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Ementa e Acórdão 06/09/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. LUIZ FUX RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA PACTE.(S) :LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI IMPTE.(S) : JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA. ACTIO LIBERA IN CAUSA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ELEMENTO VOLITIVO. REVALORAÇÃO DOS FATOS QUE NÃO SE CONFUNDE COM REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A classificação do delito como doloso, implicando pena sobremodo onerosa e influindo na liberdade de ir e vir, mercê de alterar o procedimento da persecução penal em lesão à cláusula do due process of law, é reformável pela via do habeas corpus. 2. O homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB) prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção ante a embriaguez alcoólica eventual. 3. A embriaguez alcoólica que conduz à responsabilização a título doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. 4. In casu, do exame da descrição dos fatos empregada nas razões de decidir da sentença e do acórdão do TJ/SP, não restou demonstrado que o paciente tenha ingerido bebidas alcoólicas no afã de produzir o resultado morte. 5. A doutrina clássica revela a virtude da sua justeza ao asseverar Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453424. Supremo Tribunal Federal DJe 13/10/2011 Supremo Tribunal Federal Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 32 Ementa e Acórdão HC 107.801 / SP que “O anteprojeto Hungria e os modelos em que se inspirava resolviam muito melhor o assunto. O art. 31 e §§ 1º e 2º estabeleciam: 'A embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos, ainda quando completa, não exclui a responsabilidade, salvo quando fortuita ou involuntária. § 1º. Se a embriaguez foi intencionalmente procurada para a prática do crime, o agente é punível a título de dolo; § 2º. Se, embora não preordenada, a embriaguez é voluntária e completa e o agente previu e podia prever que, em tal estado, poderia vir a cometer crime, a pena é aplicável a título de culpa, se a este título é punível o fato”. (Guilherme Souza Nucci, Código Penal Comentado, 5. ed. rev. atual. e ampl. - São Paulo: RT, 2005, p. 243) 6. A revaloração jurídica dos fatos postos nas instâncias inferiores não se confunde com o revolvimento do conjunto fático-probatório. Precedentes: HC 96.820/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 28/6/2011; RE 99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE 122.011, relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 17/8/1990. 7. A Lei nº 11.275/06 não se aplica ao caso em exame, porquanto não se revela lex mitior, mas, ao revés, previu causa de aumento de pena para o crime sub judice e em tese praticado, configurado como homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB). 8. Concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao paciente para homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB), determinando a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba/SP. A C Ó R D à O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Senhora Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em conceder a ordem de habeas corpus. Brasília, 6 de setembro de 2011. LUIZ FUX – Redator para o acórdão Documento assinado digitalmente 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453424. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP que “O anteprojeto Hungria e os modelos em que se inspirava resolviam muito melhor o assunto. O art. 31 e §§ 1º e 2º estabeleciam: 'A embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos, ainda quando completa, não exclui a responsabilidade, salvo quando fortuita ou involuntária. § 1º. Se a embriaguez foi intencionalmente procurada para a prática do crime, o agente é punível a título de dolo; § 2º. Se, embora não preordenada, a embriaguez é voluntária e completa e o agente previu e podia prever que, em tal estado, poderia vir a cometer crime, a pena é aplicável a título de culpa, se a este título é punível o fato”. (Guilherme Souza Nucci, Código Penal Comentado, 5. ed. rev. atual. e ampl. - São Paulo: RT, 2005, p. 243) 6. A revaloração jurídica dos fatos postos nas instâncias inferiores não se confunde com o revolvimento do conjunto fático-probatório. Precedentes: HC 96.820/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 28/6/2011; RE 99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE 122.011, relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 17/8/1990. 7. A Lei nº 11.275/06 não se aplica ao caso em exame, porquanto não se revela lex mitior, mas, ao revés, previu causa de aumento de pena para o crime sub judice e em tese praticado, configurado como homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB). 8. Concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao paciente para homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB), determinando a remessa dos autos à Vara Criminal da Comarca de Guariba/SP. A C Ó R D à O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Senhora Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em conceder a ordem de habeas corpus. Brasília, 6 de setembro de 2011. LUIZ FUX – Redator para o acórdão Documento assinado digitalmente 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453424. Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 32 Relatório 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA PACTE.(S) :LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI IMPTE.(S) : JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA R E L A T Ó R I O A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (RELATORA): 1. Habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado por JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI e JOÃO BATISTA LEANDRO SAVÉRIO SCRIGNOLLI, advogados, em favor de LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que, em 4.2.2010, denegou a ordem nos autos do Habeas Corpus n. 94.916, Relator o Ministro Jorge Mussi. 2. Tem-se pelos documentos que acompanham a peça inicial da presente ação que, em 29.6.2004, o juízo da Vara Única da Comarca de Guariba/SP pronunciou o Paciente pela suposta pratica do crime de homicídio qualificado (art. 121, §2º, inc. IV, c/c art. 18, inc. II, 2ª parte,do Código Penal). 3. Contra essa decisão foi interposto recurso em sentido estrito no Tribunal de Justiça de São Paulo. Em 24.10.2006, a 8ª Câmara Criminal desse Tribunal deu provimento parcial ao recurso, apenas para corrigir a tipificação do delito, alterando-o para o art. 121, §2º, inc. IV, c/c o art. 18, inc. I, 2ª parte, do Código Penal. 4. A defesa impetrou, então, no Superior Tribunal de Justiça o Habeas Corpus n. 94.916, Relator o Ministro Jorge Mussi. Em 17.11.2009, a Quinta Turma denegou a ordem, nos termos seguintes: Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Supremo Tribunal Federal 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA PACTE.(S) :LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI IMPTE.(S) : JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA R E L A T Ó R I O A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (RELATORA): 1. Habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado por JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI e JOÃO BATISTA LEANDRO SAVÉRIO SCRIGNOLLI, advogados, em favor de LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que, em 4.2.2010, denegou a ordem nos autos do Habeas Corpus n. 94.916, Relator o Ministro Jorge Mussi. 2. Tem-se pelos documentos que acompanham a peça inicial da presente ação que, em 29.6.2004, o juízo da Vara Única da Comarca de Guariba/SP pronunciou o Paciente pela suposta pratica do crime de homicídio qualificado (art. 121, §2º, inc. IV, c/c art. 18, inc. II, 2ª parte, do Código Penal). 3. Contra essa decisão foi interposto recurso em sentido estrito no Tribunal de Justiça de São Paulo. Em 24.10.2006, a 8ª Câmara Criminal desse Tribunal deu provimento parcial ao recurso, apenas para corrigir a tipificação do delito, alterando-o para o art. 121, §2º, inc. IV, c/c o art. 18, inc. I, 2ª parte, do Código Penal. 4. A defesa impetrou, então, no Superior Tribunal de Justiça o Habeas Corpus n. 94.916, Relator o Ministro Jorge Mussi. Em 17.11.2009, a Quinta Turma denegou a ordem, nos termos seguintes: Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 32 Relatório HC 107.801 / SP “EMENTA: HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXAME DE ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. ANÁLISE APROFUNDADA DO CONJUNTO FÁTICO- PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. 2. O exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual, faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente. 3. Afirmar se agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada pela Corte Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. 4. Na hipótese, tendo a decisão impugnada asseverado que há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder à qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, que depende de profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP “EMENTA: HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXAME DE ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. ANÁLISE APROFUNDADA DO CONJUNTO FÁTICO- PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. 2. O exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual, faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente. 3. Afirmar se agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada pela Corte Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. 4. Na hipótese, tendo a decisão impugnada asseverado que há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder à qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, que depende de profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Inteiro Teor do Acórdão - Página 4de 32 Relatório HC 107.801 / SP exauriente. 5. Ordem denegada”. 5. Foram opostos embargos de declaração, rejeitados em 9.11.2010: “EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS. OMISSÃO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXCLUSÃO DO DOLO EVENTUAL. NECESSIDADE DE ANÁLISE PORMENORIZADA DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INOCORRÊNCIA. ACLARATÓRIOS REJEITADOS. 1. Nos termos de entendimento já consolidado nesta Corte, os embargos declaratórios se prestam para sanar eventual ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão em decisão proferida por órgão do Poder Judiciário, sendo certo que apenas excepcionalmente se pode lhe atribuir efeito modificativo, já que se trata de insurgência dotada de caráter eminentemente esclarecedor ou integrativo. 2. A prestação jurisdicional, nos termos exigidos no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, não está condicionada à análise pormenorizada pelo Órgão Julgador de todas as teses e alegações formuladas pelas partes, caso os fundamentos da decisão sejam suficientes para lhe dar embasamento. 3. No caso, a pretensão dos impetrantes foi refutada pelo Órgão Colegiado em razão da necessidade do aprofundado revolvimento do conjunto fático-probatório para se averiguar se o paciente, no evento danoso denunciado, agiu com culpa consciente ou dolo eventual, ressaltando-se, ainda, que a análise do elemento subjetivo da conduta que lhe foi atribuída, diante das peculiaridades do caso, caberia ao juiz natural da causa, circunstância que impede qualquer emissão de juízo de valor por esta Corte na via eleita. 4. Diante das conclusões do voto objurgado, o deslinde da questão posta na impetração prescindia da análise de eventual aplicação do disposto no inciso V do parágrafo único do artigo 302 da Lei n. 9.503/97, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.275/06, já que, por força da inadequação da via eleita, sequer se procedeu à 3 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP exauriente. 5. Ordem denegada”. 5. Foram opostos embargos de declaração, rejeitados em 9.11.2010: “EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS. OMISSÃO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXCLUSÃO DO DOLO EVENTUAL. NECESSIDADE DE ANÁLISE PORMENORIZADA DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INOCORRÊNCIA. ACLARATÓRIOS REJEITADOS. 1. Nos termos de entendimento já consolidado nesta Corte, os embargos declaratórios se prestam para sanar eventual ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão em decisão proferida por órgão do Poder Judiciário, sendo certo que apenas excepcionalmente se pode lhe atribuir efeito modificativo, já que se trata de insurgência dotada de caráter eminentemente esclarecedor ou integrativo. 2. A prestação jurisdicional, nos termos exigidos no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, não está condicionada à análise pormenorizada pelo Órgão Julgador de todas as teses e alegações formuladas pelas partes, caso os fundamentos da decisão sejam suficientes para lhe dar embasamento. 3. No caso, a pretensão dos impetrantes foi refutada pelo Órgão Colegiado em razão da necessidade do aprofundado revolvimento do conjunto fático-probatório para se averiguar se o paciente, no evento danoso denunciado, agiu com culpa consciente ou dolo eventual, ressaltando-se, ainda, que a análise do elemento subjetivo da conduta que lhe foi atribuída, diante das peculiaridades do caso, caberia ao juiz natural da causa, circunstância que impede qualquer emissão de juízo de valor por esta Corte na via eleita. 4. Diante das conclusões do voto objurgado, o deslinde da questão posta na impetração prescindia da análise de eventual aplicação do disposto no inciso V do parágrafo único do artigo 302 da Lei n. 9.503/97, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.275/06, já que, por força da inadequação da via eleita, sequer se procedeu à 3 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 32 Relatório HC 107.801 / SP desclassificação pretendida. 5. Embargos rejeitados”. 6. Contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça insurgem-se os Impetrantes, alegando que “é inequívoco que o homicídio perpetrado na direção de veículo automotor em decorrência unicamente da embriaguez do agente se trata de crime culposo, o qual terá a pena exasperada ante a ocorrência da mencionada causa de aumento, de forma que o fato do condutor estar sob o efeito de álcool ou de substância análoga não autoriza o reconhecimento do dolo, nem mesmo o eventual, mas, na verdade, a responsabilização deste se dará a título de culpa” (fl. 8). Afirmam que “o paciente não anuiu com o risco de ocorrência do resultado morte e nem o aceitou, não havendo que se falar em dolo eventual, mas, em última análise, teria sido imprudente ao conduzir seu veículo em suposto estado de embriaguez, agindo, assim, com culpa consciente, o qual acreditando em sua habilidade e capacidade de dirigir, jamais imaginou que o fato típico pudesse ocorrer” (fl. 21). Sustentam que, “tratando-se a Lei n.º 11.275/06 de lei intermediária mais benéfica, é axiomático que esta deve ser aplicada ao caso em comento em virtude do fenômeno da extratividade das normas penais, nos moldes do artigo 5º, inciso XL, da Carta Magna e artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal” (fl. 9). 7. Este o teor dos pedidos: “a) a concessão da medida LIMINAR pleiteada no presente remédio heróico, tendo em vista restarem amplamente comprovados os direitos do paciente e devidamente caracterizados o 'fumus boni iuris' e o 'periculum in mora', com a sustação do andamento da Ação Penal n.º 005/2007, em trâmite pela Vara do Júri da Comarca de Guariba/SP, manejada em face do paciente, até final julgamento da presente impetração; b) ao final, após as informações prestadas pela Autoridade 4 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP desclassificação pretendida. 5. Embargos rejeitados”. 6. Contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça insurgem-se os Impetrantes, alegando que “é inequívoco que o homicídio perpetrado na direção de veículo automotor em decorrência unicamente da embriaguez do agente se trata de crime culposo, o qual terá a pena exasperada ante a ocorrência da mencionada causa de aumento, de forma que o fato do condutor estar sob o efeito de álcool ou de substância análoga não autoriza o reconhecimento do dolo, nem mesmo o eventual, mas, na verdade, a responsabilização deste se dará a título de culpa” (fl. 8). Afirmam que “o paciente não anuiu com o risco de ocorrência do resultado morte e nem o aceitou, não havendo que se falar emdolo eventual, mas, em última análise, teria sido imprudente ao conduzir seu veículo em suposto estado de embriaguez, agindo, assim, com culpa consciente, o qual acreditando em sua habilidade e capacidade de dirigir, jamais imaginou que o fato típico pudesse ocorrer” (fl. 21). Sustentam que, “tratando-se a Lei n.º 11.275/06 de lei intermediária mais benéfica, é axiomático que esta deve ser aplicada ao caso em comento em virtude do fenômeno da extratividade das normas penais, nos moldes do artigo 5º, inciso XL, da Carta Magna e artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal” (fl. 9). 7. Este o teor dos pedidos: “a) a concessão da medida LIMINAR pleiteada no presente remédio heróico, tendo em vista restarem amplamente comprovados os direitos do paciente e devidamente caracterizados o 'fumus boni iuris' e o 'periculum in mora', com a sustação do andamento da Ação Penal n.º 005/2007, em trâmite pela Vara do Júri da Comarca de Guariba/SP, manejada em face do paciente, até final julgamento da presente impetração; b) ao final, após as informações prestadas pela Autoridade 4 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 32 Relatório HC 107.801 / SP coatora e a manifestação do ilustre Órgão do Ministério Público, seja concedido em definitivo o presente Habeas Corpus, procedendo-se a desclassificação da figura típica prevista no artigo 121, § 2 º, inciso IV, c.c. artigo 18, inciso I, segunda parte, todos do Código Penal para o tipo preconizado no artigo 302, 'caput', da Lei n.º 9.503/97, ainda que com o acréscimo previsto no inciso V do parágrafo único do mesmo dispositivo legal, qual seja, homicídio culposo na direção de veículo automotor em decorrência de embriaguez, nos termos do artigo 419 do Código de Processo Penal, determinando-se a remessa dos autos a Vara Criminal da Comarca de Guariba/SP, como medida necessária a distribuição da exata, correta e tão almejada justiça!”. 8. Em 7.4.2011, indeferi o pedido de medida liminar, requisitei informações ao juízo da Vara Única da Comarca de Guariba/SP e determinei fosse dada vista dos autos ao Procurador-Geral da República. 9. Em 26.4.2011, as informações foram prestadas. 10. Em 18.5.2011, a Procuradoria-Geral da República opinou “pelo indeferimento do pedido de habeas corpus”. É o relatório. 5 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP coatora e a manifestação do ilustre Órgão do Ministério Público, seja concedido em definitivo o presente Habeas Corpus, procedendo-se a desclassificação da figura típica prevista no artigo 121, § 2 º, inciso IV, c.c. artigo 18, inciso I, segunda parte, todos do Código Penal para o tipo preconizado no artigo 302, 'caput', da Lei n.º 9.503/97, ainda que com o acréscimo previsto no inciso V do parágrafo único do mesmo dispositivo legal, qual seja, homicídio culposo na direção de veículo automotor em decorrência de embriaguez, nos termos do artigo 419 do Código de Processo Penal, determinando-se a remessa dos autos a Vara Criminal da Comarca de Guariba/SP, como medida necessária a distribuição da exata, correta e tão almejada justiça!”. 8. Em 7.4.2011, indeferi o pedido de medida liminar, requisitei informações ao juízo da Vara Única da Comarca de Guariba/SP e determinei fosse dada vista dos autos ao Procurador-Geral da República. 9. Em 26.4.2011, as informações foram prestadas. 10. Em 18.5.2011, a Procuradoria-Geral da República opinou “pelo indeferimento do pedido de habeas corpus”. É o relatório. 5 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214192. Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO VOTO A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - (Relatora): 1. Conforme relatado, os Impetrantes alegam que o Paciente não teria praticado o crime de homicídio doloso imputado na denúncia, mas o delito de homicídio culposo na direção de veículo automotor. 2. Entretanto, não se comprova nos autos a presença de constrangimento ilegal a ferir direito do Paciente nem ilegalidade ou abuso de poder a ensejar a concessão da ordem de habeas corpus pedida. 3. O Superior Tribunal de Justiça enfrentou as questões postas pelos Impetrantes de forma bem fundamentada. De se enfatizar o voto do Ministro Jorge Mussi, da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no Habeas Corpus n. 94.916, que denegou a ordem, nos termos seguintes: “constata-se que o exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente, até porque a discussão sobre a distinção entre os mencionados elementos enseja grandes debates doutrinários, devendo ser feita de acordo com as provas colacionadas aos autos (...). Ademais, não fosse a vedação de exame detalhado do acervo fático probatório constante dos autos na via angusta do writ, de acordo com o princípio do juiz natural, o julgamento acerca da ocorrência de dolo eventual ou culpa consciente deve ficar a cargo do Conselho de Sentença, que é constitucionalmente competente para Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO VOTO A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - (Relatora): 1. Conforme relatado, os Impetrantes alegam que o Paciente não teria praticado o crime de homicídio doloso imputado na denúncia, mas o delito de homicídio culposo na direção de veículo automotor. 2. Entretanto, não se comprova nos autos a presença de constrangimento ilegal a ferir direito do Paciente nem ilegalidade ou abuso de poder a ensejar a concessão da ordem de habeas corpus pedida. 3. O Superior Tribunal de Justiça enfrentou as questões postas pelos Impetrantes de forma bem fundamentada. De se enfatizar o voto do Ministro Jorge Mussi, da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no Habeas Corpus n. 94.916, que denegou a ordem, nos termos seguintes: “constata-se que o exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente, até porque a discussão sobre a distinçãoentre os mencionados elementos enseja grandes debates doutrinários, devendo ser feita de acordo com as provas colacionadas aos autos (...). Ademais, não fosse a vedação de exame detalhado do acervo fático probatório constante dos autos na via angusta do writ, de acordo com o princípio do juiz natural, o julgamento acerca da ocorrência de dolo eventual ou culpa consciente deve ficar a cargo do Conselho de Sentença, que é constitucionalmente competente para Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP julgar os crimes dolosos contra a vida (...). Cumpre consignar, ainda, que a decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. Igualmente notório que para a admissão da acusação há que se sopesar as provas e indicar onde se acham os exigidos indícios da autoria e prova da materialidade, assim como apontar em que se funda para admitir as qualificadoras porventura capituladas na inicial, dando os motivos do convencimento, sob pena de nulidade da decisão, por ausência de fundamentação. (...) Exatamente o que ocorreu na hipótese vertente, porquanto a decisão de pronúncia demonstrou a materialidade do crime e os indícios de autoria assestados ao paciente, fundamentados no conjunto fático-probatório produzido nos autos, autorizando a sua submissão a julgamento pelo Conselho de Sentença, o qual detém a incumbência de decidir acerca de eventual desclassificação do delito. Até porque, afirmar se o paciente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia, com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo legal, pela Corte Popular, juiz natural da causa, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. E, consoante análise dos autos, na hipótese em apreço, a provisional, nos limites do juízo de admissibilidade da acusação, traz fundamentação idônea a demonstrar a existência de elemento suficientes para a submissão do paciente a julgamento pelo Tribunal do Júri, que examinará as questões aventadas (...). E, repita-se, como o remédio constitucional não é o instrumento adequado à discussão aprofundada a respeito de provas e fatos, não há como se valorar os elementos probatórios até então colacionados, como pretende o impetrante, para perquirir acerca da conduta do paciente 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP julgar os crimes dolosos contra a vida (...). Cumpre consignar, ainda, que a decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. Igualmente notório que para a admissão da acusação há que se sopesar as provas e indicar onde se acham os exigidos indícios da autoria e prova da materialidade, assim como apontar em que se funda para admitir as qualificadoras porventura capituladas na inicial, dando os motivos do convencimento, sob pena de nulidade da decisão, por ausência de fundamentação. (...) Exatamente o que ocorreu na hipótese vertente, porquanto a decisão de pronúncia demonstrou a materialidade do crime e os indícios de autoria assestados ao paciente, fundamentados no conjunto fático-probatório produzido nos autos, autorizando a sua submissão a julgamento pelo Conselho de Sentença, o qual detém a incumbência de decidir acerca de eventual desclassificação do delito. Até porque, afirmar se o paciente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia, com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo legal, pela Corte Popular, juiz natural da causa, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. E, consoante análise dos autos, na hipótese em apreço, a provisional, nos limites do juízo de admissibilidade da acusação, traz fundamentação idônea a demonstrar a existência de elemento suficientes para a submissão do paciente a julgamento pelo Tribunal do Júri, que examinará as questões aventadas (...). E, repita-se, como o remédio constitucional não é o instrumento adequado à discussão aprofundada a respeito de provas e fatos, não há como se valorar os elementos probatórios até então colacionados, como pretende o impetrante, para perquirir acerca da conduta do paciente 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP no evento denunciado, porquanto o debate dessa natureza é atribuição exclusiva do Tribunal do Júri, constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, e não nesta oportunidade e instância, no âmbito estreito do writ. Portanto, qualquer conclusão diversa, na via augusta do writ, consoante vem decidindo esta colenda Turma, inevitavelmente levaria ao vedado revolvimento aprofundado do conjunto probatório, importando em usurpação da competência constitucional da Corte Popular. Dessa forma, tendo a decisão impugnada asseverado que, in casu, há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder a qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, já que conclusão em sentido contrário demandaria profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição exauriente”. 4. O acórdão recorrido está em harmonia com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: “Habeas corpus: inidoneidade para solver mera questão de fato. A via sumária e documental do habeas corpus - afora casos teratológicos de erro conspícuo de direito probatórioou de abstração de fato inequívoco - não se presta a substituir por outro o acertamento judicial dos fatos na sentença condenatória das instâncias ordinárias” (HC 83.636, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 27.2.2004). Nessa linha, entre outros, HC 83.625, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 30.4.2004; HC 98.681, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 5.4.2011; HC 102.971, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 29.3.2011; HC 102.926, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 22.3.2011; HC 101.806, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 13.4.2011; HC 105.836, Rel. Min. Recardo Lewandowski, DJe 7.2.2011. 3 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP no evento denunciado, porquanto o debate dessa natureza é atribuição exclusiva do Tribunal do Júri, constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, e não nesta oportunidade e instância, no âmbito estreito do writ. Portanto, qualquer conclusão diversa, na via augusta do writ, consoante vem decidindo esta colenda Turma, inevitavelmente levaria ao vedado revolvimento aprofundado do conjunto probatório, importando em usurpação da competência constitucional da Corte Popular. Dessa forma, tendo a decisão impugnada asseverado que, in casu, há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder a qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, já que conclusão em sentido contrário demandaria profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição exauriente”. 4. O acórdão recorrido está em harmonia com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: “Habeas corpus: inidoneidade para solver mera questão de fato. A via sumária e documental do habeas corpus - afora casos teratológicos de erro conspícuo de direito probatório ou de abstração de fato inequívoco - não se presta a substituir por outro o acertamento judicial dos fatos na sentença condenatória das instâncias ordinárias” (HC 83.636, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 27.2.2004). Nessa linha, entre outros, HC 83.625, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 30.4.2004; HC 98.681, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 5.4.2011; HC 102.971, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 29.3.2011; HC 102.926, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 22.3.2011; HC 101.806, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 13.4.2011; HC 105.836, Rel. Min. Recardo Lewandowski, DJe 7.2.2011. 3 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP 5. Conforme ressaltou a Procuradoria-Geral da República, em seu parecer: “a ação de habeas corpus não constitui via adequada para se reconhecer a culpa consciente ou o dolo eventual na conduta do acusado. Referida questão é pertinente ao próprio mérito da ação penal, de desate insuscetível nesta via estreita. A pretensão da defesa do recorrente, no tópico, exige profunda e incabível análise probatória para se constatar a existência ou não da vontade livre e consciente de matar. Sabe-se que cabe ao Juiz de primeiro grau apenas verificar motivadamente a existência do crime e dos indícios de sua autoria. A pronúncia não representa a definição de responsabilidade penal do réu, mas apenas um juízo de admissibilidade da acusação, com o único objetivo de submetê-lo ao julgamento pelo Tribunal popular. Se houver qualquer dúvida a respeito da autoria, das qualificadoras referidas na peça acusatória, bem como acerca da ocorrência de dolo eventual ou culpa consciente, seu aclaramento compete ao Júri. Assim, competia ao Juízo singular apenas verificar a existência do crime e de provas suficientes de sua autoria. E tal exame restou validamente feito, havendo a demonstração do fumus boni iuris, mediante aferição dos elementos de prova colhidos, que indicam a forte probabilidade de procedência da imputação, legitimando a segunda fase do processo do Júri. No particular, aliás, bem consignou o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que o acusado conduzia seu veículo embriagado e em velocidade incompatível com o local do acidente, não se importando 'com as possíveis consequências, o que, evidentemente, caracteriza dolo eventual'. Há nos autos, portanto, elementos que comprovam a materialidade e demonstram a existência de indícios de autoria de crime de homicídio doloso, vale dizer, as circunstâncias do ocorrido demonstram ter a aparência de dolo eventual. Enfim, para a inversão do quanto – acertadamente – decidido pela instância a quo, seria necessário o reexame dos elementos de 4 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP 5. Conforme ressaltou a Procuradoria-Geral da República, em seu parecer: “a ação de habeas corpus não constitui via adequada para se reconhecer a culpa consciente ou o dolo eventual na conduta do acusado. Referida questão é pertinente ao próprio mérito da ação penal, de desate insuscetível nesta via estreita. A pretensão da defesa do recorrente, no tópico, exige profunda e incabível análise probatória para se constatar a existência ou não da vontade livre e consciente de matar. Sabe-se que cabe ao Juiz de primeiro grau apenas verificar motivadamente a existência do crime e dos indícios de sua autoria. A pronúncia não representa a definição de responsabilidade penal do réu, mas apenas um juízo de admissibilidade da acusação, com o único objetivo de submetê-lo ao julgamento pelo Tribunal popular. Se houver qualquer dúvida a respeito da autoria, das qualificadoras referidas na peça acusatória, bem como acerca da ocorrência de dolo eventual ou culpa consciente, seu aclaramento compete ao Júri. Assim, competia ao Juízo singular apenas verificar a existência do crime e de provas suficientes de sua autoria. E tal exame restou validamente feito, havendo a demonstração do fumus boni iuris, mediante aferição dos elementos de prova colhidos, que indicam a forte probabilidade de procedência da imputação, legitimando a segunda fase do processo do Júri. No particular, aliás, bem consignou o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que o acusado conduzia seu veículo embriagado e em velocidade incompatível com o local do acidente, não se importando 'com as possíveis consequências, o que, evidentemente, caracteriza dolo eventual'. Há nos autos, portanto, elementos que comprovam a materialidade e demonstram a existência de indícios de autoria de crime de homicídio doloso, vale dizer, ascircunstâncias do ocorrido demonstram ter a aparência de dolo eventual. Enfim, para a inversão do quanto – acertadamente – decidido pela instância a quo, seria necessário o reexame dos elementos de 4 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP convicção produzidos na ação penal, providência essa vedada na estreita via mandamental” (fls. 23-24). 6. Os limites estreitos da via do habeas corpus impossibilitam a análise apurada do elemento subjetivo do tipo penal para que se possa afirmar que a conduta do Paciente foi pautada pelo dolo eventual ou pela culpa consciente. A distinção entre esses dois institutos do Direito Penal, aliás, embora possível na via doutrinária, é de difícil verificação em casos concretos. Nesse sentido são as lições de Guilherme de Souza Nucci: “Diferença entre a culpa consciente e dolo eventual: trata-se de distinção teoricamente plausível, embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as situações o agente tem a previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o admita como possível e, no dolo eventual admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente. Em nota anterior, demonstrou-se, através da jurisprudência pátria, no contexto dos crimes de trânsito, como é tênue a linha divisória entre um e outro. Se, anos atrás, um racha, com vítimas fatais, terminava sendo punido como delito culposo (culpa consciente), hoje não se deixa de considerar o desprezo pela vida por parte do condutor do veículo, punindo-se como crime doloso (dolo eventual)” (NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 146). 7. Ademais, a doutrina e a jurisprudência mais recentes têm admitido, em vários casos, a existência do dolo eventual nos crimes graves de trânsito: “tem sido posição adotada, atualmente, na jusrisprudência pátria considerar a atuação do agente em determinados delitos cometidos no trânsito não mais como culpa consciente, e sim como dolo eventual. As inúmeras campanhas realizadas, demonstrando o 5 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP convicção produzidos na ação penal, providência essa vedada na estreita via mandamental” (fls. 23-24). 6. Os limites estreitos da via do habeas corpus impossibilitam a análise apurada do elemento subjetivo do tipo penal para que se possa afirmar que a conduta do Paciente foi pautada pelo dolo eventual ou pela culpa consciente. A distinção entre esses dois institutos do Direito Penal, aliás, embora possível na via doutrinária, é de difícil verificação em casos concretos. Nesse sentido são as lições de Guilherme de Souza Nucci: “Diferença entre a culpa consciente e dolo eventual: trata-se de distinção teoricamente plausível, embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as situações o agente tem a previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o admita como possível e, no dolo eventual admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente. Em nota anterior, demonstrou-se, através da jurisprudência pátria, no contexto dos crimes de trânsito, como é tênue a linha divisória entre um e outro. Se, anos atrás, um racha, com vítimas fatais, terminava sendo punido como delito culposo (culpa consciente), hoje não se deixa de considerar o desprezo pela vida por parte do condutor do veículo, punindo-se como crime doloso (dolo eventual)” (NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 146). 7. Ademais, a doutrina e a jurisprudência mais recentes têm admitido, em vários casos, a existência do dolo eventual nos crimes graves de trânsito: “tem sido posição adotada, atualmente, na jusrisprudência pátria considerar a atuação do agente em determinados delitos cometidos no trânsito não mais como culpa consciente, e sim como dolo eventual. As inúmeras campanhas realizadas, demonstrando o 5 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP perigo da direção perigosa e manifestamente ousada, são suficientes para esclarecer os motoristas da vedação legal de certas condutas, tais como o racha, a direção em alta velocidade, sob embriaguez, entre outras. Se, apesar disso, continua o condutor do veículo a agir dessa forma nitidamente arriscada, estará demonstrando seu desapego à incolumidade alheia, podendo responder por delito doloso” (NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 140). 8. Assim, na espécie vertente, a análise de mais de uma corrente probatória (dolo eventual ou culpa consciente) no processo de competência do Tribunal do Júri exigiria profundo revolvimento de fatos e provas, o que ultrapassa o âmbito de cognição do procedimento sumário e documental do habeas corpus, em flagrante transformação dele em processo de conhecimento sem previsão na legislação vigente. Pela sua natureza constitucional e pelo procedimento célere que o notabiliza, o habeas corpus não comporta exame detalhado e profundo da prova para se constatar a ilegalidade, ao contrário do que sucede nos processos comuns. Para Paulo Lúcio Nogueira: “o instituto do habeas corpus visa amparar direito líquido, que se entende aquele cuja existência não é afetada por dúvidas ou incertezas. É de se ver que tal direito deve ser demonstrado com evidência, sem necessitar de produzir provas, pois no julgamento de habeas corpus não é admissível o exame aprofundado de provas. É claro que o impetrante terá que fornecer de plano os elementos indispensáveis que demonstrem a liquidez de seu direito. O que não se admite é que haja exame aprofundado de prova, para aferir o direito do impetrante ou paciente, que deve fluir naturalmente do próprio pedido” (NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Questões processuais controvertidas. São Paulo: Sugestões Literárias, 1977, p. 325). 6 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP perigo da direção perigosa e manifestamente ousada, são suficientes para esclarecer os motoristas da vedação legal de certas condutas, tais como o racha, a direção em alta velocidade, sob embriaguez, entre outras. Se, apesar disso, continua o condutor do veículo a agir dessa forma nitidamentearriscada, estará demonstrando seu desapego à incolumidade alheia, podendo responder por delito doloso” (NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 140). 8. Assim, na espécie vertente, a análise de mais de uma corrente probatória (dolo eventual ou culpa consciente) no processo de competência do Tribunal do Júri exigiria profundo revolvimento de fatos e provas, o que ultrapassa o âmbito de cognição do procedimento sumário e documental do habeas corpus, em flagrante transformação dele em processo de conhecimento sem previsão na legislação vigente. Pela sua natureza constitucional e pelo procedimento célere que o notabiliza, o habeas corpus não comporta exame detalhado e profundo da prova para se constatar a ilegalidade, ao contrário do que sucede nos processos comuns. Para Paulo Lúcio Nogueira: “o instituto do habeas corpus visa amparar direito líquido, que se entende aquele cuja existência não é afetada por dúvidas ou incertezas. É de se ver que tal direito deve ser demonstrado com evidência, sem necessitar de produzir provas, pois no julgamento de habeas corpus não é admissível o exame aprofundado de provas. É claro que o impetrante terá que fornecer de plano os elementos indispensáveis que demonstrem a liquidez de seu direito. O que não se admite é que haja exame aprofundado de prova, para aferir o direito do impetrante ou paciente, que deve fluir naturalmente do próprio pedido” (NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Questões processuais controvertidas. São Paulo: Sugestões Literárias, 1977, p. 325). 6 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP No caso dos autos, o reconhecimento da suposta incorreção na tipificação do delito imputado ao Paciente, como querem os Impetrantes, reclama percuciente enfrentamento da prova, o que é incompatível com os limites estreitos do habeas corpus. Não há espaço para exame aprofundado ou apurado das provas, especialmente para o cotejo do elemento subjetivo do tipo penal (dolo ou culpa) com a aferição da intenção do Paciente. 9. Finalmente, deve-se mencionar que, na fase de pronúncia, vigora o princípio do in dubio pro societate, segundo o qual somente as acusações manifestamente improcedentes não serão admitidas. O juiz verifica, nessa fase, tão somente, se a acusação é viável, deixando o exame apurado dos fatos para os jurados, que, no momento apropriado, analisarão a tese defensiva sustentada nestes autos. Nesse sentido são os ensinamentos de Fernando Capez: “Pronúncia: decisão processual de conteúdo declaratório em que o juiz proclama admissível a imputação, encaminhando-a para julgamento perante o Tribunal do Júri. O juiz-presidente não tem competência constitucional para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, logo não pode absolver nem condenar o réu, sob pena de afrontar o princípio da soberania dos veredictos. Na pronúncia, há um mero juízo de prelibação, pelo qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem penetrar no exame do mérito. Restringe-se à verificação da presença do fumus boni iuris, admitindo todas as acusações que tenham ao menos probabilidade de procedência. No caso de o juiz se convencer da existência do crime e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de pronúncia, fundamentando os motivos de seu convencimento. Não é necessária prova plena de autoria, bastando meros indícios, isto é, a probabilidade de que o réu tenha sido o autor do crime. Trata-se de decisão interlocutória mista não terminativa, que encerra a primeira fase do procedimento escalonado. A decisão é meramente processal, e não se admite que o juiz faça um exame 7 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP No caso dos autos, o reconhecimento da suposta incorreção na tipificação do delito imputado ao Paciente, como querem os Impetrantes, reclama percuciente enfrentamento da prova, o que é incompatível com os limites estreitos do habeas corpus. Não há espaço para exame aprofundado ou apurado das provas, especialmente para o cotejo do elemento subjetivo do tipo penal (dolo ou culpa) com a aferição da intenção do Paciente. 9. Finalmente, deve-se mencionar que, na fase de pronúncia, vigora o princípio do in dubio pro societate, segundo o qual somente as acusações manifestamente improcedentes não serão admitidas. O juiz verifica, nessa fase, tão somente, se a acusação é viável, deixando o exame apurado dos fatos para os jurados, que, no momento apropriado, analisarão a tese defensiva sustentada nestes autos. Nesse sentido são os ensinamentos de Fernando Capez: “Pronúncia: decisão processual de conteúdo declaratório em que o juiz proclama admissível a imputação, encaminhando-a para julgamento perante o Tribunal do Júri. O juiz-presidente não tem competência constitucional para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, logo não pode absolver nem condenar o réu, sob pena de afrontar o princípio da soberania dos veredictos. Na pronúncia, há um mero juízo de prelibação, pelo qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem penetrar no exame do mérito. Restringe-se à verificação da presença do fumus boni iuris, admitindo todas as acusações que tenham ao menos probabilidade de procedência. No caso de o juiz se convencer da existência do crime e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de pronúncia, fundamentando os motivos de seu convencimento. Não é necessária prova plena de autoria, bastando meros indícios, isto é, a probabilidade de que o réu tenha sido o autor do crime. Trata-se de decisão interlocutória mista não terminativa, que encerra a primeira fase do procedimento escalonado. A decisão é meramente processal, e não se admite que o juiz faça um exame 7 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 32 Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA HC 107.801 / SP aprofundado do mérito, sob pena de se subtrair a competência do Juri. A exagerada incursão do juiz sobre as provas dos autos, capaz de influir no ânimo do conselho de sentença, é incompatível com a natureza meramente prelibatória da pronúncia, gerando a sua nulidade e consequente desentranhamento dos autos” (CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 641-642). Assim, não competia ao juiz sumariante, ao proferir a decisão de pronúncia, promover a análise minuciosa dos fatos descritos na peça inicial acusatória, pois, se assim agisse, estaria usurpando a competência constitucional do Tribunal do Júri. 10. Pelo exposto, encaminhoa votação no sentido de denegar a ordem de habeas corpus. É como voto. 8 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP aprofundado do mérito, sob pena de se subtrair a competência do Juri. A exagerada incursão do juiz sobre as provas dos autos, capaz de influir no ânimo do conselho de sentença, é incompatível com a natureza meramente prelibatória da pronúncia, gerando a sua nulidade e consequente desentranhamento dos autos” (CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 641-642). Assim, não competia ao juiz sumariante, ao proferir a decisão de pronúncia, promover a análise minuciosa dos fatos descritos na peça inicial acusatória, pois, se assim agisse, estaria usurpando a competência constitucional do Tribunal do Júri. 10. Pelo exposto, encaminho a votação no sentido de denegar a ordem de habeas corpus. É como voto. 8 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1214193. Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 32 Vista 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO VISTA O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhora Presidente, recentemente o Ministro Marco Aurélio fez uma intervenção num caso semelhante a esse, só que, quer dizer, não é um caso semelhante em termos fáticos, mas um caso, em tese, semelhante a esse em que estava ocorrendo uma certa banalização dos julgamentos desses fatos pelo Júri. Nós sabemos que o julgamento do Júri é um julgamento diferente do julgamento realizado por juízo técnico. O artigo 419 dispõe que, quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso e não for competente para o julgamento, ele remeterá os autos ao juiz que o seja. Então, a desclassificação do delito é uma das tarefas do juiz no momento da pronúncia: ou ele pronuncia, ou ele impronuncia, ou ele desclassifica, ou ele absolve sumariamente. Essa, digamos assim, afirmação generalizada de que esses delitos de trânsito estão incorrendo em dolo eventual, isso só ocorreria se houvesse a comprovação da actio libera in causa, quer dizer, ele se embebedou para praticar o ilícito. Tendo em vista que esse precedente pode, realmente, trazer algumas repercussões sociais, ser um pouco gravoso sob o ângulo punitivo, porque o julgamento do Júri é um julgamento apaixonado, que vai depender do local onde ele ocorra, eu vou pedir vista, porque tenho muito preocupação com essa banalização desses delitos. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Acaba-se esvaziando o artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê o homicídio, e o faz, inclusive, considerada a imprudência de se dirigir embriagado, apontando-a como causa de aumento. Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1481807. Supremo Tribunal Federal 31/05/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO VISTA O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhora Presidente, recentemente o Ministro Marco Aurélio fez uma intervenção num caso semelhante a esse, só que, quer dizer, não é um caso semelhante em termos fáticos, mas um caso, em tese, semelhante a esse em que estava ocorrendo uma certa banalização dos julgamentos desses fatos pelo Júri. Nós sabemos que o julgamento do Júri é um julgamento diferente do julgamento realizado por juízo técnico. O artigo 419 dispõe que, quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso e não for competente para o julgamento, ele remeterá os autos ao juiz que o seja. Então, a desclassificação do delito é uma das tarefas do juiz no momento da pronúncia: ou ele pronuncia, ou ele impronuncia, ou ele desclassifica, ou ele absolve sumariamente. Essa, digamos assim, afirmação generalizada de que esses delitos de trânsito estão incorrendo em dolo eventual, isso só ocorreria se houvesse a comprovação da actio libera in causa, quer dizer, ele se embebedou para praticar o ilícito. Tendo em vista que esse precedente pode, realmente, trazer algumas repercussões sociais, ser um pouco gravoso sob o ângulo punitivo, porque o julgamento do Júri é um julgamento apaixonado, que vai depender do local onde ele ocorra, eu vou pedir vista, porque tenho muito preocupação com essa banalização desses delitos. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Acaba-se esvaziando o artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê o homicídio, e o faz, inclusive, considerada a imprudência de se dirigir embriagado, apontando-a como causa de aumento. Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1481807. Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 32 Decisão de Julgamento PRIMEIRA TURMA EXTRATO DE ATA HABEAS CORPUS 107.801 PROCED. : SÃO PAULO RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA PACTE.(S) : LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI IMPTE.(S) : JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Cármen Lúcia, Relatora-Presidente, que denegava a ordem de habeas corpus, pediu vista do processo o Senhor Ministro Luiz Fux. 1ª Turma, 31.5.2011. Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à Sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Luiz Fux. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas. Carmen Lilian Coordenadora Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o número 1229890 Supremo Tribunal Federal PRIMEIRA TURMA EXTRATO DE ATA HABEAS CORPUS 107.801 PROCED. : SÃO PAULO RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA PACTE.(S) : LUCAS DE ALMEIDA MENOSSI IMPTE.(S) : JOSÉ HUMBERTO SCRIGNOLLI E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Cármen Lúcia, Relatora-Presidente, que denegava a ordem de habeas corpus, pediu vista do processo o Senhor Ministro Luiz Fux. 1ª Turma, 31.5.2011. Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à Sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Luiz Fux. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas. Carmen Lilian Coordenadora Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o número 1229890 Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de32 Voto Vista 06/09/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO V O T O – V I S T A O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR): Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário impetrado contra acórdão denegatório de idêntica medida, sintetizado na seguinte ementa, in verbis: HABEAS CORPUS . TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXAME DE ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. ANÁLISE APROFUNDADA DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. 2. O exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual, faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente. 3. Afirmar se agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada pela Corte Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453426. Supremo Tribunal Federal 06/09/2011 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS 107.801 SÃO PAULO V O T O – V I S T A O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (RELATOR): Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário impetrado contra acórdão denegatório de idêntica medida, sintetizado na seguinte ementa, in verbis: HABEAS CORPUS . TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA POR HOMICÍDIO QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXAME DE ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. ANÁLISE APROFUNDADA DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade. É o mandamento do art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. 2. O exame da insurgência exposta na impetração, no que tange à desclassificação do delito, demanda aprofundado revolvimento do conjunto probatório - vedado na via estreita do mandamus -, já que para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual, faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do paciente. 3. Afirmar se agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada pela Corte Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453426. Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 32 Voto Vista HC 107.801 / SP produzido no âmbito do devido processo legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. 4. Na hipótese, tendo a decisão impugnada asseverado que há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder à qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, que depende de profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição exauriente. 5. Ordem denegada. Segundo consta nos autos, o paciente foi denunciado pela prática de homicídio qualificado (art. 121, 2º, IV c/c art. 18, I, segunda parte do Código Penal), porquanto teria, na direção de veículo automotor e sob o efeito de bebidas alcoólicas, atropelado a vítima, que veio a óbito. Pronunciado o paciente pelo delito de homicídio doloso, interpôs recurso em sentido estrito, que restou desprovido, ensejando a impetração de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, alfim denegado. Nesta impetração, sustenta-se que o fato imputado ao paciente deve ser tipificado como homicídio culposo, uma vez que aplicável ao homicídio praticado em direção de veículo automotor por agente sob o efeito de bebidas alcoólicas o art. 302, inciso V, do CTB, na redação da Lei nº 11.275/06, in verbis: Art. 302. ................ Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente: 2 Supremo Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1453426. Supremo Tribunal Federal HC 107.801 / SP produzido no âmbito do devido processo legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício. 4. Na hipótese, tendo a decisão impugnada asseverado que há provas da ocorrência do delito e indícios da autoria assestada ao paciente e tendo a provisional trazido a descrição da conduta com a indicação da existência de crime doloso contra a vida, sem proceder à qualquer juízo de valor acerca da sua motivação, não se evidencia o alegado constrangimento ilegal suportado em decorrência da pronúncia a título de dolo eventual, que depende de profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente sopesadas pelo Juízo competente no âmbito do procedimento próprio, dotado de cognição exauriente. 5. Ordem denegada. Segundo consta nos autos, o paciente foi denunciado pela prática de homicídio qualificado (art. 121, 2º, IV c/c art. 18, I, segunda parte do Código Penal), porquanto teria, na direção de veículo automotor e sob o efeito de bebidas alcoólicas, atropelado a vítima, que veio a óbito. Pronunciado o paciente pelo delito de homicídio doloso, interpôs recurso em sentido estrito, que restou desprovido, ensejando a impetração de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, alfim denegado. Nesta impetração, sustenta-se que o fato imputado ao paciente deve ser tipificado como homicídio culposo, uma vez que aplicável ao homicídio praticado
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