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68 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Unidade II Na Unidade II são abordados outros tópicos especialmente voltados para as questões do pensamento lógico e da tomada de decisão. 5 Decisão multicritério Quando alguém toma uma decisão com base em um único critério, por exemplo, preço, a decisão é fácil de tomar. Quando os critérios para decidir são dois ou mais, como preço, qualidade e despesas adicionais, a tomada de uma decisão racional torna‑se mais complexa. O método Trade‑Off Decision Analysis (T‑ODA), abordado neste capítulo, tem exatamente o objetivo de propiciar decisões multicritério racionais por meio de um processo simples. Embora esse método possa, na sua forma básica, ajudar qualquer pessoa a tomar uma decisão multicritério de forma racional, ele foi ampliado com vistas a atender executivos e gerentes em decisões táticas e operacionais subordinadas à vantagem competitiva que a empresa busca manter ou ampliar. Para tal, é operado conjuntamente com o modelo Campos e Armas da Competição (CAC). Para se diferenciar o processo original T‑ODA e para marcar sua subordinação à estratégia da empresa, designa‑se este último por ST‑ODA: Strategic Trade‑Off Decision Analysis. 5.1 t‑oDA – trade‑off Decision Analysis Meireles e Sanches (2009) publicaram uma obra seminal sobre o método de decisão multicritério T‑ODA. Este se insere no campo de apoio à decisão multicritério (ADM) que pode ser definido como um conjunto de técnicas de apoio à tomada de decisão, que têm a finalidade de investigar alternativas, considerando múltiplos critérios e objetivos em conflito. É possível gerar soluções de compromisso e uma hierarquização de tais alternativas, de acordo com o grau de atração destas para o tomador de decisão (GOMES, GOMES e ALMEIDA, 2002). Segundo Bouyssou (1993), uma abordagem multicritério apresenta as seguintes vantagens: • construção de uma base para o diálogo entre os intervenientes utilizando diversos pontos de vista comuns; • maior facilidade em incorporar incertezas aos dados sobre cada ponto de vista; • interpretação de cada alternativa como um compromisso entre objetivos em conflito. Classicamente podem ser definidas três problemáticas multicritério: ordenação, escolha e alocação em classes (BARBA‑ROMERO e POMEROL, 1997). 69 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr T‑ODA (Trade‑Off Decision Analysis) é o modelo de decisão multicritério básico proposto na obra de Meireles e Sanches (2009). Em relação aos modelos concorrentes, e em especial ao modelo AHP, o T‑ODA destaca‑se pelo fato de prescindir dos trabalhosos e complexos cálculos para mostrar se há ou não consistência nas avaliações dos decisores. Nesse modelo, a consistência é obtida automaticamente. Com base no T‑ODA, com algumas alterações, obtêm‑se dois outros importantes modelos: • T‑ODAG (Trade‑Off Decision Analysis in Group) é o modelo recomendado para o processo de tomada de decisão multicritério em grupo. Aplicável especialmente para grupos de trabalho no nível operacional. Decisões ligadas ao gerenciamento da rotina do dia a dia podem ser tomadas pelo T‑ODAG. É um modelo muito útil para as microempresas e pequenas empresas, na medida em que busca o consenso e a diluição da responsabilidade pelas decisões. • ST‑ODA (Strategic Trade‑Off Decision Analysis) é o modelo que serve ao processo de tomada de decisões gerenciais multicritério subordinadas à vantagem competitiva. Aplicável a decisões táticas e estratégicas, isto é, decisões de nível acima do operacional. Pode ser adotado por empresas de qualquer porte. O princípio que norteia o ST‑ODA é o de que duas empresas, usando os mesmos critérios e as mesmas avaliações, não poderão chegar à mesma decisão se estiverem, estrategicamente, competindo de modos diferentes. Por exemplo, duas empresas, Alfa (competindo em menor preço) e Beta (competindo em maior qualidade), usando um modelo (T‑ODA ou AHP) numa decisão estratégica, com as mesmas avaliações, não podem chegar a uma decisão igual. Para auxiliar os gestores a tomar decisões estratégicas que mantenham ou ampliem a vantagem competitiva da empresa, é necessário complementar o modelo de decisão T‑ODA com um modelo Campos e Armas da Competição (CAC), de Contador (1996). Esse modelo foi escolhido por ser qualitativo, quantitativo e muito adequado para considerações decisórias – seja de compra, seja de venda – que, de alguma forma, possam impactar a competitividade de uma empresa. 5.2 tomada de decisão Chama‑se aqui a atenção para a importância de os gestores organizacionais tomarem decisões racionalmente. Uma pesquisa realizada pela universidade de Ohio (2002, p. 143) com diferentes tipos de organizações da América do Norte levou a: Uma conclusão assustadora. Os executivos erram a mão em mais da metade das decisões que tomam. Segundo os dados coletados, técnicas equivocadas de tomada de decisão custam bilhões de dólares todo ano em tempo e dinheiro desperdiçados (OHIO UNIVERSITY, 2002, p. 143). Vale a pena chamar a atenção para a perda de bilhões de dólares anualmente. Se as grandes empresas podem arcar com esse prejuízo, sabe‑se bem que as micro e pequenas estão longe de poder suportar perdas que podem ser evitadas com um esforço da gerência. O estudo aponta que, “em 60% dos casos, pouco havia sido feito para identificar as alternativas” e “mais de um terço dos executivos usou métodos ineficazes para avaliar as opções”. Acaba por concluir que “uma pequena melhoria no modo como as decisões são tomadas pode ter um efeito radical” (OHIO UNIVERSITY, 2002 p. 45; 150‑2). 70 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 5.2.1 Tomada de decisão O conceito de decisão vem do latim de‑cidere, “separar, cortar”. Indica um processo de redução das possibilidades de ação e, com tal, representa um dos núcleos mais problemáticos da racionalidade ocidental. Na medida em que evoca uma relação entre a razão e ação, a decisão reveste‑se das interrogações sobre os fundamentos da atuação humana (MALDONATO, 2005). 5.2.2 Etapas do Modelo Racional de Tomada de Decisão O Modelo Racional de Tomada de Decisão é usado geralmente por organizações que pesam suas opções e calculam níveis de risco ótimos. Assim acreditam ser possível minimizar a incerteza, possibilitando uma decisão que assegura o sucesso da ação com efeitos duradouros, dizem Stoner e Freeman (1999). A Teoria Clássica da Administração via na organização capacidade absoluta de maximização de utilidades. Essa concepção de racionalidade pressupunha habilidade intelectual e possibilidade de absorver informações que as pessoas não possuem (SIMON, 1979 apud BIN e CASTOR, 2007, p. 37). Para Megginson, Mosley e Pietri Jr. (1998, p. 194), a tomada de decisão, “na administração, pode ser definida como a escolha consciente de um rumo de ação entre várias alternativas possíveis para se chegar a um resultado desejado”. Montana (1999, p. 74) refere que “o processo de tomada de decisão é a sequência de eventos abordados pela administração para solucionar problemas em seus negócios, um processo sistemático [...]”. Robbins (2002, p. 57), por sua vez, ressalta que “[...] tomar decisões é um elemento crítico na vida organizacional. A decisão reside tanto na seleção adequada do problema como na escolha da alternativa correta”. Para Pavesi (1978 apud BARCAUI, 2010), o modelo racional exige do decisor um conhecimento claro a respeito de seu sistema de preferências e suas alternativas, sobre o comportamento dos elementos do universo em questão, de uma forma de medir estes elementos, deuma metodologia suficientemente rigorosa para chegar a apreciações razoavelmente aceitáveis e de uma quantidade adicional de variáveis, elementos e métodos para esta medição (PAVESI, 1978 apud BARCAUI, 2010, p. 2). Robbins (2009) entende que os gerentes supostamente deveriam usar um processo racional de tomada de decisão, ou seja, fazer escolhas consistentes, maximizando o valor dentro de limitações específicas. Tal processo deveria ter as seguintes etapas: • definir o problema; • identificar os critérios de decisão; • atribuir pesos específicos a esses critérios; • desenvolver alternativas; 71 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr • avaliar as alternativas; • escolher a melhor opção. Na definição do problema, o que se espera do decisor é assertividade, porquanto tomar uma boa decisão não significa decidir rapidamente, mas fazer opções objetivas, com base em um conhecimento profundo do problema por parte dos decisores. Na identificação dos critérios de decisão, a pergunta que se faz é: quais critérios serão importantes para a escolha? Nessa fase, determina‑se o que é relevante para a decisão. A identificação de um critério que é importante para um decisor pode não parecer relevante para outros. Deve‑se ter em mente que quaisquer fatores não identificados nessa etapa serão considerados irrelevantes para o decisor. Por exemplo, critérios relevantes para a compra de um carro podem ser: preço, facilidade de pagamento, consumo na estrada, custo periódico de manutenção. É possível que um decisor possa considerar cor e design como critérios que devem também ser levados em conta. Ao dar pesos específicos a esses critérios, o decisor define uma importância relativa de cada critério em relação aos demais para o objetivo da decisão. Normalmente, a soma dos pesos é 1. No exemplo que se vem considerando, os pesos poderiam ser: • preço: 0,3; • facilidade de pagamento: 0,1; • consumo na estrada: 0,4; • custo periódico de manutenção: 0,2. Nesse caso, o consumo do veículo teria uma importância maior do que o próprio preço. Observar que os valores apresentados são os pesos dos critérios e devem ser cuidadosamente estabelecidos usando a técnica trade‑off. Para desenvolver alternativas, o decisor procura possíveis opções com o fim de selecionar e aplicar uma delas, objetivando a decisão. Continuando com o exemplo, a compra de um carro pode ter as seguintes alternativas: • Chevrolet Celta 1.0 MPFI Life 8V Flexpower duas portas: R$ 22.290,00; • Volkswagen Gol 1.0 MI 8V Total Flex quatro portas: R$ 27.200,00; • Fiat Uno 1.0 MPI Mille Fire Economy 8V Flex quatro portas: R$ 24.590,00; • Ford Ka 1.0 MPI 8V Flex duas portas: R$ 23.790,00. 72 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Para avaliar as alternativas, faz‑se uso sistemático das informações disponíveis, examinando e organizando todos os aspectos. Os pontos fortes de cada alternativa tornam‑se evidentes quando comparados com os critérios e pesos definidos na segunda e na terceira fase. Para escolher a melhor alternativa, deve‑se comparar o resultado obtido pelas opções e optar por aquele de melhor valor. Robbins (2009) entende que para esse modelo ter um melhor aproveitamento é necessário que a situação tenha as seguintes características: • clareza do problema (informações completas): o problema está claro, sem ambiguidades, e o tomador de decisões deve ter todas as informações sobre a situação da decisão; • conhecimento das opções (critérios e alternativas): o tomador de decisão deve identificar todos os critérios relevantes e listar todas as alternativas variáveis; mais que isso, deve estar ciente de todas as consequências possíveis de cada uma das alternativas; • clareza das preferências (pesos dos critérios): a racionalidade assume que critérios e alternativas podem ser classificados e ponderados de acordo com sua importância relativa; • preferências constantes: assume‑se que os critérios específicos de decisão são constantes e que os pesos atribuídos a estes são estáveis no decorrer do tempo; • ausência de limitação de tempo ou custo: o tomador de decisão racional pode obter todas as informações sobre critérios e alternativas porque se assume não haver quaisquer limitações de tempo e custo; • retorno máximo: o tomador de decisão racional escolherá a alternativa que resulte no máximo de valor percebido. Stoner e Freeman (1999) chamam a atenção para o risco que se corre no processo de tomada de decisão, porquanto nenhuma abordagem, por melhor que seja, pode garantir que o decisor tome sempre a decisão correta. Nesse sentido, o modelo de racionalidade pode servir de base para explicar como as decisões realmente são tomadas. A respeito disso, Robbins (1999) entende que como a capacidade humana para formular e resolver problemas complexos é pequena demais para atender aos requisitos da racionalidade plena, os decisores operam dentro dos limites da racionalidade limitada: eles constroem modelos simplificados que captam as características essenciais dos problemas, sem considerar toda a sua complexidade. Em relação a isso, Simon (1979) diz que existe uma limitação clara da racionalidade humana caracterizada por uma total impossibilidade de análise de todas as informações, alternativas e dimensões envolvidas no processo decisório, o que acarreta inconsistência com a decisão ótima apregoada pela decisão ideal normativa. 73 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Sobre os valores subjetivos que influenciam as decisões, Simon (1979) afirma: Uma decisão pode ser chamada objetivamente racional se representa de fato o comportamento correto para maximizar certos valores numa da situação. É subjetivamente racional se maximiza a realização com referência ao conhecimento real do assunto. É conscientemente racional na medida em que o ajustamento dos meios aos fins visados constitui um processo consciente. É deliberadamente racional na medida em que a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada (pelo indivíduo ou pela organização). Uma decisão é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da organização; é pessoalmente racional se visar os objetivos do indivíduo (SIMON, 1979, p. 90). Para Simon (1979), o modelo de decisão deve seguir quatro fases, da seguinte forma: • inteligência ou investigação: identificação de problemas e coleta de dados, considerando a questão: “Qual o problema?”; compreende a análise do ambiente onde é feita a coleta e o processamento de informações, de forma que se identifiquem as oportunidades e ameaças; • desenho ou concepção: construção e análise das alternativas disponíveis, levando em conta a questão: “Quais são as soluções possíveis?”; consiste em analisar os possíveis cursos de ação, formular o problema, construir e analisar as alternativas viáveis para uma situação que requer decisão; • escolha da melhor alternativa: a questão é: “Qual é a melhor alternativa”?; seleciona uma determinada linha de ação dentre as disponíveis, sendo essa escolha definida por um número restrito de informações captadas, de acordo com a limitação de racionalidade e de cognição; • revisão: essa fase consiste em avaliar as escolhas passadas, de forma que retroalimente o sistema futuro por meio do aprendizado passado. Em síntese, o processo racional de tomada de decisão pode ser concebido como ilustra a Figura 10: Processo racional de tomada de decisão Definição do problema Comprar um carro: GM, VW ou FIATPreço, consumo, design, manutenção anual Consumo 0.4 Preço 0.3 Manutenção 0.2 Design 0.1 GM = 22 FIAT = 43 VW = 35 FIAT Definição do problema Determinar a importância relativa de um critério face aos demais critérios Quais critérios serão importantes para a decisão Definir a alternativa que contribui mais para o objetivo da decisão Calcular qual alternativa contribui mais para o objetivo da decisão Identificação dos critérios de decisão Dar pesos específicos aos critérios Escolher a melhor alternativa Avaliar cada alternativa Figura 10 – Processo racional de tomada de decisão 74 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 5.2.3 Estabelecer os pesos Tão importante quanto definir os critérios numa decisão é estabelecer a importância relativa de cada um, é estabelecer os seus pesos. Uma das técnicas mais precisas é a trade‑off: nesta, o decisor compara todos os possíveis pares de objetos do conjunto apresentado. A técnica trade‑off é uma importante ferramenta para se determinar a preferência relativa em relação a um dado conjunto de variáveis. Um exemplo envolvendo a compra de um carro ilustra a aplicação da técnica. Nele, há os seguintes critérios: • preço; • facilidade de pagamento; • desempenho de consumo na estrada; • custo periódico de manutenção; • IPVA e licenciamento. O preço do veículo corresponde, em moeda corrente ($), a algo em torno de $ 25.000. A facilidade de pagamento pode ser expressa pela quantidade de parcelas. O desempenho de consumo na estrada é medido em quilômetros por litro. Quanto mais, melhor. Um carro tem uma vida útil de 150.000 km. Se o veículo fizer cerca de 12 km/l, ele consumirá, durante a sua vida útil, algo em torno de 12.500 l. Ao preço de hoje, o combustível custa cerca de $ 36125,00 ($ 2,89 o litro). Ou seja: o custo do combustível durante a vida útil é cerca de $ 1,45 mais caro do que o carro. O custo da manutenção pode ser um valor porcentual do veículo: algo em torno de 20% do valor do carro por ano. IPVA e licenciamento representam 20% do valor do veículo. Assim, podem ser considerados os seguintes critérios: • preço (em $): quanto maior, pior; • facilidade de pagamento: quanto mais parcelas, melhor; • desempenho de consumo (em km/l): quanto maior o desempenho do veículo, melhor; 75 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr • manutenção (em $/ano): quanto maior, pior; • IPVA e licenciamento (em $/ano): quanto maior, pior. Listam‑se os critérios: • preço; • pagamento; • consumo; • manutenção; • IPVA. Seguindo a mesma ordem dos critérios, prepara‑se a tabela trade‑off: seleciona‑se o primeiro critério para comparar com os restantes, deixando duas colunas (A e B) no meio. Tabela 5 – Montagem da tabela de comparação (passo 1) A B Preço Pagamento Consumo Manutenção IPVA Agora, faz‑se o mesmo, comparando o elemento do topo (pagamento) com os demais: Tabela 6 – Montagem da tabela de comparação (passo 2) A B Preço Pagamento Consumo Manutenção IPVA Pagamento Consumo Manutenção IPVA Repete‑se a operação, comparando o novo elemento do topo (consumo) com os demais: 76 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Tabela 7 – Montagem da tabela de comparação (passo 3) A B Preço Pagamento Consumo Manutenção IPVA Pagamento Consumo Manutenção IPVA Consumo Manutenção IPVA Por fim, completa‑se a tabela trade‑off: Tabela 8 – Montagem da tabela de comparação (passo 4) A B Preço Pagamento Consumo Manutenção IPVA Pagamento Consumo Manutenção IPVA Consumo Manutenção IPVA Manutenção IPVA Com base nessa tabela trade‑off se fará a comparação criteriosa, mediante distribuição, entre as colunas A e B, de quaisquer valores que mostrem a importância relativa do que se está comparando. O ideal é utilizar o conceito de comparação pivô. Estabelece‑se um valor para a primeira coluna (no exemplo, 8 para o preço) e os valores relativos para as demais: Tabela 9 – Preenchimento da tabela de comparação (passo 1) A B Preço 8,00 2,00 Pagamento 8,00 11,00 Consumo 8,00 3,00 Manutenção 8,00 4,00 IPVA Pagamento Consumo Manutenção IPVA 77 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Consumo Manutenção IPVA Manutenção IPVA A Tabela 9 mostra os demais critérios em relação ao critério preço, considerado pivô. Na comparação do pagamento, coloca‑se o valor 2 nos espaços correspondentes. Tabela 10 – Preenchimento da tabela de comparação (passo 2) A B Preço 8,00 2,00 Pagamento 8,00 11,00 Consumo 8,00 3,00 Manutenção 8,00 4,00 IPVA Pagamento 2,00 11,00 Consumo 2,00 3,00 Manutenção 2,00 4,00 IPVA Consumo Manutenção IPVA Manutenção IPVA Para consumo, coloca‑se o valor 11 em todos os espaços referentes a esse critério: Tabela 11 – Preenchimento da tabela de comparação (passo 3) A B Preço 8,00 2,00 Pagamento 8,00 11,00 Consumo 8,00 3,00 Manutenção 8,00 4,00 IPVA Pagamento 2,00 11,00 Consumo 2,00 3,00 Manutenção 2,00 4,00 IPVA Consumo 11,00 3,00 Manutenção 11,00 4,00 IPVA Manutenção IPVA 78 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Por fim, faz‑se a última comparação: Tabela 12 – Preenchimento da tabela de comparação (passo 4) A B Preço 8,00 2,00 Pagamento 8,00 11,00 Consumo 8,00 3,00 Manutenção 8,00 4,00 IPVA Pagamento 2,00 11,00 Consumo 2,00 3,00 Manutenção 2,00 4,00 IPVA Consumo 11,00 3,00 Manutenção 11,00 4,00 IPVA Manutenção 3,00 4,00 IPVA Depois de estabelecidos os valores, é calculada a relação trade‑off (RTO), que consiste na divisão da coluna A pela coluna B e 1/RTO. Tabela 13 – Cálculo da relação trade-off A B RTO 1/RTO Preço 8,00 2,00 Pagamento 4,00 0,25 8,00 11,00 Consumo 0,73 1,38 8,00 3,00 Manutenção 2,67 0,38 8,00 4,00 IPVA 2,00 0,50 Pagamento 2,00 11,00 Consumo 0,18 5,50 2,00 3,00 Manutenção 0,67 1,50 2,00 4,00 IPVA 0,50 2,00 Consumo 11,00 3,00 Manutenção 3,67 0,27 11,00 4,00 IPVA 2,75 0,36 Manutenção 3,00 4,00 IPVA 0,75 1,33 79 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Com base nos critérios em análise, é feita uma matriz de priorização, como mostrada a seguir: Tabela 14 – Matriz de priorização Matriz de priorização Pr eç o Pa ga m en to Co ns um o M an ut en çã o IP VA Preço Pagamento Consumo Manutenção IPVA Agora se faz uso da coluna de valores RTO. Esses valores são colocados à direita da diagonal, dispostos sequencialmente, como mostrado a seguir: Tabela 15 – Matriz de priorização com os valores de RTO RTO Matriz de priorização Pr eç o Pa ga m en to Co ns um o M an ut en çã o IP VA 4,00 Preço 4,00 0,73 2,67 2,00 0,73 Pagamento 0,18 0,67 0,50 2,67 Consumo 3,67 2,75 2,00 Manutenção 0,75 0,18 IPVA 0,67 0,50 3,67 2,75 0,75 80 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12Agora colocam‑se na matriz de priorização os valores referentes a 1/RTO coluna a coluna, abaixo da diagonal, como mostrado a seguir: Tabela 16 – Matriz de priorização com os valores de 1/RTO 1/RTO Matriz de priorização Pr eç o Pa ga m en to Co ns um o M an ut en çã o IP VA 0,25 Preço 4,00 0,73 2,67 2,00 1,38 Pagamento 0,25 0,18 0,67 0,50 0,38 Consumo 1,38 5,50 3,67 2,75 0,50 Manutenção 0,38 1,50 0,27 0,75 5,50 IPVA 0,50 2,00 0,36 1,33 1,50 2,00 0,27 0,36 1,33 As somas dos valores das linhas fornecem os pesos relativos. Para que o peso se estabelecesse num intervalo de 1 a 10, arredondaram‑se os valores da coluna “soma” e foram divididos por 2. Tabela 17 – Matriz de priorização com os pesos relativos Matriz de priorização Pr eç o Pa ga m en to Co ns um o M an ut en çã o IP VA Soma Peso Preço 4,00 0,73 2,67 2,00 9,40 5,00 Pagamento 0,25 0,18 0,67 0,50 1,60 1,00 Consumo 1,38 5,50 3,67 2,75 13,30 7,00 Manutenção 0,38 1,50 0,27 0,75 2,90 1,00 IPVA 0,50 2,00 0,36 1,33 4,19 2,00 Com esse processo estabeleceu‑se, mediante a técnica trade‑off, os pesos dos critérios. 81 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr saiba mais Veja a obra de Rossoni (2011) sobre decisões multicritério, disponível em: <http://www.faccamp.br/madm/Documentos/producao_ discente/2011/02fevereiro/ClaudioFariasRossoni/uma_pesquisa_ experimental_para_avaliaCAo_da_percepCAo_dos_gestores_da_mpe_ acerca_do_modelo_de_tomada_de_decisAo_multicritErio_t‑oda_ quanto_A_sua_aplicabilidade18‑05‑11.pdf>. Acesso em: 8 out. 2012. 5.3 estudo de caso: escolha de um carro O software de decisão multicritério T‑ODA está disponibilizado gratuitamente em <http://www. tecspace.com.br/toda/>. Acesse o site, como mostra a Figura 11: Figura 11 – Página de abertura do software T‑ODA O próprio site exibe um modelo de decisão multicritério para auxiliar o decisor, como mostra a Figura 12: 82 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Figura 12 – Janela de abertura do T‑ODA. Mapa de decisão multicritério O objetivo é selecionar um veículo para compra. As alternativas são: • Chevrolet Celta 1.0 MPFI Life 8V Flexpower duas portas: R$ 22.290,00; • Volkswagen Gol 1.0 MI 8V Total Flex quatro portas: R$ 27.200,00; • Fiat Uno 1.0 MPI Mille Fire Economy 8V Flex quatro portas: R$ 24.590,00; • Ford Ka 1.0 MPI 8V Flex duas portas: R$ 23.790,00. Os critérios para a escolha e os respectivos pesos já foram vistos: Tabela 18 – Critérios de escolha do veículo e respectivos pesos Critérios Pesos Preço 5,00 Pagamento 1,00 Consumo 7,00 Manutenção 1,00 IPVA 2,00 Inicialmente, clica‑se em “Alternativas” e preenchem‑se as opções estudadas, como mostra a Figura 13. 83 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Figura 13 – Dados das alternativas disponíveis Depois de inserir os dados, clica‑se em “Salvar” e abre‑se a janela seguinte: critérios (Figura 14). Observar que são dados os nomes dos critérios e, para cada um deles, há um sinal (+/‑) indicando se o critério é favorável (+) ou desfavorável (‑) à decisão. Por exemplo: preço, deseja‑se o menor (‑) possível; pagamento, objetiva‑se o maior (+) número de parcelas; desempenho do consumo, interessa ter o maior (+) em km/litro; despesas com manutenção e IPVA, quanto menores forem, (‑) melhor. 84 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Figura 14 – Critérios, sinais e pesos Os pesos dos critérios, já analisados, são também introduzidos. observação Muitas vezes se usa uma “ponderação pivô” em que determinado critério fica com peso 7. Os demais são ponderados em relação a ele: se mais importantes, têm peso 8 (ou mais); se menos importantes, peso 6 (ou menos). A seguir são introduzidos os valores correspondentes aos critérios e às alternativas (Figura 15). Tais valores são pesquisados criteriosamente para que a decisão seja tomada corretamente. • na coluna preço, é colocado o custo do veículo; • na coluna (facilidade de) pagamento, é colocado o máximo de parcelas que a financeira aceita fazer; • na coluna desempenho de consumo, coloca‑se o valor de quantos quilômetros o veículo percorre, em média, com um litro de combustível; • na coluna (despesas com) manutenção, menciona‑se o custo estimado da manutenção num dado período de tempo; • na coluna IPVA (e licenciamento), colocam‑se os custos estimados para tal. 85 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Figura 15 – Valores que os critérios assumem Clica‑se em Salvar, e surge o resultado, como mostra a Figura 16. Figura 16 – Resultado do processo de decisão multicritério Observar que a função objetivo (FO) é a que maximiza o resultado, e é escolhido o maior valor. No caso, o maior valor é – 0,1 que é apontado como a melhor escolha: Celta. 86 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Observar que esse exemplo é ilustrativo e não pode ser levado em conta numa decisão real. Note‑se que o software transformou os pesos originais (PO) em outros (pesos transformados), aparentemente diferentes. Tabela 19 – Valores dos pesos originais e transformados Critérios Pesos originais Pesos transformados Preço 5,00 0,31 Pagamento 1,00 0,08 Consumo 7,00 0,38 Manutenção 1,00 0,08 IPVA 2,00 0,14 Entretanto, observa‑se uma correlação perfeita entre os pesos originais e os pesos transformados adotados pelo software, como mostra a Figura 17. O ajuste é perfeito. Fitted Line Plot Pe so T Peso O 1 0.40 0.30 0.15 0.35 0.20 0.25 0.10 3 62 54 7 Peso T = 0.004787 + 0.07685 Peso O –0.003294 Peso O**2 S 0.0048190 R–Sq 99.9% R–Sq(adj) 99.9% Figura 17 – Associação entre os pesos originais e os transformados pelo T‑ODA lembrete Ao tomar uma decisão na empresa, adote sempre um procedimento válido e guarde os dados nos quais se baseou para análise futura. Aprenda com seus erros e acertos. 87 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr 5.4 interdisciplinaridade Seguem as disciplinas abordadas no capítulo: • Processo de Tomada de Decisão: incorpora parte da Lógica, tratando de temas como apoio à decisão multicritério (ADM); decisões multicritério racionais no processo de decisão (com os passos: definir o problema; identificar os critérios de decisão; dar pesos específicos a esses critérios; desenvolver alternativas; avaliar as alternativas; escolher a melhor opção); métodos de decisão multicritério T‑ODA e AHP; critérios para estabelecer pesos; • Estratégia: ao se observar que uma decisão é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da organização; • Finanças e Custos: ao se considerar que técnicas equivocadas de tomada de decisão custam bilhões de dólares todo ano, além de desperdiçar tempo. • Informação e conhecimento: ao ter em conta o conhecimento claro de seu sistema de preferências e suas alternativas, a respeito do comportamento dos elementos do universo em questão. 6 lógicA pArAconsistente O presente tópico aborda a interpretação e a síntese de informaçãopor meio de lógica paraconsistente. Inicia‑se com uma breve introdução à lógica clássica e à lógica paraconsistente e depois é visto um método qualitativo para interpretação e síntese de informação obtida por meio de escalas Likert, as quais são formadas por cinco etapas e destinam‑se a quantificar opiniões e atitudes. A lógica paraconsistente é particularmente recomendada para tomada de decisão que envolve percepções distintas e, às vezes contraditórias. Seu uso na Administração é crescente. 6.1 operações da inteligência Lopes (1968, p. 30), discorrendo sobre as três operações da inteligência, apresenta o esquema da análise do juízo, mostrado na Figura 18. A primeira operação da inteligência, diz o autor, “é a simples apreensão, ato em que a inteligência conhece alguma coisa sem dela afirmar ou negar coisa alguma. Seu termo é o conceito ou ideia ou noção ou verbo mental”. 88 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 A inteligência Compara os conceitos entre si Ou não encontra nada de novo (e permanece na simples apreensão) um conceito um conceito Em uma primeira simples apreensão adquire ou aprende a conveniência desses conceitos e afirma essa conveniência por um juízo afirmativo ou aprende a discrepância desses conceitos e nega essa conveniência por um juízo negativo Em uma segunda simples apreensão adquire Figura 18 – Esquema da análise do juízo, com base em Filion A segunda operação da inteligência é o juízo, “ato em que a inteligência afirma ou nega alguma coisa de um ser. O ser de que se afirma ou nega alguma coisa é o sujeito; o que se afirma ou nega do sujeito é o predicado”. A terceira operação da inteligência é o raciocínio, cuja expressão é o argumento (Lopes, 1968, p. 31). Busca‑se, nesta terceira operação, demonstrar a verdade lógica do argumento: A verdade lógica existe quando o conhecimento se conforma com a realidade, quando a inteligência diz que o que é, é, que o que não é, não é. Não é necessário que o conhecimento atribua ao objeto tudo o que lhe corresponde; basta que não lhe negue nada do que tem e que não lhe atribua coisa alguma que não tenha. O juízo técnico é uma modalidade de juízo abordada por Granger (1955). Ao fazer o esboço de um tópico dos juízos modais, o autor distingue três maneiras fundamentais de considerar o objeto, ou seja, três fenomenologias: [...] nenhum julgamento científico, no sentido dado presentemente a este termo, pode cair fora dos domínios assim constituídos: ou enuncia uma constatação empírica (dados sensoriais), ou então declara uma propriedade abstrata, em ligação com o corpo de todos os julgamentos que definem uma teoria, ou finalmente estabelece regras técnicas com o objetivo de obter um resultado determinado (GRANGER, 1955, p. 267). Quanto à possível surpresa causada pelo seu modelo, no que se refere à inclusão da modalidade do pensamento técnico – que vem habitualmente integrada nos domínios do julgamento de valor –, Granger (1955) antecipa sua defesa: 89 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr • O pensamento técnico constitui não um apêndice do pensamento científico, mas um de seus momentos determinantes. Seria, pois, arbitrário separá‑lo num estudo dos modos do julgamento científico. • O pensamento técnico não se desenvolve sobre o plano do valor, como o pensamento ético ou a avaliação estética. Sob sua forma “leiga”, consiste em determinar um objeto, dando, para isso, os meios de construí‑lo ou de provocar sua aparição controlada, e não de determinar ou sancionar a atitude do sujeito em face do mundo; neste último caso, é o mundo, ou melhor, o objeto que fica esquematizado e desempenha o papel de simples fundo decorativo; no primeiro caso, isso se dá com o ato do sujeito, enquanto o objeto e suas modificações ocupam o primeiro lugar. Granger (1955) resume na Figura 19, os principais modos das três fenomenologias, chamando a atenção para o caso da terminologia empregada, que, “em virtude mesmo da sua simplicidade, deveria ser precisada”, mas disso não tratou no momento. Associou‑se o modo da Lógica Paraconsistente, para comparação. Juízos empíricos o realizado o imaginado o provável o improvável Juízos teóricos o verdadeiro o falso o possível o impossível Juízos técnicos o eficaz o ineficaz o duvidoso o desaconselhado Lógica paraconsistente o verdadeiro o falso o inconsistente o indeterminado Figura 19 – Fenomenologias dos juízos modais propostas por Granger (1955) – as três primeiras – comparadas ao juízo da lógica paraconsistente 6.2 tipos de lógica Da Costa et al. (1999) apresentam uma sinopse das várias lógicas existentes, entendidas como sistemas de inferência, isto é, sistemas capazes de proporcionarem uma conclusão. A Figura 20 mostra a diversidade de lógicas existentes. As duas grandes vertentes denominam‑se clássica e não clássica. A lógica clássica ou tradicional fundamenta‑se em quatro princípios, como apontam os autores: • Princípio da Identidade: x = x, ou seja, todo objeto é idêntico a si mesmo; • Princípio do Terceiro Excluído: p p∨ ¬ , ou seja, de duas proposições contraditórias, isto é, tais que uma nega a outra, uma delas é verdadeira; 90 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 • Princípio da Contradição (ou da não contradição): ¬ ∨ ¬( )p p , isto é, entre duas proposições contraditórias, uma é falsa; • Princípio da Identidade Proposicional: p → p, isto é, uma vez verdadeira, sempre verdadeira; uma vez falsa, sempre falsa (DA COSTA et al., 1999, p. 13). Lógica Clássica Cálculo de predicados de primeira ordem Complementares da clássica Heterodoxas Teoria de conjuntos Teoria de tipos (lógica de ordem superior) Teoria de categorias como fundamento da matemática Lógica epistêmica clássica Lógica da crença Lógica do conhecimento Lógica modal clássica Lógicas internacionais clássicas Lógicas paracompletas Lógicas não aléticas Lógicas quânticas Lógicas relevantes Lógicas modais paraconsistentes Lógicas epistêmicas paracompletas Lógicas indutivas paraconsistentes Lógica indutiva Lógica clássica da ação Não clássica Lógicas paraconsistentes Anotadas Modais Indutivas Figura 20 – Esquema das várias lógicas existentes 6.3 lógica formal A lógica formal também é conhecida por lógica menor e estuda o mecanismo do raciocínio. Maritain (1983, p. 26) afirma que a lógica menor estuda as condições formais da ciência; analisa ou “resolve” o raciocínio nas leis de que ele depende do ponto de vista da sua forma ou de seu conteúdo. A lógica formal não se ocupa dos conteúdos pensados ou dos objetos referidos pelo pensamento, apenas da forma pura e geral dos pensamentos, expressa por meio da linguagem. 91 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr A lógica faz uso de proposições. Uma proposição é uma afirmação, isto é, é a atribuição de um predicado a um sujeito: S é P. “Predicado” é uma característica do sujeito. Seja Ana o sujeito S. Seja “foi ao cinema” o predicado P (uma característica atribuída a Ana). S é P corresponde à proposição: Ana foi ao cinema. A proposição “Ana foi ao cinema” é uma afirmação. 6.4 lógica paraconsistente Da Costa et al. (1999) afirmam que a lógica paraconsistente pode ser aplicada para modelar conhecimentos por meio de procura de evidências, de tal forma que os resultados obtidossão aproximados do raciocínio humano. [...] A lógica paraconsistente pode modelar o comportamento humano e assim ser aplicada em sistemas de controle, porque se apresenta mais completa e mais adequada para tratar situações reais, com possibilidades de, além de tratar inconsistências, também contemplar a indefinição (DA COSTA et al., 1999, p. 37). A lógica paraconsistente apresenta, dessa forma, uma completude maior do que a lógica formal, que “estuda pura e simplesmente o mecanismo do raciocínio” (MARITAIN, 1983, p. 27). Uma apresentação conceitual da lógica paraconsistente pode ser encontrada, por exemplo, em Abe (1992), Prado (1996), Da Costa et al. (1999) e Carvalho (2002). O aparecimento da lógica paraconsistente ocorreu em 1963, com um trabalho do lógico brasileiro Newton Carneiro Affonso da Costa. Ele já havia exposto suas ideias sobre o conceito da contradição, mas só em 1963 é que formulou não um sistema, mas uma hierarquia enumerável de lógicas paraconsistentes e um esboço de teorias paraconsistentes de conjuntos construídos sobre sua lógica. O termo lógica paraconsistente só foi cunhado em 1976, por Miró Quesada, numa conferência pronunciada durante o III Simpósio Latino‑Americano de Lógica Matemática, realizado na Universidade Estadual de Campinas. Até essa época, utilizava‑se o termo lógica para sistemas formais inconsistentes, introduzido por Da Costa em 1963. A partir desse ano, as pesquisas em lógica paraconsistente desenvolveram‑se muito rapidamente, em parte como consequência dos trabalhos de Da Costa e sua escola. Hoje, a lógica paraconsistente é um ramo bastante estudado no Brasil e no mundo. 92 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 O lógico brasileiro Da Costa iniciou estudos para desenvolver sistemas lógicos que pudessem envolver contradições, motivado por questões de natureza tanto filosófica quanto matemática, e hoje é conhecido internacionalmente como o real criador das lógicas paraconsistentes. A lógica paraconsistente ou não clássica diverge da lógica clássica por admitir contradições, expressões do tipo “A e não A”. Enquanto a lógica clássica trabalha com um eixo na dimensão falso‑verdadeiro, a lógica paraconsistente acrescenta um outro eixo à dimensão da contradição. A lógica paraconsistente está associada a sentenças A, tais que A e ~A são verdadeiras, cujo exemplo clássico é o paradoxo de Liar: Considere‑se a sentença: “Esta sentença não é verdadeira”. Temos duas opções: ou a sentença é verdadeira, ou não é verdadeira. Se ela é verdadeira, então o resultado da sentença não é verdadeiro; se a sentença não é verdadeira, então o resultado da sentença é verdadeiro. A LP apresenta, dessa forma, uma completude maior do que a lógica formal que “estuda pura e simplesmente o mecanismo do raciocínio” (MARITAIN, 1983, p. 27). Em Da Costa (1999), tem se que na LP as anotações são representativas de graus de crença e descrença atribuídos à proposição, dando‑lhe conotações de valoração. O método consiste em estabelecer as proposições e parametrizá‑las de forma a poder “isolar os fatores de maior influência nas decisões e, por meio de especialistas, obter anotações para esses fatores, atribuindo‑lhes um grau de crença (µ1) e um grau de descrença (µ2)”, é importante observar que esses valores são independentes e podem variar de 0 a 1. (CARVALHO, 2002). Exemplos de aplicação da LP podem ser encontrados em: Abe (1992), Prado (1996), Da Costa et al. (1999) e Carvalho (2002). De acordo com Da Costa (1999, p. 19), as lógicas anotadas constituem uma classe de lógicas paraconsistentes e acham‑se relacionadas a certo reticulado completo denominado Quadrado Unitário do Plano Cartesiano (QUPC), mostrado na Figura 23. Enquanto a lógica clássica trabalha com o eixo falsidade‑verdade, a lógica paraconsistente trabalha com um eixo adicional: indeterminação‑inconsistência. Como a lógica paraconsistente opera com dois eixos, é possível estabelecer um plano que se designa por plano cartesiano. 6.4.1 Plano cartesiano O plano cartesiano divide‑se em quatro partes: duas na vertical e duas na horizontal. Na vertical, a parte superior indica inconsistência decorrente de informação conflituosa, e a parte inferior, indeterminação por falta de informação. Neste caso, a faixa central é a ideal, denotando informação não inconsistente e não conflitante. Na horizontal, o plano cartesiano divide‑se à esquerda e à direita de um eixo central: a esquerda denota a ocorrência de falsidade, e a direita, a ocorrência de verdade. 93 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr A interpretação da informação no plano cartesiano depende do resultado de duas entradas (G1, G2). Estas exprimem o grau de certeza (G1), que se posiciona horizontalmente (no eixo falsidade‑verdade), e o grau de contradição (G2), que se posiciona verticalmente (no eixo indeterminação‑inconsistência). Para se chegar aos graus de certeza e de contradição (G1, G2), parte‑se de graus de crença m1 e de descrença m2. Nas aplicações práticas da LP, os graus de crença m1 e de descrença m2, de acordo com Da Costa (1999), são dados por processos com conotações valorativas que utilizam sensores, juízes ou peritos. G2 (G1; G2) Inconsistência Informações conflituosas 1 –1 Indeterminação Informações insuficientes G1 = µ1R – µ2R G2 = µ1R – µ2R –1 Fa ls o –1 1 Ve rd ad ei ro G1 Figura 21 – QUPC – Quadrado Unitário do Plano Cartesiano Basicamente, uma aplicação prática de LP consiste nas seguintes etapas: • etapa 1: coleta de dados por meio de sensores, juízes ou peritos; • etapa 2: processo de transdução (conversão dos dados em correspondentes graus de crença m1 e descrença m2); • etapa 3: conversão de crença µ1 e descrença µ2 em grau de certeza (G1= µ1R – µ2R) e grau de contradição (G2 = µ1R + µ2R – 1), utilizando rede lógica OR e AND apropriada; • etapa 4: interpretação do resultado no QUPC; 94 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 • etapa 5: processo de normalização: como os eixos do grau de certeza e de contradição vão de [‑1; 1], é possível submeter o resultado obtido a uma normalização, para que o resultado se expresse no intervalo de [0; 1]. Na etapa 1 é feita a coleta de dados, por meio de uma escala Likert ou utilizando‑se as opiniões de juízes ou peritos. Nessa etapa, capturam‑se informações que sejam relevantes para a decisão. Exemplo: • O diretor de Finanças quer aplicar na ação Paranapanema PN. Ele entra em contato com três especialistas no mercado de ações e pergunta a cada um deles qual deve ser o preço que a ação Paranapanema PN deve ter dali a três meses. Recebe como respostas: $ 5,70; $ 6,20; e $ 4,30. Na etapa 2 é feito o processo de transdução, isto é, de conversão dos dados obtidos em relação ao fato em correspondentes graus de crença e descrença. Seguindo o exemplo: • A ação Paranapanema PN hoje está a $ 4,50. O Especialista 2 acredita num crescimento de 37,78%; o Especialista 1, em um crescimento de 26,67%; e o Especialista 3, numa queda de 4,44%. Com esses dados, é possível estabelecer o grau de crença e descrença. Ao menor crescimento se dá valor nulo, e ao valor maior se dá o valor de 1; calcula‑se a crença para o valor intermediário, como mostra a tabela 18. No caso do Especialista 1, tem‑se: CE1 5 70 4 30 6 20 4 30 0 74= − − = ( , , ) ( , , ) , Tabela 20 – Cálculo dos graus de crença e descrença dos especialistas Paranapanema PN Opinião Variação Crença Descrença Especialista 2 $ 6,20 0,3778 1,00 0,00 Especialista 1 $5,70 0,2667 0,74 0,26 Preço atual $ 4,50 Especialista 3 $ 4,30 ‑ 0,0444 0,00 1,00 Na etapa 3 é feita a conversão de crença e descrença em grau de certeza e grau de contradição, utilizando‑se uma rede lógica OR e AND apropriada. A conversão é simples, bastando seguir as entradas e saídas dos conectivos: nos conectivos de tipo OR, a saída é o maior valor das duas entradas; nos conectivos do tipo AND, a saída é o menor valor das duas entradas. Ao término dessa etapa são obtidos o grau de certeza e o grau de contradição. • No presente exemplo, temos três especialistas, cada um com seu grau de crença e de descrença quanto aos rumos da ação Paranapanema PN. Utiliza‑se uma rede lógica OR‑AND com três sensores (juízes ou especialistas). Para cada especialista se introduz o grau de crença e de descrença. 95 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Espec. 1 D C µ2a 0,26 µ1a 0,74 µ2b 0,00 µ1b 1,00 µ2c 1,00 µ1c 0,00 OR OR AND AND 1,00 µ1abµ2ab 0,26 µ2R 0,26 µ1R 0,00 Grau de certeza (G1 = µ1R – µ2R) = 0,26 – 0,00 = 0,26 Grau de contradição (G2 = µ1R + µ2R – 1)) = 0,26 + 0,00 –1,00 = –0,74 Espec. 2 D C Espec. 3 D C Figura 22 – Cálculo do grau de certeza e de contradição A etapa 4 consiste na interpretação do resultado no QUPC. Com os valores (G1, G2), é possível posicionar o par sobre o QUPC e ter uma noção de como o par se situa em relação aos dois eixos: o vertical (falsidade‑verdade) e o horizontal (indeterminação‑inconsistência). No exemplo atual, o par (G1; G2) corresponde a (0,26; ‑0,74) e pode ser visto dentro do no QUPC, como mostra a Figura 23. 96 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 G2 Inconsistência Informações conflituosas 1 –1 Indeterminação Informações insuficientes Grau de certeza (G1 = µ1R – µ2R) = 0,26 – 0,00 = 0,26 Grau de contradição (G2 = µ1R + µ2R –1) = 0,26 – 0,00 –1= 0,74 Fa ls o –1 1 Ve rd ad ei ro (0,26; –0,74) G1 Figura 23 – Posicionamento do par (G1;G2)=(0,26; ‑0,74) no QUPC Na etapa 5 é feito o processo de normalização. Como os eixos do grau de certeza e de contradição vão de [‑1; 1], é possível submeter o resultado obtido a uma normalização, para que o resultado se expresse no intervalo de [0;1]. Esse processo é extremamente simples e consiste basicamente em adicionar 1 ao valores de certeza ou de contradição e dividir por 2. São obtidos, então, os valores normalizados dos graus de certeza e de contradição. No presente exemplo, há: Para o grau de certeza, no eixo falso‑verdadeiro: G N1 0 26 100 2 0 63= + = ( , , ) , Para o grau de contradição, no eixo indeterminação‑inconsistência: G N2 0 74 100 2 0 26= − + = ( , , ) , 97 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Com vistas a uniformizar a linguagem, é proposta uma convenção para descrever a interpretação e a síntese de informação obtida, no que concerne ao grau de certeza normalizado G1N e ao grau de contradição normalizado G2N . Tabela 21 – Convenção para descrever a interpretação e a síntese de informação, no que concerne ao grau de certeza normalizado G1N e ao grau de contradição normalizado G2N Grau de certeza normalizado G1N Grau de contradição normalizado G2N Expressa o quanto os sujeitos aderem às proposições do fator (eixo horizontal no QUPC) Expressa a qualidade dos dados utilizados (eixo vertical no QUPC) Valor observado Interpretação recomendada Valor observado Interpretação recomendada 0,900 ou mais Concordância ampla 0,900 ou mais Dados muito contraditórios 0,700 a 0,899 Concordância substancial 0,700 a 0,899 Dados conflitantes 0,300 a 0,699 Concordância moderada 0,300 a 0,699 Dados consistentes 0,100 a 0,299 Concordância baixa 0,100 a 0,299 Dados insuficientes 0 a 0,099 Concordância desprezível 0 a 0,099 Dados muito reduzidos Fonte: Davis (1976, p. 70). Os resultados obtidos à luz da Tabela 21 podem ser assim interpretados: G N1 0 26 100 2 0 63= + = → ( , , ) , concordância moderada G N2 0 74 100 2 0 26= − + = → ( , , ) , dados incompletos O resultado mostra que os especialistas possuem uma concordância moderada quanto ao destino da ação Paranapanema PN, com dados considerados insuficientes. É recomendável ampliar a consulta com outros especialistas. 6.4.2 Redes lógicas As redes lógicas são utilizadas na etapa 3 e fazem a conversão de crença µ1 e descrença µ2 em um certo grau de certeza (G1= µ1R – µ2R ) e grau de contradição (G2 = µ1R+µ2R ‑1). Deve ser utilizada a rede lógica OR e AND apropriada à quantidade de fatores. Redes lógicas com seus conectivos OR e AND podem ser vistas em Da Costa et al. (1999). A Figura 24 (A e B) ilustra a aplicação dos conectivos OR e AND no caso de dois e quatro fatores; a Figura 25 (A e B) ilustra os casos de cinco e seis fatores. Para o caso de três fatores, ver Figura 22. O método de interpretação do resultado implica aplicar as “técnicas de maximização (OR) e de minimização (AND) da LP, e chegar a um valor final, que, analisado à luz do quadrado unitário do plano cartesiano real (QUPC), Figura 23, com um determinado grau de exigência, constitui um valioso subsídio para a decisão final” (CARVALHO, 2002). 98 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Fator A D C µ2a µ2a µ2ab µ1ab µ2cd µ2R µ1R (B) µ1cdµ2R µ1R (A) µ1b µ1bµ2b µ2b µ2c µ1c µ1dµ2d µ1a µ1a Fator A D C Fator C D CFator B D C Fator B D C Fator D D C AND AND AND AND OR OR OR OR Figura 24 – Redes lógicas para a conversão de crença µ1 e descrença µ2 em um certo grau de certeza (G1 = µ1R – µ2R ) e grau de contradição (G2 = µ1R+µ2R ‑1) com conectivos OR e AND para 2 e 4 fatores µ2a µ2ab µ2abµ1ab µ1abµ2cd µ1cd µ2R µ2Rµ1R µ1R (B)(A) µ1abcd µ1abc µ2abcd µ2abc µ2def µ2de µ1de µ1def µ1bµ2b µ2c µ1c µ1d µ2e µ1eµ2dµ1a Fator A D C Fator A D C Fator B D C Fator B D C Fator C D C Fator C D C Fator D D C Fator D D C Fator E D C Fator E D C Fator F D C OR OR OR OR OR OR OR ORAND AND AND AND AND AND AND AND AND AND µ2a µ1bµ2b µ2c µ1c µ1d µ2e µ2fµ1e µ1fµ2dµ1a . Figura 25 – Redes lógicas para a conversão de crença µ1 e descrença µ2 em um certo grau de certeza (G1= µ1R – µ2R ) e grau de contradição (G2 = µ1R+µ2R ‑1) com conectivos OR e AND para 5 e 6 fatores 6.4.3 Sensores para crença e descrença A lógica paraconsistente fundamenta‑se nos graus de crença e de descrença. Na prática, tais graus são captados por diversos sensores; na Administração, os graus de crença e descrença são captados por meio de juízes, especialistas, opiniões coletadas por meio de escalas tipo Likert ou semelhantes, análises estatísticas etc. Krause (2004) fornece um exemplo em robótica: 99 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Um robô pode estar equipado com vários tipos de sensores, e tais sensores poderiam gerar informações contraditórias: um dos casos mais simples é o de um visor ótico, que poderia não detectar uma parede de vidro, dizendo “posso passar”, enquanto que um sonar a detectaria, dizendo “não posso passar”. Um robô “clássico”, isto é, funcionando com a lógica clássica, e tendo ambos os sensores, terá dificuldades óbvias na presençade uma contradição, as quais parecem poder ser mais facilmente superadas com o uso das lógicas paraconsistentes (KRAUSE, 2004). saiba mais Veja o artigo Um estudo de tomada de decisão baseado em lógica paraconsistente anotada: avaliação do projeto de uma fábrica, de Carvalho, Brunstein, e Abe, disponível em: <http://www.revista‑ped.unifei.edu.br/ documentos/V01N01/n1_art04.pdf>. Acesso em: 9 out. 2012. 6.5 estudo de caso: processo criativo Cukier, Oliveira e Meireles (2010) apresentam um estudo para mostrar como um empreendedor que atua no ramo têxtil buscou subsídios para alavancar seus negócios, por meio da percepção de oportunidade na inovação, buscando independência da matéria‑prima importada e substituindo‑a por material originado da reciclagem de outro negócio. O estudo está ligado à fase insight do processo criativo, que é ilustrado na Figura 26 e utilizou a lógica paraconsistente na análise. Para obter os graus de crença e descrença, os autores utilizaram uma escala Likert com um diferencial de cinco colunas, indo de Discordo Totalmente (DT) a Concordo Totalmente (CT). Os resultados da coleta de opinião estão no Quadro 11. 100 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Fases do processo criativo Caso observado Preparação Incubação ←(Novas tecnologias; demanda não atendida; recursos subutilizados; mudanças políticas e regulatórias) = falta de matéria‑prima (poliéster) ←(Cognição; criatividade; conceito de negócio) = o mesmo processo pode ser aplicado para confeccionar tecidos em poliéster ←(Feedbacks externos; refinamento da oportunidade; perfil e habilidade empreendedoras) = importação de poliéster reciclado de PET; aceitação pelos clientes ← Desenvolvimento da oportunidade = implantação de uma unidade (a AlvaPet) para reciclar PET e produzir poliéster para tecidos ←(Rede de contatos; experiência prévia) = empresa no exterior utiliza PET para obter poliéster (PES) para não tecidos Avaliação Elaboração “Insight” Informações Fontes de oportunidades Identificação da oportunidade Avaliação da oportunidade Desenvolvimento da oportunidade Figura 26 – Processo de Identificação de Oportunidades de Lumpkin e Hills (2001 apud ALVES, 2005) Quadro 11 – Questionário Q1 para avaliar o grau de aderência ao processo de identificação de oportunidades Reconhecimento do problema DT D I C CT A oportunidade teve como fator “problema” o surgimento de uma nova tecnologia X uma demanda não atendida X a existência de recursos subutilizados X uma mudança política ou mudança regulatória X Na fase de reconhecimento do problema foram feitos contatos externos X conversações sobre o mesmo foram feitas com outras pessoas X pessoas com conhecimento específico foram contatadas X 0,286 0,714 Insight DT D I C CT Na fase de insight o processo criativo surgiu rapidamente X a ideia inicial já implicava criatividade X a ideia concebida exprimia um certo conceito de negócio X 0,000 1,000 101 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr Avaliação da oportunidade DT D I C CT Na fase de avaliação da oportunidade foi feito um refinamento da ideia original X foi levado em conta o perfil empreendedor exigido pelo negócio X foram levados em conta os gostos e as preferências de potenciais clientes X foi levada em conta a habilidade dos empreendedores X considerou‑se a opinião de pessoas externas à empresa X 0,200 0,600 Desenvolvimento da oportunidade DT D I C CT Na etapa de desenvolvimento da oportunidade foi feita uma análise financeira do negócio, em especial da taxa interna de retorno X foram efetuadas pesquisas de mercado ouvindo potenciais clientes X foi desenvolvido um projeto de implantação do negócio X o projeto de implantação foi adequadamente desdobrado X foram consideradas potenciais questões estratégicas X foram investigadas questões legais que pudessem estar associadas ao novo X 0,000 1,000 Legenda: Respostas do sujeito marcadas nas colunas da direita correspondentes ao diferencial semântico. Ao final de cada etapa, nas colunas DT e D, o grau de descrença, e nas colunas C e CT, o grau de crença. Fonte: Lumpkin e Hills (2001), adaptado pelo autor. De acordo com Cukier, Oliveira e Meireles (2010), o grau de crença GCç em relação a um dado fator é obtido pela soma dos apontamentos atribuídos a Concordo e Concordo Totalmente (C + CT) dividida pelo total de apontamentos contidos no diferencial semântico (DS); de forma semelhante se constitui o grau de descrença GDç: G C CT DS G D DT DSCc Dc = + = +∑ ∑ ∑ ∑ ( ) ( ) ç ç Por exemplo, em relação ao fator reconhecimento do problema, de acordo com o processo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hills (2001), os graus de crença e de descrença foram assim calculados: G C CT DS G D DT DSCc Dc = + = = = + = = ∑ ∑ ∑ ∑ ( ) , ( ) , 5 7 0 7143 2 7 0 2857ç ç 102 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Os valores dos graus de crença (GCç) e de descrença (GDç) são quaisquer no intervalo fechado entre 0 e 1. A seguir, os valores de crença (GCç) e de descrença (GDç) são submetidos a tratamento por meio de uma rede lógica OR e AND. O desenho da rede depende do número de juízes, opinantes ou sensores. No presente caso, consideraram‑se quatro características. Ao término do tratamento, obtêm‑se dois valores: grau de certeza (GC) e grau de contradição (GCT). Veja a Figura 27: µ1a=0,714 µ2a=0,286 µ1b=1,000 µ2b=0,000 µ1c=0,600 µ2c=0,2 µ1d=1,00 µ2d=0,00 µ1OR=1,000 µ3OR=1,000 µ4OR=0,2µ2OR=0,286 µ1R=1,000 µ2R=0,2 GC = µ1R – µ2R = 1,00 – 0,2 = 0,800 GCT = µ1R – µ2R –1 = 1,00 + 0,200 – 1 = 0,2 GCT = 0,2 Análise: aderência ao modelo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hills (2001) Prep. e incubação Grau crença Grau descrença Avaliação Grau crença Grau descrença Conclusão OR AND AND OROR OR Elaboração Grau crença Grau descrença Insight Grau crença Grau descrença GC = 0,80(0;1)ineficaz Grau de ineficácia Grau de eficácia (0; 0) desaconselhado (0; 1) eficaz (1;1) duvidoso Figura 27 – Cálculo do grau de certeza (GC) e do grau de contradição (GCT) pela lógica paraconsistente anotada bivalorada (LPA2v) A interpretação da saída da rede lógica OR e AND é feita no QUPC (Figura 28). O modelo do QUPC foi extraído de Da Costa (1999, p. 78). 103 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr GCT = 0,20 Análise: aderência ao modelo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hills (2001) Totalmente inconsistente Totalmente falso Totalmente verdadeiro Totalmente indeterminado Inconsistente tendendo ao falso Indeterminado tendendo ao falso Indeterminado tendendo ao verdadeiro Quase falso tendendo ao inconsistente Quase verdadeiro tendendo ao inconsistente Quase falso tendendo ao indeterminado Quase verdadeiro tendendo ao indeterminado Inconsistente tendendo ao verdadeiro Grau de contradição Grau de certeza +1 +1 +1/2 +1/2–1/2 –1/2 –1 –1 GC = 0,80 Observado Ideal Figura 28 – Interpretação gráfica no QUPC do resultado da análise pela lógica paraconsistente das proposições referentes à aderência ao processo de identificação de oportunidades de Lumpkine Hills (2001) Como o eixo do grau de certeza vai de [‑1, 1], é possível submeter o valor obtido a uma normalização, para que o resultado se expresse no intervalo de [0, 1]. Sendo GC o grau de certeza obtido, a normalização é dada pela fórmula: G G G C C C [ , ] ( ) ( )01 1 1 1 1 2 = − − − − = + Assim, para se exprimir o Grau de Aderência de Identificação de Oportunidades (GAIO) de Lumpkin e Hills (2001) num intervalo [0, 1], pode‑se utilizar a fórmula: GAIO GC [ , ]01 1 2 = + Observar que o procedimento de normalização também é feito quanto ao grau de contradição GCT: G G CT CT [ , ]01 1 2 = + 104 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Caso os dados não sejam consistentes, deve‑se proceder a outras medidas. Efetuando a normalização no eixo “grau de certeza” pela fórmula indicada anteriormente, o grau de aderência ao processo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hills (2001) – GAIO foi assim determinado: GAIO GC [ , ] , ,01 1 2 0 80 1 2 0 90= + = + = Isso quer dizer que, numa escala de 0 a 1, o grau de aderência do presente processo ao processo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hills (2001) é 0,90. Esse valor interpretado de acordo com a Tabela 21, significa uma concordância ampla. O grau de contradição observado foi de 0,20. Normalizado para o intervalo [0,1], tem‑se: G G CT CT [ , ] , ,01 1 2 0 2 1 2 0 60= + = + = Esse valor, interpretado de acordo com a Tabela 21, significa que os dados são consistentes. 6.6 interdisciplinaridade Os assuntos abordados neste capítulo estão relacionados a diversas disciplinas: • Processo de Decisão: já que a lógica paraconsistente é um método para tomada de decisão; • Filosofia: ao destacar o uso da lógica em situações paradoxais, como o paradoxo de Liar; • Informação e Conhecimento: é a disciplina que se associa com coleta de dados por meio sensores, juízes ou peritos e com interpretação e síntese de informação; • Lógica: são abordados tópicos como lógica clássica ou tradicional, dimensão falso‑verdadeiro, dimensão da contradição, interpretação do resultado no QUPC, lógica paraconsistente e processo de transdução. • Matemática: abordada quando se discutem o conceito de plano cartesiano e o processo de normalização; • Psicologia: quando se abordam as percepções distintas e, às vezes, contraditórias de que a lógica paraconsistente trata. 105 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr 7 mercADo De cApitAis1 O mercado de títulos negociados nas Bolsas de Valores e de Mercadorias é tão atraente quanto arriscado. Quem nele opera deve estar ciente de que é um mercado de risco e, portanto, há a possibilidade de que as operações lhe causem prejuízo. O assunto é tão importante que vale a pena destacar duas informações: a) das pessoas físicas que investem na Bolsa de Valores de Nova Iorque, 72% perdem dinheiro; b) das operações realizadas na Bolsa de Valores de São Paulo, 70% dão prejuízo ao investidor. “Ao longo do tempo, perdem feio”, afirma Bazin (1992, p. 219). Também é preciso levar em conta o seguinte: • Nenhum método é absolutamente certo nas suas “informações”, no entanto os métodos têm‑se revelado muito melhores do que as ordens ao simples acaso. • Você deve escolher um dos métodos — e aplicá‑lo. Usar mais de um método, na maioria das vezes, é desaconselhável. Entretanto, há investidores que usam um básico e outro para “confirmação”. Basicamente, tais investidores só executam a ordem recomendada pelo método básico se o de confirmação também estiver recomendando ou com tendência para tal. • Os outros investidores técnicos fazem também uso de métodos. Possivelmente, todos os métodos abordados neste capítulo estejam sendo usados pelos investidores. Os resultados não são coincidentes, isto é, nem todos dão ordens de compra ou de venda ao mesmo tempo. • Nem todos os investidores possuem a mesma abordagem diante do mercado. Isso quer dizer que há investidores cujo horizonte de aplicação é a longo prazo; outros, a médio prazo; e outros a curto ou curtíssimo prazo. Os de curtíssimo prazo – alguns dias ou semanas – são designados como especuladores, mas esse termo deve ser interpretado sem nenhuma conotação pejorativa. • A maioria dos métodos adota um certo período de análise. Por exemplo, quando se trabalha com o Método das Médias Móveis, pode‑se ter como base a média móvel dos últimos 9, 15, 21, 60 ou 200 dias. Isso, por si só, já define o tipo de abordagem que se está adotando. Embora o método seja o mesmo, como as bases temporais são diferentes, as ordens de compra e venda também não são coincidentes. • Os investidores técnicos não só se defrontam com outros investidores técnicos (um método enfrentando outro), mas com milhares e milhares de investidores individuais que não seguem método algum, que vão ao sabor das ondas do mercado: entram comprando quando ele já subiu 1 O texto deste título foi baseado na obra do autor conteudista deste livro‑texto, A arte de operar na Bolsa. São Paulo: Vilipress; Arte & Ciência, 2000. 106 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 ou parou de subir; correm vendendo ao primeiro sinal de queda. Portanto, em épocas de boom, os métodos — qualquer deles — são menos eficientes, pois não conseguem captar as “loucuras” que os especuladores andam fazendo. Qual dos métodos é o melhor? É uma pergunta que talvez não tenha resposta. 7.1 investimentos no mercado de capitais O Sistema Financeiro Nacional é composto por instituições responsáveis pela captação de recursos financeiros, pela distribuição e circulação de valores e pela regulação desse processo. O Conselho Monetário Nacional (CMN), seu organismo maior, presidido pelo ministro da Fazenda, é quem define as diretrizes de atuação do sistema. Diretamente ligados a ele estão o Banco Central do Brasil, que atua como seu órgão executivo, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que responde pela regulamentação e pelo fomento do mercado de valores mobiliários (de bolsa e de balcão) (BM&FBOVESPA, 2010, p. 7). Inicialmente, devemos considerar a diferença entre um investidor e um especulador. Não é uma diferença qualitativa; não se trata de afirmar que um é, eticamente, melhor do que o outro. Não se trata disso: a diferença reside essencialmente no horizonte da aplicação e na forma como buscam os ganhos. O investidor tem prazos longos de atuação, medidos em anos: compra uma ação com a intenção de permanecer longo tempo com ela. Seus ganhos ou rendimentos provêm basicamente dos dividendos proporcionados pela ação. A escolha da ação é feita primordialmente com base no indicador Cash‑Yield, que considera a relação do dividendo anualizado pelo preço de mercado da ação; o acompanhamento é feito também pelo mesmo indicador. Utilizando‑se o Cash‑Yield, entende‑se por que motivo, para o investidor, a queda do mercado pode constituir‑se em algo desejável, e é possível que, muitas vezes, os investidores provoquem quedas acentuadas nas Bolsas, gerando prejuízos consideráveis para os especuladores. O investidor orienta‑se pelo dividendo da ação – não pela cotação da ação na Bolsa. observação O desempenho da Bolsa é influenciado por muitas variáveis, entre elas a inflação, a política monetária, a política fiscal, o câmbio e as crises políticas e econômicas internas e externas. O especulador tem prazos curtos de atuação,medidos em dias ou semanas: compra uma ação com a intenção de desfazer‑se dela rapidamente, aproveitando sua possível valorização na cotação. A seleção e o acompanhamento da ação são feitos por meio de indicadores que mostrem possível variação no preço da ação na Bolsa. O especulador orienta‑se pela cotação da ação – não pelos dividendos. Uma queda acentuada na Bolsa geralmente tende a causar‑lhe grandes prejuízos. O conhecimento sobre mercado de capitais é útil tanto aos especuladores – aplicadores com horizonte curto, orientados pela variação das cotações das ações na Bolsa – quanto aos investidores. Uma pessoa, aliás, pode adotar estas duas posturas: gerir parte dos seus fundos disponíveis como investidor e outra 107 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr parte como especulador. É óbvio que a postura de especulador traz maior risco, mas proporciona, de forma geral, um retorno maior. A propósito do termo especulador, convém anotar as palavras de Tamer (1988): O que é um especulador? Esta é uma palavra decididamente marcada no Brasil – onde se explora sem pudor – com um sentido popular e generalizado extremamente negativo. Para o público, o especulador é aquele que aproveita as oportunidades para auferir grandes lucros prejudicando outros. O Dicionário Aurélio é muito contraditório ao definir as palavras especular e especulador, refletindo talvez o duplo sentido que se dá a elas. Vemos ali que especular é examinar com atenção; averiguar minuciosamente; observar; indagar; pesquisar. É também valer‑se de certa posição, de circunstância, de qualquer coisa para auferir vantagens; explorar. Ou meter‑se em negócios mirando lucros; agenciar, traficar, negociar. Para nós do mercado de capitais, o Aurélio tem uma definição: Especular é operar na Bolsa, jogando na alta ou na baixa de títulos. Neste sentido, todos os que entram na Bolsa, de uma forma ou de outra, poderiam ser classificados como especuladores, já que têm como objetivo comprar na baixa e vender na alta, ou até mesmo comprar na alta esperando que a ação suba mais ainda. Ninguém entra na Bolsa para perder. Todos para ganhar. Portanto, todos estão especulando, segundo a definição do Aurélio (TAMER, 1988). Oliveira (1980) afirma que o especulador é protagonista ativo do mercado, porém ele não forja o mercado, criando condições artificiais que venham facilitar o objetivo de realização de lucro a curto prazo. A especulação não se reveste de qualquer ilegalidade, quando praticada dentro das regras de jogo, e garante certo grau de liquidez às Bolsas (OLIVEIRA, 1980). 7.2 como o mercado funciona Não se pode operar com ações sem o domínio de um conjunto mínimo de conceitos que são abordados neste tópico. Tais conceitos são fundamentais para a compreensão do mercado como um todo e para o entendimento de como os investidores atuam. Inicialmente, será abordado como o mercado funciona, isto é, o que dá origem à negociação de ações. Deve‑se entender claramente que há o mercado primário – no qual a empresa vende suas ações aos investidores – e o mercado secundário – no qual os investidores atuam. A Bolsa auxilia o processo de compra e venda de ações entre investidores – o que corresponde ao mercado secundário –, mas também é um instrumento importante para as empresas levantarem recursos vendendo ações para acionistas novos ou já existentes. 108 Unidade II Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 Uma vez compreendido isso, será possível perceber que grande parte dos investidores compra e vende ações apoiada em algumas técnicas, as quais ajudam a selecionar e acompanhar ações. Tais técnicas, pelas suas características, são divididas em duas grandes correntes ou Escolas. Neste tópico será apresentado um resumo das técnicas de cada Escola. Quem pretende ser um investidor consciencioso, obviamente, deve operar com ações baseado em alguma técnica. Caso contrário, operará com base na intuição, nos conselhos de amigos, nas leituras de jornais, em boatos ou em qualquer outra fonte. Essa prática não costuma fazer o capital do investidor aumentar. Para entender como funciona o mercado de ações, será idealizada uma empresa e serão simuladas algumas situações, incluindo o lançamento de ações por parte dessa empresa e, depois, a negociação dessas ações pelos seus portadores. Serão vistos, por meio desse exemplo, os motivos que levam os investidores e especuladores a vender ou comprar certas ações. Veremos que a negociação de ações está muito associada ao preço destas, o qual depende, substancialmente, das perspectivas de lucratividade atribuídas à empresa. O exemplo a seguir é detalhado, pois o autor deste livro‑texto tem percebido, pela experiência dos cursos que ministrou sobre operação no mercado de ações, que a maioria das pessoas tem dificuldade de entender os aspectos básicos do mercado. Costuma propor a criação de uma empresa – que geralmente leva o nome de Franguix S/A. Imagine‑se que alguém pretende constituir uma empresa de grande porte para produzir carne e derivados de frango, buscando suprir especialmente os mercados externos. Considere‑se que a empresa venderá para Portugal, Irã e Iraque. A empresa exigirá um capital de $ 30 milhões. Seus organizadores, aqueles que inicialmente a estão constituindo, não possuem esse dinheiro, portanto necessitam captá‑lo de outras pessoas. Para isso, eles preparam um briefing (prospecto), e, com a autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a cooperação de Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM) e bancos, oferecem suas ações ao público. A essa operação de fazer o lançamento de ações ao público dá‑se o nome de underwriting (subscrição). As sociedades distribuidoras e os bancos entram em contato com seus principais clientes e lhes oferecem as ações da Franguix S/A. É assim que as ações chegam ao público. observação Briefing é um “caderno” sobre a empresa, mostrando especialmente a potencialidade de lucros do negócio, com vistas a obter interessados em associar‑se à organização. Uma ação nada mais é do que uma fração do capital social da empresa. Embora possam não ter valor de face (escrito), há sempre um valor de lançamento. Admita‑se que o capital de $ 30 milhões é representado por 30 milhões de ações, cada uma valendo $ 1 no seu lançamento. O investidor que adquirir mil ações pagará $ 1000 e será um acionista detendo uma parcela do capital social. Nesse caso, teria $ 1.000 / $ 30.000.000, ou seja, 1/30.000 do capital social da empresa, tendo direito a 109 Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 30 -1 0- 20 12 AdmInIstrAção InterdIscIplInAr receber 1/30.000 dos lucros gerados por ela. Observe‑se que todo o dinheiro arrecadado via sociedades distribuidoras e bancos, no lançamento das ações, chega à empresa Franguix S/A, que passa a dispor de $ 30 milhões. É eleita uma diretoria (pelos acionistas), e, com parte desse dinheiro arrecadado, a empresa compra os ativos (terrenos, máquinas etc.) necessários à produção de carne e derivados de frango. Parte do dinheiro é destinada a outras despesas, incluindo o pagamento de salários. observação Só os acionistas portadores de ações ordinárias (ON) possuem direito a voto. Cada acionista tem tantos votos quantas ações ON tiver. No presente estágio, a Franguix S/A está operando, e muitas pessoas possuem ações – as quais indicam que seus titulares são coproprietários, tendo direito à divisão dos lucros. A administração da empresa está agora ocupada com a produção de frangos, com o objetivo de exportar carne e derivados para o mercado externo: Portugal,
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