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Marcas do silêncio: um estudo de caso sobre os sentimentos de uma mulher frente à violência psicológica

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UNIFAE - Centro Universitário das 
Faculdades Associadas de Ensino 
 
 
CAMILA RAMOS 
 
 
 
 
MARCAS DO SILÊNCIO: UM ESTUDO DE CASO 
SOBRE OS SENTIMENTOS DE UMA MULHER 
FRENTE À VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO JOÃO DA BOA VISTA 
2016 
 
CAMILA RAMOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARCAS DO SILÊNCIO: UM ESTUDO DE CASO 
SOBRE OS SENTIMENTOS DE UMA MULHER 
FRENTE À VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito da 
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do 
Curso de Bacharel e Formação de Psicólogo 
UNIFAE - Centro Universitário das 
Faculdades Associadas de Ensino. 
Orientadora temática: Profª. Ms. Maria de 
Fátima Antunes Pinto Catunda 
Orientadora metodológica: Profª. Mª. Leticia 
Lo Duca Trentino 
 
 
 
 
 SÃO JOÃO DA BOA VISTA 
2016 
CAMILA RAMOS 
 
 
 
 
 
 
MARCAS DO SILÊNCIO: UM ESTUDO DE CASO 
SOBRE OS SENTIMENTOS DE UMA MULHER 
FRENTE À VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
DATA APROVAÇÃO: 
 
02/12/2016 
 
 
 
 Profa. Ms. Maria de Fátima Antunes Pinto Catunda 
UNIFAE 
 
 
 
 
Profa. Ms. Letícia Lo Duca Trentino 
UNIFAE 
 
 
 
 
 Nome do Dr. Guilherme Athayde Ribeiro Franco 
 Promotor de Justiça - Fórum São João da Boa Vista 
 
 
Dedicatória 
 
Dedico inteiramente este trabalho ao meu querido avô José Syrto, que sempre 
vai ser tudo para mim. Me proporcionou momentos alegres, fez de tudo para me 
ver sorrir e sei que onde estiver vai estar olhando por mim. 
 
“Vô, eu consegui! ” 
 
Agradecimento 
 
 
Agradeço imensamente todos os meus amigos, meu namorado, familiares, 
professores e orientadores pela paciência que tiveram e pelo apoio que me 
deram para eu conseguir finalizar essa pesquisa. Foram momentos difíceis, mas 
que me deram mais forças para eu continuar nessa caminhada. 
 
Por fim, a todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação: 
о meu muito obrigada! 
 
Resumo 
 
Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar os sentimentos da violência psicológica 
em uma mulher. Será feito um estudo de caso dos dados de um processo terapêutico 
em uma clínica escola usando a abordagem Cognitivo Comportamental. O estudo foi 
de natureza básica e adotou a metodologia qualitativa. A participante foi uma mulher 
que procurou atendimento em uma clínica/escola do interior de São Paulo. A coleta 
de dados foi feita a partir de instrumentos e técnicas terapêuticas utilizadas nas 
sessões feitas. No procedimento de análise de dados os instrumentos serão 
interpretados com a utilização de materiais padronizados com referencial teórico da 
Cognitivo Comportamental. Será realizada uma abordagem qualitativa dos dados a 
partir do levantamento de unidades de análise. Espera-se publicar os resultados 
obtidos como projeto de pesquisa em periódico da própria instituição e disponibilizar 
o projeto para pesquisas de utilidades públicas. Pretende-se também, contribuir para 
a área acadêmica, incentivando novas pesquisas 
 
 
 
Palavras chaves: violência, violência doméstica, violência psicológica, sentimentos 
 
Sumário 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 
2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 18 
2.1 PESSOAL ........................................................................................................... 18 
2.2 SOCIAL .............................................................................................................. 18 
2.3 CIENTÍFICA ......................................................................................................... 18 
3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 19 
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 19 
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 19 
4. HIPÓTESES .......................................................................................................... 20 
5. MÉTODO ............................................................................................................... 21 
5.1 DELINEAMENTO DE ESTUDO ................................................................................. 21 
5.2 AMOSTRA .......................................................................................................... 22 
5.2.1 DADOS DO PARTICIPANTE ................................................................................. 22 
5.2.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ............................................................... 22 
5.3 PROCEDIMENTOS COLETA DE DADOS .................................................................... 22 
5.3.1 INSTRUMENTOS ............................................................................................... 25 
5.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ................................................................ 26 
5.5 RESULTADOS ESPERADOS ................................................................................... 27 
6. ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................ 28 
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 29 
7.1 VITÓRIA ............................................................................................................. 29 
7.2 SENTIMENTOS NEGATIVOS ................................................................................... 30 
7.2.1 Domínio de Desconexão e Rejeição ................................................................ 32 
7.2.2 Domínio de Autonomia e Desempenho ............................................................ 35 
7.2.3 Domínio dos Limites Prejudicados ................................................................... 38 
7.2.4 Domínio de Direcionamento para o Outro ........................................................ 39 
7.2.5 Domínio da Supervigilância e Inibição ............................................................. 42 
7.3 SENTIMENTOS POSITIVOS................................................................................... 44 
7.4 SÍNTESE DOS SENTIMENTOS E SEUS SIGNIFICADOS ................................................ 45 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49 
ANEXO 1 – ANAMNESE .......................................................................................... 54 
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO ESQUEMAS DE YOUNG.......................................... 69 
ANEXO 3 – TERMO DE AUTORIZAÇÃO ................................................................ 75 
ANEXO 4 – TERMO DE CONSENTIMENTO DE USO DE BANCO DE DADOS ..... 76 
ANEXO 5 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................. 79 
ANEXO 6 – DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE......................................... 83 
8 
1. INTRODUÇÃO 
 
 “A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a 
liberdade do ser humano. ” João Paulo II 
 
A construção histórica ideológica da superioridade do homem em detrimento da 
mulher ocorre, como registro histórico, há pelo menos 2500 anos. (MENEZES et 
al., 2013). Nas civilizações gregas, ainda segundo a autora citada, a mulher tinha 
uma visibilidade de submissão ao homem, uma criatura subumana, a qual era 
rebaixada moralmente e socialmente e seus direitos não existiam. Menezes et 
al. (2013), cita que já na Idade Média, a mulher realizava o papel de esposa e 
mãe. Tinha a função de submeter-se ao marido e gerar filhos. Já na Idade 
Moderna, havia um cenário de incongruências, em que de um lado havia grupos 
feministas, que lutava pela liberdade feminina, e de outro, “esposas eram 
queimadas nas piras funerárias juntas aos corpos dos maridos falecidos, se 
tivessem sido vítimas de violência sexual” (MENEZES et al., 2013). 
 
No Brasil, a partir dos anos 80 a violência contra a mulher tornou-se uma questão 
a ser discutida no âmbito da saúde pública por trazer danos físicos, psicológicos 
e sociais). E desde então, esse problema vem sendo reconhecido, sucedendo 
motivos de lutas e conquistas tanto pelos movimentos feministas, quanto por 
profissionais do serviço de saúde e organizações internacionais. (Rocha, 2007 
apud DRESCH, 2011). 
 
Segundo Pimentel (2011, apud PIMENTEL 2013), a violência doméstica é 
cometida em ambiente privado, por pessoas próximas, como um familiar ou um 
parceiro íntimo da vítima. Ademais, ela é orientada pela imposição de autoridade 
tendo em vista a submissão e o domínio da autonomia do outro. 
 
“No Brasil, 70% dos crimes contra as mulheres acontecem no âmbito doméstico 
e os agressores são os maridos ou companheiros” (Brasil, 2006 apud DRESCH, 
2011 p. 6), a cada um minuto uma mulher é agredida em seu domicílio por essas 
mesmas pessoas que conservam e mantém o vínculo afetivo. Hoje em dia em 
9 
nosso país, 23% da população feminina estão expostas à prática da violência 
doméstica. (Labronici et al., 2010, apud DRESCH, 2011). Esta violência é uma 
das vicissitudes que mais preocupam as mulheres brasileiras, pois se trata de 
um problema que não escolhe classes sociais para se manifestar. É marcada 
por meio do abuso da força e/ou da opressão, uma forma de crueldade que afeta 
a autoimagem, autoestima e o autoconceito de um indivíduo. A violência 
doméstica pode ser dada por meio da agressão física, psicológica ou sexual. 
(CONCEIÇÃO E MORAIS, 2015). 
 
Dentre outras violências, no Art. 7º da Lei Maria da Penha (2012) são formas de 
violência doméstica e familiar contra a mulher: 
 
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe 
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, 
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do 
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde 
psicológica e à autodeterminação; 
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, 
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, 
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos 
sexuais e reprodutivos; 
IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos 
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos 
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria (Lei Maria da Penha, 2012 p. 27-28). 
10 
Dentre variados tipos de violência doméstica, a violência psicológica, a qual 
Fonseca e Lucas (2006) citam, é a que tem início com as tensões normais dos 
relacionamentos, tais como hábitos que geram incômodo no parceiro, 
preocupações financeiras provocadas pelos empregos e meras discrepâncias de 
opiniões. Nestes tipos de relacionamentos agressivos, as tensões aumentam, 
começando então uma série de agressões psicológicas. Conforme Conceição e 
Morais (2015), este tipo de violência, é feita através de gritos, humilhações e 
reclamações e com isso tudo, faz com que a mulher se sinta uma pessoa 
incapacitada, trazendo danos significativos à estrutura emocional. 
 
Essas agressões decorrem de comportamentos que, para Cahú et al (2012), são 
por meio de condutas que levam a rumores maliciosos e ameaças, no sentido 
de desvalorizar da mulher. Entre outros fatores, Guimarães, Maciel e Silva (2007 
apud COLOSSI e FALCKE, 2013) referem a violência psicológica como uma 
substituição ao diálogo, tentando comunicar algo que a verbalização não é 
efetiva. 
 
Dentre outros tipos de dependência, Fonseca e Lucas (2006), citam que 
situações quando está presente uma dependência financeira da mulher em 
relação ao homem, por exemplo, seja pela comodidade de não ter um emprego 
ou pela proibição do companheiro da mesma trabalhar, ela se torna obrigada a 
ir até ao marido sempre que tem a necessidade de dinheiro, e nesta situação a 
mulher fica vulnerável à violência, pois em muitos casos, o homem frui de seu 
poder financeiro como forma de violentá-la, seja por ameaça, humilhação física 
ou verbal. Gomes (1981, apud FONSECA E LUCAS, 2006 p. 10), “enquanto a 
mulher permaneceu sob a total dependência do homem, aceitou sua dominação 
absoluta”. 
 
Dentro desta dependência, segundo Menezes et al. (2013), surge o tema 
alienação, que se caracteriza pelo fato de atribuir naturalidade aos fatos sociais, 
que não são naturais, portanto, gera uma inversão dos valores relacionados ao 
humano, social e histórico. Um indivíduo, consciente de si, reconhece sua 
11 
adequação a uma classe social. Em contrapartida, o indivíduo alienado faz o uso 
da negação à sua adequação, portanto não partilha das mesmas ações e 
posturas. Em suma, as mulheres vítimas de violência doméstica não têm a 
sensação de pertencer a sua classe social, mesmo com o desejo de se 
libertarem da submissão que lhe são impostas. As vítimas se alienam e se 
negam como sujeitos sociais, em consequência à condição de dependentes 
material e emocionalmente que são colocadas, em relação ao parceiro. Negam 
sua identidade, individualidade e acabam ficando numa situação de 
constrangimento, sofrimento e sucumbem às experiências traumáticas 
(MENEZES et al., 2013). 
 
Nessas situações, citadas a cima, os sintomas psicológicos tendem a se 
manifestar. Os mais importantes, parecem ser a depressão, desesperança, 
baixa autoestima, desmotivação, além da autoimagem prejudicada, sentimentos 
de incapacidade, ansiedade, irritabilidade, perda de memória, como também 
abuso de álcool e outras drogas. (Roth e Colés apud, ROVINSKI, 2004). 
 
Hirigoyen (2006 apud COLOSSI E FALCKE, 2013) categoriza a violência 
psicológica em diversas maneiras de expressão: controle; isolamento; ciúmepatológico; assédio; aviltamento; humilhação; intimidação; indiferença às 
demandas afetivas e ameaças. Mesmo sem o ato agressivo estar presente, a 
ameaça está presente na possibilidade de acontecer algo, pois “a antecipação 
de um golpe pode fazer tanto mal ao psiquismo quanto o golpe realmente dado, 
que é reforçado pela incerteza em que a pessoa é mantida, sob a realidade da 
ameaça” (Hirigoyen, 2006, apud COLOSSI E FALCKE, 2013 p. 311). 
 
A mulher frente a esta violência sofre alguns impactos. Sua percepção sobre si 
é afetada. Isso reflete em sua segurança, em suas relações, gerando impotência. 
Segundo Fonseca e Lucas (2006) os sentimentos de tristeza, ansiedade e medo 
foram os mais destacados como decorrência psicológica deste tipo de violência, 
além do comprometimento de sua saúde mental. Isto porque, segundos os 
autores citados, a agressão interfere na crença de suas competências, ou seja, 
12 
na confiança em suas habilidades para usá-las adequadamente no cumprimento 
de atividades relevantes em sua vida, tal como a habilidade de se comunicar 
com os outros. 
 
Para Miller (1999, apud FONSECA E LUCAS, 2006 p. 13) as alterações 
psíquicas surgem em função do trauma deixado pela agressão, ou seja, a mulher 
passa a “desenvolver uma auto percepção de incapacidade, inutilidade e baixa 
autoestima pela perda da valorização de si mesma e do amor próprio”. São 
sintomas psicológicos característicos de vivências traumáticas. 
Griebler e Borges (2013), fizeram uma pesquisa sobre o perfil dos envolvidos em 
Boletins de Ocorrência da Lei Maria da Penha. Os autores mostram que: 
(...) em relação à violência psicológica, os sentimentos mais notados nas 
mulheres vítimas são de tristeza, ansiedade, estresse, agressividade, 
insegurança, baixa autoestima, medo, isolamento social, culpa, nervosismo e 
esquecimentos têm sido citados como as principais repercussões entre as 
mulheres vítimas. Além disso, a depressão, os sintomas psicossomáticos e o 
Transtorno de Estresse Pós-Traumático foram observados em estudos 
referentes às consequências psicopatológicas da violência contra a mulher. 
(GRIEBLER E BORGES, 2013 p. 218) 
 
Com as vítimas tendo sentimentos negativos, com a autoimagem e autoconceito 
prejudicados, pode surgir o receio de ir em busca de seus direitos. Sendo assim, 
Conceição e Morais (2015), explicam que o receio da falta suporte de políticas 
públicas brasileiras que as amparassem diante destas violências, as mulheres 
não denunciavam seu agressor. Porém, “nos anos 80, um movimento feminista 
lutou e exigiu das autoridades providências para as políticas públicas, para que 
essa violência pudesse ser combatida” (CONCEIÇÃO E MORAIS, 2015 p. 58). 
Uma das vitórias da luta feminista no Brasil foi a criação das Delegacias de 
Polícia Especializadas de Atendimentos à Mulher (DEAM), além da conquista da 
criação da Lei 11.340/06 no dia 7 de agosto de 2006, que tem como nome 
“Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher”, mais conhecida como “Lei 
13 
Maria da Penha” devido à história de Maria da Penha Maia Fernandes natural de 
Fortaleza-CE. Sobre essa história tem-se que: 
Em 29/05/1983, Maria da Penha foi vítima de tentativa de homicídio, por meio 
de um tiro de espingarda desferido no dorso, por seu marido à época, 
enquanto dormia. Em razão do acometimento, ficou paraplégica 
irreversivelmente. A versão dada por Marco Antonio foi de que ladrões tinham 
invadido a casa para roubar e dispararam o tiro contra sua esposa. 
Entretanto, após ter saído do hospital, quando ainda se recuperava do 
trauma, ela sofreu novas agressões, como também foi submetida a cárcere 
privado. Não obstante isso, ele tentou eletrocutá-la no banheiro, no momento 
em que essa tomava banho. A premeditação da nova tentativa de assassinato 
ficou evidente, pois este passou a utilizar o banheiro das filhas para tomar 
banho tempos antes, além de tê-la obrigado a fazer seguro de vida em seu 
favor. Em 1984, Maria da Penha iniciou luta por justiça junto a órgãos judiciais 
brasileiros. Somente sete anos depois disso, seu ex-marido enfrentou 
julgamento e foi condenado a 15 anos de prisão. Com apelação da defesa, a 
sentença foi anulada em 1992 e, apenas em 1996, foi a novo julgamento; 
desta vez, condenado a 10 anos de prisão, também saiu do tribunal em 
liberdade, devido a recursos impetrados por seus advogados. Em 1994, a 
vítima escreveu o livro “Sobrevivi, posso contar”, na tentativa de divulgar sua 
história de agressões, tendo sido bem sucedida na empreitada. Passados 
quinze anos da ocorrência, o agressor ainda continuava em liberdade e 
nenhuma sentença definitiva havia sido proferida pela justiça brasileira, 
quando a CEJIL (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) tomou 
conhecimento do caso em tela, por meio do livro publicado pela vítima, e 
formalizou denúncia, em conjunto com Maria da Penha e o CLADEM8 
(Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher), 
junto à OEA, mais precisamente no órgão responsável pela verificação de 
denúncia de violação dos direitos humanos, em decorrência de 
descumprimento de acordos internacionais: Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos (CIDH). (OLIVEIRA, 2011 p. 34-35). 
 
Esta Lei, de acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (Lei Maria 
da penha, 2012), foi aprovada após muita luta do movimento feminista (mais um 
dos merecimentos deste movimento que luta pelos direitos das mulheres e para 
que os agressores recebam uma punição). Ela prevê medidas protetivas, que 
14 
são solicitadas na delegacia de polícia ou ao próprio juiz, o qual “tem o prazo de 
48 horas para analisar a concessão da proteção requerida” (Lei Maria da penha, 
2012 p. 12). Ainda de acordo com essa Lei, o Estado também prepara com a 
prevenção desta violência e a proteção das vítimas, além de ter a 
responsabilidade de ajudar na reconstrução da vida dessas mulheres vítimas. 
 
De acordo com a Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), as medidas de prevenção 
contra a violência doméstica tem como instruções, dentre várias, a promoção de 
estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, relacionados 
às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e familiar 
contra a mulher, “para a sistematização de dados, a serem unificados 
nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas” 
(BRASIL, 2006); a implementação de atendimento policial especializado para as 
mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; a promoção e 
a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a 
difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das 
mulheres, dentro outros. 
 
Já em relação à assistência à mulher vítima de violência doméstica para auxílio 
à reconstrução da vida dessas mulheres, ainda segundo a Lei Maria da Penha 
(BRASIL, 2006), dentre várias formas de assistência, alguns parágrafos da lei 
citam o que poderá ser feito, tal como sendo o juiz quem determinará, por prazo 
certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no 
cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal, 
preservando sua integridade física e psicológica. Dessa forma, para prestar uma 
assistência qualificada é necessária uma maior atenção para identificar as 
necessidades e os aspectos delicados que estão relacionados ao processo de 
adoecimento. 
 
Então, por fim, a Lei Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher surgiu com 
o objetivo de responder adequadamente aos anseios e necessidades das15 
mulheres vítimas de violência conjugal e traz revolução e gestão que facilitam 
para que o agressor seja punido de forma eficiente. (Lei Maria da penha, 2012). 
E em suma, atualmente, o Brasil ainda sofre com uma sociedade que até então 
tem altos índices de violência contra a mulher (Brasil, 2006; Labronici et al., 2010, 
apud DRESCH, 2011), e como Fonseca e Lucas (2006) citam, a violência chega 
a prejudicar desde a saúde física até a saúde mental da vítima. 
 
Além do embasamento teórico citados, essa pesquisa também tem como o 
mesmo a Teoria Cognitivo Comportamental, que age na tentativa de restaurar, 
preservar ou prevenir a saúde mental do paciente. Sendo assim, a seguir ela 
será explicada melhor. 
 
A fundamentação teórica da psicoterapia cognitivo-comportamental surgiu a 
partir dos princípios comportamentais e pesquisas de Pavlov e Skinner. Mais 
recentemente, Beck (1987, apud ALMEIDA, 2010) contribuiu de forma decisiva 
na constituição de um modelo psicológico fundamentado em intervenções 
cognitivas, calcadas sobre a inter-relação da tríade: cognição, pensamento e 
emoção (ALMEIDA, 2010). 
 
Ainda segundo a autora citada, a técnica da Terapia Cognitivo Comportamental 
(TCC) é conhecida por ter rápida obtenção de resultados quando se trata do 
combate ao sofrimento psíquico ou até mesmo no trabalho de 
autoconhecimento. Ela cita que a técnica se difere por uma grande quantidade 
de pesquisas que examinaram suas teorias básicas e demonstraram êxito no 
tratamento, sendo assim, vem sido reconhecida cada vez mais por profissionais 
da área da saúde, assim como pelos pacientes. 
 
Utiliza-se a expressão TCC, para se denominar a junção da Terapia Cognitiva e 
da Terapia Comportamental. No modelo cognitivo-comportamental, a 
psicoterapia deverá agir nos pensamentos deflagrados por alguma situação 
estimulante dada, uma vez que tais pensamentos geram os sentimentos e os 
16 
comportamentos que caracterizam a relação do indivíduo com o ambiente que o 
cerca. (TAVARES, 2005). 
 
“A prática clínica da terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseia-se em um 
conjunto de teorias bem-desenvolvidas que são usadas para formular planos de 
tratamento e orientar as ações do terapeuta” (WRIGHT, BASCO E THASE, 2006 
p. 15). Segundo os autores citados, a TCC é uma abordagem que tem como 
embasamento dois princípios centrais: um deles acredita há uma influência 
controladora de nossa cognição sobre nossas emoções e comportamentos; o 
outro é de que nossos padrões de pensamentos e emoções poderão ser 
afetados intensamente de acordo com o modo como agimos ou nos 
comportamos. 
 
Dentre os conceitos desta linha teórica tem-se a relação terapêutica que é 
fundamental para o êxito da prática de trabalho. Através desse relacionamento 
com o terapeuta que o cliente pode perceber e ter experiências com 
oportunidades de poder expressar seus sentimentos, valores e crenças. Além do 
papel de reforçador, modelo e terapeuta, também tem um papel pedagógico, o 
qual, por sua vez, envolve um domínio teórico e uma percepção apurada na 
utilização das diversas técnicas. Também são utilizados os esquemas, que são 
crenças nucleares e tem a função que permite ao cliente codificar, selecionar, 
filtrar e, principalmente, atribuir significados aos eventos e situações que 
ocorrem durante o desenvolvimento. Sendo assim, o esquema é uma estrutura 
cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos ao qual o organismo é 
submetido. Tudo isso através de estruturações feitas gradativamente das 
interpretações às informações que são vindas do meio ambiente e do mundo. 
Por fim, dentre outros, há o pensamento automático que são cognições que 
passam rapidamente por nossas mentes quando estamos em meio a situações 
(ou relembrando acontecimentos). Normalmente, esses pensamentos 
automáticos são privativos/não-declarados, ocorrendo de forma rápida conforme 
avaliamos o significado de eventos e acontecimentos em nossas vidas 
(TAVARES, 2005; WRIGHT, BASCO E THASE, 2006). 
17 
 
Por fim, Beck e colaboradores (1979; D. A. Clark et al., 1999 apud Wright, Basco 
e Thase, 2006 ) descreveram seis categorias principais de erros cognitivos 
abstração seletiva, inferência arbitrária, supergeneralização, maximização e 
minimização, personalização e pensamento absolutista (dicotômico ou do tipo 
“tudo-ounada”). De acordo com o autor, estes erros são mais comuns em 
pessoas deprimidas, pois tendem a ver o lado mais negativo da situação 
vivenciada. 
 
Em suma, de acordo com a visão de Psicologia Cognitivo Comportamental, 
diferentes eventos geram distintas formas de agir em diferentes pessoas, não 
em função do evento em si, mas sim pela interpretação/pensamento que é feita 
do mesmo, gerando diferentes emoções e comportamentos. Em função disso, 
uma mudança em qualquer um desses componentes - pensamento, emoção e 
comportamento, pode iniciar modificações nos demais. (Beck, 1987 apud 
ALMEIDA, 2014) 
 
Então, tendo o embasamento teórico apresentado, e de acordo com a Teoria 
Cognitivo Comportamental, o presente projeto tem como problema de pesquisa: 
quais são os sentimentos de uma mulher frente à violência psicológica? 
 
18 
2. JUSTIFICATIVA 
 
2.1 Pessoal 
 
Atualmente violência doméstica vem sendo algo de muito destaque e motivo de 
muitas lutas feministas. A violência psicológica, que está inclusa dentro deste 
conceito, gera um desequilíbrio psicológico na mulher, o que pode afetar sua 
autoimagem, por exemplo. 
 
O interesse no tema surgiu através do atendimento psicoterapêutico de uma 
mulher em uma clínica escola. 
 
2.2 Social 
 
A relevância social desta pesquisa está em abordar reflexões sobre os 
sentimentos da mulher frente à violência e uma maior conscientização sobre o 
assunto na sociedade. 
 
2.3 Científica 
 
Mesmo existindo grandes estudos sobre o impacto causado às mulheres que 
sofrem violência doméstica, a pesquisadora sentiu necessidade de explorar mais 
sobre o assunto tratado relacionando-o com o caso de uma mulher, a partir do 
referencial teórico da terapia cognitiva comportamental. 
 
Espera-se que essa pesquisa possa auxiliar outros pesquisadores a 
compreenderem como a violência psicológica pode influenciar os sentimentos 
de uma mulher. 
 
19 
3. OBJETIVOS 
 
3.1 Objetivo geral 
 
Analisar os sentimentos de uma mulher frente à violência psicológica, sob o 
referencial da teoria Cognitivo Comportamental. 
 
3.2 Objetivos específicos 
 
 Identificar sentimentos de uma mulher perante à agressão psicológica; 
 
 Analisar os sentimentos de uma mulher perante à agressão psicológica 
 
 Compreender os sentimentos de uma mulher perante à agressão psicológica, 
a partir da perspectiva cognitiva comportamental. 
 
20 
4. HIPÓTESES 
 
Tendo em vista os autores citados anteriormente, supõe-se que a vítima se 
encontre com a autoimagem prejudicada, com um nível de dependência elevado 
e o autoconceito negativo, a ponto de se achar incompetente. 
 
Uma suposição que se faz na tentativa de explicar o problema apresentado, é 
de que a violência psicológica é entendida como algo que pode causar grande 
danos emocionais a mulher. Pode estar ligada à questão da dependência 
financeira ou chantagem, a qual o agressor a ameaça ou a humilha. Por mais 
que seja um problema antigo, atualmente é algo que vem sendo muito discutido 
e problematizado pelo mundo todo, assim levando a sociedade a debater e 
refletir suas causas. 
 
21 
5. MÉTODO 
 
5.1 Delineamento de estudo 
 
Trata-se de uma pesquisa de natureza básica, a qual “envolve verdadese 
interesses universais, procurando gerar conhecimentos novos úteis para o 
avanço da ciência, sem aplicação prática prevista” (PRODANOV E FREITAS, 
2013). 
 
O método científico utilizado na presente pesquisa será o dedutivo que segundo 
Prodanov e Freitas (2013 p.27), parte do geral para a questão particular, 
destacando que “por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem 
descendente, de análise do geral para o particular, chega a uma conclusão”. 
 
Em relação ao objetivo de estudo, como a pesquisa tem o intuito de proporcionar 
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a 
construir hipóteses, o objetivo de estudo é exploratório. Envolve levantamento 
bibliográfico; entrevistas e análise de exemplos que estimulem a compreensão. 
(PRODANOV E FREITAS, 2013; Gil, 2007 apud GERHARDT e SILVEIRA, 
2009). 
 
O procedimento técnico utilizado será o estudo de caso, que pode ser definido 
como uma exploração de um caso, obtida por meio de uma detalhada coleta de 
dados, envolvendo múltiplas fontes de informações, e uma forte atuação do 
pesquisador e do objeto de pesquisa. É um estudo aprofundado de um indivíduo 
a fim de estudar aspectos variados de sua vida, de acordo com o assunto da 
pesquisa (PRODANOV E FREITAS, 2013) 
 
Os autores citados ainda destacam que o estudo de caso vem sendo utilizado 
com frequência pelos pesquisadores sociais, com o propósito de descrever a 
situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; 
 
22 
Por fim, a pesquisa terá uma abordagem qualitativa, pois considera-se presente 
a relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real, ou seja, um vínculo 
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não podem 
ser demonstrados em números. 
 
5.2 Amostra 
 
5.2.1 Dados do participante 
 
A participante será identificada pelo nome fictício: Vitória, com idade de 54 anos, 
sexo feminino, escolaridade com o nível Superior completo e, por fim, com a 
formação do grupo familiar (Iniciais e nomes fictícios) como Marido (Jorge, 57 
anos), Filha (C. 20 anos) e Filho (T. 30 anos). 
 
5.2.2 Critérios de inclusão e exclusão 
 
Como critério de inclusão da presente pesquisa foi escolhido uma mulher 
maior de 18 anos que procurasse atendimento terapêutico em uma 
clínica/escola no interior de São Paulo. 
 
Como critério de exclusão foram descartadas as mulheres que não 
apresentaram as especificações escolhidas. 
 
5.3 Procedimentos coleta de dados 
 
A presente pesquisa se trata de uma observação direta extensiva, que para 
Prodanov e Freitas (2013, p. 102) “ocorre através do questionário, do formulário 
de medidas de opinião e de atitudes, história de vida, análise de conteúdo e 
testes “. 
 
23 
As sessões foram realizadas semanalmente numa clínica/escola e tinham 
duração de 50 minutos. O processo ocorreu com o total de treze sessões, sendo 
duas sessões de anamnese e três faltas justificadas. 
 
Iniciou-se o processo com a Anamnese (Anexo 1) para compreender melhor a 
queixa trazida por ela bem como a dinâmica familiar da mesma. A sessão de 
Anamnese foi feita através de entrevista na qual a estagiária conduzia a sessão 
para alguns tópicos específicos, mas, deixando a paciente falar livremente. 
 
Foram utilizadas algumas técnicas durante o procedimento que de acordo com 
Castro (1978), é a ação metodológica de uma teoria, a qual não existe sem uma 
base epistemológica que a fundamente. É apenas um meio intervencional de 
uma grande contribuição teórica, mas não o principal fundamento em um 
contexto clínico, e sim algo que acrescentará informações. Sendo assim, ao 
utilizar alguma técnica psicoterápica, necessariamente relaciona-se diretamente 
a um procedimento metodológico utilizado no processo terapêutico. A utilização 
da técnica é segundo a demanda do paciente, segundo o momento da sua vida. 
 
Para esta pesquisa, foi utilizada a técnica: “Eu Real/Eu ideal”, que visa trilhar a 
autonomia da paciente. O objetivo da técnica é fazer uma reflexão acerca de 
suas colocações questionando cada ponto que a paciente escreveu em seu Eu 
real (o que ela acha que é) e o Eu ideal (o que ela gostaria de ser). 
Também foi aplicada a técnica “Qualidades e Defeitos”, que trabalha com a 
autoestima, ou seja, o sentimento de valor que uma pessoa tem de si mesmo. 
Tem o objetivo de ser feita uma reflexão acerca das colocações de suas 
qualidades e defeitos, questionando cada ponto que a paciente escreveu. 
 
Além disso, foram feitos os Esquemas Cognitivos, que são divididos em: uma 
situação que a paciente cite e algum pensamento automático, emoção e 
comportamento que ela tenha na situação descrita. É um instrumento de coleta 
de dados pois retrata os esquemas, que são crenças nucleares (regras globais 
e absolutas para interpretar as informações ambientais relativas à autoestima) 
24 
que agem como base ou regras para o processamento de informações no 
cotidiano do indivíduo, ou seja, como ele percebe as situações de seu cotidiano. 
 
Foi aplicado o questionário “Esquemas de Young” (Anexo 1), elaborado por 
Jeffrey E. Young, que tem o objetivo de avaliar esquemas iniciais desadaptativos 
(são esquemas fortalecido ao ponto no qual estimula e impulsiona o fluxo de 
pensamentos automáticos negativo). 
 
E por fim, foi utilizado o Questionamento Socrático: Tem o objetivo de ajudar a 
paciente a reconhecer a relação entre o terapeuta e ele, e de ajudá-lo a 
reconhecer e modificar o pensamento desadaptativo (pensamentos que podem 
gerar reações emocionais dolorosas e comportamento disfuncional). Este 
Questionamento consiste em fazer perguntas ao paciente que provoque sua 
curiosidade e o desejo de inquirir, fazendo assim o paciente se envolver no 
processo. Uma forma especial de questionamento socrático é a descoberta 
guiada, “por meio da qual o terapeuta faz uma série de perguntas indutivas para 
revelar padrões disfuncionais de pensamento ou comportamento” (Wright, Basco 
e Thase, 2006 p. 28). 
 
O procedimento de coleta de dados será através da análise de dados de 
atendimentos psicoterapêuticos uma clínica escola mediante aprovação da 
responsável pala instituição. Para isso, será utilizado o Termo de Autorização 
assinado que se encontra no Anexo 3. 
 
Para coleta de dados para fins da pesquisa científica será utilizado o Termo de 
Consentimento de Uso de Banco de Dados, que se encontra devidamente 
assinado por sua orientadora e pela pesquisadora no Anexo 4. Os dados que 
serão utilizados da psicoterapia ocorreram de março a junho. 
 
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 5) deve ser assinado ela 
paciente, após aprovação do CEP. 
 
25 
É importante destacar que a pesquisa só será iniciada e os dados analisados a 
partir da aprovação Do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), em que a 
pesquisadora responsável assume o compromisso e responsabilidade de 
informações coletadas ao longo do processo psicoterápico, cuja declaração de 
responsabilidade se encontra no Anexo 6. 
 
5.3.1 Instrumentos 
 
Foram utilizadas as técnicas: a. “Eu Real/Eu ideal”, em que foi dado à paciente 
uma folha dividida ao meio com um lado escrito Eu real, e o outro Eu ideal. Foi 
pedido para que ela escrevesse como ela acha que é (características da 
personalidade e do seu jeito de ser) naquele, e como ela gostaria de ser (se 
imagina) neste. Após isso, foi feito uma reflexão acerca de suas colocações 
questionando cada ponto que a paciente escreveu, levando em conta que o Eu 
real, é o eu verdadeiro, aquele que representa a essência. O acesso ao eu real 
ocorre, muitas vezes, através dosseguintes pensamentos: “Isso é realmente 
verdade? ” ou “ Apesar de não querer admitir isso, sei que é assim”. Já o Eu ideal 
abrange os ideais quanto a si próprio. Tanto aquilo que se deseja ser, quanto o 
que se acredita ser. Sendo assim, há um desejo ou cobrança de ser diferentes 
do que se é hoje e aí pode surgir uma não aceitação da maneira atual de ser. 
 
Foi utilizada a técnica “Qualidades e Defeitos”, que trabalha com a autoestima, 
ou seja, o sentimento de valor que uma pessoa tem de si mesmo. Trata-se da 
auto avaliação das características individuais. O procedimento é o mesmo da 
técnica anterior. É dada uma folha dividida ao meio e de um lado a paciente 
escreve quais qualidades acha que possui e do outro os defeitos que acha que 
possui, também. 
 
O questionário “Esquemas de Young” é listado por 75 perguntas, as quais devem 
ser respondidas de acordo com uma Escala de Avaliação que vai de 1 a 6, sendo 
1- inteiramente falsa; 2- em grande parte falsa; 3- levemente mais verdadeira do 
que falsa; 4- moderadamente verdadeira; 5- em grande parte verdadeira e 6- 
26 
descreve perfeitamente. As questões são mapeadas por meio do somatório dos 
resultados de cada grupo de 5 domínios: 
 
Desconexão e rejeição: domínio ligado ao sentimento de frustração 
vivenciado pela pessoa com relação às expectativas de segurança, 
estabilidade, carinho, empatia, compartilhamento de sentimentos, aceitação 
e consideração. Que estariam vinculados a este grupo - privação emocional, 
abandono, desconfiança/abuso, isolamento social e defectividade/vergonha. 
Autonomia e desempenho: domínio que avalia sentimentos de incapacidade 
experimentados pelo indivíduo no que tange à possibilidade de se separar 
dos demais conquistando a autonomia necessária para sobreviver de forma 
independente e com bom desempenho. 
Limites Prejudicados: possível de ser identificado pela deficiência nos limites 
internos, pela ausência de responsabilidade com os demais e/ou pela 
dificuldade de orientação para a concretização de objetivos distantes. 
Caracteriza prejuízos com relação a respeitar os direitos dos outros, a 
cooperar e a se comprometer com metas ou desafios. Os esquemas 
associados a este domínio são os de merecimento e 
autocontrole/autodisciplina insuficientes. 
Orientação para o outro: trata-se de um funcionamento que quando presente 
na personalidade ocasiona um foco excessivo para os desejos e sentimentos 
dos outros em função da constante busca de obtenção de amor. Muitas 
vezes, a pessoa suplanta suas próprias necessidades com o intuito de obter 
aprovação, podendo suprimir sua consciência, sentimentos e inclinações 
naturais. Os esquemas de subjugação e autossacrifício compõem este grupo. 
Supervigilância e Inibição: refere-se ao bloqueio da felicidade, 
autoexpressão, relaxamento, relacionamentos íntimos e ao 
comprometimento da própria saúde devido à ênfase excessiva na supressão 
dos sentimentos, dos impulsos e das escolhas pessoais espontâneas. Regras 
e expectativas rígidas internalizadas sobre desempenho e comportamento 
ético geralmente integram este padrão de funcionamento. Inibição emocional 
e padrões inflexíveis são os dois esquemas que integram este contexto 
(CAZASSA, 2007 p.16). 
 
5.4 Procedimento de análise de dados 
 
O procedimento de análise de dados teve como critério o encadeamento 
lógico de evidências, no qual o estudo permite que o leitor acompanhe o 
processo do desenvolvimento da pesquisa até as conclusões. Após a 
aprovação do CEP, os instrumentos descritos nos itens 5.3.1 foram 
interpretados com a utilização de materiais padronizados. 
 
O referencial teórico e a técnica utilizada para a análise foi a partir da 
abordagem cognitivo comportamental para um melhor entendimento e 
também para a exposição dos resultados obtidos. 
27 
 
Foi realizada uma abordagem qualitativa de dados a partir do levantamento 
de unidades de análise. 
 
5.5 Resultados esperados 
 
Através da conclusão desta pesquisa, espera-se publicar os resultados obtidos 
como projeto de pesquisa em periódico da própria instituição e disponibilizar o 
projeto para pesquisas de utilidades públicas. Pretende-se também, contribuir 
para a área acadêmica, incentivando novas pesquisas. 
 
28 
6. ASPECTOS ÉTICOS 
 
Foi garantido total sigilo da identificação de todos os envolvidos, pois segundo 
o Código de Ética do Psicólogo (2014): 
 
Art.9° - É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, 
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou 
organizações, q que tenha acesso no exercício profissional. 
 
O artigo 5° da mesma resolução também foi seguido, o qual relata que: 
 
Os psicólogos pesquisadores obterão o consentimento informado dos 
indivíduos a serem pesquisados com garantia de efetiva proteção dos 
participantes, devendo ser oferecidos os seguintes critérios: I, que os 
indivíduos, assegurada a sua capacidade legal, cognitiva e emocional para 
entender os objetivos e possíveis consequências da pesquisa, devem decidir 
se desejam participar ou não. 
 
Devido á esta pesquisa envolver seres humanos, esta segue a Resolução 466/12 
do Ministério da Saúde, em que prorroga o respeito aos participantes em caráter 
voluntário decidindo ou não a participar á pesquisa. 
 
Caso a pesquisa seja suspensa os dados ficarão armazenados com o 
pesquisador durante o período de cinco anos, e serão comunicados ao CEP as 
razões da suspensão. Também será seguido o que se propõe o Código de Ética 
do Psicólogo e demais resoluções emitidas pelo Conselho Federal de Psicologia. 
 
29 
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
Os resultados obtidos nesta pesquisa foram divididos em forma de subitens para 
haver melhor compreensão do estudo de caso. Para que a compreensão seja 
facilitada, foi apresentada a história de vida da mulher, visto que esta possui o 
nome fictício de Vitória, a fim de preservar o sigilo e seu anonimato. 
 
A análise dos testes e técnicas e falas de V. que foram retiradas das sessões e 
foram divididas em sentimentos negativos e sentimentos positivos para um 
melhor entendimento. Para entender essa divisão, Milred (2009) explica que o 
sentimento pode ser definido como influências psicológicas nas atitudes e 
vivências dos seres humanos, sendo elas conscientes ou inconscientes de 
acordo com cada indivíduo. 
 
Na técnica do Questionário dos Esquemas de Young, explicado no item 5.3.1, 
as respostas que foram avaliadas são as que obtiveram uma avaliação acima de 
3. Tanto as respostas do mesmo, quando falas de Vitórias trazidas durante as 
técnicas se sessões estarão divididas entre sentimentos negativos e positivos 
abaixo. 
 
7.1 Vitória 
 
Vitória tem 54 anos e atualmente vive em uma cidade do interior de São Paulo 
com seu marido (para manter o anonimato, será citado como Jorge) e sua filha. 
Tem mais um filho, mas ele é casado e mora com sua esposa. 
 
Ela é casada há, aproximadamente, 38 anos. Relata nas sessões que Jorge, no 
namoro e no começo do casamento, sempre foi muito carinhoso. As agressões 
começaram quando ele começou a beber e chegar tarde em casa. 
 
Vitória relata ter um relacionamento não muito satisfatório com Jorge. Trouxe 
durante as sessões se sentir ansiosa quando ele sai para beber, e muito triste 
30 
quando ele a agride verbalmente e psicologicamente, chegando a se trancar no 
banheiro para chorar. 
 
Durante várias sessões, Vitória relata também que de tanto Jorge dizer que ela 
é uma incompetente, burra e incapaz, se sente assim. 
 
7.2 Sentimentos negativos 
 
Segundo Milred (2009), os sentimentos negativos bloqueiam as percepções 
do indivíduo quando semanifesta, e muitas vezes ele se sente culpado por 
isso. Eles podem ser gerados por diversos fatores, tais como sofrimento 
antecipado, pensamentos negativos, problemas e preocupações. E como 
consequência, o ser fica à mercê de distorções do pensamento, podendo dar 
origem a comportamentos não desejados, também contribuir para o 
desenvolvimento de alguns problemas psicológicos, e consequentemente 
problemas pessoais, constatando-se como um obstáculo ao desenvolvimento 
pessoal. Os sentimentos negativos que Vitória trazia para as sessões, foram 
demonstrados em falas ou nos resultados das técnicas e instrumentos 
utilizados. 
 
Foram detectados alguns erros cognitivos durante todo o processo. Um deles 
é que Vitória trazia o pensamento absolutista, o qual trata que seus 
julgamentos sobre si mesmo, as experiências pessoais ou com os outros 
foram totalmente negativas. Isto pode ser detectado a partir da fala que a 
mesma trouxe em uma das sessões, em que seu marido dizia que ela não 
passaria em um concurso público, pois não passou em alguns que tinha 
prestado, e então era incompetente e burra. Sendo assim, ela trazia a 
seguinte frase: “é o que ele diz. Então eu acabei aderindo isso. Não acredito 
que tenho capacidade para fazer uma prova e passar” (sic), ou seja, ela teve 
uma experiência pessoal ruim: de não passar em um concurso e o marido 
utilizar os adjetivos apresentados para atingi-la. 
 
31 
O segundo erro cognitivo detectado foi a personalização, que é quando 
eventos externos são relacionados a ela mesmo, quando há pouco ou 
nenhum fundamento para isso. Vitória se culpava por eventos que 
considerava negativos que não tinha relação com ela. Isto pôde ser visto em 
suas falas, como, por exemplo, ela se culpar pelo marido beber demais. “Me 
culpo por ele beber assim hoje em dia. Eu poderia ter colocado um limite, 
poderia ter ajudado ele, mas não fiz isso. Acho sim, que tenho culpa por 
chegar onde chegou” (sic). 
 
Percebe-se, então, que Vitória começou a internalizar o que o marido disse 
e achar que era aquilo mesmo, tendo não só sua autoimagem totalmente 
afetada, mas todo um autoconceito e passou a pensar assim, a achar que 
era realmente tudo aquilo. Deixando até seus objetivos e vontades de lado. 
 
Além desses erros cognitivos, foram demonstradas também falas durante as 
sessões e acolhimento com conteúdos de sentimentos negativos. Uma delas 
é que Vitória se sente muito sozinha. “Eu sinto muita solidão, sabe... muito 
medo de ficar doente e dependente fisicamente de alguém” (sic). Traz muitas 
vezes que quando o marido sai, fica ansiosa esperando pela volta dele, 
apenas para ter certeza de que ele chegou. Mesmo com o sentimento de 
solidão, Vitória traz também o sentimento de não se sentir feliz com a 
dependência financeira e a relação que possui do marido. Relata que “queria 
ser independente. Se eu ganhasse bem e fosse bem-sucedida, não estaria 
casada” (sic). Sendo assim, percebe-se que a mesma não sente feliz no 
relacionamento, trazendo muitas vezes a questão de não saber o porque está 
com R: “não sei porque estou com ele. Não temos nada em comum, nem 
gostos musicais, comida, política, maneira de pensar... nada” (sic). 
 
Durante muitas sessões, Vitória trouxe o sentimento de tristeza quando ele a 
agredia psicologicamente e verbalmente. Em algumas vezes trouxe por 
escrito: “estou ficando cansada e desanimada, muito confusa com a minha 
vida, (...) hoje acho que não vale a pena continuar nessa relação e 
sofrimentos, penso se isso vale a pena passar por tudo isso. Pode ser que 
32 
amanhã eu estarei melhor, menos triste” (sic); “Estou cansada com essa 
situação, queria poder ir embora, mas tenho a C.” (sic); “Estou muito triste 
muito mesmo. Gritos e berros. Estou cansada, sem querer penso quando isso 
vai terminar, estou cansada. Está bêbado novamente, cansada cansada 
cansada... muita falta de respeito pela minha pessoa só Deus para dar forças 
e resignação para eu continuar essa vida, sem sentido” (sic); “Mais uma vez 
fui agredida verbalmente. Que não faço nada, durmo até as 10h, que não 
sirvo pra nada, que não passo a roupa dele, que n/ faço comida. Tudo 
mentira!! Hora que ele chega a mesa do almoço está arrumada e a comida 
está pronta ou quase pronta” (sic). 
 
E, por fim, outro sentimento que Vitória traz é o medo: “tenho muito medo de 
meu filho ser igual ao meu marido” (sic), ou seja, ela não quer que o filho seja 
o reflexo do pai, repetindo as atitudes e falas do mesmo. 
 
Até aqui, Vitória trouxe muitos sentimentos decorrentes da violência 
psicológica, tanto no momento em que aconteceu quanto depois, como 
consequência. Os sentimentos foram: solidão ou o medo de ficar sozinha ou 
dependente fisicamente, ou do seu filho ser igual ao seu marido; infelicidade, 
desânimo e confusão com seu casamento; tristeza e cansaço com a situação 
da violência psicológica. 
Por último nos sentimentos negativos, foi aplicado o questionário de 
Esquemas de Young (Anexo 2). Como foi explicado no item 5.3.1, é dividido 
em 5 domínios contendo 15 esquemas. Foram observados vários esquemas 
prejudicados em Vitória. Todos os esquemas e domínios serão explicados, 
divididos em tópicos por domínios, e analisados segundo Young, Klosko e 
Weishaar (2008). 
 
7.2.1 Domínio de Desconexão e Rejeição 
 
Young, Klosko e Weishaar (2008) demonstram em sua obra que o domínio 
de Desconexão e Rejeição se trata da falta de ambiente seguro e estável, 
com vivências primitivas de experiências sociais negativas como abuso, 
33 
frieza, rejeição ou isolamento social, e possui cinco esquemas. O primeiro 
esquema de Abandono traz a sensação de que as pessoas importantes para 
o indivíduo não serão capazes de manter e lhe proporcionar apoio emocional, 
não merecem confiança, ligação e tudo isso por ela acredita que a qualquer 
momento poderá ser trocada por outra pessoa melhor ou abandonada. No 
questionário, Vitória responde que acha em grande parte verdadeira a 
afirmação de que se preocupa com a possibilidade de as pessoas que ela 
gosta a deixarem ou abandoná-la. Sendo assim, ela demonstra possuir esta 
preocupação e medo de perder alguém. De acordo com esses pensamentos, 
vive com medo de que alguém poderá sair de sua vida, ou seja, de acordo 
com a resposta de Vitória. Ela também traz esse medo em suas falas e 
experiências: “quando R. sai para beber eu fico muito ansiosa. Sinto muito 
medo, principalmente depois que ele levou a facada” (sic), ou até mesmo 
quando cita que acha que deu marido já a traiu, já que ele viaja demais. 
 
O segundo esquema é o de Desconfiança/Abuso. A pessoa que possui esse 
esquema prejudicado possui a expectativa de que os outros irão a machucar, 
humilhar, traí-la, enganar, mentir ou até mesmo abusa-la. Normalmente, se 
envolve a percepção de que o prejuízo é o resultado da negligência extrema 
ou injustificada. Pode ser incluída a sensação de que sempre “leva a pior” ou 
está sendo enganada por terceiros, incluindo a sensação de acreditar que os 
outros irão obter vantagens sobre elas de várias maneiras. Nas questões, 
Vitória responde que acha levemente mais verdadeira do que falsa a 
afirmação de que sente que não pode baixar a guarda na presença dos 
outros, pois eles a prejudicariam intencionalmente. Sendo assim, percebe-se 
que Vitória, de acordo com a sua resposta, possui o medo trazido pelos 
autores. Nas sessões, ela também trouxe falas relacionadas a este esquema, 
como por exemplo a já citada a cima, que é acreditar que o marido já a traiu. 
 
O terceiro esquema é o de privação emocional. Os autores trazem que o 
indivíduo que possui este esquema afetado tem uma expectativaque acredita 
que não será atendida pelos outros: o desejo de ter um certo e adequado 
apoio emocional. Segundo eles, existem três tipos de privações: 
34 
 
a- Privação de cuidados: ausência de atenção, afeto, carinho ou 
companheirismo. 
b- Privação de empatia: ausência de compreensão, de escuta, de uma 
postura aberta ou de compartilhamento mútuo de sentimentos. 
c- Privação de proteção: ausência de força, direção ou orientação por 
parte de outros (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR , 2008 p. 28). 
 
De acordo com as perguntas de número um e dois Vitória acha 
moderadamente verdadeira as afirmações de que na maior parte do tempo, 
não tem ninguém para dar carinho, compartilhar e se importar profundamente 
com o que acontece com ela, assim como não havia pessoas para a dar 
carinho, segurança e afeição. Acredita que seja em grande parte verdadeira 
a afirmação (questão cinco) que raramente tem alguma pessoa forte para a 
ajudar, dar bons conselhos ou orientação quando não tem certeza do que 
fazer. Por fim, também traz como levemente mais verdadeira do que falsa as 
questões três e quatro, em que em grande parte de sua vida não se sentiu 
especial para alguém, e que, em geral, não tem ninguém que realmente a 
escute, compreenda-a ou esteja sincronizado com suas verdadeiras 
necessidades e sentimentos. Segundo o que os autores trazem pode-se 
observar em algumas falas trazidas por Vitória, como “eu sinto que meu 
marido não é o mesmo de antes. Ele em respeitava, e depois do casamento 
não tive mais isso. Ele começou a beber e não era mais carinhoso e amoroso 
como antes. Ele não me demonstra nada e quando eu demonstro ele já vem 
perguntando o que eu quero” (sic). Relacionando a teoria com a prática, 
acredita-se que Vitória tenha esse sentimento de que o amor que recebeu, 
foi incompleto, não sendo o que ela esperava ou até mesmo recíproco, ou 
seja, a privação de empatia. 
 
O quarto esquema apresentado é o de defectividade/vergonha. A pessoa trás 
o sentimento de que é indesejado, mau, inferior ou inválido em vários 
aspectos, ou até mesmo se acha não merecedor do amor de pessoa 
importantes em sua vida. Pode até desenvolver uma insegurança quando 
está junto ao outro, ou vergonha dos defeitos percebidos, sendo assim, 
35 
costumam ter vergonha de si. Vitória, de acordo com sua resposta na questão 
de número 23, traz que a afirmação de que ela não é digna do amor, da 
atenção e do respeito dos outros, a descreve perfeitamente. Vitórias também 
traz algumas falas durante as sessões, tais como “falo que sou aposentada, 
pois tenho vergonha” (sic), ou até mesmo algumas falas já demonstradas 
acima nos erros cognitivos, como se considerar incapaz de algo, como por 
exemplo não passar em uma prova de concurso (o que ela relata ter vontade 
de fazer). Sendo assim, acredita-se que ela tem vergonha de algumas coisas 
sobre si, consequentemente isso afeta sua autoimagem/auto percepção. 
 
O último esquema trazido, é o de Isolamento social. Porém, Vitória não 
colocou respostas acima de 1 nas perguntas trazidas. Sendo assim, este 
esquema será tratado nos sentimentos positivos. 
 
De acordo com a análise desde Domínio, percebe-se que Vitória trouxe vários 
sentimentos, tanto em suas falas quando em suas respostas no questionário. 
Os sentimentos notados, foram os de incompetência, culpa, medo, carência, 
inferioridade e vergonha de si, os quais serão definidor melhor no item 7.4. 
Todos esses sentimentos ela relata, de forma implícita ou explicita que são 
consequências da violência psicológica por parte do marido, e que afetam de 
alguma forma a vida dela. 
 
7.2.2 Domínio de Autonomia e Desempenho 
 
O segundo domínio apresentado pelos autores já citados a cima, é o de 
Autonomia e Desempenho prejudicados. É composto por quatro esquemas, 
e trata, em geral, de expectativas do indivíduo, relacionadas a si mesmo e o 
ambiente, que interfere na auto percepção da capacidade do indivíduo de 
sobreviver, funcionar de forma independente ou até mesmo ter um bom 
desempenho. 
 
O primeiro esquema explicado é o de dependência/incompetência, em que 
Vitória só trouxe uma questão que chamasse atenção para os sentimentos 
36 
negativos. Ela traz como levemente mais verdadeira do que falsa a afirmação 
de que acha que falta bom senso para si. René Descartes traz a definição de 
bom senso em seu Discurso do Método, sendo entendida como a razão: 
 
(...)“A capacidade de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso, que 
é propriamente o que denominamos ‘bom senso’ ou razão, é 
naturalmente igual em todos os homens”1 (Descartes, 1996, p. 2 apud 
PATY, M. 2003, p. 11). 
 
Durante as sessões, Vitória trouxe que a falta desse bom-senso está relacionada 
com: “falta eu ser mais firme com as pessoas. Ter uma firmeza em minha opinião 
e atitude” (sic) e “Eu não sou firme com o R. quando ele me agride. Ou eu choro 
ou respondo com agressividade também. Não tenho um meio termo de conseguir 
conversar com ele e colocar que eu não gosto das coisas que ele fala. Eu apenas 
vou deixando levar, porque já falei uma vez e não adiantou” (sic). Sendo assim, 
relacionando a definição apresentada e a fala de Vitória, com a teoria de Young, 
Klosko e Weishaar (2008) esse esquema prejudicado na paciente trouxe um 
elemento explicado pelos autores: a incompetência, em que o indivíduo não 
confia em sua capacidade de decisão, já que Vitória traz não conseguir ser firme 
em relação ao que ela acredita. 
 
O próximo esquema é a vulnerabilidade ao dano e a doença, em que o paciente 
com esse esquema prejudicado acredita que algo terrível possa lhe acontecer, 
além de seu controle. Vitória acredita que três, das cinco perguntas feitas, são 
em grande parte verdadeira. Acredita que não consegue deixar de sentir que 
algo ruim irá acontecer; sente que algum desastre (seja natural, criminal, 
financeiro ou médico) irá acontecer a qualquer momento; e tem medo de pegar 
uma doença séria, mesmo que nada de sério tenha sido diagnosticado pelos 
médicos. No caso, Vitória trouxe como comentário para essas perguntas o medo 
 
1 “La puissance de bien juger et de distinguer le vrai d’avec le faux, qui est proprement ce qu’on 
nomme le bon sens ou la raison, est naturellement égale en tous les hommes” (Descartes, 1996, 
p. 2 apud PATY, M. 2003). 
 
37 
de que acontecesse algo com seu irmão, que aquele dia ela estava com este 
receio, ou seja, algo fora de seu controle. Além de trazer também o conteúdo de 
ela não ter medo da morte, “tenho medo apenas de ficar doente do nada e 
depender fisicamente de alguém” (sic), ou seja, algo terrível pode acontecer, mas 
que não tem como ela prever. 
 
O esquema posterior é o Emaranhamento, e Vitória trouxe apenas uma questão 
ligada a isso, em que acha levemente mais verdadeira do que falsa a afirmação 
de que seus pais e ela tendem a se envolver excessivamente cm a vida e com 
os problemas uns dos outros. Neste esquema, os autores trazem mais uma 
questão de o indivíduo ter uma dificuldade em de envolvimento emocional e 
intimidade em excesso com pessoas importantes, no caso os pais, dificultando 
a individuação integral e desenvolvimento social normal. Vitória relata que tinha 
um ótimo relacionamento com os pais, os quais já faleceram. Mas durante as 
sessões, não trouxe nenhum relato sobre esse emaranhamento em excesso, 
além da resposta para esta pergunta. 
 
Por fim, o último esquema deste domínio é o Fracasso. Este foi um dos 
esquemas que mais chamaram a atenção devido ao fato de ser uma das 
principais queixas da paciente como consequência da violência psicológica. 
Young, Kloskoe Weishaar (2008) citam que o indivíduo com esse esquema 
prejudicado acha que fracassou em relação a outras pessoas em diversas áreas. 
Sente-se basicamente inadequados em comparação com outros do mesmo 
nível, considerando-o inadequado, burro, sem talento ou malsucedido. 
 
Vitória paciente trouxe, no questionário, que acha moderadamente verdadeira 
as afirmações (questões 29 e 30) de que não tem tanto talento quanto a maioria 
das pessoas tem em sua profissão; e não é tão inteligente quanto a maioria das 
pessoas no que se refere a trabalho. Em relação as suas falas, ela traz o 
sentimento de fracasso relacionado a profissão e dinheiro, e ainda demonstra 
também os sentimentos de incapacidade, que já foi comentado nos erros 
cognitivos. “Tenho dificuldade em assimilar as coisas. Achava que demoro para 
38 
aprender, mas a faculdade me ajudou a ver que não é tudo isso. Mas, R. ainda 
colocou na minha cabeça que eu sou incapaz e incompetente. Então passei a 
acreditar nisso! ” (sic). 
 
Dentro das falas e resposta relacionadas a este domínio, Vitória traz o medo de 
acontecer algo, alguma catástrofe que não está sob seu controle ou não depende 
dela, o fracasso (em relação a profissão e ao dinheiro) e o sentimento de 
incapacidade e incompetência. Percebe-se que a violência psicológica do marido 
a fez tão mal a ponto de acreditar que ela realmente é incompetente e incapaz, 
como o marido coloca, ou a afeta de alguma forma a ponto de prejudicar sua 
própria autoimagem. 
 
7.2.3 Domínio dos Limites Prejudicados 
 
O domínio seguinte é o dos Limites prejudicados e possui apenas um esquema 
avaliado na forma curta do questionário. Se trata de um indivíduo que evidencia 
prejuízos com relação a respeitar os direitos dos outros, a cooperar e a se 
comprometer com metas ou desafios. O esquema é o de Autocontrole/ 
Autodisciplina insuficientes. O indivíduo que possui esse esquema prejudicado, 
geralmente, carece de autocontrole e autodisciplina. Os autores trazem a 
dificuldade/recusa do indivíduo em executar o autocontrole e a tolerância em 
relação aos próprios objetivos ou a limitação de expressar excessivamente as 
emoções e impulsos. 
 
Em sua forma mais leve, o paciente apresenta ênfase exagerada na evitação 
de desconforto: evitando dor, conflito, confrontação e responsabilidade, à 
custa da realização pessoal, comprometimento ou integridade (YOUNG, 
KLOSKO E WEISHAAR 2008, p. 29). 
 
Vitória acredita que as questões 73 e 74 são em grande parte verdadeiras, as 
quais respectivamente se tratam dela acreditar que é muito difícil sacrificar uma 
gratidão imediata para atingir um objetivo a longo prazo; e não consegue se 
39 
obrigar a fazer coisas que não gosto, mesmo sabendo que é para o próprio bem. 
E acredita que a descreve perfeitamente a afirmação 72, em que quando não 
consegue atingir algum objetivo, fica facilmente frustrada e desiste. 
Relacionando as respostas de Vitória com a teoria trazida pelos autores, 
percebe-se que ela possui uma certa dificuldade em persistir em seus objetivos. 
Ela traz isso em alguns contextos, como a dependência financeira do marido e 
culpa-lo por algumas situações. Relata ter vontade de trabalhar ou fazer algo 
que gosta, porém não persiste nisso. “Eu quero trabalhar com o que eu gosto, 
mas ao mesmo tempo eu acho que estou numa idade onde eu quero curtir mais, 
sabe. Eu sei que estou cômoda, mas R. quem me acostumou assim. Eu parei de 
trabalhar e ele começou a me sustentar. É assim até hoje, e ele joga muito na 
minha cara. Mas quem me acostumou foi ele. Fala que joguei meu diploma na 
lata do lixo, que sou uma inútil e não faço nada. Ele também não me incentivou 
a tirar minha carteira de trabalho, e hoje ele ou a C. quem me leva para onde 
preciso ir. Então eu me acomodei! “ (sic). 
 
Por fim, percebe-se que, pelo comodismo citado no último parágrafo, Vitória 
prefere não enfrentar seus objetivos e o que quer, apenas jogar a culpa no outro 
e não executa o autocontrole, assim como o de sua vida, de seus objetivos ou 
até mesmo na situação de violência. Traz o sentimento de frustração (por não 
conseguir atingir alguns objetivos) e a dependência financeira do marido. 
 
7.2.4 Domínio de Direcionamento para o Outro 
 
Este domínio possui dois esquemas (na forma curta, utilizada nesta 
pesquisa) e se trata no foco exagerado nas solicitações dos outros, 
sentimentos e desejos, à custa das próprias necessidades ou consciência, 
muitas vezes excedendo-as, para assim obter aprovação. Portanto, trata-se 
de uma aceitação condicional, ou seja, há um foco no que o outro espera. 
 
O primeiro esquema apresentado é do de Subjugação, em que há uma 
submissão excessiva pelo controle do outro, por sentir-se coagido e para 
40 
evitar a raiva ou o abandono, submete-se ao outro. Acredita que seus 
desejos, opiniões e sentimentos como pouco importantes para os outros. Os 
autores trazem duas formas: 
 
a) Subjugação das necessidades: supressão das próprias preferências, 
decisões e desejos. 
b) Subjugação das emoções: supressão de emoções, principalmente a 
raiva (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR 2008, p. 30). 
 
Com esses esquemas prejudicados, o aumento da raiva pode-se se 
manifestar em sintomas e pensamento desadaptativos (que podem gerar 
reações emocionais dolorosas e comportamento disfuncional), como por 
exemplo, explosões de descontroles, podendo ser emocional ou até mesmo 
o controle de certos objetivos que o indivíduo carrega consigo, sintomas 
psicossomáticos, baixa autoestima, retirada do afeto etc. Vitória trouxe no 
questionário que as afirmações de número 48 e 50 a descrevem 
perfeitamente, em que seus relacionamentos ela deixa a outra pessoa ter o 
controle; e concorda que tem grande dificuldade em exigir que os direitos 
dela sejam respeitados e que seus sentimentos sejam levados em conta. E 
trouxe que acredita ser em grande parte verdadeira a questão 49, sempre 
deixa os outros escolherem por ela, de modo que não sabe o que realmente 
quer. Vitória traz muito a questão de não conseguir colocar o que pensa em 
seu casamento, principalmente quando há a agressão psicológica: “quando 
ele começa a me agredir verbalmente, me chamar de incompetente e muitas 
vezes de palavras que eu não imaginava, eu começo a chorar. Chego a me 
trancar no banheiro e ficar lá chorando. Já teve vezes também em que 
esperei passar a situação, mesmo tendo ficado muito mal, e no outro dia eu 
explodi com ele” (sic). Houve vezes que ela relatou também a ausência de 
afeto: “Por conta de tudo isso que ele fez, de me agredir verbalmente, eu 
sinto que me afastei dele. Teve até momentos em que não senti sua falta 
quando ele foi viajar” (sic). E também houve momentos em que ela trouxe a 
baixa autoestima e autoimagem prejudicada: “eu não me sinto capaz e 
inteligente. De tanto ele me xingar, eu acabei me sentindo assim e acabei 
esquecendo de mim” (sic). De fato, esse é um dos esquemas que mais chama 
41 
atenção nas falas de Vitória, pois envolve a maneira como ela se vê e lida 
com seus sentimentos e pensamentos. 
 
O segundo esquema é o Auto sacrifício, em que a pessoa busca suprir as 
necessidades de terceiros à custa de suas próprias necessidades. Os 
autores citam que muitas vezes, há ressentimento nas relações, pois sentem 
que suas necessidades não estão sendo satisfeitas. As causas para isso 
acontecer, normalmente são para não causar sofrimento a outros, ou até 
mesmo evitar a culpa por se achar egoísta. Vitória trouxe com suas respostas 
no questionário que se preocupa com isso. Concordou que as questões de 
número 51, 52 e 53 a descrevem perfeitamente, as quais são, 
respectivamente:É aquela que geralmente acaba cuidando das pessoas de 
quem é próximo; é uma boa pessoa, pois pensa mais nos outros do que em 
si; as pessoas a veem fazendo demais pelos outros e pouco por si mesmo. 
E acredita que as questões 53 e 54 sejam levemente mais verdadeiras do 
que falsas, as quais são, respectivamente: fica tão ocupada fazendo coisas 
para as pessoas de quem gosta que tem muito pouco tempo para si; sempre 
foi aquela que escuta os problemas de todo mundo. De acordo com as 
respostas colocadas e os conteúdos trazidos por Vitória nas sessões, 
percebe-se que ela é uma pessoa que é preocupada em agradar mais os 
outros do que a si. No final do estudo e semanas após a aplicação do 
questionário, ela trouxe algumas falas relacionadas a esse tema “eu tinha 
esquecido que existia. Não pensava em mim e colocava os outros em 
primeiro lugar. Tentava agradá-los, mas eu resolvi mudar! ” (sic). 
 
Por fim, percebe-se que já neste domínio Vitória traz mais a respeito de si 
mesmo, de como se vê. Demonstrou os sentimentos de submissão, baixa 
autoestima, autoimagem prejudicada e até mesmo a ausência de afeto. E 
ainda explica que muitos desses sentimentos são causados pela violência 
que sofre do marido, o qual os reforçam. 
 
42 
7.2.5 Domínio da Supervigilância e Inibição 
 
Este domínio traz dois esquemas e se trata da ênfase em excesso na 
supressão dos sentimentos do próprio indivíduo e um cumprimento de regras 
e expectativas internalizadas e rígidas sobre o desempenho e 
comportamento ético, à custa de sua própria felicidade. Também pode 
acontecer um descuido com relacionamentos íntimos ou com a saúde. 
 
O primeiro esquema trazido pelos autores, na forma curta, é o de Inibição 
emocional. O indivíduo integra as regras e expectativas rígidas e 
internalizadas sobre o comportamento ético, ou seja, acaba tendo uma 
inibição excessiva da ação. Em geral, para evitar a desaprovação alheia, 
sentimentos de vergonha ou de perda de controle dos próprios impulsos. 
 
As áreas mais comuns da inibição envolvem: inibição da raiva e da 
agressão; inibição de impulsos positivos (por exemplo, alegria, afeto, 
excitação sexual, brincadeira); dificuldade de expressar vulnerabilidade 
ou comunicar livremente seus sentimentos, necessidades e assim por 
diante; ênfase excessiva na racionalidade, ao mesmo tempo em que se 
desconsideram emoções (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR 2008, p. 31). 
 
No questionário, Vitória trouxe apenas a questão 56 com a resposta acima 
de um. Ela acredita ser em grande parte verdadeira a firmação de que tem 
muita vergonha de demonstrar sentimentos positivos em relação aos outros 
(como afeição, mostrar que se importa). Nas sessões, ela trouxe que tem 
dificuldade em mostrar o que sente pelo marido e acredita que isso é pelo 
fato de ele agredi-la tanto psicologicamente. Relata o seguinte: “quando 
namorávamos, não era assim. Ele era romântico, cuidadoso e amoroso. Com 
o passar do tempo e depois que começou a beber, virou meio que agressivo. 
E por conta disso criei uma casca e não demonstro tanto quando antes” (sic). 
Então, Vitória relata acreditar que por conta da violência sofrida ela 
desenvolveu esse esquema, em que não consegue mais demonstrar seus 
sentimentos como antes, ou seja, inibiu-os. 
 
43 
Por fim o último, mas não menos importante dos esquemas, os Padrões 
inflexíveis/postura crítica exagerada. Trata-se da crença implícita que deve 
se fazer um imenso esforço para atingir certos e elevados padrões 
internalizados de comportamento e desempenho, para assim evitar críticas. 
 
Costuma resultar em sentimentos de pressão ou dificuldade de relaxar e 
em posturas críticas exageradas com relação a si mesmo e a outros. 
Deve envolver importante prejuízo do prazer, do relaxamento, da saúde, 
da autoestima, da sensação de realização ou de relacionamentos 
satisfatórios. Os padrões inflexíveis geralmente se apresentam como: (a) 
perfeccionismo, atenção exagerada a detalhes ou subestimação de quão 
bom é seu desempenho em relação à norma; (b) regras rígidas e ideias 
de como as coisas “deveriam” ser em muitas áreas da vida, incluindo 
preceitos morais, éticos, culturais e religiosos elevados, fora da realidade; 
(c) preocupação com tempo e eficiência, necessidade de fazer sempre 
mais do que se faz (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR 2008, p. 31). 
 
No questionário, Vitória traz acreditar que a afirmação 63 seja em grande 
parte verdadeira: precisa cumprir todas as suas responsabilidades; e a 
afirmação 64 a descreve perfeitamente: sente que existe uma pressão 
constante sobre ela para conquistar e fazer as coisas. Nas sessões, ela 
trouxe essa pressão por parte de R.: “Ele fala que eu não faço nada e me 
manda ir trabalhar. Uma vez estávamos almoçando algo meio que diferente 
e eu comentei com ele que poderíamos fazer aquilo mais vezes. Ele me 
respondeu falando que se eu trabalhasse poderia fazer isso” (sic). Mesmo 
com essa cobrança do marido, ela traz nas sessões o que ela pensa sobre 
não trabalhar agora: “Eu acho que já fiz muito a vida inteira pra ele. Já 
trabalhei demais, gastei dinheiro também e fiz tudo o que pude. Poderia voltar 
a trabalhar, mas não sei se consigo acostumar com a rotina novamente. Tá 
na hora dele fazer um pouco para mim também. Então acho que ele tem que 
me dar dinheiro quando quero comprar algo, por exemplo” (sic). Percebe-se 
que o padrão inflexível de regras rígidas se aplica levemente nesta situação, 
em que há uma grande dependência financeira e ela acredita que ele tem o 
dever de dar o que ela precisa. 
44 
 
Dentro deste domínio podemos perceber que há o sentimento de vergonha 
para demonstrar sentimentos, pois, por consequência da violência 
psicológica ela acabou os inibindo e prefere não demonstrá-los. 
 
Por fim, percebe-se que são muitos os sentimentos negativos causados pela 
violência psicológica, podendo afetar vários aspectos, desde a autoimagem 
da pessoa até como ela vai agir e enfrentar os problemas, diversidades e 
objetivos da vida. No caso de Vitória, puderam ser notados vários desses 
sentimentos causados pela violência, e que que foram citados na introdução 
desta pesquisa por Grielber e Borges (2013), Roth e Colés (apud, ROVINSKI, 
2004) dentre outros. 
 
7.3 Sentimentos positivos 
 
Segundo Lucas (2011), sentimentos positivos geram pensamentos positivos, 
os quais não se resumem em apenas afirmações positivas ou capacidades. 
 
A estratégia que mais conta, é a estruturação de um encadeamento de 
ações que suportadas pelas afirmações irão expressar as forças, valores, 
objetivos e crenças adaptativas da pessoa ou grupo de pessoas. As 
pessoas que pensam de forma otimista, capacitadora e positiva, 
escolhem fazer um uso diferente da imaginação humana. A imaginação 
que cada um de nós possui deveria ser usada, não para fugir à realidade, 
mas para criar (LUCAS, 2011). 
 
No esquema Isolamento Social trazido no questionário, dentro do domínio 
desconexão e rejeição, Vitória colocou como falsa todas as questões, ou seja, 
acredita-se que ela não se sente isolada ou excluída de grupos. Pelo contrário, 
disse que conversa bem e se integra bem a grupos, inclusive fala que gosta 
muito de sair para tomar café com as amigas e socializar. 
 
Dentro do domínio Limites prejudicados e do esquema de merecimento, 
trouxe a questão de que acredita ser mais verdadeira do que falsa a 
45 
afirmação de que detesta ser obrigada a fazer alguma coisa ou impedida de 
fazer o que deseja. Sendo assim, percebe-se que mesmo havendo a 
violência psicológica e havendo a submissão trazida nos sentimentos 
negativos, a mesma ainda sim, não aceita ser privada

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