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Os Crimes Aberrantes

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Os Crimes Aberrantes 
 
A palavra vem do latim, do 
verbo aberrare, com o significado de errar 
longe, desviar-se do caminho, desviar o 
espírito ou a atenção, distração. 
As modalidades de Aberratio estão diretamente relacionadas com 
o erro, o qual pode ser compreendido como a falsa percepção de 
uma realidade. 
No âmbito penal, nosso CP trouxe, em seu artigo 20, a exata 
definição do erro incidindo no Direito: é o conhecido erro de tipo. 
Aqui, o agente erra sobre elemento constitutivo do tipo 
legal, implicando tal fato na exclusão do dolo, muito embora possa 
ser responsabilizado por crime culposo, desde que a modalidade 
culposa esteja devidamente prevista em lei. 
Ex: A título de exemplo, imagine-se um usuário de drogas que compra um pote de açúcar, 
acreditando adquirir um de cocaína. O erro, aqui, incide sobre o elemento constitutivo do tipo 
penal drogas. Como não há previsão de tráfico culposo, resta atípica a conduta. Da mesma forma, 
alguém que, em um estacionamento, destrava um carro que acredita ser seu, dá a partida e se retira 
do local. Posteriormente, vem a perceber que, na verdade, não se tratava de seu veículo, mas sim, 
outro, de propriedade de terceira pessoa. Ou aquele que, distraidamente, ao sair de um restaurante, 
apanha o guarda-chuva de outra pessoa, como aconteceu comigo certa vez. Nestes casos, o agente 
não cometeu o crime de furto, porque errou sobre a elementar alheia (“subtrair, para si ou para 
outrem, coisa alheiamóvel”): vale dizer, o agente errou sobre um elemento constitutivo do tipo penal 
(alheia) ao acreditar ser o veículo ou o guarda-chuva de sua propriedade. 
Assim, o artigo 20, CP, traz o denominado erro de tipo 
essencial: recai sobre os elementos essenciais do tipo penal (são 
as chamadas elementares). 
 
Não obstante, não se pode esquecer que há também o erro de tipo 
acidental, qual seja, aquele que incide sobre elementos acidentais, 
diversos das elementares. Logo, são os que recaem sobre as 
circunstâncias (qualificadoras, agravantes genéricas, causas de 
aumento de pena) ou fatores sem relevância para a figura 
típica. 
 
As modalidades do erro de tipo acidental (que também 
exclui o dolo) são: 
 Erro sobre a pessoa; 
 Erro sobre o objeto; 
 Erro quanto às qualificadoras; 
 Erro na execução; 
 Erro sobre o nexo causal e resultado diverso do 
pretendido (essas três últimas são os chamados 
crimes aberrantes). 
 
Obedecendo ao enfoque do presente estudo, o passo inicial é 
analisar o erro sobre o nexo causal, também chamado 
de Aberratio Causae, Dolo Geral ou Erro Sucessivo: pouco 
solicitada em provas e com raríssimas constatações na prática 
forense, a aberratio causae revela-se como sendo o erro no 
tocante ao meio de execução empregado pelo agente. 
Ou seja, o agente acredita ter matado a vítima de um modo, quando na verdade foi outro o meio por 
ele empregado e que causou a morte. Como o resultado prático é exatamente o mesmo (o agente será 
condenado por homicídio). Como exemplo, imagine-se a clássica situação em que o agente deseja 
matar seu desafeto e, para tanto, desfere-lhe um golpe na cabeça, que o faz desmaiar. Acreditando 
na morte da vítima, atira-a de cima de uma ponte, para esconder o cadáver, em direção ao rio que 
ali passa. Posteriormente, a vítima é localizada e, mediante exame necroscópico, constata-se que a 
causa da morte foi asfixia por afogamento: o agente será responsabilizado por homicídio, da mesma 
forma. 
 
Já o resultado diverso do pretendido, comumente 
conhecido por Aberratio Criminis ou Aberratio Delicti, 
encontra-se previsto no artigo 74, CP e pode ser entendido como a 
situação em que o agente desejava cometer um crime, mas por erro 
na execução, acaba por cometer outro. 
O também reiterado exemplo trazido pela doutrina é o do agente que deseja quebrar uma vidraça, 
arremessando uma pedra (art. 163, CP). Porém, por erro na execução, acaba por acertar uma pessoa 
que passava pela calçada, lesionando-a (artigo 129, CP). Como há previsão do crime de lesão 
corporal culposa, o agente será responsabilizado por esse crime de lesão. 
Imperioso ressaltar que, na Aberratio Delicti, o resultado 
diverso pode se revelar sob duas espécies: 
- Unidade Simples (resultado único): 1ª parte do artigo 74, CP. O 
agente responde pelo crime culposo, se previsto em lei. É o exemplo acima, da pedra 
acertando um transeunte. Se não houver previsão, conduta atípica (agente quer acertar a 
vítima, erra e acerta a janela. Conduta penalmente atípica). 
- Unidade Complexa (Resultado Duplo): 2ª parte do artigo 74, CP: o 
agente atinge o bem jurídico desejado e também um diverso, culposamente. Imagine-se que 
o agente acerta a vidraça, mas também uma pessoa que estava atrás dela. Aplica-se a regra 
do concurso formal próprio de crimes (art. 70, caput, 1ª parte): impõe-se a pena do crime 
mais grave, aumentada de 1/6 até ½, a depender da quantidade de crimes praticados de 
forma culposa. 
No caso de Unidade Complexa, se o resultado diverso caracterizar crime culposo menos 
grave ou não houver modalidade culposa prevista em lei, a regra acima mencionada será 
descartada. Como exemplo, imagine-se que o agente dispara uma arma de fogo contra a 
vítima, para matá-la, mas não a acerta e apenas quebra uma vidraça. Pela regra 
da Aberratio Delicti, o homicídio tentado seria absorvido pelo crime de dano e, como não 
há crime de dano culposo, sua conduta seria atípica. 
Porém, conforme entendimento pacífico da doutrina, neste exemplo ao agente deve ser 
imputado o crime de homicídio tentado, posto ser descartada a regra supra, por não haver 
previsão de crime culposo de dano. 
 
Por fim, o Erro na execução, ou Aberratio Ictus, encontra 
previsão no artigo 73, CP e se define como sendo o erro na própria 
execução do crime; em que o agente erra a pessoa que desejava 
atingir. 
Há uma pergunta que é sempre abordada em provas e concursos e que traz 
uma diferença tênue: qual a diferença entre o erro contra a pessoa e a 
aberratio ictus? 
Com efeito, em ambos o agente erra quanto à pessoa que desejava 
atingir. Porém, no erro quanto à pessoa: o agente confunde a 
pessoa que queria atingir com outra. Por exemplo, o agente quer matar seu 
inimigo, que acredita estar em uma estação de trem, atira, mas acaba matando o irmão dele, que era 
gêmeo. Ou então, mata o sósia dele. Veja: o agente acertou a execução do crime, porém errou a 
pessoa que desejava atingir. 
Já na Aberratio Ictus, ocorre justamente o contrário. O agente 
erra a execução do crime e, por isso, atinge pessoa diversa. Não há 
confusão, mas sim erro prático, na execução. 
Por exemplo, o agente deseja matar seu desafeto, sabe que é justamente o desafeto que se encontra 
em uma estação de trem, atira nele, mas acerta outra pessoa, por errar a mira. A diferença, em que 
pese sutil, é bastante nítida. 
Neste caso, também se aplicam as regras da Unidade Simples e 
Complexa. A única diferença é a de que na Unidade Complexa, 
somente se admite o erro na execução se as pessoas forem atingidas 
culposamente. Caso haja dolo eventual, incide a regra do concurso 
formal impróprio (somam-se as penas). 
Portanto, pode-se concluir que as Aberratio Delicti, Ictus e Causae 
são espécies de erro na execução do crime.

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