Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Patologia da malária (1) A malária é doença sistêmica que pode afetar a maioria dos órgãos, variando sua gravidade dentro de amplos limites. Produz anóxia dos tecidos devido a vários fatores como a destruição de hemácias, ao serem liberados os merozoítas, no fim de cada ciclo esquizogônico. Na terçã maligna, as hemácias parasitadas apresentam protrusões da membrana e antígenos de superfície que aumentam sua adesividade aos endotélios. Essa adesividade pode causar a obstrução de pequenos vasos, sobretudo no sistema nervoso central. Patologia da malária (2) O consumo de glicose pelos plasmódios é intenso, reduzindo as reservas hepáticas de glicogênio. A hipoglicemia ocorre nas infecções por P. falciparum, seja em suas formas graves, seja nas mulheres gestantes, lactantes ou crianças. A hemozoína produzida pelo metabolismo dos plasmódios acumula-se nas células mortas. Estas células são fagocitadas por macrófagos, e levam a uma pigmentação escura do fígado, baço e outros órgãos, sobretudo na malária crônica. Lentamente, a hemozoína é transformada em hemossiderina e reaproveitada pelo organismo do hospedeiro. Alterações anátomo e fisiopatológicas Há anemia de grau variável visto que, na terçã benigna, são destruídas 0,5 a 1% das hemácias, em cada esquizogonia eritrocítica. Na terçã maligna, a destruição pode ir de 2 a 5% das hemácias. A permeabilidade capilar e os edemas aumentam com a hipoproteinemia, sobretudo na terçã maligna. Formam-se trombos ou êmbolos devidos à aderência das hemácias ao endotélio vascular, o que produz zonas de necrose, principalmente no SNC. Alterações anátomo e fisiopatológicas Diferentes graus de esplenomegalia No baço - O órgão apresenta-se dila-tado, congesto e de tonalidade escura, com os capilares e seios venosos repletos de hemácias parasitadas. O quadro é o de uma esplenomegalia, de grau variável. No fígado - O mesmo se passa nesse órgão, podendo haver hepatomegalia nas formas crônicas. Na medula - Hiperplasia do sistema fagocitário e reação eritroblástica. Redução da granulocitose. No cérebro - Na terçã maligna, há congestão, edema, microembolias ou tromboses capilares. O quadro clínico da malária O período de incubação dura cerca de 12 a 30 dias, com amplas variações. Sintomas precursores podem surgir nesse período, como cefaléia, mal-estar, dores pelo corpo e ligeira febre, mas o quadro típico costuma instalar-se com as esquizogonias sanguíneas. O acesso malárico apresenta 3 fases: 1. O início costuma ser súbito, com sensação de frio inten-so ou calafrios, quando a febre já se encontra em elevação. O paciente apresenta-se pálido e cianótico, com a pele fria. O frio passa depois de 15 minutos a meia hora. 2. Em seguida, o paciente sente muito calor, com forte cefaléia, febre (39-40ºC), durante 2 a 4 horas, o que o faz rejeitar as cobertas. 3. Na última fase, a temperatura cai, ocorre sudorese abundante e o doente sente-se aliviado. Formas graves da malária (1) Os quadros graves são devidos à infecção por P. falciparum. Características que podem estar presentes: Quadro de malária cerebral (confusão, delírio, torpor ou coma). Anemia grave (taxa de hemoglobina abaixo de 8%). Icterícia (bilirrubina sérica total acima de 2,9 mg/dl). Insuficiência renal (excreção urinária < 400 ml/dia). Colapso circulatório (choque, hipotensão). Outras alterações podem ocorrer, tais como edema pulmonar, hemoglobinúria, distúrbios hemorrágicos e da coagulação, hipoglicemia, infecções associadas etc. Formas graves da malária (2) Distribuição Mundial da malária por P. falciparum Formas graves da malária (3) Malária cerebral. É vista em 1 a 2% das infecções por P. falciparum, em indivíduos não imunes, sendo responsável por 80% dos óbitos por malária. Apresenta febre, cefaléia, confusão mental e sonolência. Convulsões e vômitos podem preceder o coma, sobretudo antes dos 5 anos. Os diversos quadros podem simular embriaguez, meningite, encefalite, epilepsia etc. Malária grave em crianças. A malária é grave e potencialmente fatal em lactentes e crianças com menos de 5 anos. A imunidade materna pode protegê-las nos primeiros meses. A mortalidade é máxima nos 2 primeiros anos, declinando depois. Diagnóstico clínico Em pacientes com febre intermitente procedentes de áreas endêmicas ou que estiveram em zonas malarígenas, mesmo que por pouco tempo (viajantes e turistas, p. ex.), suspeitar de malária. Também naqueles que tenham recebido transfusão de sangue ou hemoderivados, deve-se pensar em malária. Na falta de exame de sangue ou quando este for negativo, os fatos mais sugestivos de malária são: 1. Febre intermitente com sintomas que se repetem com regularidade a cada 48 ou 72 horas. Diagnóstico clínico 2. Anemia hipocrômica com taxa de leucócitos normal ou ligeiramente baixa e percentagem elevada de monócitos. Alguns leucócitos podem conter pigmento. 3. Baço aumentado e doloroso. 4. Residência ou procedência de zona endêmica. 5. Resposta favorável e rápida aos antimaláricos. Devem ser excluídas outras doenças que possam apresentar o mesmo quadro clínico. Diagnóstico laboratorial O método mais seguro e mais utilizado para o diagnóstico é demonstrar a presença de Plasmodium no sangue do paciente. O exame deve ser feito o mais breve possível para se evitarem as formas grave da malária. Preparar um esfregaço de sangue, como indica a figura, fixá-lo e corá-lo pelo método de Giemsa ou equivalente. Recomenda-se também fazer uma preparação de “gota espessa”, que será desemoglobinizada, fixada e corada. A busca de plasmódios deve ser minuciosa e feita por um profissional competente. A espécie do plasmódio deve ser identificada, para orientar a escolha da terapêutica adequada a cada caso. Tratamento da malária (1) O tratamento varia com a ocorrência de resistência das espécies ou linhagens de Plasmodium aos diferentes medicamentos. As amino-4-quinoleínas são muito eficazes contra as formas assexuadas. Esse é o efeito esquizonti-cida sanguíneo. Elas são menos ativas contra os gametócitos e totalmente inativas contra os gametócitos de P. falciparum ou os esquizontes hepáticos. A cloroquina é a mais usada desse grupo por ser de absorção rápida e por se concentrar nas hemácias parasitadas 600 vezes mais que no plasma. Cloroquina Tratamento da malária (2)Tratamento da malária (2) As amino-8-quinoleínas mostram-se pouco ativas contra as formas assexua-das sanguíneas, mas efica-zes contra esquizontes hepáticos. Elas previnem, portanto, o ciclo eritrocítico e asseguram a cura radical depois de um surto agudo. Destroem também os gametócitos sanguíneos. A droga mais usada, asso-ciada a um esquizonticida sanguíneo, é a primaquina. Primaquina Tratamento da malária (3) Quinina – É um alcalóide encontrado na casca da quina (a Cinchona ledgeriana) e tem um núcleo quinoleína. Foi o primeiro antimalárico utilizado e o único disponível, durante anos. Quinina A quinina não age sobre as formas teciduais de plasmódios. Portanto, o tratamento eficaz deve ser combinado com a pirimetamina-sulfadoxina ou com tetraciclina, a fim de serem evitadas as recaídas de malária. O sulfato de quinina é mais conhecido como quinino. Atualmente, usa-se somente quando houver resistência aos outros antimaláricos e nas infecções graves por P. falciparum. Administrar a medicação 3 vezes ao dia, durante 2 ou 3 dias. Pirimetamina - É uma pentamidina e poderoso supressivo da malária que age contra o ciclo esquizogônico hepático e impede a evolução dos gametócitos no tubo digestivo dos mosquitos. É absorvida lentamente pelo intestino. Sua ação sobre as esquizogonias sanguíneas é eficaz, mas lenta. A toxicidade é baixa,mas com doses altas ou tratamento prolongado produz ataques convulsivos e trombocitopenia. Tratamento da malária (5) Pirimetamina Em áreas onde se faz quimioprofilaxia intensiva, induz a produção de linhagens resistentes de P. falciparum. Tratamento da malária (7) Artemisina e derivados Principio ativo da planta chinesa (Artemisia annua) de uso popular contra a febre há mais de 1.000 anos – de nome qinghaosu. Vários derivados da artemisina, que é pouco solúvel, estão sendo utilizados: O emprego dessas drogas deve ser reservado para o tratamento da malária por P. falciparum resistente a outros medicamentos. - o arteméter (intramuscular), - o artesunato (endovenoso) e outros que se mostram mais eficazes que o princípio ativo vegetal. Eles agem rapidamente e são também de eliminação rápida. Mostram-se superiores às quinoleínas, no tratamento da malária simples ou grave, e são praticamente sem efeitos colaterais. Tratamento segundo o nível de atendimento Atendimento básico (cuidados primários de saúde): O agente sanitário ou enfermeiro deve tomar uma amostra de sangue em todos os casos de febre (excluídos os casos de etiologia clara, como sarampo, amigdalites, otites etc.). Aos suspeitos de malária administrar o tratamento pre-suntivo (600 mg de cloroquina-base ou amodiaquina, via oral, um só dia, para os adultos). Se comprovado o diagnóstico laboratorial, dar o tratamento radical. Os pacientes graves serão encaminhados ao Centro de Saúde ou Hospital. Tratamento segundo o nível de atendimento Nos Centros de Saúde ou Hospitais: Estabelecer sem demora o diagnóstico laboratorial e, se positivo, instituir o tratamento radical. Onde não houver resistência, tratar com cloroquina. As formas mais graves devem receber a orientação de um especialista. Depois, medicamentos adequados devem ser dados para prevenir recrudescências ou recaídas, assim como impedir a transmissão pelos mosquitos. Prognóstico na maláriaPrognóstico na malária Um tratamento correto assegura quase sempre um excelente prognóstico, com total recuperação do paciente. Nas infecções por P. vivax, costuma haver recaídas, nos casos tratados, até 3 anos depois da cura. Só a medicação com as amino-8-quinoleínas pode impedi-las. (primaquina) É com P. malariae que se observam as recaídas mais tardias, podendo ocorrer mesmo depois de 20 anos da cura. A freqüência das recaídas depende inclusive das condições epidemiológicas. Ela varia de 15%, em áreas de baixa endemicidade, a 80% nos focos epidêmicos de P. vivax.
Compartilhar