frota de Cabral, em descrever lentamente o que se passa 
no território ainda virgem.
Escrita no último ano do século XV, a carta redigida por Caminha 
é o primeiro documento relacionado ao Brasil, apresentando a visão 
do europeu ao se confrontar com as terras dos trópicos, com sua 
população autóctone, vivendo em harmonia com a natureza: os 
índios e suas pinturas com elementos extraídos da própria terra, seus 
instrumentos de caça e pesca, e talvez aquilo que tenha causado um 
choque maior nos habitantes de um continente frio e civilizado: a 
falta de vestes dos nossos nativos.
 Este texto marca o início do Quinhentismo, período iniciado em 
1500 e que teve seu término no ano de 1601 com a publicação da 
Prosopopéia de Bento Teixeira.
Os escritos literários dessa época fazem parte da literatura de 
viagens do Renascimento.
Antonio Candido, no livro Iniciação à Literatura Brasileira, destaca 
que os primeiros escritos feitos aqui mostram o intuito pragmático 
dos colonizadores que queriam compreender a terra para melhor 
dominá-la e dela tirar proveito.
As obras que se ocuparam da descrição dos costumes da nova 
terra são importantes enquanto fontes documentais para o estudo 
da colonização.
EaD • UFMS 13Quinhentismo
Veja a relação de algumas obras:
Do ponto de vista estilístico, os portugueses trouxeram formas 
literárias refi nadas devido à infl uência do Renascimento. Essa linguagem 
culta pode ser notada em vários textos. Vejamos o exemplo abaixo, 
extraído do Tratado da terra e gente do Brasil, do Pe. Fernão Cardim:
“Todos andam nus assim homens como mulheres, e não têm 
gênero nenhum de vestido e por nenhum caso verecundant (latim: 
envergonham-se), antes parece que estão no estado de inocência nesta 
parte, pela grande honestidade e modéstia que entre si guardam, e 
quando algum homem fala com mulher viram-lhe as costas.”
Afrânio Coutinho revela, no livro A Literatura no Brasil, que os 
primeiros documentos, os roteiros de viagem de autores como Pero 
Vaz de Caminha, Pero Lopes de Sousa, Nóbrega, Rocha Pita e tantos 
outros estão mais ligados à história e à sociologia.
Atividade 1
Leia os trechos a seguir para responder às questões:
Trechos da Carta, de Pero Vaz de Caminha
“E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, 
até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias 
de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha 
– segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas – os 
quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os 
mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão 
o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, 
topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! 
A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e 
redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra 
chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs 
o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!”
“Tratado da Terra do Brasil e Histórias da Província de 
Santa Cruz”, do autor português Pero de Magalhães Gândavo 
(1576)
“Tratado descritivo do Brasil”, de Gabriel Soares de Sousa 
(1587)
 
(1890 – 1954) Um dos principais 
intelectuais brasileiros da 
primeira metade do século 
XX, juntamente com Mário 
de Andrade e outros artistas 
da época idealiza e realiza a 
Semana de 1922, marco do 
Modernismo no Brasil.
Sobre o autor
EaD • UFMS14 LITERATURA BRASILEIRA I
“Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e 
gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas 
vergonhas, tão altas etão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras 
que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.”
A descoberta, de Oswald de Andrade
“Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.”
Os dois primeiros trechos pertencem à carta que o escrivão da 
frota de Pedro Álvares Cabral escreveu ao rei de Portugal, contando 
sobre a nova terra. O texto A descoberta pertence ao escritor Oswald de 
Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte 
Moderna no início de 1922, em São Paulo. Trata-se de 
um poema que estabelece uma relação intertextual 
com a Carta de Caminha. A partir do exposto e da 
leitura dos textos, responda às questões abaixo:
Para saber mais
Intertextualidade:
Quais as principais semelhanças entre os textos?a. 
E as diferenças? (Não se esqueça de observar tanto a temática b. 
quanto a forma, a estrutura dos textos).
A partir do distanciamento temporal que há entre os textos c. 
(início do século XVI e início do século XX, respectivamente), 
comente sobre os possíveis efeitos provocados nos leitores. 
Como a recepção pode alterar o sentido da obra?
EaD • UFMS 15Quinhentismo
O fi lme O povo brasileiro discute o conceito 
de miscigenação, conforme sinalizações 
teóricas do professor Darcy Ribeiro. Para 
entender melhor a formação da população 
brasileira no período colonial, não deixe de 
assistir a ele.
LITERATURA FORMATIVA
Outra característica da produção escrita no Brasil do Quinhentismo 
era o caráter de formação, entendendo aqui como a catequese dos 
nativos. Os responsáveis por tal formação eram os jesuítas. O principal 
jesuíta no território brasileiro foi o Padre José de Anchieta, chamado 
pelos índios de “grande piahy” (‘supremo pajé branco’).
Nascido em Tenerife, Canárias, em 1534, chegou ao 
Brasil em 1553, fundando no ano seguinte um colégio que 
seria o embrião da futura cidade de São Paulo. Faleceu em 
1597, no Espírito Santo.
Entre suas obras estão a Arte de gramática da língua 
mais usada na costa do Brasil, a primeira gramática do tupi-
guarani; vários autos (peças teatrais) de natureza medieval, 
lembrando Gil Vicente ao misturar a moral católica aos 
costumes dos indígenas, sempre procurando pôr em evidência os 
extremos Bem e Mal, Anjo e Diabo de maneira maniqueísta, com o 
Bem sempre derrotando o Mal; e peças poéticas, de caráter sacro e 
didático, com a simplicidade poética da Idade Média. Vejamos um 
de seus poemas:
1Jesus em latim
A Santa Inês
 
Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!
 
Cordeirinha santa,
de Iesu1 querida,
vossa santa vinda
o diabo espanta.
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
 
Nossa culpa escura
fugirá depressa,
pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.
Vossa formosura
honra é do povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
EaD • UFMS16 LITERATURA BRASILEIRA I
Virginal cabeça
pola fé cortada,
com vossa chegada,
já ninguém pereça.
Vinde mui depressa
ajudar o povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.
Vós sois, cordeirinha,
de Iesu formoso,
mas o vosso esposo
já vos fez rainha.
Também padeirinha
sois de nosso povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.
Conforme se pode perceber, trata-se de um poema em redondilhas 
menores, versos de cinco sílabas, comum na produção da Idade 
Média; as estrofes possuem rimas e alguns versos apresentam-se 
com função de refrões, como em “lhe dá lume novo” e “porque vossa 
vinda”, acentuando o caráter medieval da construção.
ATIVIDADE 2
O fragmento abaixo pertence à obra do Padre José de Anchieta. A 
partir de sua leitura, responda às questões:
Compaixão da Virgem na morte do fi lho
“Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?
Não te move a afl ição dessa mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do fi lho chora tanto?
O seio que de dor amargado esmorece,
ao ver, ali presente, as chagas que padece?
Onde a vista pousar, tudo o que é de Jesus,
ocorre ao teu olhar vertendo sangue a fl ux.
Olha como, prostrado ante a face do Pai,
todo o sangue em suor do corpo se lhe esvai.”
Mesmo tendo sido escrito em pleno Renascimento, com seu a. 
antropocentrismo e racionalismo marcantes, o trecho mostra uma 
profunda religiosidade. Comente sobre a temática do poema, 
levando-se em conta o contexto em que foi produzido.
Quais os recursos formais utilizados por Anchieta? Utilize b. 
elementos do texto para justifi car sua resposta.
O texto apresenta uma descrição e narração c. 
dos sofrimentos causados ao fi lho de Maria, 
Jesus Cristo. Compare as imagens criadas pelo 
poema e a composição escultórica La Pietà, de 
Michelangelo. Discorra sobre como um mesmo 
fato pode ser representado artisticamente 
pelas várias linguagens existentes.
EaD • UFMS 17Quinhentismo
Fique atento!
Literatura Informativa: tem a fi nalidade de informar sobre as 
características físicas da nova terra;
Literatura Formativa: voltada para a catequese dos índios. 
EaD • UFMS 19QuinhentismoEaD • UFMS 19Barroco
“Incêndio em mares d’água disfarçado,
Rio de neve em fogo convertido.”
 Gregório de Matos
Capítulo II
Barroco
CONTEXTO HISTÓRICO
A localização histórica do Barroco se dá entre o Renascimento e o Arca-
dismo, dois períodos que apresentam similaridades temáticas e estilísticas, 
pois ambos tiveram como origem ou matriz a poesia grega e latina da 
Antiguidade, que defendia o predomínio da clareza e do equilíbrio.
O Barroco, ao contrário, inspirado pelos princípios da Contra-
Reforma, notabilizou-se pelo excesso, pela exuberância. No lugar 
da harmonia Renascentista, o movimento privilegiou a visão 
confl ituosa.
EaD • UFMS20 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS20 LITERATURA BRASILEIRA I
É importante lembrar que, no início do século XVI, Martim 
Lutero contestou os dogmas da igreja católica abrindo espaço para o 
protestantismo. A Contra- Reforma vem a ser a reação da igreja aos 
valores do protestantismo.
A escultura representada na abertura deste capítulo, de Jesus 
Cristo segurando a cruz, mostra-nos a riqueza de detalhes das 
imagens sacras produzidas no Brasil, principalmente nos estados de 
Minas Gerais e Bahia, nas primeiras décadas do século XVII. 
O estilo Barroco chegou ao Brasil pelas mãos dos colonizadores 
portugueses e espanhóis, leigos e religiosos. A igreja católica, de um 
modo geral, teve um papel fundamental como mecenas na arte colonial. 
Segundo apreciação de Afrânio Coutinho, em Introdução à literatura 
no Brasil, o estudo da época colonial oferece maior interesse para a 
compreensão da cultura brasileira, e de como passaram a ser defi nidas 
as formas de organização social e a constituição de costumes.
Para Coutinho, no Brasil dos séculos XVII e XVIII, a impregnação 
barroca na cultura brasileira foi forte. Podemos comprovar essa 
afi rmação a partir da imagem exposta abaixo, imagem que nos revela 
o caráter moralizador e religioso do BARROCO no Brasil. 
O termo Barroco surgiu apenas no século XVIII, denominação 
utilizada pelos classicistas para designar algo irregular, extravagante, 
confuso, referindo-se ao estilo literário predominante no século XVII. 
Caracterizado pela ausência de clareza das idéias e pelo uso abusivo 
de ornamentos, contrapondo-se à sobriedade Renascentista, o Barroco 
prioriza o excesso de detalhes e o rebuscamento. Lígia Cademartori,em Períodos literários, estabelece uma série de oposições entre a estética 
Barroca e os preceitos da arte Renascentista. Vejamos o quadro abaixo:
EaD • UFMS 21QuinhentismoEaD • UFMS 21Barroco
ASPECTOS ESTILÍSTICOS
“A serpe, que adornando várias cores,
Com passos mais oblíquos que serenos,
Entre belos jardins, prados amenos,
É maio errante de torcidas fl ores”
O poema acima, do autor Manuel Botelho de Oliveira, exprime 
emoções intensas e nos dá pistas para entendermos melhor tal estética. 
Como já foi dito em vários livros teóricos, o Barroco valoriza os apelos 
cromáticos, as metáforas e antíteses que aparecem dentro de um 
trabalho engenhoso. Existe, na verdade, a proliferação de fi guras.
De um modo geral, o Barroco utilizou duas vertentes básicas: o 
cultismo e o conceptismo.
A vertente cultista, que tem como 
principal representante o poeta espanhol 
Luís de Gôngora, priorizava as metáforas, 
comparações e analogias. Quando se 
descreve a beleza física de uma musa, por 
exemplo, o brilho do sol é associado ao 
brilho do cabelo da mulher descrita. 
A vertente conceptista trabalha com conceitos metafísico-
religiosos e seus argumentos são estruturados por meio das antíteses, 
silogismos, o jogo das ideias.
Para saber mais
Aspectos
estilísticos::
O BARROCO NO BRASIL
No Brasil, tem-se o ano de 1601 como marco inicial do Barroco, 
quando da publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira. Obra 
construída em decassílabos heroicos para exaltar o capitão donatário 
de Pernambuco, Jorge Albuquerque Coelho, que no texto aparece 
como fi gura mais valorosa que todos os heróis da mitologia greco-
romana juntos. No Brasil houve ecos do Barroco europeu, isto é, os 
autores repetiam motivos e formas do barroquismo ibérico.
EaD • UFMS22 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS22 LITERATURA BRASILEIRA I
Na imagem acima, você visualiza um dos doze profetas (1800-1805), 
estátua esculpida em pedra sabão, disposta nas escadarias da igreja de 
Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais. 
No lugar da simetria clássica, a obra valoriza as linhas curvas.
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Alfredo Bosi, na sua História Concisa da Li-
teratura Brasileira, faz um breve comentário de 
um dos poemas mais notáveis do sátiro baiano. 
Segundo Bosi, no poema “Triste Bahia”, Gregó-
rio se identifi ca com a sua terra espoliada pelo 
negociante português, o sagaz “brichote”. 
Sua produção literária pode ser dividida a 
partir de dois gêneros: lírico e satírico. Vamos 
iniciar o estudo a partir de alguns textos:
Em 1974, o também baiano Caetano 
Veloso, no CD Transa, musicou Tris-
te Bahia. Vale a pena você, aluno da 
EAD, ouvir a música.
 
Triste Bahia
Caetano Veloso
Gregório de Ma# os
Triste Bahia, oh, quão 
dessemelhante…
Estás e estou do nosso antigo estado
Pobre te vejo a ti, tu a mim 
empenhado
Rico te vejo eu, já tu a mim 
abundante
Triste Bahia, oh, quão 
dessemelhante
A ti tocou-te a máquina mercante
Quem tua larga barra tem entrado
A mim vem me trocando e tem 
trocado
Tanto negócio e tanto negociante
© Editora Gapa / Domínio público
61664847 BRMCA7200154
Ficha técnica da faixa
voz: Caetano Veloso
Quem foi Gregório de Matos?
Uma das fi guras mais expressivas do Barroco 
no Brasil, Gregório de Matos nasceu em 
Salvador em 1633 e morreu (?) – Terminar!
A Maria dos Povos, sua futura esposa
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da fl or da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda fl or sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa fl or, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
EaD • UFMS 23QuinhentismoEaD • UFMS 23Barroco
O soneto acima expressa algumas especifi cidades temáticas e 
estilísticas típicas da sua lírica amorosa. Na primeira estrofe, o autor 
descreve a beleza física da musa Maria por meio de adjetivos (discreta, 
formosa) e de metáforas (rosada Aurora).
A aparente tranquilidade da primeira estrofe passa a ser 
quebrada no primeiro verso da terceira estrofe no momento em 
que o autor recomenda de forma brusca que Maria deve, o quanto 
antes, aproveitar sua juventude. A sonoridade aparece através das 
rimas e do uso da aliteração; no verso “Que o tempo trata a toda 
ligeireza”, por exemplo, percebemos como o recurso da repetição de 
sons oclusivos - como o [t] - faz lembrar o som do galope do cavalo 
que transporta o tempo, reforçando na expressividade aquilo que o 
conteúdo apresenta; no verso seguinte temos a imagem de uma frágil 
fl or que fora acompanhada pelo tempo.
No último verso, a imagem da fl or é retomada. Símbolo de beleza, 
a fl or também representa a efemeridade, o que é confi rmado com o 
último verso em expressões como cinza, pó, sombra e nada. Chega-se, 
assim, ao fi m último das coisas vivas: a morte. O texto é trabalhado 
de forma a iniciar-se com a Aurora, concluindo com o nada, os 
dois extremos da vida, ou seja, a dualidade que persegue todas as 
criaturas, vida e morte, e que é marca do período Barroco.
A poesia de Gregório de Matos pode ser didaticamente dividida 
em quatro tipos básicos:
Lírico - Religioso
Neste tipo de composição o poeta trabalha com a dicotomia 
pecado-perdão. Geralmente, num primeiro momento, por meio de 
antíteses e paradoxos, ele se confessa um pecador para em seguida 
pedir clemência a Deus. Vamos ao texto que ilustra bem essa 
“malandragem” poética atribuída ao autor:
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer,
Animoso, constante, fi rme e inteiro:
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer;
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso Cordeiro.
EaD • UFMS24 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS24 LITERATURA BRASILEIRA I
Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fi m todo o pecar,
E não o vosso amor que é infi nito.
Esta razão me obriga a confi ar,
Que, por mais que pequei, neste confl ito
Espero em vosso amor de me salvar.
Lírico - Amoroso
A D. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara! 
Isso é ser fl or e Anjo juntamente:
Ser Angélica fl or e Anjo fl orente,
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Quem vira uma tal fl or que a não cortara
De verde pé, da rama fl orescente;
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares, 
Fôreis o meu Custódio e a minha guarda, 
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda, 
Posto que os Anjos nunca dão pesares, 
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.
Há composições, como veremos no poema abaixo, em que o autor inova 
ao destacar uma certa tropicalidade, ou um sentimento de brasilidade. 
Minha rica mulatinha,
desvelo e cuidado meu,
eu já fora todo teu,
e tu foras toda minha;
EaD • UFMS 25QuinhentismoEaD • UFMS 25Barroco
Juro-te, minha vidinha,
se acaso minha qués ser,
que todo me hei de acender
em ser teu amante fi no pois
por ti já perco o tino,
e ando para morrer.
ATIVIDADE 3
Leia o soneto de Gregório de Matos para responder as perguntas:
Inconstância dos bens do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfi gura?
Como o gosto da pena assim se fi a?
Mas no Sol, e na Luz falte a fi rmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.Começa o mundo enfi m pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A fi rmeza somente na inconstância.
Neste texto, Gregório discorre sobre o quão efêmero são os a. 
bens do mundo. Para tanto, utiliza-se de uma linguagem rica 
em fi guras próprias do período Barroco, dentro da chamada 
linguagem cultista. Identifi que tais fi guras e comente sobre seu 
valor para a construção do sentido no poema.
Na última estrofe o poeta conclui sua exposição, dizendo que a b. 
ignorância está na origem de tudo. Tendo em vista o contexto 
do homem barroco, comente essa passagem.
Padre Antônio Vieira
Um dos grandes oradores da língua portuguesa, foi pregador 
e conselheiro de D. João IV, embaixador na França e na Holanda. 
No Sermão da Sexagésima, uma de suas principais obras, Vieira 
EaD • UFMS26 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS26 LITERATURA BRASILEIRA I
condena os exageros do estilo cultista, que ele considera obscuro, para 
defender o estilo claro. Vejamos um pequeno trecho do sermão:
“O estilo culto não é escuro, é negro, é negro boçal e muito 
cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de 
ouvir um pregador em português e não havemos de entender 
o que diz ? ” 
Sermão do bom ladrão
“Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é 
companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente 
real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade 
do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o 
que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo 
contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões 
ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao 
inferno. E se isto é assim, como logo mostrarei com evidência, 
ninguém me pode estranhar a clareza ou publicidade com que 
falo e falarei, em matéria que envolve tão soberanos respeitos, 
antes admirar o silêncio, e condenar a desatenção com que os 
pregadores dissimulam uma tão necessária doutrina, sendo 
a que devera ser mais ouvida e declamada nos púlpitos. Seja, 
pois, novo hoje o assunto, que devera ser muito antigo e mui 
freqüente, o qual eu prosseguirei tanto com maior esperança 
de produzir algum fruto, quanto vejo enobrecido o auditório 
presente com a autoridade de tantos ministros de todos 
os maiores tribunais, sobre cujo conselho e consciência se 
costumam descarregar as dos reis.”
Fonte: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/
sermoes_vol_iii.pdf
“’Padre António Vieira foi o português mais fracassado de todos 
os tempos. Nada do que sonhou se cumpriu, todas as suas profecias 
se frustraram, todos os seus planos políticos se goraram e toda a sua 
glória foi póstuma.’ Assim defi nem Filomena Oliveira e Miguel Real, 
em poucas palavras, o destino de um
homem que se viu, até ao fi m dos seus dias, apreciado como 
orador, apesar de votada a sua obra e o seu papel na sociedade 
ao esquecimento. Tendo sido o mais famoso pregador religioso 
português, homem de muitos ofícios – missionário, diplomata, 
político, orador, escritor –, a sua imaginação social e as suas práticas 
religiosas, sociais e políticas são indispensáveis à compreensão do 
EaD • UFMS 27QuinhentismoEaD • UFMS 27Barroco
século XVII. A construção de uma sociedade livre, sem fronteiras, 
era apregoada através de uma retórica única em que o sermão, os 
bons exemplos e as boas práticas sociais vigoravam. ‘Padre António 
Vieira nunca recuou perante os aleij ões do seu tempo e nunca deixou 
de denunciar os poderosos que se alimentavam do trabalho alheio’, 
acrescentam Filomena Oliveira e Miguel Real.
A denúncia social contra o tratamento dos negros ou a explora-
ção e escravização dos índios no Brasil fi zeram dele um visionário, 
aquele que acreditou também na ressurreição de reis, e num Império 
Mundial sediado em Lisboa. Convicções que o levaram a ter de se 
confrontar com a Inquisição. Vieira arriscou tudo mas profetizou a 
utopia, não apenas enquanto quimera, mas como acto realizável.”
Fonte: h# p://www.teatro-dmaria.pt/media/pdf/JORNAL_19.pdf
EaD • UFMS 29QuinhentismoEaD • UFMS 29Arcadismo
Casa no campo
Elis Regina
Composição: Zé Rodrix e Tavito 
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa fi car no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu fi lho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais
Capítulo III
Arcadismo
CONTEXTO HISTÓRICO
No século XVIII nascem na Europa os princípios do liberalismo 
propiciados pelos iluministas, que, apoiados pela participação popular, 
promoveram a Revolução Francesa. Nesse contexto surge o Arcadismo, 
baseado na cultura Greco – romana, revelando uma série de convenções 
que deveriam ser seguidas pelos poetas que frequentavam as arcádias. 
Do ponto de vista estético, os iluministas “pregavam” que a poesia 
deveria ser nítida, clara e racional como a natureza. 
Surgem nessa época as Arcádias, que divulgavam as ideias 
aristotélicas de que a poesia tinha que imitar o mundo. Apoiada 
na teoria poética de Aristóteles, a estética neoclássica, Arcadismo, 
considera o verossímil, o crível, o possível, o que parece verdade.
EaD • UFMS30 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS30 LITERATURA BRASILEIRA I
Vamos enumerar as principais convenções utilizadas pelos poetas 
árcades ou neoclássicos:
Carpe diem: aproveitar o dia, a juventude, com a máxima intensidade, 
pois o tempo passa com muita rapidez;
Locus amoenus: lugar tranquilo, aprazível, bucólico;
Fugere urbem: os autores recomendam a fuga do espaço urbano, das 
cidades;
Inutilia truncat: cortar o inútil, valorizar uma linguagem simples, 
contrária aos exageros cultistas da escola Barroca;
Aurea mediocritas: o meio-termo é de ouro.
CARACTERÍSTICAS
Ao falar do processo estilístico, das questões da linguagem, Alfredo 
Bosi, em História concisa da literatura brasileira, salienta que se buscava 
uma linguagem musicalmente fácil, ajustada a temas bucólicos. Para 
Bosi, a verossimilhança e a simplicidade foram as notas formais 
prezadas pelos árcades. Busca-se, ao contrário do Barroco, um estilo 
racional, claro, regular. Os prados, os rios e os montes servem como 
pano de fundo para s inquietações amorosas de poetas como Cláudio 
Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
Ainda segundo Alfredo Bosi, Gonzaga nada fi ca a dever aos 
autores europeus, pois suas liras são exemplos de aureas mediocritas 
que aparam as demasias do sentimento. Veremos na próxima unidade 
que esse sentimentalismo, a evasão, o sonho, são algumas tendências 
básicas do Romantismo.
Para você lembrar!
ARCADISMO ou NEOCLASSICISMO:
INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA: enciclopedismo de Rousseau, Voltaire, 
Diderot;
TENDÊNCIAS GERAIS: imitação dos clássicos;
CARACTERÍSTICAS: evocação da vida pastoril, equilíbrio, presença da 
mitologia greco – latina.
EaD • UFMS 31QuinhentismoEaD • UFMS 31Arcadismo
O ARCADISMO NO BRASIL
O estudo da literatura brasileira do século XVIII, segundo Luiz 
Roncari, no livro Literatura Brasileira, deve levar em consideração 
dois fatos: a descoberta do ouro no Brasil e a profunda revolução, no 
mundo das ideias, vivida pela Europa, fato que convencionou chamar 
esse período de Século das Luzes. No Brasil, a descoberta do ouro 
na região de Minas Gerais fez os homens fundarem vilas e cidades. 
Com o ciclo da mineração no estado de Minas Gerais, a cidade de 
Vila Rica, hoje Ouro Preto, tornou-se o centro econômico e propiciou 
o surgimento de uma sociedade mais culta, maisrefi nada. 
Roncari argumenta que a “exploração do ouro abriu ao homem da 
Colônia uma vida muito mais rica em contatos e possibilidades. Seus 
horizontes se ampliaram, não se restringindo mais aos do mundinho 
do engenho”. Assim, a obra dos poetas brasileiros do século XVIII, 
nomes como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa 
e Alvarenga Peixoto, guarda uma íntima conexão com esse novo 
mundo que se confi gurava, um mundo mais citadino, mais polido.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Filho de um magistrado brasileiro, Gonzaga teve uma educação 
refi nada, formou-se em Direito e escreveu quando jovem o Tratado de 
Direito Natural. Em 1792 chega a Vila Rica para exercer a procuradoria. 
Lutou contra a tirania do governador mineiro e seu principal desafeto 
político, Luis da Cunha Meneses, o fanfarrão minésio, que favorecia a 
exploração do ouro pelos colonizadores portugueses, principal assunto da 
sua produção satírica, as Cartas Chilenas, que circulavam no anonimato.
CARTAS CHILENAS:
São doze cartas de autoria de Gonzaga, que usava na época o 
pseudônimo de Critilo, e eram destinadas ao amigo Doroteu, Cláudio 
Manuel da Costa. O poeta tenta mostrar, num tom de denúncia, que 
o Chile (Minas Gerais) vivia sempre à mercê dos desmandos do 
fanfarrão. Observe, no exemplo abaixo, que o fi o condutor da carta 
é ideológico, uma denúncia social. 
Amigo Doroteu, prezado amigo
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa das pestanas carregadas
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo, é quem te chama
Ergue a cabeça da engomada fronha,
Acorda, se ouvir queres cousas raras 
EaD • UFMS32 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS32 LITERATURA BRASILEIRA I
MARÍLIA DE DIRCEU:
Considerada a obra mais importante do século XVIII, as liras 
de Tomás Antônio Gonzaga revelam, principalmente no seu início, 
a contenção e a simplicidade da poesia neoclássica. O leitor se 
depara com os chamados lugares-comuns: a paisagem bucólica, a 
tranquilidade da vida campestre, um pastor que descreve sua pastora 
convidando-a para viver o dia, o carpe diem, porque a vida se mostra 
efêmera, passageira.
Ao analisar o poema de Gonzaga, Antonio Candido, no livro Na 
sala de aula, assinala que há no texto uma limpidez devido à ordem 
expositiva clara e direta, com raras inversões sintáticas. Segundo 
Candido, “habituado às neblinas da poesia contemporânea, o leitor 
fi ca meio perplexo com este discurso despojado e sem mistério”. Para 
ele essa simplicidade é fruto de uma contensão elaborada, não de uma 
tranquilidade real. O trecho a seguir exemplifi ca bem a limpidez e 
a serenidade da poesia de Gonzaga:
LIRA XXXIV
(FRAGMENTO)
Minha bela Marília, tudo passa
A sorte deste mundo é mal segura
Se vem depois dos males a ventura
Vem depois dos prazeres a desgraça
[...]
Ornemos nossas testas com as fl ores
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília , em laço estreito.
ATIVIDADE
LIRA I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as fi nas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
EaD • UFMS 33QuinhentismoEaD • UFMS 33Arcadismo
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! 
 
Que sentimentos o eu-lírico revela nas duas primeiras estrofes a. 
do livro Marília de Dirceu?
Transcreva dois versos que revelem traços do Bucolismo.b. 
Como você observa, o eu-lírico dialoga com sua musa Marília, c. 
sua interlocutora. Com base no que você aprendeu nas aulas, 
quem era Marília e quem era Dirceu?
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
Entre os árcades, segundo Alfredo Bosi (BOSI, p.68), foi o mais 
acabado poeta neoclássico, dono de uma vasta cultura humanística. 
Adotou o pseudônimo pastoril de Glauceste Satúrnio e descreveu 
várias pastoras em geral inacessíveis.
Um dos elementos que diferenciam Cláudio Manuel da Costa de 
outros do período árcade é o fato de manter características do estilo 
barroco, conservando em alguns textos o rebuscamento sintático por 
meio de inversões. Vejamos um exemplo desse procedimento:
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Transpondo os dois primeiros versos da estrofe para a ordem 
direta, temos: Houve uma fonte aqui; eu não me esqueço / de estar 
reclinada a ela um dia.
BASÍLIO DA GAMA
A obra mais conhecida de José Basílio da Gama (Minas Gerais, 1741 
– Lisboa, 1795) é o Uraguai, poema épico em que mescla a louvação ao 
Marquês de Pombal e o heroísmo indígena, restando aos jesuítas o papel 
de vilões. A obra é de escrita leve, construída com versos decassílabos 
brancos. No poema se narra a história da luta entre os luso-castelhanos 
e os missionários dos Sete Povos. Assim se inicia o poema:
EaD • UFMS34 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS34 LITERATURA BRASILEIRA I
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue, tépidos e impuros,
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos.
Segundo Alfredo Bosi, o texto contém antecipação de fi guras 
românticas, mostrando uma relação mais íntima dos sentidos com 
o mundo. Observe-se este fragmento:
Medrosa deixa o ninho a vez primeira
Águia, que depois foge à humilde terra,
E vai ver mais de perto, no ar vazio,
O espaço azul, onde não chega o raio.
.................................................................
Enfi m, junto a um ribeiro, que atravessa,
Sereno e manso, um curvo e fresco vale,
Acharam, os que o campo descobriram,
Um cavalo anelante e o peito e as ancas
Cobertos de suor e branca espuma.
Sete Povos das Missões ou 
Missões Orientais
Conjunto de sete aldeamentos 
indígenas fundados por 
padres jesuítas, localizado 
a leste do rio Uruguai no 
extremo sul do Brasil.
EaD • UFMS 35QuinhentismoEaD • UFMS 35Romantismo
Exagerado 
Cazuza
Composição: Cazuza / 
Ezequiel Neves / Leoni
Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade
Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Capítulo IV
Romantismo
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo 
ou nunca mais
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
CONTEXTO HISTÓRICO
O Romantismo tem início ofi cial a partir da publicação de Os 
sofrimentos do jovem Werther, na Alemanha, pelo escritor Goethe, 
em 1774. Essa obra lança as bases para o sentimentalismo que iria 
prevalecer em muitas obras posteriores, adentrando o século XIX. 
Sete anos depois Schiller publica Os salteadores, com sua temática 
de volta ao passado histórico, 
seguindo a esta a publicação da 
obra Guilherme Tell, personagem 
tratado como herói nacional na 
luta pela independência. Outra 
grande infl uência para gerações 
de românticos só surgiria nos 
primeiros anos do século XIX na 
Inglaterra. Trata-se de Lord Byron 
com sua poesia ultrarromântica. 
Dessa forma, temos a Alemanha e 
EaD • UFMS36 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS36 LITERATURA BRASILEIRA I
a Inglaterra como as iniciadoras do Romantismo; mas é com a França, 
principal divulgadora da estética, que o Romantismo terá seus ecos 
em terrastupiniquins.
Os últimos anos do século XVIII e os primeiros do século XIX marcam 
uma série de transformações na Europa e no mundo. É nesse período 
que temos a Revolução Francesa, infl uência para outras revoluções. Na 
América, temos a Independência Americana, as independências dos 
países sul-americanos, incluindo a do Brasil, em 1822. Ou seja, é um 
período em que começam a se consolidar os estados nacionais.
CARACTERÍSTICAS
Na imagem que abre o capítulo, temos a reprodução de uma tela 
de Eugène Delacroix, pintor francês da estética romântica. A obra se 
chama A liberdade guiando o povo. Perceba como os traços são exagerados, 
movimentados, não são contidos ou planejados, características 
que também podemos encontrar em muitos textos desse período – 
como veremos mais adiante quando falarmos nas características do 
Romantismo.
O individualismo pode ser considerado o traço mais marcante da 
literatura romântica, em oposição ao espírito de exatidão que marca 
o período anterior. Como sabemos, o Romantismo legitima o desejo 
de liberdade almejado pela classe burguesa. A partir do Romantismo, 
o homem do ocidente passa a ter noção da sua individualidade e 
passa a valorizar as emoções e sentimentos. Arnold Hauser destaca 
que essa atitude de fuga, de evasão, vem a ser um protesto contra a 
ordem social vigente.
Do ponto de vista da linguagem, o período buscou um estilo mais 
livre, mais solto, contra os princípios tradicionais predominantes 
na arte clássica. Podemos lembrar que os Árcades, voltados para a 
Antiguidade, fi cavam presos às convenções formais, aos critérios 
objetivos de se produzir uma obra de arte. Veja as obras abaixo e 
tente estabelecer diferenças entre obras que revelam esse antagonismo 
entre o Clássico e o Romântico:
ROMANTISMO NO BRASIL
Na Europa, o surgimento do romance romântico está atrelado às 
mudanças ocorridas na primeira metade do século XIX, com o crescimento 
da classe burguesa e o considerável aumento do público leitor.
A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, ante a iminência 
da invasão de Lisboa pelas tropas de Napoleão Bonaparte, possibilitou 
mudanças no panorama sócio-cultural da então colônia. 
EaD • UFMS 37QuinhentismoEaD • UFMS 37Romantismo
A transferência da corte no ano de 1808 alterou o nosso cenário 
sócio-cultural. A abertura dos portos, a criação dos museus viabilizava 
a criação de uma identidade cultural que ainda não tínhamos. 
Brasileiros fundaram em Paris, em 1836, a revista Niterói, que buscava 
promover a cultura brasileira. Para Antonio Candido, o Romantismo 
brasileiro foi, antes de tudo, escrever sobre as coisas locais.
A obra do poeta maranhense Gonçalves Dias, autor da singela 
Canção do Exílio e de I Juca Pirama, mostra bem esse sentimento 
de um nacionalismo ufanista, no qual o autor descreve uma natureza 
idealizada e confi gura o índio brasileiro como herói. Para Candido, a 
obra de Gonçalves Dias foi, no Brasil, depois dos árcades, a primeira 
de elevada qualidade estética. Vamos nos aproximar, no próximo 
tópico, das tendências temáticas e estilísticas desse autor. 
Em seguida, levando em conta a produção da poesia romântica no 
Brasil, abordaremos questões ligadas à obra do poeta ultrarromântico 
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), escritor byroniano 
morto aos vinte anos, leitor precoce que demonstra em seus 
poemas, além da de Byron, uma forte infl uência de Shakespeare e 
de Musset.
Finalmente, ainda tratando da poesia romântica no Brasil, vamos 
conhecer um pouco sobre a poesia de Antônio de Castro Alves (1847-
1871), poeta que revela uma ampla visão social.
A POESIA ROMÂNTICA E SEUS AUTORES
ANTÔNIO GONÇALVES DIAS
( Caxias-Maranhão, 1823 / litoral maranhense, no naufrágio do 
“Ville de Boulogne”, 1864 )
Considerado pela crítica literária como o criador da poesia 
nacional, ao lado de Gonçalves de Magalhães, não se limitou apenas 
ao indianismo. A Canção do Exílio, sua obra mais conhecida nas 
antologias e nos livros didáticos, expressa sentimentos interiores e 
subjetivos do poeta sobre o mundo que o cerca. Como já dissemos 
antes, o subjetivismo é uma característica marcante do Romantismo 
de um modo geral. 
Anatol Rosenfeld assinala que o que vale ӎ a subjetividade do 
autor, ao lado de um eventual efeito de fascinação, um mágico encanto 
emocional que poderá prender em suas malhas a alma do receptor”. 
Leia atentamente o texto e perceba o contraste entre o lá (Brasil) e o 
aqui (Portugal), advérbios que dão ênfase ao sentimento de saudade 
da pátria distante, representada pelos elementos da fauna e fl ora. 
EaD • UFMS38 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS38 LITERATURA BRASILEIRA I
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais fl ores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Coimbra, julho 1843
O fragmento reproduzido abaixo, I Juca Pirama (aquele que deve 
morrer, em língua tupi) tem como temática central a saga de um 
índio tupi, último descendente da sua tribo, capturado e humilhado 
pelos inimigos, conforme revela a primeira parte do texto, por ter 
sido libertado por um cacique Timbira para cuidar do pai. Indignado 
com tal atitude, o velho pai exige o retorno do fi lho. No fi nal, o jovem 
tupi, num ato de bravura, enfrenta e vence os inimigos timbiras.
Que tal fazer uma leitura em voz alta para perceber no poema os 
efeitos sonoros, o ritmo, as aliterações, o trabalho com a linguagem.
Gonçalves Dias – I Juca Pirama (canto I – Trecho)
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos – cobertos de fl ores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
EaD • UFMS 39QuinhentismoEaD • UFMS 39Romantismo
São muitos seus fi lhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão. 
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor: 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voa na boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror! 
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, 
As armas quebrando, lançando-as ao rio, 
O incenso aspiraram dos seus maracás: 
Medrosos das guerras que os fortes acendem, 
Custosos tributos ignavos lá rendem, 
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
ATIVIDADE
Procure no dicionário o signifi cado da palavra exílio. Por que a. 
o poeta deu esse nome se ele não estava exilado?
Que características do Romantismo podemos notar nos versos b. 
de Gonçalves Dias?
Você já deve ter notado que a letra do Hino Nacional, composta c. 
por Osório Duque Estrada, dialoga com o poema de Gonçalves 
Dias, isto é, estabelece uma relação intertextual. Transcreva os 
versos do hino que nos remetem ao poema lido.
MANUEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO
(São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro, 1852)
 
Cursou humanidades no colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1847. 
Foi aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo. 
Teve uma vida boêmia, tornando-se um dos fundadores da sociedade 
epicureia (notívagos, amantes do vinho e das leituras de Byron).
Lira dos Vinte anos, sua obra mais 
importante, mostra duas fases distintas. De um 
lado, encontramos um poeta idealista, cantor 
das emoções individuais, em que o escritor 
manifesta forte vivência interior. Cria em tornode si uma atmosfera de presságios sempre 
dentro de uma atmosfera melancólica, um dos 
traços principais da poesia byroniana . 
EaD • UFMS40 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS40 LITERATURA BRASILEIRA I
No soneto abaixo, Pálida à luz, o eu lírico descreve, na primeira estrofe, 
uma mulher semimorta ( embalsamada) que, aos poucos, gradativamen-
te, esboça movimentos e passa a ser vista dentro do plano erótico. No 
plano erótico, contudo, a única realidade é a virgem que ele sonhara:
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de fl ores reclinada, 
Como a lua por noite embalsamada, 
Entre as nuvens do amor ela dormia! 
 
Era a virgem do mar, na escuma fria 
Pela maré das águas embalada! 
Era um anjo entre nuvens d’alvorada 
Que em sonhos se banhava e se esquecia! 
Era mais bela! o seio palpitando 
Negros olhos as pálpebras abrindo 
Formas nuas no leito resvalando 
Não te rias de mim, meu anjo lindo! 
Por ti - as noites eu velei chorando, 
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo
Do outro lado, temos um poeta sarcástico, gozador, 
que inova ao fazer paródia do próprio Romantismo, 
como podemos observar no poema Namoro a Cavalo :
Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fi m da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo (três mil-réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela... 
Todo o meu ordenado vai-se em fl ores
E em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado... 
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a Comédia- em casamento...
EaD • UFMS 41QuinhentismoEaD • UFMS 41Romantismo
Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafues encheu de lama...
Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rossinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada... 
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela... 
O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes, tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada... 
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode. 
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair, de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
Noite na taverna
Além da poesia, Álvares de Azevedo escreveu o conjunto de contos 
intitulado Noite na taverna e a peça Macário. O que impressiona nesse 
poeta de apenas vinte anos é a sua agilidade verbal. No livro de contos 
Noite na Taverna, temos uma sequência de narrativas monstruosas em 
que Solfi eri, Bertram, Gennaro, Claudius Herman e Johann, libertinos 
que frequentam uma pequena taverna, contam, cada qual por sua 
vez, histórias macabras.
Já em Macário, a história é a de um jovem estudante que, em meio 
a alucinações ou sonhos, encontra-se com um estranho viajante, 
que se revela ser satã. Após acordar, Macário percebe as pistas que 
revelam não ter sido um sonho. Em seguida, Satã leva Macário até um 
local onde ocorrem orgias regadas a muito álcool, local que lembra 
o cenário de Noite na taverna.
EaD • UFMS42 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS42 LITERATURA BRASILEIRA I
Noite na taverna mistura as narrativas daquele grupo de amigos 
que se encontra reunido numa taverna, bebendo vinho e contando 
suas estranhas aventuras amorosas. As narrativas dos jovens são 
misturadas com a própria narrativa que os reúne na taverna, como 
se não houvesse separação entre o tempo passado e o presente. A 
narrativa tem um desfecho surpreendente. Estão presentes histórias 
de traições, incestos, cemitérios, em meio à melancolia e morbidez 
características da produção dos segundos românticos.
Há quem diga que Noite na taverna seja uma espécie de continuação 
de Macário, em razão do desfecho deste último e encaixe com o início 
daquele. Na edição da Francisco Alves de Noite na taverna é inserido o 
fi nal de Macário antes da narrativa propriamente dita, o que acentua 
o caráter de continuidade entre as duas obras. Vejamos:
“MACÁRIO – Onde me levas?
SATAN – A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de sangue 
e de vinho – que importa?
MACÁRIO – Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. À roda da mesa 
estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no 
chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras 
vermelhas... Que noite!”
E como começa Noite na taverna:
“How now, Horatio? You tremble, and look pale. Is not this 
something more than fantasy? What think you on’t? (E agora, 
Horácio? Você treme e parece pálido. Não seria isso algo mais do 
que uma fantasia? O que o faz pensar que não?)”
Hamlet. Ato I. Shakespeare
Job Stern
Capítulo I – Uma noite do século
Bebamos! Nem um canto de saudade!
Morrem na embriaguez da vida as dores!
Que importam sonhos, ilusões desfeitas?
Fenecem como as fl ores!
José Bonifácio
— Silêncio, moços! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não 
vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? 
Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras 
onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?
(Trecho de Noite na taverna)
EaD • UFMS 43QuinhentismoEaD • UFMS 43Romantismo
Leia agora, o conto narrado por Solfi eri:
Capítulo II - SOLFIERI ( Baiano, observe os trechos assinalados 
com a interrogação, acho que está faltando um termo. )
Yet one kiss on your pale clay 
And those lips once so warm beart! my bears! my bears! 
BYRON – Cain
Sabeis-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova 
do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura 
o Crucifi xo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o 
sacrilégio, a convulsão do amor, o beij o lascivo a embriaguez da crença! 
Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão por aquele 
céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do 
Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de ( ? ). As luzes se 
apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se faziam ermas, e a lua 
de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher 
apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. - A face 
daquela mulher era como a de uma estátua pálida ( ? ) a lua. Pelas 
faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fi os de lágrimas. 
Eu me encostei na aresta de um palácio. A visão desapareceu no 
escuro da janela e daí um canto se derramava. Não era só uma voz 
melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como 
gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento à noite 
nos cemitérios cantando a nênia das fl ores murchas da morte. 
Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia esprei-
tar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém - saiu. Eu segui-a. 
A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva 
caía a gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas 
lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão. 
Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfi m ela parou: 
estávamos num campo. 
Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela 
ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite. 
Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a 
sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão - as urzes, 
as cicutas do campo santo estavam quebradas junto a uma cruz. 
O frio da noite, aquele sono dormido, a chuva causaram-me 
uma febre. No meu delírio passava e repassavaaquela brancura de 
mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia 
num canto suavíssimo... 
EaD • UFMS44 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS44 LITERATURA BRASILEIRA I
Um ano depois voltei a Roma. Nos beij os das mulheres nada me 
saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão. 
Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a 
condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida 
com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda 
nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. - Saí.- Não sei se a 
noite era límpida ou negra - sei apenas que a cabeça me escaldava de 
embriaguez. As taças tinham fi cado vazias na mesa: nos lábios daquela 
criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite. 
Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas 
passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As 
luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o 
de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na 
fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal 
apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram 
uma idéia perdida. - Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da 
igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos 
meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo. 
Sabeis a historia de Maria Stuart degolada e o algoz, “do cadáver 
sem cabeça e o homem sem coração” como a conta Brantôme? Foi 
uma idéia singular a que eu tive. Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil 
beij os nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-
lhe o véu e a capela como o noivo as despe a noiva. Era uma forma 
puríssima. Meus sonhos nunca me tinham evocado uma estátua 
tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos 
tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores 
antigos. O gozo foi fervoroso - cevei em perdição aquela vigília. A 
madrugada passava já froixa nas janelas. Àquele calor de meu peito, 
à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a donzela pálida 
parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados. - Luz sombria 
alumiou-os como a de uma estrela entre névoa -, apertou-me em seus 
braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados. Não era já a um 
desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de 
horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez 
me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela. 
Nesse instante ela acordou… 
Nunca ouvistes falar da catalepsia? É um pesadelo horrível aquele 
que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado 
em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces banhadas de 
lágrimas alheias sem poder revelar a vida! 
A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-
me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma 
criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo; abaixei-me 
- olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de 
ébrio, esquecido de fechar a porta. 
EaD • UFMS 45QuinhentismoEaD • UFMS 45Romantismo
Saí. - Ao passar a praça encontrei uma patrulha. - Que levas aí? 
A noite era muito alta - talvez me cressem um ladrão. 
— É minha mulher que vai desmaiada. 
— Uma mulher! Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso 
roubador de cadáveres? 
Um guarda aproximou-se. Tocou-lhe a fronte - era fria. 
—É uma defunta.
Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno. - Era a 
vida ainda. 
—Vede, disse eu. 
O guarda chegou-lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos 
da moça. Se eu sentisse o estalar de um beij o... o punhal já estava nu 
em minhas mãos frias. 
— Boa noite, moço: podes seguir, disse ele. 
Caminhei. - Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu 
sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar 
e acudissem, corri com mais esforço. 
Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe 
saiu da boca foi um grito de medo. 
Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos 
meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse. 
Fechei a moça no meu quarto - e abri. 
Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda. 
A turvação da embriaguez fez que não notassem minha ausência. 
Quando entrei no quarto da moça vi-a erguida. Ria de um 
rir convulso como a insânia, e frio como a folha de uma espada. 
Trespassava de dor o ouvi-la. 
Dois dias e duas noites levou ela de febre assim. Não houve como 
sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas 
noites e dois dias de delírio. 
À noite saí - fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente 
em cera - e paguei-lhe uma estátua dessa virgem. 
Quando o escultor saiu, levantei os tij olos de mármore do meu 
quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. - Tomei-a então pela última 
vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beij ei-a e cobri-a 
adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. - Fechei-a no 
seu túmulo e estendi meu leito sobre ele. 
Um ano - noite a noite - dormi sobre as lajes que a cobriam. Um dia 
o estatuário me trouxe a sua obra. - Paguei-lha e paguei o segredo. 
EaD • UFMS46 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS46 LITERATURA BRASILEIRA I
Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que 
entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te 
respondi que era uma virgem que dormia? 
— E quem era essa mulher, Solfi eri? 
— Quem era? Seu nome? 
— Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho 
lhe queima assaz os lábios? Quem pergunta o nome da prostituta 
com quem dormia e que sentiu morrer a seus beij os, quando nem há 
dele mister por escrever-lho na lousa? 
Solfi eri encheu uma taça - Bebeu-a. - Ia erguer-se da mesa quando 
um dos convivas tomou-o pelo braço. 
— Solfi eri, não é um conto isso tudo? 
— Pelo inferno que não! Por meu pai que era conde e bandido, 
por minha mãe que era a bela Messalina das ruas - pela perdição que 
não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na 
sua cova de terra - eu vô-lo juro - guardei-lhe como amuleto a capela 
de defunta. - Ei-la! 
Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de fl ores 
mirradas. 
—Vede-la murcha e seca como o crânio dela!
ATIVIDADE
Álvares de Azevedo é considerado nosso maior poeta da segunda 
geração romântica. Entre suas obras, na poesia destaca-se a Lira dos 
vinte anos. Leia o poema abaixo, transcrito dessa obra, para responder 
às questões propostas.
Lembrança de morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fi bra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A fl or do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
– Como as horas de um longo pesadelo
EaD • UFMS 47QuinhentismoEaD • UFMS 47Romantismo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro.
 [...]
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te defi nhas!
 [...]
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
 [...]
Beij arei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na fl oresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.
Quais as principais características formais que podemos apontar 
neste poema? Justifi que com passagens do texto.
Na quinta estrofe do texto aparece um dos motivos correntes dapoesia da segunda geração romântica. Comente sobre ele.
O título do texto, acompanhado pela leitura do poema, lembra 
uma longa carta de despedida. Apoiado nisso, e pela última estrofe 
apresentada, disserte brevemente a respeito da morte e de sua 
importância para a literatura romântica.
CASIMIRO JOSÉ MARQUES DE ABREU
(1839, Barra de São João – RJ/ 1860, Barra de São João, RJ)
Ao lado de Álvares de Azevedo, é um dos principais representantes 
da fase byroniana. Como o escritor de Lira dos vinte anos, teve uma 
morte prematura, vítima de tuberculose. As imagens da infância, 
a religiosidade cristã, o culto à pátria e a idealização do amor são 
os principais núcleos temáticos da sua poesia lírica. No poema 
abaixo, Meus oito anos, que já foi alvo de diversas paródias, o autor 
transfi gura poeticamente a vida provinciana, que girava em torno 
das brincadeiras infantis:
EaD • UFMS48 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS48 LITERATURA BRASILEIRA I
Meus oito anos
Oh! Souvenirs! Printemps! Aurores!
V. Hugo.
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que fl ores.
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
ATIVIDADE
Doze Anos
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando fi gurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
Fonte: h# p://letras.terra.com.br/chico-buarque/45127/
EaD • UFMS 49QuinhentismoEaD • UFMS 49Romantismo
ANTÔNIO FREDERICO DE CASTRO ALVES
(Curralinho, atualmente Castro Alves, Bahia, 1847- Salvador, 1871)
Considerado pela crítica a expressão maior do Romantismo 
Condoreiro ou Hugoano, na medida em que lutou por causas sociais 
como a Proclamação da República e a Abolição dos escravos, assuntos 
diretamente ligados ao contexto sócio-político da época. No entanto, 
mesmo tendo um caráter de contestação, de luta política, não podemos 
considerar panfl etária sua poesia, que tende a concentrar-se em 
imagens grandiosas por meio de hipérboles, metáfora e comparações, 
como podemos perceber no trecho a seguir do poema Vozes d`África:
 
 
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes 
Embuçado nos céus? 
Há dois mil anos te mandei meu grito, 
Que embalde desde então corre o infi nito... 
Onde estás, Senhor Deus?... 
 
Qual Prometeu tu me amarraste um dia 
Do deserto na rubra penedia 
— Infi nito: galé! ... 
Por abutre — me deste o sol candente, 
E a terra de Suez — foi a corrente 
Que me ligaste ao pé... 
 
O cavalo estafado do Beduíno 
Sob a vergasta tomba ressupino 
E morre no areal. 
Minha garupa sangra, a dor poreja, 
Quando o chicote do simoun dardeja 
O teu braço eternal. 
A PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA
O romance romântico amplia a abrangência do público leitor, 
ávido por histórias envolventes, de simples escrita, trama e leitura 
agradável. São comuns neste período as tramas urbanas, tendo a 
classe média como personagem corrente em várias obras. Alfredo 
Bosi afi rma em História concisa da literatura brasileira que “o romance 
foi, a partir do Romantismo, um excelente índice dos interesses 
da sociedade culta e semiculta do Ocidente. A sua relevância no 
século XIX se compararia, hoje, à do cinema e à da televisão.” 
Comparação fundamentada inclusive pelo público envolvido, pois 
tanto a televisão, e aqui principalmente a telenovela brasileira, 
como o romance romântico são responsáveis por um número 
elevado de pessoas consumidoras das referidas produções. Nessa 
EaD • UFMS50 LITERATURA BRASILEIRA I EaD • UFMS50 LITERATURA BRASILEIRA I
época, alguns romances, como a Moreninha, de Joaquim Manuel de 
Macedo e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio 
de Almeida, antes de saírem no formato do livro, foram publicados 
em folhetim.
JOAQUIM MANUEL DE MACEDO 
( ( ? ) falta o nome do autor de O fi lho do pescador)
Em 1844 foi publicada a obra A Moreninha, de Joaquim Manuel 
de Macedo, considerada o primeiro romance e primeiro best-seller 
brasileiro, numa época em que formávamos o nosso público leitor. 
Antes dela, porém, fora publicado o romance O fi lho do pescador, de ( ? 
– autor), em 1843, o que colocaria este último como cronologicamente 
o primeiro. No entanto é com o texto de Macedo que o romantismo 
brasileiro em prosa apresentará as características que viriam marcar 
as demais produções do período.
Joaquim Manuel de Macedo 
nasceu no Rio de Janeiro em 
1820 e, no mesmo ano em 
que se forma em Medicina, 
publica seu primeiro e mais 
conhecido romance, pelo 
qual é comumente lembrado. 
Sua prosa representa a classe 
FOLHETIM
 Seção especial dentro de um periódico (jornal ou 
revista). Nele, como nas telenovelas atuais, o enredo é 
contado em partes, através de pequenos capítulos que 
entretinham o leitor. Uma das técnicas folhetinescas 
mais utilizadas era suspender a narrativa num momento 
instigante da história. O folhetim surgiu na França, nas 
primeiras décadas do século XIX.
média da corte, com uma linguagem simples e fl uida, representando 
os costumes da sociedade carioca. Suas tramas são fáceis, pequenas 
intrigas amorosas, um pouco de mistério, com a presença do fi nal feliz, 
marcado pela vitória do amor. Outras 
obras do autor são os romances: 
O moço louro (1845); Os dois amores 
(1848); Rosa (1849); Vicentina (1853); O 
forasteiro (1855), entre outros romances 
e peças teatrais.
O romance romântico A Moreninha, 
de Macedo, narra a vida do jovem Augusto, 
rapaz que aposta com amigos, 
inclusive com Felipe, que não se 
apaixonaria por mulher alguma. 
Escrito na forma de folhetim, tem como ponto de partida essa questão 
da aposta. Augusto, que quando criança jurou amar eternamente uma 
menina, é estudante e colega de Felipe, cuja irmã é Carolina.
 Quando no fi nal Augusto e Carolina fi cam noivos, ela primeiro 
manda-o casar-se com sua amada de infância e depois revela ser ela 
própria esta amada até então não revelada.
EaD • UFMS 51QuinhentismoEaD • UFMS 51Romantismo
Como se vê, Augusto, o protótipo do herói romântico, luta para 
ter o amor de Carolina, para isso ele precisa vencer obstáculos.
Os romances de folhetim, 
difundidos na Europa e no Brasil 
na primeira metade do século 
XIX, desenrolam-se a partir das 
dificuldades enfrentadas pelo 
herói. As novelas de folhetim 
criaram formas, modelos de 
entretenimento que hoje são 
incorporados pelas narrativas 
seriadas, minisséries, novelas, 
estratégias de entretenimento que 
pertencem ao mundo midiático 
em que vivemos. Uma das formas 
mais ut i l izadas pela novela 
atual, influência das narrativas 
folhetinescas, é o momento em que a 
narrativa é interrompida dentro de 
um momento de tensão, o chamado 
clímax que prende o telespectador.
Eis um fragmento retirado do 
livro A Moreninha, uma parte da 
trama puramente ficcional, que 
mostra os embates da paixão tão 
comuns às narrativas românticas. 
(1970 - Brasil / São Paulo 
- 96 minutos - Comédia 
– Colorido). 
D i r e ç ã o , r o t e i r o e 
montagem: Glauco 
Mirko Laurelli) – Filme 
baseado no romance 
de Joaquim Manuel 
de Macedo, com Sônia 
Braga e David Cardoso.
A MORENINHA
Capítulo I – Aposta imprudente (trecho)
“ — Que vaidoso! ... te digo eu, exclamou Filipe.
— Ora, esta não é má! Então vocês querem governar o meu 
coração?...
— Não; porém eu torno a afi rmar que tu amarás

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