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1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

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HISTÓRIA DA 
 
EDUCAÇÃO NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História da Educação no Brasil 
Capítulo 1: Renascimento Cultural ..... 7 
Objetivos da sua aprendizagem ........................ 7 
Você se lembra? ........................................................ 7 
1.1 Renascimento e Educação ...................................... 10 
1.2 Reforma e Contra-Reforma .......................................... 17 
1.3 Brasil: Colonização e Catequese ...................................... 22 
1.4 A Participação da Igreja na Ordem Colonial .......................... 23 
1.5 A Educação Jesuítica No Brasil .................................................. 24 
1.6 Atividades ........................................................................................ 28 
Reflexão ....................................................................................... ............. 29 
Leitura Recomendada .................................................................................... 29 
Referências ...................................................................................................... 29 
No próximo capítulo ........................................................................................... 30 
Capítulo 2: Século XVIII: O Século das Luzes ................................................. 31 
Objetivos da sua aprendizagem ................................................................................ 31 
Você se lembra? ......................................................................................................... 31 
2.1 As Ideias Iluministas ............................................................................................ 32 
2.2 Iluminismo e Educação ....................................................................................... 33 
2.3 O Brasil Na Era Pombalina .................................................................................... 41 
2.4 A administração pombalina ..................................................................................... 43 
2.5 As Reformas Pombalinas e a Educação .................................................................. 44 
2.6 Atividades .............................................................................................................. . 47 
Reflexão ....................................................................................................................... 
48 
Leitura Recomendada .................................................................................................. 49 
Referências ................................................................................................................ 49 
No próximo capítulo ............................................................................................... 50 
Capítulo 3: Brasil: de Colônia a Império ......................................................... 51 
Objetivos da sua aprendizagem ........................................................................ 51 
Você se lembra? ............................................................................................ 51 
3.1 Brasil: de Colônia a Império ............................................................ 53 
 
 
3.2 A Crise do Sistema Colonial ......................................................... 54 
3.3 A Educação Brasileira Durante o Império ................................. 59 
3.4 A Educação Feminina ............................................................ 63 
3.5 Reflexões Pedagógicas no Final de Século XIX .............. 63 
A contribuição das ciências ................................................ 66 
3.6 A Expansão do Ensino ............................................ 67 
3.7 John Dewey (1859 – 1952) ..................................................................................... 70 
3.8 Maria Montessori (1870 – 1952) ............................................................................ 73 
3.9 Ovide Decroly (1971-1932) ..................................................................................... 75 
3.10 Célestin Freinet ..................................................................................................... 77 
3.11 Teorias Construtivistas .......................................................................................... 79 
3.12 Atividades .............................................................................................................. 85 
Reflexão ................................................................................................................... ...... 
86 
Leitura recomendada ...................................................................................................... 
88 
Referências ................................................................................................................ ..... 
88 
No próximo capítulo ...................................................................................................... 
90 
Capítulo 4: A Educação Brasileira no Século XX ..................................................... 
91 
Objetivos da sua aprendizagem ...................................................................................... 
91 Você se lembra? 
.............................................................................................................. 91 
4.1 O Fim da Monarquia ............................................................................................... 93 
4.2 A escola Nova no Brasil ......................................................................................... 
100 
4.3 Anísio Teixeira ...................................................................................................... 104 
4.4 Reforma Francisco Campos ................................................................................... 110 
4.5 Reforma Gustavo Capanema ..................................................................................111 
4.6 Educação infantil e assistencialismo ..................................................................... 112 
4.7 Atividades ............................................................................................................. 115 
Reflexão .................................................................................................................... .... 
116 
 
 
Leituras recomendadas .................................................................................................. 
116 
Referências .............................................................................................................. ..... 
117 No próximo capítulo 
..................................................................................................... 120 
Capítulo 5: A Educação no Brasil Contemporâneo ................................................ 
121 
Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 
121 Você se lembra? 
............................................................................................................ 121 
5.1 Ensino Profissional no Brasil ................................................................................. 123 
5.2 Lei de Diretrizes e Bases, de 1961 ......................................................................... 123 
5.3 Paulo Freire (1921 – 1997) ................................................................................... 124 
5.4 Movimentos de educação popular ........................................................................ 126 
5.5 O Regime Militar .................................................................................................. 127 
5.6 A Constituição de1988 ......................................................................................... 132 
5.7 A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996) ........ 
133 
5.8 Atividade .............................................................................................................. . 135 
Reflexão .......................................................................................................... ............. 
135 
Leituras recomendadas .................................................................................................. 
137 
Referências .................................................................................................... ............... 
137 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prezados(as) alunos(as) 
 
Atualmente, os “modismos” estão 
presentes em muitos aspectos da vida cotidiana, e a 
educação não fica fora desse contexto. Há uma 
inflação de novidades, de novos métodos, de 
técnicas, de teorias, de reformas e de tecnologias. 
É exatamente nesse momento que o conhecimento 
histórico conquista relevância. Para sabermos olhar com atenção 
e, até mesmo, certo ceticismo para as novidades que aparecem 
todos os dias, a História da Educação no Brasil é um instrumento 
bastante eficaz, evita a agitação causada por tudo 
que se mostra inovador e, o mais importante, promove a consci- 
ência crítica. Atualmente, o estudo dessa disciplina ocupa um papel 
significativo, uma vez que contribuí para a formação do professor 
crítico e reflexivo, amplamente discutido na literatura pedagógica, for- 
necendo além do acesso ao conhecimento historicamente organizado, 
a capacidade de estabelecer relações entre esses conhecimentos e a rea- 
lidade educativa, detectando seus condicionantes e suas racionalidades. 
Diante disso, vamos estudar o processo através do qual se configuraram 
as relações atuais entre educação, tecnologia e sociedade, apresentar, 
discutir e analisar um conjunto de conhecimentos específicos dessas áreas, 
bem como aqueles que integram tais campos de estudo. 
Porém, longe de esboçarmos uma sequencia de aquisições de 
conhecimentos e formas de ensino, nosso desejo aqui é indicar que a 
História da 
Educação no Brasil vem percorrendo caminhos múltiplos e complexos, 
que se entrecruzam e se bifurcam, afastando a ideia de que a educação 
traz consigo verdades, certezas e respostas inabaláveis. 
A história da educação que estudaremos aqui anseia, de forma 
interdisciplinar, abrir caminho para você, conduzindo-o à 
 
 
compreensão da educação, das intervenções contemporâneas 
nessa área e, também, à autonomia nos estudos e na pesquisa. 
Conhecer o passado é uma forma de escolher e transformar 
nosso futuro. 
Vamos? 
Profa. Dra. Karen Fernanda da Silva Bortoloti 
 
 
 
 
Renascimento Cultural 
Renascimento, ou Renascença como 
preferem alguns historiadores, foi o desen- 
volvimento de uma cultura que deixava para traz 
o domínio imposto pela Igreja Católica durante 
o período medieval e que tinha um caráter predomi- 
nantemente humanista, ou seja, colocava novamente o 
homem e suas obras no centro das atenções. 
Objetivos da sua aprendizagem 
• Identificar o que foi o Renascimento cultural. 
• Entender qual foi a contribuição desse retorno da cultura 
grecoromana para o Ocidente. 
• Informar-se como ficou a educação a partir dessa transformação. 
• Refletir sobre o “nascimento da infância”. 
• Entender o que é Reforma Protestante e Contra-Reforma Católica. 
• Compreender como nasceu a Companhia de Jesus e como tomou a 
liderança da educação, em especial a Ibérica. 
• Informar-se sobre o método de ensino dos jesuítas. 
Você se lembra? 
Você se lembra que uma característica que define bem o Renascimento é 
o individualismo em oposição ao coletivismo medieval? Que a partir 
desse momento o indivíduo deveria buscar sozinho a satisfação de seus 
desejos? Que nesse período ocorre o “nascimento da infância”? 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
9 
 
o retorno da anatomia e das experiências de uma forma geral. Os 
renascentistas preocupavam-se com a vida, não queriam mais contemplar 
a morte à espera da vida eterna. O homem do renascimento tinha plena 
consciência de que saber era poder, pois o conhecimento possibilitava 
descobrir, inventar e produzir. Assim, uma característica que define bem 
o Renascimento é o individualismo em oposição ao coletivismo medieval, 
a partir desse momento o indivíduo deveria buscar sozinho a satisfação de 
seus desejos. 
Geograficamente, o Renascimento cultural teve início na Península 
Itálica, região onde hoje está localizada a Itália, isso ocorreu principal- 
Dizemos Renascimento porque foi nessa época 
que o racionalismo proposto pela cultura clássica gre - 
co-romana foi revalorizado, o homem não queria mais 
ver tudo através dos olhos de Deus, queria retomar a 
direção de sua vida. A noção de pecado foi minimizada 
e a moralidade redefinida, o corpo, por exemplo, não 
foi mais visto como algo sagrado e inviolável, favorecendo 
Conexão: 
www.historiadaarte. 
com.br/renascimento 
História da Educação no Brasil 
10 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
mente porque foi nessa localidade que o comércio e a vida urbana 
retomaram sua importância com maior intensidade no final do período 
medieval. 
Profundas mudanças ocorreram na Europa entre o final da Idade 
Média e o início da Idade Moderna, a intensificação da vida urbana, da 
economia e do comércio, o enriquecimento da burguesia e o 
fortalecimento do poder dos monarcas, com a centralização do poder 
político. Esse foi também o período das grandes navegações, da elaboração 
das novas técnicas de exploração agrícola e mineral, da difusão do uso da 
arma de fogo, da imprensa, de novos tipos de papel e de tintas, do 
desenvolvimento da matemática, da geometria, da cartografia e da 
medicina. 
Essas mudanças despertaram, como não poderia deixar de ser, novas 
ideias a respeito da natureza e do ser humano. Pensadores, denominados 
humanistas, acreditavam que o homem, com a educação adequada, seria 
capaz de dominar o seu destino, controlar e transformar a natureza. Essa 
nova concepção de mundo, chamada de Antropocêntrica, se opunha aos 
valores medievais, atribuindo ao homem, e não mais à vontade de Deus, a 
responsabilidade por suas conquistas e fracassos. 
Os pensadores desse período não se limitaram em fazer renascer os 
textos greco-romanos, buscaram também melhorar a sociedade em que 
viviam, o inglês Thomas Morus, por exemplo, imaginou, em sua obra 
Utopia (1516), uma sociedade ideal baseada na igualdade e na tolerância. 
O holandês Erasmo de Rotterdam criticou os costumes e os abusos da 
Igreja Católica em seu livro Elogio da Loucura (1511). O italiano Nicolau 
Maquiavel, na sua obra O Príncipe (1513), estudou como se toma, se 
conserva e se perde o poder. O francês Rabelais, em seus livros Pantagruel 
(1532) e Gargântua (1534), defendeu a ideia de que os homens deviam se 
guiar apenas pelas leis da natureza. 
O que devemos ressaltar, ainda, é que os humanistas, mesmo 
discordando e criticando a Igreja Católica, não eram ateus, mas cristãos 
que desejavam reinterpretar as mensagens bíblicas, porém, muitos deles 
foram perseguidos ou condenados por suas ideias. 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
11 
Humanista: erudito dos séculos XV e XVI, conhecedor das 
línguas e literaturas antigas, consideradas, então, fundamentais para o 
conhecimento do ser humano. 
1.1 Renascimento e Educação 
Erroneamente, alguns estudiosos negligenciam a importânciadada 
pelo Renascimento à educação. Durante esse período ocorreu também uma 
virada na história da educação e da pedagogia, graças aos ideais 
antropológicos, dos quais a educação se tornou expressão, e às novas 
exigências didáticas que colocou em circulação. 
Deve ser concedido a ele o método de atribuir grande importância 
no plano didático aos jogos e à educação física, no âmbito de uma 
revalorização, depois de decidida negação medieval do mundo físico 
e natural, e mais ainda de descobrir a infância, o valor da vida 
infantil, da sua especificidade e de assegurar-lhe um lugar não 
secundário no quadro do mais amplo contexto social. (CAMBI, 
1999, p. 226). 
O homem renascentista tinha muita vontade de romper com as 
contradições do passado religioso, e essa vontade também pode ser 
observada na educação. A educação buscava bases não religiosas, a fim de 
se tornar instrumento adequado para a transmissão dos valores burgueses. 
Essa educação leiga conduziria o aluno na busca de sua verdade através do 
uso da razão. A formação intelectual começou a ser valorizada e a 
burguesia, a mais nova camada social, exigia uma ligação do ensino com 
as práticas cotidianas. Na região das atuais Itália e Alemanha, surgiram 
escolas com o objetivo específico de formar os futuros criadores das artes 
e da ciência. O conhecimento religioso imposto durante a Idade Média 
perdera parte de sua força e fora superado pelo racionalismo. 
As universidades, que conservavam suas características medievais e 
que tardaram a ser penetradas pelo espírito humanista, foram substituídas 
pelas Academias, que permitiam um estudo livre e desinteressado. 
Todavia, ainda que fosse grande produção intelectual no 
Renascimento, não havia propriamente uma filosofia específica da 
educação, mas sim fragmentos de reflexão pedagógica como parte de uma 
reflexão filosófica mais ampla. Os teóricos renascentistas apresentaram 
algumas ponderações pedagógicas que merecem a nossa atenção por 
mostrarem os caminhos que eram propostos para a educação das crianças. 
Com o Renascimento, ao contrário do que ocorria durante a Idade 
Média, há uma maior preocupação dos adultos com as crianças, 
História da Educação no Brasil 
12 
preocupação essa que se refletirá na elaboração de concepções analíticas, 
de teorias sobre o desenvolvimento infantil, o fortalecimento do colégio, 
lugar social que presencia essa transformação, o mundo da infância separa-
se, definitivamente, do mundo adulto. 
Os colégios que na Idade Média, eram apenas alojamentos para 
jovens estudantes das universidades européias, passarão a significar, 
no mundo moderno, uma racionalidade institucional extremamente 
sincronizada a uma dada concepção especificamente moderna de 
infância e de adolescência, de tempo e de espaço escolar. ( BOTO, 
2002, p. 25). 
O Renascimento Cultural, além disso, foi responsável pelo 
surgimento de expressões para designar a infância, mas sem distinção 
entre as maiores e as menores. Nos colégios, expressões como puer e 
adolescens eram empregadas indistintamente, pois se, por um lado, já 
havia uma preocupação e um vocabulário para a primeira infância, por 
outro, não havia a ideia do que hoje chamamos de adolescência, só se saía 
da infância quando se saía da dependência. (ARIÈS, 1981). 
A longa duração da infância, tal como aparecia na língua comum, 
provinha da indiferença que se sentia então pelos fenômenos 
propriamente biológicos: ninguém teria a ideia de limitar a infância 
pela puberdade. A ideia de infância estava ligada a ideia de 
dependência: as palavras fils, valets e garçons eram também palavras 
do vocabulário das relações feudais e senhoriais de dependência. Só 
se saía da infância ao se sair da dependência, ou ao menos, dos graus 
mais baixos de dependência. (ARIÈS, 1981, p. 42). 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
13 
1.1.1 Juan Luis Vives (1492-1540) 
Apesar dos pensadores desse período não 
desenvolverem tratados que podemos 
denominar exatamente pedagógicos, como já 
destacado anteriormente, o espanhol Juan Luís 
Vives (1392-1540), contrariando essa 
tendência, desenvolveu uma obra mais 
sistemática sobre a transmissão do 
conhecimento, cujo principal produto é o 
Tratado do ensino. Nessa vasta obra, 
recomendava o cuidado com o corpo e a 
atenção com o aspecto psicológico no ensino. 
Reconhecia a importância da observação dos 
fatos e a ação como meio de aprendizagem. 
Além disso, ao lado do latim, insistia na 
necessidade do adequado estudo da língua 
materna. 
Para esse autor renascentista o objetivo da educação deveria ser 
conduzir o homem à claridade intelectual. Esse propósito seria alcançado 
quando o homem se preocupasse com a busca da sabedoria. Somente a 
razão poderia proporcionar o conhecimento, ou seja, a razão deveria dirigir 
e orientar a observação através dos sentidos. Vives, sustentava, ainda, que 
o conhecimento é propriedade comum, do qual todos os homens 
compartilham livremente, e que devem utilizar para o bem de todos, 
contrariando o ideal burguês de propriedade privada. 
O pensador espanhol valorizava o que hoje chamamos de Psicologia 
da educação, pois destacava a necessidade de estudar a mente das crianças 
para adaptar a ela os conteúdos culturais a serem aprendidos. “No terreno 
da organização da escola, entretanto, Vives é bem menos original e se 
inspira fundamentalmente em Quintiliano e na tradição humanística”. ( 
CAMBI, 1999, p. 265). 
História da Educação no Brasil 
14 
1.1.2 Erasmo De Rotterdam (1466-1536) 
O holandês Erasmo de Rotterdam foi, sem dúvida, uma figura 
bastante influente na reforma do 
processo educacional no século XVI. O 
príncipe dos humanistas afirmava, 
primeiramente, que seu objetivo era 
retirar os jovens da estagnação da 
ignorância, opondo-se tanto ao método 
da escolástica, seguido em todas as 
escolas da Europa, e a esterilidade das 
aulas, como também, e de maneira 
especial, à brutalidade da disciplina 
coercitiva. 
O humanista voltou suas atenções 
para as crianças especialmente na obra 
Sobre o ensino de boas maneiras para 
crianças, apresentando soluções para 
problemas do cotidiano infantil que 
ainda era misterioso para os adultos, 
problemas para os quais todos os jovens 
deveriam estar preparados para 
educados. 
poder viver humanisticamente. 
Para Erasmo de Rotterdam o mestre deveria levar o aluno a ler e não 
limitá-lo a decorar regras de gramática, levá-lo a gostar de literatura 
clássica, exercitá-lo pelo ditado e pela composição. O bom mestre deveria 
estar aberto para as aptidões dos educandos e temperar os esforços 
pedagógicos. 
O processo educativo é compreendido de maneira positiva, pois, 
segundo Erasmo, cultiva a razão e afirma a humanidade do homem, para 
tanto, os métodos deveriam estar de acordo com esses objetivos. 
Erasmo defendia o respeito ao amadurecimento da criança e por isso 
criticava a educação vigente, excessivamente severa. Recomendava 
o cuidado com a graduação do ensino e o abandono das práticas de 
castigos corporais. Ao contrário, seria bom mesmo que as crianças 
aprendessem se divertindo, sem a preocupação com resultados 
imediatos. (ARANHA, 2006, p. 133). 
Os homens não são gerados, e sim 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
15 
1.1.3 François Rabelais (1495-1553) 
Um dos principais pensadores do 
humanismo e crítico das tradições 
medievais, o francês François Rabelais 
também direcionou suas críticas ao 
processo educativo, algo muito 
significativo em um período de 
reestruturação da compreensão do mundo 
pelos homens. 
Apesar de não escrever uma obra 
detidamente pedagógica, seu monumental 
livro Gargantae Pantacruel apresenta uma 
clara sátira à escolástica, forma ainda 
predominante em seu tempo. A ênfase das 
críticas estava em combater a prática de centrar o processo 
educativo na memorização e a explicação de textos considerados 
ortodoxos, O riso é próprio do homem. 
saberes abstratos e, até mesmo, dogmáticos que deveriam ser substituídos 
por conhecimentos livres e articulados com atividades físicas, quase uma 
reaproximação da Paideia grega. Propõe, portanto, uma educação 
humanista caracterizada pelos estudos clássicos e pelos jogos e atividades 
físicas, contrária ao saber abstrato. 
Ao iniciar a sua educação, o preceptor de Gargantua deu-lhe de beber 
o liquido de uma planta chamada heléboro para que esquecesse tudo 
o quanto havia aprendido com os seus antigos preceptores. Nessa 
passagem, Rabelais quer simbolizar a necessidade de expurgar toda 
a lembrança da tradição para o ensino ser mais bem aproveitado. 
(ARANHA, 2006, p. 133). 
Para esse pensador renascentista, as atividades lúdicas e as relações 
livres com as crianças possibilitariam as trocas de conhecimentos 
descomprometidos com a obrigatoriedade escolástica. A influência de 
Gargantua e Pantacruel foi imediata e duradoura sobre as práticas 
educacionais vigentes. 
François Rebelais representa a corrente enciclopédica do 
Renascimento que buscava resgatar o saber greco-romano com igual 
cuidado pelos recentes estudos da ciência que então nascia. Em quase 
todos os seus trabalhos deixa clara a necessidade de se eliminar toda a 
lembrança da tradição para o novo ensino ser mais bem aproveitado 
História da Educação no Brasil 
16 
criticando o ensino livresco e estimulando a educação do corpo e do 
espírito. Ao contrário dos que o acusam de imoralidade, defendia uma 
ética de acordo com as exigências da natureza e da vida, por isso mesmo 
devia-se aprender com alegria, porque “o riso é próprio do homem”. 
Embora tivesse uma sede insaciável de conhecimentos e 
recomendasse uma aprendizagem enciclopédica, criticava o ensino 
livresco e estimulava a educação do corpo e do espírito. Ao contrário 
dos que o acusavam de imoralidade, defendia uma ética de acordo 
com as exigências da natureza e da vida, por 
isso mesmo devia-se aprender com alegria. 
(ARANHA, 2006, p. 133). 
1.1.4 Montaigne (1533-1592) 
Assim como seus contemporâneos, 
o francês Michel de Montaigne criticava 
tanto as escolas, os mestres e os métodos 
de ensino como o programa de estudos. 
Montaigne também não produziu uma 
obra especificamente pedagógica, 
todavia em seu Ensaio dedicou algumas passagens à educação. Criticava 
o ensino livresco e o pedantismo dos sábios, valorizando a educação 
integral e elogiando o pai por ter sabido escolher preceptores 
para educá-lo com docilidade e sem castigos. 
Em suas obras insistia na inutilidade dos castigos físicos, o ensino 
deveria centrar-se no cultivo do caráter para o qual a melhor escola é a 
própria vida. As atividades físicas seriam igualmente importantes para o 
desenvolvimento físico e intelectual das crianças. O processo educativo 
incluiria elementos literários buscados na tradição grego-latina. Para 
Montaigne, a vida seria uma procura a partir da ignorância. 
Ao contrário do que muitos imaginam, esse pensador do 
renascentista voltou seu olhar para as crianças, polemizando contra as 
imposições que eram feitas as crianças, que impediam o desenvolvimento 
da razão e da consciência (MARZ, 1987, p.58). Criticava, portanto, o 
brutal estilo de educação que existira até então exigindo cuidado e bondade 
para com as crianças para despertar o amor e o prazer pela escola e pelos 
estudos. 
No conjunto, ainda que Montaigne não elabore – como foi dito – um 
verdadeiro sistema de pensamento pedagógico, apresenta algumas 
felizes intuições que antecipam elementos próprios da pedagogia 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
17 
moderna e contemporânea. O seu reconhecimento dos limites da 
onipotência cognoscitiva do homem inaugura a segunda fase do 
humanismo renascentista, abrindo caminho para o racionalismo de 
Descartes, e suas intuições sobre o método educativo são hoje 
patrimônio da mais avançada pesquisa psicopedagógica sobre o 
ensino/aprendizagem. Não se deve todavia esquecer que do conjunto 
de sua obra emerge uma proposta para a qual a cultura é 
aristocraticamente entendida como patrimônio privilegiado de uma 
elite intelectual. (CAMBI, 1999, p. 270). 
1.1.5 O Nascimento dos Colégios 
Durante o período renascentista 
assistimos a um importante passo para a 
educação da criança e a organização do 
sistema educacional, o nascimento do 
colégio. O interesse pela educação é 
manifestado principalmente pela 
proliferação de colégios e manuais para 
alunos e professores. Educar torna-se uma 
exigência devido à nova concepção de ser 
humano. 
Enquanto os nobres continuavam a 
educar seus filhos em casa com preceptores, a 
burguesia, também querendo educar seus filhos, os 
encaminhavam para a escola com o objetivo de 
melhor prepará-los para a liderança e administração 
da política e dos negócios. Já os interesses pela 
educação da maioria da população, não eram levados 
em conta, restringindo-se à aprendizagem de ofícios. 
O aparecimento dos colégios, do século XVI até o 
XVIII, foi um fenômeno correlato ao surgimento da nova imagem da 
família e da infância. Na Idade Média misturavam-se adultos e crianças de 
várias idades na mesma classe, sem uma organização maior que os 
separasse em graus de aprendizagem. Foi a partir do Renascimento que 
esses cuidados começaram a ser tomados, assumindo contornos mais 
nítidos apenas no século XVII. (ARIÈS, 1981): 
a escola se racionaliza e se laiciza, torna-se um instrumento cada vez 
mais central na vida do Estado (e também da sociedade civil) e, 
portanto, cada vez mais submetida ao controle e à planificação por 
Conexão: 
Shakespeare apai 
xonado (John Madden, 
1998) 
História da Educação no Brasil 
18 
parte do poder público; processo que exalta sua função e difunde sua 
ideologia, ligada à produtividade social da educação-instrução. 
(CAMBI, 1999, p.308). 
A revolução copernicana e as ciências no renascimento: 
Nas universidades medievais, era ensinada a ideia tradicional do 
grego Ptolomeu, que dizia que a Terra está no centro do universo. 
Acreditava-se que o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas giravam em torno 
da Terra. A Igreja apoiava essa teoria geocêntrica, afirmando que ela se 
baseava em passagens da Bíblia. 
Mas o astrônomo polonês Nicolau Copérnico observou o céu 
noturno a olho nu, executou cálculos e chegou à conclusão de que a Terra 
era um humilde planeta girando em torno do Sol. A teoria heliocêntrica de 
Copérnico representou uma revolução extraordinária no conhecimento 
humano. A Europa descobria que a Terra não estava no centro do universo 
e que a Igreja Católica não era infalível na hora de falar sobre a natureza. 
A obra de Copérnico foi um sucesso total entre os astrônomos 
renascentistas. Mas a Igreja sentiu sua autoridade intelectual desafiada e 
proibiu que se apoiassem as teorias heliocêntricas. 
As novas ideias sobre a natureza e as necessidades econômicas da 
burguesia deram partida para a grande era de descobertas e invenções. 
Na Matemática, o italiano Cardano criou os números negativos, ou 
seja, menores do que zero. O holandês Stevin mostrou que as frações 
podem ser escritas com números decimais. Na Física a grande revolução 
iria acontecer no finas do Renascimento, graças às grandiosas obras, como 
já destacamos, do polonês Copérnico e do italiano Galileu. 
A Química ainda não existia como ciência. O que havia era a 
alquimia, que misturavacuriosidade científica com misticismo. Os 
alquimistas descobriram coisas importantes como fazer alguns ácidos e 
tipos de álcool. Mas também perderam muito tempo procurando a pedra 
filosofal, que será capaz de transformar qualquer metal em ouro. No século 
XV foram inventadas máquinas importantes, como a alavanca de rosca. 
Outras invenções foram também a máquina de fabricar parafusos de metal 
e o torno mecânico movido com o pé por um sistema de correias de 
transmissão, que permitia fazer peças e objetos cilíndricos. 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
19 
1.2 Reforma e Contra-Reforma 
Entre 1526 e 1529, Martinho Lutero organizou sua nova doutrina 
religiosa: o luteranismo. Apoiou-se na frase de São Paulo: “pela fé sereis 
salvo”, para disseminar a ideia de que a salvação não dependia das 
indulgências nem das confissões. 
Ao traduzir a bíblia, Lutero e seus seguidores pretendiam que o povo 
tivesse acesso direto aos ensinamentos bíblicos sem o intermédio da Igreja 
Católica. Rejeitou, dessa forma, o clero católico e negou a infalibilidade 
do papa. Conservou apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. 
Estabeleceu a simplicidade na cerimônia religiosa, que poderia ser dirigida 
por um pastor e limitar-se à leitura da bíblia, às orações, aos sermões e aos 
hinos. 
O luteranismo se difundiu para a Suíça, França, Dinamarca, 
Noruega e Hungria. Na Suíça o luteranismo foi defendido pelo francês 
João Calvino, que, acrescentando-lhe suas ideias, deu origem a uma outra 
doutrina protestante, o Calvinismo. Calvino defendia a predestinação, 
acreditava que algumas pessoas já estavam escolhidas por Deus para 
serem salvas. Na Inglaterra, em 1534, o rei Henrique VIII rompeu com a 
Igreja Católica, fundando o Anglicanismo. Essa ruptura aconteceu em 
represália à recusa do papa ao pedido de divórcio que o rei lhe fizera. O 
monarca inglês passou a ser também a autoridade suprema da Igreja 
Anglicana. 
O catolicismo não era mais o único representante da doutrina cristã 
na Europa Ocidental. No momento em que a Reforma Protestante mostrou 
que realmente era capaz de ameaçar o poder estabelecido pela Igreja 
católica e que além de religioso o movimento também era político e 
cultural, a Igreja movimentou-se buscando maneiras de perpetuar sua 
força. Como destaca franco Cambi, o movimento protestante, bem como 
a reação da Igreja Católica, assumiu desde o início importante significado 
educativo. 
Podemos afirmar que, com a Reforma Protestante e a vontade de 
livre interpretação das Sagradas Escrituras, ganhou destaque o direito de 
todas as pessoas ao estudo, a pelo menos no seu grau elementar, 
lançandose as bases da construção do conceito de formação, não estando 
mais o indivíduo condicionado por uma relação mediata de qualquer 
autoridade com a verdade e com Deus. O modelo educacional 
efetivamente proposto pelos reformadores era semelhante ao modelo 
História da Educação no Brasil 
20 
humanístico, baseado na prioridade das línguas, as antigas e a nacional, e 
na centralidade da educação gramatical. A escola deveria ser organizada 
em quatro setores: o das línguas, o das obras literárias, o das ciências e das 
artes e o da jurisprudência e da medicina. O aprendizado de um ofício não 
era deixado de lado, unindo estudo e trabalho. Os colégios deveriam ser 
locais agradáveis e dotados de boas e bem organizadas bibliotecas. O 
mestre deveria equilibrar amor e severidade, sem punições excessivas para 
que o estudo tivesse uma finalidade e uma motivação precisa. 
Graças à estrita colaboração entre a nova Igreja reformada e as 
autoridades civis, sobretudo as da Saxônia, efetuou-se primeiro uma 
reorganização das escolas municipais e, sucessivamente, chega-se a 
fundar algumas escolas secundárias financiadas e controladas pelo 
Estado. Nascem assim os ginásios, que são o primeiro e mais 
duradouro núcleo da escola nacional alemã. Mais lento, porém, é o 
desenvolvimento das escolas populares, o que não dá razão àqueles 
que atribuem a Lutero o mérito de haver dado início à moderna 
escola popular. (CAMBI, 1999, p. 250). 
Os reformadores conseguiram, assim, fundir-se à obra de renovação 
cultural que naquele momento interessava a maioria, pois não podemos 
esquecer que os ideais propostos pelo Renascimento estavam em ebulição. 
Diante das propostas apresentadas pelos reformadores, os membros 
da Igreja Católica, no Concílio de Tentro, também buscaram soluções para 
os problemas enfrentados naquele momento. Apesar de não abordarem 
efetivamente a questão educacional, a Igreja, ao estimular a criação de 
ordens religiosas para formação de seus novos quadros, favorecia o 
caminho pedagógico, pois essas novas ordens deveriam repensar seus 
métodos de instrução e atingir um número maior de alunos, pois a Igreja 
Católica necessitava ampliar seu número de fiéis. 
A ordem religiosa fundada nesse contexto histórico que maior 
destaque alcançou no campo educacional, como veremos, foi a Companhia 
de Jesus e os princípios organizados por Inácio de Loyola nortearam boa 
parte da educação Européia e do Novo Mundo por mais de dois séculos. 
1.2.1 Martinho Lutero (1483-1546) 
Além de propor a criação de uma nova religião, mais livre e menos 
dogmática, Martinho Lutero (1483-1546) também voltou suas atenções 
para a educação das crianças e jovens, que seriam os responsáveis pela 
propagação e manutenção de sua Igreja. Para Lutero a estabilidade da 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
21 
nova Igreja e da nova ordem espiritual 
dependia da capacidade das crianças 
compreenderem as sagradas Escrituras, o 
que se conseguiria 
através de uma boa educação. Dessa forma, 
a Igreja, juntamente com o Estado, deveria 
assumir a obra educativa. 
O reformador propunha um plano de 
ensino que englobasse o estudo da língua 
materna, História, canto, música, 
matemática, ressaltando sempre a eficácia dos 
professores bem formados. As escolas, para atingirem os objetivos 
propostos, seriam mantidas por patrimônios e dotadas, sempre, de boas 
bibliotecas. 
O aluno deveria passar parte do dia na escola e o restante 
trabalhando em casa ou aprendendo uma profissão, os estudos 
precisariam, segundo Lutero, ser completados pelo trabalho. O reformado 
não aprovava, em nenhum caso, o uso dos castigos físicos e a 
memorização de conteúdos, práticas comuns nesse período histórico. 
1.2.2 O Nascimento da Companhia de Jesus 
Em meio às transformações históricas acarretadas pela 
Renascimento Cultural, pela Reforma Protestante e pela Contra-reforma 
Católica, vemos surgir inúmeras ordens religiosas, 
com maior destaque para a Companhia de Jesus, 
fundada em 1540 pelo ex-militar espanhol Inácio de 
Loyola. A Companhia de Jesus tinha como objetivos 
iniciais a propagação missionária da fé católica, pois 
os jesuítas não viveriam na clausura e a luta contra os 
infiéis e os heréticos. 
Com a expansão territorial ibérica e a necessidade da propagação da 
fé católica entre os que a desconheciam rapidamente os jesuítas, 
organizados como verdadeiro exército, espalharam-se pelo mundo desde 
a Europa até á Ásia, a África e a América. 
Ao fundarem a Companhia de Jesus Inácio de Loyola e seus 
companheiros não cogitavam trabalhar em colégios, imaginavam-se 
peregrinos missionando em regiões onde o Papa os enviasse. Foi a 
preocupação em dar uma formação sólida e de acordo com os preceitos da 
Conexão: 
http://www.scielo. 
br/pdf/ep/v33n1/ 
a11v33n1.pdf 
Conexão: 
http://www.histedbr. 
fae.unicamp.br/revista/ 
edicoes/30/art18_30. 
pdf 
História da Educação no Brasil 
22 
Ordem que fez os jesuítas enveredarem para o caminho educacional. Ospadres e irmãos da Ordem sabiam que os novos membros deveriam 
receber uma formação em que os conteúdos fossem rigorosamente 
selecionados, para serem capazes de trabalhar pela expansão da fé aos 
hereges e pagãos do Novo Mundo. Assim, fundaram colégios e seminários 
que rapidamente foram abertos para àqueles que desejavam uma boa 
educação e não apenas o caminho religioso. 
O Ratio Studiorum 
Com a rápida expansão dos colégios pelas mais diversas localidades, 
os jesuítas perceberam que seria prudente organizar um meio de fazer com 
que todas as unidades de ensino atuassem de uma forma semelhante, que 
adotassem os mesmos critérios de administração, organização do conteúdo 
a ser trabalhado, a maneira de atuar do corpo docente e a disciplina dos 
estudantes. 
Para a organização desse plano de trabalho, os jesuítas, a partir de 
observações diretas em seus colégios, começaram a redigir o plano de 
ensino que nortearia todo o trabalho pedagógico 
da Companhia de Jesus. 
O resultado das experiências regularmente 
analisadas adquiriu forma definitiva no 
documento Ratio Studiorum, publicado em 1599. 
Assim, nasceu o sistema educacional que seria 
implantado no Brasil no século XVI e que 
permaneceria forte e centralizador até o século 
XVIII em todo o mundo. 
Os padres e irmãos jesuítas viram nas crianças um 
instrumento importante para a expansão da Fe católica, tão 
importante naquele momento histórico de luta por fiéis. 
Dessa forma, nos colégios, para os meninos filhos da nobreza ou da 
burguesia, ou nas missões no Novo Mundo, foram responsáveis, através 
de uma educação rígida e repressora, pela formação intelectual e religiosa 
de muitas gerações. As crianças, desde os sete anos, os jesuítas impunham 
um cotidiano militarmente estruturado com muitas orações, estudos e 
variados castigos físicos. 
Conexão: 
http://www.histedbr.fae. 
unicamp.br/navegando/ 
fontes_escritas/1_Jesuitico/ 
ratio%20studiorum.htm 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
23 
Os Colégios dos Jesuítas 
A base comum da educação ministrada nos colégios da Companhia 
de Jesus, o suporte de toda ação educacional dos jesuítas, era o Ratio 
Studiorum. A metodologia proposta por esse manual é bastante 
pormenorizada, com sugestões didáticas para a aquisição do 
conhecimento e incentivo pedagógico para assegurar e consolidar a 
formação dos alunos. 
O programa educacional era dividido em três períodos ou cursos, 
oferecidos aos meninos a partir dos sete anos de idade: Curso de Letras ou 
Humanidades; Curso de Filosofia ou Ciências e o Curso de Teologia (esse 
destinado aos estudantes que seguiriam a vida religiosa). Para reger todos 
esses cursos o método proposto pelos jesuítas partia do princípio da 
educação através do estudo das línguas e autores clássico. Os clássicos, 
para esses educadores, eram depositários de uma cultura que deveria ser 
conservada, como observamos no renascimento, porem através do olhar 
católico. 
As aulas eram totalmente expositivas e os alunos meros 
expectadores. Como método de estudo, recomendavam a repetição de 
todos os exercícios a fim de facilitar a memorização. A disciplina era 
sempre muito rígida e lançava mão até mesmo de castigos físicos, 
aplicado por pessoas designadas pelos padres apenas para esse fim. O 
único momento de descontração dos meninos eram as competições 
intelectuais entre os alunos que aconteciam aos sábados, as sabatinas. 
1.3 Brasil: Colonização e Catequese 
A história do Brasil no início do período colonial (século XVI) não 
deve, de forma nenhuma, ser dissociada dos acontecimentos europeus, já 
que a colonização resultou da necessidade de expansão comercial da 
burguesia mercantilista. 
Por ser um país de formação católica, que 
resistiu ao protestantismo com apoio à 
ContraReforma Católica e o fortalecimento da 
Inquisição, Portugal, contraditoriamente, 
condenava os juros, o que restringiu a acumulação 
de capital e retardou a implantação do capitalismo. 
Dessa forma, a colônia estruturou-se economicamente a partir do modelo 
Conexão: 
Indicação de filme: 
Anchieta, José do 
Brasil (Paulo César 
Saraceni, 1978) 
História da Educação no Brasil 
24 
agrário-exportador dependente. A educação, por sua vez, não era 
prioridade, pois a agricultura não exige formação especial e o trabalho 
escravo estava incorporado à sociedade portuguesa. Todavia, o pequeno 
país ibérico enviou religiosos, com destaque para os jesuítas, para o 
trabalho missionário e pedagógico, com a finalidade de converter os 
indígenas à fé católica, conforme as orientações da Contra-Reforma. 
Apesar de muitos considerarem os ibéricos afetuosos para com seus 
pequenos, característica dita típica dos povos latinos, o quadro das 
sensibilidades no início da epopéia marítima era bem diferente. Na 
verdade, entre os portugueses ou outros povos da Europa, a alta taxas de 
mortalidade infantil verificada no decorrer de toda a Idade Média e mesmo 
em períodos posteriores, interferia na relação dos adultos com as crianças. 
A expectativa de vida das crianças portuguesas entre os séculos XIV e 
XVIII, rondava os 14 anos, enquanto cerca de metade dos nascidos vivos 
morria antes de completar sete anos. Isto fazia com que, principalmente 
entre os estamentos mais baixos, as crianças fossem consideradas como 
pouco mais que animais, cuja força de trabalho deveria ser aproveitada ao 
máximo enquanto durassem suas curtas vidas. 
Um conto infantil português do século XVI, recolhido da 
tradição oral, classifica os dois filhos de recém- nascidos de um rei 
como um macho e outro fêmea. Essa forma de referir-se ás crianças 
aproxima-se da categorização que os homens de Quinhentos davam aos 
negros escravizados, vistos então como meros “instrumentos vocais”, ou 
seja, em instrumento de trabalho capaz de falar. É, provavelmente, esse 
sentimento de desvalorização da vida infantil que incentiva a Coroa 
recrutar mão-de-obra entre as famílias pobres das áreas urbanas. 
RAMOS, F.P. A história trágico-marítima das crianças nas embarcações 
portuguesas do século XVI In: PRIORE, M. Del. (org.) História das 
Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. 
1.4 A Participação da Igreja na Ordem Colonial 
Durante o século XVI, a Contra Reforma Católica resultou na 
criação de mais seminários e levou a Igreja a se envolver com mais 
intensidade no processo de expansão territorial ao unir-se com os 
monarcas ibéricos com intuito de catequizar os pagãos do Novo Mundo. 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
25 
Para os referidos monarcas, a expansão 
não se traduzia apenas em exploração 
econômica em seus domínios coloniais. 
Paralelamente a escravidão e à produção 
agrícola, os europeus impuseram também 
valores morais, a religião e a língua, uma série 
de regras justificadas como “civilizatórias”. O 
cristianismo, de acordo com o pensamento de 
então, seria o responsável por esse processo de “civilização”, de conversão 
dos pagãos. Devemos, assim, compreender essa imposição de valores 
cristãos também como uma estratégia de fortalecimento da autoridade 
monárquica, que, de acordo com a necessidade, utilizava-se dos processos 
inquisitórios, das perseguições religiosas e da “guerra justa”. 
Os objetivos da esfera religiosa eram zelar pela obediência aos 
preceitos cristãos entre os colonos e catequizar os nativos. Para a Igreja, 
os índios não deveriam ser escravizados, pois, só eram passíveis de 
escravidão os que se negavam ao cristianismo, como no caso, os 
muçulmanos africanos. Os índios eram puros e estariam muito próximos 
dos princípios cristãos. Com o aparecimento das missões jesuítas, entre 
os séculosXVI e XVII, logo surgiram também os primeiros conflitos 
entre os jesuítas e os colonos que capturavam e escravizavam os índios. 
Religião e cotidiano 
No Brasil colonial, seguindo o costume português, desde o 
despertar o cristão se via rodeado de lembranças do reino dos céus. Na 
parede contígua a cama, havia sempre algum símbolo visível da fé cristã: 
um quadrinho ou caixilho com gravura do anjinho da guarda ou do santo; 
uma pequena concha com água benta; o rosário dependurado na 
cabeceira da cama. Antes de levantar-se da cama, da esteira ou da rede, 
todo cristão deveria fazer imediatamente o sinal-da-cruz completo, 
recitando a jacularia: pelo sinal da santa cruz, livrai nos Deus Nosso 
Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Padre, do Filho e do Espírito 
Santo, amém. Os mais devotos, ajoelhados no chão, quando menos 
recitavam o bê-a-bá do devocionário popular: a ave-maria, o pai-nosso, 
o credo e a salve-rainha. Orações que via de regra todos sabiam de cor. 
(...) 
Conexão: 
Indicação de filme: 
Desmundo (Sabina 
Anzuategui e Alain Fresnot, 
baseado em livro de Ana 
Miranda, 2003) 
História da Educação no Brasil 
26 
Na parede da sala de muitas casas coloniais, saindo do quarto, lá 
estavam para ser venerados e saudados os quadros dos santos. (...)As 
famílias um pouco mais abastadas possuíam um quarto especial, o quarto 
dos santos. 
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. 
In: SOUZA, L.de M. (org.) História da vida privada no Brasil. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1997, v1, p. 164 – 166 
 
1.5 A Educação Jesuítica No Brasil 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
27 
Como observamos anteriormente a ordem 
religiosa idealizada por Inácio de Loyola, a 
Companhia de Jesus, rapidamente conquistou o 
apoio do monarca português e cresceu quase na 
mesma proporção da expansão territorial 
portuguesa. Para melhor compreendermos o papel 
histórico alcançado pela Companhia de Jesus, 
especialmente no Brasil é significativo compreendermos que essa ordem 
atendia simultaneamente a dois interesses que se entrecruzaram nesse 
momento, a saber, a expansão da fé católica por parte da Igreja e a 
expansão territorial por parte dos monarcas Ibéricos. 
O papel da Companhia de Jesus no Brasil deve, por sua vez, ser 
destacado não apenas por aderirem ao ideal missionário da catequese dos 
nativos, mas por serem os responsáveis pela organização dos primórdios 
do sistema educacional brasileiro. Apenas alguns dias após a chegada dos 
missionários jesuítas no Brasil, esses padres já implantaram uma escola de 
“ler e escrever” na cidade de Salvador. Os jesuítas chegaram à colônia 
portuguesa na América, o Brasil, em 1549, juntamente com o primeiro 
governador geral e liderados por Manuel da Nóbrega. 
Embora os homens da Companhia de Jesus recebessem formação 
religiosa e orientação segura do Ratio Studiorum, enfrentaram sérios 
desafios para se adaptarem às exigências locais. Nesse ponto, é bom 
recordar quanto lhes valia, no Brasil a sua tão reconhecida flexibilidade. 
O padre Manuel da Nóbrega organizou as estruturas do ensino, atento às 
condições novíssimas aqui encontradas. 
O período inicial do trabalho dos jesuítas no Brasil é caracterizado 
pelo que chamamos missionarismo heróico, que significava para os 
jesuítas viver e trabalhar nas aldeias para alcançar mais diretamente os 
catecúmenos. De acordo com essa missão, os indígenas eram vistos como 
“iguais” todos eram compreendidos como gentios e homogêneos. Essa 
representação os convencia que os índios eram como gostava de frisar 
Nóbrega “papel em branco”, pois aprendiam sem resistência tudo que 
fosse “ensinado” pelos jesuítas, a cultura portuguesa e a fé católica. 
Quando os jesuítas perceberam que os indígenas não aceitariam tão 
fácil e passivamente as imposições culturas e religiosas, alteraram então 
suas práticas. Começaram a ser experimentados os aldeamentos de 
adultos e os recolhimentos de crianças, ou seja, as missões começaram a 
ser organizadas segundo formas institucionais, por iniciativa de Manuel 
Conexão: 
http://www.anpuh. 
org/revistahistoria/ 
view?ID_REVISTA_ 
HISTORIA=3 
História da Educação no Brasil 
28 
da Nóbrega e com o apoio da coroa. A propósito dos jesuítas para os 
aldeamentos previa um rígido programa de atividade que englobava o 
ensino do português do catecismo e da doutrina cristã, seguidas pelo 
aprendizado de ler e escrever o português e sua gramática latina para os 
postulantes à Companhia além do ensino profissional em artesanato e 
agricultura para os demais. Essa programação é que continuou sendo 
praticado nos séculos seguintes tanto com as crianças quanto com os 
adultos. 
Quando o trabalho de catequese se reestruturou, os jesuítas optaram 
pela abertura de uma “outra” frente de atuação: os colégios para os filhos 
dos colonos. a partir dessa, os jesuítas, em troca do financiamento da ações 
missionárias, abraçaram a tarefa de educar os meninos brancos. Os 
colégios fundados nas principais vilas da colônia ofereciam ensino 
secundário de humanidades, como na Europa para os letrados. 
Esses colégios, que teoricamente também deveriam ter um caráter 
missionário, na prática aceitavam apenas os alunos brancos, recusando os 
mestiços, mamelucos e índios com justificativa de que seu principal 
objetivo era formar os futuros padres da Companhia de Jesus. 
Esses colégios de Ensino Secundário ofereciam o plano de estudos 
definido no Radio Studiorum de 1599. Seguindo a programação dos outros 
estabelecimentos de ensino da Companhia de Jesus em outras localidades. 
Um colégio abrangia, de maneira geral aulas de gramática latina, 
humanidades, retórica e filosofia, em uma gradação de estudos que depois 
de nove anos levaria a formação letrado. 
Todavia, esse currículo sofria alterações 
dependendo das condições encontradas em cada 
local, por exemplo, se os alunos não reconheciam os 
caracteres latinos, abria-se uma aula ou classe de 
ensino de escrita e de contas em português. A 
disciplina nos colégios, como nos demais segmentos da ordem , era rígido 
, para educar e aculturar os alunos, os padres e irmãos usando formas 
tradicionais rigorosas de repetição, castigos físicos, reclusão repressão e 
exclusão.Os jesuítas eram apoiados oficialmente pela Coroa, que também 
os auxiliava com doações de terras. O governo português sabia o quanto a 
educação proporcionada pelos jesuítas era importante como instrumento 
de domínio político e cultural, não intervindo, portanto, nos planos dos 
homens da Companhia de Jesus. 
Conexão: 
Indicação de filme: 
A missão (Roland 
Joffe, 1986) 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
29 
Durante o século XVII, o ensino das crianças no Brasil não 
apresentou diferenças significativas com relação ao século anterior. O 
ensino ministrado pelos jesuítas aos meninos manteve a escola 
conservadora, alheia à revolução a implantação do ensino superior foi 
proibida na colônia. 
O colégio dos jesuítas estava, com efeito, situado numa 
sociedade religiosa, que se concretizava em hábitos e valores, práticas e 
devoções, instituições e organização. (...) Assim, toda a vida social era 
permeada de simbolismos cristãos, desde o nascimento de uma criança, 
com o batizado, até a morte, com o viático, com confissões, unção dos 
enfermos, bênção do corpo na igreja, enterro acompanhado do clero, 
com cânticos orações, cemitério religioso etc. as repartições públicas 
traziam o crucifixo ou imagens de santos. Às ruas se encontravam 
oratórios. O calendário era balizado pela liturgia. O clero tinha destaque 
em qualquer cerimônia. As festas do lugartinham marca religiosa, a 
Pontos negativos da atuação dos jesuítas 
no Brasil 
• Desintegração da cultura indígena. 
• Imposição cultural. 
• Homogeneização. 
intelectual que ocorria no Velho Mundo 
( Europa). A educação jesuítica, centra 
da no nível secundário visava à for 
mação humanística, privilegiando 
muito o latim, o estudo dos clássicos 
e da religião mantinha as crianças 
pequenas em casa aos cuidados das 
escravas destinadas ama amas, à 
mentação e zelo das crianças. 
estava já que do Ao contrário 
acontecendo na Europa, no Brasil os jesu 
ítas não incorporaram ao currículo as ciências 
físicas ou naturais, bem como a formação técnica ou as artes. Enquanto na 
Europa se estabelecia a contradição entre o ideal da pedagogia realista e a 
educação conservadora, no Brasil a atuação da Igreja Católica permaneceu 
muito mais forte e duradoura. 
O ensino interessava apenas a poucos elementos da classe dirigente, 
e, além disso, como ornamento e erudição. Era extremamente literária, 
abstrata, afastada dos interesses materiais, utilitários. 
A única saída para os brasileiros que desejassem seguir profissões 
liberais, era o estudo na metrópole ou em universidades européias, pois 
História da Educação no Brasil 
30 
procissão se fazendo o ato de exibição social por excelência. O público 
e estava impregnado de sagrado e a “Igreja” estava por toda parte 
presente. 
José Maria de Paiva Apud ARANHA, M. L. de A. História da educação e da 
pedagogia. Geral e do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006, p. 145 
1.6 Atividades 
01. Por que os protestantes e católicos, no século XVI, passaram a se 
interessar pela ação pedagógica? Compare as duas orientações em suas 
linhas principais, buscando as coincidências e as diferenças. 
 
02. Reflita acerca dos pontos comuns da educação entre Vives, Erasmo, 
Rabelais e Montaigne. 
 
03. Pense um pouco sobre a seguinte afirmação: O homem pode e deve 
ser o criador, o aventureiro, o sonhador, o dominador da natureza. 
 
04. Reflita e procure responder por que era mais interessante para os 
religiosos da Companhia de Jesus desenvolver o trabalho de catequese 
com as crianças indígenas e, posteriormente, em missões. 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
31 
 
05. Por que podemos afirmar que a educação não era assunto prioritário 
no Brasil colônia? 
 
Reflexão 
Quando se fala em Renascimento, geralmente as pessoas pensam 
numa época de grandes obras literárias e artísticas. Mas o Renascimento, 
como observamos nesta capítulo, não foi apenas uma explosão 
maravilhosa de pintores, poetas, arquitetos e escultores criando obras com 
formas totalmente novas. O Renascimento significou também o 
aparecimento de novas maneiras de ver a política, a ciência, a moral, a 
religião, a educação e a criança. O modo de compreender o ser humano e 
o Universo foi transformado com o aparecimento da filosofia humanista. 
O Renascimento foi um período de contradições típico das épocas 
de transição, pois a burguesia, enriquecida, assumia padrões aristocráticos 
e aspirava a uma educação que permitisse formar o homem de negócios, 
simultaneamente capaz de conhecer as letras greco-romanas e de dedicarse 
aos luxos e prazeres da vida. 
A sociedade, embora rejeitasse a autoridade dogmática da cultura 
eclesiástica medieval, mantinha-se ainda fortemente hierarquizada: 
excluía dos propósitos educacionais a grande massa popular. 
No Renascimento já se tinha a percepção mais aguda de problemas 
que, hoje, chamaríamos de existenciais numa recusa à submissão aos 
valores eternos e aos dogmas tradicionais. 
Leitura Recomendada 
ARIÉS, P. História da vida privada: da Renascença ao século das 
luzes: São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 
História da Educação no Brasil 
32 
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora 
Flaksman. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. 
PETITAT, A. Produção da escola, produção da sociedade: analise 
sócio-histórica de alguns momentos decisivos para a evolução escolar. 
Porto Alegra: Artes Médicas, 1994. 
Referências bibliográficas 
ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia. Geral 
e do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006. 
BOTO, C. O desencantamento da criança: entre a renascença e o século 
das Luzes. In: FREITAS, M.C. de; KUHLMANN JR, M. (orgs.) Os 
intelectuais na História da Infância. São Paulo Cortez, 2002. 
CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999. 
COMENIUS, J. A. A Didática Magna: tratado da arte universal de 
ensinar tudo a todos. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes 
temas. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006 
FRANCA, L. O Método Pedagógico Jesuítico. O “Ratio Studiorum”: 
Introdução e Tradução. Rio de Janeiro: Agir, 1952. 
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de 
filosofia. 4. ed. São Paulo, Zahar, 2006. 
MANCORDA, M.A. História da educação. Da antiguidade aos nossos 
dias. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1992. 
MÄRZ, F. Grandes Educadores. São Paulo: EPU, 1987. 
PRIORE, M. Del. (org.) História das Crianças no Brasil. São Paulo: 
Contexto, 2009. 
Renascimento Cultural – Capítulo 1 
33 
SOUZA, L.de M. (org.) História da vida privada no Brasil. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1997, v1. 
No próximo capítulo 
No próximo capítulo veremos as grandes alterações que ocorreram 
na Europa em decorrência da ascensão da burguesia, camada social que já 
almejava o poder político, desejo esboçado nas teorias política e 
econômica do liberalismo, na filosofia das luzes. 
Inaugura-se, com a busca de métodos, um novo paradigma para o 
pensamento e a ação da modernidade. A criança vai ocupar outro lugar, 
delineando definitivamente o que hoje classificamos como infância. 
 
 
Século XVIII: O Século das 
Luzes 
O século XVIII foi denominado o de “século 
das luzes” em virtude da grande agitação inte- 
lectual por conta da fértil produção dos pensadores 
iluministas. Esse período histórico também foi caracte- 
rizado pelos abalos políticos ocasionados pela burguesia 
desejosa em assumir o lugar ocupado pela nobreza. 
No tocante à educação, assistimos ao fortalecimento da 
tendência liberal e laica, que buscava a novos caminhos para a 
aprendizagem e a autonomia do educando. ‘O Iluminismo valori- 
zava o conhecimento como instrumento de libertação e progresso da 
humanidade, levando o homem à sua autonomia e a sociedade à 
democracia, ou seja, ao fim da opressão” (MARCONDES, 2007, p. 
210). 
Objetivos da sua aprendizagem 
• Compreender a influência da filosofia iluminista na educação. 
• Conhecer o pensamento pedagógico de Rousseau. 
• Refletir sobre como o despotismo esclarecido influenciou a 
educação brasileira 
• Analisar as consequências da expulsão dos jesuítas do Brasil. 
Você se lembra? 
Você se lembra a origem do lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”? 
E qual a importância desse período para a consolidação da ideia que 
temos hoje de infância? Lembra que Rousseau, apesar de ter 
abandonado os filhos, deixou importante contribuição para a atual 
concepção de infância? 
Século XVIII: O Século das Luzes – Capítulo 2 
35 
 Nesse século nasce a figura do intelectual, 
que será o encarregado da articulação da nova 
forma de Estado. Caberá a ele, ainda, o papel de 
mediador, de articulador entre o esse poder a ser 
constituído e a sociedade. O intelectual será o 
criador das luzes e o seu veiculador para as massas. 
A enciclopédia irá representar os ideais iluministas 
e o papel pedagógico e emancipadordo saber. 
No contexto do século XVIII, as figuras de proa são facilmente 
reconhecíveis: Diderot, D’Alambert, Voltaire, Kant e, como voz 
dissonante, Rousseau. Cada um deles, ao seu modo e no seu momento, 
refletiu sobre a sociedade da época. 
A emergência da Revolução Francesa coloca em destaque 
o pensamento pedagógico de Rousseau e Poe em marcha, no con- 
tinente europeu, a Visão Liberal de Educacao, orientação que engloba: 
a) A vertente religiosa, proveniente da Pedagogia da Reforma (com 
Lutero, Calvino, Zwinglio, Melanchton etc.) 
b) A vertente laica “escolanovista” e seus desdobramentos a partir de 
meados do século XIX, em contraposição à Pedagogia Tradicional. 
c) A vertente positivista de orientação materialista, que, 
indiretamente, tratou a Educação, como Nietzsche e Comte. 
d) A vertente emoirista de orientação inglesa, cuja origem remota está 
em Bacon e Locke e que, desde o final do século XIX, chega ao 
pragmatismo de Dewey. 
(VALE, José Misael Ferreira do. A educação contemporânea. In: SOUZA, Neusa 
Maria Marques (org.) História da educação. São Paulo: Avercamp, 2006) 
2.1 As Ideias Iluministas 
O iluminismo foi uma das marcas mais importantes do século XVIII, 
também conhecido como século das luzes. Luzes significavam, nesse 
momento, o poder da razão humana de interpretar e reorganizar o mundo. 
Conexão: 
http://www. 
fortium.com.br/facul 
dadefortium.com.br/ 
maria_amelia/mate 
rial/2199.pdf 
História da Educação no Brasil 
36 
Na economia, o liberalismo representava as aspirações da burguesia 
desejosa de gerenciar seus negócios sem a intervenção do Estado 
mercantilista. Na política, as ideias liberais opunham-se ao 
Século XVIII: O Século das Luzes – Capítulo 2 
absolutismo. Rousseau retomou a discussão do contrato social numa 
perspectiva menos elitista e mais democrática. Na moral também se 
buscavam novas formas laicas, que possibilitassem a naturalização do 
comportamento humano. Na religião vemos o abandono dos dogmas e 
fanatismos e a busca de uma religião natural. 
2.1.1 O Despotismo Esclarecido 
O iluminismo esteve presente inclusive em 
países como a Prússia, a Áustria, Rússia, Espanha e 
Portugal, nos quais persistia o absolutismo, então 
chamado de despotismo esclarecido, pois os monarcas se faziam cercar 
por pensadores e adotavam o discurso dos filósofos iluministas, criando a 
imagem de racionalidade e tolerância, o que dissimulava o caráter absoluto 
do poder que exerciam. Os déspotas esclarecidos mantiveram o 
absolutismo, como destacamos, mas despidos de seu fundamento 
religioso. Pregava-se a modernização do país através do progresso 
científico e pela difusão do saber dos pensadores modernos.Para mascarar 
suas reais intenções, os déspotas esclarecido realizaram reformas 
importantes como: 
• Eliminação de alguns privilégios da nobreza e do clero; 
• Aboliram as torturas práticas nas prisões; 
• Estabeleceram certa tolerância religiosa; 
• Incentivaram a educação pública; 
• Aperfeiçoaram o sistema de impostos, tornando-o menos 
opressivo ao povo. 
Conexão: 
http://www.historia 
domundo.com.br/idade 
moderna/despotismo 
esclarecido.htm 
Século XVIII: O Século das Luzes – Capítulo 2 
37 
2.2 Iluminismo e Educação 
Conexão: 
Os séculos XVII e XVIII foram cenários do 
www.pedagogiaedesenvolvimento do capitalismo e da consolidação 
mfoco.pro.br/hrsxvii da burguesia como classe social dominante. O 
pensamento burguês se colocou como pensamento dominante 
favorecendo e se desenvolve uma importante 
Despotismo Esclarecido: união do absolutismo com as ideiaideias 
iluministas 
atividade econômica: o comércio, pautado na igualdade jurídica, na 
tolerância religiosa, na liberdade pessoal e social e na propriedade 
privada. 
O que devemos destacar desse período, em primeiro lugar, é a 
preocupação de homens e mulheres em resgatar o conhecimento até então 
acumulado pela humanidade revelada na elaboração Enciclopédia, 
idealizada por Diderot e D’alambert. 
A escola defendida nesse período histórico deveria ser leiga e livre, 
independente de privilégios de classe. Esses pressupostos sugeriam a 
defesa de algumas ideias, que nem sempre foram colocadas em prática: 
• Educação ao encargo do Estado; 
• Obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar (instrução 
pública); 
• Nacionalismo; 
• Ênfase nas línguas vernáculas, em detrimento ao latim; 
• Orientação pratica voltada para as ciências, técnicas e ofícios, não 
mais privilegiando o estudo exclusivamente humanístico. 
Apesar das discussões avançadas sobre o ideal liberal de educação, 
era crítica a situação do ensino na Europa. As escolas eram insuficientes e 
os mestres pouco qualificados. As escolas elementares quase inexistiam e 
as de nível secundário eram antiquadas e serviam às classes privilegiadas. 
Apesar dos projetos de estender a educação a todos os cidadãos, 
prevaleceu o dualismo escolar, ou seja, uma educação para o povo e outra 
para a camada mais abastada. As universidades, por mais estranho que 
pareça, permaneciam alheias ao movimento iluminista. 
História da Educação no Brasil 
38 
Século XVIII: O século das luzes 
O século XVIII foi denominado o século das luzes em virtude da 
grande agitação intelectual por conta da fértil produção dos pensado- 
res iluministas. Esse período histórico também foi caracterizado pelos 
abalos políticos ocasionados pela burguesia desejosa em assumir o lugar 
ocupado pela nobreza, foi o século da revolução Inglesa e da Revolução 
Francesa. No tocante à educação, assistimos ao fortalecimento da 
tendência liberal e laica, que buscava a novos caminhos para a 
aprendizagem e a autonomia do educando. Nesse século nasce a figura 
do intelectual, que será o encarregado da articulação da nova forma de 
Estado. Caberá a ele, ainda, o papel de mediador, de articulador entre o 
esse poder a ser constituído e a sociedade. O intelectual será o criador 
das luzes e o seu veiculador para as massas. No contexto do século 
XVIII, as figuras de proa são facilmente reconhecíveis: Diderot, 
D’Alambert, Voltaire, 
Kant e, como voz dissonante, Rousseau. Cada um deles, ao seu modo e 
no seu momento, refletiu sobre a 
sociedade da época. 
2.2.1 Rousseau (1712–1778) 
O filósofo suíço Jean Jacques 
Rousseau (1712–1778) abandonou sua 
terra natal para viver em Paris, onde levou 
uma vida bastante agitada e pode conviver 
diretamente com as movimentações de seu 
tempo. O traço dominante da vida e obra 
do filósofo foi a contradição, podemos 
dizer que Rousseau nunca conseguiu se libertar da idade da rebeldia. 
Rousseau apelou para o afastamento da civilização e o retorno a um 
modo de vida natural, ligado à natureza, defendendo uma educação 
natural. Deu ênfase no valor da infância e da juventude, contribuindo para 
a criação da psicologia do desenvolvimento e a criatividade, a 
espontaneidade e ao trabalho manual. Em sua obra Emílio, obra que levou 
cerca de oito anos para concluir, Rousseau critica a artificialidade da 
educação, o autoritarismo e o excesso de intelectualidade tradicional, 
Século XVIII: O Século das Luzes – Capítulo 2 
39 
característico dos colégios jesuítas, bem como o desrespeito pela infância 
que fazia da criança um adulto em miniatura. 
No romance Emílio, a infância é compreendida como um longo 
processo, em que o pequeno é educado pela natureza, sem lições verbais, 
sem horários fixos e principalmente, sem castigo. Emílio, personagem 
centra de Rousseau, aprende pela sua própria iniciativa, sob o olhar atento 
do preceptor. Afinal, a criança deveria aprender a lidar com os próprios 
desejos e conheceros limites para se tornar um indivíduo adulto dono de 
si mesmo. Semelhante ao processo de construção da cidadania, em que o 
cidadão se submete à vontade geral, a criança descobrirá por si próprio as 
leis das coisas e das relações interpessoais. 
O papel do professor, ou preceptor como preferia Rousseau, passa a 
ocupar um segundo plano no processo de ensino aprendizagem, pois o 
interesse pedagógico deveria estar centrado totalmente no educando, que 
deveria ser compreendido em sua especificidade e não mais, como já 
destacamos, como um “adulto em miniatura”. 
Essa educação idealizada por Rousseau é denominada naturalista, 
mas também podemos chamá-la de negativa, por desconfiar da sociedade 
constituída. Rousseau temia a educação que põe a criança em contato com 
vícios e a hipocrisia, daí pregar que deveriam ser ensinadas por preceptores 
longe dos colégios, que não ensinavam a virtude e a verdade. 
Passos da Educação Propostos por Rousseau 
• A educação de um a cinco anos: Condena das restrições 
impostas a criança, propondo a liberdade que tornará a criança 
forte. 
• A educação de cinco a doze anos: neste período a educação deve 
ser negativa e a educação moral deve ser consequência natural do 
desenvolvimento da criança; 
• A educação de doze a quinze anos: É a fase de aquisição de 
conhecimentos. Mas esses conhecimentos devem estar de acordo 
com a curiosidade, com a ânsia de conhecer que vem dos desejos 
naturais. A prova do conhecimento é o emprego prático. A 
aprendizagem de um ofício tem muitas vantagens sociais e ajuda 
na educação. 
História da Educação no Brasil 
40 
• A educação de quinze a vinte anos: É o período em que se educa 
o coração, para a vida em comum e as relações sociais, É também 
o período em que se desenvolvem as noções de bem e de mal. 
A primeira educação deve ser puramente negativa, ela consiste não 
em ensinar a virtude e a verdade, mas em proteger o coração do vício 
e a mente do erro. Se puderdes não fazer nada e não deixar fazer 
nada; se puderdes levar vosso aluno sadio e robusto até a idade de 
doze anos (...) sem preconceitos, sem hábitos (...) muito logo terei 
entre as mãos o mais sensato dos homens; e, começando com não 
fazer nada, tereis feito um prodígio de educação. (ROUSSEAU, 
1968). 
As duas pedagogias de Rousseau 
Os estudos mais recentes sobre a pedagogia de Rousseau 
puseram em destaque a existência, na obra de maturidade, de dois 
modelos educativos, bem diferenciados entre si e, às vezes, até mesmo 
opostos. De um lado, coloca-se o modelo de educação natural e libertaria 
que privilegia a formação do homem, típica do Emilio; de outro o 
modelo de uma educação social e política, desenvolvida pelo Estado e 
ligada mais ao principio da “conformação social” do que ao de 
liberdade, e que encontramos desenvolvida, em particular, nas 
Considerações sobre o governo da Polônia, obra póstuma de 1782. 
Educação do homem e educação do cidadão são contrapostas por 
Rousseau já no inicio do Emílio, onde a segunda vem desvalorizada[...]. 
Todavia, foi o Rousseau do Emílio, e não o outro, que influenciou 
profundamente o pensamento pedagógico moderno, oferecendo à 
tradição pedagógica alguns novos “mitos’(a bondade da infância, a não-
intervenção educativa,etc) que tiveram ampla e prolongada fortuna. 
Rousseau pode ser visto quase como o “pai”da pedagogia moderna, seja 
pelo papel de “revolução”que o seu tratado romântico exercei no fim do 
século XVIII, propondo uma nova concepção da infância e a nova 
atitude pedagógica, seja pelos temas profundamente inovadores que 
veio introduzir no debate educativo. 
Depois de Rousseau, a pedagogia tomou decididamente outro 
curso: tornou-se sensível a toda uma serie de problemas antes 
considerados marginais e substancialmente ignorados; além disso, ligar-
se a Rousseau era uma referencia obrigatória de todo pedagogo 
posterior, seja para associar-se às teses do genebrino (como ocorre com 
Século XVIII: O Século das Luzes – Capítulo 2 
41 
o grande Pestalozzi, em parte com Dewey, com Claparède), seja por 
oporse frontalmente ao seu libertarismo e ao seu radical antinocionismo 
(como ocorre com Herbart e Gramsci). 
A visão da infância, o papel do educador, a própria consciência 
por parte do pedagogo das estruturas e da função (até social e política) 
do próprio discurso mudaram profundamente através das lições de 
Rousseau, enquanto a pedagogia no seu conjunto adquiriu uma 
dimensão mais francamente antropológica e filosófica, distanciando-se 
de um tradicional vinculo quase subalterno em relação à instituições 
pedagógicas e às práticas didáticas. Ao lado de Comenius, mas com 
posições nitidamente diferentes, Rousseau é de fato uma chave mestra 
do pensamento pedagógico e, além disso, é o primeiro artífice do seu 
mais inquieto e contraditório percurso contemporâneo. 
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: 
Editora UNESP, 1999, p. 354-355 
Afora as críticas, muitas vezes pertinentes, o que não podemos 
esquecer sobre a Rousseau é sua ênfase no valor da infância e da 
juventude, sua significativa contribuição para a elaboração da psicologia 
do desenvolvimento, seus princípios de contato com a vida, a referência 
ao presente, a importância dada á criatividade, à espontaneidade e ao 
trabalho manual. 
O respeito à criança 
O que pensar então dessa educação bárbara que sacrifica o 
presente a um futuro incerto, que cumula a criança de cadeias de toda 
espécie e começa por torná-la miserável a fim de preparar-lhe, ao longe, 
não sei que pretensa felicidade de que provavelmente não gozará nunca? 
Ainda que supusesse essa educação razoável em seu objetivo, como ver 
sem indignação pobres desgraçados condenados a trabalhos contínuos, 
como forçados, sem ter certeza de que tantos cuidados lhes serão úteis 
algum dia! A idade da alegria passa em meio a choros, aos castigos, às 
ameaças, à escravidão. Atormenta-se o infeliz para seu bem; e não se vê 
a morte que se chama e que vai alcançá-lo em meio a essas tristes 
precauções. Quem sabe quantas crianças morrem vítimas da 
extravagante sabedoria de um pai ou de um mestre? Felizes por 
escaparem à crueldade destes, à única vantagem que tiram dos males a 
História da Educação no Brasil 
42 
elas impostos é a de morrerem sem saudade da vida, da qual só 
conheceram os tormentos. 
Homens, sejais humanos, é vosso primeiro dever: e o sejais em 
relação a todas as situações sociais, a todas as idades, a tudo o que não 
seja estranho ao homem. Que sabedoria haverá para nós fora da 
humanidade? Amai a infância: favorecei seus jogos, seus prazeres, seu 
amável instinto. Quem de vós não se sentiu saudoso, às vezes, dessa 
idade em que o riso está sempre nos lábios e a alma sempre em paz? Por 
que arrancar desses pequenos inocentes o gozo de um tempo tão curto 
que lhes escapa, de um bem to precioso de que não podem abusar? Por 
que encher de amarguras e de dores esses primeiros anos tão rápidos, 
que não voltarão nem para vós nem para eles? Pais, sabeis a que 
momento a morte espera vossos filhos? Não vos prepareis desgostos 
suprimindo-lhes os poucos instantes que a natureza lhes dá; desde o 
momento em que possam sentir o prazer de serem, fazei com que dele 
gozem; fazei com que, a qualquer hora que Deus os chame, não morram 
sem ter gozado a vida. 
Quantas vozes se vão erguer contra mim! Ouço de longe os 
clamores dessa falsa sabedoria que nos bota incessantemente fora de nós, 
menospreza sempre e que, visando sempre a um futuro que de nós se 
afasta na medida em que avançamos, à força de nos transportar para onde 
não estamos nos transporta para onde nunca estaremos. 
É, responder-nos-eis,

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