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Resumo sobre Cícero e Epicuro

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Cícero: estoicismo romano e lei natural
7.1 Pensamento ciceroniano
A época do Direito Romano vivida por Cícero é a clássica, dentro da conhecida divisão em períodos que se convencionou como forma de classificação do envolver histórico-romanístico. As principais fontes de direito deste período foram a jurisprudência, os editos dos magistrados, o costume e a legislação.
Desta preocupação emerge a necessidade de se investigar o relacionamento da teoria jurídica ciceroniana com o Direito Romano clássico.
Estar-se-ia a estudar os conceitos de direito das gentes, de direito positivo e de direito natural na teoria filosófico-jurídica ciceroniana.
Desta análise dever-se-á extrair sobretudo a influência que os estoicos produziram sobre Cícero. Sobretudo, dever-se-á aquilatar qual a dimensão da influência da ética estoica sobre a ética ciceroniana. Se existem equivalências entre os conceitos de areté, virtus e honestum, e se a ataraxia estoica correspondia realmente ao ideal ético na teoria de Cícero, já que a natureza humana para os estoicos só se pode realizar uma vez observadas as regras do cosmo e a ordem divina das coisas. Ademais, dever-se-á investigar qual é o proveito do conceito de moralidade, tendo em vista que o que é moral não pode estar vinculado a nenhum outro atrelamento senão a própria realização moral, para as regras jurídicas, e que fronteiras se podem traçar, a partir de um estudo detido do problema, entre aquele e o conceito de ordem jurídica.
A ética estoica caminha no sentido de postular a independência do homem com relação a tudo que o cerca, mas, ao mesmo tempo, no sentido de afirmar seu profundo atrelamento com causas e regularidades universais.
A preocupação com o conceito de dever irrompe com uma série de consequências histórico-filosóficas que haveriam de marcar nuances anteriormente inexistentes.
Razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia relacionam-se com proximidade inusitada dentro da tradição romana, o que torna de relevo perceber qual foi o legado estoico para o universo intelectual romano.
Sabe-se que foi discípulo de Poseidonios ou Posidônio de Apameia responsável pela expansão do estoicismo para dentro das fronteiras romanas.
Cícero destacou-se como personalidade eclética, sendo conhecido pela posteridade por suas diversas facetas, ora por sua atuação por meio de discursos políticos, ora por sua atuação junto aos tribunais com discursos jurídicos, ora por suas obras sobre oratória, ora por seu perfeccionismo no domínio de estilo erudito e sóbrio de prosa latina, ora por sua pujança discursiva e argumentativa, ora por seus escritos filosóficos de divulgação.
Sua obra pode ser fundamentalmente dividida em dois grandes blocos de textos: os que se verteram para a retórica, a eloquência e oratória e os que se verteram para as investigações filosóficas.
7.2 Ética estoica
Ataraxia -> ausência de inquietude, tranquilidade do ânimo.
A ética estoica é uma ética da ataraxia. O homo ethicus do estoicismo é o que respeita o universo e suas leis cósmicas e se respeita. Porque, em primeiro lugar, se conhece, e conhece suas limitações, de modo que é capaz de alcançar a ataraxia, o estado de harmonia corporal, moral e espiritual, por saber distinguir o bem do mal.
A ataraxia é o clímax de um processo de autodepuração da alma.
Esse homem não se abala excessivamente nem pelo que é bom nem pelo que é mau. Significa, então, descoberta de sua interioridade, posse de um estado imperturbável diante das ocorrências externas.
A ética estoica é resultado da interpenetração dos conhecimentos adquiridos pelo homem, e isso porque a lógica confere a certeza ao raciocínio, a física mostra os fundamentos das coisas...
No sistema ético-estoico convivem conhecimentos de várias naturezas e fins para afirmar o que o homem deve ou não deve fazer. Todos os conhecimentos estarão a favor das conclusões ético-estoicas.
Não será a contemplação a finalidade da conduta humana, mas sim a ação, pois é nesta que reside a capacidade de conferir felicidade ao homem. É por meio da ação que surgem as oportunidades de ser ou não ser; é na ação que reside o ideal de vida estoico.
É uma ética que determina o cumprimento de mandamentos éticos pelo simples dever.
Não é com vistas a um fim outro qualquer que da ação deve decorrer um bem qualquer para si ou para a comunidade. Não é visando ao enriquecimento, à honra social, ao elogio, à elevação de seu conceito entre as pessoas... que se deve distinguir o agir ético. A ética deve ser cumprida porque se trata de mandamentos certos e incontornáveis da ação.
Isso vem bem espelhado na Doutrina Ciceroniana, quando explica que não o temor social pela punição, mas a vontade de praticar justiça deve ser o móvel da ação.
“Se o castigo, se o temor aos suplícios, e não a própria essência desonrosa dos atos, nos levam a considerar uma vida dedicada à injustiça e ao crime, então nada é injusto, e os maus seriam mais adequadamente chamados de imprudentes. Se o que nos leva a ser desonrados não é a própria honradez, mas sim a utilidade e o interesse, então não somos bons, somos espertos.
Mas, o maior absurdo é supor-se que são justas todas as instituições e leis dos povos. Serão ainda mais justas as leis dos tiranos? Se os famosos Trinta quiseram impor leis a Atenas e se todos os atenienses aprovaram suas leis tirânicas, teríamos que consederá-las justas?
Assim só existe um Direito, aquele que constituí o vínculo da sociedade humana e que nasce de uma só Lei; e esta Lei é a acertada em tudo quanto ordena e proíbe. Quem a ignora é injusto, esteja ela escrita ou não em alguma parte.”
Se se deseja virtude tendo-se em vista outra coisa qualquer então, efetivamente, há algo melhor que a virtude, e isso só pode ser reconhecido com inadmissível.
Este tipo de preocupação parte para a afirmação da necessidade de obediência às virtudes pela necessidade de observância do Direito como algo exclusivamente humano, e, portanto, naturalmente humano.
“Para terminar este discurso, tirarei uma conclusão que, depois do que foi dito, tem que ser obvia: o Direito e, em geral, o honrado devem ser desejados por seus merítos intrísecos. Ademais, todos os homens bons amam a equidade e o Direito em si, e não seria próprio deles cair no erro de amar algo que, por natureza, não fosse digno de ser amado; logo, havemos de desejar e respeitar o Direito por si mesmo. Isso, valendo para o Direito, vale também para a justiça; valendo para a justiça, vale também para as demais virtudes.”
Essa obediência aos mandamentos éticos se deve ao fato de tais mandamentos decorrerem de leis naturais.
À natureza não pode se sobrepor o ser humano. É dela que emanam as normas do agir. E nessa obediência ao que é natural reside uma forma de intuição do que é elementar e natural, assim como consentâneo, à conservação e manuntenção da vida humana; é a intuição das normas naturais que confere ao homem a capacidade de discernir o que é favorável e o que é desfavorável a seu bom agir.
A justiça, a sabedoria, a fortaleza e a temperança contituindo-se nas virtudes cardeais da stoa, também estes haveriam de se tornar os móveis da ação para Cícero. Em seu De officis são essas as partes do honestum ciceroniano.
A felicidade, a harmonia, e a sabedoria residem num estado de alma em que o homem se torna capaz de ser indiferente às mudanças que estão a sua volta, a um só tempo:
a) Por reconhecer a fugacidade de todas as coisas, por ser temente a Deus;
b) Por confiar na justiça que decorre de seus atos;
c) Por estar certo de que age de acordo com sua lógica;
d) Por conhecer de um conhecimento certo as coisas pelas causas físicas;
e) Por respeitar a natureza e os preceitos dela decorrentes;
f) Por viver conforme o que é capaz de produzir um benefício para a comunidade;
Há um grande compromisso do homem com a ação, assim como com a natureza.
Tudo está de acordo com o pensamento ciceroniano, fundamentalmente voltado para a fundamentação ética na base do estoicismo.
7.3 Ética ciceroniana e justiça
A base da éticaciceroniana é a stoa.
Não há um purismo filosófico em Cícero, uma vez que sua exposição não repousa exclusivamente no estoicismo, mas apela para um sincretismo filosófico que remonta ao socratismo, ao platonismo, ao aristotelismo, ao estoicismo...
Desse modo constituída sua filosófia, Cícero não poderia negligenciar o principal contributo do estoicismo, a saber, a ligação do homem com a natureza, ou seja, a
formação da ética a partir da intuição natural. Aliado a este contributo, está outro: a ética não se afirmar na comtemplação, mas na ação, e é esta que deverá ser julgada boa ou má. Não se pode chegar a outra medida senão à que diz que a justiça não é inata, mas se trata de uma conquista prática da ação humana.
Cícero não se atém a descrever pura e simplesmente o Direito Romano de sua época, ou suas raízes culturais, mas suas raízes e fundamentos naturais, dentro de uma prospecção tipicamente filosófica.
Sua vontade é saber discutir o que depende da incerteza da especulação e não da certeza documental.
O que Cícero quer é demonstrar o movimento do cosmos ao Direito, para explicar-lhe a essência.
No cosmos é que ele encontra a reta razão que a tudo ordena, e de acordo com a qual se devem pautar todas as condutas humanas. A ética ciceroniana movimenta-se a partir de uma lei absoluta, preexistente, imutável, intocável, soberana e perfeita e que a tudo governa.
“A razão reta, conforme à natureza, gravada em todos os corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo Senado; não há que procurar para ela outro comentador nem intérprete.”
O bem e o mal só podem ser dados como razões da natureza.
O parâmetro da conduta humana deverá ser a observância da lei natural, e isso porque nela se encontra a noção de bem que se deve ser seguida. Aí reside a felicidade, a ordenação da conduta individual, e, por consequência, da conduta social na república.
“Se o bem é louvável é porque encerra em si mesmo algo que nos obriga a louvá-lo; pois o bem não depende das convenções e sim da Natureza. Se assim não fosse, a felicidade também se fundamentaria na convenção, e nada mais estúpido do que isso, se poderia dizer.”
O homem que conhece a si mesmo torna-se sábio, á medida que descobre em si uma lei natural, que é a que estimula a vivência na virtude e orienta para o recrudecimento dos vícios. 
“Mas é fora de dúvida que a norma de vida deriva da lei, uma vez que esta deve, ao mesmo tempo, retificar os vícios e fomentar as virtudes.
Pois aquele que se conhece a si mesmo começará por sentir-se de posse de algo divino; conceberá sua própria natureza como uma imagem consagrada, agindo e pensando sempre de um modo digno de tantos fatores divinos; e quando se examinar a si mesmo, por inteiro, descobrirá todos os dons que lhe deu a Natureza ao nascer e todos os instrumentos de que dispõe para obter e alcançar a saberdoria.” 
A natureza pode ser dada como parâmetro para a conduta ética. Se a razão é o distintivo humano, a virtude de acordo com a reta razão será o distintivo do ser humano justo. 
“E nós, para distinguirmos o bem do mal, não temos outra solução que não seja recorrer à Natureza. 
Seria preciso ser louco para crer que estas distinções se baseiam em convenções e não na Natureza. 
A virtude é uma razão perfeita; não há dúvida de que sua base é natural.” 
A justiça, como uma das virtudes cardeais haverá de ser uma decorrência também de um sistema natural. 
É com inspiração na lei natural que haverão de surgir as leis humanas. Uma vez surgidas, será com base nas leis naturais que haverão de se orientar e corrigir.
Para que se possa iniciar um estudo acerca da República, do Direito e suas manifestações, há que se principiar pelo que seja a lei. Para que se possa iniciar um estudo acerca das leis, ter-se-á, então, que se iniciar um estudo sobre a natureza e as leis naturais, não se podendo deixar de lado um estudo sobre a natureza humana. 
“Temos de explicar a natureza do Direito e buscaremos a explicação no estudo da natureza do homem.
(...) Lei é a razão suprema da Natureza, que ordena o que se deve fazer e proíbe o contrário. Esta mesma razão, uma vez confirmada e desenvolvida pela mente humana, se transforma em lei.
Se tudo isto é certo, como creio que é, de um modo geral, então para falar de Direito devemos começar pela lei; e a lei é a força da Natureza, e o espírito e a razão do homem dotado de sabedoria prática, é o critério do justo e do injusto.” 
Na natureza, e, por consequência, na lei natural, há não somente certeza de justiça, mas também prevalência de justiça. A lei natural antecede ao homem, e há de servi-lhe como guia na construção de suas artificiais estruturas de organização social, uma vez que o viver social é uma necessidade humana. 
“Sem dúvida, para definir Direito, nosso ponto de partida será a lei suprema que pertence a todos os séculos e já era vigente quando não havia lei escrita nem Estado constituído.
Por isso buscarei a fonte do Direito na Natureza, que há de ser nosso guia no curso de toda essa discussão.” 
Mais que isso, essa lei preexiste ao homem é-lhe a orientação, e o que lhe traz a certeza da igualdade, uma vez que todos comungam das mesmas dificuldades, das mesmas limitações, enfim, da mesma condição humana. 
 O viver humano esta jungido por regras que não foram definidas pelo homem, mas que condicionam sua existência e que preexistem a ela. 
Tais leis igualam os homens entre si, mas os desigualam frente aos demais animais existentes: o homem está dotado de razão.
A razão é o que há de ligação entre os homens e os deuses. 
Nesse sentido, floresce a stoa, uma vez que Cícero irá dizer que homens e deuses formam um só universo, onde as leis presidem à coordenação do todo.
“Pois ele é o único, entre todas as espécies e variedades de sêres animados, que tem acesso a uma razão e a um pensamento, de que carecem as outras. Com efeito, o que é mais divino, não direi apenas no homem mas em todo céu e a terra, do que a razão?
Mas os que possuem razão em comum, devem também possuir em comum a razão justa. Ora, esta não é outra coisa senão a lei, logo a lei é um outro vínculo que devemos reconhecer entre homens e deuses. 
Logo, devemos considerar que o nosso universo é uma só comunidade, constituída pelos deuses e pelos homens.” 
Uma vez ordenada dessa forma, de acordo com a natureza, a sociedade haverá de perseguir e alcançar a felicidade geral, mas se desvirtuada ou distanciada de tal ética natural, não haverá de realizar a felicidade. 
A felicidade encontra-se na dependência do grau evolutivo de organização da República. Nesse aspecto, é a República que está a influenciar na felicidade do indivíduo, e não o contrário.
“Em suma, não há felicidade sem uma boa constituição política; não há paz, não há felicidade possível, sem uma sábia e bem organizada República.”
O Direito haverá de ser considerado mister para a organização humana. 
Deverá se organizar de acordo com os mandamentos da natureza, e todos deverão ser coordenados em seus comportamentos por esse Direito.
O Direito é a razão, e a razão é comum a todos os homens. Mais que isso, o Direito é uma decorrência natural para a organização justa e reta dos homens em sociedade. 
“Marco: - Assim chegamos a conclusão de que a Natureza nos criou para que participássemos todos do Direito e o possuíssemos em comum.
Assim, os que receberam a razão da Natureza também receberam a justa razão e consequentemente a Lei, que nada mais é que a justa razão no campo das concessões e das proibições. E se receberam a Lei, também receberam o Direito.”
A lei natural e eterna é a fonte desse Direito. Não reside na convenção nem na inteligência do legislador a formação das leis, mas numa razão natural, insubmissa às corruptelasdo pensamento humano. 
Mesmo inexistindo leis escritas, percebe-se a presença da lei eterna que a todos governa. Pode-se mesmo cometer um crime que não esteja previsto em leis humanas, mas repudiar-se a conduta como desconforme ao bem, uma vez que a noção intuitiva de bem, de acordo com a razão eterna e divina, precede a qualquer convenção humana e a qualquer ato do lesgislador. A unidade divina fomenta a profunda perfeição das leis naturais, que devem ser a inspiração última de todo legislador social.
As leis humanas devem constituir-se, de fato, em estímulo para os bons e em desestímulo para os maus. O critério para diferenciação entre ambos não é dado pelo homem, mas pela natureza, ela que é soberana e justa. Para que as leis humanas consigam atingir sua finalidade, deverão conformar-se ao que há de necessário e incontornável dado pela lei natural. 
A razão deve-se sobrepor à paixão, com vistas à efetiva implantação da ordem de acordo com a lei natural entre os homens. Esta sociedade estará guiada pela reta razão.
A lei é para a sociedade o mandamento de ordem, de retidão e de prudência, pois, em verdade, como diz Platão, as leis são o magistrado do mundo.
Na lei reside o princípio de igualdade, justiça e retidão; é ela que ordena a República para o alcance de seus fins.
Por isso são, se bem constituídas de acordo com a lei natural, necessárias para os homens.
As leis são necessárias para a República, assim como a República é necessária para o homem, uma vez que o homem tem um instinto de sociabilidade que é o que funda a utilidade comum do viver em sociedade.
O povo é a alma da criação e do sustento da República. É nela, e não fora dela, é com as leis, e não a sua revelia, que se encontra a felicidade e a realização ética humana. Nisso há ordem, nisso há justiça, nisso há lei natural, nisso há razão divina.
É com o direito que se realizam o Estado, a República, o cidadão e o homem.
A República pressupõe Direito, e o Direito pressupõe leis, as leis pressupõem leis naturais, e as leis naturais pressupõem Deus. 
Quando se fala em república fala-se no governo para o bem comum.
A justiça consiste em não fazer o mal injusto a outrem, nem utilizar-se do que é comum sem que seja para finalidades comuns.
A injustiça em momento algum traz felicidade, e não é nela que deverá fiar-se aquele que busca felicidade; o temor da punição pende como uma ameaça que perturba a estabilidade harmônica daquele a quem se pode chamar justo. 
Conclusões 
Numa profunda ordenação cósmico-natural se pode encontrar o fundamento de toda ética e de todo conceito de justiça na teoria ciceroniana. 
São as leis naturais a ordenação do todo, de acordo com elas se funda a reta razão, de modo que o direito natural passa a representar a única razão de ordenação da conduta humana na República. 
É a sociabilidade condição natural humana, de modo que a organização do Estado, das leis, da justiça são condições para a realização da própria natureza humana. 
Observando a natureza das coisas, a natureza humana haverá de atingir um grau de afinidade e harmonia com as leis que regem o todo, de modo a que tudo se governe e acordo com um único princípio, que se resume à razão divina.
Dessa forma, o que se tem é uma ética do dever, constituída na base da lei natural, cuja finalidade reside em guiar e governar o todo. 
Dessa ética decorre a observância aos preceitos morais e jurídicos a um só tempo, dada a fusão em que se apresentam. Isso porque a sociabilidade humana é um mister, de modo que o Estado e as leis instrumentalizam esse mister, donde a felicidade humana decorre da própria harmonia de todos entre todos. 
É com a República que surge a felicidade humana. 
Epicurismo: ética, prazer e sensação
6.1 Doutrina
A escola epicurista se liga uma tendência doutrinal que elege no prazer a finalidade do agir humano. 
O que há de comum entre o epicurismo e as demais filosofias é o desapontamento com a política de seu tempo.
Os epicuristas responderam às trevas socioorganizacionais de seu tempo da mesma forma do platonismo, aristotelicismo: distanciando-se das atividades políticas e aglomerando-se num lugar comum de estudos, reflexões e discussões tais como jardins e escolas. 
A doutrina epicurista resume-se a discutir e a traçar contribuições em torno de temas quais o da matéria, do átomo e o das sensações.
Anuncia uma explicação do mundo a partir dos elementos que o integram. 
O cosmos existe, para o epicurismo, e faz parte e suas preocupações. Infinito que é, porém, funciona como um conjunto concatenado de elementos mínimos, os átimos, que interagindo, causam as condições de formação da vida. Nesse sentido, a dissolução da vida é somente a desagregação dos átomos que a ela deram origem, o que causa a privação de toda sensação; a morte nada significa à medida que deixa de existir a causa de todo conhecimento, de toda dor e de todo prazer, a saber, a sensação. 
Não há divindade, não há transcendência nem autoridade sobre o cosmos; ele autogoverna-se a partir das partículas em que se subdivide.
As lendas populares, a metafísica sacerdotal, a mitologia tradicional... são respostas insuficientes aos olhos dos epicuristas. Mais que isso, os mitos, as lendas, as crenças são insatisfatórios para responder às concretas necessidades humanas de respostas a seus anseios; viver sob a suspeita de um medo constante sobre os deuses e o cosmos é irracional, aos olhos dos epicuristas, como informa a décima segunda máxima epicúrea. 
Em síntese, a física domina a explicação inclusive da própria ética. A noção de matéria organizada em átomos, unidades diferentes entre si, eternas, existentes desde sempre e de durabilidade infinita, passa a ser o núcleo de organização de seus conceitos filosóficos. Esta é, na explicação epicurista, a singela explicação cosmológica, nitidamente materialista, do todo, do universo. 
6.2 Ética epicúrea
É a partir das coisas visíveis que se pode melhor compreender, não somente as coisas visíveis, mas também as coisas invisíveis, a partir da analogia, da reflexão, do cálculo racional, da comparação etc. 
As sensações desempenham papel fundamental na formação do conhecimento humano, mas, além disso, oferecem ao homem o móvel de seu comportamento em interação com a natureza e os demais seres humanos. 
Outras formas e fontes de conhecimento existem mas todas devem submeter-se ao crivo do que verdadeiramente pode ser tateado, visto, provado... por meio dos sentidos.
A base da experiência humana provém dos sentidos humanos.
Onde estão os sentidos está a ética. 
É na base das sensações de dor e prazer que se organizam os comportamentos humanos.
Todo homem que age, o faz no sentido de evitar a dor e procurar o prazer; a insatisfação dos sentidos é a dor, enquanto a satisfação dos sentidos é o prazer.
A agir hoje para haurir condições de no futuro fruir deste ou daquele prazer.
Vive-se as voltas com a fuga da dor e a busca do prazer; o que há de mais caro à vida humana, a felicidade, depende do alcance do prazer.
Se organiza a vivência com base nas experiências anteriores de dor e prazer.
Toda deliberação de meios e fins, tendo em vista o agir, é governada pelas orientações que se formam com base nas experiências de dor e de prazer.
O que seja o prazeroso e o que seja o doloroso é, sem dúvida alguma, algo relativo, uma vez que, de acordo com as orientações e as experiências, variam certos fatores que determinam a interpretação do que seja doloroso e do que seja prazeroso. 
É certo que toda dor é um mal (algo não natural), e que todo prazer é um bem (algo natural), mas nem toda dor haverá de nos fazer repeli-la, e nem todo prazer haverá de nos fazer procurá-lo. 
O prazer é o móvel da ação. 
É absoluto e supremo à medida que representa a estável condição de supressão de toda dor. 
A vivência de puro prazer seria a de total ausência da dor.
Se a ausência absoluta de dor e impossível para os homens, deve-se dizer que o realizável é que seja suprimido o maior número de dores possível, uma vez que se asomatória de dores for maior que a somatória de prazeres em uma vida, esta poderá ser dita uma vida infeliz. 
O prazer gera a tranquilidade de alma, a estabilidade das sensações e a satisfação do corpo. 
O discernimento permite ao homem domar seus instintos e vencer suas temeridades.
Se a infelicidade possui causas (temer punição dos deuses; temer a morte; não saber escolher o que desejar; angustiar-se com o sofrimento), elas podem ser elencadas, estudadas e eliminadas. Nisso reside a sabedoria e a estabilidade da felicidade epicúrea: discernir, mesmo sofrendo, as causas do sofrimento, e procurar domar os instintos que o cercam (suicidar-se, matar alguém, furtar...) 
A felicidade oriunda do prazer só se atinge com a ascese dos desejos. 
Os desejos são:
Necessários e naturais: comer, beber, dormir;
Não necessários e naturais: desejo sexual, de extravagâncias alimentares,...;
Não necessários e não naturais, ou artificiais: os desejos ilimitados de poder, ganância...
Saber escolher e discernir é ser prudente; ser prudente é conquistar a ataraxia, ou seja, a estabilidade de ânimo diante das coisas, dos prazeres, das paixões e, inclusive, da própria dor. Para o epicurismo, isto é ser livre. Aqui está o principio da autossuficiência e, portanto, da felicidade. 
6.3 Prazer e justiça 
Sem prazer, não há felicidade. 
O prazer é a ausência de dor. 
Nem sempre o prazer atrai o que há de melhor. Nem sempre a dor atrai o que há de pior.
A consciência da dor e do prazer e o que faculta ao homem escolher causar dor ou prazer.
A consciência de dor e de prazer induz o homem a se furtar da dor, e, portanto, a evitar produzi-la injustamente em outrem, e a buscar o prazer, e, portanto a procurar favorecer a que outros fruam do prazer. 
Da ética individualista do prazer surge uma ética social do prazer.
O sábio evita não só prejudicar como causar preocupações nos outros. 
Se o sábio se encontra distante das perturbações, procura oferecer serenidade aos outros.
O homem que sofre torna-se sensível ao sofrimento do outro. 
O homem justo só pode ser tranquilo e sereno, e o epicurismo só pode recomendar a justiça e a serenidade; o homem justo não perturba o outro, e por isso afasta problemas, dissabores, ódios, vinganças e demais dores que possam advir das atitudes tomadas.
O homem injusto, por sua vez, vive perturbado e desequilibrado, seja pelo medo de ser a qualquer momento golpeado pela vitima de seus atos, seja pelo temor de ver-se rejeitado, por causa de suas atitudes, pela comunidade à qual pertence, seja pelo metus de ser-lhe aplicada uma sanção pela prática de determinado ato socialmente desaconselhado. 
Não causar danos e não sofrê-los é o ideal do direito natural. 
Há nisso uma simbologia, uma artificialidade, uma convenção traçada entre os homens no sentido de debelar todo tipo de conduta que possa interferir no viver alheio; assim, se não se sofre o mal, também se está obrigado a não causar nenhum mal.
Tal convenção tem por objeto o prazer geral da sociedade e a garantia da tranquilidade e do equilíbrio das relações que envolvem uma pluralidade de indivíduos. 
A justiça não tem serventia de si para consigo mesma, tendo-se em vista que sua utilidade se encontra no caráter relacional que sustenta. Assim, onde há relações humanas, há justiça. E justiça consiste em conservar-se longe da possibilidade de causar dano a outrem e de sofrê-lo. 
Praticar a injustiça é construir para si o tormento da perseguição. 
 Se há que se evitar a dor, há também que evitar a injustiça. 
 A justiça não só é necessária, mas sobretudo, é útil socialmente.
Pode-se dizer que a justiça é igual para todos; isso, no entanto, não a exime de por vezes causar injustiça, pois o que parece estar atrás do pensamento epicúreo é a afirmação de Aristóteles de que se dê igualmente aos iguais e desigualmente aos desiguais, uma vez que a justiça não se aplica somente de modo matemático e certeiro com um único critério indiferente para todos. No desigualar diante de determinadas condições, há justiça.
A justiça não é algo naturalmente instintivo do homem, mas como um pacto útil para sua subsistência da sociedade à medida que evita a causação dos danos mútuos. Isso, porém, não é estanque, variando de tempos em tempos de acordo com as necessidades da comunidade. 
Conclusões 
O epicurismo, é fundamentalmente, uma doutrina filosófica que se orienta, no sentido de afirmar a prevalência do sensório e do empírico na definição do bem agir. Não e nem um Bem Supremo (platonismo), nem a mediedade (Aristotelismo), mas o equilíbrio que proporciona a felicidade ou seja, ataraxia.
A sensação é não só a origem de todo conhecimento, mas sobretudo: o meio pelo qual se conhece o mundo; o fim do agir humano, uma vez que é em busca de uma sensação, a de ausência de dor, que vive o homem; a forma pela qual se torna possível interagir com o mundo, escolhendo comportamentos e agindo, sendo a causa de dor ou de prazer aos demais. 
As sensações desempenham fundamental papel para o homem, é a partir delas que se deve orientar eticamente. 
A ética tem em vista a relação dor/prazer, à medida que o primeiro fator provoca repulsão e o segundo, atração. Assim se governaria o homem em suas escolhas e necessidades, distribuindo seu comportamento e suas ações de conformidade com suas escolhas de dor e prazer.
Esta proposta que repele injustiça por ser causa de dor, e atrai a justiça por ser causa de prazer, não obstante suas diferenças teóricas, possui na ideia e ataraxia um ponto de inequívoco contato com a filosofia estoica.

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