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105GUIA PR`TICO DE UROLOGIA Capítulo 19 Gustavo Caserta Lemos Litíase Ureteral Endereço para correspondência: Rua Jayme de Almeida Paiva, 81 05657-170 - São Paulo - SP Tel.: (0--11) 3044-5274 Telefax: (0--11) 820-1118 E-mail: gclemos@4web.com.br Quadro clínico A passagem do cálculo urinário pelo ureter, geralmente, causa obstrução, cólica renal e hematúria. A dor é muito forte, começa na região lombar, vem para o flanco, fossa ilíaca, viri- lha e testículo no homem ou grandes lábios na mulher. Quan- do o cálculo está no ureter médio, geralmente a dor é no flan- co e região abdominal lateral, quando já está no ureter terminal o paciente tem aumento da freqüência e urgência miccionais. A cólica renal é uma dor que não está relacionada à posição ou esforço físico, ao contrário das dores musculares e de compres- são radicular. Muitas vezes se confunde com apendicite, salpingite, gastroenterite, colite e dores relacionadas à ovulação. O exame físico muitas vezes não tem nenhuma alteração a não ser a punho-percussão lombar dolorosa (sinal de Giordano positivo). O exame de urina mostra microematúria em aproxima- damente 85% dos pacientes com cólica renal. Leucocitúria ocorre nos casos em que há infecção associada. Diagnóstico por imagem O raio X simples de abdome geralmente é o primeiro exame pedido no atendimento de urgência, seguido pelo ultra-som (US). Atualmente a urograf ia excretora tem sido menos utilizada devido ao uso de contraste iodado e suas conseqüências. A tomograf ia computadorizada (CT) heli- coidal, sem contraste por via oral ou endovenosa, tem sido exame muito útil pela sua alta especif icidade (97%) e sen- sibilidade (94%). Em algumas instituições o custo da CT espiral, sem contraste algum, se compara ao do US e raio X simples somados. Eliminação espontânea do cálculo ureteral Características anatômicas do ureter podem dificultar a livre passagem dos cálculos pelo ureter. O calibre ureteral é menor logo abaixo da junção ureteropiélica; no cruzamento dos vasos ilíacos; no cruzamento do ligamento redondo na mulher; canal deferente no homem e no ureter intramural (fi- gura 1). A passagem e/ou impactação dos cálculos ureterais po- dem levar à obstrução, dilatação e infecção. Ureterite, peri- ureterite e infecção causam edema que reduz o peristaltismo e a luz do ureter, dif icultando a passagem dos cálculos. A eliminação espontânea dos cálculos ureterais pode ser estudada de acordo com a posição, dimensões ou tempo em que o cálculo permanece no mesmo local no ureter. As estatís- ticas variam muito, ficando difícil a uniformização dos dados. As chances de eliminação, independentemente da posi- ção, para cálculos menores que 4 mm é de 38% e para maiores que 6 mm é de 1,2%. Quando o diagnóstico é feito no terço inferior do ureter, a chance de eliminação é de 45%, ureter médio 22% e superior 12%. Sessenta e cinco por cento dos cálculos ureterais são eliminados espontaneamente em quatro Figura 1 Pontos em que o ureter é normal- mente mais estreito e onde há impactação mais freqüente dos cálculos. 106 GUIA PR`TICO DE UROLOGIA semanas após o início dos sintomas. As complicações aumen- tam de 7% para 20% quando os sintomas permanecem por mais de quatro semanas. Em outros estudos os números va- riam significantemente em relação aos cálculos menores que 5 mm do ureter inferior, que são eliminados em 75% dos ca- sos, e do ureter superior em 64%. A medida-limite para elimi- nação sem grandes problemas parece ser 7 mm. Tratamento Os cálculos urinários acometem de 2% a 3% da popula- ção. A média de hospitalização é de 1,42 por mil pessoas. Entre 10% e 30% dos pacientes com cólica renal necessitam inter- nação hospitalar. A retirada do cálculo é indicada quando há obstrução significativa, deterioração da função renal, pielo- nefrite refratária a tratamento ou dor incontrolável. Tratamento medicamentoso O controle da dor, em adultos, é através da aplicação de analgésicos por via endovenosa. O uso de medicamentos deve ser progressivo e ordenado, dependendo do alívio ou não da dor. O esquema que temos utilizado é o seguinte: 1- Brometo de N-butilescopolamina 10 mg (Buscopan®) + dipirona sódica 500 mg (a dipirona só pode ser re- petida de 6 em 6 horas). 2- Tenoxicam (Tilatil®) 20 mg EV em 24 horas. Pode ser usado independentemente do brometo de N-butiles- copolamina com dipirona, pois os mecanismos de ação contra a dor são distintos. Deve-se estar atento para as contra-indicações, para que seja evitado em pacien- tes menores de 18 anos e em pacientes com função renal diminuída. 3- Diclofenaco sódico (Voltaren®) 75 mg, por via intramus- cular profunda, na nádega. A dose máxima diária é de 150 mg e não deve ser usado via IM por mais de dois dias. Os efeitos colaterais com os quais se deve tomar cuidado são os relativos à função renal e à gastrite. 4- Meperidina (Dolantina®), uma ampola diluída em 8 ml de água destilada, aplicada em doses de 2 ml, por via endovenosa, de 1 em 1 hora se for necessário. A ingestão forçada de líquidos parece não ajudar a elimi- nação, pois reduz o peristaltismo do ureter. A urina deve ser coada ou a micção deve ser em um vidro para verif icar a saída do cálculo, que poderá ser analisado laboratorialmente. Tratamento cirúrgico No século dos cirurgiões, a cirurgia aberta foi o único tratamento intervencionista disponível para o cálculo ureteral. A ureterolitotomia é rápida, muito eficiente, de baixa morbi- dade, mas uma técnica muito invasiva para os padrões atuais. Alguns urologistas mais progressistas utilizavam a via endoscópica, retirando os cálculos com sondas extratoras con- troladas apenas por raio X. A história da ureteroscopia começou em 1929 com Young e McKay, que descreveram a primeira visualização endoscó- pica do ureter por via transuretral de uma criança com válvula de uretra posterior. Em 1978 começou a revolução no trata- mento do cálculo ureteral com a descrição da primeira urete- roscopia. Havia sido dado o pontapé inicial para o desenvolvi- mento da ureterolitotripsia endoscópica. Houve um grande aprimoramento dos ureteroscópios, que se tornaram mais fi- nos e as imagens mais nítidas; paralelamente surgiram no- vos aparelhos de litotripsia, incluindo o ultra-som, eletro- hidráulico, laser e o balístico. O urologista, já habituado à cirurgia endoscópica, rapidamente desenvolveu a técnica da ureteroscopia, diminuindo a morbidade dos casos ini- ciais e chegando a resultados que variavam de 80% a 98% de sucesso, dependendo da localização do cálculo. É uma técnica elegante, bonita e ef iciente, qualidades que por si só dificultam a sua substituição. No auge da ureteroscopia ocorreu a segunda revolução, em fevereiro de 1980. Chaussy introduziu a litotripsia extra- corpórea por ondas de choque (Leco) para o tratamento dos cálculos renais e ureterais. Inicialmente era complicado en- tender o que eram ondas acústicas não-harmônicas e não-li- neares, caracterizadas pela mudança extremamente rápida de amplitude com pico de alta pressão seguido por queda mais lenta, mas era claro para todos que elas funcionavam e os cál- culos fragmentavam-se. O aparecimento das máquinas de se- gunda geração foi outro avanço importante, pois permitiu a localização de cálculos em qualquer parte do trato urinário com mais facilidade e ef iciência, tanto com raio X como com ultra-som, eliminando a imersão do paciente em água. Os pa- ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS DE CÁLCULO URETERAL Método Sensibilidade Especificidade Valor preditivo + Valor preditivo – Rx simples 95% 65% 82% 88% US 93% 83% 93% 83% Rx + US 89% 100% 100% 81% Gorelik U, Ulish Y, Yagil Y. Urology 1996; 47(5): 637-42. Tabela 1 107GUIA PR`TICO DE UROLOGIA Figura 2 cientes, sabendo da baixa agressividade do novo método não- invasivo que dispensava anestesia, praticamenteexigiam do urologista o acesso à “máquina”. Atualmente, nos cálculos ureterais com indicação de tra- tamento intervencionista, há três possibilidades: cirurgia aberta, ureteroscopia ou Leco. O urologista deve dominar todas as técnicas e indicar a melhor para o caso. Para o Dr. Joseph Se- gura, da Mayo Clinic, “o fundo do poço é o urologista subme- ter seus pacientes à Leco porque é a única coisa que ele sabe fazer”. A maior parte dos cálculos ureterais tem sido tratada pela Leco, chegando a 98% dos casos em alguns serviços. O modelo da máquina influi na indicação, pois as de segunda geração facilitam a localização e, na grande maioria das vezes, dispensam sedação, passagem de cateter e contraste EV. A grande vantagem da Leco é não usar anestesia e não instrumentar o trato urinário do paciente. A desvantagem é que o paciente sai do tratamento com o cálculo por eliminar em 100% das vezes, e aproximadamente em 20% sem fragmentá-lo . A partir do momento em que é necessário pas- sar cateter sob anestesia, a Leco perde suas vantagens e f ica só com as desvantagens. Outro aspecto importante é o índice de retratamento da Leco, que é de 20% a 40% e tem 15% de procedimentos auxiliares. A ureteroscopia é altamente eficiente (98% de sucesso), mas necessita anestesia, é introduzido um instrumento na uretra e no ureter, há mais risco de infecção e, embora muito pequeno, de perfurações, estenoses etc. A inci- dência de complicações depende da experiência e do treina- mento do urologista, da técnica e dos instrumentos utilizados. Os ureteroscópios mais finos evitam a dilatação do meato, do ureter intra-mural e conseqüentemente, as complicações as- sociadas. Com os antigos ureteroscópios 11,5 F, o índice de complicações era de 25%. Utilizando os ureteroscópios semi- rígidos 7,2 F ou os flexíveis 7,1 F, praticamente todos os ureteres são acessíveis. Há casos de contra-indicação da Leco, como infecção urinária e a exclusão total do rim, pois pode haver urina infectada neste rim ou até mesmo pionefrose. Nestes casos, a Leco é desastrosa, podendo levar o paciente a choque sép- tico e óbito. Em relação a custos, nossa realidade é oposta à dos EUA, onde a Leco é 60% mais cara que a ureteroscopia. No Brasil ela é muito mais barata e tem sido fator importantíssimo na decisão de muitos pacientes. Na verdade, o investimento no litotritor extracorpóreo não está sendo levado em conside- ração no cálculo dos custos. As despesas com a ureterosco- pia vêm sendo diminuídas com o tratamento ambulatorial, com a não-utilização rotineira de duplo J com anestesia com sedação e até mesmo tópica. Se considerarmos os pacien- tes com cálculos maiores que 1 cm que necessitam de duas ou três sessões de Leco, de várias visitas ao consultório, de raio X ou ultra-som para controle de eliminação, de eventuais internações para tratamento de cólica e do afastamento de suas atividades, os custos da ureteroscopia, acabam sendo meno- res. O sucesso da ureteroscopia independe do tamanho do cál- culo. Cálculo do ureter superior A primeira opção no tratamento dos cálculos do terço superior do ureter é a Leco. Os aspectos que mais influenciam os resultados são a localização e as dimensões do cálculo. Com os litotritores de segunda geração, o índice de pacientes com cálculo no ureter superior que f icaram livres de pedra chega a 98%. A utilização de cateter ureteral não altera os resultados. Na falha desse método, nos casos de infecção resistente a tratamento com antibióticos e exclusão renal, podem ser indi- cados o método percutâneo, a ureteroscopia ou laparoscopia. Com a evolução dos ureteroscópios semi-rígidos e flexíveis, que estão cada vez mais finos, a ureteroscopia do ureter supe- rior se tornou mais fácil e o índice de sucesso maior, sendo a primeira opção nos casos de falha ou contra-indicação da Leco. A via percutânea é muito agressiva comparada à Leco e à ureteroscopia, mas é um bom método e muito eficiente quan- do se utiliza nefroscópio ou ureteroscópio flexíveis. Quando o cálculo é grande, impactado, a hidronefrose facilita a pun- ção renal e a descida do ureteroscópio pelo ureter. Nestes ca- sos, a retirada do cálculo pode ser com cesta de Dormia ou fragmentação com laser ou litotritor eletro-hidráulico, pois o ângulo entre o cálice de entrada no rim e o ureter é muito acentuado, não permitindo o uso de litotritores de haste rígida (figura 2). A - Cálculo no ureter superior à direita, com hidronefrose (como indicado no texto). B - Punção renal percutânea e nefroscópio flexível no ureter superior sobre o cálculo. A B 108 GUIA PR`TICO DE UROLOGIA TIPOS DE CESTAS OU SONDAS DE DORMIA Figura 3A cirurgia aberta deve ser reservada para os casos em que a Leco e a endoscopia falharam. Há ainda a possibilidade da ureterolitotomia laparoscópica nesses casos. Cálculo do ureter médio A primeira escolha para o tratamento do cálculo do ureter médio é a Leco. Os cálculos do ureter médio podem ser trata- dos in situ ou empurrados de volta para o rim (“push-back”) pela passagem de cateter e injeção de soro fisiológico sob pres- são. Se a máquina utilizada permitir a localização destes cál- culos, eles devem ser tratados in situ, evitando-se a passagem de cateter. Os resultados com “push-back” ou in situ são mui- to semelhantes. A ureteroscopia do ureter médio é mais difícil que a do ureter inferior porque, além das dif iculdades de ultrapassar o meato e o ureter intramural, há o trajeto sinuoso. O ureter intramural está em sua posição mais posterior e quando cruza com os vasos ilíacos está na posição mais anterior. Os instru- mentos semi-rígidos introduzidos no ureter precisam retificar estas curvas para subirem e atingirem o ureter lombar. A in- trodução sobre o f io guia de trabalho auxilia muito, evitando perfurações e falsos trajetos. Cálculo do ureter inferior O tratamento dos cálculos do ureter inferior com Leco tem sucesso em aproximadamente 80% dos casos, enquanto a ureteroscopia atinge 98%. O tempo médio necessário para o paciente estar livre de cálculo é imediato na ureteroscopia e de quatro semanas na Leco. Os melhores resultados da Leco são nos cálculos menores que 5 mm. A Leco tem menor custo, é menos invasiva, não necessita anestesia, sendo a melhor op- ção nos cálculos menores que 5 mm, enquanto a ureterosco- pia o é para os maiores. Os tratamentos ambulatoriais sem anestesia são muito atrativos para os pacientes. Embora o ín- dice de sucesso da Leco para o cálculo do ureter distal chegue a 80%, a taxa de retratamento vai de 30% a 50%, e apenas a metade dos pacientes elimina completamente o cálculo em duas semanas. Os fragmentos de cálculo pós-Leco continuam um problema, podendo levar a obstrução, hidronefrose e sepse. As chances de os cálculos do ureter distal, menores que 6 mm, serem retirados pela manipulação com sonda de Dor- mia são muito boas. Este procedimento deve ser feito sob con- trole de fluoroscopia e visão direta do meato por via endoscó- pica (cistoscópio). A cesta deve ser passada no máximo de três a quatro vezes – número arbitrário que, porém, parece ser seguro para evitar trauma ao ureter. Minha preferência é por cestas de cinco f ios, helicoidais, com ponta flexível que evita a perda do trajeto ureteral após a passagem da cesta pelo cál- culo (figura 3). Outra possibilidade de tratamento é a simples passagem de um cateter duplo J, mantido por 14 dias. Após a retirada, 80% dos cálculos são expelidos espontaneamente. Ainda não há consenso sobre o efeito das ondas de cho- que nos ovários. Existem estudos em ratos e um estudo em humanos demonstrando que não há efeitos das ondas de cho- que sobre as gônadas, mas são estudos experimentais ou com pequena casuística e, portanto, não-definitivos. Dentro do pos- sível é aconselhável que se evitem ondas de choque para tratar cálculos do ureter inferior de mulheres em idade reprodutiva.Rua de cálculos Também chamada de “steinstrasse”, é o acúmulo de frag- mentos de cálculos no ureter pós-Leco. Os pacientes podem ser assintomáticos ou se comportar como quaisquer outros com cálculo ureteral. O tratamento depende da situação clínica. Pacientes assintomáticos podem ser observados e mo- nitorados com raio X simples ou ultra-som. Se a obstrução for significante, com hidronefrose ou dor de difícil contro- le, o tratamento deve ser intervencionista. Quando não há infecção, a primeira opção é a reaplicação da Leco sobre a rua de cálculos, o que resolve a maioria dos casos. A passa- gem de cateter duplo J é difícil e geralmente provoca per- furação devido ao edema e à grande extensão da rua de cálculos no ureter. Nos casos em que a reaplicação da Leco não resolve ou quando há infecção associada, a ureteroscopia é uma ótima conduta. A introdução do ureteroscópio deve ser cuidadosa, pois não há espaço na luz do ureter. Muitas vezes o fluxo de líquido de irrigação ou a litotripsia intracorpórea deslocam os fragmentos para o ureter superior ou de volta para o rim. Os fragmentos podem ser retirados com cesta de Dormia sob vi- são direta, devendo-se evitar a passagem da cesta fora do campo de visão, uma vez que as perfurações são muito comuns. Quan- do nenhum outro método resolve a obstrução, a colocação de nefrostomia percutânea descomprime o ureter e os cálculos são eliminados em 70% das vezes. Cálculo ureteral na infância A Leco, com os novos litotritores, é eficiente em pacien- tes pediátricos e parece não causar seqüelas. Crianças até seis anos de idade fazem o tratamento sob anestesia; entre 6 e 14 anos fazem sob sedação, e acima dos 15 geralmente precisam apenas de diazepan 1 hora antes do O número de fios dispostos helicoidalmente é variável, podendo ter ou não a ponta flexível. Cesta com cinco fios Cesta com seis fios Cesta com três fios Ponta flexível 109GUIA PR`TICO DE UROLOGIA procedimento. A técnica utilizada deve ser a introduzida pela Fundação Puigvert em 1987, a qual preconiza um grande nú- mero de ondas de choques com baixa potência. A energia to- tal utilizada por tratamento é a mesma, mas permite aplica- ções sem anestesia, e o uso de fluoroscopia deve ser o mínimo possível. Os pulmões devem ser protegidos com plástico de bolhas de ar (styrofoam) para evitar pneumonite pela onda de choque. A proteção das gônadas também deve ser feita, em- bora haja estudos demonstrando sua resistência às ondas. O índice de pacientes livres de cálculo varia de 64% a 91,1%, com 3,5% de retratamento e 3,5% de instrumentação pós-Leco. Alguns autores consideram fragmentos residuais não clinicamente significantes , o que explica variação tão ampla dos resultados. Os resultados e a aparência do cálculo ao raio X após o tratamento podem enganar, dando a impressão de que não se frag- mentou, mas, após duas semanas, essas pedras estão pulveriza- das e eliminadas. A passagem de fragmentos pelo ureter infantil é muito bem tolerada e raramente precisa de antiespasmódico. A ureteroscopia na infância é possível, e com os novos miniureteroscópios o procedimento se tornou mais fácil e menos traumático. Os resultados positivos variam de 80% a 97%, sendo melhores no ureter médio e inferior. Os cálculos impactados no ureter superior podem ser muito difíceis, e o cirurgião deve estar preparado para eventual cirurgia aberta ou via percutânea. A dilatação mecânica do meato e ureter intramural raramente é necessária, e o melhor método é a di- latação com balão. A incidência de refluxo vesicoureteral após dilatação é infreqüente e clinicamente insignificante. Cálculo ureteral na gravidez A incidência de cálculos sintomáticos em mulheres grá- vidas parece ser de 1:1500. A gravidez não predispõe à for- mação de cálculos, contudo, a dilatação do trato urinário su- perior causada pela compressão ureteral propicia a movimen- tação dos cálculos existentes no rim. O diagnóstico da urolitíase durante a gravidez é mais di- fícil, pois os sintomas se confundem com dores próprias da gravidez e nem sempre as cólicas são muito fortes. A ultra- sonografia é o primeiro exame a ser pedido. No caso de não se esclarecer, será necessário estudo radiológico. O maior risco de teratogenia e de aborto espontâneo por raio X está no pri- meiro trimestre, e a dose crítica é de 25 rad. A dose usada em um raio X simples de abdome é de 25 mrad, ou seja, 1% da dose crítica. Pode ser feita uma urografia com apenas duas exposições, a primeira com 30 segundos, e a segunda com 20 minutos após a injeção de contraste. Entre 65% e 85% dos cálculos ureterais nas grávidas se- rão eliminados espontaneamente apenas com analgesia, hi- dratação e controle da infecção, quando presente. Nos casos em que for necessário algum tratamento intervencionista, a passagem de cateter duplo J sem o uso de fluoroscopia é a primeira escolha. Os cateteres devem ser trocados a cada dois meses, devido ao risco de incrustação calculosa. A Leco está totalmente contra-indicada durante a gravi- dez. Nos casos em que não é possível a passagem do duplo J ou a paciente não suporta o cateter pela irritação vesical ou dor lombar pelo refluxo, pode-se optar por nefrostomia guia- da por ultra-som. É um método bastante agressivo e descon- fortável para a paciente. A ureteroscopia durante a gravidez é bastante segura e tem alto índice de sucesso. A remoção do cálculo com cesta de Dormia é o método preferido, mas se houver necessidade do uso de litotritores, pode-se usar o ultra-som, balístico e até mesmo o laser. O litotritor eletro-hidráulico deve ser evitado pelo maior risco de lesão ureteral. Em certos casos, a utilização do ureteroscópio flexível e de laser permite o tratamento com anes- tesia tópica, evitando a geral. A ureteroscopia para cálculos dis- tais, no final da gravidez, não é tão difícil como se pensava. Ureteroscopia flexível A ureteroscopia flexível foi um grande avanço para o diag- nóstico e tratamento de lesões ureterais, renais e cálculos. Os novos ureteroscópios flexíveis têm calibres muito pequenos, que permitem sua introdução no ureter como se fossem cate- teres. Os litotritores de “probes” flexíveis, como o eletro-hi- dráulico e o laser permitem a fragmentação dos cálculos. Os fragmentos são retirados com cestas de Dormia ou, quando muito pequenos, eliminados espontaneamente. Através de cistoscopia são passados dois fios guia no ureter; mantém-se um “de segurança” e sobre o outro (de tra- balho), é introduzido o ureteroscópio flexível. A passagem do fio guia é crucial para o sucesso da cirurgia. Deve ser feita com cuidado, sem forçar, para evitar falso trajeto, perfuração e caminho submucoso. O f io deve ser introduzido até a pelve e sua posição testada pela injeção de contraste no ureter. A introdução do ureteroscópio flexível, na maioria das vezes, é precedida pela dilatação do meato ureteral com balão dilatador. O balão é passado sobre o fio guia de trabalho atra- vés do cistoscópio, e sob visão direta é introduzido no meato. As marcas radiopacas do balão ajudam a monitorar sua locali- zação. O balão é inflado com solução de contraste diluída a 50% para permitir a monitoração fluoroscópica, que é muito importante, pois não pode haver pontos que não se dilatam. A passagem de um cateter duplo J, 48 a 72 horas antes, também dilata o meato e relaxa todo o ureter, permitindo a fácil pro- gressão do instrumento em toda sua extensão. A introdução do ureteroscópio sobre o f io guia de traba- lho é feita sob visão direta e sob controle de fluoroscopia para impedir que este se enrole na bexiga. Há dois aspectos impor- tantes que não devem ser negligenciados: um é o esvaziamen- to da bexiga após a cistoscopia, o que ajuda a evitar dobras do ureteroscópio; o outro é o f io guia de segurança, que permite a retirada de fragmentos e a reintrodução do ureteroscópio sem perder o trajeto.Quando o cálculo é visibilizado, o fio guia de trabalho é retirado e o “probe” do litotritor ou a sonda extratora é intro- duzida. Os canais de trabalho e de irrigação muitas vezes são os mesmos, e a entrada de líquido fica prejudicada quando se passam os instrumentos, sondas etc. A injeção mecânica de líquido de irrigação sob pressão ajuda e pode ser por seringa ou bomba. A ureteroscopia flexível demanda tempo, paciên- cia e muito cuidado com o aparelho, que é frágil e tem sua vida útil diminuída pelo mau uso. 110 GUIA PR`TICO DE UROLOGIA Bibliografia recomendada 1. ALBALA DM. How to approach the problematic ureteral stone. Contemp Urol 1993; 5(1): 65-76. 2. ANDERSON KR, KEETCH DW, ALBALA DM, CHANDOKE PS, McCLENNAN BL, CLAYMAN RV. Optimal therapy for the distal ureter stone: extracorporeal shock wave lithotripsy versus ureteroscopy. J Urol 1994; 152: 62-5. 3. BIERKENS AF, HENDRIKX AJM, DE LA ROSETTE JJMCH, STULTIENS GNM, BERRLAGE HP, ARENDS AJ, DEBRUYNE FMJ. Treatment of mid and lower ureteric calculi: extracorporeal shock- wave lithotripsy vs laser ureteroscopy. 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