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MODERNIZAÇAO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
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4º ENCONTRO NACIONAL DE GRUPOS DE PESQUISA – ENGRUP, São Paulo, pp. 370-392, 2008. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL AGRIUCULTURAL MODERNIZATION AND TERRITORIAL DEVELOPMENT Antonio Nivaldo Hespanhol Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Presidente Prudente nivaldo@fct.unesp.br Resumo O pacote tecnológico da “Revolução Verde” foi difundido no mundo a partir dos anos 1950 e derivou diretamente do modelo de desenvolvimento produtivista predominante até o final dos anos 1970. A produção e a produtividade agrícolas se expandiram significativamente. No entanto, os efeitos ambientais e sociais da “Revolução Verde” foram muito negativos e provocaram a valorização de perspectivas de desenvolvimento ascendentes, tais como a abordagem territorial, a qual se tornou expressiva a partir dos anos 1990. Palavras-chave: Modernização, desenvolvimento, rural, participação. Abstract The “Green Revolution” technological package was spread out in the world from years 1950. It was derived from the development model that predominated until the end of years 1970. The agricultural production and the productivity had expanded significantly. However, the environmental and social effects of the “Green Revolution” were too much negative and had induced the valorization of ascending development perspectives, such as the territorial approach, which became expressive from years 1990. 4º ENGRUP, São Paulo, 2008. HESPANHOL, A. N. 371 37 1. INTRODUÇÃO Após a II Guerra Mundial o pacote tecnológico da chamada “Revolução Verde” foi difundido no mundo, atingindo, inclusive alguns países subdesenvolvidos. A modernização da agricultura esteve associada ao modelo de desenvolvimento produtivista que passou a ser contestado nos anos 1970 e 1980, dando margem ao surgimento de novas abordagens de desenvolvimento. A abordagem do desenvolvimento territorial ganhou força nos países desenvolvidos a partir dos anos 1990. Por meio de tal abordagem tem se procurado valorizar as potencialidades locais, a diversidade, o meio ambiente, bem como envolver os atores sociais nos projetos de desenvolvimento. No presente texto se procurará estabelecer relações entre modernização da agricultura e desenvolvimento territorial, com o intuito de responder a três questões: 1) A agricultura moderna, associada ao modelo produtivista, perdeu a hegemonia? 2) A estratégia do desenvolvimento territorial é protagonista ou coadjuvante nas políticas públicas? 3) Como a estratégia do desenvolvimento territorial vem sendo introduzida nas políticas públicas brasileiras? 2. MODELO PRODUTIVISTA DE DESENVOLVIMENTO E MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA Entre o final da II Guerra Mundial e os primeiros anos da década de 1970, a economia mundial apresentou grande expansão. Foram efetuados significativos investimentos em atividades produtivas, não somente nos países desenvolvidos, mas também em países subdesenvolvidos. No referido período, os conhecimentos da ciência e da tecnologia passaram a ser aplicados diretamente aos processos produtivos de todos os setores, inclusive da agropecuária, conforme salienta Santos (1985). A modernização da agricultura ocorrida em vários países derivou deste movimento expansionista caracterizado pelo expressivo crescimento econômico e pelo grande avanço tecnológico. Foi sob este modelo econômico que a União Européia, os Estados Unidos e muitos outros países, inclusive subdesenvolvidos, promoveram Modernização da agricultura e desenvolvimento territorial, pp. 370-392 372 alterações na sua base técnica de produção e ampliaram a oferta de alimentos e matérias-primas. Graças à modernização da agricultura e ao estabelecimento da Política Agrícola Comum (PAC), alguns países europeus que apresentavam forte dependência da importação de alimentos, não somente se tornaram auto-suficientes, como se converteram em exportadores líquidos de produtos agrícolas a partir dos anos 1980. Os EUA, o Canadá, a Austrália, o Brasil, a Argentina, o México e muitos outros países, expandiram significativamente a produção agropecuária em decorrência da adoção do pacote tecnológico da “Revolução Verde”. Apesar do aparente sucesso da modernização da agricultura, o passivo ambiental dela decorrente é muito grande. A expansão de monoculturas e o uso indiscriminado de máquinas, implementos, fertilizantes químicos e de biocidas comprometeram a qualidade ambiental de vastas áreas dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nos países mais avançados da União Européia (França, Alemanha, Holanda, Bélgica, entre outros), as críticas aos efeitos ambientais negativos decorrentes da produção agrícola intensiva, emergiram nas décadas de 1960 e 1970 e ganharam amplitude e repercussão em outros países, a partir dos anos 1980. A perda da qualidade ambiental, os problemas sanitários como a encefalopatia espungiforme bovina (mal da vaca louca), a incidência da febre aftosa e a contaminação de frangos, evidenciaram a insuficiência da gestão da qualidade e da segurança dos alimentos gerados pela agricultura moderna e processados pelas agroindústrias de grande porte (DELORME, 2004). Diante de tal quadro, os alimentos produzidos sem a aplicação de biocidas e o processamento artesanal têm sido valorizados pelos consumidores dos países desenvolvidos, bem como pela população de média e alta renda dos países subdesenvolvidos. Cada vez mais se passou a reconhecer que o modelo produtivista, próprio do modelo no qual se insere a agricultura moderna, não proporcionou a superação da pobreza das zonas rurais, nem proporcionou a melhoria da qualidade de vida das suas 4º ENGRUP, São Paulo, 2008. HESPANHOL, A. N. 373 37 populações. A agricultura moderna também não levou a superação do problema da fome no planeta, apesar de ter havido a ampliação da oferta de alimentos, os problemas relacionados à sua distribuição perduraram e até se agravaram. As preocupações ambientais e sanitárias em relação à agricultura intensiva redundaram em alterações nas políticas agrícolas, principalmente nos Estados Unidos da América (EUA) e na União Européia. O emprego indiscriminado de sistemas intensivos de produção passou a ser combatido por meio de reformulações nas políticas agrícolas. Nos EUA foi criado, no ano de 1984, o Low-Input/Sustainable Agriculture (LISA) com o objetivo de desenvolver sistemas de produção menos agressivos ao meio ambiente, conforme salienta Ehlers (1999). Na União Européia, foram empreendidas reformulações na PAC nos anos de 1992, 1999 e 2003 por meio das quais se procurou estimular formas extensivas de exploração com o intuito de reduzir a pressão sobre os recursos naturais e de valorizar a qualidade ambiental. As novas políticas agrícolas, além de valorizarem a exploração extensiva, procuraram reduzir a oferta de produtos agrícolas subsidiados. Apesar da tomada de consciência em relação aos problemas ambientais e sociais gerados pela agricultura moderna, os interesses econômicos prevalecem e o modelo produtivista continua hegemônico. Os questionamentos e denúncias em relação ao comércio desleal de produtos agrícolas praticado pelos países desenvolvidos se tornaram recorrentes, pois tais países protegem os seus mercados com tarifas alfandegárias elevadas aos produtos agroalimentares e concedem fortes subsídios aos seus agricultores. Os segmentos produtivos voltados ao abastecimento de grandes mercados são dominados por corporações transnacionais cujas sedes se localizam nos EUA e na União Européia, a exemplo da Bunge, Cargill, Nestlé, Danone, Louis Dreyfus e Archer