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Marx para crianças

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Marx para crianças 
Por Leonardo Koury
1 
A direita pode torcer o nariz, mas é preciso dizer: é possível educar as crianças 
utilizando a teoria marxista e compreender o mundo para além do 
individualismo e da disputa do melhor, do mais forte ou do mais rico. 
 
O que é a teoria marxista? 
 
Karl Heinrich Marx foi um filósofo, cientista político e socialista revolucionário 
muito influente em sua época (século XIX? Acho bom colocar). Muito 
conhecido por seus estudos sobre as causas sociais, é grande influência ainda 
nos dias atuais. Teve enorme importância para a política europeia, ao escrever 
o Manifesto Comunista, juntamente com Friedrich Engels, que deu origem ao 
“Marxismo”. Marx foi um ativista do movimento operário europeu, na chamada 
primeira internacional, momento de unidade entre trabalhadores de diversos 
países em 1864. 
A teoria marxista se baseia no materialismo e no socialismo científico. Em 
razão disso, o marxismo forma uma base de ação que une a teoria e a prática. 
Para os marxistas, o materialismo é a forma ideológica pela qual é possível 
abolir a filosofia como instrumento especulativo da burguesia (Idealismo) e 
fazer dela um instrumento de transformação do mundo a serviço do povo mais 
pobre, denominado pelo conceito "força de trabalho". Esse conceito tem duas 
bases: o materialismo dialético e o materialismo histórico. O primeiro, o 
materialismo dialético, coloca a simultaneidade da matéria e do espírito, e a 
constituição do concreto por uma evolução concebida como “desenvolvimento 
por saltos, catástrofes e revoluções”, causando uma evolução em um grau 
mais alto, graças a “negação da negação” (dialética). 
 
Já o materialismo histórico coloca que a consciência dos homens é 
determinada pela realidade social, ou seja, pelo conjunto dos meios de 
produção, base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política 
e à qual correspondem formas de consciência social determinada. 
 
Como essa teoria pode melhorar a vida das crianças e consequentemente 
construir uma sociedade melhor? 
 
 
1
 Leonardo Koury Martins – Escritor, Assistente Social e atualmente trabalhar como professor/tutor na 
Fundação Perseu Abramo FPA. 
Autores como Paulo Freire, Rubem Alves e Gilles Deleuze defendem que a 
compreensão do marxismo deve ser difundida! E com uma linguagem de fácil 
acesso. A ideia de classe "em si - para si", por exemplo, já é vivida no 
sofrimento da classe trabalhadora, e seu despertar enquanto consciência deve 
ser construído de forma popular. A pedagogia do oprimido e a alfabetização de 
jovens e adultos são algumas estratégias viáveis para essa construção. 
 
Mas e para crianças? É possível, com algumas dicas, buscar a 
construção de uma sociedade melhor por meio da educação de crianças e 
adolescentes: 
 
1. Substituir o MEU pelo NOSSO (do individual ao coletivo) - A fala é a 
primeira grande conquista das crianças frente à expectativa dos familiares. Elas 
expressam desejo, necessidade e o olhar sobre as coisas. Quando a palavra 
"meu" brinquedo se torna "nosso" brinquedo, essa oralidade possibilita outra 
concepção de que as coisas podem ser partilhadas e entendidas como 
coletivas. São mais do que expressões: o NOSSO propõe a garantia do 
compromisso com a coletividade e rompe com o MEU, que expressa, por si, 
individualismo e egoísmo. 
 
2. Um novo conceito de cuidado (Família, amigos, parentes) - Cuidar e 
garantir bem-estar são um dever de todas as pessoas. Não apenas a mãe e o 
pai educam. O cuidado é uma tarefa coletiva e sua construção por familiares, 
vizinhos e amigos são importantes para possibilitar às crianças a certeza de 
que ela está protegida. Assim como o cuidado, a educação e a segurança das 
crianças devem ser compartilhadas por todas as pessoas que estão em seu 
entorno e as amam. O cuidado coletivo prevê a possibilidade de superar pré-
conceitos como o racismo, incapacitismo (pessoas com deficiência), sexismo, 
entre outras opressões. A convivência na forma do cuidado, além de 
possibilitar uma educação mais aberta do que a oferecida nas escolas, traz às 
crianças, desde cedo, novos olhares e novas perspectivas de entendimento de 
que ela não está sozinha, rompendo assim com um modelo burguês de família 
(papai, mamãe e filhos). 
 
3. Delicadeza com os seres vivos (Animais, seja a formiga, o leão ou o 
cachorro de estimação) - Não é incomum nos primeiros anos a descoberta de 
que existem outros seres vivos para além dos seres humanos. Porem esses 
"bichinhos" aparecem na vida das crianças como brinquedos de pelúcia ou 
plástico e depois se materializam como animais de estimação. É necessário 
compreender que são vidas e merecem o mesmo carinho e cuidado, e não 
para ser desmontados, machucados como se fossem uma experiência 
científica. Entender essa pluralidade evita a formação de uma criança violenta 
ou que crê que mulheres e homens são o topo da cadeia alimentar. Não 
devemos deixar com que as crianças reproduzam a opressão em qualquer 
forma de vida, além de que não devemos acreditar que a natureza serve 
apenas para ser entendida como matéria prima. 
 
4. Gosto pelas perguntas e respostas. (uma consciência crítica) - Crianças 
são seres inteligentes que querem respostas, bem como o direito de se 
sentirem à vontade para perguntar. Conversar com elas e deixar que elas 
duvidem e questionem suas opiniões é importante, pois a dialética é formada 
pelos questionamentos e por entender que nada está posto e tudo pode ser 
transformado, inclusive "as verdades". Adultos podem estar errados e a 
perspectiva adultocêntrica apenas oprime. Não pode existir crítica se as ideias 
e as relações não tiverem a pluralidade respeitada. 
 
5. Convivência no mundo da criança (é sim poder sonhar) - Não há nada 
mais importante do que a criatividade. Ela vem através do sonho e da 
expressão desses pensamentos. As crianças buscam companhias que 
expressem a parceria, seja no brincar como também no partilhar de ideias 
"malucas e irreais". Imagine como é repressor para a criança dizer que o amigo 
imaginário dela, com quem ela conversa, não existe? Entre no mundo da 
criança ganhe a confiança dela e a proteja para que suas visões sejam 
sentidas e vividas, quanto maior a imaginação mais possível que ela seja um 
adulto tolerante com a diferença do outro. 
 
A homogeneização ou globalização de um pensamento unitário não pode ser o 
fim das nossas diferenças. Não pode existir diversidade de pensamento em um 
mundo no qual a mais-valia regula não apenas a economia, mas a cultura e a 
sociedade. Segundo Boaventura Souza Santos, diferenças não são 
desigualdades e o capitalismo busca na desigualdade o motor do seu sistema 
econômico e político. 
 
Deve-se acreditar que é possível construir nas novas gerações o melhor que 
queremos para o mundo. Portanto as crianças e adolescentes são nossa ponte 
para a construção de uma nova ordem societária. Não deixe para os grandes 
veículos de comunicação, para as lojas de brinquedos e as propagandas 
infantis essa atribuição. Seja parte da educação que acreditamos ser a mais 
justa para um mundo melhor.

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