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MATERIAL DIDÁTICO AEE PARA DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E SURDOCEGUEIRA U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 03 UNIDADE 2 – DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA - SURDOCEGUEIRA ............................ 07 2.1 Deficiência múltipla ........................................................................................... 07 2.2 Surdocegueira ................................................................................................... 11 2.3 Causas e etiologias ........................................................................................... 13 2.4 Características da surdocegueira ...................................................................... 17 UNIDADE 3 – AS NECESSIDADES DA CRIANÇA SURDOCEGA E COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA ...................................................................................... 18 3.1 Planejamento de trabalho para atender as crianças surdocegas e com deficiência múltipla .................................................................................................. 20 UNIDADE 4 – A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO E DA COMUNICAÇÃO ......... 26 4.1 Orientação e mobilidade.................................................................................... 26 4.2 Orientação e mobilidade para surdocego .......................................................... 27 4.3 A comunicação .................................................................................................. 34 UNIDADE 5 – ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO ............................. 37 UNIDADE 6 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO ..................... 42 6.1 Conceito e definição .......................................................................................... 44 6.2 As salas de recursos ......................................................................................... 47 6.3 Atribuições do professor no AEE ....................................................................... 50 6.4 A importância da revisão do PPP e do currículo escolar ................................... 51 UNIDADE 7 – ATIVIDADES SUPLEMENTARES .................................................. 53 UNIDADE 8 – AVALIAÇÃO .................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 63 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A deficiência múltipla é a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. As principais necessidades educativas serão priorizadas e desenvolvidas através das habilidades básicas, nos aspectos social, de autoajuda e de comunicação (BRASIL/MEC/SEESP, 1994, p. 13). A Deficiência Múltipla refere-se à associação de duas ou mais deficiências, conforme a letra ‘e’ do art. 5º do Decreto nº 5.296, o qual diz que os órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional, as empresas prestadoras de serviços públicos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004). De acordo com a Federação Nacional das APAEs (FENAPAES, 2007, p.22), ao considerar a gravidade da deficiência múltipla, os seguintes aspectos deverão ser considerados: tipo e número de deficiências associadas; abrangência das áreas comprometidas; idade de aquisição das deficiências; nível ou “grau” das deficiências associadas. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 4 A consideração sobre “gravidade” das deficiências depende de muitos aspectos que extrapolam as condições individuais das pessoas afetadas. Outros aspectos estão envolvidos, tais como: a atitude de aceitação por parte da família; a intervenção adequada para atuar nas causas e nos efeitos das deficiências; a oportunidade de participação e integração da pessoa ao ambiente físico e social; o apoio adequado, com a duração necessária, para melhorar o funcionamento da pessoa no ambiente; o incentivo à autonomia e à criatividade; as atitudes favoráveis à formação do autoconceito e da autoimagem positivos. Por todos os aspectos considerados, entende-se que a educação exerce um papel relevante. Intervenções apropriadas e iniciadas o mais cedo possível, resultam em melhores condições de desenvolvimento, de aprendizagem e de integração familiar e comunitária, assim, a finalidade da abordagem educacional é melhorar a qualidade de vida das pessoas com múltipla deficiência (SILVA, 2011). Podemos inferir que, embora o termo deficiência múltipla venha sendo utilizado com frequência para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social, não é o somatório dessas alterações que caracterizam a múltipla deficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas. O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis. Alunos com níveis funcionais básicos e possibilidades de adaptação ao meio podem e devem ser educados em classe comum, mediante a necessária adaptação e suplementação curricular. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 5 Outros, entretanto, com mais dificuldades, poderão necessitar de processos especiais de ensino, apoios intensos, contínuos e currículo alternativo que correspondam às suas necessidades na classe comum (GODOI et al., 2006). Ao longo desta apostila, veremos que um dos maiores compromissos das pessoas que trabalham com alunos com múltipla deficiência e surdocegueira está relacionado à autonomia da criança ou do adolescente. Devemos buscar atividades funcionais que favoreçam o desenvolvimento da comunicação, das interações sociais, dos cuidados pessoais, das habilidades domésticas, recreativas e sociais, sempre tendo, como base, as preferências e potencialidades do aluno. Outro grande e complexo desafio de professores e familiares de crianças com múltipla deficiência refere-se à comunicação.A comunicação precisa ser o mais significativa possível para que os alunos com múltipla deficiência tenham o interesse de se comunicar. O que vai importar é o quanto o ambiente e as experiências estão sendo propícios para que essa comunicação aconteça. A comunicação dependerá também da relação de confiança estabelecida entre o adulto e a criança e, principalmente, da forma como as informações serão transmitidas a ela (HONORA; FRIZANCO, 2008). Para que cheguemos ao entendimento acima, passaremos pelos conceitos, definições, caracterização, causas, etiologia, prevenção e classificação da deficiência múltipla e surdocegueira. Veremos também as necessidades da criança surdocega, as adaptações de acesso ao currículo e atividades suplementares. Evidentemente que o foco desta apostila – o Atendimento Educacional Especializado (AEE) – permeia todos os conteúdos citados. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 6 redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 7 UNIDADE 2 – DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA – SURDOCEGUEIRA A terminologia Surdocegueira sofreu muitas alterações, conforme relata Maia (2004): Desde que surgiu o primeiro atendimento ao surdocego por volta de 1800, por profissionais da Sense Internacional - Inglaterra, as seguintes denominações foram usadas: Dificuldade de Aprendizagem Profunda e Múltipla (DAPM), Múltipla Deficiência Severa, Surda com Múltipla Deficiência, Cego com Deficiência Adicional, Múltipla Privação Sensorial (MPS), Dupla Deficiência Sensorial e finalmente surdocegueira. A aceitação do termo surdocego e surdocegueira, sem hífen, em 1991 foi proposta por Salvatore Lagati que defendeu na IX Conferência Mundial de Örebro - Suécia, a necessidade do reconhecimento da surdocegueira como deficiência única. Para Lagati (1995), a terminologia Surdocego sem hífen se deve a condição de que ser surdocego não é simplesmente a somatória da deficiência visual e da deficiência auditiva e sim de uma condição única que leva a pessoa a ter necessidades específicas para desenvolver comunicação, orientação e mobilidade e de acessar informações sobre o mundo para conquistar a autonomia pessoal e inserir-se no mundo. 2.1 Deficiência múltipla Múltipla deficiência é uma expressão adotada para designar pessoas que têm mais de uma deficiência. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o seu relacionamento social e cuja combinação dá origem a necessidades educativas únicas e permanentes (GODOI et al., 2006). A múltipla deficiência pode ser a deficiência auditiva ou a deficiência visual associada a outras deficiências (intelectual e/ou física), como também a distúrbios (neurológico, emocional, de linguagem e de desenvolvimento global) que causam atraso no desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional, dificultando a autonomia do indivíduo. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 8 Os alunos com deficiência múltipla podem apresentar alterações significativas no processo de desenvolvimento, aprendizagem e adaptação social. Possuem variadas potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser compreendidas e consideradas. Apresentam, algumas vezes, interesses inusitados, diferentes níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicar e expressar suas necessidades, desejos e sentimentos. Para a caracterização da deficiência múltipla deve-se considerar que a deficiência múltipla pode apresentar-se mediante a associação das seguintes categorias, dentre outras, de acordo com a Fenapaes (2007, p.23), FÍSICA E PSÍQUICA – são exemplos dessa condição: (a) deficiência física associada à deficiência intelectual; (b) deficiência física associada a transtorno mental. SENSORIAL E PSÍQUICA – exemplificam essa condição: (a) deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência intelectual; (b) deficiência visual ou cegueira associada à deficiência intelectual; (c) deficiência auditiva ou surdez associada a transtorno mental. SENSORIAL E FÍSICA – são exemplos dessa condição: (a) deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência física; (b) deficiência visual ou cegueira associada à deficiência física. FÍSICA, PSÍQUICA E SENSORIAL – são ilustrativas dessa condição: (a) deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência intelectual; (b) deficiência física associada à deficiência auditiva ou surdez e à deficiência intelectual; (c) deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência auditiva ou surdez. Algumas enfermidades estão comprovadamente associadas à múltipla deficiência, com efeitos significativos para as pessoas afetadas. Para considerar o Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 9 impacto da deficiência múltipla, é importante analisar seus efeitos na funcionalidade da pessoa frente ao ambiente físico e social, bem como avaliar de que modo às deficiências interferem na qualidade de vida. Ainda devem ser considerados os seguintes aspectos, de acordo com Brasil (2000, p.60): a) os tipos e quantidades de deficiências primárias associadas; b) a amplitude ou abrangência dos aspectos comprometidos; c) a idade de aquisição das deficiências; d) os fatores relacionados – familiares, comunitários, escolares; e) a eficiência das intervenções educacionais e de saúde. O conhecimento sobre a deficiência múltipla serve de base para evitar maior interferência adversa na vida da pessoa e reduzir seus efeitos sobre ela, bem como mediar a promoção humana. Ajuda a prevenir deficiências decorrentes das já existentes e a instrumentalizar o indivíduo para atuar eficientemente frente às demandas ambientais (SILVA, 2011). Considera-se uma criança com múltipla deficiência sensorial aquela que apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem.Quase sempre, os canais de visão e audição não são os únicos afetados, mas também outros sistemas, como os sistemas tátil (toque), vestibular (equilíbrio), proprioceptivo (posição corporal), olfativo (aromas e odores) ou gustativo (sabor). Limitações em uma dessas áreas podem ter um efeito singular no funcionamento, aprendizagem e desenvolvimento da criança (PERREAULT, 2002). Para Maia et al. (2008, p. 14), pessoa com Deficiência Múltipla Sensorial – Visual (MDVI); é aquela que tem a Deficiência Visual (baixa visão ou cegueira) associada a uma ou mais deficiências (intelectual, física/motora) ou a transtornos globais do desenvolvimento e comunicação e que necessita de programas que favoreçam o desenvolvimento das habilidades funcionais visando ao máximo de independência possível e uma comunicação eficiente. A pessoa com Deficiência Múltipla Sensorial – Auditiva (MDHI), é aquela que tem deficiência auditiva/surdez Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 10 associada à deficiência intelectual ou a deficiência físico-motora ou a ambas, ou a Transtornos Globais do Desenvolvimento. Pode ocorrer com as pessoas com MDVI e/ou com MDHI outras associações tais como: graves problemas de saúde, sendo necessários cuidados específicos ou uso de equipamentos para respiração e alimentação. Essas associações limitam a interação social e as respostas aos estímulos naturais do ambiente, exigindo o uso de várias abordagens para promover o desenvolvimento da aprendizagem dessas pessoas. São características gerais da criança com múltipla deficiência: aprendem as habilidades mais lentamente; tendem a esquecer habilidades que não são praticadas; têm dificuldade em generalizar habilidades aprendidas separadamente; necessitam de instruções organizadas e sistematizadas; apresentam necessidade de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia. Em muitos casos, devido as suas características, alguns são considerados autistas, porém apresentam diferenças significativas e quando estimulados evoluem sensorialmente, estabelecem códigos de comunicação que se tornam comuns entre o emissor e o receptor, proporcionando sua autonomia e independência (HONORA; FRIZANCO, 2008). Segundo Nascimento e Maia (2006), crianças que apresentam graves comprometimentos múltiplos e condições médicas frágeis: 1. apresentam mais dificuldades no entendimento das rotinas diárias, gestos ou outras habilidades de comunicação; 2. demonstram dificuldades acentuadas no reconhecimento das pessoas significativas no seu ambiente; 3. realizam movimentos corporais sem propósito; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 11 4. apresentam resposta mínima a barulho, movimento, toque, odores e/ou outros estímulos. Muitas dessas crianças têm dificuldade na obtenção e manutenção do estado de alerta o que é considerado crítico porque a prontidão é o estado comportamental em que as crianças estão mais receptivas à estimulação, aprendem melhor e são capazes de responder de uma maneira socialmente aceita. Crianças com múltipla deficiência sensorial têm uma variedade de necessidades especiais que se assemelham às necessidades da criança surdocega. 2.2 Surdocegueira A criança surdocega tem uma das deficiências menos entendidas. Não é uma criança cega que não pode ouvir, ou uma surda que não consegue ver. É uma criança com privações multissensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso simultâneo dos dois sentidos distais (NASCIMENTO; MAIA, 2006). É uma deficiência única que apresenta a perda da audição e da visão de tal forma que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso dos sentidos de distância, cria necessidades especiais de comunicação, causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, recreativas, sociais, para acessar informações e compreender o mundo que o cerca. Aráoz (1999) salienta que na definição de surdocegueira, a palavra-chave é combinação, ou seja, a pessoa com uma perda substancial da visão e audição experimenta uma combinação de privação de sentidos que pode causar extrema dificuldade para alcançar as metas essenciais da vida. Segundo a intensidade das perdas, podemos classificar em: surdocegueira total; surdez profunda com resíduo visual; surdez moderada ou leve com cegueira; surdez moderada com resíduo visual; Sil Highlight Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 12 perdas leves tanto auditivas quanto visuais. Tipos: • cegueira congênita e surdez adquirida; • cegueira e surdez adquirida; • surdez congênita e cegueira adquirida; • baixa visão com surdez congênita ou adquirida; • cegueira e surdez congênita. Classificação segundo a época de aquisição: Surdocegueira congênita – quando a criança nasce com surdocegueira e/ou adquire a surdocegueira na mais tenra idade, antes da aquisição de uma língua (português ou Libras). Também conhecida como surdocegueira pré-linguística (HONORA;FRIZANCO, 2008; MAIA et al., 2010). Surdocegueira adquirida – quando a criança, jovem ou adulto, que adquire a surdocegueira após a aquisição de uma língua (Português ou Libras). Nessa classificação temos: surdos congênitos com cegueira adquirida – a pessoa pertencente a esse grupo nasce surda e adquire posteriormente a deficiência visual. Nesse grupo incluem-se as pessoas com Síndrome de Usher; cegos congênitos com surdez adquirida – a deficiência visual ocorre durante a gestação e, posteriormente, ocorre a perda auditiva. Exemplo: Catarata Congênita e diabetes em idade juvenil ou adulta; surdocegueira adquirida – pessoas que adquiriram a perda da visão e audição após a aquisição de uma língua. Exemplo: Acidente de Carro, Tombos e Tumores Cerebrais. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 13 2.3 Causas e etiologia São várias as causas que envolvem a deficiência múltipla, de ordem sensorial, motora e linguística e ocorrer nos períodos pré-natal, peri-natal e pós- natal, dentre elas: hipotireoidismo – quadro clínico que ocorre pela falta de hormônios da tireoide e no recém-nascido envolve falta de formação da glândula tireoide e defeitos hereditários das enzimas que sintetizam os hormônios; síndrome da rubéola congênita – é a infestação do feto provocada pelos vírus da rubéola contraído pela mãe. O vírus ultrapassa a barreira da placenta e provoca a malformação dos órgãos que estão sendo desenvolvidos nesse momento. Quanto menor é o período da gravidez em que isto acontece, maiores serão os danos, porque o tubo neural, a partir do qual serão formados todos os tecidos, é atingido como um todo, resultando no aparecimento de diversos sinais que caracterizam a Síndrome da Rubéola Congênita que são: recém-nascido com baixo peso, dificuldades neurológicas, ortopédicas, cardíacas, pulmonares, endócrinas,oftálmicas e otológicas (HELLER; KENNEDY, 2006; MANREZA, 1996 apud ARÁOZ; COSTA, 2008). Quando a infestação ocorre em um período da gravidez mais avançado, do quinto mês em diante, os danos resultantes serão menores, por vezes só aparecem dificuldades auditivas ou nenhum comprometimento. Síndrome de Rett – ocorre mais frequentemente em meninas e sua incidência é de um caso para 15 mil meninas nascidas. Na grande maioria, as meninas se desenvolvem normalmente até o primeiro ano de vida, mas, após essa data, começam a apresentar estagnação no desenvolvimento, desaceleração do crescimento da calota craniana, dificuldade na aquisição da linguagem, diminuição das interações sociais, isolamento, movimentos estereotipados (que lembram o movimento das pessoas com autismo), dificuldade na coordenação motora e presença de problemas na coluna. Essa síndrome também é encontrada em alunos com deficiência intelectual. Outros problemas e doenças que podem causar deficiência múltipla seriam: Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 14 Icterícia – é comum em recém-nascidos. Refere-se à cor amarela da pele e do branco dos olhos que é causada pelo excesso de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é um pigmento normal, amarelo, gerado pelo metabolismo das células vermelhas do sangue. A criança fica ictérica quando a formação de bilirrubina é maior do que a capacidade do seu fígado de metabolizá-la. Existe preocupação com uma criança com icterícia, pois o acúmulo desse pigmento acima de certos limites é extremamente tóxico para o sistema nervoso, podendo causar lesões graves e irreversíveis; Prematuridade – a prematuridade ainda é frequente em nosso meio; existem casos de prematuridade extrema que podem apresentar sequelas como: atraso motor, retinopatia e deficiência auditiva. Mas é importante ressaltar que nem todos os prematuros irão apresentar sequelas intelectuais ou motoras; sífilis congênita – o contaminador é a mãe. O contágio se faz por via placentária, exclusivamente após o quarto mês. Em caso de infecção maciça, o feto morrerá após o quinto mês. Sobrevivendo, o feto poderá adquirir lesões que se manifestam após o nascimento ou muitos anos mais tarde, como deficiência intelectual, surdez, defeitos dentários e outras consequências de lesões degenerativas do Sistema Nervoso Central; meningite – é uma inflamação das membranas que recobrem e protegem o Sistema Nervoso Central, as meninges. A meningite pode ser de origem viral, adquirida depois de alguma gripe ou outra doença causada por vírus, ou de origem bacteriana. A pessoa com meningite apresenta alguns sintomas: febre, rigidez da nuca, dor de cabeça e vômitos. Saber se a meningite foi causada por vírus ou bactéria é importante porque a gravidade da doença e o tratamento diferem. Meningite viral é geralmente menos grave e cura-se sem tratamento específico, enquanto a meningite bacteriana pode ser muito séria e resultar em danos ao cérebro, perda de audição ou dificuldade de aprendizado; síndrome de West – é um tipo raro de epilepsia. As convulsões afetam geralmente crianças com menos de um ano. Os espasmos são diferentes para cada criança. Podem ser tão leves no início que não são notados. No Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 15 início, a criança pode experimentar somente um ou dois espasmos por vez, mas, no decorrer de um período de dias ou semanas, estes evoluem para dúzias de espasmos que ocorrem em intervalos de poucos segundos. Pode aparecer em diferentes circunstâncias, por exemplo: em crianças com enfermidades estruturais do cérebro (fenilcetonúria, esclerose tuberosa, entre outras) ou em crianças com lesões cerebrais não progressivas (sequelas de infecções pré-natais, anóxia pré ou perinatal, meningites, entre outras); anóxia – é definida como a ausência de oxigenação das células cerebrais. Cada indivíduo apresenta um quadro específico, pode perder o movimento muscular, dificuldade para a fala, a visão, a audição e, mais raramente, comprometimento mental. Dependerá de quais células forem afetadas; fator-Rh negativo – apresenta-se devido à incompatibilidade de Rh. Se um pouco de sangue fetal entrar em contato com a corrente sanguínea da mãe, o corpo produzirá anticorpos. Esses anticorpos podem voltar para a placenta e danificar o desenvolvimento dos glóbulos vermelhos do bebê, causando uma anemia no feto que pode ser de muito suave a muito grave. É muito mais comum na segunda gestação e nas subsequentes. As consequências são sérias lesões neurológicas; glaucoma – é uma alteração em que a pressão do líquido que preenche o globo ocular está anormalmente aumentada. Esse acúmulo se produz ou pelo aumento da formação do líquido ou pela obstrução do conduto pelo qual normalmente esse líquido sai do olho. O glaucoma ocasiona lesão no olho; se não for tratado e se o processo não for controlado, poderá levar à cegueira. As pessoas que têm maior risco de sofrer de glaucoma são as diabéticas e as com familiares portadores de glaucoma; síndrome de Usher – de origem genética, tem graus variáveis se associando a surdez, presente já no nascimento, com a perda da visão, que se inicia na infância ou na adolescência. A cegueira parcial ou total é causada pela retinose pigmentar. A doença afeta, primeiro a visão noturna e, depois, a periférica, das laterais, preservando por mais tempo a central. Também há sensibilidade a excesso de luz. Existem quatro tipos: Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 16 Tipo I – provoca deficiência auditiva profunda de nascimento e retinose pigmentar, cegueira noturna com perda de equilíbrio; Tipo II – provoca Deficiência Auditiva leve a moderada, não progressiva, com retinose pigmentar no início da puberdade, cegueira noturna com perda de equilíbrio, na maioria dos casos, na fase-adulta; Tipo Ill – provoca deficiência auditiva congênita progressiva, com retinose pigmentar e cegueira noturna que aparece na infância, com perda de equilíbrio; Tipo IV – é um tipo mais raro, afeta apenas 10% da população portadora da síndrome. toxoplasmose – é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que pode ser encontrado em fezes de gatos e em outros animais contaminados. Ter a doença durante a gestação significa risco elevado de comprometimento fetal. Podem ocorrer aborto, crescimento intrauterino abaixo do normal, morte fetal, prematuridade, microftalmia (olhos pequenos), microcefalia (crânio pequeno), hidrocefalia, deficiência intelectual, lesões de pele e calcificações do cérebro; consanguinidade – significa o grau de parentesco entre indivíduos de ascendência comum (parentes). Podem ocorrer diversas sequelas, entre elas: síndromes degenerativas, deficiência intelectual, deficiência física, deficiência auditiva e deficiência visual (HONORA; FRIZANCO, 2008). Como fatores de risco temos: • epidemias de doenças, como rubéola, sarampo, meningite; • doenças venéreas; • infecções hospitalares; • gravidez de risco; • falta de saneamento básico.Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 17 2.4 Características da Surdocegueira Algumas pessoas com surdocegueira são retraídas e isoladas, apresentam dificuldade para se comunicar, não demonstram curiosidade e motivações básicas, normalmente apresentam problemas de saúde que acarretam sérios atrasos no desenvolvimento, não gostam do toque das pessoas, não conseguem se relacionar com as pessoas, encontram dificuldade para se alimentar e com a rotina do sono, têm problemas de disciplina, atrasos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo, e o mais importante, desenvolvem estilo único de aprendizagem. Surdocegos com baixo desempenho são resistentes ao contato físico; não têm comunicação efetiva; apresentam comportamentos estereotipados ou autistas; se auto estimulam no âmbito proprioceptivo e cinestésico; também podem se auto estimular sexualmente quando se encontram em ociosidade; não têm conhecimento de pessoas e objetos a sua volta, não têm conhecimento de rotina; não lidam com frustrações; apresentam atraso neuropsicomotor por falta de estimulação; têm dificuldade para se alimentar e rejeitam alimentos sólidos, têm dificuldade para aceitar o uso de óculos e de aparelho auditivo. Surdocegos com nível intermediário ainda apresentam comportamentos estereotipados; não têm forma estruturada de comunicação, mas já demonstram alguma intenção comunicativa, seja por gestos ou por movimentos corporais; utilizam os resíduos dos sentidos que são funcionais; começam a conseguir lidar com alguns estímulos novos e diferenciados; podem apresentar hiperatividade; têm alguma independência em atividades de vida diária; ainda apresentam dificuldades com a alimentação, principalmente a sólida. Surdo cegos com bom desempenho demonstram boa funcionalidade dos resíduos auditivo e visual e aproveitamento dos sentidos remanescentes; já têm conhecimento de rotina; demonstram mais progressos no desenvolvimento psicomotor; adaptam-se aos óculos e ao aparelho auditivo; apresentam alguma comunicação gestual ou representativa e possibilidade de aprender LIBRAS (HONORA; FRIZANCO, 2008). Sil Highlight Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 18 UNIDADE 3 – AS NECESSIDADES DA CRIANÇA SURDOCEGA E COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA Para introdução deste tópico, vamos de imediato apresentar alguns comportamentos e necessidades das crianças surdocegas no ambiente educacional, para depois refletirmos sobre como ajudá-lo nessa caminhada que, embora a princípio possa ser dolorida para ele, aos poucos vai se tornando gratificante, afinal de contas, a socialização, as possibilidades de se comunicar das mais variadas formas só tem a ajudá-los a ter uma vida melhor e mais prazerosa. Comportamento Necessidades movimentos estereotipados e repetitivos; não demonstra saber as funções dos objetos ou brinquedos, utilizando-os de maneira inadequada; pode rir e chorar sem causa aparente; pode apresentar resistência ao contato físico; movimenta os dedos e as mãos em frente aos olhos; não se comunica de maneira convencional; pode apresentar distúrbio de sono; não explora o ambiente de maneira adequada; tropeça muito e bate nos móveis, objetos, etc.; gosta de ficar em locais com luminosidade; pode não reagir a sons. evitar o toque de muitas pessoas; estruturar o planejamento com atividades funcionais para o aluno; não infantilizar, considerar sua idade cronológica; estabelecer uma rotina previsível com uma comunicação possível; estabelecer uma relação de confiança; respeitar o tempo de aceitação; desenvolver um diálogo não verbal, utilizando os movimentos do aluno; utilizar as habilidades que o aluno apresente; enfocar o processo de aprendizagem e não o resultado; ter informações de todos que atuam com a criança; prepare um ambiente que estabeleça um lugar com limites espaciais, lugares muito amplos pode causar alteração de comportamento; perceber suas intenções comunicativas; dar novo significado a objetos e pessoas; respeitar o tempo do aluno e não ser invasivo. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 19 Quando conhecemos um aluno com múltipla deficiência ou surdocego, mergulhamos em muitas indagações e nos sentimos incapazes de realizar algo que possa auxiliá-lo. Deparar-nos com esses novos desafios nos faz enfrentar os medos e as resistências, quebrar paradigmas e práticas, redefinir nosso mundo para auxiliar na definição do mundo do outro. Devemos nos conscientizar de que esses alunos acabam ficando presos dentro de seu corpo, e não conseguem exprimir desejos, vontades, alegrias, tristezas nas situações cotidianas. A primeira pergunta que devemos nos fazer é: COMO auxiliar esse aluno a se desenvolver? Em primeiro lugar, criar um vínculo deve ser o centro de todo trabalho. Caso não haja vínculos entre professor/aluno, nenhum trabalho pedagógico poderá ser realizado. O vínculo é a ligação que se faz entre as pessoas por meio de emoções, confiança e entrega, assim, após se conseguir alguma forma de vínculo, tudo se torna mais fácil. Depois, é primordial encorajar e proporcionar a independência e a autonomia do aluno, com enfoque em suas aptidões escolares, desenvolvendo suas habilidades para que ele possa estar o mais próximo possível dos colegas e da rotina escolar. Da mesma forma, manter a privacidade e a dignidade do aluno com múltipla deficiência e surdocegueira, deixando que ele faça suas próprias escolhas, sem imposições, é muito importante. De que maneira? Sempre antecipando o que ocorrerá, não o deixando pensar que tudo é constituído de surpresas e ele não tem direito de escolha. Não podemos esquecer que, para tanto, precisamos de regras que devem ser combinadas e não podem ser quebradas, pois os limites devem ser respeitados. Além disso, repita as tarefas várias vezes até que o conteúdo seja assimilado. Não faça para seu aluno, e sim com o seu aluno. Não seja controlador, Sil Highlight Sil Highlight Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 20 permita que seu aluno compartilhe a experiência de tocar os objetos ou fazer movimentos. Coloque suas mãos à disposição da criança para que ela as use como queira (HONORA; FRIZANCO, 2008). Pois bem, feitas essas reflexões e orientações iniciais, vamos à sua educação em ambiente escolar! 3.1 Planejamento de trabalho para atender as crianças surdocegas e com deficiência múltipla O objetivo de qualquer programa para uma criança portadora de necessidades especiais e, especificamente, para crianças surdocegas, é proporcionar o desenvolvimento de seu potencial singular como ser humano e como membro útil de sua família e sociedade. Em termos práticos e operativos, o objetivo é proporcionar a cada criança surdocega um planejamento individualizado, traçado de acordo com suas necessidades,interesses e habilidades. Esse planejamento deve considerar os resultados alcançados e o nível atual de desenvolvimento da criança. Ele necessita ser aplicado em um ritmo contínuo, com profundidade, e por um método que melhor se adapte ao estilo de aprendizagem da criança. O planejamento deve ser avaliado a partir das capacidades desenvolvidas pela criança, sendo ampliado com base em seu desempenho e capacidades. Tendo em vista a especificidade de um programa de ensino, buscar-se-á ilustrar algumas atividades básicas que poderão ser desenvolvidas com crianças surdocegas. Ressalta-se que essas atividades são sugestões para orientar o trabalho do professor no exercício de suas funções profissionais. O primeiro passo de um programa de ensino para crianças surdocegas consiste em fazer com que ela aprenda a utilizar os recursos de que dispõe. Para isso, é necessário fazer com que a criança sinta-se à vontade, segura, e autorize o professor a ficar perto dela, demonstrando que gosta da sua presença. A ligação afetiva entre a criança e o professor, o prazer de estar perto, o querer estar perto, o cuidar, o aprender e o ensinar são os primeiros pilares para que o objetivo Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 21 educacional seja alcançado. Nesse sentido, o vínculo possibilita o estabelecimento de uma relação com o outro (educador), que garantirá à criança a sensação de segurança, confiança e prazer (NASCIMENTO; MAIA, 2006). Recepcionar a criança, promover a identificação do professor, da escola, das outras crianças, da sala, das atividades são ações que tendem ao sucesso! A recepção é o primeiro passo na vida escolar da criança surdocega. Ela poderá ser realizada pelo professor que irá ser o responsável por acompanhá-la nas atividades desenvolvidas na creche e/ou escola. Assim, na sala poderá permanecer o professor que irá trabalhar com a criança e seu acompanhante, uma pessoa que irá observar e anotar o desempenho e as reações da criança diante dos estímulos oferecidos pelo professor. Como viabilizar um ambiente receptivo para a criança surdocega? Antes de qualquer ação, o professor precisa desejar estar perto da criança surdocega, precisa ter disposição e prazer em compartilhar seu tempo com ela. Esse é o primeiro passo, desejar estar perto. Quando se quer, não há distâncias e nem impedimentos no estabelecimento de um novo vínculo afetivo. A criança, geralmente, chega à instituição acompanhada de alguém, sejam os pais, amigos ou parentes. É importante considerar que esse acompanhante já possui vínculo afetivo com a criança. É o acompanhante (pai, mãe, amigo, responsável) que irá apresentar você para a criança. Passe um tempo olhando e observando a criança, seus movimentos, suas emissões verbais, sua forma de posicionar o globo ocular, a posição de suas mãos (se estão paradas, se movimentam, se acariciam, se batem). Aproxime-se mais da criança e de seu acompanhante. Tente repetir o mesmo movimento da criança, por exemplo, se ela apresentou durante o tempo de observação o comportamento de virar a cabeça de um lado para o outro, tente repetir e acompanhar esse movimento. Observe as reações da criança. Verifique se ela percebeu você, percebeu seu movimento. Se percebeu, a que distância? Não percebeu? Ela parou o movimento e ficou “olhando” para você? Alterou os músculos faciais? Alterou o Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 22 movimento das mãos? Relaxou ou contraiu a musculatura? Enfim, é preciso saber qual foi a reação da criança. Caso a criança tenha reagido de forma positiva, isto é, relaxada, se dirigiu o olhar para você, se ficou observando o movimento que você realizou, se virou e escondeu o rosto no colo do acompanhante, voltando-se gradativamente para ver você, isso pode indicar que ela o autorizou a aproximar-se. Tudo isso é uma forma de comunicação e manifestação das necessidades e do interesse da criança. Em outros casos, é importante que a proximidade com a criança ocorra gradativamente. Nesse contexto, não toque logo na criança, isso pode muitas vezes assustá-la. Peça para que o acompanhante leve sua mão até a criança e realize movimentos circulares e carinhosos em partes do corpo dela. Preste atenção: a mão do acompanhante deve estar em contato direto com a pele da criança, o contato da mão do professor é indireto. Posteriormente, o acompanhante poderá retirar gradativamente sua mão, permitindo uma ampliação do contato do professor com a criança. Para isso, poderá colocar a mão do professor em uma parte do corpo da criança (braço). As ações seguintes devem ser as mesmas que foram realizadas anteriormente. Outra opção é solicitar ao acompanhante algo de que a criança goste muito. De posse desse objeto, deve-se buscar a comunicação. O importante nesse momento é que sua aproximação física com a criança seja mediada pelo acompanhante ou por um objeto de que a criança goste muito (NASCIMENTO; MAIA, 2006). A sensibilidade tátil da criança pode ser bastante aguçada. Nesse sentido, busque toques suaves. Inicialmente, sua mão poderá percorrer a mão da criança, deixando um espaço de 2 cm de distância entre elas. Gradativamente, você poderá diminuir ou aumentar a distância, observando sempre a reação muscular, facial, ocular, entre outras, da criança. É importante perceber se a criança gosta mais do movimento realizado mais distante ou mais próximo; se ela busca a aproximação; se ela busca o distanciamento; se ela repete seu movimento. Tudo isso ajudará você no trabalho cotidiano com a criança. O próximo passo pode ser a identificação do professor responsável pelo atendimento com a criança. Para ajudar a criança a identificar e reconhecer o Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 23 professor, é importante que ele sempre utilize o mesmo indicativo, por exemplo: comprimento do cabelo, algum adereço (colar, brinco, pulseira, tiara). Ao optar por um indicativo/referencial, o professor deverá usá-lo sempre que for atender a criança. Exemplificando: caso o seu cabelo seja liso, oriente a mão da criança para que a passe no sentido de cima para baixo em um único movimento. Se o seu cabelo for ondulado, oriente a mão da criança para que realize movimentos ascendentes e descendentes (imitando as ondulações do cabelo), começando pela parte superior, em direção ao pescoço. Agindo assim, você estará proporcionando a criança o seu reconhecimento, partindo de uma característica corporal pessoal. Sua identificação deve ser a única da instituição. Cada pessoa que se aproximar da criança deverá criar sua própria identificação, seja mediante o uso de pulseiras, brinco, colar, cabelo sempre preso, seja por uma marca no corpo (cicatriz, pinta). Enquanto as crianças ouvintes irão aprender os nomes das crianças e o surdo aprende a identificar os colegas por algum sinal ou gesto visual, a surdocega irá identificar o outro pelo toque. Dessa forma, o professor precisa acrescentar informações complementares, estimulando as vias visual, tátil e olfativa da criança surdocega. Posteriormente, as crianças poderãoassociar à identificação primária (perfume, adereço) uma identificação mais elaborada. Exemplificando: a introdução da letra inicial do próprio nome realizada pelo alfabeto manual utilizado pelos surdos ou o registro da letra inicial do próprio nome em caixa alta na palma da mão da criança. Com isso, o professor e funcionários estarão acrescentando estímulos às vias auditiva e visual e maximizando a utilização da via tátil da criança. Essa ação viabilizará sua aprendizagem, promovendo seu desenvolvimento autônomo e independente. No processo de identificação, é importante que a criança também se reconheça por um sinal, característica e/ou letra inicial do próprio nome. A identificação da criança poderá ser feita com o professor realizando o movimento de mão embaixo de mão (a criança no início fica com a mão posicionada em cima da mão do professor). Nessa posição, o professor orienta a mão da criança até o próprio peito, tocando-o. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 24 Essa ação poderá ser repetida várias vezes, sendo esse movimento de identificação da criança realizada por toda a equipe de profissionais que mantêm vínculo e atividades com ela. Posteriormente, o professor poderá ampliar o universo do “EU - VOCÊ - ELE”. Para tanto, o professor poderá brincar de pegar em partes do corpo da criança. Exemplificando: pega no pé da criança e, em seguida, indica que o pé é dela tocando em seu peito. Essa atividade poderá ser circular, isto é, o professor poderá também alternar o que faz parte do corpo da criança e o que faz parte do seu próprio corpo ou do corpo de outra criança que esteja perto. O professor poderá passar a mão da criança no próprio braço e, depois, levar a mão desta para realizar o movimento de “meu”, enfatizando: “o braço é da criança” por meio do sinal “meu”. A distinção na marcação do que é da criança do que é do professor poderá ser realizada com a orientação do professor ao tocar e direcionar a mão para seu peito ou para o peito da criança. Nessa brincadeira, o professor poderá ter uma outra criança ao lado (tendo a criança surdocega no colo e a outra ao lado). A atividade será realizada como na sequência anterior, acrescentando a participação de mais uma criança. Com isso, o professor poderá explorar as partes do corpo como sendo dele, meu e seu. Toda a atividade é realizada tatilmente. Pega-se parte do corpo e, em seguida, identifica-se de quem é. Pode-se também realizar massagens e automassagens, do professor com a criança, do professor orientando e conduzindo as mãos de uma criança sobre a outra. As brincadeiras de rolar com as crianças, passando uma em cima da outra, pode ser uma atividade que proporcione prazer a todos. Em uma outra atividade, utilizar-se-á uma fralda ou um pedaço de papel luminoso. O brilho, em muitos casos, pode contribuir para atrair o olhar da criança (caso ela tenha convulsões, é bom evitar usar brilho) assim como tecido ou material em contraste. Com esse recurso, o professor irá cobrir partes do corpo da criança, perguntando verbalmente e tatilmente “cadê o seu pé?” (tocando na criança). Nesse momento, o professor realizará movimentos de cabeça como se estivesse buscando algo, olhando de um lado para o outro mediante o direcionamento da cabeça para a Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 25 direita ou para esquerda. Combinado a esse movimento, poderá realizar movimentos de busca tátil no corpo da própria criança. Além dessas atividades, o professor poderá assistir à televisão com som ampliado, tendo nas mãos um balão. Com esse recurso, o professor fará com que a criança surdocega tenha conhecimento da existência do som, uma vez que o balão amplia as vibrações promovidas pelas ondas sonoras. O professor poderá também assistir a filmes com a criança, desde que haja resíduo visual, em língua de sinais e legendado. Quando o professor optar por atividades que envolvam a leitura, poderá fazê-las tendo a criança, de preferência, no colo, ou poderá sentá-la no tablado e utilizar o amplificador sonoro comum ou a própria caixa de som. Essas brincadeiras e atividades, além de possibilitar o desenvolvimento da noção de permanência do objeto, estimularão a criança a brincar e a realizar trocas mais significativas com o ambiente. Sempre que estiver orientando a mão do bebê para explorar alguma parte do próprio corpo ou do professor, este executará a atividade tendo sua mão embaixo da mão da criança. É o professor que irá orientar e mostrar como explorar partes do corpo, partes de um objeto, de um novo espaço, etc. Posteriormente, poderá posicionar sua mão em cima da mão da criança, motivando-a a explorar o próprio corpo, o corpo do professor ou objetos/brinquedos. Observe qual a posição da mão que faz a criança sentir-se mais à vontade, sendo esta a priorizada. É importante considerar que o processo de aprendizagem para o surdocego se dá inicialmente por meio do movimento, da mesma forma que a criança normal, conforme defende Piaget (1982). A criança surdocega terá no movimento do educador (ressonância) a referência de como usar o seu próprio corpo. O movimento constitui a base da comunicação. Quando a criança é capaz de iniciar um movimento, pode significar uma forma de pedir, para que a atividade tenha continuidade. Nessa fase, as atividades podem propiciar melhores condições do desenvolvimento da autopercepção, consequentemente, da diferenciação entre eu e o outro. A importância do movimento e orientação será analisada em detalhes no próximo tópico. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 26 UNIDADE 4 – A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO E DA COMUNICAÇÃO As crianças com múltipla deficiência, geralmente, apresentam dificuldade de comunicar seus pensamentos, desejos, intenções. A maior parte desses alunos não apresenta linguagem verbal, mas pode comunicar-se por gestos, olhar, movimentos corporais mínimos, sinais, objetos e símbolos. Necessitam, para isso, de pessoas interativas, receptivas, que ofereçam apoio e incentivem esse processo de comunicação não verbal como vimos anteriormente. Brodin (1991) observou que essas crianças tomam pouca iniciativa de comunicação espontânea, talvez pelo fato de terem pouca experiência nesse sentido, e porque os adultos tendem a superprotegê-las, adiantando-se às suas necessidades, sem esperar que haja algum esforço para se comunicar. Estudiosos da deficiência múltipla, Nielsen (1983) e Akesson & Brodin (1991) afirmam que o adulto se converte na parte mais forte da interação, tende a falar sem esperar resposta ou sem dar tempo suficiente para que a criança possa produzir a resposta, reduzindo, assim, a capacidade responsiva e a intenção comunicativa. O grande desafio que se impõe aos centros de educação infantil no Brasil hoje constitui-se na transformação da cultura pedagógica. Isso requer a compreensão das possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem, e a identificação dos talentos, necessidades e limites de todas as crianças, considerando suas diferenças e os mecanismos funcionais de cada uma, conhecendoseus interesses, desejos e experiências vividas (GODÓI, 2006). 4.1 Orientação e mobilidade Orientar vem do latim óriens (orientis) que, em português, deu oriente, ou seja, “o lado onde nasce o sol”, nascente, leste, levante. A palavra mobilidade Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 27 também se origina do latim, do adjetivo móbilis (móvel), que por sua vez deriva do verbo movére: mover. Enquanto orientar significa “determinar os pontos cardeais, indicar o rumo exato”, mobilidade é a “propriedade do que é móvel”; assim, temos que orientação é aprendida, e mobilidade é inata. Combinando os dois conceitos – orientação e mobilidade – podemos dizer que a expressão orientação e mobilidade significa mover-se de forma orientada, com sentido, direção e utilizando-se de várias referências como pontos cardeais, lojas comerciais, guia para consulta de mapas, informações com pessoas, leitura de informações de placas com símbolos ou escrita para chegarmos ao local desejado. Assim, orientação e mobilidade se aplicam a toda e qualquer pessoa que necessita chegar a algum local e que, para isso, dispõe de todas essas referências para cumprir sua rota. Orientação e mobilidade fazem parte da nossa rotina. Quando estamos dentro de nossa casa e nos deslocamos de um ambiente para outro, estamos nos movendo de forma orientada, pois conhecemos o ambiente e sabemos as direções que devemos seguir para chegar até lá e também porque temos nossa consciência corporal e de como devemos nos mover para cumprir nossa meta. Se estivermos em nosso bairro, em nossa cidade, e conhecemos várias rotas para chegar a determinados lugares, nós as utilizamos quando necessitamos. Só vamos nos sentir “desorientados e imobilizados” quando temos que nos deslocar a um lugar e não conhecemos o caminho para chegar a ele. Nesse caso, teremos que usar todas as indicações e referências acima citadas para nos orientar e seguirmos o caminho certo. 4.2 Orientação e mobilidade para surdocego A orientação e mobilidade é um conjunto de técnicas e estratégias, baseadas em informações psicossensoriais, que auxiliam a criança a se orientar e a se locomover nos espaços em que ela vive e que devolvem para a pessoa Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 28 surdocega (os jovens e adultos que se tornaram surdocegos no decorrer da vida) um deslocamento orientado e seguro para conhecer o seu entorno e dele usufruir. O ensino de orientação e mobilidade é muito mais que o treinamento sobre o uso correto das técnicas do guia vidente, ou de bengalas. Mais que isso, é a possibilidade que oferecemos à pessoa surdocega de aprender a organizar e familiarizar-se com o mundo, através do contato físico e de tudo o que possa permitir compreender o mundo ao seu redor e com ele se comunicar. Segundo Gense & Gense (2004) e Giacomini (2005), as necessidades que as pessoas surdocegas têm de aprender e de utilizar as técnicas de orientação e mobilidade estão relacionadas a três aspectos, que antecedem às próprias técnicas: a) vínculo – a aproximação a uma pessoa surdocega deve ser tranquila e devagar. Você pode gentilmente encostar a sua mão na mão da pessoa surdocega para ela saber que você está perto dela. Você pode combinar com a pessoa surdocega um toque na mão, no antebraço ou no ombro como forma de identificação pessoal, o que facilitará o seu contato nos próximos encontros com esta pessoa; b) segurança – a pessoa surdocega começa a se sentir mais tranquila ao perceber que pode confiar nas pessoas com as quais ela formou um vínculo. O vínculo oferece também a segurança de poder identificar tais pessoas, permitindo-lhe escolher com quem quer estar para realizar determinadas atividades e sentir-se mais encorajada e motivada em diversas situações; c) Comunicação – cada pessoa surdocega dispõe de um sistema de comunicação diferente, que pode ir desde o mais concreto (uso de objetos de referência) até o mais simbólico (libras tátil, escrita na palma da mão). O importante é que o profissional possa conhecer o sistema usado por seu aluno para que interaja diretamente com ele ou possa contar com a ajuda de um guia-intérprete ou instrutor-mediador. “Guia-intérprete é aquele profissional que serve de canal de comunicação e visão entre a pessoa surdocega e o meio no qual ela está interagindo” (GIACOMINI, 2002, p. 31). Segundo Rodriguez (2005), o papel do guia-intérprete consiste em ser intérprete ou transliterador, descritor visual e guia. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 29 Para Serpa (2005), o instrutor mediador é a pessoa que media e faz a ponte entre o mundo e a pessoa surdocega. O papel do instrutor mediador é de intermediar a comunicação de pessoas surdocegas e deficientes múltiplos congênitos que não possuem um sistema de comunicação simbólica e guiá-las. Segundo Murdoch (1989), a orientação e mobilidade das crianças surdocegas pré-linguísticas inicia-se a partir do momento em que ela nasce. É um processo que faz parte da rotina diária da vida e não, como se pensava anteriormente, decorrente da necessidade de criar um programa específico para treinamento de técnicas. A mobilidade começa através do espaço nos braços da mãe e dos movimentos que esta faz com o seu bebê quando o faz dormir, balançando-o suavemente, por exemplo. Quando ela leva o bebê do quarto para o banheiro, na hora do banho; quando ela o coloca na cadeira na cozinha para alimentá-lo; quando ela o leva para a sala para brincar, ela está realizando a Orientação e Mobilidade com o seu bebê. Com o desenvolvimento da criança surdocega, ela vai sendo exposta a outras experiências como engatinhar, andar com apoio de um adulto, saber posicionar suas mãos como proteção, utilizar carrinhos de brinquedo como antecipador de obstáculos e a própria pré-bengala como instrumentos para se deslocar com segurança e confiança para conhecer seu entorno. Os pais devem receber orientação para auxiliar os filhos no seu dia a dia a utilizar a pré-bengala. Recomenda-se a confirmação de que a pessoa consegue realizar a atividade, que ela pode repetir e que ela é capaz. Segundo Troncoso (2002), para que a criança surdocega adquira a aprendizagem de se deslocar e explorar o seu entorno com autonomia, é importante que desenvolva os seguintes aspectos: imagem corporal – como ela consegue ter representação do seu próprio corpo; conceito corporal – conhecer e nomear as partes de seu corpo e entender para que servem; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 30 consciência sensorial – saber receber a informação do meio através de todos os sentidos; a criança surdocega precisa adquirir permanência dos objetos – compreender que os objetos existem mesmo quando não se pode tocar, escutar ou sentir. Quanto às noções espaciais, a criança surdocega necessita entender as relações espaciaisque existem entre os objetos, pessoas, como em cima/embaixo, perto/longe, à frente/atrás, entre, dentro/fora e outros. As noções temporais precisam ser ensinadas. O ontem, hoje, amanhã, o dia, a noite, o antes e o depois devem ser compreendidos. A criança surdocega deve aprender a buscar e a encontrar objetos. A medida que os movimentos se tornam independentes (capacidade de girar, rodar, engatinhar, caminhar), pode-se, gradativamente, introduzir as técnicas de autoproteção, tais como proteção superior, proteção inferior; rastreamento, localização de objetos e familiarização com os ambientes; técnicas de desenvolvimento da orientação, como o uso do tato, olfato, visão, audição; leitura de mapas táteis. O uso das técnicas de guia vidente é de suma importância. O professor de orientação e mobilidade deverá estar atento ao momento certo para oferecer a bengala ou a pré-bengala quando de fato este instrumento possa ser usado com propriedade e segurança pela criança, transformando-se em um facilitador para seu deslocamento. Bengala é um bastão geralmente confeccionado em alumínio. Já há algumas versões em fibra de vidro que são mais leves e dão maior sensibilidade ao usuário. A bengala pode ser fixa ou dobrável. Podemos encontrar bengalas com ponteiras de silicone fixa, de alumínio e com o sistema roller. A Pré-bengala é um objeto retangular, confeccionada em canos PVC, que possibilita o apoio das duas mãos, dispensando o arco de proteção de uma bengala longa e servindo como identificador de obstáculos. Assim como a bengala, é confeccionada na altura correta do usuário. A altura é medida a partir do diafragma Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 31 da pessoa até o chão. Depois, mede-se o ombro do usuário, acrescentando-se 2 cm de cada lado (FOY; KIRCHNNER, 1991). Uma pré-bengala é personalizada às necessidades da pessoa com deficiência e confeccionada com tubos e conexões em PVC. Podemos construir estes conhecimentos de orientação e mobilidade através de jogos e atividades simples e na rotina diária de um bebê e de uma criança surdocega, o que ajudará a desenvolver esta habilidade desde o primeiro ano de vida. Importa ressaltar que, nesse processo de aprendizagem do uso dos recursos da tecnologia assistiva, a participação da família, dos professores e dos colegas é absolutamente imprescindível. O tablado de ressonância é uma placa retangular, de madeira, de espessura de 2 a 3 mm, com pés para apoio, colocado sobre o piso para que a criança possa sentir a vibração das brincadeiras que iremos proporcionar a ela em cima do tablado, criando condições propícias para que ela inicie a verbalização de intenções comunicativas. Os tablados de ressonância são utilizados, principalmente, com crianças pequenas que apresentam resistência ao toque (crianças que não gostam de ser tocadas diretamente por nossas mãos). Nesses casos, o tablado lhes permite sentir outras texturas e ir, pouco a pouco, tendo maior aceitação do toque em geral. O tablado permite que a criança se movimente em busca da estimulação que lhe é oferecido. É possível utilizar também o quartito, que são placas de madeira ou de papelão revestidas com tecidos ou brinquedos em alto contraste para estimular a visão, a audição residual ou o tato da criança que rola sobre o tablado de ressonância que está debaixo dela, buscando esses estímulos. O quartito desenvolve o movimento da criança que apresenta graves dificuldades motoras para agarrar ou para mover-se de um lado para outro. O uso da tecnologia assistiva, como quartito, tablado de ressonância e as pré-bengalas favorecem a autonomia e a independência das crianças surdocegas e com deficiências múltiplas e as auxilia na exploração dos ambientes (GIACOMINI; SARTORETO; BERSCH, 2010). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 32 Devido a importância da orientação e mobilidade da criança no espaço escolar, vamos à descrição de uma atividade com esse objetivo, descrita por Nascimento e Maia (2006). É importante passear com a criança pela instituição. Pegue a criança no colo e conduza sua mão pelas paredes da escola. Muitas vezes, é importante utilizar um porta-criança (canguru), o que contribui para a liberação das mãos e braços da criança e do professor, viabilizando melhores condições para exploração do ambiente. Durante o passeio, é importante que a criança seja posicionada de forma a olhar para frente, com as costas apoiadas no peito do professor. Em qualquer uma das situações, o professor necessita mostrar as portas (abrindo a porta com ajuda da criança, entrando, e, na saída, fechar a porta, sendo ajudado pela criança). É importante que todas as salas sejam identificadas com objetos concretos, que indiquem uma referência do que ocorre em cada ambiente, isto é, que sirvam de objeto de referência. Exemplificando: na porta do refeitório pode-se colocar um prato e uma colher, indicando que aquele local é o espaço reservado para alimentação; no fraldário, pode-se colocar uma fralda descartável; no banheiro, um pedaço de toalha ou rolo de papel higiênico, ou sabonete. Tendo os objetos de referência, o professor precisa ter o cuidado de explorar tatilmente o objeto, e só depois entrar na sala. O professor associará ao objeto de referência o nome da atividade que se desenvolve no interior da sala, registrado em tinta e no código braile. A figura ao lado ilustra a situação de identificação de ambiente sendo orientada pelo adulto. É importante que todas as atividades sejam antecipadas com objetos de referência concretos e de fácil identificação pelo sistema tátil. Assim como as consideradas crianças normais são avisadas verbalmente ou gestualmente do banho, da comida, da hora de dormir, da hora de histórias, da troca de fralda, da hora de ir para casa, as crianças surdocegas também precisam ser Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 33 avisadas. Para isso, é necessário que o professor estabeleça o que irá utilizar para indicar as atividades a serem realizadas. A seguir, algumas sugestões. As brincadeiras infantis precisam ser antecipadas com o objeto a ser utilizado (bola, chocalho, brinquedos causa e efeito – apertar o botão desencadeando um som ou luz ou vibração ou movimento). Essa é uma oportunidade para introduzir a participação da criança surdocega em um grupo maior, realizando atividades com as crianças posicionadas em círculo. Durante a atividade, a criança surdocega necessita ser orientada pelo professor de como participar e do momento em que deve começar. O professor poderá apresentar o babador, posicionando-o no peito da criança. Em seguida, poderá tocar com a palma da mão no peito da criança, levando-a até seus lábios e tocando-os de leve. Caso o professor queira, poderá pegar a mão da criança e orientá-la a tocar nos próprios lábios. Em ambas situações, os sinais estarão substituindo a fala e informando para a criança o que irá acontecer. Após o indicativo, pegue a criança, posicione-a (se bebê, no colo, outras vezes, no berço) e ofereça-lhe o alimento (mamadeiraou não). Talvez seja interessante o professor encapar a mamadeira com um tecido em contraste de cores e texturas (fundo branco com listas pretas; ou fundo amarelo com listas azuis). O contraste ajudará na estimulação da eficiência visual da criança, possibilitando melhores condições do uso da discriminação visual e na exploração do material. O professor pode escolher o sabonete como objeto de referência da atividade banho. De posse desse objeto, irá aproximá-lo da criança para que ela sinta seu cheiro. Posteriormente, o professor realizará movimentos circulares com o sabonete em partes do corpo da criança (barriga, braço, mão). Após esse indicativo, a criança será preparada para o banho. Antes de colocá-la na água, molhe partes do corpo dela e leve sua mão para realizar o contorno da banheira ou para segurar o chuveiro. É importante que ela sempre seja avisada, isto é, o professor precisa antecipar tatilmente tudo o que irá acontecer. O professor poderá utilizar o travesseiro da criança para indicar a hora de dormir, embalando-a em seguida. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 34 O professor, de posse do recipiente do creme, pode apresentá-lo à criança, explorando-o com a mão. Depois, o professor abrirá o recipiente e colocará, com ajuda da criança, um pouco de creme em sua mão, para em seguida espalhá-lo no corpo da criança em movimentos circulares. Esse é um bom momento para a criança perceber o cheiro do creme e sua consistência. Nesse momento, o professor poderá fazer uma leitura com a criança sentada em seu colo ou em um tablado, para que possa perceber as vibrações relacionadas ao ritmo da leitura. O guia-intérprete ou o intérprete irá realizar o acompanhamento da leitura em sinais ou a dramatização das informações lidas. Na manipulação do creme, a criança pode ser orientada a passá-lo no próprio corpo (NASCIMENTO; MAIA, 2006). 4.3 A comunicação A comunicação é um dos aspectos mais importantes do trabalho com alunos com múltipla deficiência e surdocegos, o que acontece efetivamente quando tocamos nosso aluno, portanto, é preciso cuidado com o toque, ele não deve ser brusco e inesperado, nem muito leve. De preferência a mão-sob-mão, é a forma mais correta de trabalhar com esses alunos. As mãos são as ferramentas essenciais para se efetivar a comunicação com esses alunos como já introduzimos em tópico anterior. Elas podem expressar não somente sentimentos, como também intenções. Podem transmitir funções pragmáticas. Um toque pode ser uma ordem, uma pergunta, uma exclamação, um convite. Qualquer uma dessas funções pragmáticas usadas em excesso pode inibir a interação de diálogos. Portanto, o toque deve representar, para o aluno, a forma de um novo conhecimento. Sabemos agora que o início da comunicação se dará por meio do toque e das leituras desse toque. Ao conseguirmos compreender, atingir, entrar, enfim, no mundo desse aluno, que pode estar total ou parcialmente isolado, o fazemos trilhar o caminho da comunicação. Mesmo que consigamos apenas uma pequena intenção comunicativa, o desdobramento dessa intenção pode resultar num início de comunicação (HONORA; FRIZANCO, 2008). Sil Highlight Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 35 Assim, não importa como será e a que nível chegará a mensagem, o importante é conseguir o maior aproveitamento possível do potencial comunicativo do aluno. Com isso, o aluno se tornará mais feliz, mais aceito e integrado na família, na escola e na sociedade. Segundo Van Dijk (1965), devemos considerar que a comunicação surge de uma interação entre desenvolvimento cognitivo e experiências sociais. Seu trabalho foi direcionado para indivíduos com comportamentos predominantemente voltados para si mesmos. Assim, esse comportamento sugere que as necessidades são satisfeitas por intermédio de estimulações físicas e de necessidades básicas. Muitas condutas comunicativas (pegar na mão, vocalizações, entre outras) surgem de um único objetivo: satisfazer as necessidades de estimulação física e atendimento das necessidades básicas, como fome, sono e desconforto. Assim, a comunicação é um aspecto do conhecimento, não uma habilidade independente. É um reflexo do desenvolvimento cognitivo que se manifesta durante as interações sociais. Mesmo percebendo que a maior parte do tempo a comunicação vinda do aluno tem, como objetivo principal, a satisfação de necessidades mais urgentes e práticas, devemos nos concentrar na função comunicativa como “instrumento para favorecer o desenvolvimento cognitivo e como uma consequência natural do uso das habilidades cognitivas em seu meio social” (STILLMAN, 1984) . Analisando por esse lado, o objetivo da comunicação para esses alunos é proporcionar a oportunidade de formarem uma ideia do mundo que os rodeia, pois muito poucos discriminam a si e ao ambiente. É também dar oportunidade para que se desenvolvam num mundo consistente, sentindo segurança, porque vivem momento a momento. É essencial demonstrar aos alunos com deficiência múltipla e surdocegueira o interesse e a importância de fazer algo em conjunto com o outro, pois vivem num mundo inconsistente e não formam ideia das coisas mais fundamentais de sua vida. Igualmente essencial é desenvolver um diálogo, mesmo que não seja verbal. O adulto é que irá estruturar este mundo que está sendo apresentado, ele deve organizá-lo pensando em lugar, tempo e pessoas. Na verdade, é o adulto que Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 36 precisa e deve entrar no mundo do aluno, dando novo significado a objetos e pessoas em um mundo de ação, processo e conhecimento. Para o desenvolvimento de habilidades comunicativas não verbais, existem procedimentos e meios que não podemos desconsiderar, que são contínuos e graduais, como: indicações táteis/ cinestésicas; sinais vocais/visuais; indicações ou modelos; gestos naturais; sinais vocais; sinais físicos (movimento do corpo); objetos reais; objetos representativos; fotografias de objetos; desenhos de objetos; ilustrações coloridas; ilustrações em branco/preto; pictogramas; palavras impressas ou em braille; língua de sinais, sempre analisando e observando qual a necessidade de seu aluno, esse tipo de trabalho deve ser pensado pela equipe escolar, família e aluno. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 37 UNIDADE 5 – ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO Incluir alunos com deficiência múltipla e necessidades educativas especiais nos centros de educação infantil não requer um currículo especial, mas ajustes e modificações curriculares envolvendo objetivos, conteúdos, procedimentos didático- metodológicos e de avaliação que propiciem o avanço no processo de aprendizagem desses alunos. Esse processo é concebido como um conjunto de procedimentos que visa oferecer experiências de aprendizagem adequadas aos diferentes níveis de comunicação,
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