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LINGUISTICA II

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife
Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
Reitor
 
Vice-Reitor
 
Pró-Reitor Administrativo
 
Pró-Reitor de Planejamento
 
Pró-Reitor de Graduação
 
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa 
 
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
Prof. Béda Barkokébas Jr.
Profa. Izabel Cristina de Avelar Silva
Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim 
Prof. Álvaro Antônio Cabral Vieira de Melo
UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo - UPE
NEAD - NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA
Coordenador Geral
 
Coordenador Adjunto
 
Assessora da Coordenação Geral
 
Coordenação de Curso
 
Coordenação Pedagógica
 
Coordenação de Revisão Gramatical
 
Administração do Ambiente
 
Coordenação de Design e Produção
 
Equipe de design 
 
Coordenação de suporte
EDIÇÃo 2010
Prof. Renato Medeiros de Moraes
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
Profa. Waldete Arantes
Profa. Silvania Núbia Chagas
Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes
Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti
Profa. Eveline Mendes Costa Lopes.
José Alexandro Viana Fonseca
Prof. Marcos Leite
 
Anita Sousa
Gabriela Castro
Rodrigo Sotero
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão
 Bezerra, Benedito Gomes 
 Letras: linguística II / Benedito Gomes Bezerra. - Recife: UPE/NEAD, 2010.
 
56 p. il.
ISBN
 1. Linguística – Estudo e ensino. 2. Linguagem – Estudo e ensino. 3. 
 Língua. I. Universidade de Pernambuco - UPE. II. Título. 
 
 
B574l
CDU 801 
5
Linguística ii
Prof. Dr. benedito Gomes bezerra
Carga Horária | 60 horas 
EmEnta
Formalismos x funcionalismos em linguística. Linguística cognitiva. Sociocogni-
tivismo e sociointeracionismo em linguística. Língua e linguagem em perspectiva 
sociointeracionista. Teorias de gêneros textuais. Temas em linguística aplicada 
ao ensino: concepções de língua e linguagem; gêneros textuais e ensino; variação 
linguística e ensino.
ObjEtivO gEraL
Analisar diferentes teorias sobre língua e linguagem na linguística contemporâ-
nea: pontos de aproximação e/ou de afastamento.
aprEsEntaçãO da discipLina
Caro estudante!
Você já teve um primeiro contato com a disciplina Linguística. Espero que te-
nha gostado e esteja aproveitando tudo que pode desse campo de estudos tão 
importante para a sua formação em Letras. Em Linguística II, você terá a oportu-
nidade de aprofundar e ampliar sua compreensão do estudo científico dos fatos 
da língua e da linguagem em geral. Não perca essa oportunidade e retire dela o 
máximo de proveito.
Nesta disciplina, teremos contato com as principais ideias e teorias sobre os fatos 
e fenômenos da língua e linguagem em geral e da nossa língua em particular. 
Com esse estudo, você entenderá por que o ensino de língua portuguesa hoje 
ocorre de uma forma bastante diferente do que era no passado, uma vez que 
agora podemos ter uma noção muito mais adequada do que seja aprender uma 
língua, falar e ouvir, escrever e ler, compreender e ser compreendido.
A Linguística, em sua forma contemporânea, é uma disciplina jovem, mas já 
conta com uma significativa contribuição para o esclarecimento das questões re-
levantes sobre a língua e tudo mais que está relacionado com ela. Você não pode 
deixar de se beneficiar dessa contribuição.
Portanto, boa sorte e muita disposição para aprender coisas novas nessa etapa de 
sua formação!
Abraços!
Benedito
7Capítulo 1 77Capítulo 1
ObjEtivOs EspEcíficOs
•	 Compreender	a	polêmica	formalismos	x	funcionalismos	em	linguística;
•	 Conhecer	as	diversas	tendências	funcionalistas	na	Europa,	nos	Estados	Uni-
dos e no Brasil;
•	 Entender	os	principais	conceitos	propostos	pelo	funcionalismo.
intrOduçãO
Este capítulo apresenta a você as principais questões relacionadas com as tendên-
cias funcionalistas em linguística, começando por um olhar contrastivo entre os 
formalismos, que caracterizaram a maior parte do século XX, e os funcionalis-
mos, que se opuseram a estes a partir dos anos de 1970. Em seguida, você com-
preenderá, mais a fundo, o que são as diversas teorias funcionalistas, divididas 
em dois grandes ramos, quais sejam o funcionalismo europeu e o funcionalismo 
norte-americano, além de algumas informações sobre esse tipo de linguística no 
Brasil. O capítulo se encerra com uma discussão em detalhe dos principais con-
ceitos propostos por uma linguística funcional.
1. a pOLêmica fOrmaLismOs x funciOnaLismOs
Conforme Marcuschi (2008), o século XX testemunhou o triunfo dos formalis-
mos de variada espécie. Na linguística, disciplina cuja constituição, nos tempos 
modernos, tem como marco fundador a publicação do Curso de linguística geral 
de Ferdinand de Saussure em 1916, os formalismos estiveram representados pelo 
estruturalismo, iniciado a partir dos estudos do próprio Saussure, e pelo gerati-
vismo, teoria proposta por Noam Chomsky em fins da década de 1950.
Já as diversas teorias e tendências da linguística caracterizadas como funciona-
lismos tomaram forma especialmente no decorrer da segunda metade do século 
XX e, aos poucos, ofuscaram as tendências formalistas, assumindo uma posição 
central nos estudos da linguagem ao fim da primeira década do século XXI. 
Uma	 vez	 que	 os	 formalismos	 representados	 pelo	 estruturalismo	 e	 pelo	 gerati-
vismo já foram estudados em Linguística I, não entraremos em detalhes sobre 
eles. Assim, vamos nos concentrar, ao longo deste capítulo, em algumas tendên-
cias funcionalistas, detendo-nos, de forma especial, no chamado funcionalismo 
norte-americano.
Mas em que consiste a oposição formalismo x funcionalismo? 
funciOnaLismOs Em 
Linguística
Prof. Dr. benedito Gomes bezerra
Carga Horária | 15 horas 
8 9Capítulo 1 Capítulo 1
Tentaremos entender isso com mais clareza. Pri-
meiro, é preciso dizer que o mestre de Genebra, 
Saussure, não podia senão refletir e, em parte, re-
produzir um legado que já recebera dos estudiosos 
que o precederam, em especial no século XIX. Nes-
se século, os estudos da linguagem assumiram uma 
forte conotação historicista e comparativista, ou 
seja, os fenômenos linguísticos eram estudados em 
sua evolução histórica e também numa perspectiva 
comparativa entre as diversas línguas conhecidas.
De acordo com Marcuschi (2008), Saussure rece-
beu como legado da linguística histórico-compara-
tiva a concepção de que a língua pode e deve ser 
vista como uma instituição social, cuja forma é a de 
um sistema autônomo de significação, totalmente 
organizado como um sistema de signos arbitrários, 
que pode, em consequência, ser estudado em si e 
por si mesmo, sem considerações a respeito do uso 
linguístico ou do contexto, por exemplo.
Esta era uma maneira de ver a língua inteiramente 
voltada para a sua forma e não para a sua função, 
como se tornou mais comum na linguística con-
temporânea. Embora Saussure definisse a língua 
(langue) como uma instituição social e não indivi-
dual, o termo “social” não tinha o sentido que a 
linguística lhe atribui hoje, isto é, um sentido li-
gado ao uso da língua pelas pessoas na sociedade. 
Nas palavras de Marcuschi, “o mestre genebrino 
concebia a língua como um fenômeno social, mas 
analisava-a como um código e um sistema de sig-
nos” (2008, p. 27).
Assim, tanto o estruturalismo como o gerativis-
mo, em suas formas clássicas, negaram qualquer 
espaço paraconsiderações sobre o uso concreto 
da linguagem ou, dizendo de outra maneira, so-
bre a sua função. Diversos conceitos, formulados 
de maneira dicotômica (isto é, na forma de pares 
opostos), caracterizaram a linguística formalista do 
século XX, na maioria dos casos, definindo o que 
deveria e o que não deveria ser objeto de estudo. 
O que ficava de fora invariavelmente tinha a ver 
com o uso individual, real e concreto da língua e 
da linguagem. O que era incluído dizia respeito a 
considerações sobre o sistema abstrato, desvincula-
do do uso e apegado às formas.
Entre as diversas dicotomias, típicas da linguística 
do século XX e hoje decididamente em crise, Mar-
cuschi (2008) aponta as seguintes:
Língua (Langue) x fala (parole)
Sincronia x diacronia
Significante x significado
Sintagmático x paradigmático
Social x individual
Competência x desempenho
Sentido x referência
Conotação x denotação
Literal x figurado
Escrita x fala
A principal característica de um projeto formalista, 
na linguística do século XX, é a exclusão dos aspec-
tos relacionados ao uso e funcionamento do sis-
tema linguístico. Em função disso, determinou-se 
que não cabia à linguística preocupar-se com a fala, 
que, por ser individual, seria consequentemente 
tão caótica que não poderia ser objeto de estudo 
científico.
Entretanto, a preocupação de linguistas como 
Saussure e Chomsky, entre outros, com um estudo 
rigorosamente científico da linguagem e da língua 
não gerou, como consequência, o sucesso desse es-
tudo. Na opinião de Marcuschi, “ao que tudo indi-
ca, uma das tristes heranças do século XX foi a in-
suficiência explicativa e o reducionismo decorrente 
do projeto formalista” (2008, p. 31). Quer dizer, 
a preocupação exclusiva com os aspectos formais 
empobreceu a linguística, diminuiu sua eficácia e a 
impediu de apresentar explicações mais completas 
e adequadas dos fenômenos da linguagem.
Nesse contexto, floresceram as tentativas de des-
crever a língua não apenas de um ponto de vista 
formal mas também do ponto de vista de seu fun-
cionamento. O que importava, diziam os funcio-
nalistas, não era apenas o estudo do sistema como 
abstração mas o estudo da língua em sua relação 
com os usuários e com as situações concretas em 
que ela é usada. Vejamos a seguir a proposta fun-
cionalista em detalhe.
2. Os funciOnaLismOs: panOrama
Para uma visão de conjunto dos modelos funcio-
nalistas em oposição aos formalistas, veja o quadro 
abaixo:
As oposições enfocadas no quadro refletem já uma 
polêmica aberta entre as propostas funcionalistas 
que iam se delineando no final do século XX e 
o paradigma gerativista, a quem se pode atribuir, 
com exclusividade, todas as teses formalistas, com 
exceção da primeira, que também era uma marca 
central no estruturalismo. Quer dizer, a batalha 
principal dos funcionalistas contemporâneos foi 
contra Chomsky e o gerativismo e não, contra o 
estruturalismo saussureano, que a essa altura já ti-
nha seu prestígio bastante diminuído.
Como se pode perceber no quadro, o funciona-
lismo se apresenta, em contraposição ao estrutu-
ralismo e ao gerativismo, como um conjunto de 
perspectivas teóricas que se preocupam em estudar 
a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os 
diferentes contextos comunicativos em que são usadas. 
Não se considera suficiente, portanto, estudar 
apenas o sistema linguístico como tal. Para os fun-
cionalistas, a linguagem tem como função central 
propiciar a interação social, mais do que transmitir 
informações ou expressar o pensamento individu-
al, embora essas funções não sejam descartadas. O 
essencial é que, num modelo funcionalista, o estu-
do da linguagem concentra-se no uso real da língua 
e não nas possibilidades abstratas do sistema.
Em síntese, poderíamos afirmar, conforme Cunha 
(2008), que os funcionalistas defendem duas teses 
essenciais:
1. A língua desempenha funções que são exter-
nas ao sistema linguístico como tal;
2. As funções externas, controladas pelo uso, 
influenciam a organização interna do sistema 
linguístico.
Consequentemente, é necessário admitir a existên-
cia de fenômenos linguísticos que não podem ser 
explicados pelo simples apelo à análise gramatical. 
Imagine o seguinte diálogo:
1. Você é desonesto.
2. desonesto é Você.
Do ponto de vista de uma análise formal e tradi-
cional, a diferença de A para B é que, em A, temos 
uma frase na ordem direta (sujeito + verbo de li-
gação + predicativo do sujeito), enquanto, em B, 
encontramos a “mesma” frase em ordem inversa 
(predicativo do sujeito + verbo de ligação + sujei-
to). O sentido de ambas as frases seria idêntico, e 
a inversão é apenas uma possibilidade do sistema. 
Note que não há, nessa explicação, nenhuma refe-
rência ao contexto de uso dos enunciados.
Já numa explicação do ponto de vista funcionalis-
ta, o que causa a inversão em B é um fator externo 
ao sistema linguístico. No hipotético contexto de 
uso, que agora é centralmente levado em conta, o 
primeiro enunciado é um insulto de A dirigido a 
B, em que “você” é o tópico de que se fala, e “deso-
nesto” é o comentário sobre o tópico. Na réplica de 
B dirigida a A, o tópico passa a ser “desonesto”, e o 
comentário, “você”. Portanto, o que causa a inver-
são no segundo enunciado é o ato de replicar a um 
insulto, de modo que as necessidades dos falantes 
acabam interferindo e moldando a organização da 
própria estrutura linguística.
Traçando uma síntese das tendências teóricas da 
linguística no século XX, Marcuschi (2008) oferece 
um quadro composto de cinco diferentes modelos 
que, de forma simplificada, mostra os principais 
desenvolvimentos da disciplina desde seu surgi-
mento até os dias de hoje.
Formalismos Funcionalismos
Estudo da linguagem 
como sistema autônomo
Estudo da linguagem em 
relação com suas funções 
sociais
A língua como fenômeno 
mental
A língua como fenômeno 
social
Os universais linguísti-
cos como derivados de 
herança genética
Os universais linguísticos 
como derivados dos usos 
da linguagem
A aquisição da lingua-
gem como capacidade 
inata
A aquisição da lingua-
gem como desenvolvi-
mento de necessidades 
comunicativas
Modelos Caracterização
1. Modelos 
formalistas
Foco na estrutura e no sistema lin-
guístico; estudos da língua como 
código verbal (estruturalismo, ge-
rativismo)
2. Modelos 
pragmáticos
Foco na relação entre a língua e 
seus usuários; estudos da língua 
como forma de ação (pragmática)
3. Modelos 
sociolingüísticos 
Foco na percepção e identificação 
da variação social da linguagem; 
estudos da língua em sua relação 
com a sociedade (sociolinguística)
10 11Capítulo 1 Capítulo 1
Observe que os modelos de 2 a 5 podem todos ser 
considerados funcionalistas num sentido amplo, 
uma vez que todos eles se caracterizam por aban-
donar uma abordagem meramente formal aos fe-
nômenos da linguagem, embora com ênfases, por 
vezes, muito diferentes. Acrescente-se ainda que 
as distinções entre um modelo e outro são pou-
co mais do que distinções didáticas, pois, na vida 
real, os modelos tendem a se comunicar bastante e 
provavelmente pode-se dizer que nenhum linguis-
ta pratica um determinado modelo sem nenhuma 
consideração pelos demais. A prática de aproveitar 
contribuições teóricas e metodológicas de um e de 
outro modelo ao invés de se isolar numa perspec-
tiva única parece ser, ademais, uma marca que a 
cada dia vai caracterizando a linguística brasileira 
por oposição a tendências internacionais.
A figura acima, em que as subdisciplinas que cons-
tam no centro se caracterizam como o “núcleo 
duro” da linguística por oposição às tendências cir-
cundantes, representa outra maneira de caracteri-
zar abordagens essencialmente formalistas em sua 
relação com os modelos funcionalistas. Noutras 
palavras, tambémanálise da conversação, pragmá-
tica, psicolinguística e outras subdisciplinas da lin-
guística podem ser consideradas funcionalistas em 
sentido amplo, enquanto fonologia, morfologia e 
sintaxe, por exemplo, na maioria das vezes, estão 
associadas a um estudo linguístico mais formal do 
que funcional.
Conforme Pezatti (2004), as principais teses fun-
cionalistas poderiam ser resumidas como se segue:
1. Recusa das explicações formalistas para os fa-
tos da linguagem;
2. A linguagem como instrumento de comunica-
ção e interação social;
3. Objeto de estudos baseado no uso real (não-se-
paração entre sistema e uso; estudo do sistema 
subordinado ao uso);
4. Linguagem como ferramenta cuja forma se 
adapta às funções que exerce;
5. Processos diacrônicos têm motivação funcio-
nal;
6. A linguagem não é um fim em si mesmo, mas 
um requisito pragmático da interação ver-
bal;
7. A pragmática abrange e determina a 
semântica e a sintaxe.
Para os fins de nossa disciplina, é possível 
classificar os modelos funcionalistas em 
dois grandes grupos por procedência geo-
gráfica: o funcionalismo europeu e o fun-
cionalismo norte-americano. Vamos a uma 
breve caracterização de ambos.
3. O funciOnaLismO EurOpEu
Cunha (2008, p. 159) lembra que, embora 
muitas vezes contrastado com o estrutu-
ralismo clássico, é exatamente das fileiras 
deste que o funcionalismo emerge. Nesse 
sentido, as primeiras análises funcionalistas, espe-
cialmente voltadas para os estudos da fonologia, 
provêm do Círculo Linguístico de Praga, destacan-
do o papel dos fonemas em distinguir e demarcar 
as palavras. Nessa escola, fundada pelo tcheco Vi-
lém Mathesius em 1926, os linguistas não concor-
davam com a distinção rígida entre sincronia e dia-
cronia, conforme defendida por Saussure, assim 
como não aceitavam a ideia de que a língua fosse 
um sistema homogêneo.
Os linguistas do Círculo de Praga foram respon-
sáveis pelas seguintes contribuições para o funcio-
nalismo:
1. O uso dos termos “função” e “funcional”;
2. O estabelecimento dos fundamentos básicos 
do funcionalismo;
3. A inclusão de parâmetros pragmáticos e dis-
cursivos em suas análises.
Entretanto, foi na área dos estudos fonológicos 
que a Escola de Praga obteve maior destaque, em 
especial com dois de seus mais ilustres representan-
tes, os russos Nikolaj Trubetzkoy e Roman Jakob-
son. Responsável por desenvolver os fundamentos 
da fonologia em geral, Trubetzkoy nos legou as se-
guintes contribuições:
1. A definição de uma teoria estruturalista do fo-
nema;
2. A distinção funcional entre os conceitos de fo-
nética e fonologia;
3. O conceito de fonema como feixe de traços 
distintivos simultâneos;
4. A teoria dos sistemas fonológicos desenvolvida 
em parceria com Jakobson.
Segundo a teoria da Escola de Praga, os fonemas, 
embora tidos como elementos mínimos do sistema 
linguístico, caracterizam-se como feixes de traços 
distintivos perfeitamente funcionais no interior 
do sistema. Dessa forma, se considerarmos o par 
mínimo /p/ - /b/, temos os seguintes traços, res-
pectivamente:
/p/ - oclusivo, bilabial, surdo
/b/ - oclusivo, bilabial, sonoro
Portanto, os fonemas /p/ e /b/ distinguem-se tão 
somente pelo traço de sonoridade. Dizemos que 
o /b/ é + sonoro e o /p/ é – sonoro. Essa distin-
ção (+ ou – sonoro) caracteriza ambos os fonemas 
como um par mínimo e permite a diferenciação 
entre palavras, como pata x bata e pico x bico.
De acordo com Trubetzkoy, os fonemas possuem 
uma função tríplice: distintiva (vista acima), de-
marcadora e expressiva. A função demarcadora 
é responsável por indicar os limites entre uma e 
outra palavra na fala. Em português, o acento grá-
fico, ao indicar a tonicidade da sílaba na palavra, 
configura-se como um importante traço suprasseg-
mental do fonema, capaz de demarcar a diferença 
entre “fábrica” (substantivo) e “fabrica” (verbo). A 
função expressiva refere-se à possibilidade de um 
fonema ser usado para manifestar o estado emo-
cional do falante, como no alongamento da vogal 
em /liiindo/.
Jakobson, por sua vez, foi o introdutor do conceito 
de marcação, primeiramente na fonologia e depois 
na morfologia. O conceito de marcação comporta 
a oposição entre duas categorias (marcada e não 
marcada) com base em um traço distintivo e fun-
cional. Na fonologia, a distinção entre /p/ e /b/, 
vista anteriormente, é um bom exemplo. Nesse 
par, o /b/ é marcado como sonoro, enquanto o 
/p/ é não marcado quanto a esse traço. No par 
“meninos” x “menino”, a primeira forma traz a 
marca “+ plural”, ausente na segunda. “Meninos”, 
pois, é uma forma marcada quanto à categoria de 
número. A forma no singular, “menino”, é não 
marcada (– plural).
Os estudos do linguista fundador do Círculo Lin-
guístico de Praga, Vilém Mathesius, deram origem 
ao que posteriormente se chamaria de análise 
funcional da sentença ou perspectiva funcional 
da sentença. No enfoque de Mathesius, um par 
de orações, como o exposto abaixo, que aparente-
mente se refere ao mesmo fato, apenas ordenando 
os componentes das orações de forma variada, no 
entanto não é equivalente do ponto de vista prag-
mático:
a) Eu já li esse livro.
b) Esse livro eu já li.
4. Modelos 
cognitivistas
Foco na linguagem como fenôme-
no cognitivo; estudos da língua 
numa perspectiva dos processos e 
modelos cognitivos (cognitivismo, 
sociocognitivismo)
5. Modelos 
discursivos
Foco no discurso, no texto e na 
enunciação; estudos da língua 
numa perspectiva textual e discur-
siva (análises do discurso, linguís-
tica de texto, teorias enunciativas)
Figura 1: Microlinguística e macrolinguística
Fo
nt
e:
 (W
EE
D
W
O
O
D,
 2
00
2,
 p
. 1
1)
VOCÊ SABIA?
Embora os linguistas de
 Praga pensassem em s
i-
tuações de fala convenc
ionais, hoje será bastan
te 
produtivo considerar a e
xploração expressiva do
s 
fonemas em práticas de
 interação virtual (chats 
e 
outras ferramentas da In
ternet), em que o alonga
-
mento de vogais é um fe
nômeno bem frequente.
12 13Capítulo 1 Capítulo 1
O que motivaria a colocação de “esse livro” no fi-
nal da frase seria seu status informacional como 
informação nova. Inversamente em b), o segmento 
“esse livro” viria para o início do enunciado por se 
tratar de informação dada ou velha.
Jan Firbas, no começo dos anos de 1960, denomi-
na tema a parte da sentença que contém informa-
ção dada e, portanto, apresenta menor dinamismo 
comunicativo. A parte da sentença que contém 
informação nova e consequentemente possui um 
elevado grau de dinamismo chama-se rema. Trata-
se de uma maneira de descrever funcionalmente a 
ordenação da sentença, de acordo com o status da 
informação. Veja o diálogo:
A) O que Maria comprou?
B) Maria comprou [T] uma bolsa preta [R].
Em B, “Maria comprou” representa o tema (infor-
mação dada em A), e “uma bolsa preta” é o rema 
(informação nova). A ideia é a de que os segmen-
tos com menor dinamismo comunicativo sejam ex-
pressos no início da sentença, enquanto as partes 
de maior dinamismo vêm no final.
A contribuição da Escola de Praga, portanto, foi 
extremamente relevante por enfatizar o caráter 
multifuncional da linguagem num contexto em 
que, como lembra Cunha (2008, p. 161), se enfo-
cava “o estudo da linguagem enquanto expressão 
do pensamento”.
Outras contribuições para o funcionalismo na Eu-
ropa vieram da Escola de Genebra, em que Char-
les Bally desenvolveu estudos sobre a estilística e 
seu impacto sobre o sistema, enquanto Henri Frei 
analisou desvios da gramática normativa do ponto 
de vista funcional.
No âmbito da Escola de Londres, Michael Halli-
day, na década de 1970, desenvolve uma teoria fun-
cional que abrange desde as unidades estruturais 
menores até os textos, além de defender uma semi-
ótica socialem que a linguagem é tratada como sis-
tema semiótico, encarado no contexto dos papéis 
sociais de cada indivíduo.
Na Holanda, Simon Dik defende, no final da dé-
cada de 1970, uma sintaxe funcional em três níveis 
(sintático, semântico e pragmático), conforme o 
exemplo:
João chegou cedo.
Em que “João” é sujeito (sintaxe), agente (semântica) 
e tema (pragmática). Portanto, para Dik, a linguís-
tica deve tratar de regras (1) semânticas, sintáticas, 
morfológicas e fonológicas (estrutura) bem como 
de regras (2) pragmáticas (interação verbal).
Por último, mas não menos importante, cabe aqui 
uma também rápida referência ao linguista rome-
no Eugenio Coseriu, que teve uma longa e produ-
tiva atividade na linguística da segunda metade do 
século XX. Essa atividade desenvolveu-se em di-
versos países onde Coseriu trabalhou ou os quais 
visitou,	 incluindo	entre	eles	a	Itália,	o	Uruguai	e	
a Alemanha, além de passagens pela Argentina, 
Brasil e outros países. As publicações de Coseriu 
abrangem os idiomas romeno, italiano, espanhol, 
alemão, inglês e francês.
Para esse linguista tão importante e culto, o estudo 
de muitos fenômenos linguísticos, particularmen-
te o estudo dos textos como nível autônomo da lin-
guagem, só poderia ocorrer como uma abordagem 
funcional. Para Coseriu (2007), a “verdadeira” e 
“própria” linguística do texto necessariamente de-
veria receber uma “fundamentação funcional”, pois 
a mera compreensão do significado linguístico pre-
sente em um texto não garante a compreensão do 
sentido desse texto.
No exemplo dado por Coseriu, alguém pode en-
tender perfeitamente o conto A metamorfose de 
Franz Kafka do ponto de vista do que ele signifi-
ca, digamos, ao pé da letra: um homem chamado 
Gregor Samsa acorda e se vê, numa determinada 
manhã, transformado em um monstruoso inseto. 
O eventual leitor pode compreender, ainda, os 
eventos narrados a partir desse fato. Mesmo assim, 
poderá não alcançar o sentido do texto num senti-
do muito mais profundo.
4. funciOnaLismO nOrtE-amEricanO
A diversidade de enfoques autodenominados 
funcionalistas fez surgir uma inusitada compara-
ção. Segundo Elisabeth Bates (citada por NEVES, 
1997), o funcionalismo seria como o protestantis-
mo: diversos grupos separados que concordam em 
um só assunto – a rejeição ao papa (no caso dos 
funcionalistas, entenda-se o “papa” como Noam 
Chomsky, o fundador do gerativismo).
Nos	Estados	Unidos,	o	cenário	linguístico	foi	do-
minado inicialmente pelo estruturalismo na linha 
de Leonard Bloomfield, na primeira metade do sé-
culo XX, até que este veio a perder prestígio, sendo 
ofuscado pelo gerativismo proposto pelo já citado 
Chomsky nos últimos anos da década de 1950.
O funcionalismo iria se impor gradativamente, a 
partir do trabalho de alguns precursores que cha-
maram a atenção para aspectos pragmáticos e fun-
cionais em meio ao estruturalismo e gerativismo 
prevalecentes. Nomes, como Dwight Bolinger e 
Joseph Greenberg, fizeram parte dessa história.
Entretanto, é a partir de 1975 que estudos propria-
mente funcionalistas se tornam comuns na lin-
guística norte-americana. Passa-se a defender, em 
comum com os funcionalistas europeus, a impossi-
bilidade de uma descrição linguística que não leve 
em conta os aspectos comunicativos e a vinculação 
entre discurso e gramática. A explicação dos fatos 
da língua deveria se prender à análise tanto do con-
texto linguístico como da situação extralinguística.
Uma	 tese	 comum	 no	 funcionalismo	 será	 a	 afir-
mação de que a gramática é modificada pelo uso. 
Isso equivale a defender que a língua está sujeita à 
mudança e variação. Essa tese hoje não causa mais 
nenhum espanto, mas não era nada comum no 
contexto do apogeu do gerativismo e da influência 
continuada do estruturalismo.
Conforme Cunha (2008), o funcionalismo norte-
americano tem como marco a publicação de The 
origins of syntax in discourse [A origem da sintaxe no 
discurso], de autoria de Gillian Sankoff e Penelo-
pe Brown, no ano de 1976. Na obra, as autoras 
demonstram que as mudanças sintáticas podem 
efetivamente	ser	motivadas	pelo	discurso.	Uma	se-
gunda publicação importante foi From discourse to 
syntax [Do discurso para a sintaxe] (1979), em que 
Talmy Givón busca oferecer explicações funcionais 
para	os	 fatos	gramaticais.	Uma	terceira	obra	rele-
vante foi Transitivity in grammar and discourse [Tran-
sitividade na gramática e discurso] (1980), em que 
os autores Sandra Thompson e Paul Hopper argu-
mentam sobre a existência de fatores discursivos 
que condicionam a gramática no que diz respeito 
à transitividade.
Outro enfoque bastante produtivo resultou da 
aproximação entre linguística funcional e linguís-
tica cognitiva, em particular a tendência represen-
tada por dissidentes do gerativismo como Ronald 
Langacker, George Lakoff e outros, que rejeitaram 
a tese chomskyana da autonomia da sintaxe. Esses 
autores defendem, particularmente, a incorpora-
ção dos processos sociocognitivos nos estudos lin-
guísticos.
Em síntese, de acordo com Pezatti (2004), três 
grupos se destacam no funcionalismo norte ame-
ricano:
1. o grupo da Califórnia, que inclui Talmy Gi-
vón, Sandra Thompson, Wallace Chafe e Paul 
Hopper, entre outros;
2. o grupo de Buffalo, Nova Iorque, organizado 
em torno de Van Valin, sob o rótulo de Gra-
mática de Papel e Referência (Role and Referen-
ce Grammar);
3. o terceiro e último grupo, situado em Berke-
ley, também na Califórnia, representa uma 
tendência funcional-cognitiva, promovida por 
George Lakoff e Ronald Langacker, conforme 
visto acima.
Como você pode ver, diversidade é, de fato, uma 
boa palavra para descrever as diversas formas de 
funcionalismo.
5. funciOnaLismO nO brasiL
Em nosso país, os estudos funcionalistas ganha-
ram impulso a partir da década de 1980 com a 
constituição de vários grupos de pesquisa e com o 
espaço criado por esses pesquisadores em eventos 
científicos e programas de pós-graduação de várias 
universidades. Cunha (2008) destaca como repre-
sentante pioneiro do funcionalismo no Brasil o 
trabalho de Rodolfo Ilari, publicado em 1987, com 
o título Perspectiva funcional da frase portuguesa. Nes-
se trabalho, o autor explora os conceitos de tema 
e rema, aplicados à frase em português, seguindo, 
portanto, na linha do funcionalismo europeu da 
Escola de Praga.
Entre os projetos e grupos de pesquisa constituí-
dos, segundo os princípios funcionalistas, Cunha 
(2008) aponta:
1.	 o	 conhecido	 Projeto	 Norma	 Urbana	 Culta	
(NURC),	 que	 foi	 aplicado	 a	 cinco	 capitais	
14 15Capítulo 1 Capítulo 1
brasileiras, entre elas o Recife. Muitos estudos 
ainda são feitos hoje com base nos dados reu-
nidos por esse Projeto;
2.	 o	Projeto	de	Estudo	do	Uso	da	Língua	(Peul),	
ligado	à	Universidade	Federal	do	Rio	de	Janei-
ro	 (UFRJ),	 de	 tendência	 sociolinguística,	 em	
que se destacou a presença do linguista An-
thony J. Naro. O grupo foi influenciado pelo 
funcionalismo norte-americano e, em especial, 
pelos trabalhos de Talmy Givón;
3. o Grupo de Estudos Discurso & Gramática, 
composto por pesquisadores de várias univer-
sidades	do	Rio	de	 Janeiro	 e	pela	Universida-
de	Federal	do	Rio	Grande	do	Norte	(UFRN),	
criado por Sebastião Votre e também baseado 
no funcionalismo norte-americano, desenvol-
vendo estudos principalmente na temática da 
gramaticalização (ver definição adiante). O li-
vro Manual de linguística, organizado por Mário 
Eduardo Martelotta, embora não se dedique 
exclusivamente ao funcionalismo, foi produzi-
do por autores ligados ao Grupo.
6. funciOnaLismO 
 nOrtE-amEricanO: 
 principais cOncEitOs
Considerando que o funcionalismo norte-ameri-
cano apresenta categorias bastante influentes no 
pensamento linguístico brasileiro, destacaremos os 
principais conceitos dessa corrente que, como se 
verá,são conhecidos e aplicados por muitos pes-
quisadores que não se identificam a si mesmos 
primeiramente como funcionalistas, mas como 
linguistas de texto ou sociolinguistas, por exemplo.
6.1. infOrmatividadE
De acordo com Cunha (2008, p. 166), “o princípio 
da informatividade focaliza o conhecimento que 
os interlocutores compartilham, ou supõem que 
compartilham, na interação verbal”. Na linguística 
funcional, a aplicação do princípio da informativi-
dade está relacionada com o status informacional 
das palavras numa sentença, o qual interfere em 
sua posição no enunciado. Do ponto de vista do 
status, a informação contida numa palavra (refe-
rente) pode ser classificada como dada, nova, dis-
ponível ou inferível. Vejamos detalhadamente cada 
uma dessas situações:
1. Informação dada – também chamada de in-
formação velha, acontece em duas situações 
distintas. A informação pode ser considerada 
velha ou dada, quando: a) já ocorreu no texto 
ou b) está disponível no contexto de interação. 
Chamamos a informação que já ocorreu no 
texto de referente textualmente dado. Por sua vez, 
a informação disponível na situação de fala 
chama-se de referente situacionalmente dado. Veja 
os exemplos dados por Cunha (2008, p. 166):
 a) aí o mecânico falou que... (ø) não sabia 
qual o homem que tinha apertado aquilo 
((riso))
 b) e: e:: agora eu queria que você me... me dis-
sesse... alguma coisa que você sabe fazer... Ou 
que você... goste de fazer... e como é que se faz 
isso...
 
 No primeiro caso, o sujeito de “não sabia” é 
omitido (a omissão é representada pelo símbo-
lo ø) por já ser conhecido dos interlocutores. 
Trata-se do referente “o mecânico”, que é dado 
no enunciado anterior. Trata-se de um referen-
te textualmente dado.
 No segundo caso, somente as pessoas que 
estão envolvidas na situação de fala expressa 
pelo enunciado sabem quem está sendo re-
presentado pelo termo “você”. Sabemos que 
“você” é aquela pessoa a quem nos dirigimos 
como interlocutor. Embora não saibamos de 
quem exatamente se trata nesse caso, o refe-
rente é dado ou velho para os interlocutores. É 
um exemplo de referente situacionalmente dado.
2. Informação nova – é aquela que está sendo in-
troduzida pela primeira vez no discurso. Veja o 
exemplo, em que os referentes “um ônibus” e 
“um caminhão” representam informação nova 
para o interlocutor:
 c) aí quando chegou... ali na:: descida/ porque 
é... Barra... Tijuca... né? quando estava quase 
chegando a... Tijuca... vinha... um ônibus na:: 
direção deles... e tinha um caminhão... parado 
aqui...
 
3. Informação disponível – refere-se a uma informa-
ção que já consta na mente do ouvinte por ser 
geralmente um referente único no contexto. 
É o caso de termos, como “o sol”, “a lua”, “a 
terra”, “Pelé” ou nomes de cidade como “Pe-
trópolis”:
 
 d) ... mas... eu fui a Petrópolis com uma amiga... 
que nunca tinha subido a serra.
 
4. Informação inferível – neste caso, o referente é 
identificável por um processo inferencial a par-
tir de certas informações disponibilizadas para 
o interlocutor. Cunha (2008) afirma que infor-
mações inferíveis normalmente são introduzi-
das por artigo definido. No exemplo a seguir, 
apesar de que não constitui informação dada, 
o referente “motorista” pode ser inferido da 
referência a “ônibus”.
 
 e) ... quando ela viu o ônibus passar... mas o 
ônibus já estava indo... e ela começou a gritar e 
todo o ponto de ônibus assim lotado... né? ela 
começou a gritar pro motorista... mas ela estava 
um pouco longe...
6.2. icOnicidadE
Este é um princípio caro aos funcionalistas, uma 
vez que para eles a estrutura da língua revela a estrutu-
ra da experiência, ou o funcionamento da mente. Desse 
modo, o princípio da iconicidade expressa a tese 
de que há uma correlação natural e motivada entre 
a forma linguística e sua função, ou entre o código lin-
guístico e o significado, entre a expressão e o conteúdo. 
O princípio não é sempre fácil de sustentar, pois, 
em muitos casos, a relação forma e função é arbi-
trária ou perdeu sua motivação original. Vejamos 
alguns exemplos em que a relação de motivação 
(iconicidade) se perdeu:
1. Perda da iconicidade por modificação na es-
trutura fonética e morfológica:
Em boa hora > embora
A expressão “em boa hora”, além de sofrer altera-
ção fonética e morfológica na sua mudança para 
“embora”, ainda passa por alterações semânticas, 
perdendo a relação com “hora”, isto é, tempo. As-
sim, para se recuperar o aspecto icônico em “embo-
ra”, será necessário retomar a história da palavra, 
ou seja, será necessário entrar em considerações 
diacrônicas.
2. Alteração semântica como resultado de pro-
cessos metafóricos: o termo “entretanto” pas-
sa, no processo histórico, de um sentido tempo-
ral para um sentido adversativo, de modo que 
sua iconicidade se anula ou fica enfraquecida.
Percebe-se, portanto, que a noção de iconicida-
de se torna problemática em várias situações, até 
porque há situações em que uma só forma corres-
ponde a várias funções bem como diversas formas 
podem corresponder a uma única função. Confira 
o quadro abaixo:
Em função dessas dificuldades, a iconicidade re-
cebeu uma versão moderada, que se manifesta em 
três princípios:
1. Princípio da quantidade – pelo qual “quan-
to maior a quantidade de informação, maior 
a	 quantidade	 de	 forma”	 (CUNHA,	 2008,	 p.	
168). De acordo com esse princípio, a quan-
tidade de estrutura linguística corresponde à 
complexidade do pensamento que se expressa. 
Confira o exemplo apresentado por Cunha 
(2008) em que o progressivo aumento no ta-
manho das palavras corresponderia a uma am-
pliação do nível de complexidade dos respecti-
vos conceitos:
 Belo > beleza > embelezar > embelezamento
 
2. Princípio da integração – o qual estabelece 
que “os conteúdos que estão mais próximos 
cognitivamente também estarão mais integra-
dos	no	nível	da	codificação”	(CUNHA,	2008,	
p. 168). Dito de outra forma, significaria que a 
proximidade mental se reflete numa proximi-
dade sintática, confirmando a tese funcionalis-
ta de que a estrutura linguística reflete os usos 
sociais bem como os processos cognitivos. Se-
gundo o princípio da integração, nas frases a 
seguir, haveria um progressivo distanciamento 
Uma forma Diversas funções
Embora • Concessiva: “Embora tenha estu-
dado, não passou.”
• Partícula de afastamento: “Vou-
me embora pra Pasárgada...”
Diversas formas Uma função
Embora
Mesmo que
Ainda que
Apesar de
Concessiva
16 17Capítulo 1 Capítulo 1
entre as ações expressas pelos verbos “ordenar” 
e “ficar”, “fazer” e “ficar” e “querer” e “ficar”, 
respectivamente, que se reflete na ampliação 
da distância sintática entre a primeira e a últi-
ma frase:
 
 a) Maria ordenou: fique aqui.
 b) Maria fez a filha ficar ali.
 c) A filha não queria ficar ali.
 
3. Princípio da ordenação sequencial – segundo 
o qual, em primeiro lugar, tende a haver uma 
ordenação linear das orações no discurso, re-
presentando a sequência temporal em que os 
eventos ocorrem:
 
 Sabe como é feito um bom strogonoff... compra 
o camarão:: limpa o camarão... põe o cama-
rão... boto cebola... pimentão... tomate... cozi-
nho ele... deixo ele cozinhar um pouquinho 
assim...
 Ligado a esse princípio, existe ainda um sub-
princípio da relação entre ordem sequencial 
e topicalidade. Por esse subprincípio, há uma 
correlação entre o status informacional e a po-
sição que o referente assume na frase: infor-
mações novas tendem a ocorrer no final da 
sentença, enquanto as informações velhas vêm 
no início:
 
 Tenho vários amigos, mas meu preferido é 
Carlos. Carlos está sempre comigo nas horas de 
diversão.
6.3. marcaçãO
O conceito de marcação se refere à oposição es-
tabelecida entre dois elementos de uma categoria 
linguística,nos planos fonológico, morfológico ou 
sintático, em que um dos elementos será conside-
rado marcado e o outro, não marcado. A forma 
marcada se caracteriza por apresentar um traço 
ausente na forma oposta, tida como não marcada. 
Um	exemplo	de	forma	marcada	e	não	marcada,	na	
morfologia, pode ser dado pela categoria de núme-
ro, em que o elemento no plural será marcado, e o 
elemento no singular, não marcado:
Livros [+ plural]
Livro [– plural]
Cunha (2008, p. 170) salienta que as formas não 
marcadas apresentam várias características:
1. Maior frequência de ocorrência;
2. Contexto de ocorrência mais amplo;
3. Forma mais simples ou menor;
4. Aquisição mais precoce pelas crianças;
Assim, no nível sintático, a marcação resulta numa 
frase mais rara e, por isso mesmo, mais expressiva, 
menos neutra. A forma marcada pode expressar 
as emoções do falante de um modo muito mais 
claro do que a forma não marcada. Compare os 
exemplos:
a) Eu uso esta roupa.
b) Esta roupa eu uso.
Você entendeu qual é a forma marcada 
(ou seja, qual é a forma menos comum, 
menos frequente etc.)? 
Se você pensou na opção b), está completamen-
te certo. Agora observe como a opção b) é muito 
mais expressiva do que a opção a) em que a ordem 
direta é respeitada.
6.4. transitividadE E pLanO discursivO
Ao contrário da gramática tradicional, a gramática 
funcionalista não opõe binariamente verbos tran-
sitivos a intransitivos. Para Hopper e Thompson 
(citados	por	CUNHA,	2008,	p.	171),	a	 transitivi-
dade é uma “propriedade escalar, que focaliza di-
ferentes ângulos da transferência da ação de um 
agente para um paciente em diferentes porções da 
oração”. Nesse sentido, há uma escala crescente de 
transitividade nas frases de a) a d), considerando 
fatores, como a dinamicidade do verbo, a agentivi-
dade do sujeito e o efeito sobre o objeto:
a) Esse rio tem uma forte correnteza.
b) A Mulher Gato não gostava do Batman.
c) Então o Pinguim chegou na festa.
d) Batman derrubou o Pinguim com um soco.
Segundo o pensamento funcionalista, a transitivi-
dade tem uma função pragmática, sendo constru-
ída de acordo com os objetivos do falante e sua 
percepção sobre o interlocutor. Dessa forma, uma 
transitividade elevada corresponderia, no texto, à 
importância do segmento no conjunto do plano 
discursivo. Expressões menos centrais no pensa-
mento do produtor do texto poderão ter um grau 
menor de transitividade.
6.5. gramaticaLizaçãO 
Conforme Cunha (2008, p. 173), a gramaticaliza-
ção designa “um processo unidirecional, segundo 
o qual itens lexicais e construções sintáticas, em 
determinados contextos, passam a assumir funções 
gramaticais e, uma vez gramaticalizados, continu-
am a desenvolver novas funções gramaticais”. É o 
que acontece nos exemplos abaixo, em que os ele-
mentos destacados sofrem um desgaste semântico 
e assumem funções meramente gramaticais. Veja o 
exemplo em que o verbo “querer” passa a ser utili-
zado como uma simples conjunção alternativa:
Quer chova, quer faça sol...
atividadEs | Escolha um livro didático de 
língua portuguesa do ensino Fundamental ou 
Médio, de sua preferência, e responda:
1. Examinando o livro didático, ainda que 
superficialmente, você diria que a abordagem 
contida nele é predominantemente formalista 
ou funcionalista? Justifique sua resposta.
 
2. Entre os temas funcionalistas destacados 
neste capítulo, quais deles estão contemplados 
nas leituras e atividades propostas pelo livro 
didático? De que forma?
 rEsumO 
 
Neste capítulo, vimos um panorama 
das teorias funcionalistas que vêm sen-
do desenvolvidas no âmbito da Linguís-
tica. Para introduzir o capítulo, abor-
damos a oposição entre formalismos e 
funcionalismos como uma possibilidade 
de síntese do pensamento lingüístico, 
que vigorou no século XX. Em segui-
da, apresentamos o funcionalismo em 
geral, para depois nos determos espe-
cificamente nas correntes europeias da 
teoria bem como no chamado funcio-
nalismo norte-americano. Depois de al-
gumas informações sobre o impacto do 
funcionalismo no pensamento linguís-
tico brasileiro, estudamos os principais 
conceitos teóricos apresentados pelas 
correntes funcionalistas.
SAIBA MAIS!
Se você desejar aprofun
dar o conteúdo 
deste capítulo, pode en
contrar muitos 
subsídios disponíveis na
 Internet. Veja 
aqui algumas sugestões
 de leitura:
• Para uma boa sínte
se da aborda-
gem de Pezatti (2004) a 
respeito do 
funcionalismo em lingu
ística, veja 
a página Web http://te
oriadalin-
guagem.wikispaces.com
/Aula+30-
04-2009, em que você 
encontrará 
a apresentação Power
Point pre-
parada pela mestrand
a Amanda 
D’Alarme Gimenez sob
re o texto 
da autora. Se, depois, vo
cê desejar 
ler o texto integral de Pe
zatti, veja a 
referência ao final deste
 capítulo.
 
• Para uma perspecti
va integradora 
entre linguística formal
 e linguís-
tica funcional, leia o a
rtigo “For-
malismo e funcionalism
o: fatias da 
mesma torta” (OLIVEIR
A, 2003), 
disponível em http://ww
w.uefs.br/
sitientibus/pdf/29/form
alismo_e_
funcionalismo_fatias_d
a_mesma_
torta.pdf.
 
• Para saber sobre 
a contribuição 
do funcionalismo para o
 ensino de 
língua portuguesa, conf
ira o artigo 
escrito por Mariangela R
ios de Oli-
veira e Maria Marta Cez
ario, intitu-
lado “PCN à luz do fun
cionalismo 
linguístico” (OLIVEIRA e
 CESARIO, 
2007), disponível no 
endereço 
http://rle.ucpel.tche.br/
php/edico-
es/v10n1/03Maria.pdf.
19Capítulo 218 Capítulo 1
rEfErências
CUNHA, Angélica Furtado da. Funcionalismo. 
In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Ma-
nual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008. 
p. 157-176.
MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise 
de gêneros e compreensão. São Paulo: Pará-
bola, 2008.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática 
funcional. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
OLIVEIRA, Luciano Amaral. Formalismo e fun-
cionalismo: fatias da mesma torta. Sitientibus, 
Feira de Santana, n. 29, p. 95-104, jul./dez. 
2003. Disponível em: <http://www.uefs.br/
sitientibus/pdf/29/formalismo_e_funcionalis-
mo_fatias_da_mesma_torta.pdf> Acesso em: 
29 abr. 2010.
OLIVEIRA, Mariangela Rios de; CEZARIO, Ma-
ria Marta. PCN à luz do funcionalismo linguís-
tico. Linguagem & Ensino, v. 10, n. 1, p. 87-
108, jan./jun. 2007. Disponível em: <http://
rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v10n1/03Maria.
pdf.> Acesso em: 29 abr. 2010.
PEZATTI, Erotilde Goreti. O funcionalismo em 
linguística. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, 
Anna Christina (Org.). Introdução à linguística: 
fundamentos epistemológicos (v. 3). São Paulo: 
Cortez, 2004. p. 165-218.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da lin-
guística. São Paulo: Parábola, 2002.
Capítulo 2
dO cOgnitivismO aO 
sOciOintEraciOnismO
ObjEtivOs EspEcíficOs
•	 Conhecer	a	proposta	teórica	e	as	contribuições	da	linguística	cognitiva;
•	 Compreender	a	transição	do	cognitivismo	ao	sociocognitivismo	em	Linguís-
tica;
•	 Entender	a	perspectiva	 sociointeracionista	e	 seu	papel	na	Linguística	con-
temporânea.
intrOduçãO
Neste capítulo, apresentaremos algumas das novas tendências em Linguística, 
com destaque especial para a linguística cognitiva, o sociocognitivismo e o socio-
interacionismo. Você compreenderá como a Linguística seguiu um percurso, em 
que se moveu de perspectivas intensamente formais, conforme visto no Capítulo 
1, para diversificadas perspectivas em que os aspectos sociais e cognitivos passam 
a ser considerados ao lado dos aspectos linguísticos. Como você poderá verificar, 
as tendências de que trataremos neste capítulo têm mostrado uma grande influ-
ência sobre os rumos do ensino de língua portuguesa em nosso país, o que por si 
só as credencia como um importante tema de estudo.
1. O cOgnitivismO Em Linguística:rELaçãO cOm O gErativismO
Uma	 verdadeira	 revolução	
cognitivista ocorre nos anos 
de 1950, quando as inves-
tigações sobre a relação 
língua-cognição surgem em 
oposição ao behaviorismo 
(comportamentalismo) do-
minante. Com origem na 
psicologia cognitiva, os estu-
dos cognitivistas se estabele-
cem numa rica inter-relação 
entre os campos da ciência 
da computação, matemáti-
ca, teoria da informação e 
linguística, entre outros.
Prof. Dr. benedito Gomes bezerra
Carga Horária | 15 horas 
Figura 1: Cérebro e linguagem
Fo
nt
e:
 h
tt
p:
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sl
ex
ia
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ire
bl
og
.c
om
/
20 21Capítulo 2Capítulo 2
Com o cognitivismo, dá-se uma reabilitação dos 
processos mentais como objeto de investigação, de 
modo que as seguintes questões são levantadas: 
como o conhecimento é representado e 
estruturado na mente? 
Como a memória se organiza? 
A mente é dividida em partes independentes 
ou há uma conexão entre elas? 
O conhecimento é inato ou derivado 
da experiência?
Como ressaltam Martelotta e Palomanes (2008), 
o cognitivismo tem um papel de destaque na lin-
guística do século XX, por meio da perspectiva ge-
rativista de estudo da linguagem. O gerativismo, 
caracterizado como uma abordagem mentalista 
aos fatos da língua, põe, em relevo, os aspectos 
cognitivos envolvidos na compreensão da lingua-
gem, mas limita a cognição a questões meramente 
biológicas. No gerativismo, não se estabelece uma 
ligação entre a cognição e as questões sociais, cul-
turais, históricas e interacionais.
Para o gerativismo, a linguagem é um sistema for-
mal e racional que pode ser explicado por uma 
teoria lógico-matemática. A linguagem seria um 
componente mental, um módulo entre outros mó-
dulos responsáveis pelas diversas ações de que os 
seres humanos são capazes. Entre as teses clássicas 
do gerativismo, inclui-se, portanto, a modularida-
de da mente, em que se postula um módulo sin-
tático autônomo em relação aos demais módulos 
linguísticos e não linguísticos.
Outra tese fundamental para o sistema gerativista 
é a do inatismo linguístico: todos os seres huma-
nos nascem dotados de uma espécie de dispositivo 
mental de geração da linguagem, o que consequen-
temente dispensará os aspectos sociais, julgando-os 
irrelevantes para a compreensão dos fenômenos 
linguísticos.
Característica dos estudos que estamos chamando 
de linguística cognitiva é uma revisão de vários pos-
tulados do gerativismo. Entre eles, a modularidade 
é repensada e criticada, de modo que se considera 
que não é necessário distinguir entre conhecimen-
to linguístico e outros conhecimentos na mente. 
As diversas formas de conhecimento operam inte-
gradamente, e não de forma modular. Embora não 
se questione o inatismo em si, entende-se que as 
línguas não podem ser explicadas apenas por me-
canismos formais e abstratos.
Perguntas importantes e desafiadoras para um 
cognitivismo mentalista são: como se dá a capta-
ção, compreensão e armazenamento de dados da 
experiência na memória? E ainda, como se dá a 
organização, acesso, conexão, utilização e transmis-
são desses dados? Contra o gerativismo, necessário 
é afirmar a impossibilidade de separar linguagem, 
pensamento e experiência. Daí o termo sociocog-
nitivismo, pelo qual se confere especial destaque 
aos aspectos sociais da cognição. Dito de outra for-
ma, a significação é entendida como um processo 
que se define na interação.
2. dO cOgnitivismO aO 
 sOciOcOgnitivismO
Koch e Cunha-Lima (2004, p. 251) ressaltam que 
o sociocognitivismo, ao contrário do gerativismo, 
não é um programa de pesquisa bem delimitado 
nem uma tendência unificada, algo assim como 
uma “escola”. Antes, se trata de “um conjunto de 
preocupações e uma agenda investigativa em ascen-
são na Linguística atual”. 
Compreendida como dissidência do cognitivismo 
gerativista inaugurado por Chomsky, a Linguísti-
ca Cognitiva rompe com o modelo modularista 
da mente, compreendendo a linguagem como um 
fenômeno integrado a “uma grande rede de capa-
cidades cognitivas da mente humana”, no dizer de 
Carrara,	Uchoa	e	Rodrigues	(2009).	Assim,	na	Lin-
guística Cognitiva, a produção e a recepção da lin-
guagem conectam-se a uma dimensão experiencial, 
que é tanto individual como social, integrando 
modos de vida, cultura e interação. Proponentes 
célebres dessa visão foram George Lakoff e Ronald 
Langacker.
De acordo com Martelotta e Palomanes (2008, p. 
179), o termo sociocognitivismo enfatiza “a impor-
tância do contexto nos processos de significação e o 
aspecto social da cognição humana”. Desse modo, 
a cognição deixa de ser visto como um fenômeno 
apenas mental, individual e estanque e passa a ser 
considerado no interior de relações sociais, cultu-
rais e históricas mais amplas.
O conceito de cognição, portanto, é significativa-
mente ampliado no sociocognitivismo. Para Koch 
e Cunha-Lima:
Ampliar esse campo significa incluir entre os fatos a serem 
investigados não apenas capacidades cognitivas nobres, 
como a linguagem, o raciocínio matemático, mas também 
fenômenos bem mais simples em sua aparência, como, por 
exemplo, nossas capacidades de nos movermos em uma 
sala, sem esbarrar nos móveis; de, dadas diferentes condi-
ções de iluminação, enxergarmos as cores de forma consis-
tente; ou, ainda, nossa capacidade de, ao balançarmos uma 
caixa de leite, sabermos, aproximadamente, quanto de leite 
resta lá dentro (2004, p. 253).
Nessa concepção, não só o conhecimento é um 
processo complexo mas também o sentido das ex-
pressões linguísticas não é algo pronto e acabado, 
porém é construído no decorrer da própria intera-
ção. Os autores exemplificam esse aspecto com o 
processo	de	categorização	da	realidade.	Uma	ope-
ração simples como reconhecer um objeto como 
sendo uma xícara de café implica associar represen-
tações diversas: visuais (aparência) e táteis (manei-
ra de segurar, expectativas sobre a temperatura), 
olfativas (cheiro do café) e gustativas (sabor especí-
fico, modo de consumir). Essas representações são 
criadas em diferentes regiões do cérebro, sempre 
que ouvimos ou lemos o nome do objeto.
Além disso, a maneira como categorizamos objetos 
(por exemplo, a xícara de café) e atividades (como 
gestos, por exemplo) implica larga medida e aspec-
tos marcados por nossa herança sociocultural. As-
sim é que o simples ato de tomar café ou fazer um 
sinal de positivo tem significados bastante peculia-
res em culturas diferentes. Numa visão integradora 
da linguagem, a forma linguística em si é, apenas, 
uma pista, um fator para a construção do sentido, 
que se constrói em associação com outros aspectos 
cognitivos.
Portanto, um aspecto importante no sociocogniti-
vismo é o caráter interacional do significado. A gra-
mática da língua não é simplesmente um conjunto 
de regras, mas um conjunto de princípios dinâmi-
cos que produzem o sentido quando associados a 
rotinas cognitivas que são moldadas, sustentadas e 
modificadas pelo uso diário da língua. A comuni-
cação, portanto, é uma atividade compartilhada, 
co-construída pelos interlocutores. Não cabe a ima-
gem de um emissor e um receptor isolados e alter-
nando posturas ativas (falante) e passivas (ouvinte) 
na produção da linguagem. O sociocognitivismo 
compreende que os usuários da língua estão no 
centro mesmo da construção do significado e são 
co-participantes dessa construção.
O sociocognitivismo, portanto, entende a lingua-
gem como uma forma de ação no mundo, que 
se dá de forma integrada com outras capacidades 
cognitivas. Para Koch e Cunha-Lima (2004, p. 
255), “compreender a linguagem é entender como 
os falantes se coordenam para fazer alguma coisa 
juntos, utilizando simultaneamente recursos in-
ternos, individuais, cognitivos e recursos sociais”. 
A questão central para o sociocognitivismo não é, 
entretanto,como relacionar os aspectos cognitivos 
e os aspectos sociais, mas como integrá-los numa 
só questão: o modo como a cognição se constitui 
no próprio curso da interação.
3. aspEctOs dE uma tEOria 
 cOgnitiva: O pEnsamEntO 
 cOrpOrificadO
 
Segundo o princípio do pensamento corporifica-
do (embodied), baseado no pensamento de George 
Lakoff, a percepção que temos do mundo é orien-
tada e limitada pela percepção que temos do nosso 
corpo. Desse modo, compreende-se que a mente 
não é, ao contrário do que diz a noção tradicio-
nal, separada do corpo, e o próprio pensamento 
é corporificado. Isso quer dizer que o pensamento 
é uma espécie de extensão do corpo, que por sua 
vez determina nossa percepção de espaço e tempo.
É assim, por exemplo, que falamos de fatos pas-
sados e futuros (tempo) em termos de para trás e 
para frente (noções espaciais) por analogia com a 
movimentação do nosso corpo:
Cem anos atrás, o mundo era diferente...
daqui para frente, as coisas serão diferentes.
Figura 2: De mãos atadas
Fo
nt
e:
 h
tt
p:
//
fo
go
na
se
nt
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as
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or
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p-
fic
tio
ns
-p
er
o-
no
-m
uc
ho
/
22 23Capítulo 2Capítulo 2
à centralidade que conferimos a um elemento 
em detrimento de outro na mesma cena. O ele-
mento em destaque se chama figura e aparece 
em primeiro plano; o elemento denominado 
fundo funciona como uma espécie de moldura 
e não constitui o centro de nossa atenção. Nos 
enunciados a seguir, temos o “quadro” como 
figura em a); no enunciado b), “quadro” assu-
me o lugar de fundo em relação a “sofá”.
 a) O quadro está sobre o sofá.
 b) O sofá está sob o quadro.
 
c) Enquadres e domínios conceituais – os en-
quadres se entendem como a base do conheci-
mento em relação à qual se impõe um determi-
nado foco de atenção comunicativa, enquanto 
os domínios conceituais se definem como con-
juntos de conhecimentos estruturados, es-
paços de referenciação ativados por formas 
linguísticas ou por fatores pragmáticos para a 
construção do significado e Os subdivididos 
em domínios estáveis e domínios locais (MARTE-
LOTTA e PALOMANES, 2008). Para melhor 
compreensão, confira o esquema:
Vejamos cada um desses conceitos:
1. Domínios estáveis são conjuntos de conheci-
mentos bastante gerais, armazenados na me-
mória pessoal ou social, como uma espécie de 
herança da humanidade, subdivididos, confor-
me o esquema em modelos cognitivos idealizados, 
molduras comunicativas e esquemas imagéticos.
Nesse caso, o corpo e a noção de espaço se tornam 
a base de nossos sistemas perceptuais, levando à 
conclusão de que os processos abstratos, entre eles 
a noção de tempo, são essencialmente metafóricos. 
Segundo essa teoria, o sentido se constrói metafo-
ricamente através da gradual extensão do sentido, 
a partir de noções espaciais até noções mais abs-
tratas. Confira o exemplo dado por Martelotta e 
Palomanes (2008, p. 182), que transportamos para 
o quadro abaixo:
Encarado dessa forma, o corpo entra decisivamen-
te na construção dos sentidos que resulta de nossa 
interação com os objetos no mundo. Os sentidos 
são, de acordo com os cognitivistas, entidades concei-
tuais, e as formas da língua são recursos para a re-
presentação de cenas e fatos da vida. Toda ativida-
de de conceitualização é atividade situada, ou seja, 
ligada à perspectiva do falante ou, dito de outra 
forma, dependente do lugar que seu corpo ocupa 
na situação de uso da língua. 
Martelotta e Palomanes (2008) exemplificam isso 
com as noções de ponto de vista, alinhamento de fi-
gura e fundo e enquadre comunicativo. Vejamos exem-
plos de cada uma delas:
a) Ponto de vista – nos exemplos abaixo, para 
dentro ou para fora correspondem simplesmen-
te ao lugar em que o falante se situa cognitiva 
e corporalmente. Essencialmente, a cena é a 
mesma, e o fenômeno descrito é idêntico nos 
dois enunciados.
 
 a) O caminho para dentro da floresta é 
tortuoso.
 b) O caminho para fora da floresta é tor-
tuoso.
 
b) Alinhamento de figura e fundo – neste 
caso, a relação figura-fundo diz respeito 
2. Domínios locais (espaços mentais) são opera-
dores do processamento cognitivo, de caráter 
dinâmico e sequencial, que podem ser ativa-
dos por conectores, os quais exercem o papel 
de construtores de espaços mentais (conectivos, 
sintagmas preposicionais ou adverbiais, ora-
ções). Veja alguns exemplos de espaços men-
tais:
4. tEOria sOciOcOgnitiva da 
 mEtáfOra
A partir da publicação de obras, como o livro Me-
taphors we live by (1980), de George Lakoff e Mark 
Johnson, traduzido para o português como Metáfo-
ras da vida cotidiana (2002), foram lançadas as bases 
para uma nova compreensão desse fenômeno, que 
sempre foi considerado apenas como uma “figura 
de linguagem” e frequentemente circunscrita ao 
domínio da literatura. Os estudos realizados nes-
sa linha resultaram numa teoria sociocognitiva da 
metáfora que, em parte, já estudamos no tópico 
anterior, quando tratamos do pensamento corpo-
rificado.
Para Lakoff e Johnson (2002), a metáfora 
não é uma propriedade, apenas, da literatura 
ou mesmo da linguística, mas determina, so-
bretudo, a forma como pensamos e agimos. 
Assim, todo o nosso sistema conceptual seria 
metafórico por natureza. Nossa forma de pen-
sar e agir é metafórica por natureza. A metáfo-
ra, portanto, longe de ser apenas uma figura 
de linguagem, é um fenômeno que determina 
a maneira como conceitualizamos nossa expe-
riência corpórea e social no mundo.
As metáforas, conforme esses autores, podem 
ser classificadas como conceituais, orientacio-
nais e ontológicas. Veremos cada um desses tipos.
Por meio de metáforas do tipo conceitual, articu-
lamos conceitos diversos que fazem parte de nos-
sa	vida	diária.	Um	exemplo	dessas	metáforas,	que	
podemos	citar	aqui,	é	DISCUSSÃO	É	GUERRA.	
A partir dessa metáfora, encontramos afirmações 
como:
Seus argumentos são indefensáveis.
Ele atacou cada ponto fraco do meu argumento.
Suas críticas atingiram o alvo.
Eu demoli o argumento dele.
Jamais venci um debate com ele.
Ele arrasou com todos os meus argumentos.
As metáforas orientacionais tomam o corpo como 
referência muito clara, particularmente com base 
na noção de espaço, como vimos anteriormente. 
Exemplos de metáforas dessa categoria são BOM 
É	 PARA	CIMA	 e	MAU	É	 PARA	BAIXO.	 Essas	
metáforas geram enunciados como:
Ele me deixou com o ânimo elevado.
Estávamos sempre de alto astral.
Fomos bem-sucedidos e ficamos por cima.
Suas palavras me deixaram na fossa.
Estava me sentindo no fundo do abismo.
Ela estava extremamente deprimida/para baixo.
Já as metáforas ontológicas tomam por base a nos-
sa experiência com objetos e entidades físicas, 
por meio das quais explicamos noções abstratas, 
como eventos, emoções e ideias. Essas metáforas 
assumem a forma de esquemas imagéticos, como 
a noção de contentor (objeto que contém outros 
objetos ou substâncias). A metáfora O CORPO 
HUMANO	É	CONTENTOR	DE	EMOÇÕES	é	
responsável por frases como:
Frase Noção
O ministro foi para São 
Paulo.
Espaço
O ministro adiou a en-
trevista para amanhã.
Tempo
O ministro elaborou o 
relatório para mudar a 
opinião do presidente.
Finalidade
O ministro entregou o 
relatório para o presi-
dente.
Movimento/destino
Domínios
 conceituais
Domínios
 estáveis
Domínios
 locais
Modelos 
cognitivos
Molduras
comunicativas
Esquemas
imagéticos
Espaços
mentais
Molduras 
comunicativas
Estruturas de co-
nhecimento relacio-
nadas com formas 
organizadas de 
interação
Uma aula tem uma 
forma própria de 
organização em 
que os participantes 
cumprem papéis so-
cialmente previstos 
e estabelecidos
Esquemas 
imagéticos
“Estrutura abstracta 
que tem porbase a 
experiência humana 
na sua interacção fí-
sica e corporal com 
o mundo” (FERRÃO, 
2010)
Recipiente, origem-
percurso-destino, 
parte-todo, em 
cima-embaixo, 
dentro-fora, 
atrás-à frente
Definição Exemplo
Modelos 
cognitivos 
idealizados
Estruturas pelas 
quais o conhe-
cimento sobre 
entidades, eventos e 
atividades é orga-
nizado
Domingo é um con-
ceito compreendido 
no interior da cons-
trução sociocultural 
de semana
Espaços mentais Modelos
Na novela, o ator brasileiro é 
americano. 
Modelo cultural
Na fotografia, Brad Pitt está 
feio.
Imagem
No Brasil, as pessoas não 
falam inglês.
Lugar
Quando eu era pequeno, eu 
assistia desenho animado.
Tempo
Se ele estivesse aqui, saberia 
como agir.
Hipótese
24 25Capítulo 2Capítulo 2
Eles quase explodiram de alegria.
Estava prestes a rebentar de tanta raiva.
Não podia se conter de tanta emoção.
Conforme defendem Lakoff e Johnson (2002), as 
metáforas são estruturadas em termos de “cone-
xões entre domínios cognitivos”, quer dizer, entre 
um domínio fonte (guerra) e um domínio alvo (discus-
são). Verificamos, então, o princípio de projeção, 
pelo qual os elementos próprios do domínio fonte 
são projetados sobre o domínio alvo. É assim que 
usamos termos próprios da guerra para descrever 
uma discussão e nem nos damos conta disso. Pode-
mos presumir que, numa cultura não competitiva 
como a nossa, a discussão pudesse ser metaforizada 
de uma forma totalmente diferente (talvez como 
uma dança, por exemplo). A metáfora, na verdade, 
tanto estrutura como é estruturada por nossos pró-
prios valores culturais.
A construção do sentido, nos parâmetros estabele-
cidos pela linguística cognitiva, se realiza com base 
no princípio de projeção, responsável por estabe-
lecer diferentes formas de ligação entre domínios 
cognitivos (domínio fonte e domínio alvo). Pode-
mos falar aqui de três formas de projeção:
a) Projeção de domínios conceituais estrutura-
dos – forma de projeção bem representada nas 
metáforas e analogias. Por exemplo, as metáfo-
ras em que o tempo (domínio alvo) é descrito 
como espaço (domínio fonte). Nessa metáfora, 
falamos de tempo como se fosse um lugar atrás 
ou na frente.
 
 Cem anos atrás, a transmissão das informa-
ções era mais difícil.
 “Daqui pra frente, tudo vai ser diferente.”
 
	 Outro	exemplo	é	a	metáfora	COMUNICAR	
(domínio alvo) É ENVIAR (domínio fonte), 
em que falamos de ideias como se fossem obje-
tos que enviamos de um lugar para outro e de 
pessoa para pessoa.
 Não soube passar a ideia.
 Não recebeu bem minhas palavras.
 Não sei colocar isso em palavras.
 
b) Projeção de funções pragmáticas – forma de 
projeção que se dá em virtude de uma relação 
estabelecida pragmaticamente, como acontece 
nas metonímias do tipo:
 Joana nunca leu Machado de Assis.
 
 O que se estabelece é uma relação entre o 
autor e sua obra, de modo que o enunciado 
deverá ser entendido como “Joana nunca leu 
os livros que compõem a obra de Machado de 
Assis”, e não como se ela literalmente jamais 
tivesse lido o autor propriamente.
c) Projeção entre espaços mentais – nessa for-
ma de projeção, os sentidos são construídos 
na relação entre espaços mentais, ligados por 
sistema de referenciação (por analogia) entre 
distintos domínios cognitivos. No seguinte 
exemplo de Martelotta e Palomanes (2008), 
os espaços mentais em questão dizem respeito 
à vida e à pintura, e o enunciado propõe uma 
construção do sentido em que a vida é projeta-
da como sendo uma tela.
 
 A vida tem a cor que você pinta.
 
 O processo que estabelece as relações de proje-
ção entre domínios é também compreendido 
como mesclagem de espaços mentais, na teoria 
proposta por Gilles Fauconnier, na década de 
1980.	Um	exemplo	do	uso	desse	processo	cog-
nitivo se encontra na frase a seguir, em que 
espaços mentais diferentes se relacionam para 
formar um espaço-mescla:
 
 A floresta amazônica é o pulmão do mundo.
Podemos fazer a seguinte representação do enun-
ciado, explicitando os espaços em relação:
Como foi dito no início, o cognitivismo e o so-
ciocognitivismo não são programas de pesquisa ou 
escolas teóricas fechadas, mas tendências variadas 
e representadas por diferentes autores. Outras no-
ções e outros autores, como Eleanor Rosch, e a 
teoria dos protótipos, por exemplo, poderiam ter 
sido incluídos neste tópico, mas optamos por nos 
restringir aos temas de que tratamos até aqui.
5. sObrE O intEraciOnismO Em 
 Linguística
Como você facilmente perceberá, não é possível 
falar das diversas tendências ou modelos epistemo-
lógicos vigentes em Linguística sem algum grau de 
sobreposição teórica. Assim como não é possível 
falar de cognitivismo sem de algum modo tocar em 
tendências que já foram tratadas sob o rótulo de 
funcionalismo, igualmente não será possível enfo-
car os modelos interacionistas sem mencionar as 
abordagens cognitivistas com as quais eles, muitas 
vezes, estão relacionados. É importante frisar que 
não estamos tratando de escolas de pensamento 
ou teorias linguísticas em sentido restrito e, sim, 
dos fundamentos epistemológicos que embasam as 
correntes mais produtivas na Linguística contem-
porânea.
 
Para apresentarmos um panorama bastante geral 
sobre o interacionismo no campo linguístico, to-
maremos como nossa principal fonte de informa-
ção o ensaio de Morato (2004) sobre esse assunto. 
Para a autora, em um sentido mais amplo, pode-
mos considerar como interacionistas disciplinas 
lingüísticas, como a Pragmática, a Sociolinguísti-
ca, a Psicolinguística, a Semântica Enunciativa, a 
Análise da Conversação, a Linguística Textual e 
a Análise do Discurso, entre outras, uma vez que 
todas elas se caracterizam por uma reação contra 
o “psicologismo”, que dominava as ciências da lin-
guagem até a segunda metade do século XX, além 
de que “se pautam por uma postura externalista a 
respeito da linguagem” (p. 312).
Com o tempo, o interacionismo se afirmou como 
uma importante perspectiva para o estudo da lin-
guagem e outros aspectos da vida humana, con-
siderando-se que “toda ação humana procede da 
interação”. Para Morato (2004), isso significa que 
a Linguística cometeria um grave equívoco sempre 
que negligenciasse ou deixasse de considerar “que 
existe língua, porque existem falantes e que os fa-
lantes existem em função das ações que os instam 
de várias maneiras e em diferentes níveis de exigên-
cia a permanecer em relação a alguma coisa e na 
relação com alguma coisa” (p. 313).
Entretanto, embora seja consenso que o interacio-
nismo constitui uma abordagem central nos estu-
dos da linguagem, não se pode dizer que haja uma 
compreensão única sobre o conceito nem que to-
dos os pesquisadores querem dizer a mesma coisa 
quando se referem à interação e ao interacionismo. 
De acordo com Morato (2004, p. 315), “aquilo que 
chamamos algo genericamente de interacionismo 
parece ser de fato um mosaico de inteligibilidades 
e métodos”.
Apesar da diversidade de pensamentos e teses de-
fendidas, o interacionismo é marcado por ideias 
bastante características. Vejamos algumas:
a) A noção de uso da língua como ação conjun-
ta: a interação supõe a presença de indivíduos 
em ação, seja ela conflituosa ou cooperativa, 
de modo que o estudo do fenômeno permite 
indagar sobre a qualidade e as circunstâncias 
em que se dá o encontro dessas pessoas em 
variados contextos, práticas e situações.
 
b) A interação é constitutiva do sentido, ou seja, 
o sentido é produto da interação, uma vez que 
precisamos do outro tanto para sabermos o 
que dizer como para construir o sentido do 
que dizemos. A interação, portanto, não é algo 
simplesmente externo à linguagem, mas é con-
dição de sua realização.
Espaço fonte 1 Floresta amazônica (parte)
Mundo (todo)
Espaço fonte 2 Pulmão(parte)
Corpo humano (todo)
Esquema 
imagético
Árvores “respiram” gás carbônico 
e liberam oxigênio
Pulmões respiram oxigênio e 
liberam gás carbônico
Espaço-mescla A Amazônia é importante para o 
mundo, pois lhe oferece ar puro.
Figura 3: Interacionismo
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26 27Capítulo 2Capítulo 2
c) A noção de cognição situada: existe uma re-
lação de interdependência entre ação e refle-
xão. O contexto social, interacional, em que 
a atividade se desenvolve faz parte da própria 
atividade, não sendo apenas uma espécie de 
moldura para o seu desenrolar. Assim, “todo 
ato cognitivo deve ser visto como uma respos-
ta específica para um conjunto de circunstân-
cias” (MORATO, 2004, p. 327).
Essas e outras ideias subjazem aos diversos enfoques 
que podem ser destacados como interacionistas.
6. dEstaquEs EntrE Os EnfOquEs 
 intEraciOnistas
A chamada Linguística Interacional considera 
como “material interativo” aspectos como as prá-
ticas, estratégias e operações de linguagem, as di-
nâmicas de trocas conversacionais, a comunicação 
verbal e não verbal, a construção de valores cultu-
rais, as atividades referenciais e inferenciais reali-
zadas pelos falantes e as normas pragmáticas que 
governam a utilização da linguagem, entre outros. 
Apesar da ênfase na ação conjunta, cabe dizer que 
monólogos, solilóquios e discurso interior tam-
bém são considerados como interacionais.
A linguista suíça Lorenza Mondada defende que o 
estudo interacional da linguagem deve conceder à 
interação “um papel constitutivo não apenas nas 
práticas dos falantes e das falantes como também 
na estruturação dos recursos linguísticos” (citada 
por Morato, 2004, p. 336). Esse estudo deve ser 
levado a sério a ponto de causar uma verdadeira 
redefinição metodológica nos procedimentos da 
Linguística. Para Mondada, o simples trabalho 
com dados transcritos da interação oral, por exem-
plo, não significa que o pesquisador está fazendo 
Linguística Interacional. O pesquisador deveria 
ir além e mergulhar mesmo na vida dos sujeitos 
pesquisados e interagir com o objeto de sua pes-
quisa. De acordo com a pesquisadora suíça, quatro 
tendências atuais favorecem o crescimento dessa 
forma de fazer linguística:
a) o surgimento de gramáticas do uso oral;
b) o estabelecimento de corpora (conjuntos de 
dados) orais autênticos e sociolinguisticamen-
te diversificados;
c) o interesse de correntes, como a Sociolinguís-
tica Interacional, a Pragmática e a Análise do 
Discurso pela interação verbal;
d) a difusão de uma Análise da Conversação de 
inspiração etnometodológica.
O sociointeracionismo ou interacionismo socio-
cultural derivado de Lev Vygotsky, por sua vez, se 
concentrou no desenvolvimento da cognição, com 
base na interação social por meio da linguagem. 
Para Morato (2004), temas, como a construção da 
referência, os processos meta, o discurso interior, 
a indeterminação semântica, o contexto pragmáti-
co das operações cognitivas e a reflexividade, entre 
outros, foram dinamizados na Linguística, a partir 
de uma herança dos trabalhos de Vygotsky sobre a 
cognição humana.
Para Vygotsky, o pensamento é mediado tanto ex-
ternamente pelos signos linguísticos como interna-
mente pelos sentidos. A linguagem é uma forma 
privilegiada de cognição, que se realiza de duas ma-
neiras: primeiro, é por meio da linguagem que a 
criança experimenta o processo de internalização, 
pelo qual passa da condição de interpretada pelo 
discurso do outro (os pais, por exemplo) para intér-
prete das pessoas e das coisas no mundo.
Em segundo lugar, e consequentemente, no pro-
cesso de internalização, a linguagem exerce uma 
função organizadora que emerge na relação entre 
fala e ação. Isso determina toda uma transforma-
ção cognitiva na criança. Conforme Vygotsky:
Uma	vez	que	as	crianças	aprendem	a	usar	efetivamente	a	
função planejadora de sua linguagem, o seu campo psico-
lógico	muda	radicalmente.	Uma	visão	do	futuro	é,	agora,	
parte integrante de suas abordagens ao ambiente imedia-
to... com a ajuda da fala, as crianças adquirem a capacidade 
de ser tanto sujeito como objeto de seu próprio comporta-
mento (citado por MORATO, 2004, p. 325).
Como se pode perceber, em Vygotsky, interação e 
cognição são fenômenos intrinsecamente relacio-
nados, o que também é um aspecto muito presente 
em várias correntes linguísticas contemporâneas.
Relacionada com o nome do pensador russo Mi-
khail Bakhtin, verificamos, na Linguística de hoje, 
“uma teoria social forte aplicada ao entendimento 
da noção de interação” com grande influência em 
vários domínios. A interação verbal ocupa, para 
Bakhtin, um lugar central no funcionamento das 
relações sociais, apresentando-se mesmo com a 
“realidade fundamental da língua”. Na leitura que 
Geraldi (citado por Morato) faz de Bakhtin, “os 
sujeitos se constituem como tais, à medida que in-
teragem com os outros” (2004, p. 331). Essa intera-
ção acontece em um contexto social e histórico, de 
modo que interação verbal e interação social estão 
necessariamente ligadas. A concepção de interação 
em Bakhtin se relaciona com a noção de dialogis-
mo como característica da linguagem humana. 
Dito de outra forma, a interação tem um lugar 
central na linguagem, porque esta é inerentemente 
dialógica: o outro sempre está presente no discurso 
de um determinado falante, ainda que se trate de 
um monólogo ou do chamado discurso interior.
7. O (sOciO)intEraciOnismO E Os 
 EstudOs dO tExtO nO brasiL
Ainda seguindo o estudo de Morato (2004) so-
bre o interacionismo, destacaremos, nessa seção, 
o impacto dessa abordagem sobre a pesquisa em 
Linguística no Brasil. Apesar de reconhecermos 
igualmente uma grande diversidade desses estu-
dos no país, com muitos representantes de valor 
e com abordagens muito variadas que podem ser 
classificadas como interacionistas, concordamos 
com Morato (2004) em destacar aqueles que são os 
dois linguistas, cujo trabalho representa um marco 
indiscutível nos estudos do texto falado e escrito 
no Brasil. Ao destacar o trabalho de Luiz Antonio 
Marcuschi e Ingedore Grünfeld Villaça Koch, faze-
mos igualmente a opção de enfatizar os estudos do 
texto em especial, embora a pesquisa interacionista 
possa legitimamente seguir, e de fato siga, outros 
rumos além deste.
Marcuschi e Koch se alinham com uma “aborda-
gem interacionista de base sociocognitiva” (MO-
RATO, 2004, p. 338), por meio da qual têm-se 
dedicado ao estudo da conversação face a face, da 
textualidade, do processamento textual, da referen-
ciação, da construção dos objetos de discurso, dos 
processos de compreensão, da metáfora e da rela-
ção entre sentido literal – não literal, entre outros 
temas.
A partir dessa perspectiva, Marcuschi identifica 
como percurso produtivo para a Linguística “o ca-
minho que vai do código para a cognição”, enten-
dido como um percurso em que “o conhecimento 
seja um produto das interações sociais e não de 
uma mente isolada e individual”. Nessa inter-rela-
ção entre interação e cognição, esta “passa a ser 
vista como uma construção social e não individu-
al, de modo que para uma boa teoria da cognição 
precisamos, além de uma teoria linguística, tam-
bém	de	uma	teoria	social”	(MARCUSCHI,	2003,	
p. 45).
Operando com um conceito de língua como ati-
vidade sociointerativa situada e não como mero 
sistema de formas ou como simples código, Mar-
cuschi defende que é “na interação (seja com um 
texto ou um outro indivíduo) que emergem os sen-
tidos numa espécie de ação coletiva”. Essa perspec-
tiva adotada por Marcuschi se reflete não só em 
seus trabalhos mas também em muitos outros que

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