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Apostila: MMaatteerriiaaiiss DDiieellééttrriiccooss CCoorrrreellaaççããoo:: PPrroopprriieeddaaddeess ee DDeeffeeiittooss Versão 1 Leandra Oliveira Salmazo Wellington Alves Prof. Dr. Marcos Augusto de Lima Nobre Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais - LaCCeF Departamento de Física, Química e Biologia - DFQB Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT Universidade Estadual Paulista - UNESP Presidente Prudente 2006 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais I Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. Sumário 1 Materiais Dielétricos.......................................................................... 1 1.1 Eletrocerâmicas............................................................................ 1 1.1.1 Termistores ................................................................................. 3 1.1.1.1 Termistores com Coeficiente de Temperatura Negativo (NTC)................................................................................................... 5 1.1.1.1.1 Aplicações…………………………………........................ 9 1.1.1.2 Termistores com Coeficiente de Temperatura Positivo (PTC)................................................................................................... 9 1.1.1.2.1 Aplicações………………….………………........................ 13 1.1.2 Varistores de Óxidos Metálicos.................................................. 14 1.1.2.1 Aplicações….....……………………………………............... 16 1.2 Capacitores e Dielétricos .............................................................. 17 1.2.1Introdução.................................................................................... 17 1.2.2 Características de um Capacitor.................................................. 18 1.2.3 Capacitância ............................................................................... 20 1.2.3.1 Fatores que afetam a capacitância ......................................... 21 1.2.4 Comportamento Dielétrico...................................... ................... 23 1.2.4.1 Polarização Dielétrica ............................................................. 23 1.2.4.2 Efeitos da Freqüência Sobre a Polarização.............................. 25 1.2.5 Perda Dielétrica .......................................................................... 26 1.2.5.1 Efeitos da Freqüência sobre a Perda Dielétrica ...................... 29 1.2.6 Propriedades Dielétricas ............................................................ 30 1.2.6.1 Resistência............................................................................... 30 1.2.6.2 Intensidade Dielétrica ............................................................. 34 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais II Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 1.2.6.3 Envelhecimento........................................................................ 35 1.2.7 Acoplamento Eletro-Mecânico................................................... 37 1.2.7.1 Absorção Dielétrica ................................................................. 38 Referências Bibliográficas............................................................................ 39 2 Dielétricos Lineares .......................................................................... 40 2.1 Introdução ................................................................................... 40 2.2 Classes de Dielétricos .................................................................. 41 2.2.1 Dielétricos de Classe I ................................................................ 41 2.2.2 Dielétricos de Classe II .............................................................. 43 2.3 Padrão Visual para Capacitores “Chip” .................................. 46 2.3.1 Padrão Visual externo................................................................. 46 2.3.2 Padrão da Microestrutura interna ............................................... 46 2.3.3 Separação em lâminas ................................................................ 46 2.3.4 Vácuo ......................................................................................... 47 2.3.5 Ruptura ....................................................................................... 48 2.3.6 Não-Uniformidades .................................................................... 48 2.3.7 Defeitos de Preparação das Amostras ........................................ 49 Referências Bibliográficas ............................................................................ 51 3 Propriedades Dielétricas ................................................................... 52 3.1 Introdução..................................................................................... 52 3.2 Comportamento Elétrico em Cerâmicas ................................... 54 3.2.1 Capacitância ............................................................................... 54 3.2.2 Indutância ................................................................................... 56 3.2.3 Unidades ..................................................................................... 57 3.2.4 Polarização ................................................................................. 57 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais III Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 3.2.5 Fator de Perda ............................................................................ 65 3.2.6 Força Dielétrica ......................................................................... 72 3.3 Constantes Dielétricas em Cristais e Materiais Vítreos..... ..... 73 3.3.1 Polarizabilidade Iônica ............................................................... 73 3.3.2 “Salto” da Polarização Iônica..................................................... 75 3.3.3 Efeitos da Freqüência e da Temperatura .................................... 77 3.4 Perda Dielétrica em Cristais e Vidros ....................................... 80 3.5 Condutividade Dielétrica ............................................................ 90 3.6 Cerâmicas Policristalinas e Polifásicas ..................................... 91 3.6.1 Misturas ..................................................................................... 91 3.6.2 Classes de Dielétricos ............................................................... 96 3.6.3 Polarização de Carga Espacial ................................................... 98 3.7 Intensidade Dielétrica ................................................................. 103 3.8 Cerâmicas Ferroelétricas ........................................................... 107 Referências Bibliográficas............................................................................. 116 4 Defeitos e Imperfeições em Sólidos ................................................... 117 4.1 Introdução ................................................................................... 117 4.2 Defeitos Pontuais ......................................................................... 118 4.2.1 Lacunas Auto-Intersticiais ......................................................... 118 4.3 Imperfeições Diversas .................................................................119 4.3.1 Discordâncias - Defeitos Lineares ............................................. 119 4.4 Superfícies Externas ................................................................... 123 4.5 Contornos de Grão ...................................................................... 124 4.6 Contorno de Macla ..................................................................... 127 4.6.1 Aplicações: Contorno de Macla em Cerâmicas - Análise Microestrutural..................................................................................... 128 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais IV Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 4.6.1.1 Introdução ............................................................................... 128 4.6.1.2 Materiais e Métodos utilizados ............................................... 133 4.6.1.3 Resultados Obtidos ................................................................. 134 4.7 Defeitos Interfaciais .................................................................... 138 4.8 Defeitos em óxidos cerâmicos...................................................... 139 4.8.1 Introdução ................................................................................. 139 4.8.1.1 Defeitos Atômicos e Dipolos .................................................. 139 4.8.1.2 Teoria Inelástica e Relaxação Dielétrica ................................. 140 4.8.2 Métodos Experimentais ........................................................... 143 4.8.3 Óxidos com Estrutura do Tipo Fluorita................................. 145 4.8.3.1 Tório e Cério ........................................................................... 145 4.8.3.1.1 ThO2 e CeO2 dopado com CaO............................................. 145 4.8.3.1.2 CeO2 dopado com Y2O3........................................................ 151 4.8.4 Zircônia ..................................................................................... 154 4.8.4.1 Policristais de Zircônia Tetragonal ......................................... 156 4.8.4.2 Zircônia Cúbica ....................................................................... 169 4.8.5 Conclusão................................................................................... 163 Referências Bibliográficas ............................................................................ 164 Glossário......................................................................................................... 166 Índice Remissivo............................................................................................ 172 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais V Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. Lista de Figuras FIGURA 1.1 – Variação da resistência elétrica dos sensores óxidos em função da umidade............................................................................................... 02 FIGURA 1.2 - Esquema da estrutura mostrando a superfície do mineral hidroxiapatita em sensores de umidade. A condução ocorre via uma reação em cadeia de Grotthus com a adsorção de camadas de água............................................................................................................... 03 FIGURA 1.3 - Evolução da resistência elétrica em termistores. Resistência em função da temperatura para diversas ordens de grandeza................... 04 FIGURA 1.4 - Variação estrutural nas posições atômicas da cerâmica de VO2. Na transição de metálico-semicondutor, a resistência varia em diversas ordens de grandeza na extensão das ligações químicas. Em alta temperatura, a estrutura metálica é isomórfica do tipo rutilo tetragonal, porém ocorre mudança para o estado monoclínico semicondutor abaixo de 80 °C............................................................. 05 FIGURA 1.5 - Termistores de óxido de níquel dopado. (a) O cristal consiste em íons Ni2+, Ni3+ e Li+ em solução sólida semelhante ao sal de rocha. (b) A resistividade elétrica diminui com o aumento do conteúdo de lítio...................................................................................................... 07 FIGURA 1.6 - Resistência em função da temperatura para termistores NTC. Onde a resistência decresce em aproximadamente 4% para cada grau de elevação da temperatura. ..................................................................... 08 FIGURA 1.7 - Foto de um Termistor NTC.................................................................. 09 FIGURA 1.8 - (a) Resistividade elétrica do titanato de bário dopado com cério, Ba1-x CexTiO3, plotada em função da composição. (b) Resistividade de três cerâmicas de titanato de bário dopadas com cério, medida em função da temperatura. Uma grande anomalia do tipo PTC ocorre próxima à temperatura de Curie, que para este material é 130 ºC......................................................................................................... 11 FIGURA 1.9 - Visão esquemática da estrutura do Ba1-xLaxTiO3 próxima à superfície de um contorno de grão. A atmosfera de oxigênio difunde e dissocia–se rapidamente ao longo de um contorno de grão, onde os átomos atraem os elétrons, formando barreiras isolantes............................................................................................... 12 FIGURA 1.11: Foto de um termistor PTC.................................................................... 14 FIGURA 1.12 - Relação I versus V para ZnO. A corrente aumenta de forma abrupta na voltagem e ruptura VB..................................................................... 14 FIGURA 1.13 - Célula unitária hexagonal da estrutura de ZnO utilizada em varistores. Os parâmetros de rede são a = 3,24 Ǻ e c =5,19 Ǻ............ 15 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais VI Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. FIGURA 1.14 - (a) Barreira de Schottky gerada pela dupla camada em varistores de ZnO. (b) Em baixas voltagens, a condução ocorre por ativação térmica. (c) Para a voltagem de ruptura, inicia-se o tunelamento, o qual gera um aumento considerável na corrente.tunelamento, o qual gera um aumento considerável na corrente......................................... 16 FIGURA 1.15 - Os varistores são utilizados para proteger contatos elétricos e carregar de forma oposta os osciladores indutivos.............................. 17 FIGURA 1.16 - Placa de um capacitor simples............................................................. 19 FIGURA 1.17 - Capacitor de “Multi-Camada”............................................................. 22 FIGURA 1.18 - Polarização versus Freqüência............................................................ 26 FIGURA 1.19 - Tangente de perda em um capacitor ideal........................................... 28 FIGURA 1.20 - Efeitos de relaxação sobre a constante dielétrica e perda dielétrica.... 30 FIGURA 1.21 - Força dielétrica versus densidade dielétrica........................................ 35 FIGURA 1.22 -Envelhecimento ferroelétrico. (a) taxa de envelhecimento = -5% /5 décadas. (b) Taxa de envelhecimento = -15% /6 décadas................. 36 FIGURA 2.1 - Coeficiente de Temperatura (C.T) para dielétricos lineares................. 42 FIGURA 2.2 - Tolerância parao coeficiente de temperatura ...................................... 43 FIGURA 2.3 - Coeficiente de temperatura (C.T) para dielétricos de classe II............ 45 FIGURA 3.1 - Representação esquemática da polarização por cadeia dipolar e salto de cargas............................................................................................ 59 FIGURA 3.2 - Polarização P designada em ambas densidades das cargas e excedendo o momento dipolar por unidade de volume....................... 60 FIGURA 3.3 - Modelo para o cálculo do campo interno........................................... 62 FIGURA 3.4 - Representação esquemática dos diferentes mecanismos de polarização........................................................................................... 63 FIGURA 3.5 - Dependência da freqüência em vários intervalos de polarizabilidade. 64 FIGURA 3.6 - Comportamento do movimento de formação de cargas e o fluxo da corrente em (a) um dielétrico ideal e (b) um dielétrico....................... 65 FIGURA 3.7 - Corrente de carregamento e corrente de perda em um capacitor........ 68 FIGURA 3.8 - Espectro de relaxação da constante dielétrica, condutividade e fator de perda para um processo de relaxação simples com um único tempo de relaxação.............................................................................. 70 FIGURA 3.9 - Reorientação de pares de vacância na rede cristalina. Outros pares de defeitos em cristais fornecem resultados similares......................... 76 FIGURA 3.10 - Fonte de potencial em estrutura vítria................................................. 77 FIGURA 3.11 - Efeito da freqüência e da temperatura sobre a constante dielétrica no cristal de Al2O3 com o campo elétrico normal ao longo do eixo c..... 78 FIGURA 3.12 - Efeitos da freqüência e da temperatura na constante dielétrica no sistema carbonato de sódio – óxido de cálcio – silicato vítreo............ 79 FIGURA 3.13 -Efeito de diferentes mecanismos de perdas dielétricas sobre a tg δ em intervalos de temperatura de temperatura...................................... 82 FIGURA 3.14 - Aumento da tg δ com o aumento da temperatura para o sistema carbonato de sódio–óxido de cálcio–silicato vítreo e para silicatos vítreos fundidos................................................................................... 84 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais VII Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. FIGURA 3.15 - (a) tg δ versus freqüência em diferentes temperaturas e (b) log ωmax versus 1 / T........................................................................................... 85 FIGURA 3.16 - Variação dos parâmetros tg δ e k’ em função da substituição de MgO e Na2O no silicato vítreo............................................................ 86 FIGURA 3.17 - Variação da tg δ em função da freqüência para alguns silicatos vítreos.................................................................................................. 87 FIGURA 3.18 - Dispersão dielétrica e curva de absorção, correspondendo à condutividade em corrente contínua c.c., para em sistema composto tipicamente por carbonato de sódio–oxido de cálcio–silicato vítreo.................................................................................................... 88 FIGURA 3.19 - Curva de perda dielétrica reduzida para alguns materiais vítreos. Vidro 1: 0,12 Na2O,88SiO2; vidro 4: 0,24Na2O.0,76SiO2; vidro 18: 0,10Na2O.0,20CaO.0,70SiO2; vidro 19: 0,18Na2O. 0,10CaO.0,72SiO2....................................................................................................................... 89 FIGURA 3.20 -Resistividade para um sistema de composição carbonato de sódio– óxido de cálcio– silicato vítreo medida por diversos métodos............. 90 FIGURA 3.21 - Configuração de camadas contendo dielétricos am capacitores.......... 92 FIGURA 3.22-Expressões para a constante dielétrica resultante em diversas misturas e dois dielétricos................................................................... 93 FIGURA 3.23 - Comparação entre dados experimentais e expressões teóricas para constantes dielétricas de misturas com duas fases de misturas de duas fases............................................................................................ 94 FIGURA 3.24 - Efeito da porosidade na constante dielétrica de TiO2 policristalino.... 95 FIGURA 3.25 - Constante dielétrica e tg δ para uma cerâmica esteatita em extensões superiores de temperatura e freqüência............................................... 96 FIGURA 3.26 -Constante dielétrica e tg δ para uma porcelana alumina em função da temperatura e da freqüência.................................................................. 97 FIGURA 3.27-Circuito equivalente para (a) um capacitor de duas camadas e (b) para observação macroscópica . .......................................................... 98 FIGURA 3.28 - Variação da polarização interfacial em valores relativos de contorno em camada característicos................................................................... 99 FIGURA 3.29 - Constante dielétrica, resistividade e tg δ para Ni0,4Zn0,6Fe2O4 ........... 102 FIGURA 3.30 - Efeito da temperatura e duração dos testes sobre a rigidez dielétrica em vidros tipo “pyrex”........................................................................ 105 FIGURA 3.31-Rigidez dielétrica em dois dióxidos de titânio excitado para diferentes densidades e testado em eletrodos...................................... 106 FIGURA 3.32 - Curva de histerese típica de materiais ferroelétricos........................... 109 FIGURA 3.33 - Histerese ferroelétrica para a cerâmica titanato de bário ferroelétrico em diversas temperaturas............................................... 110 FIGURA 3.34 - Lei de Curie-Weiss para uma composição de titanato de bário e estrôncio.............................................................................................. 111 FIGURA 3.35 - Posição dos íons em uma estrutura perovskita ideal........................... 112 FIGURA 3.36 - (a) Parâmetro de rede para a célula unitária do BaTiO3. (b) Dependência da constante dielétrica em função da temperatura.......................................................................................... 113 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais VIII Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. FIGURA 3.37 - Estrutura tetragonal para o BaTiO3, mostrando o íon Ti4+ deslocado da posição de equilíbrio....................................................................... 114 FIGURA 4.1 - (a) Uma discordância espiral no interior de um cristal. (b) A discordância espiral em (a) vista por cima. A linha de discordância se estende ao longo da linha AB. As posições atômicas acima do plano de deslizamento são designadas por “Círculos abertos. Enquanto aquelas abaixo do plano são designadas por círculos preenchidos.......................................................................................... 120 FIGURA 4.2 - (a) Representação esquemática de uma discordância que possui caracteres de discordância aresta, espiral e mista. (b) Vista superior, onde os círculos abertos representam posições atômicas acima do plano de deslizamento. Os círculos pretos representam átomos abaixo do plano. No ponto A, a discordância é puramente espiral,enquanto no ponto B ela é puramente aresta. Para as regiões localizadas entre esses pontos, onde existe uma curvatura na linha da discordância, o caráter é de uma discordância mista entre aresta e espiral................................................................................................... 121 FIGURA 4.3 - As posições atômicas em torno de uma discordância aresta. Semi- planos atômicos adicionais estão mostrados em perspectiva........................................................................................... 122 FIGURA 4.4 - Uma micrografia eletrônica de transmissão de uma liga de titânio na qual as linhas escuras são discordâncias. Ampliação de 51.450X............................................................................................... 122 FIGURA 4.5 - Demonstração de como um contorno inclinado que possui um ângulo de desorientação e resulta de um alinhamento de discordância em cunha......................................................................... 125 FIGURA 4.6 - Diagrama esquemático mostrando contornos de grão de baixo e de alto ângulos e as posições atômicas adjacentes................................... 126 FIGURA 4.7 - Diagrama esquemático mostrando um plano ou contorno de macla e as posições atômicas adjacentes (círculos escuros)............................. 127 FIGURA 4.8 - Campo elétrico em função da densidade de corrente para o sistema Zn4MnCoCrSb2O12±δ sinterizado por 2 h ao ar e 3 resfriado sob diversas taxas...................................................................................... 135 FIGURA 4.9 - Micrografia (MEV) do varistor composto ZnO-10% em peso de Zn4MnCoCrSb2O12±δ sinterizado a 1160 ºC; (a) e resfriado rapidamente até a temperatura ambiente (800x de aumento); grão de ZnO selecionado com macla (b) (30.000x de aumento)...................... 136 FIGURA 4.10 - Imagem digital da micrografia MEV do grão de ZnO contendo uma macla mostrada na Figura 4.9b: (a) análise do contraste topográfico envolvendo um pequeno aumento no plano de rotação xy, (b) análise do contraste topológico com alto grau de rotação do plano xy......................................................................................................... 137 FIGURA 4.11 - (a) pêndulo de torção invertido; (b) determinação de Q-1 de livre LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais IX Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. decréscimo da amplitude................................................................... 144 FIGURA 4.12 - Mecanismo de perda do ThO2 puro e ThO2 – 1,5 % mol CaO. (fml = 1390 Hz.). O gráfico é o produto de Q-1 vs 1/T................................. 145 FIGURA 4.13 - Perda dielétrica (tg φ) do ThO2 puro e ThO2- 1,5% mol CaO........... 146 FIGURA 4.14 - Comparação entre as perda mecânicas (Q-1 versus T) e dielétricas (tg φ versus T) para ThO2- 1,5% mol CaO. Medidas de freqüência para perdas mecânicas a 1390 Hz, e perdas dielétricas em 695 Hz......................................................................................................... 147 FIGURA 4.15 - Perda mecânica do CeO2- 1,6% mol CaO (fml = 9,76 Hz).................. 148 FIGURA 4.16 - Perda dielétrica em CaO- 1,5% mol CaO. O gráfico representa a parte imaginária da capacitância (C”) versus 1/T. A freqüência é de 100 Hz.................................................................................................. 149 FIGURA 4.17 - Modelo da oitava posição para uma vacância de oxigênio (�) em torno de uma baixa valência de cátion dopante (posição 1)................ 150 FIGURA 4.18 - Perda mecânica (fração interna) em CeO com várias quantidades de Y2O3 (em % mol). Freqüência ≅ 8 kHz............................................ 152 FIGURA 4.19 - Relaxação dielétrica (corrente de despolarização versus 1/T) de CeO com várias quantidade de Y2O3................................................ 153 FIGURA 4.20 - Modelo para o defeito de vacância do ítrio-oxigênio dois com o par Y-Y na configuração (1,0,0). Menciona esses único segundo oxigênio cúbico na estrutura fluorita contendo um cátion no centro, como demonstrado na Figura 4.12...................................................... 154 FIGURA 4.21 - Arranjo de dipolos ... VY' (+) e defeitos Y’ (-) em um estrutura do tipo – NaCl em um par inapropriado................................................... 155 FIGURA 4.22 - Medidas de perda mecânica (Q-1 versus. T) para ZrO2 – 3 mol % Y2O3 (ZPT e Y). (a) Oscilação torsional, f = 2,7 Hz. (b) Oscilações de flexão, f = 3,06 kHz. ...................................................................... 156 FIGURA 4.23 - Medidas de perda dielétrica (tg φ versus T) para ZrO2 – 3 % mol Y2O3 com diferentes medidas de freqüência....................................... 157 FIGURA 4.24 - Gráfico de Arrhenius para o tempo de relaxação (lnτ vresus. 1/T) proveniente das medidas de perda mecânica e dielétrica de ZrO2 – 3 % mol Y2O3......................................................................................... 158 FIGURA 4.25 - Perda mecânica espectral da cerâmica zirconia tetragonal com varias quantidades de Y2O3 (2-4 % mol) e um cristal cúbico (10% mol Y2O3)............................................................................................ 159 FIGURA 4.26 - Perda mecânica no espectro do ZrO2 cúbico (10% mol Y2O3) para a oscilação torcional (f = 3 Hz) com diferentes orientações no eixo longitudinal.......................................................................................... 160 FIGURA 4.27 - Espectro de perdas mecânicas para o ZrO2 cúbico (10 % mol Y2O3) para oscilações de flexão (f = 3 kHz) e diferentes orientações........................................................................................... 161 FIGURA 4.28 - Variação da amplitude de relaxação δG-1 e δE-1 de máxima I em ZrO2 – 10% mol Y2O3 com parâmetros de orientação Γ..................... 162 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos LaCCeF - Laboratório de Compósitos e Cerâmicas Funcionais X Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. Lista de Tabelas TABELA 1.1 - Constantes Dielétricas para vários materiais.................................... 20 TABELA 1.2 - Padrão mínimo IR versus Capacitância........................................... 34 TABELA 2.1 - Designação EIA (Eletronic Industries Association) para Dielétricos de Classe I...................................................................... 42 TABELA 2.2- Designação EIA (Eletronic Industries Association) para Dielétricos de Classe II.................................................................... 44 TABELA 3.1 - Valores de Constante Dielétrica em alguns gases............................ 75 TABELA 3.2 - Relação entre colapso térmico e resistividade elétrica..................... 105 TABELA 4.1 - Relação de produtos e regentes envolvendo as reações parciais dos sistemas de varistor tradicional considerando-se as várias relações Sb2O3/Bi2O3....................................................................... 133 TABELA 4.2 - Características físicas e químicas de alguns óxidos.......................... 134 LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L.1 11 MMaatteerriiaaiiss DDiieellééttrriiccooss 1.1 Eletrocerâmicas O termo “eletrocerâmica” é utilizado para descrever os materiais cerâmicos que possuem propriedades elétricas, magnéticas, ou óticas específicas, podendo atuar como isoladores, materiais ferroelétricos, cerâmicas altamente condutoras, elétrodos, sensores e atuadores. Neste capítulo serão discutidas as propriedades estruturais relacionadas aos termistores, varistores e transformadores de energia. Em adição, as propriedades de capacitores de multicamadas serão abordadas. Os materiais eletrocerâmicos de aplicação tecnológica incluem ferrita, substratos eletrônicos para capacitores de multicamadas, transdutores piezoelétricos e uma variedade de termistores. A compreensão dos fenômenos em cristais de ferrita é de grande relevância, bem como dentro do campo da ferroeletricidade, onde podem ser utilizados como capacitores e transformadores de energia piezoelétrica. Nos termistores com coeficiente de temperatura negativo NTC (da sigla em inglês Negative Temperature Coefficient), a resistência diminui com o aumento da temperatura. Em sensores de zircônia, a condutividade elétrica é controlada pelos grãos, sendo o contorno de grãos determinante nas propriedades dos termistores com coeficiente de temperatura positivo PTC (da sigla em inglês Positive Temperature Coefficient), para os quais o coeficiente de variação da resistência com a temperatura é positivo, isto é, a resistência aumenta com o aumento da temperatura. Camadas superficiais são de grande importância para sensores de umidade e catalisadores cerâmicos. Alguns tipos de sensores cerâmicos como o de temperatura (termistores), pressão, eletricidade, magnetismo, atmosfera, aplicações eletroquímicas e troca – iônica são pouco estudados na maioria dos países. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 2 Sensores de umidade são utilizados para regular as descargas elétricas em automóveis. A resistência superficial (Figura 1.1) varia em relação a umidade através de um fator da ordem de quatro vezes. 102 0 100 Óxido metálico Sal sensibilizado106 107 108 103 104 105 Umidade (%) ΩR( ) Figura 1.1 - Variação da resistência elétrica dos sensores óxidos em função da umidade. Substratos (ZnO, TiO2, Fe3O4) com área superficial elevada e com adsorção de sais possuem em particular camadas sensíveis à umidade. O mecanismo físico para o processo de condução superficial é mostrado na equação (1.1). (OH) O)(H OH 2 -32 ++→← (1.1) A condução ocorre por meio da reação em cadeia de Grotthuss*, para a qual os prótons são transferidos de uma molécula de água para a próxima através de um mecanismo de adsorção física na superfície da água, onde um íon hidróxido é liberado na superfície da reação. Cerâmicas de hidroxiapatita (Figura 1.2) exibem umidade nos sensores devido à presença de forças atrativas entre a superfície de grupos hidroxila e as moléculas de água adjacentes. *Cadeia de Grotthuss: mecanismo de condutividade do próton em água. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 3 A camada de adsorção química é precedida por uma camada de adsorção física em que os portadores tomam lugar. Considerando altos índices de umidade, onde mais de uma camada superficial é formada, há uma permuta do mecanismo de condução. Oxigênio ( O ) Cálcio ( Ca ) Fósforo ( P ) Hidrogênio ( H ) Cadeia Grotthus Figura 1.2 - Esquema da estrutura mostrando a superfície do mineral hidroxiapatita em sensores de umidade. A condução ocorre via uma reação em cadeia de Grotthus com a adsorção de camadas de água. 1.1.1 Termistores Termistores são semicondutores sensíveis à temperatura. Três tipos de termistores cerâmicos são muito utilizados: Termistores com coeficiente de temperatura negativo NTC, Termistores com coeficientes de temperatura positivo PTC e Termistores de temperaturas críticas. A típica variação da resistência em função da temperatura é ilustrada na Figura (1.3). Em geral, o dióxido de vanádio (VO2) é usado em termistores de temperaturas críticas. Abaixo dessa temperatura, VO2 é um semicondutor com coeficiente de temperatura negativo em relação à resistência. Acima dessa temperatura, tal material exibe um grande aumento na condutividade (cerca de duas ordens de grandeza) e uma variação muito pequena com a temperatura. A temperatura crítica de 80 ºC pode ser modificada somente por variação na composição química. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 4 O íon V4+ na estrutura do VO2 possui uma configuração eletrônica com camada eletrônica externa 3d e estrutura de empacotamento compacto. Em baixas temperaturas, os íons adjacentes V4+ formam ligações, gerando um band gap* e comportamento semicondutor. Uma transição de fase ocorre em torno de 80 ºC, para a qual os elétrons do orbital 3d são liberados da ligação, tornando-se livres para condução da eletricidade. Como mostra a Figura 1.4, variações na estrutura dos cristais acompanham a transição de fase. A estrutura do tipo rutilo para o VO2, encontrada em altas temperaturas, transforma-se numa estrutura monoclínica distorcida abaixo de 80 ºC. 10 6 10 5 10 4 10 3 10 2 10 4 8 12 16 Temperatura Crítica de Termistores Termistores PTC Termistores NTC Temperatura ( oC) R(Ω) Figura 1.3 - Evolução da resistência elétrica em termistores. Resistência em função da temperatura para diversas ordens de grandeza. *band gap: diferença de energia entre a banda de valência e a banda de condução. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 5 2.7 3.1 2.9 vanádio oxigênio Termistores de temperatura crítica par de elétrons ligados estrutura rutílo elétrons de condução Ao A o A o Semicondutor (VO2) de baixa temperatura VO2 metálico de alta temperatura Figura 1.4 – Variação estrutural nas posições atômicas da cerâmica de VO2. Na transição de metálico-semicondutor, a resistência varia em diversas ordens de grandeza na extensão das ligações químicas. Em alta temperatura, a estrutura metálica é isomórfica do tipo rutilo tetragonal, porém ocorre mudança para o estado monoclínico semicondutor abaixo de 80 °C. 1.1.1.1 Termistores com Coeficiente de Temperatura Negativo (NTC) A resistência elétrica decresce de forma exponencial com o aumento da temperatura nos termistores NTC [1]. Diferente dos termistores de temperaturas críticas, ele não contém transição de fase. Grande parte dos termistores NTC são compostos por óxidos de metais de transição. Podemos obter um destes semicondutores através da reação entre Fe2O3 e TiO2 em atmosfera de ar, segundo a equação (1.2). + Fe3+(2-2x) Fe2+xTi4+xO3x TiO2(1-x) Fe2O3 (1.2) LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 6 Nos termistores NTC [2], a resistência decresce regularmente com o aumento da temperatura, porém as variações repentinas na transição de fase são envolvidasnos termistores PTC e termistores de temperaturas críticas. Um dos tipos de semicondutor é o do tipo-n, no qual átomos com número maior de elétrons de valência são inseridos provocando um excesso de elétrons. Neste caso os elétrons são transferidos entre átomos de ferro com diferentes valências. Fe 3+ + e - Fe 2+ (1.3) A concentração de elétrons e a resistividade elétrica são controladas através da quantidade de titânio. Em termistores tipo-p, átomos com um número menor de elétrons de valência são inseridos na rede de átomos causando falta de elétrons. Esta falta de elétrons é chamada de vacância. Neste caso pode ser obtido óxido de níquel dopado com lítio. (1-x) NiO + _ 2 x Li2O Ni2+1-x NiO3+x Li+x O (1.4) A vacância envolvida no processo de condução devido à transferência de cargas entre íons trivalentes e bivalentes do níquel, pode ser representada por: 2+ + h+ Ni 3+Ni (1.5) Onde, h+ (símbolo de origem inglesa – hole) representa o buraco eletrônico na estrutura do óxido de níquel. Óxido de níquel dopado possui estrutura de sal de rocha (Figura 1.5a), sendo que o íon lítio ocupa a posição do níquel no sítio catiônico. Os raios iônicos para Ni2+ (0,84 Å), Ni3+ (0,74 Å) e Li+ (0,88 Å), favorecem uma coordenação octaédrica com átomos de oxigênio. A Figura 1.5b mostra o caso onde a resistividade decresce com o aumento da quantidade de lítio. A cor é um indicador do aumento da condutividade. A cor verde do óxido de níquel puro evolui para preto com o aumento da dopagem. Para semicondutores de composição próxima a do Ni0,95Li0,050, o espaço vazio da ligação é de aproximadamente 0,15 eV. Esta abertura é atribuída às forças atrativas entre íons de Li+ dopados e íons de Ni3+ compensados. A carga é neutralizada de forma mais eficiente em relação ao próximo íon. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 7 Ni2+ O2- Ni2+ O2- Ni2+ O2- O2- Ni2+ O2- Li+ O2- Ni2+ Ni2+ O2- Ni2+ O2- Ni2+ O2- O2- Ni2+ O2- Li+ O2- Ni2+ Ni2+ O2- Ni3+ O2- Ni2+ O2- O2- Ni2+ O2- Ni2+ O2- Ni2+ 10 10 10 10 10 5 4 3 2 1 0.1 10 10 10 1010 -5 -4 -3 -2 -1 0 Fração Molar do ρ Ω.cm)( Lix Ni1-xO (a) (b) Figura 1.5 - Termistores de óxido de níquel dopado. (a) O cristal consiste em íons Ni2+, Ni3+ e Li+ em solução sólida semelhante ao sal de rocha. (b) A resistividade elétrica diminui com o aumento do conteúdo de lítio. A condutividade elétrica é proporcional a carga externa, densidade de portadores (n), a cada carga externa portadora (q) e a mobilidade ( µ ): µσ nq= (1.6) Em materiais termistores, a dependência da condutividade em relação à temperatura é relevante. Os parâmetros n e µ, dependem da temperatura. Para um semicondutor, a densidade de portadores de carga varia de forma exponencial com a temperatura, (-E / KT) exp n ≅ , onde E é a energia necessária para a liberação das cargas externas. A mobilidade também depende da temperatura. Para muitos processos de dispersão, a mobilidade é o inverso da lei de ligação (µ ≅ T-b), na qual a mobilidade decresce com o aumento da temperatura devido a vibração térmica dos átomos. Uma diferente dependência da temperatura é verificada para processos de “salto”. Esta mobilidade depende da excitação térmica e do aumento exponencial com a temperatura, )kT/'Eexp(≅µ . A condutividade elétrica dependente da temperatura: LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 8 ( ) KT/"EbKT/)'EE(b eTeTT −−+−− =≅σ (1.7) Visto que a curva exponencial tende a predominar, a resistência elétrica em um termistor NTC pode ser descrita por: TAeR /β= (1.8) Para termistores (Figura 1.6), R compreende valores da ordem de 1-104 Ohms e B valores no intervalo de 2000 a 6000 K. O coeficiente de temperatura (α) descreve a mudança percentual da resistência com o aumento da temperatura: 2 / )( 11 T Ae dT d RdT dR R TB βα === (1.9) Em que B = 3600 K e T = 273 K, sendo α aproximadamente 4 % / ºC [3]. 10 10 10 10 10 5 4 3 2 1 0 40 80 120 160 50 ( Ohms) 10 2 15.000 (Ohms) 400 50 T oC( ) R (Ω ) Figura 1.6 - Resistência em função da temperatura para termistores NTC. Onde a resistência decresce em aproximadamente 4% para cada grau de elevação da temperatura. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 9 1.1.1.1.1.1 Aplicações Termistores NTC [4,2] são utilizados como fluxômetro, para os quais a velocidade de fluxo é medida por monitoramento de diferentes temperaturas entre dois termistores. Um aquecedor posicionado entre os dois termistores determinam diferentes temperaturas. Assim, termistores são utilizados como controlador de fluxo para proteger diodos, fusíveis, interruptores e lâmpadas elétricas. A corrente altera-se repentinamente, a qual ocorre quando a intensidade da luz em uma lâmpada elétrica é alterada com freqüentes rupturas do filamento. Em um termistor NTC ligado em série com uma lâmpada elétrica, a energia de oscilação da corrente inicial é dissipada com o aquecimento no termistor. Figura 1.7: Foto de um Termistor NTC [6]. 1.1.1.2 Termistores com Coeficiente de Temperatura Positivo (PTC) Termistores do tipo PTC diferem dos termistores do tipo NTC em diversos aspectos. A resistência de um termistor PTC aumenta com a temperatura, porém somente em um intervalo limitado, o qual ocorre próximo a uma transição de fase. A variação da resistência é muito grande nestas temperaturas devido aos efeitos do contorno de grão [2]. Cerâmicas de titanato de bário são utilizadas de forma ampla em termistores PTC. Quando dopadas com íons doadores, tais como La3+ ou Ca3+ (para Ba2+) ou Nb5+ (para Ti4+), a resistividade do material exibe um pronunciado efeito do tipo PTC (Figura 1.8a e Figura 1.8b), se aquecido na presença de ar. O único comportamento normal do NTC é observado em cerâmicas preparadas em atmosfera redutora. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 10 A interpretação do efeito tipo PTC baseia-se na compreensão da estrutura de defeitos. Quando sintetizada em temperatura elevada, BaTiO3 dopado com lantânio torna- se um semicondutor do tipo–n. 3 2 x 3 x1 4 x 3 x1 2 3xx1 OTiTiLaBaTiOLaBa −+−++−+− = (1.10) O processo de condução ocorre via transferência de elétrons entre íons titânio, Ti 4+ + e- Ti 3+ . Deste modo, os grãos de titanato de bário são condutores e a condução permanece desde o resfriamento até a temperatura ambiente. Porém, a estrutura da região do contorno de grão varia durante o processo de resfriamento. O oxigênio é adsorvido na superfície da cerâmica e difunde para os sítios de contorno de grão, alterando a estrutura de defeitos ao longo do contorno do grão. Os íons oxigênio adicionados atraem elétrons dos íons Ti3+ vizinhos, através disso gera-se uma barreira isolante entre os grãos. Se um excesso de oxigênio (y) é adicionado por unidade de fórmula, a região de contorno de grão pode ser descrita como segue: ( )( ) y322yx32yx14x3x12OTiTiLaBa +−−++−++−+ (1.11) Uma ilustração dos defeitos da estrutura perovskita é demonstrada na Figura 1.9. O resultado deste processo é que a cerâmica consiste de grãos semicondutores separados por finos contornos de grão isolantes. A resistência elétrica da cerâmica é inversamente proporcional ao tamanho do contorno de grão devido ao pequeno tamanho de grão. Uma vez que grãos pequenos implicam em contorno de grãos mais isolantes e com uma maior resistência. Para explicar o efeito PTC é necessário considerar a transição da fase ferroelétrica no BaTiO3 e seus efeitos sobre as barreiras isolantes entre os grãos. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 11 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 Conteúdo de Cério (at %) 0 1 40 80 120 160 Temperatura (oC) 0.05% 0.1% 0.3%104 102 106 108 1010 1 104 102 106 108 1010 Ba1-x Cex TiO3 Ba1-x Cex TiO3 (a) (b) Figura 1.8 - (a) Resistividade elétrica do titanato de bário dopado com cério, Ba1-x CexTiO3, plotada em função da composição. (b) Resistividade de três cerâmicas de titanato de bário dopadas com cério, medida em função da temperatura. Uma grande anomalia do tipo PTC ocorre próxima à temperatura de Curie, que para este material é 130 ºC. O titanato de bário é cúbico e paraelétrico acima de 130 °C, isto é, acima de sua temperatura de Curie. Abaixo desta temperatura, a estrutura perovskita é distorcida para um estado ferroelétrico tetragonal, para o qual ocorre o desenvolvimento de grande polarização espontânea (Ps) ao longo da direção (001). A constante dielétrica atinge um ponto máximo na temperatura de Curie (Tc), a partir da qual diminui com a transição para o estado paraelétrico. Em altas temperaturas, o comportamento de relaxação em cerâmicas pode ser representado de acordo com a lei Curie–Weiss: TcT CK −= (1.12) onde, T é a temperatura na fase paraelétrica e Tc é a temperatura de Curie. A constante de Curie (C) compreende valores da ordem de 105 ºC. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 12 �� �� �� �� �� �� �� ��� ��� �� �� �� �� �� �� ��� ��� ��� �� �� �� Titânio (Ti) Oxigênio (O) Bário (Ba) Lantânio (La) Contorno de grão Elétrons Grão de BaTiO3 O2 Figura 1.9 - Visão esquemática da estrutura do Ba1-xLaxTiO3 próxima à superfície de um contorno de grão. A atmosfera de oxigênio difunde e dissocia–se rapidamente ao longo de um contorno de grão, onde os átomos atraem os elétrons, formando barreiras isolantes. A anomalia do tipo PTC em BaTiO3 dopado ocorre em temperaturas próximas de Tc, sendo fortemente afetada pelo comportamento ferroelétrico. Ambas polarização espontânea e a lei de Curie–Weiss caracterizam-se como uma função importante no efeito do tipo PTC. Na temperatura ambiente, a resistência de um termistor do tipo PTC é baixa devido ao aprisionamento do elétron na região de contorno de grão, que é neutralizada de forma parcial pela polarização espontânea. Sendo que o domínio da estrutura posiciona-se de maneira vantajosa e a polarização da carga positiva cancelará a carga negativa entre as barreiras de condução do grão, estabelecendo assim uma baixa resistência no caminho através da cerâmica. (Figura 1.10a) LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 13 - + - + + Tc T R (a) (b) Figura 1.10 – (a) Em temperaturas abaixo de Tc, as cargas devido a polarização espontânea neutralizam as barreiras de energia potencial. (b) Acima de Tc, a constante dielétrica decresce e este decréscimo gera um aumento na resistência elétrica. Acima da Tc, a polarização espontânea extingue-se e a resistividade aumenta, gerando o efeito do tipo PTC. Um primeiro aumento é muito lento devido à elevada constante dielétrica na temperatura de Curie. A altura da barreira é inversamente proporcional a constante dielétrica do meio; um meio altamente polarizável blinda a camada externa do contorno de grão, reduzindo a altura da barreira e a resistência elétrica. Como o aumento da temperatura favorece Tc; a constante dielétrica κ decresce rapidamente de acordo com a lei Curie–Weiss. Um decréscimo no valor de κ gera um aumento da extensão da barreira entre os grãos e na resistência elétrica. Em geral, a resistência aumenta a níveis mais elevados, de modo que esse aumento na constante dielétrica gera uma diminuição na intensidade do efeito em termistores do tipo PTC nos grãos semicondutores. 1.1.1.2.1 Aplicações Termistores PTC são utilizados em proteções contra sobre-tensão e curto-circuito. Ao conectar-se em série com a resistência, um termistor PTC faz com que a corrente opere em níveis mais baixos. Correntes elevadas geram altas temperaturas em termistores PTC, a qual proporciona um aumento da resistência e diminuição da corrente. Aplicações adicionais incluem indicadores no nível–líquido e controle dos elementos dos termistores. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 14 Figura 1.11: Foto de um termistor PTC [7]. 1.1.2 Varistores de Óxidos Metálicos Varistores são cerâmicas semicondutoras que exibem um comportamento voltagem–corrente não linear (Figura 1.12). Em baixas voltagens, o varistor comportar–se de modo semelhante aos termistores NTC, com pequena dependência da corrente em relação à temperatura. Porém, em uma determinada voltagem crítica (de ruptura) VB, a resistência diminui de forma repentina e a corrente aumenta de forma abrupta. O fenômeno difere da ruptura elétrica normal, de modo que as características de I versus V são reversíveis e controladas pela estrutura da cerâmica. Semelhante ao termistor PTC, as propriedades elétricas são controladas através de estreitas barreiras isolantes nos contornos de grãos. 1 10 100 1000 VB V (V) I (A) 10-12 10-9 10-6 10-3 103 90 ºC 25 ºC Figura 1.12 - Relação I versus V para ZnO. A corrente aumenta de forma abrupta na voltagem e ruptura VB. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 15 A maioria dos varistores são obtidos através do óxido de zinco e aditivos em diversas porcentagens. ZnO com estrutura hexagonal (estrutura do quartzo) possuem tetraedros de Zn–O ligados (ver Figura 1.13), sendo o comprimento de ligação igual a 1,97 Å. A composição típica de varistores pode ser representada por: ( ) ( )32223232 OCrMnOCoO2SbOBi6 xZnOx100 +++++− (1.13) Sendo x a quantidade de aditivos em mols percentuais. Varistores de excelente desempenho podem ser obtidos para valores de x no intervalo 3–10%. ZincoOxigênio Figura 1.13 – Célula unitária hexagonal da estrutura de ZnO utilizada em varistores. Os parâmetros de rede são a = 3,24 Ǻ e c =5,19 Ǻ. A microestrutura dos varistores consiste de grãos de ZnO dopados separados por regiões de contorno de grãos de Bi2O3 dopados. Em geral, a camada de óxido de bismutosão de pequena espessura (< 30 Ǻ). Isto desempenha uma função relevante no processo de condução. Eletricamente, os varistores cerâmicos consistem de grãos semicondutores de ZnO com resistividade próxima a 1 Ohm.cm, separados por contornos de grão ricos em Bi2O3. Os grãos e contornos de grão exibem características de condutores do tipo-n e tipo- p, respectivamente. Elétrons próximos ao contorno são capturados nas regiões intergranulares ricas em Bi2O3 gerando doadores ionizados em ambos os lados do contorno de grão. O resultado é uma barreira do tipo Schottky simétrica de aproximadamente 0,8 eV. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 16 O comportamento não-linear de I versus V (Figura 1.12) em um varistor pode ser explicado em termos do modelo de barreira do tipo Schottky. Em baixas voltagens, na região de pré–ruptura, os portadores de carga superam a barreira de Schottky através de ativação térmica (Figura 1.14), gerando uma pequena elevação no valor da corrente em função da temperatura. Quando a voltagem aplicada aproxima-se de VB, a voltagem de ruptura passa para um estado preenchido na região inicial intergranular através de uma união na célula unitária hexagonal da estrutura de ZnO, utilizada em varistores. Os parâmetros de rede são a = 3,24 Å e c = 5,19Å. Faixa de condução Bi2OV = O ZnO ZnO Faixa de valência Ativação Térmica Ajustamento (a) (b) (c) Figura 1.14 - (a) Barreira de Schottky gerada pela dupla camada em varistores de ZnO. (b) Em baixas voltagens, a condução ocorre por ativação térmica. (c) Para a voltagem de ruptura, inicia-se o tunelamento, o qual gera um aumento considerável na corrente. 1.1.2.1 Aplicações Varistores cerâmicos de óxidos metálicos são utilizados para proteger elementos de circuitos contra ondas indutivas, as quais muitas vezes danificam os contatos, ondas e retificadores. Através de varistores ligados em paralelo com um elemento de circuito (ver Figura 1.15), em qualquer ponto com voltagem maior que VB, geram correntes que fluem através dos varistores. Varistores de óxido de zinco têm demonstrado potencial como pára- raios [8]. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 17 Primário Secundário Carga Figura 1.15 - Os varistores são utilizados para proteger contatos elétricos e carregar de forma oposta os osciladores indutivos. 1.2 Capacitores e Dielétricos 1.2.1 Introdução A tecnologia de capacitores cerâmicos compreende variedade de produtos baseados em materiais dielétricos e configurações físicas, porém, todos são destinados a armazenagem de energia elétrica, utilizados em diversas aplicações nas indústrias eletrônica, incluindo as que se seguem: • Descarga de energia armazenada: É uma das aplicações mais relevantes para um capacitor, envolve a generalização de um pulso de corrente por descarga em um capacitor no circuito. • Bloqueio de corrente direta: Capacitores, uma vez carregados, possuem elevados elementos de impedância, devido a um bloqueio na corrente direta em algumas posições de um circuito. • Ligação dos componentes do circuito: Em um circuito c.a (circuito de corrente alternada), um capacitor carregado e descarregado com polaridade oposta do sinal de absorção, permite a atuação da corrente alternada em cada lado do componente, onde as seções de um circuito podem ser “ligadas”. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 18 A corrente não flui de forma direta no capacitor. Devido à característica isolante do dielétrico a corrente contínua oscila, sendo este resultado da voltagem da carga através do capacitor. • Passagem–via um sinal de corrente alternada c.a.: Em razão dos capacitores permitirem a passagem e alternância em barreiras diretas na corrente, o modelo pode ser utilizado em paralelo com o elemento do circuito adicional, permitindo a passagem–via dos elementos fora da porção do sinal de corrente contínua c.c. • Distinção da freqüência: Um sinal de entrada, com uma mistura de freqüências, pode ser separado pelo uso de um capacitor que não responde (devido a seus valores de capacitância) ao sinal de baixa freqüência. Para capacitores em circuitos de c.a., o fluxo de corrente aumenta com a freqüência, isto é, a resistência flui alternando a corrente, que é inversamente proporcional aos valores da capacitância. No modo de menor oposição, a corrente flui para o sinal de freqüência elevada em um espaço de tempo, onde oferece um aumento na oposição na corrente de baixa freqüência. Este modo pode ser usado para discriminar e filtrar a extensão da freqüência desejada. • Transiente de voltagem e supressão do arco: Os capacitores são utilizados para estabilizar circuitos que mudam, de maneira indesejada, a oscilação do transiente de voltagem e para eliminar curvas de pontos de contatos. O capacitor absorve a energia gerada por oscilação da voltagem. 1.2.2 Características de um Capacitor O modelo básico de um capacitor consiste em uma única placa plana com dois condutores, ou eletrodos, separados por um material dielétrico (como ilustrado na Figura 1.16). O dielétrico deve ser um material puro, sendo esta a propriedade básica que determina o comportamento elétrico do aparelho. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 19 eletrodo dielétrico Figura 1.16 - Placa de um capacitor simples. Os materiais dielétricos são caracterizados pela habilidade de armazenar carga elétrica (elevada capacitância) e suas respostas inertes em relação a um campo elétrico, isto é, variação da capacitância, características de perda, resistência ao isolamento, força dielétrica, taxa de envelhecimento e dependência da temperatura em relação às propriedades mencionadas. Em geral, os capacitores utilizam o ar como material dielétrico (possui constante dielétrica próxima a do vácuo, definida como 1) ou naturalmente dielétricos, como mica, com uma constante dielétrica (κ) de 4-8, ou materiais preparados, como os grupos cerâmicos, com valores de κ constante (κ = 9), para valores elevados como κ = 18000, como ilustrado na Tabela 1.1. Os materiais cerâmicos, baseados em titanatos e niobatos, exibem altas constantes dielétricas e assim podem ser formulados com características elétricas adequadas, sendo deste modo a base da tecnologia dos capacitores em forma de chip. Todo processamento e materiais utilizados na fabricação dos capacitores em forma de chip são orientados rumo a otimização das propriedades elétricas desses dielétricos. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 20 Tabela 1.1- Constantes Dielétricas para vários materiais. Constante Dielétrica para vários materiais Vácuo 1,0 Ar 1,004 Milonito 3 Papel 4-6 Mica 4-8 Vidro 3,7-19 Alumina (Al2O3) 9 Dióxido de Titânio (TiO2) 85-170, (com vários cristais no eixo) Titanato de Bário (BaTiO3) 1500 Cerâmicas Formuladas com características distintas 20-18.000 1.2.3 Capacitância Uma das principais característicasque um capacitor possui é a sua habilidade em armazenar carga elétrica (Q), a qual é diretamente proporcional aos valores da capacitância (C) e da voltagem aplicada (V). CVQ = (1.14) A corrente elétrica I é definida como: dt CdV dt dQ I == (1.15) Os valores da capacitância são medidos no Sistema Internacional como Farad, sendo a voltagem que atravessa o capacitor medida em Volt e a corrente em Ampère. FaradltCoulomb/VoV Q C === (2.16) LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 21 O Farad é uma importante unidade de medida, não possuindo aplicações práticas. Múltiplos do Farad são comumente usados, isto é: • Picofarad (pF) = 10-12 • Nanofarad (nF) = 10-9 • Microfarad (mF) = 10-6 1.2.3.1 Fatores que afetam a capacitância Para algumas voltagens características, os valores da capacitância em uma placa simples (Figura 1.16) são diretamente proporcionais à geometria e a constante dielétrica do material: ( )tf kA C = (1.17) onde, κ é a constante dielétrica, A é a área do eletrodo, t é a densidade do dielétrico e f é um fator de conversão. No sistema Inglês de unidades, f é igual a 4,452, e usando dimensões em polegadas para A e t, os valores da capacitância é expresso em picofarads (pF). Por exemplo, para uma amostra com área de 1,0 X 1,0”, densidade dielétrica de 0,56” e constante dielétrica de 2500, tem-se: pF 10,02756) /4.452(.0(1.0)(1.0) 2500 C == Utilizando o Sistema Métrico, o fator de conversão f é igual a 11,31 e as dimensões estão em centímetros. pF 10,02822)/11,31(,14 4)(2,54)(2,5 2500 C == Como mostra a relação acima, capacitância em função da geometria, um maior valor de capacitância pode ser alcançada através do aumento da área dos eletrodos e uma diminuição da espessura do dielétrico. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 22 Como é fisicamente impraticável aumentar a área de uma única placa do dispositivo, o conceito de capacitores conectados em paralelo foi utilizado para produzir dispositivos com maior capacitância por unidade de volume, como ilustrado na Figura 1.17. eletrodo (interno) cerâmica dielétrica Terminal Figura 1.17 - Capacitor de “multicamadas”. Nas configurações de “multicamadas”, a área A aumenta em razão de muitos eletrodos com arranjo em paralelo, possuindo uma construção que permite dielétricos de espessura mais fina entre eletrodos opostos, tal que a capacitância (C) aumenta por um fator N (número de camadas dielétricas) e a espessura dielétrica (t’) seja reduzida, onde A é a área de superposição dos eletrodos opostos. (t') KA' N C 452,4 = (1.18) Os valores de capacitância obtidos para o quadrado da polegada por 056” em uma placa simples da amostra, podem ser agora produzidos em um mesmo dielétrico em uma unidade de multicamada de dimensão 0,050” x 0,050” x 0,040” e trinta (30) camadas de dielétricos de densidade 0,001” (onde A’, o eletrodo envolvido, possui dimensões de 0,030” x 0,020”). pF 10,1071)4,452(0,00(0,020)30/ (0,030) 2500 C == LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 23 Este exemplo mostra a construção de capacitores de multicamadas que podem resgatar algumas capacitâncias em volumes de 700 vezes menores em comparação aos de uma placa simples da amostra. Capacitores do tipo “chip” são, portanto, designados e fabricados para maximizar o efeito volumétrico da capacitância através da otimização da geometria por seleções de formulações dielétricas com alta constante dielétrica e propriedades elétricas satisfatórias. 1.2.4 Comportamento Dielétrico O comportamento dielétrico está presente em todos os isolantes sólidos, líquidos e gasosos, porém sua total compreensão não foi atingida, em especial onde observa-se a ocorrência de agregados, como em cerâmicas policristalinas. 1.2.4.1 Polarização Dielétrica A polarização dielétrica desenvolve-se devido à atuação de forças atômicas e moleculares. Tal polarização ocorre quando as cargas em um material são levemente deslocadas em relação a uma influência externa, tal como um campo elétrico. Em um capacitor, as cargas negativas dentro do dielétrico são deslocadas em direção ao eletrodo positivo, enquanto as cargas positivas deslocam-se na direção oposta. Como as cargas não são livres para deslocarem-se em um isolante, as forças são restauradas e ativadas por qualquer outro trabalho, isto é, a energia é transferida. No carregamento de um capacitor, sob a atuação de um campo aplicado, a polarização influencia de maneira oposta as cargas sobre os eletrodos, armazenando a energia. Quando ocorre a descarga, tal energia é dissipada. Um resultado da interação descrita acima pode ser aplicado a certos materiais, os quais possuem cargas com relativa facilidade para gerar polarização, o que será de grande influência na quantidade de carga elétrica que poderá ser armazenada em um capacitor. A relação entre a habilidade de armazenagem de um dielétrico e a do vácuo é definida como a constante dielétrica do material. A polarização P pode ser representada em função da constante dielétrica κ e do campo elétrico E por: LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 24 )E(KP o 1−= ε (1.19) onde, εo (= 8,85x10-12 Fm-1) é a permissividade do vácuo. A polarização total de um dielétrico pode ocorrer em função de quatro fontes de deslocamento de cargas: (a) deslocamento elétrico, (b) deslocamento iônico, (c) orientação de dipolos permanentes e (d) deslocamento de cargas espaciais. Assim, a contribuição total da polarização pode ser representada pela soma entre as quatro formas de polarização: sdie PPPPP +++= (1.20) • Deslocamento elétrico: Este efeito é comum para todos os materiais, pois envolve distorções no centro de cargas dos átomos. A influência de um campo aplicado no núcleo de um átomo e no centro de carga dos elétrons gera um pequeno dipolo. Este efeito de polarização é pequeno, apesar do vasto número de átomos dentro do material, devido ao momento de dipolo ser muito breve, sendo o deslocamento da ordem de Angstrom (1Å = 10-10 m). • Polarização iônica: O deslocamento iônico é comum em materiais cerâmicos que possuem rede cristalina ocupada por cátions e ânions. Sob a influência de um campo elétrico, os momentos de dipolo são gerados pelo deslocamento dos íons para as respectivas polaridades (opostas) em relação ao campo. O deslocamento iônico pode ser relativamente grande em comparação com o deslocamento elétrico e por esta razão pode induzir a altas constantesdielétricas em algumas cerâmicas. • Orientação de dipolos: Este é um fenômeno que envolve a rotação de dipolos permanentes na aplicação de um campo inferior. Apesar da existência de dipolos permanentes em compostos cerâmicos, como no SiO2, que não possui centro de simetria para cargas positivas e negativas, a orientação de dipolos não ocorre, uma vez que os dipolos são restritos a deslocarem-se somente ao longo de determinadas direções na rede cristalina. A reorientação dos dipolos é impedida e resultará no desarranjo da rede cristalina. A orientação dos dipolos é muito comum em polímeros, que em razão de suas estruturas atômicas, permitem a reorientação. Observa-se que o mecanismo de dipolos permanente não é o mesmo em dipolos induzidos na polarização iônica. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 25 • Polarização de cargas espaciais: Este mecanismo é intrínseco em qualquer rede cristalina. O fenômeno surge devido à geração de cargas com a presença de impurezas ou devido à geometria irregular nas interfaces de cerâmicas policristalinas, sendo sua contribuição extrínseca. Tais cargas são em parte móveis e deslocam-se sob a atuação de um campo elétrico. 1.2.4.2 Efeitos da Freqüência sobre a Polarização Os mecanismos de polarização são processos, cujo tempo de resposta varia com a freqüência do campo elétrico aplicado, sendo que a contribuição da rede de polarização para a constante dielétrica depende da freqüência. O deslocamento elétrico responde rapidamente a inversão do campo e não retarda a contribuição da polarização que ocorre acima de 1017 Hz. Como esperado, os íons que são grandes dentro da estrutura do cristal, são menos móveis, possuindo um tempo de resposta menor. O efeito da polarização por deslocamento iônico decresce em torno de 1013 Hz. Em tal freqüência, o deslocamento iônico inicia-se, sendo o campo elétrico de elevada intensidade, aumentando o fator de perda e contribuindo para a menor constante dielétrica. Em altas freqüências, os campos reversos são tais que os íons não deslocam-se em relação ao campo (a freqüência de oscilação dos íons é menor que a freqüência do campo), e a contribuição do fator de perda ocorre através de deslocamentos iônicos. A orientação dipolar e a polarização de cargas espaciais diminuem em resposta a freqüência do campo aplicado. O efeito total da rede de polarização é ilustrado na Figura 1.18. Os picos de polarização iônica e eletrônica que ocorrem próximo às mudanças de freqüência devem-se a pontos de ressonância, para os quais a freqüência aplicada iguala-se a freqüência de oscilação do material. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 26 Dipolo Iônico Eletrônico 10 -4 P o l a r i z a ç ã o 1010 1014 1017 Hz Carga Espacial Figura 1.18 - Polarização versus Freqüência. A variação da freqüência durante o mecanismo de polarização é refletida em medidas da constante dielétrica do capacitor. Em geral, os valores da capacitância e da constante dielétrica decrescem com o aumento da freqüência para todos os materiais cerâmicos, embora tal diminuição dependa do tipo de mecanismo de polarização. 1.2.5 Perda Dielétrica Em um circuito do tipo c.a. (corrente alternada), a relação entre a voltagem e a corrente transversal, fora de fase entre si, em um capacitor “ideal” pode ser representada por: CVQ = (1.21) Para a aplicação de um campo elétrico alternado tem-se: ωt senVV o= (1.22) onde, Vo é a amplitude da tensão senoidal, e ω é a freqüência angular. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 27 Dessa forma, pode-se escrever: ωt senCVQ o= (1.23) Sendo que a corrente (I) pode ser representada através da equação: ( )ωt senCV dt d dQ/dtI o== (1.24) Assim: ωt cos ω CVI o= (1.25) A equação que descreve a variação periódica é dada por: )90º t ω( senωt cos += (1.26) Dessa forma, o fluxo da corrente é 90º fora de fase em relação à voltagem. Porém, dielétricos reais não são dispositivos perfeitos, uma vez que a resistividade do material é finita e o retardo ou “tempo de relaxação” do mecanismo da polarização com a freqüência gera perdas. Um modelo prático de capacitor real pode ser considerado como um capacitor ideal ligado em paralelo com um resistor ideal. Novamente, para o capacitor, a voltagem pode ser considerada como: ωt senVV o= (1.27) Sob a atuação de um campo elétrico alternado, tem-se: tω cos ω CVI oc = (1.28) LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 28 Para um resistor ideal: ωt sen/RVV/RI or == (1.29) O fluxo de corrente na rede cristalina é, portanto: ωt senVo/Rωt cos ω CVIII orederc +==+ (1.30) As duas porções da corrente que flui indica que alguma corrente (contribuída por uma porção da resistência do capacitor) não estará 90º fora de fase com a voltagem. O ângulo em que a corrente sai de fase para um capacitor ideal pode ser determinada e a tangente deste ângulo é definida como a tangente de perda ou fator de dispersão, como ilustrado na Figura 1.19. Voltagem Vetor corrente para um capacitor realδ Figura 1.19 - Tangente de perda em um capacitor ideal. A tangente de perda (tg δ) é uma propriedade do material e não depende da geometria do capacitor. Ela possui grande influência na utilidade do dielétrico em aplicações eletrônicas. Na prática, tal parâmetro pode ser determinado pela perda do fator de dispersão em materiais de baixa constante dielétrica. O desenvolvimento de tais propriedades deve-se a elevada constante dielétrica (κ) do material, em razão dos mecanismos de polarização exibindo alto fator de dispersão. LaCCeF ______________________________________Materiais Dielétricos − Correlação: Propriedades e Defeitos Salmazo, L.O. e Nobre, M.A.L. 29 1.2.5.1 Efeitos da freqüência sobre a perda dielétrica A freqüência utilizada em um dielétrico é importante devido ao efeito no mecanismo de polarização, sendo notável o processo de “relaxação” ou retardo exibido pelo material em razão da inversão do campo, em um circuito de corrente alternada. O pequeno tempo de relaxação
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