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* USO CLÍNICO DO SANGUE Roberto Moura Grisi OFICINA EM HEMOTERAPIA E HEMATOLOGIA Complexo Hospitalar Mangabeira 12 de Março de 2015 * INTRODUÇÃO TRANSFUSÃO DE SANGUE *Intervenção terapêutica importante na prática médica Prática cara para o SUS Fornecimennto diretamente relacionado à doação voluntária Risco de complicações agudas e tardias * OBJETIVOS DA TERAPÊUTICA TRANSFUSIONAL Compensar racionalmente e seletivamente as perdas reconhecidas no paciente Modificar o curso de certas condições patológicas ou fisiológicas * USO CLÍNICO DO SANGUE Condições clínicas do paciente Riscos: infecção, aloimunização, imunossupressão Os benefícios devem superar os riscos A indicação do sangue poderá ser objeto de análise por médico do serviço de hemoterapia * Histórico Grécia antiga: “sangue é vida” Roma: gladiadores bebiam sangue para se fortalecerem Século XXVII: descoberta da circulação sanguinea (primeira transfusão: do carneiro para o homem) Início do século XX: sistema ABO (Landsteiner) 1940 - 1950 : época do braço a braço. 1950 - 1965 : época do frasco de vidro 1965 - 1970 : época da bolsa plástica. Década de 80 : advento da AIDS. A partir de 1990 : época da hemovigilância e rastreabilidade. A partir de 1995 : hemoderivados. * ETAPAS DO SANGUE Captação de doadores Triagem clínica Coleta do sangue Processamento do sangue Análise sorológica Armazenameno/Distribuição Transfusão * TRANSFUSÃO COM SEGURANÇA E QUALIDADE Seleção de doadores (anamnese criteriosa) Fracionamento em sistema de bolsas fechado Utilização de testes laboratoriais mais sofisticados Uso mais racionalizado e específico de um componente do sangue * CAPTAÇÃO DE DOADORES DE SANGUE Objetivo Sangue de boa qualidade Responsabilidade da comunidade pelo provimento de sangue para os receptores Conscientização – educação – altruísmo - solidariedade * PRINCÍPIOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS A indicação de uma transfusão deve ser baseada em critérios clínicos Os benefícios da transfusão de um hemocomponente devem superar seus riscos Auto-transfusão em cirurgia eletiva, sempre que possível Sangue irradiado para pacientes imunossuprimidos Hemocomponentes deleucotizados para politransfundidos * NORMAS GERAIS A requisição de um produto hemoterápico deve ser a mais completa possível Não existe contra-indicação à transfusão em pacientes com febre Não aquecer qualquer produto hemoterápico antes da transfusão * Nenhuma transfusão deve exceder o período de 4h Não deve ser adicionado nenhum fluido ou droga à bolsa do hemocomponente Todo produto hemoterápico deve ser transfundido com equipo com filtro de 170µ * FRACIONAMENTO Hemocomponente e Hemoderivado O sangue doado pode ser fracionado em diversas partes com qualidades terapêuticas diferentes Pode-se utilizar um determinado componente em quantidades muito maiores do que seria possível com sangue total Preserva, em grande parte, as qualidades dos componentes, tornando-os mais eficientes; o que facilita a conservação e o controle de qualidade * FRACIONAMENTO SANGUE TOTAL Plaquetas Plasma isento de crio Crioprecipitado Plasma rico em plaquetas Plasma fresco congelado Glóbulos vermelhos Plasma pobre em plaquetas + Derivados industrializados * SANGUE TOTAL Obtenção: diretamente da doação. Volume: 400 a 430 ml de sangue + 63 ml de CPDA. Estocagem: validade de 35 dias em temperatura de 1 – 6 o C Propriedades: Ht entre 36 a 44%; 01 U eleva a Hb em 01g/dL e o Ht em 3 a 4%; não têm nenhuma função hemostática pois fatores V e VIII foram inativados. Indicações: para pacientes com sangramento ativo com perda > 25% da volemia. Contra-indicações: não usar em pacientes anêmicos crônicos que são normo ou hipervolêmicos. Cuidados especiais: em recém-nascido, utilizar sangue com menos de 7 dias de estocagem * CONCENTRADO DE HEMÁCIAS Obtenção: preparado do ST por centrifugação e aférese Volume: 270-320 ml Estocagem: validade de 35 dias (CPDA-1), em temperatura de +1o C e +6o C Propriedades: Ht entre 70 a 80%; possui 20 ml de plasma residual; sem plaquetas ou granulócitos; mesmo nível de Hb; não têm nenhuma função hemostática; é mais viscoso Indicações: tratamento de anemia em pacientes normovolêmicos que necessitem de aumento da capacidade de transporte de oxigênio e da massa eritrocitária Cuidados especiais: usar sempre filtros e não adicionar medicação à bolsa * CH - Indicações HEMORRAGIAS AGUDAS: Frequência cardíaca acima de 100bpm Hipotensão arterial Queda no débito urinário Frequência respiratória aumentada Enchimento capilar retardado Alteração no nível de consciência * CH - INDICAÇÕES ANEMIA NORMOVOLÊMICA: Considerar: idade, velocidade de instalação da anemia, história natural de anemia, comorbidades Gatilho? Hb <7g/dl ? Risco de hipóxia tecidual e comprometimento das funções vitais Reposição de ferro ou eritropoetina * Concentrado de Hemácia Lavadas com Salina Obtenção: preparado do CH, diluído com salina e centrifugado 3 a 5 vezes para remover o plasma, plaquetas, restos celulares e leucócitos. Volume: 200 ml. Estocagem: validade de 01 dia (CPDA-1), em temperatura de +1o C e +6o C. Propriedades: é considerado potencialmente contaminado; a lavagem não evita transmissão de doenças e reduz o Ht da bolsa e isso pode resultar em maior necessidade transfusional. Indicações: pacientes que já tiveram reações transfusionais alérgicas, reações graves quando transfundidos com outros hemocomponentes, na transfusão neonatal ou intra-uterina, pacientes com hipercalcemia Contra-indicações: não usar em pacientes oligotransfundidos. * Concentrado de Hemácias com SAG-Manitol SAG-Manitol: Solução Aditiva (Salina, Adenina, Glicose e Manitol) Hematócrito: 52-60% Validade: 42 dias Indicações: as mesmas do concentrado de hemácias em CPDA-1. Volume de Solução Aditiva: 100 ml * Concentrado de Hemácias Deleucotizado Obtenção: a unidade de CH contém 1-3 x 109 leucócitos e quantidades variáveis de plaquetas. Filtros especiais de deleucotização eliminam 99 % dos leucócitos (pré-estocagem, laboratorial, beira do leito) Propriedades: reduz as reações febris devido aos Ac´s anti-leucocitários nos pacientes politransfundidos, diminui a chance de aloimunização a Ag´s de leucócitos e plaquetas; previne a transmissão de infecção pelo CMV Cuidados especiais: avaliação criteriosa das necessidades do paciente * CONCENTRADO DE PLAQUETAS Obtenção: preparado de unidades de PRP, por centrifugação e deve conter 5,5 x 10 10 plaquetas em 50 a 70 ml de plasma Estocagem: em temperatura ambiente do laboratório, sob agitação contínua, por 3 a 5 dias. Propriedades: uma unidade aumenta 5.000 plaquetas/ml em um adulto de 70 kg. dose adulto: 01 unidade de CP para cada 7 a 10Kg de peso dose infantil (abaixo de 15Kg): 5-10ml/kg dose infantil (acima de 15Kg): 01 unidade/10Kg de peso Indicações: sangramento decorrente de plaquetopenia por falência medular ou de plaquetas funcionalmente anormais, por diluição ou destruição periférica e em cirurgias com paciente apresentando <50.000 plaquetas (<100.000 em cirurgias oftalmológicas e neurológicas) e profiláticas em pacientes com < 10.000 plaquetas * Concentrado de Plaquetas por Aférese Obtenção: coletado de doador único, em um procedimento de cerca de 1h, equivalente a 6-8 unidades (4,9 x 1011 plaquetas) em um volume de 200 a 400 ml de plasma, de preferência grupo específico ou ABO compatível Propriedades: aumenta 30 a 60.000 plaquetas/ml em um adulto de 70 kg ; evita exposição a múltiplos doadores, apresenta menor risco de contaminação bacteriana, o plasma do doador deve ser preferencialmente ABO compatível com as hemácias do receptor Indicações: politransfundidos e aloimunizados Cuidados especiais: doadores devem fazer triagem e sorologias prévias; permite nova doação após 48 h; usar filtros * Concentrado de Granulócitos Obtenção: preparado por aférese de doador único Estocagem: validade < 24 h, em temperatura de + 20o a 24 o C Propriedades: cada unidade contém > 01 x 1010 granulócitos e quantidade variáveis de linfócitos, plaquetas e eritrócitos, em 200-300 ml de plasma Indicações: o receptor deverá ser neutropênico grave (< 500/L), febre por 24-48 h, não responsiva a ATB ou infecção (sepse) documentada ou presumida não responsiva; medula óssea com hipoplasia mielóide com chance de recuperação; septicemia neonatal; disfunção granulocítica severa; exige prova cruzada e filtro-padrão Contra-indicações: não usar em conjunto com Anfotericina B pelo risco de hipertensão pulmonar; não usar profilaticamente Cuidados especiais: efeitos colaterais-tremores, febre, reação alérgica e pulmonar, contaminação pelo CMV, HTLV-1, HIV 1-2, e HVC e HVB, imunização ABO e HLA e reação enxerto versus hospedeiro * Plasma Fresco Congelado Obtenção: fracionamento do sangue total menos de 8 h após a coleta Estocagem: validade até 01 ano, em temperatura de - 20o C Propriedades: seu volume é de 180 ml e mantém viáveis os fatores lábeis da coagulação (V e VIII), sendo usado portanto para reposição Indicações: para pacientes com sangramentos por deficiência de múltiplos fatores da coagulação( como nas hepatopatias, CIVD), transfusões maciças, reversão rápida do efeito do varfarin em pacientes com sangramento, PTT, Angioedema Hereditário Contra-indicações: não usar para expansão de volume, hidratação ou como fonte protéica * Crioprecipitado Obtenção: a partir de PFC por descongelamento Estocagem: validade até um ano em temperatura de - 20o C Propriedades: seu volume é de 10-15 ml e contém fator VIII (100 unidades), fator de von Willebrand (40 a 70%), fibrinogênio (150 mg) e fator XIII ( 20 a 30%) Indicações: no tratamento da deficiência de fibrinogênio congênita ou adquirida e na deficiência de fator XIII Contra-indicações: não usar em substituição aos concentrados de fator VIII Cuidados especiais: apresenta risco de transmissão de infecções * HEMODERIVADOS Concentrado de Fator VIII Concentrado de Fator IX Imunoglobulina sérica Imunoglobulina Rh imune Derivados de proteínas plasmáticas Albumina * SANGUE IRRADIADO Imunodeficiência congênita Transplante de medula óssea Transfusão intra-uterina Linfoma de Hodgkin Doador com laços de parentesco * PRINCIPAIS CONDIÇÕES CLINICAS ASSOCIADAS AO USO DE HEMOCOMPONENTES Hemorragia Queimaduras Cirurgias Anemias Período neonatal Gravidez Coagulopatias * REAÇÕES TRANSFUSIONAIS Reações Transfusionais Agudas: Reação Hemolítica Aguda Reação febril não-hemolítica TRALI Reação urticariforme Reação anafilática Sobrecarga circulatória Contaminação bacteriana Hemólise por agentes químico-físicos * * * * * * * * * Reações Transfusionais Tardias: Reação hemolítica tardia Aloimunização plaquetária REVH Imunomodulação pós-transfusional Sobrecarga de ferro Púrpura pós-transfusional Doenças infecciosas * COMITÊ TRANSFUSIONAL Melhorar prática hemoterápica da instituição Aumentar segurança transfusional Otimizar uso dos hemocomponentes Reduzir os erros transfusionais Promover educação e atualização continuadas em hemoterapia * BIBLIOGRAFIA Portaria 2712/ MS-12/11/2013 Bordin JO, Langhi Júnior DM, Covas DT. Hemoterapia Fundamentos e Prática. São Paulo: Editora Atheneu,2007. Hamerschlak N. Manual de Hematologia: Programa Integrado de Hematologia e Transplante de Medula Óssea. Barueri,SP: Manole,2010. Triulzi DJ, Aysola A, Davenport R, Gottschall J, Klapper K, Snyder E. Terapêutica Transfusional – Manual para médicos. AABB, 2003. Zago MA, Falcão RP, Pasquini R. Hematologia Fundamentos e Prática. São Paulo: Editora Atheneu,2001. Guia para Uso de Hemocomponentes, MS/2013 * DOE SANGUE SANGUE É VIDA !
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