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www.cers.com.br 1 www.cers.com.br 2 3. INQUÉRITO POLICIAL 3.1. Natureza Jurídica do Inquérito Policial O inquérito policial é uma sequência de atos administrativos, sem uma ordem pré-definida em lei, que se realizam, a princípio, de acordo com a discricionariedade da autoridade policial. Assim, se o inquérito policial é uma sequência de atos praticados pela autoridade policial ou sob a sua presidência, caracteriza-se como procedimento de natureza meramente administrativa. Ressalte-se que os atos do inquérito são praticados, em regra, de acordo com a necessidade, utilidade e possibilidade para aquela investigação, ou seja, destaca-se a discricionariedade da autoridade policial na orienta- ção e ordem dos atos de um inquérito policial. Por tal motivo, por não seguir um procedimento pré-definido em lei, o inquérito policial não é um processo, como ocorre com os procedimentos judiciais. Juízes, na presidência dos atos processuais, devem seguir um rito formal, cuja ordem dos atos é definida legalmente. O desrespeito a essa sequência legalmente definida gera, no caso de um processo, nulidade. Repare que no inquérito policial não há que se falar em nulidades. E tal fato se dá porque o inquérito poli- cial não é formal. 3.2. Conceito de Inquérito Policial O Inquérito Policial é um procedimento administrativo, presidido pela autoridade policial, de caráter infor- mativo e inquisitivo, que tem por fim colher prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria, buscan- do viabilizar o exercício da ação penal. 3.3. Finalidade e objeto do Inquérito Policial O art. 4º do CPP estabelece que a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Assim, a finalidade precípua do inquérito policial é a de recolher indícios de autoria e prova da materiali- dade do crime, de forma a viabilizar o exercício da ação penal por seu titular. Contudo, não podemos afirmar que a finalidade do inquérito seria a de garantir o exercício da ação penal, já que, inúmeras vezes, o inquérito atinge seu objetivo, colhendo provas da materialidade e indícios de autoria, e nem por isso a ação penal chega a ser exercida. Veja por exemplo a hipótese na qual, muito embora materialida- de e autoria estejam demonstradas no inquérito, e o Ministério Público acaba por requerer o arquivamento em face da prescrição do crime, morte do agente, ou qualquer outro motivo que inviabilize a ação penal naquele caso concreto. www.cers.com.br 3 Observa-se então que o objeto de investigação de um inquérito policial é o fato, sendo, de acordo com o processo penal moderno, completamente equivocada a ideia de que o objeto do inquérito seria o indiciado. Não estamos mais na Inquisição! E o inquérito policial, embora adote um modelo linear, no qual a autoridade policial, de forma inquisitiva, ou seja, SEM contraditório e ampla defesa, e impessoal, APURA OS FATOS, e não o indicia- do. 3.4. Características do Inquérito Policial 3.4.1. Inquisitivo ou inquisitório O inquérito policial é um procedimento linear presidido pela autoridade policial, que, regida pela impessoa- lidade e discricionariedade, realiza as diligências com a finalidade de esclarecer o fato objeto da investigação. Assim, não se tratando de um procedimento “de partes”, não há que se falar em contraditório e ampla defesa. 3.4.2. Discricionário O delegado de polícia conduz as investigações do inquérito policial de acordo com sua discricionariedade. Isso significa que a autoridade policial que presidir o inquérito realizará diligências de acordo com seu critério de necessidade, possibilidade e utilidade ao esclarecimento do fato criminoso, de suas circunstâncias e autoria. Atua, portanto, dentro de um critério de conveniência e oportunidade. A discricionariedade do inquérito policial comporta, entretanto, algumas exceções: exame de corpo de de- lito; requisição do Juiz ou do Ministério Público e auto de prisão em flagrante. 3.4.3. Dispensável O Inquérito policial não passa de uma peça de informação, podendo ser substituído por peças outras des- de que os elementos necessários ao exercício da ação penal ali estejam presentes. 3.4.4. Sistemático Embora não possua um rito pré-estabelecido em lei, o que acarreta a afirmação de que o inquérito não é formal, é evidente que a autoridade policial realiza as diligências numa ordem que depende de seu próprio juízo de oportunidade ou conveniência. No entanto, o destinatário do inquérito é órgão distinto daquele que presidiu as investigações. Espera-se que o delegado, antes de remeter o inquérito ao Ministério Público, elabore um relatório que demonstre a orientação por ele adotada durante as investigações. Porém, o inquérito não é formal, e eventu- ais vícios não passam de meras irregularidades, motivo pelo qual um inquérito pode ter um, vários ou nenhum relatório. www.cers.com.br 4 Por tal motivo, é importante que os autos de inquérito estejam organizados respeitando a cronologia das diligências realizadas. Daí falarmos que o inquérito é sistemático. 3.4.5. Unidirecional O IP é instaurado para apurar determinado fato, objeto daquela investigação, NÃO podendo a autoridade policial direcionar as diligências ali realizadas para fatos estranhos àquele procedimento. Assim, as diligências realizadas em um inquérito visam esclarecer a materialidade e a autoria do fato objeto da investigação policial. 3.4.6. Escrito Prevalece no inquérito a forma documental. Ainda que existam atos produzidos oralmente, devem eles ser necessariamente reduzidos a termo. O inquérito é escrito, o que, aliás, é característica eminentemente inquisitiva. 3.4.7. Sigiloso O sigilo do inquérito tem duas finalidades: a primeira, obviamente, é a de garantir que as próprias diligên- cias se realizem; enquanto a segunda é garantia do próprio indiciado, contra quem ainda não há indícios suficien- tes, não se justificando que as meras suspeitas sejam do conhecimento do público em geral. Assim, caso nada fique comprovado contra o indiciado, será ele devolvido “à sociedade” no status quo ante. No momento em que uma das funções do sigilo do inquérito é a de resguardar a figura do próprio indicia- do, não pode ele ser prejudicado por uma garantia que possui, motivo pelo qual o advogado tem garantido o acesso às diligências já realizadas. Tal garantia é assegurada pelo art. 7º, XIV, do Estatuto da Ordem dos Advo- gados do Brasil (Lei n o . 8.906/94). A Súmula Vinculante 14 apenas explicita a prerrogativa estabelecida pela Lei n o . 8.906/94, mas, ressalte- se, não alcança diligências investigatórias de natureza sigilosa ainda em curso, e sim aquelas já encerradas e documentadas nos autos do inquérito policial. 3.4.8. Indisponível Embora regido pela oficialidade (pois o inquérito é conduzido pela polícia judiciária, ou seja, pela Polícia Federal ou pela Polícia Civil, órgãos de direito público), e pela oficiosidade (em regra, os atos devem ser impulsio- nados de ofício pela autoridade policial), não poderá o delegado de polícia desistir ou arquivar o inquérito policial. 3.5. Prazo do Inquérito O art. 10 do CPP estabelece que o inquérito deverá ser concluído em 10 (dez) dias em caso de indiciado preso, e em 30 (trinta) dias no caso de indiciado solto ou quando não houver indiciado. www.cers.com.br 5 Este prazo é, no entanto, prazo genérico, devendo ser observada eventual disposição específica em leis extravagantes. Assim, é no caso dos inquéritosem curso na Polícia Federal, já que o art. 66 da Lei n o . 5.010/66 estabelece o prazo de 15 (quinze) dias no caso de indiciado preso, podendo este prazo ser prorrogado fundamen- tadamente por mais 15 (quinze) dias. Referida lei não apresenta um prazo para inquéritos de soltos, aplicando-se o prazo de 30 (trinta) dias do CPP. Da mesma forma, a Lei de Tóxicos (Lei n o . 11.343/2006) apresenta prazo especial no art. 51: 30 (trinta) dias para inquéritos de presos e 90 (noventa) dias para inquéritos de soltos, podendo tais prazos serem duplica- dos em caso de extrema necessidade. Devemos lembrar que o prazo de conclusão do inquérito em qualquer uma das hipóteses acima é, na ver- dade, prazo para a remessa dele ao Ministério Público que, entendendo pela necessidade de continuidade das investigações, baixará os autos de volta à delegacia por um novo prazo, requisitando diligências. 3.6. Arquivamento e desarquivamento do Inquérito Uma vez concluído o Inquérito Policial, o mesmo é remetido ao Ministério Público que, na forma do art. 46 do CPP, terá o prazo de 05 (cinco) dias, se o indiciado estiver preso, ou 15 (quinze) dias, se o indiciado estiver solto, para oferecer denúncia. Não podemos fazer interpretação literal. A leitura do art. 46 nos indica, na verdade, que o Ministério Públi- co tem aquele prazo para formar a opinio deliciti, ou seja, analisar as peças de informação, verificando a presença ou ausência dos requisitos necessários ao exercício da ação penal, podendo: oferecer denúncia, devolver os au- tos à delegacia para continuidade da investigação ou ainda requerer o arquivamento. Quando o membro do Ministério Público requer o arquivamento do inquérito ao juiz, havendo discordância, o mesmo aplicará o disposto no art. 28 do CPP, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá: oferecer a denúncia; designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia; insistir no pedido de arquivamento, ao qual terá o juiz que atender. Na hipótese do Procurador Geral designar outro promotor ou procurador para oferecer a denúncia, este membro do MP recebe verdadeira delegação e, apesar de inúmeras críticas doutrinárias, atua como longa manus, devendo, apesar de sua independência funcional, oferecer denúncia. O arquivamento do Inquérito Policial tem natureza jurídica de ato administrativo complexo ou composto, uma vez que somente se concretiza com a participação do Ministério Público, formador da opinião sobre o crime (opinio delicti), e do Juiz, fiscal do princípio da obrigatoriedade que rege a atuação do MP. Por tal motivo, a decisão de arquivamento é administrativa, e dela não há possibilidade de recurso, motivo pelo qual não faz coisa julgada (exceção à regra geral está na hipótese da promoção de arquivamento fundar-se na atipicidade da conduta ou ainda na extinção da punibilidade), sendo possível, diante do surgimento de novas provas, o desarquivamento do inquérito ou mesmo o exercício da ação penal. Neste sentido, temos o art. 18 do CPP e a súmula 524 do STF. www.cers.com.br 6 ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL www.cers.com.br 7
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