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CA´LCULO APLICADO A` FI´SICA PROF. MS PAULO SE´RGIO COSTA LINO I´ndice 1 Ca´lculo Diferencial de uma Varia´vel 04 1.1 Derivadas 04 1.1.1 Propriedades 05 1.1.2 Derivadas de Func¸o˜es Compostas e Inversas 06 1.1.3 Derivadas de Ordem Superior 07 1.1.4 Ma´ximos e Mı´nimos de Func¸o˜es de uma Varia´vel 07 1.2 Aplicac¸o˜es 10 1.2.1 Movimento Retil´ıneo 10 1.2.2 Esta´tica 11 1.2.2 Termodinaˆmica 13 1.2.3 O´ptica 14 1.3 Exerc´ıcios Propostos 16 2 Ca´lculo Integral de uma Varia´vel 19 2.1 A Integral Indefinida 19 2.1.1 Introduc¸a˜o 19 2.1.2 Definic¸a˜o e Propriedades 19 2.1.3 Integrac¸a˜o por Substituic¸a˜o de Varia´veis e por Partes 20 2.2 A Integral Definida 21 2.2.1 Somas de Riemann 21 2.2.2 Propriedades da Integral Definida 23 2.2.3 Integrais Impro´prias 24 3 2.3 Aplicac¸o˜es 26 2.3.1 A´reas de Placas Planas 26 2.3.2 Movimentos Sob a Gravidade e Velocidade de Escape 28 2.3.3 Movimento Curvil´ıneo de uma Part´ıcula 32 2.3.4 Lanc¸amento de Proje´teis 37 2.3.5 Trabalho e Energia 40 2.3.6 Movimento Harmoˆnico Simples 46 2.3.7 Centro de Gravidade 53 2.3.8 Momento de Ine´rcia 53 2.3.8 Forc¸as Hidrosta´ticas Sobre Superf´ıcies Submersas 61 2.4 Exerc´ıcios Propostos 61 3 Ca´lculo Diferencial de Va´rias Varia´veis 68 3.1 To´picos de Ca´lculo Diferencial de Va´rias Varia´veis 68 3.1.1 Func¸o˜es de Va´rias Varia´veis 68 3.1.2 Derivadas Parciais e Interpretac¸a˜o Geome´trica 68 3.1.3 Crescimento Total e Diferencial Total 68 3.1.4 Derivadas de Func¸o˜es Compostas e Derivadas de Diferentes Or- dens 68 3.1.5 Derivadas Direcionais e Gradientes 68 3.1.6 Ma´ximos e Mı´nimos de Func¸o˜es de Duas Varia´veis 68 3.2 Aplicac¸o˜es 68 4 Ca´lculo Integral de Va´rias Varia´veis 68 Respostas dos Exerc´ıcios Propostos 79 Refereˆncias Bibliogra´ficas 83 4 Cap´ıtulo 1 Ca´lculo Diferencial de uma Varia´vel 1.1 Derivadas Nesta sec¸a˜o, admitimos que os alunos ja´ estejam familiarizados com os conceitos ba´sicos da matema´tica, tais como: Geometria Anal´ıtica, A´lgebra Elementar e Limites. Definic¸a˜o 1.1 Sejam I um intervalo aberto da reta e f : I → R. Suponhamos que se da´ um acre´scimo ∆x (positivo ou negativo) dado a varia´vel x. A derivada de f em x e´ definida por: lim ∆x→0 ∆y ∆x (1.1) se este limite existir, onde ∆y := f(x+∆x)−f(x) e´ o acre´scimo recebido pela varia´vel y. Esta derivada quando existe e´ denotada por f ′(x) ou dy dx e dizemos que f e´ deriva´vel ou diferencia´vel em x (Fig. 1.1). 5 6 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Figura 1.1: Geometricamente, f ′(x) = tan θ. A tabela abaixo apresenta a derivada de algumas func¸o˜es elementares: f(x) f ′(x) c 0 xn nxn−1 ex ex cosh(x) sinh(x) sinh(x) cosh(x) cos(x) − sin(x) sin(x) cos(x) ln(x) 1/x Tabela 1.1: Derivadas de func¸o˜es elementares 1.1.1 Propriedades Teorema 1.1 Sejam u e v duas func¸o˜es definidas em um intervalo I da reta e k ∈ R. Enta˜o: 1.1. DERIVADAS 7 i) (ku)′ = ku′; ii) (u+ v)′ = u′ + v′; iii) (uv)′ = u′v + uv′ iv) Se v 6= 0, enta˜o ( u v )′ = u′v − uv′ v2 Atrave´s do Teor.(1.1) podemos obter a derivada de va´rias outras func¸o˜es elementares, tais como tan(x), sec(x), cot(x), xnex, etc. Seja y = f(x) uma func¸a˜o composta, isto e´, pode ser escrita sob a forma: y = f(u) onde u = g(x) (1.2) ou ainda, y = f(g(x)). Na expressa˜o (1.2), u chama-se varia´vel intermedia´ria. 1.1.2 Derivadas de Func¸o˜es Compostas e Inversas Teorema 1.2 (Regra da Cadeia) Se a func¸a˜o u = g(x) tem derivada u′(x) = g′(x) no ponto x e a func¸a˜o y = f(u) tem derivada y′u = f ′(u) para o valor correspondente de u, enta˜o no ponto considerado x a func¸a˜o composta y = f(g(x)) tem derivada em x dada por y′x = f ′u(u)g′(x), onde u deve ser substitu´ıda pela expressa˜o u = g(x). Mais precisamente, dy dx = dy du du dx (1.3) Exemplo 1.1 Consideremos o problema de derivar a func¸a˜o y = (x2 − 1)5. Note que y e´ uma func¸a˜o composta, isto e´, se definirmos u(x) = x2 − 1, enta˜o y = u5, segue que y′(x) = y′(u)u′(x) = 5u4 · 2x = 10x(x2 − 1)4. 8 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Corola´rio 1.1 (Derivada da func¸a˜o inversa) Se a func¸a˜o y = f(x) admite uma func¸a˜o inversa x = g(y) em que a derivada g′(y) e´ diferente de zero em y, enta˜o, a func¸a˜o y = f(x) possui no correspondente x uma derivada f ′(x) igual a 1/g′(y), ou seja, dy dx = 1 dx dy (1.4) Exemplo 1.2 Calcule a derivada das func¸o˜es abaixo: a) f : [−1, 1]→ [−pi/2, pi/2], sabendo que f e´ a inversa de sinx; b) f : R→ (−pi/2, pi/2), sabendo que f e´ a inversa de tanx. As func¸o˜es nos ı´tens a) e b) sa˜o conhecidas por arcsinx e arctan(x) respectivamente. a) y = f(x) = sin−1 x ⇒ x = sin y ⇒ dx dy = cos y = √ 1− sin2 y = √ 1− x2 Logo, pelo Cor. (1.1), dy dx = 1 dx dy = 1√ 1− x2 Tomamos o sinal + antes da raiz, porque a func¸a˜o y = arcsinx toma os seus valores sobre o segmento −pi/2 ≤ y ≤ pi/2 de modo que cos y ≥ 0. O item b) segue de maneira ana´loga e fica como exerc´ıcio. 1.1.3 Derivadas de Ordem Superior A derivada de y = x3 e´ y′ = 3x2. Mas 3x2 tambe´m pode ser derivada, obtendo 6x. E´ natural denotar essa func¸a˜o por y′′ e chama´-la a segunda derivada da func¸a˜o original. Derivando a segunda derivada y′′ = 6x, obtemos a terceira derivada y′′′ = 6, e assim 1.1. DERIVADAS 9 indefinidamente. Dada a func¸a˜o y = f(x), e´ comum denotar a ene´sima derivada de y em relac¸a˜o a x por dny dxn Exemplo 1.3 Calcule a derivada segunda das func¸o˜es abaixo: a) y = cosh(2x); b) y = arctan(t2 + 1). a) Usando a tabela e a regra da cadeia, temos: y′(t) = 2 sinh(2x) ⇒ y′′(t) = 4 cosh(2x); b) Pelo item b) do Exemplo anterior, temos: y′ = 2t 1 + (1 + t2)2 ⇒ y′′ = 2[1 + (1 + t 2)2]− 2(1 + t2)(2t)2 [1 + (1 + t2)]2 = 4− 4t2 − 4t4 (2 + 2t2 + t4)2 Exemplo 1.4 Determine a derivada de quarta ordem da func¸a˜o f(t) = 2 sin(3t). Usando a regra da cadeia e tabela acima, temos: f ′(t) = 6 cos(3t) ⇒ f ′′(t) = −18 sin(3t) ⇒ f ′′′(t) = −54 cos(3t) ⇒ f (4)(t) = 162 sin(3t). 1.1.4 Ma´ximos e Mı´nimos de Func¸o˜es de uma Varia´vel Definic¸a˜o 1.2 Dizemos que f e´ crescente num certo intervalo I da reta se, nesse intervalo, x1 < x2 implica f(x1) < f(x2). Em linguagem geome´trica, isto significa que o gra´fico e´ ascendente quando o ponto que o trac¸a se move da esquerda para direita. De maneira ana´loga, definimos uma func¸a˜o decrescente. 10 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Teorema 1.3 Uma func¸a˜o f(x) e´ crescente nos intervalos em que f ′(x) > 0 e e´ de- crescente nos intervalos em que f ′(x) < 0. Definic¸a˜o 1.3 Dizemos que x0 e´ um ponto cr´ıtico da func¸a˜o f(x) se f ′(x0) = 0. Geometricamente, a reta tangente num ponto cr´ıtico e´ paralela ao eixo x (Fig. 1.2). Figura 1.2: Definic¸a˜o 1.4 Seja x∗ um ponto cr´ıtico de f(x). i) Dizemos que x∗ e´ um ponto de ma´ximo local de f(x) se existe � > 0 tal que f ′(x) > 0 para x ∈ (x∗ − �, x∗) e decrescente para x ∈ (x∗, x∗ + �); ii) Dizemos que x∗ e´ um ponto de m´ınimo local de f(x) se existe � > 0 tal que f ′(x) < 0 para x ∈ (x∗ − �, x∗) e crescente para x ∈ (x∗, x∗ + �); iii) Se existe � > 0 tal que, f ′(x) na˜o muda de sinal para x ∈ (x∗−�, x∗+�), dizemos que x∗ e´ um ponto de inflexa˜o. 1.1. DERIVADAS 11 Exemplo 1.5 Na (Fig. 1.2) acima, x0 e´ um ponto de m´ınimo local e x1 e´ um ponto de ma´ximo local de f(x). Exemplo 1.6 Verifique que x = 0 e´ um ponto de inflexa˜o de f(x) = x3. Como f ′(x) = 3x2 ≥ 0 ∀x ∈ R, o resultado segue da Def. 1.4. Teorema 1.4 (Fermat) Seja x∗ um ponto cr´ıtico de f(x). i) Se f ′′(x∗) < 0, enta˜o x∗ e´ um ponto de ma´ximo local de f(x);ii) Se f ′′(x∗) > 0, enta˜o x∗ e´ um ponto de m´ınimo local de f(x); iii) Se f ′′(x∗) = 0 e f ′′′(x∗) 6= 0, enta˜o x∗ e´ um ponto de inflexa˜o de f(x). Geometricamente, uma segunda derivada positiva f ′′(x), indica que o coeficiente angular f ′(x) e´ uma func¸a˜o crescente de x. Isto significa que a tangente a` curva gira no sentido anti-hora´rio quando nos movemos ao longo da curva, da esquerda para direita. Neste caso, a curva e´ dita coˆncava para cima. Tal curva esta´ acima de sua tangente, exceto no ponto de tangeˆncia. Analogamente, define-se uma curva coˆncava para baixo. Exemplo 1.7 Determine os pontos cr´ıticos da func¸a˜o f(x) = x3/3 + x2/2− 6x+ 8 e esboce seu gra´fico. f ′(x) = x2 + x − 6 = 0 ⇒ x1 = −3 e x2 = 2 sa˜o os pontos cr´ıticos. Sendo f ′′(x) = 2x + 1, enta˜o, para x1 = −3 ⇒ f ′′(−3) = −5 < 0, de modo que x1 e´ um ponto de ma´ximo local e para x2 = 2 ⇒ f ′′(2) = 5 > 0, de modo que x2 e´ um ponto de m´ınimo local. Ale´m disso, note que para x < −3, a f(x) e´ crescente, para −3 < x < 2, f(x) e´ decrescente e para x > 2, f(x) volta a crescer. Assim, calculando f(−3) e f(2) e mais alguns pontos temos o gra´fico abaixo: 12 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Figura 1.3: Observac¸a˜o 1.1 Os ma´ximos e m´ınimos podem ocorrer de treˆs maneiras que na˜o foram cobertas pela discussa˜o precedente: nas extremidades, cu´spides e quinas. Como exem- plos consideremos a treˆs func¸o˜es y = √ 1− x2, y = x2/3 e y = 1− |x| (Fig. 1.4). Figura 1.4: 1.2. APLICAC¸O˜ES 13 1.2 Aplicac¸o˜es Dentre as aplicac¸o˜es mais nota´veis do Ca´lculo esta˜o aquelas em que se buscam os valores ma´ximos e m´ınimos de func¸o˜es. O dia-a-dia esta´ cheio de tais problemas e e´ natural que os matema´ticos e outras pessoas os considerem interessantes e importantes. Um engenheiro ao projetar um novo automo´vel deseja maximizar a eficieˆncia. Um piloto de linha ae´rea tenta minimizar o tempo de voˆo e o consumo de combust´ıvel. Em cieˆncia, no´s, muitas vezes, achamos que a natureza age de maneira maximizar ou minimizar uma certa quantidade. Nesta sec¸a˜o veremos atrave´s de va´rios exemplos, aplicac¸o˜es do Ca´lculo Diferencial a` F´ısica. 1.2.1 Movimento Retil´ıneo O movimento de uma part´ıcula P ao longo de uma reta e´ definido pela equac¸a˜o s = f(t), onde t ≥ 0 e´ o tempo e s e´ a distaˆncia de P a um ponto fixo O de sua trajeto´ria. A velocidade de P no tempo t e´ v = ds dt . • Se v > 0, P esta´ se movendo no sentido de s crescente; • Se v < 0, P esta´ se movendo no sentido de s decrescente; • Se v = 0, P esta´ em repouso naquele instante. A acelerac¸a˜o de P no tempo t e´ a = dv dt = d2s dt2 . • Se a > 0, v e´ crescente; • Se a < 0, v e´ decrescente. Ale´m disso, se a e v tiverem o mesmo sinal, o movimento de P e´ acelerado e se a e v tiverem sinais opostos, o movimento de P e´ retardado. 14 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Exemplo 1.8 O caminho percorrido por uma part´ıcula sobre uma reta e´ dado por s(t) = t3 − 6t2 + 9t+ 4. a) Achar s e a quando v = 0; b) Achar s e v quando a = 0; c) Quando s e´ crescente? d) Quando v e´ crescente? e) Quando e´ mudado o sentido do movimento? A velocidade e´ v(t) = 3t2 − 12t+ 9 e a acelerac¸a˜o e´ a(t) = 6t− 12. a) Para v = 0, temos t = 1 s e t = 3 s, de modo que s(1) = 8 m, s(3) = 4 m e a(1) = −6 m/s2 e a(3) = 6 m/s2; b) Para a = 0, temos t = 2 s, de modo que s(2) = 6 m e v(2) = −3 m/s; c) Para t < 1 s e t > 3 s, v(t) e´ maior que zero, donde segue que s(t) e´ crescente nesses intervalos. Os ı´tens d) e e) ficam como exerc´ıcios. Exemplo 1.9 Um navio A esta´ navegando, rumo sul, a 16 km/h e um segundo navio B, 32 km ao sul de A, navega rumo a leste a 12 km/h (Fig.1.5) a) A que raza˜o esta˜o eles esta˜o se aproximando ou separando no fim de 1 h? b) Em que instante deixam eles de se aproximar um do outro e qual a distaˆncia que os separa nesse momento? 1.2. APLICAC¸O˜ES 15 Figura 1.5: A figura abaixo representa as posic¸o˜es dos navios apo´s um tempo t. A distaˆncia s(t) entre os navios e´ dada por: s(t) = √ (12t)2 + (32− 16t)2 = √ 144t2 + (32− 16t)2 (1.5) Derivando (1.5), temos a velocidade relativa entre eles, isto e´: v(t) = 16(25t− 32)√ 144t2 + (32− 16t)2 (1.6) a) No fim de 1 h, temos v(1) = −28/5 km/h, ou seja, os navios esta˜o se aproxi- mando; b) Eles deixam de aproximar um do outro quando v = 0, isto e´, para t = 32/25 = 1, 28 h. Nesse instante, s = 96/5 = 19, 2 km. 1.2.2 Esta´tica Vejamos uma aplicac¸a˜o do Ca´lculo Diferencial a` Esta´tica 16 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Exemplo 1.10 Uma barra uniforme AB que pode girar em torno do ponto A suporta uma carga de Q kgf a` distaˆncia de a cm do ponto A e e´ mantida em equil´ıbrio por meio de uma forc¸a vertical P , aplicada no seu extremo livre B, (Fig. 1.6). Cada cent´ımetro de comprimento da barra pesa q kgf . Determinar o comprimento x da mesma de tal forma que a forc¸a P seja a m´ınima poss´ıvel e achar Pmin. Calculando a soma dos momentos em relac¸a˜o a` parede no sentido anti-hora´rio e igualando a zero, temos: −aQ− qx · x 2 + Px = 0 ⇒ P (x) = aQ x + qx 2 Calculando P ′(x) e igualando a zero, temos x = √ 2aQ/q. Fazendo o teste da segunda derivada, vemos que esse valor minimiza P (x) e Pmin = P ( √ 2aQ/q) = √ 2aQq. Figura 1.6: 1.2.3 Termodinaˆmica Exemplo 1.11 (Lei de Boyle) Numa amostra de ga´s mantida a uma temperatura con- stante enquanto esta´ sendo comprimida por um pista˜o num cilindro, sua pressa˜o p e seu volume V esta˜o relacionados pela equac¸a˜o pV = c, onde c e´ uma constante. Determine dp dt em termos de p e dV dt . 1.2. APLICAC¸O˜ES 17 Sendo p = cV −1, temos: dp dt = dp dV dV dt = −cV −2dV dt = − p V dV dt Exemplo 1.12 Os meteorologistas teˆm interesse na expansa˜o adiaba´tica de grandes massas de ar, em que as temperaturas podem variar, mas nenhum calor e´ adicionado ou retirado. A lei de transformac¸a˜o adiaba´tica para o ar e´ pV 1,4 = c, onde p e´ a pressa˜o, V e´ o volume e c e´ uma constante. O volume de uma certa caˆmara de ar isolada esta´ decrescendo uniformemente a uma taxa de 2, 83× 10−2 m3/s. Determine a velocidade com que a pressa˜o cai no instante em que ela e´ 45 N/cm2 e o volume e´ 37× 10−2 m3. Sendo p = cV −1,4, temos: dp dt = dp dV dV dt = −1, 4cV −2,4dV dt = −1, 4 p V dV dt No instante t∗ em que a pressa˜o e´ 45 N/cm2, a taxa de decrescimento do volume e´ −2, 83× 10−2 m3/s e o volume e´ 37× 10−2 m3, a taxa em que a pressa˜o esta´ caindo e´ dada por: p′(t∗) = −1, 4× 45 10−4 N m2 × 1 37× 10−2 m3 ×−2, 83× 10 −2m3 s = 4, 818 N/cm2s 1.2.4 O´ptica O ”princ´ıpio de Fermat”, afirma que um raio luminoso se propaga numa trajeto´ria de modo que o tempo de percurso e´ m´ınimo. Usaremos esse princ´ıpio para deduzir a lei de refrac¸a˜o da luz. Exemplo 1.13 (Refrac¸a˜o da Luz) Em meios diferentes (ar, a´gua, vidro), a luz tem velocidades diferentes. Se um raio de luz passa do ar para a a´gua, (Fig.1.7), ele e´ refratado passando a uma direc¸a˜o mais pro´xima da perpendicular a` interface. Suponha 18 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL que o raio de luz de A a M tem velocidade va e de M a B tem velocidade vw. Prove que sinα sinβ = va vw Colocando um sistema de eixos cartesianos passando por A1MB1, de modo que M e´ a origem, segue que a abscissa de B1 e´ x e de A1 e´ c − x. Por outro lado, sendo a velocidade da luz no ar va e na a´gua e´ vw, enta˜o o tempo total de percurso T e´ o tempo no ar mais o tempo na a´gua, isto e´, T (x) = √ b2 + x2 vw + √ a2 + (c− x)2 va Calculando a derivada desta func¸a˜o e igualandoa zero, segue o resultado. Figura 1.7: Exemplo 1.14 Considere a reta tangente em um ponto P = (x, y) da para´bola y2 = 4px (Fig.1.8), onde F = (p, 0) e´ o foco. Seja α o aˆngulo entre a tangente e o segmento FP e seja β o aˆngulo entre a tangente e a reta horizontal que passa por P . Prove que α = β. 1.2. APLICAC¸O˜ES 19 Figura 1.8: O coeficiente da reta tangente que passa por P e´ dy dx = 1 dx dy = 1 y 2p = 2p y = tanβ (1.7) Por outro lado, o coeficiente da reta que passa por P e pelo foco F e´ tan θ = ∆y ∆x = y x− p (1.8) onde θ e´ o aˆngulo formado por FP e o eixo x. Prolongando a tangente ate´ o eixo x, teremos um triaˆngulo e pelo Teor. do aˆngulo externo, temos θ = α+ β. Assim, usando (1.7) e (1.8), temos: tanα = tan(θ − β) = tan θ − tanβ 1 + tan θ tanβ = y x− p − 2p y 1 + y x− p · 2p y = 2p y (1.9) De (1.7) e (1.9), temos o resultado desejado. 20 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Observac¸a˜o 1.2 O fato acima e´ conhecida por propriedade de reflexa˜o das para´bolas e tem muitas aplicac¸o˜es. E´ usada, por exemplo, no desenho do espelho dos faro´is. Para construir, tal espelho giramos a para´bola ao redor de seu eixo a fim de formar uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o; depois pintamos a parte interna com tinta prateada criando uma superf´ıcie refletora. Colocando-se uma fonte de luz no foco F , cada raio que a fonte irradia sera´ refletido na superf´ıcie e adotara´ como trajeto´ria uma reta paralela ao eixo. O mesmo princ´ıpio e´ utilizado no desenho de espelho de telesco´pios refletores e fornos solares. 1.3 Exerc´ıcios Propostos 1. Um corpo se move sobre uma reta segundo a lei s = t3 2 − 2t. Determine sua velocidade e acelerac¸a˜o no fim de 2 segundos. 2. Um corpo se move sobre uma horizontal de acordo com a lei s = f(t) = t3 − 9t2 + 24t. (a) Quando s e´ crescente e quando e´ decrescente? (b) Quando v e´ crescente e quando e´ decrescente? (c) Quando o movimento do corpo e´ acelerado e quando e´ retardado? (d) Determinar a distaˆncia total percorrida nos primeiros 5 segundos do movi- mento. 3. O alcance da trajeto´ria de um proje´til lanc¸ado (no va´cuo) com uma velocidade inicial v0 sob um aˆngulo θ com o horizonte e´ dado pela fo´rmula R = v20 g sin(2θ) 1.3. EXERCI´CIOS PROPOSTOS 21 onde g e´ a acelerac¸a˜o da gravidade. Para uma dada velocidade inicial v0, deter- minar para que valor de θ o alcance da trajeto´ria sera´ ma´ximo. 4. Um raio de luz parte de um ponto A e um ponto P sobre um espelho plano, sendo enta˜o refletido e passando por um ponto B (Fig. 1.9). Medidas acuradas mostram que o raio incidente e o raio refletido formam aˆngulos iguais com o espelho: α = β. Use o princ´ıpio de Fermat e prove este resultado. 5. Eleva-se um peso w com ajuda de uma alavanca. O peso encontra-se a distaˆncia a cent´ımetros do ponto de apoio, cada parte da alavanca de 1 cm de compri- mento pesa q gramas. Qual deve ser o comprimento da alavanca para que a forc¸a necessa´ria para elevar o peso seja m´ınima? Figura 1.9: 6. A parte inferior de um mural de 12 m de altura, esta´ a 6 m de altura com relac¸a˜o aos olhos do observador. Partindo da hipo´tese de que a vista mais favora´vel e´ obtida quando o aˆngulo sob o qual e´ visto o mural e´ ma´ximo, determinar a distaˆncia que deve separar o observador da parede. 22 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Sugesta˜o: Seja θ o aˆngulo sob o qual o mural e´ visto e x a distaˆncia procurada, (Fig. 1.10), e deduza uma relac¸a˜o entre θ e x. Figura 1.10: 7. Como as para´bolas, as elipses teˆm tambe´m uma propriedade de reflexa˜o. Seja P um ponto sobre uma elipse com focos F e F ′ e seja T a tangente em P (Fig. 2.1). Se T faz aˆngulo α e β com os dois raios focais PF e PF ′, enta˜o α = β. Prove este resultado. Figura 1.11: Observac¸a˜o 1.3 Essa propriedade de reflexa˜o na˜o tem aplicac¸o˜es importantes 1.3. EXERCI´CIOS PROPOSTOS 23 como as que vimos no caso das para´bolas, mas ha´ pelo menos uma consequeˆncia divertida. Seja a elipse da figura girada ao redor de seu eixo maior para formar uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o e imagine que e´ constru´ıdo um quarto com suas paredes e teto tendo a forma da parte superior dessa superf´ıcie, com os dois focos mais ou menos na altura dos ombros. Enta˜o um susurro emitido num foco pode ser claramente ouvido a uma distaˆncia considera´vel, no outro foco, mesmo que seja inaud´ıvel em pontos intermedia´rios, pois as ondas sonoras batem nas paredes e sa˜o refletidas dirigindo-se ao segundo foco, e ale´m de chegarem juntas, pois todas elas percorrem a mesma distaˆncia. 8. Num certo instante, uma amostra de ga´s que obedece a` Lei de Boyle ocupa um volume de 1000 cm3 a uma pressa˜o de 10 N/cm2. Se esse ga´s esta´ sendo comprimido isotermicamente a` taxa de 12 cm3/min, ache a taxa com que a pressa˜o esta´ crescendo no instante em que o volume e´ de 600 cm3. 24 CAPI´TULO 1. CA´LCULO DIFERENCIAL DE UMA VARIA´VEL Cap´ıtulo 2 Ca´lculo Integral de uma Varia´vel 2.1 A Integral Indefinida 2.1.1 Introduc¸a˜o Nosso estudo no cap´ıtulo anterior tratou do problema das tangentes e suas diversas aplicac¸o˜es na F´ısica. A noc¸a˜o de derivadas e´ estendido para func¸o˜es de va´rias varia´veis, func¸o˜es vetoriais, func¸o˜es de uma varia´vel complexa, enriquecendo toda Matema´tica. Ale´m de iniciar o estudo intensivo de derivadas, Newton e Leibniz descobriram tambe´m que muitos problemas de geometria e f´ısica dependem de ”derivac¸a˜o para tra´s”ou ”antiderivac¸a˜o”. Esse e´, a`s vezes, chamado problema inverso das tangentes: dada a derivada de uma func¸a˜o, achar a pro´pria func¸a˜o. 25 26 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL 2.1.2 Definic¸a˜o e Propriedades Definic¸a˜o 2.1 Se F (x) e´ uma func¸a˜o cuja derivada F ′ = f(x), F (x) e´ denominada uma integral de f(x) e denotamos por F (x) = ∫ f(x)dx Note que se F (x) for uma integral de f(x), F (x) + C tambe´m o sera´, sendo C uma constante arbitra´ria. Desse fato, segue a seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o 2.2 A integral indefinida de f(x) e´ a integral mais geral da func¸a˜o, isto e´,∫ f(x)dx = F (x) + C Teorema 2.1 Da Def. (2.2) e das propriedades de derivac¸a˜o, temos: i) ∫ d dx [f(x)]dx = f(x) + C; ii) ∫ (u+ v)dx = ∫ udx+ ∫ vdx; iii) ∫ audx = a ∫ udx, onde a e´ uma constante qualquer. iv) ∫ undu = un+1 n+ 1 + C, se n 6= −1; v) ∫ du u = lnu+ C, se u > 0; vi) ∫ eudu = eu + C; vii) ∫ sinudu = − cosu+ C; viii) ∫ cosudu = sinu+ C; ix) ∫ du√ a2 − u2 = arcsin u a + C, se u2 < a2; x) ∫ du a2 + u2 = 1 a arctan u a + C 2.1. A INTEGRAL INDEFINIDA 27 2.1.3 Integrac¸a˜o por Substituic¸a˜o de Varia´veis e por Partes No me´todo de substituic¸a˜o de varia´veis introduzimos a varia´vel auxiliar u como um novo s´ımbolo para uma parte do integrando na esperanc¸a de que sua diferencial du va´ responder por alguma outra parte, e por meio disso, reduzir a integral completa a uma forma facilmente reconhec´ıvel. Quando escrevemos a fo´rmula da derivada de um produto (a regra do produto) na notac¸a˜o de diferencial, temos d(uv) = udv + vdu ou udv = d(uv)− vdu e por integrac¸a˜o obtemos, a regra de integrac¸a˜o por partes∫ udv = uv − ∫ vdu (2.1) Para aplicar a regra separar o integrando em duas partes, uma que e´ u e a outra que, juntamente com dx, e´ dv. Tem-se duas regras gerais: i) A parte escolhida como dv deve ser facilmente integra´vel; ii) ∫ vdu deve ser mais simples do que ∫ udv. Exemplo 2.1 Calcule as integrais abaixo: a) ∫ cosxdx√ 1 + sinx ; b) ∫ xe2xdx. a) Escolhemos u = 1 + sinx, de modo que du= cosxdx e∫ cosxdx√ 1 + sinx = ∫ du√ u = 2 √ u+ C = 2 √ 1 + sinx+ C 28 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL b) Escolhemos u = x ⇒ du = dx e dv = e2x ⇒ v = e2x/2. Assim, pela fo´rmula de integrac¸a˜o por partes segue que:∫ xe2xdx = ( x 2 − 1 4 ) e2x + C Existem outras te´cnicas de integrac¸a˜o, tais como integrais por substituic¸a˜o trigonome´trica, frac¸o˜es parciais, completamento de quadrados, etc. Para o leitor interessado recomen- damos os livros [2, 3] e [4]. 2.2 A Integral Definida 2.2.1 Somas de Riemann Seja f(x) uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b]. Para definir a integral definida, dividimos o intervalo [a, b] em n subintervalos pelos pontos a = x0, x1, . . . , xn = b, com x0 < x1 < x2 < . . . < xn e fac¸amos xk − xk−1 = ∆xk, para k = 1, . . . n. Sejam mk e Mk e´ o menor e o maior valor de f(x) sobre o subintervalo [xk−1, xk], respectivamente e formemos a soma S n := n∑ k=1 mk∆xk Sn := n∑ k=1 Mk∆xk A soma S n chama-se soma inferior de Riemann e Sn soma superior de Riemann; Seja ξk ∈ (xk−1, xk) para k = 1, . . . , n e formemos a soma (Fig. 2.1). Sn = n∑ k=1 f(ξk)∆xk 2.2. A INTEGRAL DEFINIDA 29 Figura 2.1: que se chama soma de Riemann para a func¸a˜o f(x) sobre o intervalo [a, b]. Dado que, qualquer que seja ξk sobre o segmento [xk−1, xk] se tem mk ≤ f(ξk) ≤Mk e que ∆xk > 0, deduz-se mk∆xk ≤ f(ξk)∆xk ≤Mk∆xk, donde segue que n∑ k=1 mk∆xk ≤ n∑ k=1 f(ξk)∆xk ≤ n∑ k=1 Mk∆xk ou S n ≤ Sn ≤ Sn Designemos por max[xk−1, xk] o comprimento do maior dos segmentos, |xk − xk−1| para k = 1, . . . , n. Consideremos diversos cortes de [a, b] em subintervalos [xk−1, xk] tais que max[xk−1, xk] → 0. E´ evidente que o nu´mero n de subintervalos de uma decomposic¸a˜o tende para o infinito. Pode-se formar para cada corte, escolhendo os valores correspondentes ξk, a soma de Riemann n∑ k=1 f(ξk)∆xk de modo que se possa falar de cortes sucessivos e da se´rie das somas de Riemann que lhes correspondem. 30 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Definic¸a˜o 2.3 Suponhamos que para uma se´rie de cortes dados, com max ∆xk → 0 e para ξk quaisquer, a soma ∑n k=1 f(xk)∆xk, tende para um u´nico limite I, dizemos que a func¸a˜o f(x) e´ integra´vel sobre o intervalo [a, b]. O limite I chama-se integral definida da func¸a˜o f(x) sobre [a, b]. Designa-se por∫ b a f(x)dx e escreve-se: lim max ∆xk→0 n∑ k=1 f(ξk)∆xk = ∫ b a f(x)dx O nu´mero a e´ o limite inferior da integral e b o limite superior. E´ poss´ıvel demonstrar que se uma func¸a˜o y = f(x) e´ cont´ınua sobre [a, b], enta˜o ela e´ integra´vel sobre esse intervalo. Ale´m disso, se f(x) ≥ 0, enta˜o ∫ ba f(x)dx e´ numericamente igual a` a´rea de f(x) sobre esse intervalo. 2.2.2 Propriedades da Integral Definida Teorema 2.2 Suponhamos que as func¸o˜es f(x) e g(x) sejam integra´veis no intervalo [a, b]. Enta˜o i) ∫ a a f(x)dx = 0; ii) ∫ b a f(x)dx = − ∫ a b f(x)dx; iii) ∫ b a f(x)dx = ∫ c a f(x)dx+ ∫ b c f(x)dx, sendo a < c < b; iv) ∫ b a kf(x)dx = k ∫ b a f(x)dx; v) ∫ b a [f(x) + g(x)]dx = ∫ b a f(x)dx+ ∫ b a g(x)dx; vi) Se f(x) ≤ g(x) em [a, b], enta˜o ∫ ba f(x)dx ≤ ∫ ba g(x)dx. 2.2. A INTEGRAL DEFINIDA 31 Teorema 2.3 (Teorema Fundamental do Ca´lculo) Se F (x) e´ uma primitiva da func¸a˜o cont´ınua f(x), enta˜o ∫ b a f(x)dx = F (b)− F (a) Teorema 2.4 (Mudanc¸a de Varia´veis na Integral Definida) Seja a integral ∫ b a f(x)dx, em que f(x) e´ cont´ınua sobre o segmento [a, b]. Introduzimos a nova varia´vel t pela fo´rmula x = φ(t). Se i) φ(α) = a e φ(β) = b; ii) φ(t) e φ′(t) sa˜o cont´ınuas sobre o segmento [a, b]; iii) f [φ(t)] e´ definida e cont´ınua sobre [α, β], enta˜o,∫ b a f(x)dx = ∫ β α f [φ(t)]φ′(t)dt Exemplo 2.2 Calcule a integral ∫ r −r √ r2 − x2dx e interprete-a geometricamente. Seja I a integral acima. Por simetria, podemos integrar de 0 a r e duplicar o valor, mas para isso, seja x = r sin θ ⇒ dx = r cos θdθ e I = 2 ∫ pi/2 0 √ r2 − (r sin θ)2 r cos θdθ = 2r2 ∫ pi/2 0 cos2 θdθ = ∫ pi/2 0 [1+cos(2θ)]dθ = pir2 2 Geometricamente, I representa a a´rea compreendida acima do eixo x e abaixo da cir- cunfereˆncia de raio r centrada na origem. 2.2.3 Integrais Impro´prias Definimos a integral ∫ ∞ a f(x)dx (2.2) 32 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL em que o limite superior e´ infinito e o integrando f(x) e´ suposto cont´ınuo no intervalo ilimitado a ≤ x <∞ , de maneira natural sugerida pela integral acima, isto e´, integramos de a ate´ um limite superior finito pore´m varia´vel t e depois fazemos t tender a∞. Assim,∫ ∞ a f(x)dx = lim t→∞ ∫ t a f(x)dx Se o limite existe e tem um valor finito, a integral impro´pria diz-se convergente, e esse valor e´ atribu´ıdo a ele. Caso contra´rio, a integral e´ chamada divergente. Se f(x) ≥ 0, enta˜o (2.2) pode ser encarada como a a´rea da regia˜o ilimitada (Fig.). Nesse caso, a a´rea da regia˜o e´ finita ou infinita conforme a integral impro´pria (2.2) convirja ou divirja. Figura 2.2: Exemplo 2.3 Calcule as integrais impro´prias abaixo: a) ∫∞ 4 dx x √ x ; b) Sabendo que ∫∞ 0 sin(x)dx/x = pi/2, calcule ∫∞ 0 e−x sinx x dx. a) ∫ ∞ 4 dx x √ x = lim t→∞ ∫ t 4 x−3/2dx = lim t→∞ x−1/2 −1/2 ]t 4 = 1 2.2. A INTEGRAL DEFINIDA 33 b) Seja I(p) = ∫∞ 0 e−px sinx x dx para p > 0. Note que I(0) = ∫∞ 0 sin(x)dx/x = pi/2 e I(1) e´ o que queremos achar. Derivando I(p), temos: I ′(p) = d dp ∫ ∞ 0 e−px sinx x dx = ∫ ∞ 0 ∂ ∂p [ e−px sinx x ] dx = − ∫ ∞ 0 e−px sinx dx = − 1 p2 + 1 onde a u´ltima igualdade foi obtida atrave´s de duas integrac¸o˜es por partes. Assim, I(p) = − arctan p+ C. Sendo I(0) = pi/2, segue que I(p) = pi/2− arctan p, de modo que, I(1) = pi/4. Se f(x) e´ cont´ınua em toda reta, enta˜o escrevemos, por definic¸a˜o∫ ∞ −∞ f(x)dx = ∫ 0 −∞ f(x)dx+ ∫ ∞ 0 f(x)dx = lim t→−∞ ∫ 0 t f(x)dx+ lim t→∞ ∫ t 0 f(x)dx = lim t→∞ ∫ t −t f(x)dx Exemplo 2.4 Sabendo que ∫ ∞ 0 e−x 2 dx = √ pi 2 calcule o que se pede nos itens abaixo: a) Use o me´todo de integrac¸a˜o por substituic¸a˜o de varia´veis e mostre que∫ ∞ −∞ e−ax 2 dx = √ pi a , a > 0 b) Use o me´todo de integrac¸a˜o por partes e mostre que∫ ∞ −∞ x2e−x 2 dx = √ pi 2 a) Fazendo u = √ ax, enta˜o dx = du/ √ a, temos:∫ ∞ −∞ e−ax 2 dx = ∫ ∞ −∞ e−y2√ a dy = √ pi a 34 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL b) Fazemos u = x ⇒ du = dx e dv = xex2 ⇒ v = ex2/2, de modo que∫ ∞ −∞ x2e−x 2 dx = xe−x2 2 ]∞ −∞ − ∫ ∞ −∞ e−x2/2 2 dx = √ pi 2 2.3 Aplicac¸o˜es Ha´ muitas quantidades na F´ısica que podem ser tratadas essencialmente atrave´s de in- tegrais definidas. Entre elas esta˜o os volumes, os comprimentos de cabos, as a´reas de superf´ıcie, o trabalho realizado por uma forc¸a varia´vel agindo ao longo de um segmento de reta, centro de massa, momentos de ine´rcia, forc¸a hidrosta´tica total que age sob uma barragem, etc. Em cada caso, o processo e´ o mesmo: um intervalo de varia´vel independente e´ dividido em pequenos subintervalos, a quantidade em questa˜o e´ aprox- imada por certas somas correspondentes e o limite dessas somas fornece o valor exato da quantidade na forma de uma integral definida, que e´ enta˜o calculada por meio do Teorema Fundamental. 2.3.1 A´reas de Placas Planas Uma vez que ja´ vimos os detalhes do processo de limite de somas efetuadas para a a´rea sob uma curva, como foi feito anteriormente, seria desnecessa´rio e mono´tono reveˆ-los a cada nova quantidade que encontrarmos. Com essa ide´ia, na (Fig.2.3) consideramos a maneira fa´cil e intuitiva de construir a integral definida de uma func¸a˜o y = f(x). Podemos imaginar que a a´rea sob a curva e´ composta de uma grande quantidade de faixas retangulares verticais finas. A faixa t´ıpica mostrada na (Fig. 2.3) tem altura y e largura dx e, portanto, a´rea dA = ydx ⇒ A = ∫ dA = ∫ b a ydx = ∫ b a f(x)dx (2.3) 2.3. APLICAC¸O˜ES 35 Figura 2.3: Para func¸o˜es na varia´vel y ,isto e´, x = g(y), a a´rea sob o gra´fico e o eixo y entre os limites c e d (Fig.2.4), o elemento infinitesimal de a´rea e´ dado por dA = xdy ⇒ A = ∫ dA = ∫ d c xdy = ∫ d c g(y)dy (2.4) Assim, intuitivamente podemos concluir que a integrac¸a˜o e´ o ato de calcular o todo Figura 2.4: 36 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL de uma quantidade contando-a numa grande quantidade de pedac¸os convenientemente pequenos e depois adicionando esses pedac¸os. Essa abordagem foi desenvolvida por G. W. Leibniz no se´c. XVII na resoluc¸a˜o de va´rios problemas geome´tricos e mecaˆnicos. Observac¸a˜o 2.1 Se ρ = f(θ) representa a equac¸a˜o de uma curva em coordenadas polares, em que f(θ) e´ uma func¸a˜o cont´ınua quando α ≤ θ ≤ β, enta˜o a a´rea desse setor curvil´ıneo e´ dada por S = 1 2 ∫ β α ρ2dθ (2.5) Exemplo 2.5 Calcule a a´rea de uma placa contida no interior de um c´ırculo ρ = 6a cos θ e exterior a` cardio´ide ρ = 2a(1 + cos θ). Figura 2.5: Igualando os ρ e resolvendo para θ, vemos que as curvas se interceptam no primeiro quadrante em θ = pi/3. Assim, por simetria, A = 2×1 2 ∫ pi/3 0 (ρ2c´ırculo−ρ2cardio´ide)dθ = 4a2 ∫ pi/3 0 [(6a cos θ)2−4a2(1+cos θ)2]dθ = 4pia2 u.a. Observe que para calcular a massa de uma placa plana, uniforme e homogeˆnea, basta conhecermos sua a´rea e sua densidade superficial. Vejamos um exemplo. 2.3. APLICAC¸O˜ES 37 Exemplo 2.6 Determine a massa de uma placa plana, uniforme e homogeˆnea, sabendo que ela tem o formato da regia˜o limitada pela para´bola x = 8 + 2y − y2 e o eixo y e que sua densidade e´ σ = 6g/cm2 (Fig. 2.6). Figura 2.6: A = ∫ 4 −2 (8 + 2y − y2)dy = 36u.a. donde segue que M = σA = 6× 36 = 216 g 2.3.2 Movimentos Sob a Gravidade e Velocidade de Escape Grande parte da inspirac¸a˜o original para o desenvolvimento do Ca´lculo proveio da cieˆncia da Mecaˆnica, e esses dois assuntos continuaram inseparavelmente ligados ate´ hoje. A Mecaˆnica repousa sobre certos princ´ıpios ba´sicos que foram primeiramente formulados por Newton. O enunciado desses princ´ıpios requer o conceito de derivada, e veremos nesta sec¸a˜o que suas aplicac¸o˜es dependem da integrac¸a˜o e soluc¸a˜o de equac¸o˜es diferen- ciais. Na Sec. 1.2.1, introduzimos o conceito de movimento ao longo de uma reta. Em contraste, o movimento ao longo de uma trajeto´ria curva chama-se, a`s vezes, movimento 38 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL curvil´ıneo. Nosso objetivo agora e´ completar esse estudo, uma vez que ja´ temos as ferramentas necessa´rias (Ca´lculo Integral). Para isso, precisaremos da Segunda Lei de Newton cujo o enunciado e´ o seguinte: A acelerac¸a˜o de uma part´ıcula e´ diretamente proporcional a` forc¸a F que atua nela e inversamente proporcional a sua massa m, isto e´, a = F m ou, de modo equivalente, F = ma = m dv dt = m d2s dt2 (2.6) Essa equac¸a˜o tem profundas consequeˆncias, pois, em princ´ıpio podemos, determinar a posic¸a˜o da part´ıcula em qualquer instante t, resolvendo (2.6) com condic¸o˜es iniciais apropriadas. Exemplo 2.7 Um garoto arremessa uma bola na direc¸a˜o vertical ao lado de um bar- ranco, como mostrado na (Fig. 2.7). Se a velocidade inicial da bola e´ 15 m/s para cima, e a bola e´ largada a 40 m do fundo do barranco, determine: a) A altura ma´xima alcanc¸ada pela bola; b) A velocidade da bola imediatamente antes de se chocar com o solo. Durante todo tempo em que a bola esta´ em movimento, a mesma esta´ sujeita a uma acelerac¸a˜o constante para baixo de 9, 81 m/s2 devido a` gravidade. Despreze o efeito da resisteˆncia do ar. O eixo de coordenadas para a posic¸a˜o s = 0 e´ tomado na base do barranco conforme mostrado na figura. a) Pela Segunda Lei de Newton, mdv/dt = −mg, donde segue que dv ds ds dt = −g ⇒ ∫ vB vA vdv = − ∫ sB sA gds ⇒ ∫ 0 15 vdv = − ∫ sB 40 gds Resolvendo as integrais acima, segue que sB = 51, 5 m; 2.3. APLICAC¸O˜ES 39 Figura 2.7: b) Para obter a velocidade vC da bola imediatamente antes de chocar-se com o solo, usamos a equac¸a˜o vdv = −gds do item a) para obter∫ vC vB vdv = − ∫ sC sB gds ⇒ ∫ vC 0 vdv = − ∫ 0 51,5 gds ⇒ vC = −31, 8 m/s Exemplo 2.8 (Velocidade de Escape) Suponha que um foguete seja disparado para cima com velocidade inicial v0 e depois se mova sem posterior gasto de energia. Para valores grandes de v0, ele sobe bastante antes de chegar ao repouso e cair de volta a` Terra. Qual deve ser v0 para que o foguete jamais chegue ao repouso e por causa disso escape da atrac¸a˜o gravitacional da Terra? De acordo com a Lei de Gravitac¸a˜o de Newton, duas part´ıculas quaisquer de mate´ria no universo se atraem com uma forc¸a que e´ proporcional a suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distaˆncia entre elas. Considerando que toda massa da 40 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Terra esta´ concentrada em seu centro, podemos trata´-la como se fosse uma part´ıcula (veja a Fig. 2.8), temos: F = −GMm s2 onde G e´ a constante universal de gravitac¸a˜o, M e m sa˜o as massas da Terra e do Figura 2.8: foguete respectivamente e s e´ a distaˆncia do foguete ao centro da Terra. Aplicando a Segunda Lei de Newton, temos: m d2s dt2 = −GMm s2 ⇒ d 2s dt2 = −GM s2 (2.7) Esta equac¸a˜o nos diz que o movimento do foguete na˜o depende de sua massa. Note que d2s dt2 = d dt ( ds dt ) = dv ds ds dt = v dv ds (2.8) Substituindo (2.7) em (2.8), segue que v dv ds = −GM s2 (2.9) 2.3. APLICAC¸O˜ES 41 Na superf´ıcie da Terra, para s = R, a forc¸a gravitacional agindo sobre o foguete e´ igual ao seu pro´prio peso, ou seja, GMm/R2 = mg ⇒ GM = gR2. Substituindo em (2.9), temos: vdv = −gR2ds s2 ⇒ ∫ v v0 vdv = −gR2 ∫ s R ds s2 ⇒ v 2 2 = gR2 s + ( v20 2 − gR ) (2.10) Nossa conclusa˜o final emerge de (2.10) como se segue: para o foguete escapar da Terra, ele deve mover-se de tal modo que v2/2 seja sempre positivo, pois, se v2/2 se anula, o foguete pa´ra e enta˜o cai de volta a` Terra. Mas o primeiro termo a` direita de (2.10) evidentemente tende para zero quando s cresce. Portanto, para garantir que v2/2 seja positivo, na˜o importa qua˜o grande seja s, devemos ter v20/2 − gR ≥ 0, ou seja, v0 ≥ √ 2gR. A quantidade ve := √ 2gR e´ usualmente conhecida como a velocidade de escape da Terra. Sendo R = 6, 37×106 m e g = 9, 81 m/s2, segue que ve = 11, 3 km/s; Exemplo 2.9 Uma barra fina uniforme e homogeˆnea de massa M e´ deformada ate´ adquirir a forma de um semic´ırculo de raio R (Fig. 2.9). a) Qual a forc¸a gravitacional (em mo´dulo e direc¸a˜o) sobre uma part´ıcula de massa m colocada em P , centro de curvatura da barra? b) Qual seria a forc¸a gravitacional sobre m, se a barra tivesse a forma de um c´ırculo completo? Sendo a barra e´ homogeˆnea, sua densidade ρ e´ constante, a sua massa e´ M = ρl = ρpiR. Considere um elemento infinitesimal de massa dM sobre o arco. a) Seja dF o elemento infitesimal de forc¸a entre dM e m. Como a soma de todos os elementos infinitesimais de forc¸a na horizontal se cancelam, pela Lei da Gravitac¸a˜o 42 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.9: Universal de Newton, segue que o mo´dulodo infinite´simo de forc¸a na vertical dFv entre dM e m e´ dado por: dFv = GmdM sin θ R2 = GmρR sin θdθ R2 donde segue que Fv = ∫ pi 0 GmρR sin θdθ R2 = 2Gmρ R = 2 pi GMm R2 b) Por simetria, a forc¸a gravitacional seria nula. 2.3.3 Movimento Curvil´ıneo de uma Part´ıcula Quando uma part´ıcula se desloca ao longo de uma trajeto´ria curva, o movimento e´ chamado movimento curvil´ıneo. Por causa da trajeto´ria ser frequentemente repre- sentada em treˆs dimenso˜es, a ana´lise vetorial sera´ usada para descrever a posic¸a˜o, velocidade e acelerac¸a˜o da part´ıcula. A posic¸a˜o de uma part´ıcula, localizada no ponto P = (x, y, z) em um espac¸o curvo, sera´ designado pelo vetor posic¸a˜o r = r(t) (2.11) 2.3. APLICAC¸O˜ES 43 As coordenadas x, y e z do vetor posic¸a˜o r(t) sera˜o tambe´m func¸o˜es de t, ou seja: x = x(t), y = y(t) e z = z(t) Reciprocamente, treˆs func¸o˜es x(t), y(t) e z(t), consideradas como componentes do vetor, determinam a func¸a˜o vetorial. r(t) = x(t)i + y(t)j + z(t)k (2.12) De (2.12), segue que o mo´dulo de r(t) e´ dado por r = √ x(t)2 + y(t)2 + z(t)2 (2.13) Suponha que durante um pequeno intervalo de tempo ∆t, a part´ıcula percorre uma distaˆncia ∆s ao longo da curva para uma nova posic¸a˜o P (x + ∆x, y + ∆y, z + ∆z), definida por r(t+ ∆) = r(t) + ∆r (Fig. 2.10). Figura 2.10: Definic¸a˜o 2.4 O deslocamento ∆r da part´ıcula e´ definido por ∆r = r(t+ ∆t)− r(t). Definic¸a˜o 2.5 Durante o tempo ∆t, a velocidade me´dia da part´ıcula e´ definida por vm = ∆r ∆t (2.14) 44 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Definic¸a˜o 2.6 A velocidade instantaˆnea e´ definida a partir de (2.14) fazendo ∆t→ 0, ou seja, v = lim ∆t→0 ∆r ∆t = dr dt = x′(t)i + y′(t)j + z′(t)k (2.15) Se denotarmos por vx, vy e vz as componentes da velocidade instantaˆnea, enta˜o de (2.15) temos vx = x′(t) = x˙, vy = y′(t) = y˙, vz = z′(t) = z˙ (2.16) A notac¸a˜o por meio de ”pontos”x˙, y˙ e z˙ representam as derivadas primeiras em relac¸a˜o ao tempo de x = x(t), y = y(t) e z = z(t), respectivamente. Conforme mostrado na (Fig. 2.11), a direc¸a˜o de v e´ sempre tangente a` trajeto´ria do movimento. O mo´dulo de v, que e´ chamado de velocidade escalar, pode ser obtido observando que o mo´dulo do deslocamento ∆r e´ o comprimento do segmento linear P a P ′, (Fig.2.10). Figura 2.11: v = √( dx dt )2 + ( dy dt )2 + ( dz dt )2 = √ dx2 + dy2 + dz2 dt = ds dt (2.17) Assim, a velocidade escalar pode ser obtida diferenciando a func¸a˜o trajeto´ria s em relac¸a˜o ao tempo. 2.3. APLICAC¸O˜ES 45 Definic¸a˜o 2.7 Se a part´ıcula possui uma velocidade v(t) no tempo t e uma velocidade v(t + ∆t) = v(t) + ∆v em t + ∆t, enta˜o a acelerac¸a˜o me´dia da part´ıcula durante o intervalo de tempo ∆t e´ definida como am = ∆v ∆t (2.18) onde ∆v = v(t+ ∆t)− v(t). Definic¸a˜o 2.8 A acelerac¸a˜o instantaˆnea e´ definida a partir de (2.18) fazendo ∆t→ 0, ou seja, a = lim ∆t→0 ∆v ∆t = dv dt = d dt [x′(t)i + y′(t)j + z′(t)k] = d2r dt2 (2.19) Analogamente, se denotarmos por ax, ay e az as componentes da acelerac¸a˜o instantaˆnea, enta˜o de (2.19) temos ax = v˙x = x¨ ay = v˙y = y¨ az = v˙z = z¨ (2.20) Exemplo 2.10 (Movimento Circular Uniforme) Uma part´ıcula de massa m move-se no sentido anti-hora´rio na circunfereˆncia x2 + y2 = R2 com velocidade constante v (Fig.2.12). Calcule a acelerac¸a˜o da part´ıcula e a forc¸a necessa´ria para produzir esse movimento. Note que cos θ = x/R ⇒ x(θ) = R cos θ. Analogamente, sin θ = y/R ⇒ y(θ) = R sin θ, de modo que r(θ) = R cos θi +R sin θj, onde θ e´ o paraˆmetro. Como s = Rθ, temos v = ds dt = R dθ dt ⇒ dθ dt = v R (2.21) 46 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.12: A partir de (2.21), podemos calcular a velocidade e acelerac¸a˜o, usando a regra da cadeia. De fato, v = dr dt = dr dθ dθ dt = (−R cos θi +R sin θj) v R = v(− sin θi + cos θj) (2.22) De (2.22), segue que a = dv dt = dv dθ dθ dt = v d dθ (− sin θi + cos θj)dθ dt = − v 2 R2 r Assim, o vetor acelerac¸a˜o a aponta no sentido do centro da circunfereˆncia e tem mo´dulo dado por a = v2 R2 r = v2 R , pois r = R De acordo com a Lei de Newton, a forc¸a F necessa´ria para produzir esse movimento deve apontar para o centro da circunfereˆncia com intensidade constante mv2/R. Tal forc¸a chama-se forc¸a centr´ıpeta. Exemplo 2.11 O movimento de uma gota B deslizando para baixo ao longo da tra- jeto´ria espiral mostrada na (Fig.2.13) e´ definido pelo vetor posic¸a˜o r = 2 sin(2pit)i + 2.3. APLICAC¸O˜ES 47 2 cos(2pit)j+ tk, onde o mo´dulo de r e´ dado em metros, t em segundos e os argumentos para o seno e cosseno sa˜o dados em radianos. Determine a localizac¸a˜o da gota quando t = 2/3 s, e os mo´dulos da velocidade e acelerac¸a˜o da gota neste instante Figura 2.13: A posic¸a˜o da gota para t = 2/3 s e´ r(2/3) = 2 sin(4pi/3)i + 2 cos(4pi/3)j + 2/3k = −√3i− j+2/3k. O mo´dulo deste vetor representa a distaˆncia da gota desde da origem O, que e´ r(2/3) = √ ( √ 3)2 + (−1)2 + (2/3)2 = 2 √ 10 3 A velocidade e´ definida por v = dr dt = 4pi cos(2pit)i− 4pi sin(2pit)j + k Portanto, para t = 2/3 s o mo´dulo da velocidade, ou velocidade escalar, sera´ v = √ v2x + v2y + v2z = √ [4pi cos(4pi/3)]2 + [−4pi sin(4pi/3)]2 + 12 = √ 16pi2 + 1 m/s Pelo que vimos anteriormente, a velocidade e´ tangente a` trajeto´ria. A acelerac¸a˜o e seu mo´dulo sa˜o dados por a = dv dt = −8pi2 sin(2pit)i− 8pi2 cos(2pit)j 48 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Portanto, para t = 2/3 s o mo´dulo da acelerac¸a˜o e´ a = √ a2x + a2y + a2z = √ [−8pi2 sin(2pit)]2 + [−8pi2 cos(2pit)]2 + 02 = 8pi2 m/s2 A acelerac¸a˜o na˜o e´ tangente a` trajeto´ria; se necessa´rio, sua direc¸a˜o pode ser estabelecida atrave´s dos aˆngulos diretores α, β e γ, definidos a partir das componentes do vetor unita´rio ua = a/a. 2.3.4 Movimento de Proje´teis Um objeto disparado de uma arma ou solto de um avia˜o em movimento e´, geralmente, chamado de proje´til. O estudo do movimento dos proje´teis (ideal) no ensino da Mecaˆnica e´ importante por ser o primeiro caso - fora talvez o do movimento circular uniforme -, de composic¸a˜o de movimentos no plano. Para ilustrar os conceitos envolvidos na ana´lise cinema´tica, considere um proje´til disparado de um canha˜o localizado no ponto (x1, y1), conforme mostrado na (Fig. 2.14). Como o peso e´ a u´nica forc¸a que atua sobre o proje´til, enta˜o pela Segunda Lei de Newton, a = P = −mgj. A componente da acelerac¸a˜o na direc¸a˜o x e´ ax(t) = 0. Integrando esta equac¸a˜o temos vx(t) = v0x, ou seja, a componente horizontal da velocidade e´ constante. Fazendo mais uma integrac¸a˜o, segue que x(t) = x0 + v0xt. Por outro lado, sendo o sentido positivo do eixo y orientado para cima, a componente da acelerac¸a˜o na direc¸a˜o y e´ ay(t) = −g. Por integrac¸a˜o, vy(t) = v0y − gt e y(t) = y0 + v0yt− gt2/2. Assim, podemos escrever os vetores posic¸a˜o, velocidade e acelerac¸a˜o 2.3. APLICAC¸O˜ES 49 Figura 2.14: do proje´til, ou seja, r(t) = (x0 + v0x)i + ( y0 + v0yt− 12gt 2 ) j v(t) = (v0x)i + (v0y − gt)j a(t) = −gj Seja θ o aˆngulo entre o canha˜o e o eixo (medido no sentido anti-hora´rio). Assim, tan θ = v0y/v0x e a equac¸a˜o que descreve a trajeto´ria do proje´til e´ dada por y = y0 + (x− x0) tan θ − g2v20 sec2 θ(x− x0)2 (2.23) De fato, dy dx = dy dt dt dx = v0y − gt v0x = v0y v0x − g v0x (x− x0) v0x = tan θ − g v20x (x− x0) (2.24) Em seguida, integramos a equac¸a˜o (2.24) e usamos a condic¸a˜oinicial y(x0) = y0 para obter y(x) = y0 + (x− x0) tan θ − g2v20x (x− x0)2 Sendo v20 = v 2 0x sec 2 θ, segue o resultado. 50 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Exemplo 2.12 De um canha˜o que esta´ sobre um plano inclinado conforme a (Fig. 2.15), e´ lanc¸ado um proje´til com velocidade v0. Determine a inclinac¸a˜o do cano do canha˜o em relac¸a˜o a horizontal (aˆngulo θ) para que o alcance seja ma´ximo? Figura 2.15: Suponhamos que um sistema de coordenadas cartesianas passe pela extremidade do canha˜o e que suas dimenso˜es sejam desprez´ıveis. A equac¸a˜o da reta que passa pela hipotenusa da rampa e´ y = x tanα (2.25) Usando (2.23), a equac¸a˜o da trajeto´ria e´ dada por y = x tanβ − gx 2 2v20 cos2 β (2.26) O proje´til toca a rampa quando (2.25) e (2.26) sa˜o iguais, ou seja, x(tanβ − tanα) = gx 2 2v20 cos2 β (2.27) 2.3. APLICAC¸O˜ES 51 A soluc¸a˜o que nos interessa de (2.27) e´ na˜o-nula, de modo que x(β) = 2v20 g [sin(2β)− 2 tanα cos2 β] (2.28) Derivando (2.28) em relac¸a˜o a β e igualando a zero, segue que aˆngulo que ira´ propor- cionar o ma´ximo alcance do proje´til sobre a rampa e´ dado por β = pi/4 + α/2. Exemplo 2.13 Um proje´til, tendo um alcance horizontal R, alcanc¸a a ma´xima altura H. Prove que ele deve ser lanc¸ado com: a) Uma velocidade inicial em mo´dulo igual a √ g(R2 + 16H2)/8H; b) A um aˆngulo com a horizontal dado por arcsin 4H/ √ R2 + 16H2. Colocando um sistema de eixo no ponto onde o proje´til foi lanc¸ado, enta˜o a equac¸a˜o da trajeto´ria e´ y = x tan θ − gx 2 sec2 θ v20 (2.29) Fazendo y = 0 (2.29), obtemos o alcance R = 2v20 sin θ cos θ g (2.30) Sendo a trajeto´ria do proje´til uma para´bola, segue que a altura ma´xima H ocorre quando x = R/2 e´ substituido em (2.29). Assim, H = v20 sin 2 θ 2g (2.31) De (2.30) e (2.31), segue que R2+16H2 = 4v40 sin 2 θ g2 ⇒ √ R2 + 16H2 = 2v20 sin θ g ⇒ sin θ = 4H√ R2 + 16H2 (2.32) De (2.32), segue o item b). Por outro lado,√ g(R2 + 16H2) 8H = 2v20 sin θ g √ g 8H = v0(v0 sin θ)√ 2gH = v0 pois, √ 2gH = v0 sin θ. 52 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL 2.3.5 Trabalho e Energia E´ uma experieˆncia comum, ao ser mover um objeto contra uma forc¸a que age sobre ele, como por exemplo, quando se levanta uma pedra pesada, a sensac¸a˜o de despender esforc¸o ou realizar trabalho. Mesmo antes de definir o conceito f´ısico de trabalho, estamos convencidos de que realizamos o dobro de trabalho para levantar uma pedra de 20 kg a certa altura do que para levantar uma pedra de 10 kg, e tambe´m o trabalho realizado ao levantar uma pedra 3 m e´ treˆs vezes o de levanta´-la 1 m. Essas ide´ias indicam o caminho para nossa definic¸a˜o ba´sica: se uma forc¸a constante F age por uma distaˆncia d, enta˜o o trabalho realizado durante esse processo e´ o produto da forc¸a pela distaˆncia percorrida: W = F · d (2.33) Subentende-se que a forc¸a age no sentido do movimento. Essa definic¸a˜o e´ satisfato´ria se a forc¸a F e´ constante. No entanto, muitas forc¸as na˜o permanecem constantes durante o processo de realizar trabalho. Em uma situac¸a˜o como esta, dividimos o processo em va´rias partes pequenas e calculamos o trabalho total, integrando os elementos correspondentes a essas partes. Exemplo 2.14 Dentro de certos limites, a forc¸a necessa´ria para deformar uma mola e´ proporcional a` deformac¸a˜o (Lei de Hooke), sendo a constante de proporcionalidade denominada constante da mola. Se uma determinada mola, com o comprimento livre de 10 cm, exige uma forc¸a de 25 kgf para esticar de 0, 25 cm, calcular o trabalho efetuado para esticar a mola de 11 cm para 12 cm. Primeiro, o fato que F = 25 kgf quando esticamos a mola em 0, 25 cm, permite determinar a constante da mola, pois, 25 = k · 0, 25 ⇒ k = 100 kgf/cm. Para tornar claras nossas ide´ias, desenhamos a mola em sua condic¸a˜o na˜o-esticada e tambe´m 2.3. APLICAC¸O˜ES 53 apo´s ter sido esticada x cm (Fig. 2.16). Agora, se imaginarmos que a mola e´ esticada Figura 2.16: um comprimento adicional muito pequeno dx, enta˜o a forc¸a varia muito pouco nesse incremento de distaˆncia e pode ser tratada como constante. O trabalho realizado pela forc¸a de trac¸a˜o da mola nesse incremento de distaˆncia e´ dW = Fdx = 100xdx e o trabalho total durante esse processo completo de esticamento e´ W = ∫ dW = ∫ Fdx = ∫ 2 1 100xdx = 150 kgfcm De maneira ana´loga, podemos considerar o trabalho por qualquer forc¸a varia´vel que age numa dada direc¸a˜o quando seu ponto de aplicac¸a˜o se movo nessa direc¸a˜o. Assim, se o ponto de aplicac¸a˜o de uma forc¸a F (x) move-se de x = a a x = b, enta˜o dW = Fdx e´ o elemento de trabalho e W = ∫ b a F (x)dx (2.34) e´ o trabalho total realizado durante o processo. Exemplo 2.15 Um vaso coˆnico tendo 6 m de raio no topo e 15 m de profundidade, conte´m o´leo cujo o peso espec´ıfico e´ 800kgf/m3, estando o n´ıvel a 10 m do fundo (Fig. 2.17). Determinar o trabalho necessa´rio para bombear o o´leo ate´ a borda do vaso? 54 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.17: A esseˆncia do problema e´ o fato de que cada porc¸a˜o de a´gua deve ser erguida de sua posic¸a˜o inicial ate´ a borda do tanque e descarregada. Tendo em vista o disco representado na figura, o raio e´ x, a espessura e´ dy, de modo que o trabalho realizado para levantar essa camada a uma altura 15− y e´ dW = F · d = pix2dy · 800 · (15− y) (2.35) onde d e´ a distaˆncia dessa camada a borda do vaso. Por semelhanc¸a de triaˆngulos, x 6 = y 15 ⇒ x = 2 5 y (2.36) Substituindo (2.36) em (2.35) e integrando de 0 a 10 m, temos o trabalho total, ou seja: W = ∫ dW = 800pi ∫ 10 0 ( 2y 5 )2 (15− y)dy = 320000pikgm 2.3. APLICAC¸O˜ES 55 Exemplo 2.16 Considere duas part´ıculas de massa M e m, respectivamente. Se M esta´ fixada na origem, determine o trabalho exigido pela forc¸a gravitacional para mover m de x = a a x = b. A forc¸a gravitacional entre essas part´ıculas e´ F = GMm/r2 e o elemento de trabalho e´ dW = Fdr = GMmdr/r2. Logo, o trabalho total e´ W = ∫ dW = GMm ∫ b a dr r2 = GMm ( −1 r )]b a = GMm ( 1 a − 1 b ) Se pensamos na posic¸a˜o final r = b cada vez mais longe, de modo que b → ∞, enta˜o o trabalho se aproxima do valor limite GMm/a. Essa quantidade e´ o trabalho que deve ser realizado contra a forc¸a de atrac¸a˜o para mover m de r = a a uma distaˆncia infinita, isto e´, para separar as massas completamente. Tal valor e´ o potencial das duas part´ıculas. Exemplo 2.17 Um cabo pesando 3 kgf/m esta´ se desenrolando de um tambor cil´ındrico. Supondo que 15 m ja´ foram desenrolados, achar o trabalho efetuado pela gravidade quando se desenrolarem mais 50 m. Seja x o comprimento desenrolado em um tempo qualquer. Enta˜o F (x) = 3x de modo que W = ∫ 65 15 3xdx = 6000kgm Exemplo 2.18 Um cabo com l1 m de comprimento, pesando α N/m, suporta um peso de P N . Achar o trabalho para enrolar l2 m, (l2 ≤ l1) do cabo em um tambor (Fig.2.18). Seja x o comprimento do cabo enrolado no tambor. O peso total (cabo desenrolado mais peso que suporta) e´ P + α(l1 − x) e o trabalho efetuado para levantar o peso de 56 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.18: dx e´ dW = [P + α(l1 − x)]dx. Assim, o trabalho efetuado e´: W = ∫ dW = ∫ l2 0 [P + α(l1 − x)]dx = (P + αl1)l2 − αl 2 2 2 Exemplo 2.19 Um flutuador de madeira cil´ındrico de raio r e altura h flutua sobre a a´gua. Calcule o trabalho para tira´-lo da a´gua sabendo que sua densidade e´ 0 < ρ < 1 (Fig. 2.19). Figura 2.19: 2.3. APLICAC¸O˜ES 57 No equil´ıbrio, o peso e´ igual ao empuxo, isto e´,P = E ⇒ pir2hρ = pir2x·1 ⇒ x = ρh, onde x e´ a parte do cilindro que esta´ submersa. A forc¸a necessa´ria para puxar o cilindro para uma posic¸a˜o x de sua posic¸a˜o de equil´ıbrio e´ F (x) = P −E(x) = pir2hρ− pir2x · 1 = S(ρh− x) onde S e´ a a´rea da base do cilindro. Para um pequeno deslocamento dx, temos um pequeno trabalho dado por dW = F (x)dx. Logo, W = ∫ dW = ∫ x 0 F (x)dx = S ∫ ρh 0 (ρh− x)dx = ρ 2h2S 2 Exemplo 2.20 (Equac¸a˜o de Einstein) Pela Teoria da Relatividade, a massa m de uma part´ıcula aumenta a medida que aumentamos sua velocidade, ou seja, m = m0√ 1− v2/c2 (2.37) onde m0 e´ a chmada massa de repouso. Supondo que a part´ıcula parte do repouso na origem do eixo x, use a Segunda Lei Generalizada de Newton, isto e´, F = d(mv)/dt para mostrar que a energia (trabalho realizado por F sobre a part´ıcula) esta´ relacionada com o aumento de massa (M = m−m0) pela famosa equac¸a˜o de Einstein E = Mc2 (2.38) onde c e´ a velocidade da luz no va´cuo. Note que F = d dt (mv) = m0 d dv ( v√ 1− v2/c2 ) dv dt = m0a (1− v2/c2)3/2 (2.39) o que mostra qua˜o pro´xima a Lei de Einstein esta´ da Lei de Newton, quando v e´ muito menor que c. Entretanto, quando v esta´ perto da velocidade da luz, como na maioria 58 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL dos fenoˆmenos da F´ısica Atoˆmica, enta˜o as duas leis diferem consideravelmente e toda a evideˆncia experimental apoia a versa˜o de Einstein. Mas, a = dv dt = dv dx dx dt = v dv dx ⇒ adx = vdv (2.40) De (2.39), segue que o trabalho realizado pela forc¸a F sobre a part´ıcula de 0 a x e´ dada por: E = ∫ x 0 Fdx = m0 ∫ x 0 = a (1− v2/c2)3/2dx (2.40) = m0 ∫ v 0 v(1− v2/c2)−3/2dv = m0c2 ( 1− v 2 c2 )−1/2]v 0 = m0c2 ( 1√ 1− v2/c2 − 1 ) = c2(m−m0) = Mc2 Observac¸a˜o 2.2 O ponto central da equac¸a˜o de Einstein e´ o fato muito profundo de que a massa de repouso m0 tem tambe´m energia associada a ela, na quantidade E = m0c2. Essa energia pode ser encarada como ”energia de ser”da part´ıcula, no sentido de que a massa possui energia exatamente em virtude de existir. O ponto de vista da F´ısica Moderna e´ ainda mais direto: mate´ria e´ energia, numa forma altamente concentrada e localizada. Exemplo 2.21 (Princ´ıpio da Conservac¸a˜o de Energia) Dada uma part´ıcula de massa m, assumindo que a forc¸a na˜o-especificada F e´ uma func¸a˜o cont´ınua que so´ depende da coordenada x sobre o intervalo a ≤ x ≤ b, digamos F = F (x). (Observe que a forc¸a de atrito na˜o tem essa propriedade, pois ela depende na˜o so´ da localizac¸a˜o da part´ıcula m mas tambe´m do sentido em que esta´ se movendo). Definimos o potencial de F (x), uma func¸a˜o Ep(x) tal que dEp/dx = −F (x). Mostre que Ec + Ep(x) = cte Observac¸a˜o 2.3 A grandeza Ec := mv2/2 e´ conhecida como energia cine´tica da part´ıcula m. 2.3. APLICAC¸O˜ES 59 Seja E(x) = 1 2 mv2 +Ep(x) (2.41) Derivando (2.41), em relac¸a˜o a x, e usando e expressa˜o (2.40) temos: E′(x) = mv dv dx + dEp dx = ma− F (x) = 0 donde segue o resultado. Observac¸a˜o 2.4 Outra forma de expressar o Princ´ıpio da Conservac¸a˜o da Energia e´ Ec(a) + Ep(a) = Ec(b) + Ep(b) 2.3.6 Movimento Harmoˆnico Simples O estudo de vibrac¸o˜es e´ uma parte importante da cieˆncia, pois elas aparecem em fenoˆmenos perio´dicos em geral, tais como as ondas sonoras e de ra´dio, correntes ele´tricas alternadas, vibrac¸o˜es de a´tomos em cristais, etc. Um dos tipos mais simples de vibrac¸a˜o ocorre quando um objeto ou ponto se move para frente e para tra´s ao longo de uma reta (o eixo x) de tal modo que sua acelerac¸a˜o e´ sempre proporcional a sua posic¸a˜o e e´ orientada no sentido oposto ao movimento: d2x dt2 = −kx, k > 0 (2.42) Um movimento dessa natureza chama-se harmoˆnico simples. Para enfatizar que a constante k e´ positiva, e´ costume escrever k = b2 com b > 0. A equac¸a˜o diferencial (1) toma enta˜o a forma d2x dt2 + b2x = 0, k > 0 (2.43) Para achar a soluc¸a˜o geral dessa equac¸a˜o usamos uma varia´vel auxiliar v = dx/dt, de modo que d2x dt2 = dv dt = dv dx dx dt = v dv dx = −b2x ⇒ 2vdv = −2b2xdx (2.44) 60 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Integrando a equac¸a˜o (2.44), temos v2 = c21−b2x2, onde c1 e´ a constante de integrac¸a˜o. Isolando u, temos: v = ± √ c21 − b2x2 ⇒ ± dx√ c21 − b2x2 = dt (2.45) A escolha do sinal aqui depende de a velocidade v ser positiva ou negativa no momento. Supomos, por exemplo, que v > 0 e integrando (2.45), segue que arcsin ( bx c1 ) = bt+ c ⇒ x(t) = A sin(bt+ c) (2.46) onde c e´ a constante de integrac¸a˜o e A = c1/b 6= 0. O motivo de A 6= 0 e´ para evitar o caso trivial em que x e´ identicamente nulo e consequentemente na˜o havera´ movimento. Como a func¸a˜o sin(bt+ c) oscila entre −1 e 1, a func¸a˜o (2.46), oscila entre −|A| e |A|. O nu´mero |A| chama-se amplitude do movimento (Fig. 2.20) Ale´m disso, como o Figura 2.20: seno e´ perio´dico de per´ıodo 2pi, sin(bt+ c) e´ perio´dico com per´ıodo 2pi/b, pois esta e´ a quantidade com que t deve crescer para bt + c crescer de 2pi. Esse nu´mero T = 2pi/b chama-se per´ıodo do movimento e e´ o tempo exigido para a realizac¸a˜o de um ciclo 2.3. APLICAC¸O˜ES 61 completo. Medindo t em segundos, enta˜o o nu´mero f de ciclos por segundos satisfaz a equac¸a˜o fT = 1 e e´ portanto o inverso do per´ıodo, f = 1 T = b 2pi (2.47) Esse nu´mero chama-se frequeˆncia do movimento. Ha´ uma interpretac¸a˜o f´ısica do movimento harmoˆnico simples, que aparece quando pensamos na equac¸a˜o (2.42) como descric¸a˜o do movimento de um corpo de massa m. A Segunda Lei de Newton diz que F = ma; logo, a equac¸a˜o (2.42), torna-se F m = −kx ⇒ F = −kmx Uma forc¸a F desse tipo chama-se forc¸a de restaurac¸a˜o, pois sua grandeza e´ proporcional ao deslocamento x e sempre age no sentido de fazer o corpo retornar a` posic¸a˜o de equil´ıbrio x = 0. Exemplo 2.22 Considere um carrinho de massa m preso a uma parede por meio de uma mola (Fig. 2.21). A mola na˜o exerce forc¸a quando o carrinho esta´ em posic¸a˜o de equil´ıbrio x = 0. Se o carrinho for tirado do equil´ıbrio para uma posic¸a˜o x, enta˜o pela Lei de Hooke, a mola passara´ a exercer uma forc¸a de restaurac¸a˜o F = −kx, onde k > 0 e´ a constante da mola. Suponha que o carrinho seja puxado ate´ uma posic¸a˜o x = x0 e com velocidade inicial zero. Discuta seu movimento subsequente se o atrito e a resisteˆncia do ar sa˜o desprez´ıveis. Estamos admitindo que a u´nica forc¸a que age sobre o carrinho e´ a forc¸a de restaurac¸a˜o F = −kx; logo, pela Segunda Lei de Newton, temos: m d2x dt2 = −kx ⇒ d 2x dt2 + b2x = 0 (2.48) onde b = √ k/m. A soluc¸a˜o dessa equac¸a˜o e´ x(t) = A sin(bt + c). Sendo x(0) = x0, segue que x0 = A sin c. Derivando a soluc¸a˜o, temos x′(t) = Ab cos(bt + c), de modo 62 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.21: que, A cos c = 0, pois a 6= 0. Assim, x20 + 0 = A2 sin2 b+ A2 cos2 b = A2 ⇒ A = x0 e c = pi/2. Logo, x(t) = x0 sin(bt+ pi/2) = x0 cos(bt) = x0 cos (√ k m t ) Ale´m disso, o per´ıodo de oscilac¸a˜o e a frequeˆncia sa˜o dados por: T = 2pi b = 2pi √ m k e f = 1 T = 1 2pi √ k m Exemplo 2.23 Um peˆndulo e´ um peso suspenso na extremidade de um fio leve e inex- tens´ıvel, deixado a mover-se para frente e para tra´s sob a ac¸a˜o da gravidade (Fig.2.22). Idealizando a situac¸a˜o, consideremos que esse peso e´ uma part´ıcula de massa m e que o comprimento do fio seja L. Determine o per´ıodo desse peˆndulo sob hipo´tese de que suas oscilac¸o˜es sa˜o pequenas. A forc¸a da gravidade exercida no prumo para baixo e´ P= mg e sua componente na direc¸a˜o tangencial a` trajeto´ria e´ mg sin θ. Como s = Lθ, a acelerac¸a˜o tangencial do peˆndulo e´ d2s dt2 = d2(Lθ) dt2 = L d2θ dt2 2.3. APLICAC¸O˜ES 63 Figura 2.22: e a pela Segunda Lei de Newton, segue que mL d2θ dt2 = −mg sin θ ou d 2θ dt2 + g L sin θ = 0 (2.49) A presenc¸a de sin θ torna essa equac¸a˜o diferencial imposs´ıvel de resolver, e o movimento na˜o e´ harmoˆnico simples. Entretanto, para pequenas vibrac¸o˜es sin θ ∼= θ, de modo que podemos reescrever (2.49) na forma d2θ dt2 + g L θ = 0 Sendo b = √ g/L, segue que o per´ıodo e´ dado por T = 2pi b = 2pi √ L g . Exemplo 2.24 Um anel de massa m e´ forc¸ado a mover-se em um fio sem atrito na forma de uma semi-circunfereˆncia de raio r, onde x e y esta˜o em um plano vertical (Fig.2.23). Se o anel parte do repouso no ponto A, determine: a) O mo´dulo da velocidade no ponto inferior da trajeto´ria; 64 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL b) Mostre que o per´ıodo de oscilac¸a˜o e´ dado pela integral abaixo: T = 4 √ r 2g ∫ θ0 0 dθ√ cos θ − cos θ0 Seja P a posic¸a˜o do anel em um instante qualquer t e seja s o comprimento da circun- fereˆncia medido a partir do ponto A. Pela (Fig.2.23), x = r sin θ e y = r(1− cos θ), de Figura 2.23: modo que dx dθ = r cos θ e dy dθ = r sin θ (2.50) A componente tangencial da forc¸a peso e´ −mg sin θ, de modo que pela Segunda Lei de Newton, ma = −mg sin θ. Mas, a = dv dt = dv ds ds dt = v dv ds ⇒ vdv = −g sin θds donde segue que∫ v 0 vdv = −rg ∫ θ θ0 sin θdθ ⇒ v2 = 2rg(cos θ − cos θ0) (2.51) Fazendo θ = 0, temos o item a), ou seja, v2 = 2rg(1− cos θ0) ⇒ v = 2√rg sin θ0 2.3. APLICAC¸O˜ES 65 Mas, v2 = ( ds dt )2 = ( dx dt )2 + ( dy dt )2 = ( dx dθ dθ dt )2 + ( dy dθ dθ dt )2 (2.52) Usando (2.50) e (2.51) em (2.52) temos: 2rg(cos θ − cos θ0) = r2 ( dθ dt )2 ⇒ dθ dt = − √ 2g(cos θ − cos θ0) r (2.53) O sinal negativo e´ (2.53), pois o aˆngulo θ diminui quando t aumenta. Separando as varia´veis e integrando (2.53), segue que∫ 0 θ0 dθ√ cos θ − cos θ0 = − ∫ T/4 0 √ 2g r dt ⇒ T = 4 √ r 2g ∫ θ0 0 dθ√ cos θ − cos θ0 o que prova o item b). Exemplo 2.25 Suponha que um tu´nel seja escavado reto atrave´s do centro da Terra de um lado a outro e que um corpo de massa m seja largado nesse tu´nel. (Fig.2.24). Se o corpo cai, a forc¸a sobre ele numa posic¸a˜o x e´ devido a atrac¸a˜o gravitacional da esfera de raio x, onde x e´ a distaˆncia de m ao centro da Terra. Mostre que o corpo atravessa o tu´nel de uma extremidade a outra, voltando novamente para tra´s num movimento harmoˆnico simples, e calcule o per´ıodo desse movimento. Pelo enunciado, a forc¸a que age sobre o corpo de massa m e´ F (x) = −GM(x)m x2 = −Gm4pix 3ρ 3x2 = −4 3 Gmpiρx Logo, pela Segunda Lei de Newton, ma = F (x) = −4 3 Gmpiρx ⇒ d 2x dt2 + kx = 0 onde k = 4 3 Gpiρ, de modo que, T = 2pi√ k = √ 3pi Gρ (2.54) 66 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.24: Mas, mg = GMm R2 ⇒ 1 Gρ = 4piR 3g (2.55) Substituindo, (2.55) em (2.54), segue que T = 2pi √ R g ∼= 6, 3 √ 6, 4× 106 9, 8 s ∼= 5091 s ∼= 85 min Exemplo 2.26 Uma part´ıcula de massa m e´ colocada na parte interna da superf´ıcie de um parabolo´ide de revoluc¸a˜o, sem atrito e tendo a equac¸a˜o cz = x2 + y2, em um ponto P que esta´ a uma altura h acima do plano xy horizontal (Fig.2.25). Assumindo que a part´ıcula parta do repouso, determine: a) A velocidade com a qual ela alcanc¸a o ve´rtice O; b) Ache o tempo gasto para atingir esse ponto; c) O per´ıodo para pequenos deslocamentos. E´ conveniente escolher o ponto A no plano yz tal que x = 0. Assim, cz = y2, de modo que as coordenadas do ponto A sa˜o ( √ ch, h). Sendo P = (x, y) um ponto qualquer 2.3. APLICAC¸O˜ES 67 Figura 2.25: da trajeto´ria, e´ poss´ıvel demonstrar que o Princ´ıpio da Conservac¸a˜o de Energia aplica-se neste caso, isto e´, VP+ECP = VA+ECA ⇒ mgz+12mv 2 = mgh+0 ou v2 = ( ds dt )2 = 2g(h−z) donde segue que ds dt = − √ 2g(h− z) (2.56) O sinal e´ negativo, pois s decresce com o tempo t. a) Pondo z = 0 em (2.56), veˆ-se que a velocidade em mo´dulo e´ √ 2gh no ve´rtice; b) Seja τ o tempo para atingir part´ıcula atingir a origem. Como x = 0 e cz = y2, temos 2g(h− z) = ( ds dt )2 = ( dy dt )2 + ( dz dy dy dt )2 = ( 1 + 4y2 c2 )( dy dt )2 donde segue que ( dy dt )2 = 2g ( h− y 2 c ) 1 + 4y2 c2 ⇒ ds dt = − √ 2gc √ ch− y2√ c2 + 4y2 (2.57) 68 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Separando as varia´veis, integrando (2.57) e usando o fato de que y = √ ch em t = 0 enquanto que t = τ em y = 0, segue que − ∫ τ 0 √ 2gcdt = ∫ 0 √ ch √ ch− y2√ c2 + 4y2 dy ⇒ τ = 1√ 2gc ∫ √ch 0 √ ch− y2√ c2 + 4y2 dy Seja y = √ ch cos θ, enta˜o a integral pode ser escrita τ = 1√ 2gc ∫ pi/2 0 √ c2 + 4ch cos2 θ dθ ou seja, τ = √ c+ 4h 2g ∫ pi/2 0 √ 1− k2 sin2 θdθ (2.58) onde k = √ 4h/(c+ 4h) < 1 (2.59) c) A part´ıcula oscila para frente e para tra´s dentro do parabolo´ide com um per´ıodo T dado por T = 4τ = 4 √ c+ 4h 2g ∫ pi/2 0 √ 1− k2 sin2 θdθ (2.60) Para pequenos deslocamentos, o valor de k dado por (2.59) pode ser considerado muito pro´ximo de zero, de modo que podemos escrever (2.60) na forma T = 2pi √ (c+ 4h)/2g. Observac¸a˜o 2.5 A integral em (2.58) e´ uma integral el´ıptica e na˜o pode ser avaliada em termos de func¸o˜es elementares. Ela pode, entretanto, ser avaliada em termos de se´ries infinitas. 2.3.7 Centro de Gravidade Como veremos, esse conceito tem implicac¸o˜es geome´tricas, sendo poss´ıvel usa´-lo para se obter uma noc¸a˜o razoa´vel de ”centro”de uma figura geome´trica gene´rica. 2.3. APLICAC¸O˜ES 69 Comec¸amos considerando duas crianc¸as de pesos w1 e w2 sentadas a distaˆncias d1 e d2, respectivamente, do ponto de apoio de uma gangorra (Fig. 2.26). Figura 2.26: Como sabemos, cada crianc¸a pode tentar fazer o lado em que esta´ sentada ir para baixo movendo-se para mais longe do ponto de apoio. O equil´ıbrio ocorre quando w1d1 = w2d2 (2.61) Esse princ´ıpio foi descoberto por Arquimedes e e´ conhecido como a Lei da Alavanca. Se estabelecermos um eixo horizontal com sua origem no ponto de apoio e o sentido positivo para a direita, enta˜o (2.61), pode ser escrrita sob a forma w1x1 + w2x2 = 0, onde x1 = d1 e x2 = −d2 Estendendo agora essa discussa˜o considerando o eixo x como uma barra horizontal sem peso com fulcro no ponto P (Fig. 2.27) considerando que n pesos wk esta˜o colocados nos pontos xk, k = 1, 2, . . . n. Figura 2.27: Pela Lei de Arquimedes, esse sistema de pesos estara´ em equil´ıbrio ao redor de p 70 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL quando n∑ k=1 wk(xk − P ) = 0 De modo mais geral, estando ou na˜o o sistema em equil´ıbrio, a soma ∑n k=1wk(xk−P ) mede a tendeˆncia do sistema de girar no sentido hora´rio ao redor do fulcro P . Essa soma recebe o nome de momento do sistema em relac¸a˜o a P . O sistema esta´ em equil´ıbrio quando o momento e´ nulo. Suponha que os pesos wk e suas posic¸o˜es sejam dados de modo arbitra´rio; movendo-se o fulcro P , sera´ fa´cil determinarmos o ponto x em que o sistema estara´ em equil´ıbrio, isto e´, a posic¸a˜o do fulcro em que o momento do sistema em relac¸a˜o a esse fulcro sera´ zero. A condic¸a˜o que x devera´ obedecer e´ n∑ k=1 wk(xk − x) = 0 ⇒ x = ∑nk=1wkxk∑n k=1wk (2.62) Esse ponto x onde o equil´ıbrio e´ alcanc¸ado chama-se centro de gravidade do sistema de pesos dado. Sendo o peso de um corpo de massa m igual a mg, enta˜o wk = mkg, onde mk e´ a massa do k-e´simo corpo. A fo´rmula (2.62), pode portanto, ser escrita como x = ∑n k=1mkgxk∑n k=1mkg = ∑n k=1mkxk∑n k=1mk (2.63) Tendo-se afastado da discussa˜o a influeˆncia da gravidade, ou seja, tendo-se substitu´ıdo os pesos wk em (2.62) pelas massas mk em (2.63), o ponto x passa a se chamar centro de massa do sistema. E´ fa´cil estender essas ide´ias a um sistema de massas mk localizadas em pontos (xk, yk) ou (xk, yk, zk) num plano xy ou no espac¸o xyz. No caso planar, definimos o momento desse sistema em relac¸a˜o ao eixo y por My = n∑ k=1 mkxk (2.64) 2.3. APLICAC¸O˜ES 71 Se pensarmos no plano xy como uma bandeja horizontal sem peso, enta˜o em linguagem f´ısica, a condic¸a˜o My = 0 significa que essa bandeja com a dada distribuic¸a˜o de massas estara´ em equil´ıbrio quando pousada num fio de navalha ao longo do eixo y. Analoga- mente, o momento do sistema em relac¸a˜o ao eixo x e´ definido por Mx = n∑ k=1 mkyk Denotando a massa total das part´ıculas do sistema por m, ou seja, m = n∑ k=1 mk enta˜o o centro de massa do sistema e´ definido como sendo o ponto (x, y) para o qual x = My m e y = Mx m (2.65) Reescrevendo as fo´rmulas em (2.65) na forma n∑ k=1 mk(xk − x) = 0 e n∑ k=1 mk(yk − y) = 0 e considerando o nosso sistema como uma distribuic¸a˜o de massas numa bandeja hori- zontal, sem peso, essas equac¸o˜es revelam que a bandeja estara´ em equil´ıbrio ao se apoiar sobre um fio de navalha ao longo de qualquer reta que passe por (x, y). Portanto estara´ em equil´ıbrio tambe´m se for apoiada na ponta de uma agulha colocada exatamente no ponto (x, y). Agora veremos como a integrac¸a˜o pode ser utilizada para generalizar essas ide´ias a uma distribuic¸a˜o cont´ınua de massas numa regia˜o R do plano xy (2.28). Considere a placa fina de material homogeˆneo delimitada por uma regia˜o R e pelas retas x = a e x = b, cuja densidade superficial σ(= massa por unidade de a´rea) seja constante. Observamos que o centro de uma folha papel retangular se encontra entre duas faces, pore´m pode ser considerado como existindo em uma das faces, na intersec¸a˜o das 72 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.28: diagonais. Assim, o centro de massa de uma folha de pequena espessura coincide com o centro de geome´trico da folha considerada como uma a´rea plana. Assim, o centro de massa da faixa retangular de largura dx e altura y se encontra no ponto de coordenadas (x, y/2). O momento dessa faixa em relac¸a˜o ao eixo y e´ o produto de sua massa dm = σydx pela sua distaˆncia do eixo y, ou seja, dMy = xdm = xσydx. Por integrac¸a˜o, o momento de toda placa e´ dado por My = ∫ b a σxydx donde segue que x = My m = ∫ b a σxydx∫ b a σydx = ∫ b a xydx∫ b a ydx (2.66) pois σ e´ constante. Analogamente, O momento dessa faixa em relac¸a˜o ao eixo x e´ o produto de sua massa dm = σydx pela sua distaˆncia do eixo x, ou seja, dMx = ydm/2 = (y/2)σydx. Por integrac¸a˜o, Mx = 1 2 ∫ b a y2σdx 2.3. APLICAC¸O˜ES 73 donde segue que y = Mx m = 1 2 ∫ b a σy 2dx∫ b a σydx = 1 2 ∫ b a y 2dx∫ b a ydx (2.67) O centro de massa e´, portanto, determinado somente pela configurac¸a˜o geome´trica da regia˜o R e na˜o depende da densidade de massa dessa regia˜o. Por essa raza˜o, o ponto (x, y) chama-se centro´ide da regia˜o, significando ”ponto assemelhado a centro”. Observac¸a˜o 2.6 Na˜o e´ dif´ıcil adaptar esse argumento para uma placa que e´ uma regia˜o R delimitada por duas func¸o˜es de x, (f(x) e g(x)) e pelas retas x = a e x = b. Observac¸a˜o 2.7 Podemos tambe´m adaptar esse argumento para uma regia˜o R delim- itada por uma func¸a˜o g(y) e pelas retas y = c e y = d (Fig. 2.29) Figura 2.29: para obter x = My m = ∫ d c (x/2)(σxdy)∫ d c σxdy = 1 2 ∫ d c x 2dy∫ d c xdy (2.68) 74 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL e y = Mx m = ∫ d c y(σxdy)∫ d c σxdy = ∫ d c xydy∫ d c xdy (2.69) Exemplo 2.27 Achar o centro´ide da a´rea limitada pela para´bola y = 4− x2 e o eixo x (Fig.2.30). Figura 2.30: A a´rea da figura e´ dada por A = ∫ 2 −2 ydx = 2 ∫ 2 0 (4− x2)dx = 32 3 u.a. (2.70) Os momentos em relac¸a˜o aos eixos x e y sa˜o respectivamente: Mx = ∫ 2 −2 y2 2 dx = ∫ 2 0 (4− x2)2dx = 256 15 e My = ∫ 2 −2 xydx = 0 (2.71) De (2.70) e (2.71), segue que as coordenadas do centro´ide sa˜o: x = My A = 0 32/3 = 0 e y = Mx A = 256 15 × 3 32 = 8 5 Observac¸a˜o 2.8 O fato de x ser nulo na˜o e´ coincideˆncia, na verdade o centro´ide de uma regia˜o esta´ numa linha de simetria da regia˜o, se tal linha existir. De fato, seja L 2.3. APLICAC¸O˜ES 75 Figura 2.31: uma reta de simetria de uma regia˜o R; podemos escolher essa reta na posic¸a˜o do eixo y (Fig. 2.31). Desejamos nos convencer de que x = 0. Se dA e´ um elemento fino de a´rea vertical na posic¸a˜o x, enta˜o, por simetria, existe um elemento de a´rea correspondente na posic¸a˜o −x; e como xdA+ (−xdA) = 0, temos∫ xdA = 0, e, portanto, ∫ xdA∫ dA = 0 Exemplo 2.28 Determine o centro´ide de um arco de ciclo´ide cujas as equac¸o˜es parame´tricas sa˜o x(t) = a(t− sin t) e y(t) = a(1− cos t) (Fig.2.32) Pela Obs. 2.8, segue que x = pia. A a´rea de um arco de ciclo´ide e´ dado por A = ∫ ydx = a2 ∫ 2pi 0 (1− cos t)2dt = 3pia2 u.a. E o momento em relac¸a˜o ao eixo y e´ My = ∫ xydx = a3 ∫ 2pi 0 (t− sin t)(1− cos t)2dt = 3pia3 Logo, y = My/A = a, ou seja, a ordenada do centro´ide de um arco de ciclo´ide e´ igual ao raio do c´ırculo rolante. 76 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL Figura 2.32: Exemplo 2.29 Ache o centro de gravidade da regia˜o limitada pelas para´bolas x = y2 e y = −x2/8 (Fig.2.33). Figura 2.33: O centro´ide do retaˆngulo elementar e´ [x, (−x2/8−√x)/2]. Sendo A = ∫ 4 0 ( −x 2 8 + √ x ) dx = 8 3 u.a., Mx = ∫ 4 0 1 2 ( −x 2 8 −√x )( −x 2 8 + √ x ) dx = −12 5 e o momento em relac¸a˜o ao eixo y dado por My = ∫ 4 0 x ( −x 2 8 + √ x ) dx = 24 5 2.3. APLICAC¸O˜ES 77 segue que x = My A = 24 5 × 3 8 = 9 5 e y = Mx A = −12 5 × 3 8 = − 9 10 Abordamos centro´ides de regio˜es planas, mas podemos facilmente falar de centro´ide de um arco no plano xy ou de uma regia˜o no espac¸o tridimensional. As definic¸o˜es e fo´rmulas sa˜o ana´logas ao que ja´ fizemos, e na˜o abordaremos os estudantes com ex- planac¸o˜es detalhadas. Entretanto, observamos que para determinar o centro´ide de um arco (Fig.2.34) Figura 2.34: pode ser u´til pensar no arco como um pedac¸o de fio curvado com densidade constante 1, de modo que a massa de um pedac¸o de fio e´ simplesmente seu comprimento. Sendo ds o comprimento infinitesimal de arco, enta˜o x = ∫ xds∫ ds e y = ∫ yds∫ ds (2.72) Cada denominador em (2.72) e´ o comprimento do arco e os numeradores sa˜o, respecti- vamente, os momentos do arco em relac¸a˜o ao eixo y e ao eixo x. Papus de Alexandria (se´culo IV d.C.) foi um grande matema´tico grego sucessor de Euclides, Arquimedes e Apoloˆnio, sua principal obra e´ a Colec¸a˜o Matema´tica, uma 78 CAPI´TULO 2. CA´LCULO INTEGRAL DE UMA VARIA´VEL mistura de guia da geometria da e´poca, acompanhada de comenta´rios, com numerosas proposic¸o˜es originais, aprimoramentos, extenso˜es e notas histo´ricas. No livro VII, aparece uma antecipac¸a˜o do teorema
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