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Slides Dir. Emp. IV - doutrina

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DIREITO EMPRESARIAL IV
Unidade 1 - Noções Gerais de Direito Falimentar
Profª Roberta C. de M. Siqueira/ Direito Empresarial IV
ATENÇÃO: Este material é meramente informativo e não exaure a matéria. Foi retirado da bibliografia do curso constante no seu Plano de Ensino. São necessários estudos complementares. Mera orientação e roteiro para estudos.
 1.1 Etimologia
A palavra falência deriva do latim fallentia : enganar, falsear.
Proveniente do verbo, falir, que se origina do verbo latino fallere, significando faltar com a palavra, com o prometido, esconder, encobrir, lograr, induzir em erro.Não ter com que pagar os credores, fracassar.
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Usava-se a expressão quebra, (terceira parte do CCom/1850) - tradição das Ordenações Manuelinas, de 1521. 
Também o termo bancarrota, originário do italiano banco rotto - banco quebrado (falência ou quebra criminosa). 
O termo não subsistiu em solo brasileiro (Código Criminal de 1830 foi designado para a falência fraudulenta).
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 1.2 Crises na Empresa
A empresa representa a maior parte das atividades que fazem parte da economia moderna e delimita o âmbito de atuação do direito empresarial.
A atividade empresarial gera dificuldades de todos os tipos.
As dificuldades culminam em crises variadas. Podem advir tanto do sujeito que exerce a empresa, como de outros fatores. 
As consequências das crises são a existência de normas específicas sobre a empresa em crise.
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São modalidades de crise nas empresas:
Crise de Rigidez – atividade não se adapta ao ambiente. Causas externas ao empresário. 
Crise de Eficiência – atividade rende menos que deveria. Causas internas. 
Crise Econômica – a atividade tem rendimentos menores que seus custos. 
Crise Financeira – é a crise de liquidez, que inviabiliza os pagamentos. Preocupante pois atinge a terceiros (fornecedores e sistema de crédito). 
Crise Patrimonial – quando o ativo é menor que o passivo. 
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 1.2.1 Solução das Crises
As crises que afetam apenas os interesses do empresários não ensejam preocupações do ordenamento jurídico, mas as que afetam interesses de terceiros, ensejando soluções por parte do mercado e do Estado.
Crises que interessam ao direito empresarial são as financeira, econômica e patrimonial, pois podem representar a inadimplência e o aumento do risco dos credores, bem como a redução dos empregos.
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As primeiras soluções para as crises devem advir da própria atuação do mercado. Ex.: acordos entre o devedor e seus credores; investimentos de empreendedores (aquisição de ativos, trespasse do estabelecimento, incorporação, entre outros).
Forma natural de superação das crises depende da atuação das forças de mercado e da possibilidade econômica de realização de investimentos.
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As soluções estatais surgem na medida da impossibilidade de soluções do mercado.
O ordenamento jurídico brasileiro fornece duas soluções gerais: a recuperação judicial e a recuperação extrajudicial. Em ambas há atuação do Poder Judiciário, acompanhando a aplicação dos procedimentos legais previstos.
A recuperação judicial consiste numa série de atos praticados sob supervisão judicial e destinados a reestruturar e manter em funcionamento a empresa em dificuldades econômico-financeiras temporárias (art. 47, Lei nº 11.101/2005).
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A recuperação extrajudicial tem por objetivo reestruturar a empresa em crise econômico-financeira, mas com menor intervenção do aparato jurisdicional. O Judiciário apenas homologa a vontade das partes.
Existem ainda soluções específicas para certos ramos de atividades (caráter mais estratégico, recebem fiscalização especial do poder público). Regime próprio de liquidação patrimonial denominado de liquidação extrajudicial (Lei nº 6.024/74, Decreto-lei nº 73/66 e Lei nº 9.656/98). :
Sistema financeiro nacional (instituições financeiras e equiparadas)
Seguradoras
Sociedades de capitalização
Entidades de previdência privada 
Operadoras de planos de saúde. 
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1.3 Empresas não Recuperáveis
Em muitos casos, as crises não podem ser superadas.
Nesses casos opta-se pela liquidação patrimonial na tentativa de prejuízos ainda maiores.
A liquidação patrimonial ordinária pode ocorrer por iniciativa do próprio empresário ou dos sócios da sociedade empresária. Instaura-se um procedimento com a devida baixa no registro.
A liquidação forçada é aquela imposta pelo Poder Judiciário ou pelo Poder Executivo. Para as atividades não empresárias, esta liquidação se dá através da insolvência civil.
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A forma de liquidação patrimonial forçada imposta pelo Poder Judiciário é a falência, que se resume a um processo de execução coletiva contra o devedor empresário.
Seu objetivo é o pagamento de todos os credores. 
Deve ser feito através da otimização dos bens, ativos, recursos produtivos e os intangíveis, de forma a conseguir seu melhor aproveitamento (art. 75, Lei nº 11.101/2005).
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1.4 Objetivos do Direito Falimentar
O direito falimentar ou direito das empresas em crise possui quatro objetivos fundamentais:
Prevenir as crises
Recuperar as empresas em crise
Liquidar as empresas não recuperáveis
Punir os sujeitos culpados em tais crises.
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1.5 Conceito dos Institutos Falimentares
 O termo falência significa falta do cumprimento de uma obrigação ou do que foi prometido. Pode ser vista sob dois ângulos completamente distintos:
 
a) Econômico: revela um estado patrimonial, a condição de quem, havendo recebido uma prestação a crédito, não tenha disponível, para o cumprimento da contraprestação, um valor suficiente.
b) jurídico: demonstra um processo de execução coletiva contra o devedor comerciante.
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 A falência é um procedimento judicial a que está sujeita a empresa mercantil devedora, que não paga obrigações líquidas na data do vencimento, consistindo em execução coletiva de seus bens, à qual concorrem todos os credores.
E tem por objetivo (art. 75): 
Venda forçada do patrimônio disponível 
Verificação dos créditos
Liquidação do ativo e a solução do passivo, de forma a distribuir os valores arrecadados, mediante rateio entre os credores, de acordo com a ordem legal de preferência, depois de feita a chamada classificação dos créditos. 
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1.6 Insolvência Civil (Art. 748/761 CPC) 
A insolvência civil caracteriza-se pela desproporção negativa patrimonial, ou seja a superação do ativo pelo passivo.
A insolvência civil é real, diferente da falência, que é jurídica. 
A insolvência na falência não tem correlação com o ativo e passivo do devedor empresário. 
A insolvência na falência é insolvência jurídica (ou provisória, ou presumida ou insolvabilidade).
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 Princípio geral da solvabilidade jurídica: pressupõe que o patrimônio positivo (ativo) tenha capacidade econômica de suportar as obrigações constantes de seu patrimônio negativo (passivo). Surge da união dos artigos 391 e 91 do CC.
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 1.7 Histórico do Instituto da Falência
Roma antiga – devedor respondia por suas obrigações com a própria liberdade ou com a própria vida. Garantia do credor = devedor (pessoa).
Lex Poetelia Papiria (428 a.C.) – direito romano trouxe regras sobre a responsabilidade patrimonial (proibição de encarceramento, venda como escravo e a morte do devedor). Muda-se o entendimento: bens servem como garantia e não a pessoa do devedor.
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TÁBUA TERCEIRA
Dos direitos de crédito
1. Se o depositário, de má fé, pratica alguma falta com relação ao depósito, que seja condenado em dobro.
2. Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento ao ano, que seja condenado a devolver o quádruplo.
3. O estrangeiro jamais poderá adquirir bem algum por usucapião.
	4. Aquele que confessa dívida perante o magistrado ou é condenado, terá 30 dias para pagar.
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5. Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja agarrado e levado à presença do magistrado.
	6. Se não paga e ninguém se apresenta como fiador, que o devedor seja levado pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com cadeias com
peso até o máximo de 15 libras, ou menos, se assim o quiser o credor.
7. O devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser o credor que o mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a seu critério.
8. Se não há conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias, durante os quais será conduzido em 3 dias, de feira ao comitium, onde só proclamará em altas vozes, o valor da divida.
9. Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre.
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Quando os bens não fossem suficientes: Código de Justiniano.
Missio in possessio bonorum – os credores adquiriam a posse comum dos bens do devedor, os quais passavam a ser administrados por um curador, o curator bonorum.
Período inicial do direito falimentar : caráter repressivo. Objetivo era punir o devedor e não recebimento dos créditos.
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Idade Média também foram identificadas regras especiais para a execução dos devedores insolventes (comerciante ou não), com caráter repressivo.
Codificação Napoleônica separou o direito privado e o direito falimentar passou a ser aplicado somente àqueles que tinham a qualidade de comerciantes. Caráter repressivo e punitivo do devedor, porém, continuou.
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Com a evolução social, o direito falimentar também evolui e o devedor passa a ser analisado sob outros olhos. Postulados da livre-iniciativa e livre-concorrência.
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 1.7.1 Histórico Brasileiro
Até meados de 1850 vigoraram as Ordenações do Reino: Afonsinas, Manuelinas e Filipinas.
Regras falimentares severas com o devedor:
Alvará de 1756 (Marquês de Pombal): obrigava o devedor a comparecer à Junta Comercial e lá entregar as chaves de seus armazéns e seu livro Diário, bem como declarar todos os seus bens (90% era vendido e 10% mantido para o sustento). 
Falência = ruína patrimonial e moral do devedor.
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Proclamação da Independência (1822) – Lei da Boa Razão (aplicava no Brasil a lei dos países Europeus quanto aos negócios mercantis e marítimos).
1808 – Abertura dos portos às Nações Amigas e incremento das relações mercantis.
1850 – promulgação da Lei 556, o Código Comercial, que tratava “das quebras” em sua parte terceira. O processo falimentar foi regulado, também em 1850, pelo Regulamento 738.
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Código Comercial sofreu duras críticas do doutrina comercialista.
40 anos depois, edita-se o Decreto 917/1890, alterando o critério de caracterização da insolvência do devedor.
Série de leis e decretos até 1945, quando foi editado o Decreto-lei 7.661 (em vigor durante 60 anos aproximadamente).
Em 1993 foi apresentado novo projeto. Após mais de dez anos de tramitação, surge a Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, com vigência desde 9 de junho de 2005, após a vacatio legis (art. 201).
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Principais alterações trazidas pela Lei 11.101/05:
Substituição da concordata pela recuperação judicial;
Aumento do prazo da contestação (24 horas para 10 dias);
Impontualidade injustificada em dívida superior a 40 salários mínimos;
Redução da participação do MP;
Alteração de participação do síndico, chamado agora de administrador judicial;
Mudança da ordem de classificação dos créditos e previsão de créditos extraconcursais;
Alteração de regras relativas à ação revocatória;
Fim da medida cautelar de verificação de contas;
Fim do inquérito judicial;
Criação da recuperação extrajudicial.
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A lei 11.101/2005 foi objeto de duas ações diretas de inconstitucionalidade propostas pela Confederação Nacional das Profissões Liberais (ADI 3.424) e pelo Partido Democrático Trabalhista (ADI 3.934).
Anexo I: ADI 3.424 e ADI 3.934.
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 1.8 Âmbito de Incidência 
Lei 11.101/2005 tentativa de superar as crises nas empresas ou liquidar o que não fosse passível de recuperação. 
A orientação anterior (Decreto-lei 7.661/1945) era no sentido da liquidação das empresas. 
Hoje recuperação das empresas.
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a) Conteúdo da Lei 11.101/2005:
Disposições comuns aos três institutos
Disposições comuns à falência e à recuperação judicial
 Disposições específicas a cada um deles
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b) Regimes da lei 11.101/2005:
Regime Geral: falência, recuperação judicial e recuperação extrajudicial. Art. 1º - submete os empresários e as sociedades empresárias ao Regime geral.
Regime Especial: intervenção, liquidação extrajudicial e regime de administração especial temporária (RAET).
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 1.8.1 Conceito de Empresário
Art. 966, CC. É o sujeito de direito que exerce a empresa, em seu próprio nome, assumindo todo o risco da atividade.
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Elementos ou características do empresário:
Lucratividade ou economicidade
Organização dos fatores de produção
Profissionalismo
Direcionamento ao mercado
Assunção de risco
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 1.8.2 Não abrangidos pelo conceito 
Os previstos no art. 966, parágrafo único, CC. 
Organização atividade desenvolvida.
Ressalva contida no art. 1º da Lei 11.101/2005.
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Enunciado 194, da III Jornada de Direito Civil (CJF/ 2004): “ Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”.
Um dos critérios utilizados para verificar a predominância da organização é a padronização e objetivação da atividade.
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 1.8.3 Situações Especiais 
A condição de empresário não dependerá exclusivamente da atividade desenvolvida: 
Sociedade por ações
Empresários rurais
Sociedade cooperativa
Sociedade em conta de participação
Empresários irregulares
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Sociedades por Ações: são sociedades empresárias (sociedade anônima e comandita por ações), não importando a atividade desenvolvida por elas (art. 982, § único, CC). Em razão dessa forma, estão sujeitas ao regime da Lei nº 11.101/2005.
Empresários Rurais: podem se sujeitar ao regime empresarial ou não (art. 971, CC), dependendo se sua opção pessoal.
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Sociedade Cooperativa: Possuem sua natureza definida em lei, independentemente da atividade exercida (art. 982, § único, CC). Serão sempre sociedades simples. 
Sociedade em Conta de Participação: é uma sociedade oculta, que não aparece perante terceiros, sendo desprovida de personalidade jurídica. Não é considerada sociedade empresária, por isto não está sujeita ao regime da Lei nº 11.101/2005. 
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Empresários Irregulares: descumprem suas obrigações decorrentes do regime jurídico empresarial. 
Se inserem no conceito de empresário: aplica-se a Lei 11.101/2005, no que se refere à falência.
Não se aplica a recuperação judicial ou extrajudicial exigem o exercício regular da atividade há pelo menos 2 anos (art. 48).
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1.9 Exclusões do Âmbito da Lei
Os empresários estão sujeitos à falência, à recuperação judicial e à recuperação extrajudicial (art. 1º).
O art. 2º exclui alguns agentes econômicos:
Justificativa importância destas atividades para a economia.
A exclusão nem sempre é absoluta (em alguns casos os excluídos podem se submeter ao regime da falência). Existem casos de exclusão absoluta e relativa.
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a) Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista 
Criadas por autorização legal e representam meios de atuação estatal para a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades econômicas.
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A matéria é objeto de controvérsias.
A regra é inconstitucional: deveria ser aplicado a tais entidades o mesmo regime das sociedades privadas (173, § 1º da CF/88), ressaltando ainda a responsabilidade subsidiária do Estado em razão do princípio da moralidade administrativa (José Edwaldo Tavares Borba, Haroldo Malheiros Verçosa, etc.).
É uma hipótese de exclusão absoluta sem qualquer violação constitucional (Gladston Mamede, José da Silva Pacheco, Fábio Ulhoa Coelho, Waldo Fazzio Júnior, etc.), tendo em vista o interesse
público envolvido, bem como a posição dos administradores de tais companhias.
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Posição intermediária: Sob a ótica do direito constitucional e do direito administrativo, há que se diferenciar as empresas estatais que exploram atividades econômicas (art. 173, § 1º, II, CF/88) e as que são prestadoras de serviços públicos (art. 175, CF/88).
As que exploram atividades econômicas estão sujeitas aos termos da Lei 11.101/2005, conforme interpretação do art. 173, § 1º, II da CF/88. Já as prestadoras de serviço público estão absolutamente excluídas do âmbito da Lei 11.101/2005 (Gabriel de Britto Campos, José dos Santos Carvalho Filho, Marlon Tomazette).
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b) Instituições Financeiras
Caso de exclusão relativa.
São pessoas jurídicas públicas ou privadas, que se dedicam profissionalmente a operações de crédito (Lei nº 4.595/64, art. 17).
São os bancos, as distribuidoras e corretoras de títulos e valores mobiliários, as casas de câmbio, as operadoras de leasing e as administradoras de consórcio (lei nº 11.795/2008, art. 39).
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Submetem-se a regimes especiais:
Intervenção (Lei nº 6.024/74);
Liquidação Extrajudicial (Lei nº 6.024/74);
Regime de Administração Especial Temporária RAET (Decreto-lei nº 2.321/87).
O art. 197, ressalta a aplicação das leis especiais, com aplicação subsidiária da lei de falências e recuperação de empresas. Porém, nos termos das leis especiais, vê-se que a exclusão é relativa e não absoluta.
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As leis nº 6.024/74 e o Decreto-lei nº 2.321/87 nunca permitiram que as instituições financeiras tivessem acesso à concordata, e por isso, com a lei 11.101/2005, elas não tem acesso à recuperação judicial ou extrajudicial, prevalecendo os regimes especiais.
Entretanto, a legislação especial não veda a falência e o pedido, por essa razão, pode ser feito por qualquer legitimado, desde que preenchidos os pressupostos da lei nº 11.101/2005. 
No entanto, a competência para o pedido se houver sido decretado algum dos regimes especiais, passa a ser do interventor ou liquidante, em vez do credor, em todo caso, com autorização do Banco Central.
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Casos de autorização do pedido de falência nos regimes especiais:
Na intervenção: ativo insuficiente para cobrir metade do valor dos créditos quirografários, julgada inconveniente a liquidação extrajudicial ou quando a complexidade dos negócios ou gravidade dos fatos aconselharem a medida (art. 12, d, Lei nº 6.024/74);
Na liquidação extrajudicial: ativo insuficiente para cobrir pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários e indícios de crimes falimentares;
Regime de Administração Especial Temporária (RAET): não há possibilidade de pedido de falência em nenhuma hipótese.
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 C) Seguradoras 
Excluídas relativamente do âmbito da Lei nº 11.101/2005,
Justificativa mercado específico que atuam e do nível elevado de risco que acarretam a terceiros.
Regidas por leis especiais (Decreto-lei nº 73/66): permitem sua submissão eventualmente à falência, mas nunca à recuperação judicial ou extrajudicial. Pode ser feito pedido de falência se, no curso da liquidação, ficar constatado que o ativo não é suficiente para o pagamento de pelo menos metade dos credores quirografários, ou fundados indícios da ocorrência de crime falimentar (Decreto-lei nº 73/66, art. 26). 
A entidade responsável pela intervenção ou medidas especiais de fiscalização é a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
 
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 D) Sociedades de Capitalização 
Contratos onde as partes ajustam que uma delas se compromete a entregar uma prestação pecuniária mensal durante certo tempo para a outra, a qual, por seu turno fica obrigada a pagar, no vencimento da estipulação ou em momento anterior, o total das prestações efetuadas, acrescido de juros e correção monetária.
A supervisão estatal (SUSEP) se dá desde a sua constituição e permanece durante todo o seu funcionamento. O regime de fiscalização é o mesmo das seguradoras (Decreto-lei nº 261/67).
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Exclui-se completamente a recuperação judicial ou extrajudicial, mas admite-se a falência:
se o ativo não for suficiente para pagamento de pelo menos a metade dos credores quirografários, ou quando houver fundados indícios de ocorrência de crime falimentar (Decreto-lei nº 73/66, art. 26).
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E) Operadoras de Planos de Saúde
Importância da saúde na vida social. Fiscalização realizada pela Agência Nacional de Saúde (ANS).
Pode ser determinado a alienação da carteira, o regime de direção fiscal ou técnica, por prazo não superior a 365 dias, ou a liquidação extrajudicial, conforme a gravidade do caso (Lei nº 9.656/98, art. 24).
Não se admite a recuperação judicial ou extrajudicial.
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A Lei nº 9.656/98, admite a possibilidade da falência das operadoras de planos de saúde (exclusão relativa), desde que:
O ativo da liquidanda não seja suficiente para o pagamento de pelo menos metade dos créditos quirografários, ou
o ativo realizável da massa liquidanda não seja suficiente, sequer para o pagamento das despesas administrativas e operacionais inerentes ao regular processamento da liquidação extrajudicial, ou
fundados indícios de crime falimentar (Lei nº 9.656/98, art. 23).
Apenas as operadoras de planos de saúde que são empresárias é que se inserem no âmbito da lei. 
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 F) Entidades de Previdência Complementar 
São as entidades que se destinam a executar planos de benefício de caráter previdenciário, nos termos da LC nº 109/2001, a fim de complementar ou possibilitar uma renda àqueles que contribuíram. 
Fiscalização Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), admitindo-se a intervenção, a liquidação extrajudicial e inclusive a administração especial de planos de benefício (Lei nº 12.154/2009).
Podem ser abertas ou fechadas.
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 1.10 Juízo Competente 
O art. 3º da Lei estabelece dupla regra de competência: definição do juízo para conhecer dos pedidos de falência, recuperação judicial e extrajudicial:
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 1.10.1 Principal Estabelecimento 
O que seria principal estabelecimento para a lei?
Sede contratual (Jorge pereira Andrade, Silva Pacheco, Júlio Kahan Mandel)
Maior importância econômica (Oscar Barreto Filho, Fábio Ulhoa Coelho)
Comando administrativo dos negócios (Ricardo Negrão, Sérgio Campinho, Rubens Requião).
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Na jurisprudência principal estabelecimento era a sede administrativa, isto é, o local de comando dos negócios. 
Gladston Mamede: o assunto deve ser analisado caso a caso para decidir o que é melhor para os envolvidos no processo.
No caso de encerramento das atividades da empresa, o foro competente deverá ser o da última sede constante do registro, na medida em que esta seja uma fonte segura para fixar a competência (STJ – CC 29712/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Segunda Seção, julgado em 23/9/2000, DJ 25/9/2000, p. 62).
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1.10.2 Filial de Empresários Estrangeiros 
Empresários estrangeiros podem exercer atividade empresarial no país desde que haja autorização do Poder Executivo (art. 1.134, CC), através de um representante (art. 1.136, §2º).
Atos praticados no país: o empresário estará sujeito à jurisdição de nossos tribunais (art. 1.137, CC), inclusive à falência e recuperação.
O juízo competente será aquele do local da filial do empresário estrangeiro. Havendo mais de uma filial, deve-se buscar a mais importante ou principal.
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 1.10.3 Natureza da Competência 
Os dois critérios de fixação da competência estabelecidos pelo art. 3º, levam em conta aspectos territoriais, portanto a competência seria territorial e por conseguinte seria uma hipótese de competência relativa (envolve interesses exclusivamente privados).
O STJ, entretanto, já afirmou que a competência para pedidos de falência é absoluta (envolve interesses públicos). Não se trata de hipótese de competência territorial, mas em razão da matéria específica. A incompetência pode ser reconhecida de ofício e não depende de exceção para ser alegada. Também não admite-se prorrogação da
competência.
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 1.11 Intervenção do Ministério Público 
Nos termos do projeto original da Lei nº 11.101/2005, a intervenção do Ministério Público era obrigatória em todas as fases do processo de falência e recuperação judicial e em todas as ações em que a massa falida fosse parte.
Tal dispositivo (art. 4º) foi vetado pelo Presidente da República na intenção de limitar a atuação do MP às hipóteses expressamente previstas na Lei, que são:
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Possibilidade de impugnação de créditos (art. 8º).
Pedido de exclusão, reclassificação ou retificação de crédito já incluído no quadro geral de credores (art. 19).
Conhecimento do relatório do administrador judicial, caso haja a imputação de alguma responsabilidade penal (art. 22, § 4º).
Requerimento de substituição do administrador judicial (art. 30, §2º).
Comunicação do despacho que defere o processamento da recuperação judicial (art. 52, V).
Interposição de recurso contra decisão que concede a recuperação judicial (art. 59, §2º).
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Comunicação de decretação de falência (art. 100, XIII).
Recebimento de informações do falido (art. 104, VI).
Propositura da ação revocatória (art. 132).
Intimação em qualquer modalidade de alienação de bens (art. 142, § 7º).
Impugnação à arrematação de bens (art. 143).
Manifestação sobre as contas do administrador judicial (art. 154, § 3º).
Titularidade da ação penal (art. 184).
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A principal mudança decorrente do veto foi a desnecessidade de oitiva do MP nos pedidos de falência. Tal situação gerou uma controvérsia:
	1. De um lado estão os que reconhecem a obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público sob pena de nulidade do processo. O fundamento seria o interesse público, nos termos do art. 82, III, do CPC (Márcio Souza Guimarães, Alécio Silveira Nogueira, Bernardo Pimentel);
	2. De outro estão os que acreditam que a intervenção do Ministério Público só se dará nos casos legalmente previstos (Fábio Ulhoa Coelho, Sérgio Campinho, Gladston Mamede), alegando a existência de interesses exclusivamente privados nos processos. Opinião majoritária.
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1.12 Falência
Arts. 75 a 160 da Lei 11.101/2005
Conceito: meio de liquidação forçada do patrimônio do devedor empresário.
Efeito anormal de funcionamento do crédito.
“Processo de execução coletiva contra devedor insolvente” (Amador Paes de Almeida).
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Natureza – processo de execução: liquidação forçada do patrimônio do devedor empresário.
Âmbito da Lei: art. 1º
Juízo Competente: art. 3º
Objetivos: 
Objetivo amplo: pagamento de todos os credores de acordo com uma ordem legal de preferência.
Objetivo específico: art. 75 – maximizar o valor dos recursos produtivos do devedor.
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1.12.1 Princípios
Igualdade entre os credores (par conditio creditorum): organiza os credores em classes e efetua o pagamento de acordo com uma ordem de importância. Tratamento melhor a quem merece mais proteção, evitando situação de desigualdade entre os credores.
Celeridade processual: art. 75, parágrafo único – preferência de tramitação sobre outros feitos.
Economia processual: visa reduzir não só o tempo, mas também o custo do processo. Deve-se evitar a prática dos atos desnecessários ao processo.
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1.12.2 Fases da Falência
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Unidade 2
Recuperação Judicial
Profª Roberta C. de M. Siqueira/ Direito Empresarial IV
ATENÇÃO: Este material é meramente informativo e não exaure a matéria. Foi retirado da bibliografia do curso constante no seu Plano de Ensino. São necessários estudos complementares. Mera orientação e roteiro para estudos.
 2.1 Definição
Medida genérica de tentativa de solução das crises – art. 47, Lei 11.101/2005.
“Série de atos praticados sob supervisão judicial e destinados a reestruturar e manter em funcionamento a empresa em dificuldades econômico-financeiras temporárias” (Eduardo Goulart Pimenta).
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“Somatório de providências de ordem econômico-financeira, econômico-produtiva, organizacional e jurídica, por meio das quais a capacidade produtiva de uma empresa possa, da melhor forma, ser reestruturada e aproveitada, alcançando uma rentabilidade autossustentável, superando, com isto, a situação de crise econômico-financeira em que se encontra seu titular – o empresário -, permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego e a composição dos interesses dos credores” (Sérgio Campinho).
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A recuperação judicial se revela em um conjunto de atos, cuja prática depende de concessão judicial, com o objetivo de superar as crises de empresas viáveis.
Tem natureza contratual, sendo precedida de um acordo homologado pelo Juízo competente.
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 2.2 Elementos
	a) Série de atos: são necessários diversos atos para a concessão da recuperação, tais como mudanças nas relações com os credores (novação das obrigações), alteração do padrão para a gestão interna da atividade, entre outros.
	b) Consentimento dos credores: a recuperação judicial depende do consentimento dos credores (não de todos, mas da maioria) – art. 45 e 58, Lei 11.101/2005. O conjunto de credores é tratado como uma comunhão.
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	c) Concessão Judicial: o procedimento exige como pressuposto, além do exercício do direito de ação e do cumprimento de certos requisitos legais, a concessão pelo Judiciário. Faz o controle formal da recuperação.
	d) Superação da crise: permitir que a empresa continue em funcionamento, de modo a não prejudicar os seus interesses.
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	e) Manutenção de empresas viáveis: haverá uma ponderação pelos credores: sobre o ônus de manutenção da atividade ou de seu encerramento. A viabilidade significa que a recuperação irá reestabelecer o curso normal da atividade empresarial. 
Alguns indicadores da viabilidade da empresa podem ser: a importância social, mão de obra e tecnologia empregadas, volume do ativo e passivo, idade da empresa, porte econômico (Fábio Ulhoa Coelho).
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2.3 Objetivos (art. 47) ou Finalidade
Objetivo geral: superação ou a prevenção das crises das empresas.
Objetivos específicos:
1. Manutenção da fonte produtora: manutenção da empresa em funcionamento. Pretende-se salvar a empresa e não o sujeito.
2. Manutenção do emprego dos trabalhadores: primeiro, tentar-se manter a empresa, para só depois tentar manter todos os trabalhadores.
3. Preservação do interesse dos credores: primeiro tenta-se manter a empresa, depois os trabalhos e por fim os interesses individuais dos credores.
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 2.4 A teoria dos jogos
A explicação do comportamento dos agentes econômicos nas situações de crise da empresa pode ser feita de forma ilustrativa: pela aplicação da teoria dos jogos.
A teoria dos jogos tenta modelar as interações entre os grupos de interesse, quando estes agem de forma estratégica, isto é, como se fosse um jogo, levando em conta a conduta dos outros. A grande ideia é convencer os grupos de interesses de que os ganhos serão maiores no futuro com a manutenção da atividade.
Para entender a conduta dos agentes ligados a uma empresa em crise devemos identificar o jogo, os jogadores, as estratégias possíveis e os ganhos esperados para cada estratégia.
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81
 2.5 Princípios
A recuperação judicial deve obediência a uma série de princípios, que deverão pautar-se na Lei 11.101/2005, bem como na própria atuação do Poder Judiciário nos processos de recuperação.
Os princípios serão considerados neste estudo, como aquelas normas apresentadas de forma enunciativa, cujo conteúdo está ligado a um valor ou fim a ser atingido. 
“São normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes” (Roberto Alexy).
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A enumeração dos princípios da recuperação judicial é objeto de grandes divergências na doutrina.
Elenise Peruzzo dos Santos: igualdade entre os credores, a celeridade, a publicidade, a preservação da empresa, a viabilidade e a maximização do valor dos ativos do falido.
Waldo Fazzio Júnior: viabilidade da empresa, a relevância dos interesses dos credores, a publicidade dos procedimentos, a par conditio
creditorum, a maximização de ativos e a preservação da empresa.
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Jorge Lobo: conservação e função social da empresa, da dignidade da pessoa humana e valorização do trabalho e da segurança jurídica e da efetividade do direito.
Podemos elencar como princípios fundamentais da recuperação judicial: (a) a função social da empresa, (b) a preservação da empresa e (c) a dignidade da pessoa humana.
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 a) Princípio da Função Social da Empresa
CF/88, no art. 5º, XXII – direito de propriedade é colocado como um direito fundamental.
Dentro do princípio geral da função social da propriedade está contido também o da propriedade dos meios de produção e em consequência o do exercício das atividades econômicas empresariais.
CF/88, no art. 5º, XXIII – limitou o direito de propriedade: “ a propriedade atenderá a sua função social”.
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O direito à propriedade passa a ser, então, um poder-dever de exercer a propriedade vinculada a uma finalidade. Esta é coletiva e não individual.
Não há liberdade absoluta no direito de propriedade e em consequência, no exercício das atividades empresariais. Há uma função social a ser cumprida e foi destacada pelo art. 47 da Lei 11.101/2005.
É fundamental que a empresa seja exercida em atenção aos demais interesses que a circundam, como os interesses dos empregados, do fisco e da comunidade.
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Este princípio servirá de base para a tomada de decisões e para a interpretação da vontade dos credores e do devedor.
Lembrando que a recuperação é da atividade (empresa) e não do seu titular (empresário ou sócios).
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 b) Princípio da Preservação da Empresa
O mais importante no que se refere à recuperação judicial, pois dele decorre o objetivo principal do instituto. Sua consagração está presente ao longo de diversos dispositivos da lei.
Tem sua origem no princípio da garantia do desenvolvimento nacional (arts. 3º, II, 23, X, 170, VII e VIII, 174, caput, e § 1º, e 192 da CF/88).
A recuperação judicial não se preocupa em salvar o empresário (individual ou sociedade), mas sim em manter a atividade em funcionamento. A empresa (atividade) é mais importante que o interesse individual do empresário, dos sócios e dos dirigentes.
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Significa também que o propósito liquidatório fica em segundo plano.
Empresa viável preservação.
No regime anterior, o STJ já vinha afastando o intuito liquidatório: falência não deve servir apenas para recebimento de dívidas, sendo cabível apenas para empresas inviáveis (STJ, REsp. 399.644/ SP, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, julgado em 20/4/2002).
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STJ reconheceu a importância desse princípio na própria aplicação da lei, ao determinar que uma ação continuasse suspensa mesmo após o prazo de 180 dias, definido no art. 6º, § 4º da Lei 11.101/2005. 
O princípio tempera o rigor da lei, em prol do interesse maior de superação das crises.
A positivação desse princípio pode ser visualizada pela diminuição dos pedidos de falência realizados no país.
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 c) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
Um dos fundamentos da república é a dignidade da pessoa humana, assegurando a esta um valor fundamental em nosso ordenamento jurídico.
A preservação da empresa só se justifica na medida em que atenda à dignidade da pessoa humana.
Exemplo: limitação do tempo de pagamento dos créditos trabalhistas – art. 54.
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 2.6 Natureza Jurídica
A recuperação judicial, segundo a doutrina, poderá ter natureza de ato complexo, processual ou contratual.
Ato complexo – a recuperação envolve um ato coletivo processual, um favor legal e uma obrigação ex lege. Ato coletivo praticado em conjunto pelo devedor e pelos seus credores, obedecendo uma série de requisitos determinados pela lei, visando a recuperação da empresa (Jorge Lobo)
Natureza Processual – há a existência de uma ação constitutiva que objetiva superar a crise econômico-financeira pela qual passa o devedor (entrega de uma prestação jurisdicional pelo Estado ao empresário devedor). Alguns autores discordam pois afirmam que não há um direito subjetivo à recuperação, apenas um requisito ao exercício da ação (concordância dos credores) – Waldo Fazzio Júnior
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Natureza contratual – é um negócio jurídico privado realizado sob a supervisão judicial. “É um negócio de cooperação celebrado entre devedor e credores, homologado pelo juiz” (Vera Helena de Mello Franco). 
	Alguns discordam desta perspectiva alegando que a recuperação obriga mesmo os credores ausentes, portanto, independe de suas vontades, não podendo configurar um acordo de vontades.
	O conjunto de credores é tratado como uma comunhão na recuperação judicial.
	É um acordo de vontades entre o devedor em crise e seus credores, que se manifestam em conjunto, por meio da assembleia de credores, uma vez que possuem uma comunhão de interesses.
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 2.7 Meios de Superação das Crises
Decreto- lei 7.661/45 – meios eram:
Parcelamento
Remição parcial da dívida
Lei 11.101/2005 – meios modernos. Rol exemplificativo no art. 50 – traz a expressão “dentre outros”.
Solução não prevista no art. 50: poderá ser aplicada
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 2.8 Do Pedido
A concessão da recuperação judicial depende da intervenção do Poder Judiciário.
Esta intervenção não ocorre de ofício – depende de provocação dos interessados por meio de uma ação.
O exercício dessa ação é condição imprescindível para se obter a solução da crise empresarial. Este exercício se manifesta através do pedido de recuperação judicial
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Ação será constitutiva, na medida em que visa ajustar a situação do devedor em crise – caso haja acolhimento do pedido, irá modificar as relações jurídicas do devedor.
Será ajuizada perante o juízo do principal estabelecimento do devedor (art. 3º) e seguirá um rito especial descrito na Lei 11.101/2005.
A propositura da ação e o despacho do juiz que defere o processamento da recuperação integram a chamada FASE POSTULATÓRIA.
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 2.9 Requisitos
Conforme disposições gerais do art. 1º, a recuperação judicial aplica-se aos empresários e sociedades empresárias em geral.
Entretanto, a própria lei, no art. 2º, exclui alguns agentes econômicos dos efeitos da recuperação judicial, que são:
Empresas públicas e sociedades de economia mista, as instituições financeiras, as cooperativas de crédito, as administradoras de consórcio, as entidades de previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde, as seguradoras, as sociedades de capitalização e outras legalmente equiparadas às anteriores.
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Todos aqueles que eram impedidos de pedir concordata pela legislação especial, ficam também impedidos de obter o benefício da recuperação judicial (art. 198), ressalvadas as empresas de aviação comercial, que embora impedidas de pedir concordata, foram autorizadas pela lei 11.101/2005 a obter a recuperação judicial e extrajudicial (art. 199).
Os empresários que não se enquadram na exclusão, podem pleitear o benefício da recuperação judicial. 
Os empresários em crise devem preencher uma série de requisitos específicos, que são exigidos como sinais de que o pedido de recuperação é sério e pode ter viabilidade para atingir sua finalidade, no sentido de recuperação da empresa.
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Os requisitos específicos e cumulativos para a concessão do benefício da recuperação judicial estão dispostos no art. 48 da Lei 11.101/2005, que são:
Exercício regular da atividades a mais de 2 anos.
Não ser falido.
Não ter obtido outra recuperação judicial há menos de 5 anos, ou 8 anos se ME ou EPP.
Não ter sido condenado por crime falimentar.
 
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a. Exercício Regular da Atividade há mais de 2 anos
Deve ser comprovado mediante certidão expedida pela junta comercial, que poderá ser elidida por prova em contrário.
O empresário deve estar no exercício regular da atividade, ou seja, a empresa deve estar em funcionamento. Sem exercício de atividade não há empresa, se não há empresa, não há o que preservar. 
O exercício deve ser regular – o empresário não pode estar impedido e deve ter
cumprido todas as obrigações legais impostas aos empresários, relativas a sua constituição e funcionamento (registro, escrituração contábil regular e demonstrações contábeis exigidas pela legislação).
101
O prazo de exercício da atividade deve ser ao menos de 2 anos – para aferição da seriedade do exercício da empresa e da viabilidade de sua continuação. 
Empresa exercida há menos de 2 anos ainda não possui relevância para a economia que justifique a recuperação (após 2 anos de criação, 38% das empresas já estão com as portas fechadas).
102
 b. Não ser falido
É também essencial que o devedor não seja falido ou, se for falido, que já tenha suas obrigações extintas.
Requisito redundante – art. 102.
Se o devedor, passando pelo período de crise, não pediu a recuperação, não se deve mais permiti-la.
103
 c. Não ter obtido outra recuperação judicial
Não ter obtido outra recuperação judicial nos últimos 5 anos, ou nos últimos 8 anos, se foi concedida com base em um plano especial de recuperação para ME ou EPP.
Não se pode permitir que o empresário use reiteradamente da recuperação para superar suas crises.
Ela não pode servir como forma de transferência permanente dos riscos da sua atividade para os seus credores.
104
Seu uso em momentos próximos denota a incompetência do empresário em gerir seu negócio.
Não pode ser uma regra, mas uma exceção.
Embora não possa ser usada reiteradamente, pode ser usada mais de uma vez, desde que respeitados os limites temporais.
Os prazos são contados do dia da concessão da recuperação por ato judicial.
105
 d. Ausência de condenação por crime falimentar
Tal requisito é exigido para o pedido de recuperação, logo, a condenação posterior não pode impedir seu regular processamento.
A ideia é permitir o acesso à recuperação apenas para os devedores de boa-fé, isto é, apenas sujeitos de idoneidade presumida poderão requerê-la.
Esse impedimento, só existe a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, tendo em vista a presunção de inocência do art. 5º, LVII, da CF. 
Só existe até a extinção da punibilidade ou a reabilitação penal – ATENÇÃO: divergência doutrinária.
106
No caso de empresário individual, tal requisito é exigido em relação ao próprio empresário pessoa física. Havendo a condenação definitiva por crime falimentar, aquele sujeito já demonstrou que não pode ser digno de confiança em relação aos credores e, por isso, não lhe é dada oportunidade de recuperação judicial.
Já nas sociedades empresárias, o requisito é exigido em relação a seus administradores (diretores ou membros do conselho de administração) e em relação aos sócios controladores.
Nesse sentido houve uma grande confusão da lei – entre pessoa jurídica e seus sócios controladores ou administradores.
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Se a pessoa jurídica cumpre os requisitos, não deveria ser impedida sua recuperação, pois é ela que se sujeitará a tal procedimento e não os seus sócios. Ou seja, existe diferença entre pessoa jurídica e os sócios ou administradores. A personalidade separa os sujeitos, o que não foi feito neste caso.
Se os administradores falharam, eles que deveriam ser afastados e não a pessoa jurídica. Para compatibilizar a função social da empresa com esta exigência, a sociedade empresária, ao requerer a recuperação, deverá prever a substituição dos administradores ou a alienação do controle societário, afastando o impedimento.
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2.10 Legitimidade Ativa
A legitimidade ativa para requerer a recuperação judicial é do próprio empresário que não se encontre nas exclusões: Legitimidade ativa ordinária.
Caso seja um empresário individual: decisão do próprio empresário, que uma vez verificando o cumprimento dos requisitos, poderá requerer a recuperação judicial.
Caso seja uma sociedade empresária – decisão dos administradores. Requerimento depende de prévia manifestação da vontade da sociedade pelos sócios ou acionistas. 
Ex.: nas sociedades limitadas a vontade poderá ser expressada em reunião, assembleia ou manifestação por escrito de todos os sócios.
Outros casos (arts. 1071, VIII c/c 1.076, II do CC; art. 122, IX da Lei 6.404/76, arts. 1.010, 1.040 e 1.046 do CC).
109
Art. 1.071, CC. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:
	[...]
	VIII - o pedido de concordata.
Art. 1.076, CC. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no § 1o do art. 1.063, as deliberações dos sócios serão tomadas:
	[...]
	II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071;
Art. 1.010, CC. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.
	§ 1o Para formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de metade do capital.
	§ 2o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
	§ 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto.
110
Além do próprio devedor, tem legitimidade para requerer a recuperação judicial (art. 48, § único): Legitimidade ativa extraordinária:
Herdeiros, cônjuge e inventariante – legitimidade assegurada em relação ao espólio do empresário individual.
Sócio remanescente – o entendimento da expressão causa divergências doutrinárias:
Rachel Sztajn – legitimidade dos sócios, quando não fosse possível aos demais fazer o pedido.
Fábio Ulhoa Coelho – sócio dissidente ou minoritário, aquele que foi vencido na deliberação sobre a recuperação judicial.
Outros – casos de unipessoalidade temporária da sociedade.
111
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
        [...]
     Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
112
2.11 Créditos da Recuperação Judicial
Regra geral: art. 49. 
Sujeitam-se à recuperação judicial todos os créditos existentes à data do pedido, ainda que não vencidos.
A existência ou não do crédito leva em consideração a data do fato gerador da obrigação, ou seja, a data da fonte da obrigação.
Ex.: datas das emissões dos títulos de crédito, data de conclusão dos contratos e data da prestação de serviço pelos empregados.
Com relação aos codevedores, os credores manterão seus direitos e privilégios em relação aos mesmos.
113
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
        § 1o Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e     obrigados de regresso.
        § 2o As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.
        § 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens
de capital essenciais a sua atividade empresarial.
114
        § 4o Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei. 
        
		§ 5o Tratando-se de crédito garantido por penhor sobre títulos de crédito, direitos creditórios, aplicações financeiras ou valores mobiliários, poderão ser substituídas ou renovadas as garantias liquidadas ou vencidas durante a recuperação judicial e, enquanto não renovadas ou substituídas, o valor eventualmente recebido em pagamento das garantias permanecerá em conta vinculada durante o período de suspensão de que trata o § 4o do art. 6o desta Lei. 
115
Os créditos que não podem ser cobrados através da recuperação judicial (inexigíveis) são aqueles trazidos pelo art. 5º, a saber:
As obrigações a título gratuito – a crise é incompatível com obrigações que não proporcionem lucro.
Despesas judiciais e extrajudiciais para tomar parte na ação – os custos com despesas para processamento serão arcados pelo credor, não sendo ressarcidos. Ex. contratação de advogado, contador, protesto, etc. 
116
Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
        I – as obrigações a título gratuito;
     II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
117
Além dos créditos inexigíveis, temos ainda outras classes de créditos que não se sujeitarão à recuperação judicial, por expressa disposição legal. São eles:
a) Créditos fiscais – não se submetem aos efeitos da recuperação judicial, não havendo nem suspensão das execuções fiscais em curso (art. 6º, §7º c/c art. 187 do CTN), ressalvada a hipótese de parcelamento especial. Justificativa: princípio da legalidade e indisponibilidade do interesse público.
b) Créditos de proprietários – a lei excluiu alguns credores, referidos no art. 49, §3º, pela sua falta de interesse em eventual negociação. São eles:
118
Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
	[...]
	§ 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.
Art. 187, CTN. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, inventário ou arrolamento. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
    Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
   I - União;
   II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
   III - Municípios, conjuntamente e pró rata.
119
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
        [...]
  § 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. (grifamos)
120
Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
	[...]
	§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial. (grifamos)
121
b.1) Credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis – quando o devedor aliena ao credor um bem sob a condição resolutiva do pagamento da obrigação garantida, reservando-se a posse indireta. Se a obrigação for paga, a propriedade plena voltará ao devedor. Caso a obrigação não seja paga, o credor poderá fazer recair os seus direitos sobre o bem.
	
	Nesses casos, prevalecem os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva (arts. 1.361 a 1.368 do CC, Lei 4.728/65 e Decreto-lei 911/69 e Lei 9.514/97).	
	
	OBS.: Estes credores não poderão retirar do estabelecimento do devedor bens essenciais ao exercício da atividade, no prazo de 180 dias após o deferimento do processamento do pedido de recuperação. Eles não podem inviabilizar a própria recuperação da empresa.
122
b.2) Arrendador mercantil – São contratos onde uma pessoa jurídica arrenda a uma pessoa física ou jurídica, por tempo determinado, um bem comprado pela primeira de acordo com as indicações da segunda, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem arrendado findo o contrato, mediante o pagamento de um preço residual.
	Para diminuir os custos desse contrato, o legislador afastou o arrendador da recuperação judicial, mantendo-se dos direitos decorrentes do contrato.
	
	Estes credores não poderão retirar do estabelecimento do devedor bens essenciais ao exercício da atividade, no prazo de 180 dias após o deferimento do processamento do pedido de recuperação, prevalecendo a preservação da empresa em detrimento dos credores.
	Exceção: leasing de aeronaves e suas partes (art. 199, §1º).
123
Art. 199. Não se aplica o disposto no art. 198 desta Lei às sociedades a que se refere o art. 187 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986.
	 Parágrafo único. Na recuperação judicial e na falência das sociedades de que trata o caput deste artigo, em nenhuma hipótese ficará suspenso o exercício de direitos derivados de contratos de arrendamento mercantil de aeronaves ou de suas partes.
	 § 1o Na recuperação judicial e na falência das sociedades de que trata o caput deste artigo, em nenhuma hipótese ficará suspenso o exercício de direitos derivados de contratos de locação, arrendamento mercantil ou de qualquer outra modalidade de arrendamento de aeronaves ou de suas partes. (Renumerado do parágrafo único com nova redação pela Lei nº 11.196, de 2005)
     
	 [...]
124
b.3) Proprietário em contrato de venda com reserva de domínio – são contratos que tratam de uma compra e venda de coisa móvel, em que se subordina a efetiva transferência da propriedade ao pagamento integral do preço.
 A transferência da propriedade fica sujeita a uma condição suspensiva.
Mesmo que o comprador peça a recuperação judicial, os direitos do credor do contrato são mantidos.
Mesma regra anterior: estes credores não poderão retirar do estabelecimento do devedor bens essenciais ao exercício da atividade, no prazo de 180 dias após o deferimento do processamento do pedido de recuperação, prevalecendo a preservação da empresa em detrimento dos credores.
125
b.4) Proprietário ou promitente vendedor de imóveis – está excluído da recuperação judicial desde que haja no contrato cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias. 
A presença dessas cláusulas assegura um direito real sobre o imóvel, permitindo que o adquirente ou promissário comprador pleiteie a adjudicação
compulsória.
Em razão desse direito real, o proprietário ou promitente vendedor do imóvel não tem como alterar as condições do contrato. Mantém-se a segurança da relação.
Limite: estes credores não poderão retirar do estabelecimento do devedor bens essenciais ao exercício da atividade, no prazo de 180 dias após o deferimento do processamento do pedido de recuperação, prevalecendo a preservação da empresa em detrimento dos credores.
126
b.5) Credor de adiantamento de contrato de câmbio – não são abrangidos pela recuperação judicial os créditos referentes a adiantamento de contrato de câmbio para exportação (art. 49, §4º c/c art. 86, II). 
Ocorre quando o exportador vende mercadorias no exterior e possui um crédito a receber em moeda estrangeira, no futuro. Este, pede à instituição financeira uma antecipação, ou seja, pagamento em moeda nacional, antes da entrega da moeda estrangeira.
Para dar segurança ao credor de tais contratos, permitindo que ele realize o pagamento antecipado sem preocupações, afasta-se tal crédito da recuperação judicial e da própria falência.
127
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
	[...]
	§ 4o Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei. 
Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:
	[...]
	II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente;
128
2.12 Juízo Competente
A lei define como competente para apreciar o pedido de recuperação judicial (art. 3º) o juízo do principal estabelecimento do devedor ou da filial, caso de empresário que tenha sede fora do país.
Por principal estabelecimento a jurisprudência dominante tem entendido (STJ) ser a sede da administração do devedor. A doutrina mais moderna tem advogado em prol de ser o de maior volume econômico.
129
2.13 Requisitos da Petição Inicial
A exordial da recuperação judicial deve atender a todos os requisitos formais e estruturais impostos pela legislação processual.
São requisitos formais:
Forma escrita
Uso do vernáculo
Assinatura de advogado
130
São requisitos estruturais (art. 282 CPC): 
Indicação do juízo competente.
Qualificação das partes – autor é o devedor; réus* são os credores.
Causa de pedir – os fundamentos de fato e de direito. 
Fundamentos de fato: viabilidade da empresa e o afastamento da ruína econômica da atividade. 
Fundamentos de direito: criação do estado jurídico de recuperação judicial, como forma de superar a crise.
131
Pedido – o que se pretende (providência imediata) é a sentença constitutiva do estado de recuperação judicial e a consequente recuperação econômica da empresa e de forma mediata a solução da crise empresarial.
Valor da causa – estimativa.
Provas - as provas em sua maioria são documentais e deverão instruir a inicial.
Requerimento de citação do réu – apenas para ciência da existência de uma proposta de acordo e não de uma ação.
132
Art. 282, CPC. A petição inicial indicará:
	I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;
	II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;
	III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
	IV - o pedido, com as suas especificações;
	V - o valor da causa;
	VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
	VII - o requerimento para a citação do réu.
133
2.14 Instrução da Petição Inicial
A petição inicial, além de ser instruída com todos os documentos gerais para qualquer ação (procuração, custas etc.), deve ser instruída com os documentos exigidos pelo art. 51.
Este artigo é alvo de críticas pois não faz referência, em nenhum momento, aos requisitos do art. 48 da mesma lei.
Os documentos a serem juntados são (art. 51):
134
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:
        I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;
        II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
        a) balanço patrimonial; 
        b) demonstração de resultados acumulados;
        c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
        d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
        III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;
        IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; 
135
        V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
    	 VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
        VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
        VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
        IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.
        § 1o Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado.
        § 2o Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica.
        § 3o O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que se referem os §§ 1o e 2o deste artigo ou de cópia destes.
136
a) Documentos relativos a situação patrimonial e motivo da crise financeira (art. 51, I):
Documento apartado, explicando as causas da situação patrimonial e os motivos da crise econômico-financeira e das suas consequências sobre o patrimônio do devedor. Estas causas devem ser concretas e não apenas alegações genéricas. Por exemplo:
Divergência entre os sócios, falecimento de sócio controlador, crise de tecnologia, variação cambial extrema, problemas de acesso ao crédito etc.
Apesar da lei dizer “instruir a petição inicial”, admite-se que estes dados constem da própria petição inicial, pois há uma grande proximidade de tais indicações com a própria causa de pedir. 
137
b) Documentos contábeis (art. 51, II e §1º):
Demonstrações contábeis dos 3 últimos exercícios, a fim de apontar a realidade dos negócios daquele devedor. Pode ser que as demonstrações abranjam apenas 2 exercícios*.
Exige-se também a apresentação de outras demonstrações que serão levantadas especificamente para a instrução da recuperação judicial, que são:
Balanço patrimonial
Demonstração de resultados acumulados
Demonstração do resultado desde o último exercício
social
Relatório gerencial de fluxo de caixa e sua projeção
138
Balanço patrimonial (ATIVO X PASSIVO)– comparação entre o ativo e o passivo em determinada data. Serve para demonstrar a realidade patrimonial do empresário. Não se trata de um indicação definitiva, mas a queda do patrimônio em patamares muito elevados pode significar a inviabilidade da continuação da empresa.
Demonstração de resultados acumulados (CUSTOS X RECEITAS) – tem por objetivo comparar os custos e as receitas da atividade em tal período. A ideia é demonstrar a tendência, ou seja, se a atividade gerou lucros ou trabalhou no prejuízo.
139
c) Demonstração do resultado desde o último exercício social (CUSTOS X RECEITAS) – este resultado deve ser demonstrado até o momento próximo ao do pedido (30 dias antes). Deve-se demonstrar que naquele exercício, no qual se faz o pedido de recuperação, a atividade está dando lucros ou prejuízos.
d) Relatório de fluxo de caixa e sua previsão (ENTRADA DE RECURSOS) – apresenta-se a entrada de recursos para o empresário dos últimos 3 anos e a previsão para os próximos exercícios. Falta de certeza no relatório de previsão futura, o que retira um pouco da confiabilidade do relatório.
140
Exige ainda a lei que os livros obrigatórios e demais relatórios auxiliares fiquem à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado.
141
c) Documentos de registro (art. 51, V):
A regularidade do empresário deverá ser comprovada:
Pela certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas (certidão dotada de fé pública)
Pelo ato constitutivo atualizado (identificação dos sócios e sua responsabilidade pelas obrigações sociais)
Pelas atas de nomeação dos atuais administradores (quando se der em ato separado).
142
d) Certidões dos Cartórios de Protestos (art. 51, VIII):
Nestas certidões constarão os eventuais protestos realizados em face do devedor, demonstrando a existência de obrigações não pagas por ele. 
Se o devedor tiver ciência de outros protestos (fora de sua área de atuação) deverá apresentar as certidões (princípio da boa-fé objetiva).
A existência de protestos não é impedimento para a recuperação judicial. 
Apenas uma informação para que os interessados no processo possam aferir a existência de dificuldades de liquidez.
143
e) Relações Descritivas:
Relação de Credores (art. 51, III): trata-se de uma relação nominal, ordenada pelo nome do credor e não das obrigações.
	Nela os credores deverão ser qualificados e deverá constar a natureza, a classificação (quirografário, garantia real etc.), o valor e o vencimento das obrigações. Deve ser descrito também a origem de cada crédito, indicando-se o negócio jurídico que fundamenta a obrigação (indicando, inclusive os registros contábeis).
	Deve abranger todos os credores, inclusive os não sujeitos à recuperação judicial, como os fiscais e os por obrigação de fazer.
144
	Separação entre os credores sujeitos e os não à recuperação, para facilitar o andamento do processo.
	No caso das obrigações incertas, se já houver uma ação em trâmite, tal indicação constará da lista de ações judiciais e não na de credores, salvo se já houver parcela incontroversa.
	Em caso de simulação ou omissão de créditos nessa lista, a lei impõe o afastamento do devedor ou de seus administradores na condução da atividade empresarial, salvo se houver relevante razão de direito ou decisão judicial para amparar tal conduta (art. 64, IV, d).
145
Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:
	
	[...]
	IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas:
	      	 [...]
d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial;
146
2. Relação de Empregados e seus créditos (art. 51, IV):
Relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que tem direito, com o correspondente mês de competência e a discriminação dos valores pendentes de pagamento.
Não se incluem nesta lista os trabalhadores terceirizados, nem os prestadores de serviço de caráter autônomo.
Estes créditos também devem constar da lista de credores, para que se realize o procedimento de verificação de créditos.
147
3. Relação de bens dos administradores e dos controladores (art. 51, VI):
No caso de sociedades, a lei exige a apresentação da relação de bens dos administradores e dos controladores. Tal exigência só é justificável no caso das sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada. Na grande maioria das sociedades esta exigência não faz sentido.
A recusa na apresentação desses documentos não pode gerar consequências negativas para a sociedade. 
Fábio Ulhoa Coelho defende que tais informações são protegidas pela inviolabilidade da vida privada (CF, art. 5º, X) e, por isso, podem ser substituídas por declaração dos controladores ou administradores no sentido de que irão manter os dados em sigilo.
148
4. Relação de processos/ ações judiciais (art. 51, IX):
Relação de processos em que o devedor seja parte com a estimativa dos valores envolvidos.
Devem ser apresentadas todas as ações em que o devedor seja parte, como autor, réu ou litisconsorte, a fim de dar uma melhor perspectiva sobre a situação do devedor (até mesmo as ações sem reflexos econômicos).
149
5. Contas bancárias e aplicações (art. 51, VII):
Devem também ser juntados os extratos de contas bancárias e relação de aplicações financeiras do devedor.
Não há definição do período para apresentação desses extratos, exige-se apenas a posição atual (aconselhável dos últimos 30 dias), facultando-se a determinação pelo juiz de extratos referentes a outros períodos.
	
150
2.15 Análise da Petição Inicial
Ajuizada a ação, o juiz verificará a legitimidade do requerente, o cumprimento dos requisitos, a regularidade da petição, bem como a regularidade da documentação juntada.
Não se trata de concessão ou não da recuperação, mas de uma análise prévia para que o devedor ingresse no processo.
Nessa fase não há previsão de oitiva obrigatória do MP.
151
Havendo irregularidade na inicial ou na documentação apresentada, o juiz determinará a emenda à petição inicial (art. 284, CPC c/c 189 da Lei 11.101/2005).
A determinação é para que o requerente sane as irregularidades e não de indeferimento do plano. 
Prazo é de 10 dias, admitindo-se eventualmente prorrogações (STJ).
Determinada a emenda e não sanados os vícios, o caminho para o juiz é o indeferimento da petição inicial. Não há convolação em falência (art. 73).
A partir do deferimento da petição inicial, passa-se a uma nova fase – o devedor estará no processo e sofrerá os efeitos decorrentes dessa condição.
152
Art. 284, CPC. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.
	Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Art. 189, LRE. Aplica-se a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei.
153
Art. 73, LRE. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
       
	 I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;
      II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei;
   III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei;
   IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida
no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.
     Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede a decretação da falência por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso III do caput do art. 94 desta Lei.
154
2.16 Efeitos do ajuizamento do pedido
A partir do ajuizamento, o devedor não poderá:
Alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo não circulante, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o comitê de credores, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação judicial (art. 66).
A lei refere-se a ativo permanente – deve ser interpretada como ativo não circulante, considerando a alteração na lei das sociedades.
Não traz prejuízo para os negócios, uma vez que o ativo não circulante representa algo que dificilmente poderá se traduzir em dinheiro.
155
Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação judicial. (grifamos).
156
2.17 Desistência
Realizado o pedido de recuperação judicial, o devedor pode se arrepender e pleitear a desistência. 
Se o juiz ainda não determinou o processamento, o devedor poderá desistir, sem qualquer impedimento. 
Se já foi determinado o processamento, a desistência só será possível com a concordância da assembleia geral de credores (art. 52, §4º). 
157
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:
	[...]
	§ 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembleia-geral de credores.
158
2.18 Processamento
Preenchidos os requisitos legais (legitimidade ativa e instrução da inicial nos termos da lei), o juiz deferirá o processamento do pedido de recuperação judicial. 
Tal despacho de processamento, conforme ensina o professor Fábio Ulhoa, não se confunde com a decisão concessiva da recuperação judicial, já que se limita a acolher o pedido de tramitação do pedido. 
159
 O art. 52 da LRE prevê o conteúdo do despacho de processamento. Dispõe o referido dispositivo legal que o juiz, no mesmo ato que deferir o processamento da recuperação judicial: 
	 I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;
	II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;
	III – ordenará a suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor, na forma do art., 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos parágrafos 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos parágrafos 3o e 4o do art. 49 desta Lei;
160
	IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores;
	V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.
Uma vez proferida a decisão, o juiz determinará a expedição de edital, na forma do § 1o do art. 52, contendo o resumo do pedido e da decisão, a relação nominal dos credores, a discriminação do valor atualizado e a classificação de cada crédito, além das advertências acerca dos prazos para habilitação dos créditos e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial.
161
Efeitos do despacho de processamento, independentemente de previsão específica (art. 52):
Suspensão da prescrição temporária (art. 6º)
Condicionamento do pedido de desistência à concordância dos credores (art. 52, § 4º)
Credores passam a ter direito a se manifestar no processo – constituição do comitê de credores (art. 52, §2º).
Inicia-se o procedimento de verificação de créditos.
162
Art. 6o . A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:
	[...]
	§ 2o Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, a qualquer tempo, requerer a convocação de assembleia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus membros, observado o disposto no § 2o do art. 36 desta Lei.
	[...]
	§ 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembleia-geral de credores. (grifamos)
163
a) Nomeação do Administrador Judicial (art. 52, I):
O administrador judicial, de acordo com o art. 21, deve ser “pessoa idônea, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada”.
Ele é originalmente nomeado pelo juiz, no despacho que defere o processamento da recuperação judicial. Contudo, é possível que ele seja substituído pela Assembleia dos Credores, caso em que o substituto será nomeado por este órgão colegiado.
164
Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.
	
	 Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.
165
As funções do administrador judicial na recuperação judicial variam, conforme exista ou não o Comitê e conforme tenha sido ou não decretado o afastamento dos administradores da sociedade empresária em recuperação.
Se existir Comitê instaurado, caberá ao administrador judicial a verificação dos créditos, a presidência da Assembleia dos Credores e a fiscalização do devedor. 
Caso não tenha sido instaurado o Comitê, o administrador exercerá a competência atribuída por lei a este órgão, além de suas funções normais.
Regra geral: o devedor e seus administradores são mantidos. Ressalva: art. 64. Na hipótese do juiz ter afastado os administradores do devedor, o administrador judicial irá assumir a gestão da sociedade empresária e representá-la, enquanto não eleito outro pela assembleia de credores.
166
Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:
   	I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vigente;
     II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei;
    III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores;
    IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas:
   a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimonial;
       b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero do negócio, ao movimento

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