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Evolução Histórica dos Direitos Indígenas

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Evolução Histórica dos Direitos Indígenas
 
INTRODUÇÃO
Os índios são, conforme conceituação de Darcy Ribeiro:“(...) aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato”.
Desse modo, tem-se que o critério da auto-identificação é o critério base para se determinar a etnia indígena. Associado a este, há também o critério do reconhecimento do indígena por parte do seu povo, ou seja, além de se auto-reconhecer, é preciso que ele seja aceito como membro pelos demais integrantes.
A história dos povos indígenas no Brasil é marcada pela luta pela terra desde a colonização portuguesa. Nesta época, os índios eram considerados seres inferiores, sua cultura foi subjugada para que adquirissem novos hábitos e sua autonomia foi restringida pela legislação vigente (BURSZTYN, 2008). Atualmente, as terras indígenas continuam sem autonomia, mas foram incluídas entres os bens da União, compondo assim de 10 a 12% do território brasileiro (BANDIN, 2006).
De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, vivem hoje no Brasil cerca de 460 mil índios, os quais se dividem em 215 sociedades indígenas, sendo mais de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. Decorrente disso, cerca de 180 línguas são faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem a mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.
Pode-se dizer, de início, que os indígenas possuem traços que os distinguem entre si, pois, como visto, cada povo é uma cultura, e também diversas características que os distinguem da sociedade não-índígena.
Nos dias de hoje, verifica-se, como se verá adiante, o abandono da política, outrora adotada, de integração forçada dos indígenas à comunhão nacional, passando-se à preservação e à promoção das diferenças, culturas e práticas tradicionais.
Desta forma, a partir da Constituição de 1988, as terras tradicionalmente ocupadas são consideradas não só as áreas de moradia e extrativismo, mas também as áreas importantes para a preservação de cada cultura indígena, concedendo-se a esses povos um direito de posse à terra diferenciado do direito de posse instituído pelo Código de Direito Civil brasileiro: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade” (art. 1196); e “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha” (art. 1228). Desta forma, “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” (art. 20, IX da CRFB) não guardam uma relação necessária com a posse física em tempo presente ou passado (BADIN, 2006), sendo necessário para a demarcação de terras indígenas um processo administrativo constituído de diversas fases determinadas pelo Decreto nº 1.775/96 com o intuito de comprovar através de estudos de natureza etno-histórica, antropológica, sociológica, jurídica, cartográfica e ambiental que a área a ser demarcada constitui terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. No entanto, esses processos administrativos podem ser questionados judicialmente.
E quanto ao tratamento ao tratamento jurídico-penal aos indígenas, não pode simplesmente ignorar as diversidades culturais, equiparando-os indistintamente aos “civilizados” e presumindo a culpabilidade, mas depende de uma análise contextualizada e casuística, em respeito às peculiaridades, constitucionalmente protegidas, de cada povo e de cada indivíduo da tribo.
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi analisar os fatos que narram a evolução do direito dos povos indígenas no Brasil.
A LEGISLAÇÃO INDÍGENA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Desde a chegada dos primeiros colonizadores no século XVI, a Coroa Portuguesa, procurava construir mecanismos legais que amparasse os colonizadores a ocuparem o espaço do território brasileiro, pois além do interesse em explorar as riquezas da colônia, com o passar dos anos a pressão das oligarquias que estavam por aqui era muito grande no sentido também de ampliar cada vez mais o território explorado, para isso era importante criar mecanismos legais para resolver o grande problema que era a presença e resistência indígena no interior da colônia. As diferentes bibliografias sobre o assunto não deixam de frisar o extermínio e o massacre feito contra os povos indígenas até o final do século XIX, mas havia também uma preocupação do governo com o posicionamento da igreja que objetivava catequizá-los e as repercussões externas sobre o tratamento dado aos índios. 
Procurando ao mesmo tempo agradar os colonizadores, a igreja e preservar boa imagem no exterior, começou-se construir mecanismos legais que simultaneamente, protegiam os índios, mas também possibilitavam a prisão, escravidão e a matança dos mesmos, quando resistissem aos interesses dos exploradores. É aqui que aparecem as características desta legislação, classificada por Cunha (2009, p 115), como: “contraditória, oscilante e hipócrita”, que possibilitou o extermínio e a morte dos povos indígenas. Na mesma perspectiva, Santos Filho (2012, p. 24) entende que estas legislações “determinava bom tratamento aos indígenas que se submetessem à catequese, e guerra aos que se mostrassem inimigos. Por outro lado, permitia a destruição das aldeias, a submissão dos índios ao cativeiro, e morte para o exemplo dos demais.” 
No período colonial a normatização era composta por leis, Regimentos dos Governadores, as Cartas Régias, Alvarás Régios, Provisões Régias, entre outros instrumentos normativos que regulavam as relações entre índios e não índios durante os vários momentos do período. Toda esta normatização tinha por base uma diferenciação dos indígenas, classificando-os em índios aldeados e aliados dos portugueses e índios inimigos, livres, soltos na mata, em função dos quais se trabalhou muito durante o período para convencer os mesmos a se aldearem, para não serem perseguidos e mortos. Como o processo de ocupação do espaço era contínuo, fazia-se necessário garantir suporte jurídico para atender os interesses dos colonizadores e, ao mesmo tempo, para que o governo controlasse os abusos e o extermínio indígena. Um exemplo típico deste processo foi a lei de 11/11/1597 e a lei de 09/04/1655, que estabelece que a guerra contra os índios só pode acontecer quando o Rei a próprio punho declarasse, a denominada Guerra Justa. A criação deste instituto jurídico foi mais uma resposta a pressões de fora da colônia, mas na prática não impediu o avanço da tragédia indígena e nem contrariou os interesses de quem objetivava ocupar as terras indígenas ou então utilizá-los como mão de obra. Na prática. Quando os índios não aceitassem ser catequisados e confinados em aldeias criavam o motivo para declaração de guerra justa. Neste sentido, os índios continuavam a ser massacrados, mesmo com a presença das referidas leis que apenas vieram normatizar uma prática que já existia, a escravidão, a prisão e a morte para os gentios que não aceitassem serem catequisados e aldeados. 
A retirada dos índios da mata para aldeias deveria ocorrer, segundo as normas, por um processo de convencimento denominado de descimento, que deveria ser feito pelos missionários através do trabalho religioso, mas este método não deve ter funcionado por muito tempo, pois O Regimento Geral de 1588 passou a permitir que este processo fosse feito pelos moradores, mas acompanhados por missionários, portanto, os colonizadores passaram a ter autorização para aldear os índios, intensificando a obrigatoriedade dos indígenas aderirem ao projeto colonial caso contrário poderiam ser exterminados. Numa tentativa de disfarçar a violência deste processo,eram feitas alianças com os indígenas, a Alvará de 26/07/1596, recomenda que o descimento deveria ser feito “de tal modo que não possa o gentio dizer, que o fazem descer da Serra por engano, nem contra sua vontade” (CUNHA, 2009, p. 118). 
Uma vez aldeados, os índios serviriam de mão de obra aos moradores que deles necessitavam. O interessante é que existia uma estrutura administrativa que organizava a exploração da mão de obra dos indígenas, eram nomeados os Repartidores, com a função de distribuir os índios, para servir de mão de obra por um período determinado e, concluído o tempo estipulado em contrato, deveriam ser devolvidos ás aldeias e desta forma se disfarçava a escravidão e, ao mesmo tempo, se aproveitava para suprir a necessidade de mão de obra. Diante do exposto, não resta dúvida que, de fato, a legislação no período colonial, era contraditória e oscilante, constantemente revendo decisões em um pequeno espaço de tempo. É a conjuntura interna que provoca esta necessidade de mudanças constantes na legislação, com o objetivo de sempre dar um jeito para controlar os índios através dos aldeamentos, escravização ou morte, garantindo assim os interesses colonizadores.
A partir do século XIX, a nova dinâmica econômica amplia a preocupação em garantir terras para os colonos imigrantes e aumenta a cobiça inclusive pelas terras até então ocupadas por aldeias indígenas, do ponto de vista normativo a Constituição de 1824 ignorou a questão indígena, a Carta não reservou um único artigo sobre este assunto. Na sequencia, o Ato Adicional a Constituição (1834) incumbiu as Assembleias Legislativas das Províncias de legislarem sobre catequese e civilização dos Índios. As Assembleias provinciais controladas politicamente pelas oligarquias, vão criar legislações mais restritivas aos direitos indígenas inclusive extinguindo vilas e aldeias.
Somente em 1845 com o Regulamento das Missões de catequese e civilização dos Índios, Decreto 426 de 24/07/1845, único documento legal do Período Imperial sobre o tema, procura definir políticas administrativas gerais para os Índios aldeados e para novos aldeamentos, buscando ampliar a disponibilidade de terras e, ao mesmo tempo diminuir os empecilhos nas rotas e caminhos que levassem para o interior do país.
A Lei de Terras de 1850, constitui-se num novo regulamento para a apropriação privada da terra, nela mais uma vez ignora-se a posse indígena sobre a terra, considerando-as como devolutas, permitindo que o Estado desse diferentes destinações, inclusive, quando julgasse necessário para colonizar indígenas. As grandes extensões das chamadas terras devolutas foram destinadas ao processo de colonização produzindo o “efeito de legitimar e incrementar o processo de espoliação das terras dos índios, levado a efeito pelas companhias colonizadoras e pelos próprios colonos”(SANTOS FILHO, 2012, p. 33). Foi corriqueira a prática de retirada dos indígenas de seus habitat para depois considerar as terras, que eram por eles habitadas de devolutas, ou até mesmo retira-os das aldeias menos numerosas agrupando-os em outras aldeias maiores, liberando mais terras para o processo de colonização patrocinado pelo próprio Estado.
A Constituição Republicana de 1891, nada acrescentou em termos de avanço para uma política estatal que considerasse a problemática indígena no pais. Somente em junho de 1910, surge o Decreto 8.072 que cria O Serviço de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais- SPILTN, órgão atrelado ao Ministério da Agricultura Indústria e Comércio, demonstrando que a política governamental procura colocar o Índio dentro de um projeto maior de desenvolvimento econômico, acontece alguns avanços no sentido de dar maior assistência aos Índios e também considerar o seu mundo cultural, num processo de integração, pelo menos do ponto de vista teórico esses são os argumentos da época, mas que segundo Santos Filho, o objetivo era ao contrário acabar com a cultura indígena:
é a integração dos indígenas, alterando a política anterior, sem desvio da meta de alcance da integração dos povos indígenas, na expectativa de acabar com as culturas indígenas para assimilá-las à cultura nacional, na busca do sonho de transformar os Índios em cidadãos, ou a realização do pesadelo de acabar com a categoria ‘povos Indígenas’(2012, p. 37).
Uma das tarefas do SPI era fazer com que os Índios realizassem nas aldeias atividades agrícolas para se auto sustentarem e, desta forma, “transformar os Índios em pequenos produtores rurais” (CUNHA, 2009, p. 159). Apesar das críticas ao SPI, este foi considerado um avanço no processo de aproximação com os índios e ações assistenciais aos mesmos, o que ajudou no seu desenvolvimento. Para Santos Filho: “o Decreto 8.072/1910 foi um marco no processo evolutivo no trato da questão indígena” (2012, p. 39). O mesmo autor afirma que, “teve o mérito de acabar com o silêncio da legislação até então vigente, acarretador do crescente esbulho de terras e da morte de muitos índios.” (SANTOS FILHO, 2012, p.39).
ENSAIOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O DIREITO INDÍGENA
Em 1910 com a criação do Serviço de Proteção ao Índio – SPI, comandado por Marechal Rondon, iniciou-se um período de pacificação e proteção. Desde então as constituições brasileiras passaram a reconhecer direitos a esse povo, o primeiro deles foi o direito à terra na Constituição Da República Dos Estados Unidos Do Brasil de 1934. Uma característica comum entre as constituições, exceto a de 1988, é o caráter integracionalista.
Direitos Dos Índios nas Constituições de 1934 até a Emenda Constitucional de 1969
A Constituição de 1934, foi a primeira a tratar dos direitos dos povos indígenas em seu texto. A referida Carta em seu Artigo 129, destaca: “Será respeitada a posse das terras dos silvícolas que nelas se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las”.
Já as constituições de 1937 e 1946, nada acrescentam e praticamente repetem aquilo que estava escrito na constituição de 1934.
A Carta Magna de 1967, garante a posse dos índios nas terras que habitam, reverte às terras indígenas para a união e também garante o usufruto dos recursos naturais. Assim expressa o Artigo 186: “É assegurada aos silvícolas a posse permanente das terras que habitam e reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais e de todas as utilidades nelas existentes”. 
A Emenda Constitucional de 1969, em seu artigo 198, faz referência à inalienabilidade das terras dos Índios, garante a posse e também discorre sobre nulidade de negócio jurídico que tenha como objeto terras indígenas, inclusive negando qualquer indenização para quem se apossar destas terras. 
O Serviço de Proteção ao Índio é extinto no ano de 1967, no mesmo ano entra em vigor a lei 5.371 que criou a FUNAI, tendo entre suas finalidades, “garantir a posse dos índios nas terras que habitam”, conforme a Constituição, mas hoje a atuação do órgão é questionada por setores que entendem estarem sendo prejudicados pelas ações desta entidade.
Estatuto do Índio – Lei 6001/73
Criada em 19 de dezembro de 1973 com a finalidade de regulamentar a situação jurídica dos índios e de suas comunidades, o Estatuto se tornou uma lei ultrapassada e contraditória. Já em seu artigo 1º caput e no parágrafo único essa contradição é evidente.
“Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional.
Parágrafo único. Aos índios e às comunidades indígenas se estende a proteção das leis do País, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta Lei.”
Ao mesmo tempo em que o Estatuto trata de resguardar os usos, costumes e tradições ele defende a integração progressiva e harmônica a comunhão nacional.
Quando o Estatuto foi criado, a ideia era criar umalei temporária, visto que, com a integração à comunhão nacional, imaginava-se que um dia os indígenas deixariam de existir e passariam a incorporar a sociedade de forma harmônica, assim, não haveria mais terras exclusivas e teoricamente improdutivas.
Constituição de 1988
O processo de redemocratização da década de 1980 produziu uma efervescência dos movimentos sociais que passam a exigir, dentre outras questões, a garantia de direitos sociais e uma nova constituição. Neste contexto os indígenas também se organizam e recebem o apoio de diferentes ONGS e entidades indigenistas, dentre os quais destaca-se a União das Nações Indígenas (UNI) o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e lutam para garantir direitos na Constituição. Os artigos 231 e 232, da referida Carta garantem aos índios, direito originário sobre as terras que ocupam.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve alguns avanços no tratamento dado aos povos indígenas. A Carta Magna dedicou um capítulo exclusivo para tratar desses direitos e mais oito artigos distribuídos em diferentes capítulos. O artigo 231 foi uma grande conquista:
 “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”
Por muito tempo defendia-se a integração dos povos indígenas a sociedade, acreditava-se que eles representavam um entrave ao desenvolvimento econômico nacional.
O Capitulo VIII da CF/88 representa uma conquista, reconheceu o direito originário e estabeleceu diretrizes para a demarcação das terras indígenas. Abandonou a expressão silvícola e passou a reconhecer a condição multicultural e pluriétnica da nossa sociedade.
Ressalta, no entanto, que a positivação desta norma não pacificou o direito territorial indígena. Muito embora houve a demarcação de grande número de Terras Indígenas, permanecem divergências quanto à interpretação do que seriam as "terras tradicionalmente ocupadas" e o desejo dos indígenas de recuperar terras que há mais de um século foram consideradas pelo Estado como sendo devolutas e vendidas para colonizadores onde hoje vivem agricultores descendentes de imigrantes na sua grande maioria pequenos e médios proprietários, desenvolvendo atividades de cunho familiar. Este processo, assim como em outros períodos históricos, demonstra-se contraditório, pois da mesma forma como o Estado no século XIX confinou os índios em aldeias cada vez menores através de um processo de convencimento e às vezes de violência, por um lado, é possível identificar regiões onde o processo de ocupação ocorreu por iniciativa do próprio estado em projetos de colonização há muito tempo. Após séculos de destruição, violência e opressão a Constituição Federal veio para dar mais segurança a esse povo, no intuito de proteger e garantir sua sobrevivência abandonando de vez a ideia de integrar e extinguir.
TRATAMENTO JURÍDOCO-PENAL
Em que pese a nova ordem constitucional adotada, o tratamento jurídico-penal conferido aos índios continua seguindo o anacrônico Estatuto do Índio.
No Estatuto do Índio a questão da culpabilidade é resumida ao critério da inimputabilidade, à luz da divisão já ultrapassada entre índios isolados, integrados e em vias de integração.
De acordo com o artigo 56, do referido estatuto, “nos casos de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola”.
Assim, pode-se ter em conclusão que são inimputáveis os índios isolados, imputáveis os integrados, e a depender de exame – o exame antropológico - ficará a culpabilidade dos índios em via de integração, os quais, na maioria dos casos, apresentam-se como semi-imputáveis.
A redução da pena trazida pela Lei 6.001/73, então, seria aplicada, a depender do grau de integração do indígena, subsidiariamente à diminuição presente na hipótese de culpabilidade reduzida, trazida pelo artigo 26, parágrafo único, do Código Penal:
Art. 26. (...)
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
O parágrafo único do artigo 56, do Estatuto do Índio, traz regras relativas ao cumprimento da pena, estabelecendo que “As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos da habitação do condenado”.
ESTATUTO DAS SOCIEDADES INDÍGENAS: em permanente tramitação no Congresso
Hoje o principal desafio é ver as terras indígenas demarcadas e a aprovação do novo Estatuto das Sociedades Indígenas que tramita no Congresso, a PL 2.057/91 que por sinal já está desatualizada e, dede 2010 já possui uma atualização anexada.
Um dos pontos polêmicos do novo estatuto é autonomia dada aos indígenas para explorar recursos naturais, a ideia é que a comunidade possa decidir se aceita ou não a mineração em suas terras.  Outro ponto importante é a delimitação das terras demarcadas e a proteção social no lugar de tutela.
O intuito é dar aos indígenas o direito de se autodeterminar, permitindo assim um dialogo e participação efetiva junto ao Estado nas discussões políticas, ficando livres para administrar o solo tradicionalmente ocupado, deixando de lado a dependência tutelar.
Outra proposta do novo estatuto é a criação do Conselho Nacional de Políticas Indigenistas, dessa forma os indígenas teriam maior representatividade na política nacional, garantindo uma representatividade efetiva apontando pontos importantes a serem tratados assim como esclarecendo as reais necessidades dos indígenas e a importância de políticas especificas para cada etnia, pois cada grupo possuem necessidades diferenciadas de acordo com sua cultura e tradições.
No tocante ao tratamento jurídico-penal do índio, o Estatuto das Sociedades Indígenas deu grande avanço, ao adotar expressamente o critério do erro de proibição e não mais o da inimputabilidade para a definição da culpabilidade dos indígenas. Assim, de acordo com o artigo 90:
Art. 90 – Nos processos criminais contra índios, o juiz ordenará a realização de perícia antropológica, que determinará o grau de consciência da ilicitude do ato praticado, para efeito da aplicação do disposto no Artigo 21 do Código Penal.
Diversos substitutivos foram apresentados à redação original do Projeto de Lei nº 2.057/1991, no que concerne às normas penais que tratam da falta de consciência da ilicitude, o substitutivo adotado pela comissão elaboradora manteve a redação original do dispositivo, esclarecendo ainda mais a adoção da excludente de culpabilidade do erro de proibição culturalmente condicionado, em substituição ao critério da imputabilidade, ao estabelecer, no artigo 152, que “não há crime se o agente indígena pratica o fato sem consciência do caráter delituoso de sua conduta, em razão dos valores culturais de seu povo”.
CONVENÇÃO 169 DA OIT
Aprovada em 1989, na 76º Conferencia, é um instrumento internacional, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT assegurou aos povos indígenas e tribais o respeito a sua identidade.
A CF/88 e a Convenção garante o respeito as tradições indígenas, eliminando de vez a denominada comunhão nacional tão defendida pelas legislações anteriores, garantindo assim o direito dos índios permanecerem como tal.
Com a ratificação dessa convenção os direitos indígenas se tornaram mais específicos no que tange sua cultura defendendo o multiculturalismo, a autonomia, o direito a suas terras e ao usufruto, dentre outros.
Passou a ser parte integrante da legislação brasileira através do Decreto Legislativo 143 em 20 de junho de 2002, se tornou o primeiro documento internacional tratando de assuntosrelacionados a populações tradicionais.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS
Aprovada em 13 de setembro de 2007 pela ONU com 46 artigos, estabeleceu normas referente aos direitos dos povos indígenas, entre outros a participação política, recursos naturais, território, propriedade intelectual.
Essa declaração não traz direitos novos, mas reconhece e ratifica os já existentes colaborando para conscientizar e promover a tolerância entre indígenas e o restante da população. Representa as reivindicações dos povos indígenas de todo o mundo estabelecendo um parâmetro mínimo na elaboração de normas nacionais e internacionais e melhorando o relacionamento com os Estados Nacionais.
A Declaração não é uma norma e sim uma orientação com valores e princípios, trazendo aspectos importantes principalmente sobre direitos coletivos. Estabelece a igualdade de direitos e repudia a discriminação.
CONCLUSÃO
Durante séculos os colonizadores impuseram aos índios que viviam no Brasil um novo padrão cultural, obrigando-os a vestirem-se, a comportarem-se e a falarem como europeus. Foram sumariamente ignoradas as diversidades entre os próprios povos indígenas e perseguidas quaisquer manifestações culturais e religiosas que destoassem daquilo que era considerado aceitável.
Hodiernamente não é mais isso o que se deseja. A política atual, ao contrário do caminho trilhado em quinhentos anos, prega o retorno dos índios às suas origens e assegura a eles o direito de serem diferentes e de serem respeitados em suas diferenças.
Esse resgate cultural pode ser facilmente percebido através da paulatina mudança na legislação indigenista, que procura expurgar do ordenamento jurídico o antigo paradigma integracionista e proporcionar uma proteção integral ao modus vivendi dos habitantes originários. São exemplos de legislação protecionista a Constituição de 1988, a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho, a Declaração das Nações Unidas Sobre os Direitos dos Povos Indígenas e Tribais e, caso aprovado, o Estatuto das Sociedades Indígenas.
Contudo, não se pode falar ainda que o Direito Penal acompanhou essa evolução de pensamento. Em que pese o surgimento de vozes na doutrina em contrário, o indígena ainda é tratado como inimputável ou semi-imputável, excluindo-se ou atenuando-se a sua culpabilidade com motivação em um suposto desenvolvimento mental incompleto por sua não-integração à sociedade. Como se vê, é clara a relutância dos operadores do direito na aplicação de tratamento diferenciado aos índios em razão de suas peculiaridades culturais, assolada pelo preconceito e pelo medo da impunidade.

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