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Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade 2/142 Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade Autor: Prof. Dr. Humberto Dantas Como citar este documento: DANTAS, Humberto. Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade. Valinhos, 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática 04 Assista suas aulas 25 Unidade 2: Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais 34 Assista suas aulas 62 Unidade 3: Ações de Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade 71 Assista suas aulas 98 Unidade 4: Estratégias de Campanha e Marketing Político – Buscando as Conexões com o Setor Público 107 Assista suas aulas 133 2/142 3/142 Apresentação da Disciplina Pense na seguinte questão: qual um dos principais objetivos da administração pública? Os mais individualistas podem imaginar que se trata de um ótimo espaço para a conquista de um emprego estável. Mas definitivamente não é isso que está sendo dito aqui. A administração pública organiza o Estado, a sociedade, e principalmente aproxima as pessoas de seus direitos, muitos deles conquistados sob a lógica de lutas e movimentações sociais intensas. A comunicação é uma ferramenta para aprimorar o sentido da gestão pública. Assim, o objetivo aqui é refletir sobre quatro temáticas essenciais à consolidação de estratégias e ações de comunicação. Primeiramente, com base em aspectos éticos e legais, será discutido o conceito de democracia para justificar a relevância da comunicação. Na segunda aula serão observadas as bases para estratégias sólidas, sobretudo por meio da discussão de conceitos como opinião pública e relações públicas, além de análises legais adicionais. No terceiro encontro será verificada a relevância mais prática das ações de comunicação, terminando no quarto encontro com uma tentativa de relacionar o marketing público com as ações político-eleitorais. Trata-se, nesse caso, de algo prático e absolutamente preocupado com a realidade, finalizado por uma reflexão de ordem ética. 4/142 Unidade 1 O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática Objetivos 1. Compreender o conceito de Democracia e o quanto a comunicação guarda relação com tal questão fundamental, tornando-se uma ferramenta fundamental ao desenvolvimento de uma boa gestão, consolidando direitos e fortalecendo princípios. Você já parou para pensar na importância do uso dos canais de comunicação para a transmissão de mensagens oficiais acerca de direitos, deveres e atitudes? Já calculou o quanto os governantes e seus adversários dependem de boas estratégias de comunicação para manterem vivos seus discursos e ideais? Tais questões serão respondidas com base em aspectos teóricos e alguns exemplos práticos. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática5/142 Introdução Você sabia que sociedades autoritárias fizeram, ao longo da história, uso eficiente dos meios de comunicação para disseminar seus valores? Quem nunca ouviu, por exemplo, a frase: “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”? Ela é atribuída ao ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha nazista, Paul Joseph Goebbels. E serve de base para compreender que a mensagem oficial de um regime autoritário, mesmo que mentirosa, uma vez pregada na mente dos cidadãos poderia se consolidar como algo verdadeiro. Na China de Mao Tsé Tung, não foi diferente. A propaganda do Partido Comunista Chinês, fundado na década de 1920 do século passado e que chegou ao poder no final da década de 1940, enfatizou de tal maneira a figura supostamente heroica de seu principal líder, Mao Tsé-Tung, que o maoísmo – corrente do pensamento comunista atribuída ao líder chinês – tem como uma de suas características práticas o culto à personalidade. Exposição intitulada Tesouro da China, trazida ao Brasil em 2002 pelo Museu de Arte Brasileira da FAAP, mostrava uma infinidade de produtos, das mais diferentes espécies, com a fotografia de Mao e o louvor constante à sua pessoa. Segundo o cientista social Renato Cancian, cabia ao Partido Comunista Chinês “exercer um papel de conscientização permanente (ou seja, uma função ’didática’ com objetivo Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática6/142 de transmitir a ideologia socialista), e esse processo deveria ser acompanhado da progressiva arregimentação (organização) das massas camponesas”. Outros tantos exemplos poderiam ser dados acerca do uso dos meios de comunicação em benefício de regimes autoritários, mas o objetivo maior dessa discussão é compreender a relevância da comunicação em sistemas democráticos. Assim, primeiramente, deve-se compreender o que significa a palavra Democracia. E a partir de então será possível discutir o papel das estratégias de comunicação nesse modelo. 1. O Conceito de Democracia e o Papel da Comunicação Democracia é uma daquelas palavras que todos já ouviram falar, utilizam com certa frequência, mas têm dificuldade de definir de maneira clara. Você saberia dizer exatamente o que significa democracia? A utilização de um dicionário, nesse caso, não vai auxiliar muito. Trata-se de um substantivo masculino utilizado para designar o governo do povo, pelo povo e para o povo. Mas o que é exatamente “do povo”, “pelo povo” e “para o povo”? Depende. E a resposta está associada ao sistema democrático que está sendo considerado. E isso é extremamente complexo. Num sistema chamado Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática7/142 de Direto, por exemplo, como aquele supostamente vivido em Atenas entre os anos 500 a 300 antes de Cristo, o povo eram os homens livres nascidos na cidade, que se reuniam em praça pública e deliberavam sobre os assuntos da cidade. No sistema representativo, por sua vez, aumentou-se o número de pessoas consideradas cidadãs, incluindo nesse grupo as mulheres, os jovens, os analfabetos e até mesmo os estrangeiros naturalizados. E foi adotado um sistema de escolha de representantes que, em tese, têm a missão de defender os interesses coletivos nos mais diferentes organismos de representação. No caso brasileiro, em dois poderes – o Executivo e o Legislativo –, em três esferas de poder – os municípios, os estados e a União. Num sistema democrático a comunicação tem um papel absolutamente central. Em seu clássico livro Uma teoria econômica da democracia, Anthony Downs busca compreender o funcionamento ideal da democracia sob os parâmetros da teoria econômica. Um dos pressupostos indispensáveis é que o eleitor, ou o cidadão, precisa ser extremamente bem informado. Ou seja, uma boa escolha, nesse caso política, precisa estar respaldada por significativo conteúdo para que “boas análises” sejam feitas em nome do funcionamento da democracia. Com argumentos mais simples: para fazer uma grande compra, o que você faz? Pense num carro, por exemplo. Lê sobre ele em diferentes fontes de informação (revistas, Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática8/142 e aqueles que desejam chegar ao poder. Cabe ao cidadão escolher o que é melhor para ele, e por isso se deve carregar um conjunto de informações para a tomada de decisões dessa natureza. Em que pese o fato de demandar expressivo amadurecimento para a realização racional das escolhas políticas no Brasil, ou seja, tirando o fato de que a educação política no Brasil é escassa e isso prejudica o funcionamento da democracia, deve-se considerar que um governo será bem ou mal avaliado pela sociedade na medida em que realizar ações e ofertar informações que permitam ao eleitor realizar a “melhor escolha possível”. Nota o papel das comunicações nesse sentido? jornais e sites), procura conversar com pessoas que possuem ou possuíram aquele veículo, solicita um test drive e vai à concessionária colher dados sobre o veículo. Ou seja, umadecisão racional é tomada com base em informações. Na vida pública, em tese, não deveria ser diferente. Ao votar, isto é, ao escolher o melhor plano para a sociedade, deve-se colher expressivo volume de informações. Tal movimento é essencial ao bom funcionamento da democracia, segundo as teorias econômicas utilizadas por Downs. Parte dessas informações deve advir do próprio poder público. Na democracia costuma-se dizer que é possível separar os grupos políticos em duas partes: aquele que detém o poder e pretende mantê-lo, Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática9/142 Complementarmente às conclusões com base nas ideias de Downs, há o pensamento de Robert Dahl. Em seu livro Sobre a Democracia, o autor apresenta uma série de aspectos importantes ao fortalecimento de um sistema democrático. Entre eles a demanda por fontes alternativas de informações. O que representa isso? Significa que além da informação oficial, ou seja, a informação advinda do Estado, é preciso ter organismos livres que tragam notícias pautadas em pautas diversificadas, que não necessariamente defendam as ações oficiais. Nesse caso, se está falando, além de pluralidade, em liberdade de imprensa. Um conjunto de informações oficiais associado ao trabalho jornalístico livre construiria parte de um ambiente ideal para o fortalecimento da democracia. Para saber mais Para conhecer mais sobre educação política como pressuposto básico da democracia e como tal questão é debatida no Brasil, é possível acessar uma edição da revista Cadernos Adenauer, da Fundação Konrad Adenauer. Disponível em: <http://www.kas.de/brasilien/ pt/publications/20865/>. Acesso em: 22 ago. 2014. 2. Parâmetros para a Liberdade de Comunicar Em 2009, uma prefeita de uma pequena cidade do interior confidenciou-me que http://www.kas.de/brasilien/pt/publications/20865/ http://www.kas.de/brasilien/pt/publications/20865/ Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática10/142 se soubesse que sua adversária, então no poder, tinha feito tantas coisas boas pela cidade, não teria aceitado disputar eleições contra ela. Pelo contrário: a apoiaria. Mas o que a fez enfrentar a prefeita e ganhar com um discurso crítico? Ela mesma conhece a resposta: “minha adversária não soube comunicar os avanços que estava plantando na cidade. Não investiu um centavo em dizer o que estava planejando. A sociedade não lhe deu nova chance no poder.” Não cabe aqui apresentar nomes, mas o exemplo é emblemático e extremamente útil. O que faltou para a prefeita derrotada? Comunicar-se com o eleitor, ou melhor: com o cidadão. Mas existem limites para essa comunicação? A resposta para tal pergunta é um tanto quanto óbvia: é claro que sim. E sobre ela será discutido mais detalhadamente em aulas mais adiante, ainda dentro do conteúdo dessa disciplina. O importante é destacar que, numa democracia, quem está no poder não pode utilizar-se dele para comunicar-se da forma como preferir ou achar mais adequada. Norberto Bobbio, em seu livro O futuro da Democracia e Giovanni Sartori, na obra Teoria da Democracia Revisitada afirmam algo relativamente comum. Ambos entendem, aos seus respectivos modos, que a democracia é um valor cultural que precisa ser vivido e respeitado no cotidiano. Assim, existem princípios fundamentais associados ao conceito que devem ser sentidos e disseminados. No caso de quem ocupa o poder essa responsabilidade é muito Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática11/142 grande, pois apesar de defender uma posição específica, em termos ideológicos ou políticos, um governo deve considerar a pluralidade daqueles que estão sob sua responsabilidade. Assim, o uso dos canais oficiais de comunicação para a disseminação de valores, direitos e ações deve respeitar princípios, e tais aspectos devem estar absolutamente previstos e regulados por leis. Dessa maneira, se voltar ao início desse texto, verá que a comunicação oficial não pode servir aos propósitos exclusivos de quem está no poder – como nos casos extremos ilustrados pela Alemanha nazista e pela China de Mao Tsé-Tung. A democracia pressupõe a existência de diferenças, e, principalmente, o respeito a tais formas de pensar. Se ao chegar ao poder um determinado grupo utiliza-se da máquina pública em benefício exclusivo de seus ideais, extrapola os limites legais dos canais de comunicação e persegue seus adversários, estará sendo observado um afastamento preocupante de valores democráticos. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática12/142 Se por um lado a comunicação oficial deve ser utilizada com base em parâmetros legais, o que se chama de fontes alternativas de informação também deve respeitar limites. O jornalismo é regido por parâmetros éticos e morais. Não cabe aqui uma discussão aprofundada sobre essa temática, mas uma das grandes funções dos meios de comunicação independentes é noticiar fatos. Por vezes a sociedade entende que os canais de comunicação são pessimistas, ou constroem uma pauta muito negativa em relação aos governos. Ao assistir TV, ouvir rádio, Para saber mais No caso da Alemanha nazista, não faltam informações nas mais diferentes fontes. O documentário Triunfo da vontade, da década de 1930, é uma cobertura autorizada de Hitler sobre o sexto congresso do Partido Nazista em 1934, em Nuremberg. Trata-se de uma superprodução para os padrões da época que mostra o poderio da máquina de propaganda daquele governo autoritário. De 2005, o documentário O experimento Goebbels mostra como o segundo homem mais importante do sistema nazista trabalhou com base em relatos de seu diário, mantido entre 1942 e 1945. Para conhecer um pouco melhor a história de Mao Tsé-Tung, acesse o resumo de sua história, disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/mao-tse-tung.jhtm>. Acesso em: 22 ago. 2014 http://educacao.uol.com.br/biografias/mao-tse-tung.jhtm Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática13/142 e ler jornais e revistas, você já teve a sensação de que só entra em contato com desgraças? Essa capacidade de denunciar é característica de uma imprensa livre. Cabe ao cidadão, no entanto, filtrar o que lê, buscar diversidade em suas fontes e ofertar credibilidade àquilo que parece mais condizente com a verdade. Não é possível, no entanto, deixar de lado o fato de que canais de comunicação, os mais diferentes, atendem interesses políticos, sociais e econômicos. A simples escolha da pauta de um jornal já demonstra que o fato A é mais importante que o fato B. Por isso a importância da diversificação. 3. Conclusão: e a Democracia? A despeito da relevância da comunicação para o conceito de democracia, falta chegar a uma definição mais sólida desse conceito para que se possa seguir adiante nessa disciplina. Com base no que se pensou aqui, ficou mais claro o que é a democracia? Se a resposta for não, tranquilize-se. Primeiro porque foram abordados apenas aspectos mais associados à comunicação para explicar o conceito, segundo porque ele realmente não é simples. Serão observados os princípios mais atuais de Robert Dahl, isso facilitará muito. O autor norte-americano ofertou a ideia de que as fontes alternativas de informação, Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática14/142 ou seja, a notícia além daquilo que o Estado informa, é um dos princípios essenciais da democracia. Ele complementa seu pensamento com outras questões fundamentais. São elas: Para saber mais Um resumo bastante simples e fácil de ser compreendido sobre o conceito de democracia pode ser encontrado numa pequena apostila de um curso livre de política, oferecido em 2004 pela escola de governo da Assembleia Legislativa de São Paulo. O material encontra-se no link a seguir, e o capítulo sobre a temática é o primeiro. Aproveite seu interesse pela disciplina e veja o capítulo 10, deautoria do jornalista Sérgio Praça, que trata de mídia, marketing e política: Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/StaticFile/ilp/apostil04.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2012. • O Sufrágio Universal, ou seja, o direito de todos terem acesso às escolhas e participações associadas ao ambiente político. Em resumo, pode-se dizer que se trata do acesso ao voto. No Brasil, o ingresso das mulheres nas fileiras eleitorais na década de 1930 do século XX, dos analfabetos em 1985 e dos jovens de 16 e 17 anos em 1988 é marca relevante do compromisso com esse princípios. http://www.al.sp.gov.br/StaticFile/ilp/apostil04.pdf Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática15/142 • As liberdades de expressão e associação, ou seja, o respeito às escolhas individuais e a possibilidade de aproximação daqueles que pensam da mesma maneira. Livres para pensar e para se agrupar, é possível afirmar que se está mais próximo de um ambiente democrático. • Liberdade para ofertar e solicitar apoio político, o que representa dizer que não basta ser livre para pensar e agrupar. Tais pessoas ou grupos devem ser livres para que ofereçam ou peçam apoio para seus projetos políticos. • Eleições livres, diretas, idôneas e em data pré-estabelecida legalmente. Tais princípios estão associados às formalidades do processo eleitoral, absolutamente marcante para as democracias, sobretudo aquelas do século XX. Assim, a existência de garantias legais para que as eleições ocorram de forma correta é essencial para a democracia. • Órgão neutro que garanta as eleições e seus resultados, o que significa dizer que demanda-se um departamento especificamente voltado para a garantia das eleições, julgamentos associados à ela e a posse dos vencedores, substituindo, em muitos casos, grupos opostos derrotados. No Brasil, tal organização seria a Justiça Eleitoral. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática16/142 Importante notar que muito dos princípios de Robert Dahl se mostram desafiadores. Não existe democracia perfeita no mundo. Todas apresentam dificuldades, maiores ou menores, em algum desses itens. A despeito de tal questão, a definição que se utiliza aqui não é única. Muitos outros autores enxergam a democracia de formas distintas. O próprio Dahl entende que esse modelo representativo, pautado na escolha de candidatos que defendam alguns interesses, está desgastado. Uma solução precisa ser pensada, e o caminho trilhado nas últimas décadas em todo o mundo está associado à questão de uma elevação nos padrões de participação do cidadão nas decisões de ordem pública. Mas como assim? Simples, a democracia precisa avançar e transcender a “simples” escolha de representantes, envolvendo os cidadãos em decisões que superem o voto. Não se trata de acabar com as eleições. Mas sim de entregar novas responsabilidades aos indivíduos de uma maneira geral. A democracia se afastaria assim de seu caráter representativo e atingiria o que se tem chamado de forma participativa. Quando se vota em candidatos e partidos preferidos, se está exercendo os direitos políticos em um ambiente representativo. Mas quando, por exemplo, se é convocado para um plebiscito ou um referendo, se vai além da escolha de pessoas. Passa-se a deter o poder de escolha sobre a realidade. Em 1993, por exemplo, em um plebiscito Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática17/142 nacional foi dito que se preferia a República à Monarquia, e o Presidencialismo ao Parlamentarismo. A decisão da sociedade definiu. Em 2005, por sua vez, num referendo, optou-se por manter sob o formato atual o comércio de armas de fogo e munição no Brasil. Outros exemplos acerca de responsabilidades adicionais podem ser ofertados. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, é um projeto de iniciativa popular, ou seja, a aprovação de um projeto cuja origem se deu entre os cidadãos. O envolvimento nos milhares de conselhos gestores de políticas públicas, a atuação em reuniões do orçamento participativo e as ferramentas de gestão participativa são outros bons exemplos do quanto o Brasil consegue transcender questões puramente representativas da democracia. Mas você conhece e participa ativamente de tais ações em sua cidade? De acordo com pesquisas do IBGE, todos os municípios brasileiros possuem conselhos de saúde, por exemplo. Sem esse tipo de organização, o governo federal não repassa verbas do Sistema Único de Saúde. Em Para saber mais Para compreender um pouco mais sobre questões associadas às ferramentas de democracia participativa, leia o primeiro capítulo do livro Introdução à Política Brasileira, organizado pelos cientistas políticos Humberto Dantas e José Paulo Martins Junior, publicado em 2007 pela editora Paulus. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática18/142 termos técnicos, os conselhos atendem um dos preceitos básicos das diretrizes de saúde pública: a participação popular. O desconhecimento acerca desse tipo de ferramenta, e o consequente mau funcionamento de muitas delas está associado à falta de informação. Ou seja, o poder público não comunica a sociedade sobre seus direitos e canais de participação. Percebe a grandeza do desafio da comunicação no setor público? Veja um exemplo que torna isso evidente. Numa cidade da Grande São Paulo os vereadores aprovaram uma lei que obriga a prefeitura a custear as despesas funerárias de cidadãos inscritos no cadastro de assistência social do município. A sociedade, entretanto, não foi comunicada de tal direito. Toda vez que morria alguém na cidade, um funcionário do serviço funerário telefonava para um vereador informando o ocorrido. Imediatamente o legislador enviava à casa da família um representante que se dispunha a ajudar a família, “custeando”, em nome do gabinete de seu chefe, as despesas funerárias. Nas eleições, por uma coincidência divina, esse mesmo assessor pedia voto, afirmando ter estado presente quando todos mais precisavam dele. Por absoluta falta de comunicação, um direito foi transformado em benesse, e trocado por voto. Esse é apenas um pequeno exemplo do quanto uma sociedade mal instruída, mal informada e mal preparada para o exercício da democracia pode ser prejudicada. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática19/142 Assim, o desafio maior é compreender que a comunicação é um importante canal de efetivação de políticas públicas, direitos e deveres dos cidadãos. Um gestor público precisa, assim, ter a exata dimensão de seu papel enquanto um comunicador de princípios. Nas próximas aulas você verá a importância da construção de estratégias de comunicação para que se seja eficiente no ato de comunicação, enquanto gestores, com os cidadãos. Além disso, serão observados princípios legais fundamentais. Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática20/142 Glossário Cidadania: é um conceito que tem como objetivo explicar o significado do exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais que são estabelecidos em uma constituição. Plebiscito: tem como significado a ideia da representação política por meio da manifestação popular, que se expressa através de voto e pode ocorrer quando há algum assunto de interesse político ou social. O plebiscito é também caracterizado como um instrumento utilizado para o exercício da democracia direta que pode ocorrer por meio da ratificação da confiança da população em um determinado tema. E tem como intenção garantir a legitimação política. Comunicação: a palavra Comunicação tem como intenção explicitar o que, na sua origem do termo latino, era definido como “communicare”, ou seja, “partilhar, participar algo, tornar comum”. Dessa forma, podemos definir que é o mecanismos que os seres humanos adotam para partilhar informações entre si. Questão reflexão ? para 21/142 Com base em tudo o que se discutiu aqui sobrea democracia, busque construir uma resenha crítica contendo sua visão acerca dos desafios que o Brasil precisa enfrentar para atingir plenamente os parâmetros estabelecidos por Dahl. Pense em questões como: a imprensa é livre? O governo abusa de seu poder de comunicação? As pessoas são efetivamente livres para se associarem e pensarem da forma como preferirem? As eleições são idôneas? A Justiça Eleitoral cumpre de forma efetiva seu papel? 22/142 Considerações Finais (1/2) A comunicação é uma ferramenta de uso político fundamental, a despeito da natureza do regime político. Assim, regimes autoritários se consolidaram com base na eficiência de seus aparatos de propaganda. Em regimes democráticos a comunicação também é fundamental. Tanto no que diz respeito aos princípios gerais do conceito, como no que tange aos limites de respeito às diversidades de pensamento e ação. O conceito de Democracia precisa então ser compreendido, e pode variar de acordo com seu formato. Foram utilizados aqui três deles como exemplo: direto, representativo e participativo. Na democracia representativa a comunicação é base para a definição do conceito, e para seu pleno funcionamento o cidadão deve estar o “mais bem informado possível”. Isso permite que bons governos sejam mantidos no poder, que maus governos sejam punidos, mas, principalmente, que cidadãos conheçam suas realidades no que diz respeito ao relacionamento com o ambiente público. 23/142 A despeito de tais questões, existem outros aspectos centrais para a consolidação da democracia representativa – sufrágio universal, liberdade de associação e expressão entre outros. Tal conceito, no entanto, está em crise, e se vive sob a lógica de um envolvimento maior por parte dos cidadãos. Diante dos novos desafios, pergunta-se: o que são efetivamente ferramentas de democracia participativa? As dúvidas estão associadas à má comunicação e falta de instrução política formal. Nesse caso, observa-se novamente os problemas da má comunicação. Um poder público eficiente faz, mas para que tal verbo seja compreendido em sua plenitude é preciso destacar que comunicar ações é parte do gesto de realizar. Em um exemplo radical, mostrou-se que conquistas mal comunicadas se transformam em moeda de troca, algo distante do ambiente democrático que se destaca. Considerações Finais (2/2) Unidade 1 • O Desafio da Comunicação na Sociedade Democrática24/142 Referências BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia – uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. CANCIAN, Renato. A Revolução de 1949 e a República Popular da China. Disponível em: <http:// educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/maoismo-3-a-revolucao-de-1949-e-a-republica- popular-da-china.htm>. Acesso em: 22 set. 2014. DAHL, Robert. Sobre a Democracia. Brasília: Editora UnB, 2001. DANTAS, Humberto e MARTINS JR, José Paulo (orgs.). Introdução à Política Brasileira. São Paulo: Paulus, 2007. DOWNS, Anthony. Uma Teoria Econômica da Democracia. São Paulo: EDUSP, 1999. SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada, volume 2. São Paulo: Ática, 1994. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/maoismo-3-a-revolucao-de-1949-e-a-republica-popular-da-china.htm http://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/maoismo-3-a-revolucao-de-1949-e-a-republica-popular-da-china.htm http://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/maoismo-3-a-revolucao-de-1949-e-a-republica-popular-da-china.htm 25/142 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Desafios Legais da Comunicação na CF 88 - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 34c1bb08baf04699d6a112c384d6d238>. Aula 1 - Tema: Comunicação e Democracia - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ df544dcfb41d8343d5444943a85ff5da>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/34c1bb08baf04699d6a112c384d6d238 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/34c1bb08baf04699d6a112c384d6d238 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/34c1bb08baf04699d6a112c384d6d238 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/df544dcfb41d8343d5444943a85ff5da http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/df544dcfb41d8343d5444943a85ff5da http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/df544dcfb41d8343d5444943a85ff5da 26/142 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Limites para a Comunicação numa Sociedade Democrática - Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/096387391a99966d38318211ba350a5d>. Aula 1 - Tema: Crise da Democracia - Bloco IV Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/56f- c13ee025fac465dec423e1227b3e7>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/096387391a99966d38318211ba350a5d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/096387391a99966d38318211ba350a5d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/096387391a99966d38318211ba350a5d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/56fc13ee025fac465dec423e1227b3e7 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/56fc13ee025fac465dec423e1227b3e7 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/56fc13ee025fac465dec423e1227b3e7 27/142 1. De acordo com o texto, a comunicação governamental é uma característica das sociedades: a) Modernas, surgida com o advento, sobretudo, da televisão. b) Democráticas, pois em regimes autoritários não há esse tipo de ação. c) Autoritários, pois nas democracias a sociedade tem diversidade de fontes. d) Antigas, pois atualmente mensagens oficiais não são necessárias. e) Dos governos de uma maneira geral Questão 1 28/142 2. Seguindo a lógica da teoria de Anthony Downs, pode-se afirmar que o papel da comunicação na democracia é: a) Ludibriar os eleitores para a escolha dos partidos que estão no poder. b) Contribuir para o amadurecimento do cidadão por meio da oferta de informação. c) Investir sobre a liberdade de expressão e variedade de conteúdos nos canais de TV. d) Difundir a mensagem oficial, a despeito de fontes alternativas de informação. e) Difundir apenas mensagens não oficiais, reforçando o caráter democrático dos meios. Questão 2 29/142 3. A democracia, de acordo com o texto, deve ser percebida: a) Exclusivamente como o direito que existe de escolher representantes. b) Sob o viés político, do voto ou da participação em eleições na qualidade de candidato. c) Como algo utópico, que nunca será atingido plenamente. d) Como um bem cultural, que precisa ser vivido no cotidiano. e) Como ação de construção conjunta da realidade por meio de ações diretas (democracia direta). Questão 3 30/142 4. Segundo as teorias de Robert Dahl, a democracia representativa deve ser compreendida como: a) Um sistema perfeito, que muitos países atingiram em sua plenitude. b) Um sistema em constante transformação e que deve ser visto como puramente utópico. c) Um sistema associado apenas a direitos e deveres fundamentais. d) Algo imperfeito, mas orientado por parâmetros gerais. e) Algo imperfeito, mas que, em termos evolutivos, tende a chegar à perfeição. Questão 4 31/142 5. De acordo com o texto, o conceito de democracia representativa está em crise, e a alternativa é fortalecer o conceito de: a) Autoritarismo, por meio de um governo centralizador e excludente. b) Sufrágio universal, reforçando o voto, universalizando-o e tornando-o facultativo. c) Democracia direta, em que os cidadãos tomarão decisõesem praças, como em Atenas antiga. d) Democracia representativa moderna, associando o voto aos mais diferentes interesses sociais. e) Democracia representativa, ampliando espaços de decisão e participação da sociedade. Questão 5 32/142 Gabarito 1. Resposta: E. Governos de uma maneira geral se comunicam com a sociedade, a despeito de serem autoritários ou democráticos, apesar de tais modelos resultarem em formas distintas de comunicação – ao menos em tese. 2. Resposta: B. Em seu intuito de explicar a democracia por meio da teoria econômica, Downs entende que a tomada de decisões – voto – requer o maior nível possível de informação por parte do eleitor. Assim, a comunicação eficiente contribui para o amadurecimento do cidadão. 3. Resposta: D. Autores como Norberto Bobbio e Giovani Sartori entendem que se deve conviver com a democracia como um valor essencial à vida em sociedade, e tal valor deve estar presente no cotidiano. Tal aspecto é fundamental para o bom desenvolvimento da lógica da comunicação sob os parâmetros estabelecidos. 4. Resposta: D. Democracias representativas buscam aproximar-se de aspectos gerais que podem ser compreendidos como parâmetros elementares à sua consolidação. A liberdade de expressão, 33/142 o sufrágio universal, a liberdade de associação, a liberdade de imprensa entre outros são aspectos destacados por Robert Dahl. 5. Resposta: E. A crise da democracia representativa assola o mundo democrático e a solução para tal problema está associada à capacidade que existe de envolver os cidadãos, de maneira geral, em questões que transcendam o voto e possam ofertar poder de decisão que vá além dos representantes. Gabarito 34/142 Unidade 2 Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais Objetivos 1. O objetivo dessa aula é compreender a existência de parâmetros legais para a disseminação de propaganda e comunicação no setor público. Além disso, deseja-se verificar princípios amplos para a construção de estratégias nesse segmento. Será possível verificar que governos não podem abusar da propaganda, mas também não podem se isentar de fazê-la. Encontrar equilíbrio entre esse mínimo e máximo é fundamental, e cabe ao gestor público observar tal fenômeno. Será compreendido, assim, o papel da Opinião Pública e das Relações Públicas nesse cenário. Você já parou para pensar na força que tais conceitos têm sobre as estratégias oficiais de comunicação? Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais35/142 Introdução Num regime democrático, ações de comunicação estão associadas à necessária percepção dos cidadãos acerca das conquistas em termos de políticas públicas atingidas pela sociedade e garantidas pelos governantes. Em linhas gerais, uma eleição nada mais é do que uma forma de o cidadão oferecer sua opinião sobre o trabalho de um determinado grupo que está no poder, o comparando com as propostas e análises de outros grupos que desejam tomar esse espaço, democraticamente, nas urnas. Esse é, em tese, o mundo ideal. O grupo que está no poder não pode abusar dos meios de comunicação, como se não existissem limites para ele afirmar à sociedade que está fazendo um bom trabalho. A despeito de tal questão, é comum que governos possuam aparatos complexos de comunicação, com boas estratégias. Pode-se afirmar que os governos que se preocupam em se comunicar com a sociedade variam suas ações em duas linhas gerais. A primeira está associada ao conceito de Relações Públicas, e a segunda está ligada à captação da Opinião Pública – essa é uma reflexão que apenas ajuda a orientar uma percepção sobre o tema, não que aqui exista grande rigor científico. No primeiro caso, o governo comunica aquilo que entende ser essencial, no segundo, costuma medir o que a sociedade deseja e pauta sua estratégia de propaganda em ações que têm por objetivo agradar e confortar. Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais36/142 Em ambos os casos existem regras gerais que limitam o uso de canais de comunicação. Importante será notar nessa aula que serão discutidas as tais regras gerais e se perceberá que muitas delas estão associadas às eleições. Ou seja: numa democracia, governantes têm limites legais explícitos para o uso de canais de comunicação com o objetivo de fortalecer o jogo democrático eleitoral. Ao mesmo tempo em que há limites, e isso é importante destacar, os governos têm a obrigação legal de se comunicarem. A demanda, nesse caso, é tão expressiva que existem os diários oficiais, jornais utilizados, em grande parte, para disseminar informações que legalmente precisam chegar à sociedade, ou pelo menos serem formalizadas. Assim, pode-se afirmar que, tratando-se de comunicação no setor público, o Brasil apresenta um piso e um teto para a formulação de ações dessa natureza. Para saber mais Importante salientar, nesse caso, que a lei 8.429/1992, que trata de sanções aplicáveis aos servidores públicos, observa, em seu artigo 11, que negar publicidade aos atos oficiais se enquadra em improbidade administrativa, ou seja, o princípio da transparência é absolutamente essencial. Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais37/142 1. Aspectos de ordem legal – princípios gerais A despeito de uma série de regras que poderiam ser aqui discutidas, parece bastante relevante que se observe com mais atenção a Constituição Federal. É nela que estão contidos os princípios gerais do fenômeno que se estuda aqui – a comunicação no setor público. O trecho apresentado a seguir, do artigo 37 da Constituição, é aquele que apresenta com maior clareza os princípios gerais desse debate. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. (Constituição Federal, 1988 – redação dada pela emenda constitucional 19 de 1998) Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais38/142 O artigo 37 da Constituição Federal de 1988 é o primeiro do capítulo VII, denominado Da Administração Pública. Ele oferece os princípios gerais da gestão e, certamente, será tratado de forma bastante aprofundada em outras disciplinas desse curso. Sua redação atual foi aprovada em 1998, dez anos depois de promulgada a Constituição, sob a emenda constitucional 19. Originalmente, incluía questões associadas às modalidades de contratação de servidores e adicionava órgãos fundacionais aos seus princípios. Destaca-se aqui, para os fins desse debate, duas características da administração pública no Brasil contidas no artigo citado: a impessoalidade e a publicidade. O primeiro termo (impessoalidade) guarda relação com um debate essencial para os fins da gestão pública. Ainda no século XIX, o pensador alemão Max Weber debruçou- se na tarefa de estabelecer aspectos gerais do funcionamento da máquina pública em estados democráticos, dominados por uma ordem racional legal. Entendia que os vícios personalistas dos regimes absolutos deveriam ceder espaço à racionalização das normas universais da administração pública que nascia, ainda tímida. Além disso, percebia a necessidade de a máquina pública se fazer presente no cotidiano dos cidadãos, estendendo seus tentáculos. Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais39/142 Para saber mais Weber afirmava existir três tipos puros de dominação legítima na sociedade. Por dominaçãoentenda-se a probabilidade de encontrar obediência. O primeiro tipo era o tradicional. Obedece-se por uma questão de tradição, ou seja, obedece-se um líder porque “sempre foi assim”. Os reis ilustram bem esse tipo. O segundo tipo é o carismático. Obedece-se alguém em virtude de um dom extraordinário, que pode estar associado à força, espiritualidade ou capacidade de encantamento por meio do discurso. A demagogia, nesse caso, é destacada pelo autor como uma forma mais moderna desse tipo de dominação. Por fim, a dominação racional legal, representada pela força da norma instituída, da regra que orienta e que deve ser percebida acima das pessoas. Esse terceiro caso aproxima-se mais dos regimes que se pretendem democráticos. Note, no entanto, que Weber fala sobre o conceito de tipos ideais, ou seja, parâmetros puros que na prática se fundem, o que representa dizer que, apesar de a norma imperar em regimes modernos, o carisma também tem um peso expressivo no momento do eleitor promover sua escolha política, por exemplo. Alunos de administração pública devem aprofundar seus estudos sobre as ideias de Weber, tido como um dos principais teóricos do desenho do Estado burocrático. Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais40/142 No Brasil, existe uma crítica expressiva ao caráter personalista do Estado burocrático. Edson Nunes, por exemplo, fala sobre as quatro gramáticas políticas do Brasil – conceitos utilizados para expor características do sistema público burocrático. O autor compreende que existe um desafio imenso representado pelo arrefecimento do caráter clientelista das relações e a implementação do que chamou de universalismo de procedimentos. Ou seja: a troca de favores, ou trocas generalizadas, deve ceder espaço ao sentimento de igualdade perante a lei e aos serviços públicos de maneira geral. O desafio, nesse caso, representa vencer uma barreira cultural imensa, extremamente bem descrita por autores que pensaram o Brasil, sobretudo, ao longo do século XX. Um deles, Sergio Buarque de Holanda, escreveu em sua obra Raízes do Brasil, que na visão de um estrangeiro é impossível fazer “bons negócios” com um brasileiro sem antes estabelecer com ele uma boa amizade. O problema maior de tal questão está no fato de existir uma dificuldade imensa para separar o público do privado, desafio visto como fundamental pela teoria de Max Weber sobre o Estado racional legal. Com base nessa reflexão é possível entender porque se diz, até hoje, que o brasileiro “vota em pessoas” e não em partidos e instituições mais formais. Confia em políticos, e não em planos estabelecidos por grupos ideologicamente Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais41/142 organizados. Tal fenômeno explica um dos grandes desafios associados ao princípio constitucional da impessoalidade. Se na política espera-se por um super-herói, por um salvador da pátria, qual a chance de se acreditar que a administração pública deva ser impessoal, a começar pelos líderes que são escolhidos por meio do voto? O segundo termo (a publicidade), guarda relação direta com a necessidade de os governantes informarem a sociedade. Existem obrigações legais acerca de tais conteúdos. Por exemplo, grandes compras do setor público, orientadas pela lei das licitações, precisam ser anunciadas em jornais de grande circulação, por exemplo. Toda contratação e exoneração de servidor público precisa constar no Diário Oficial. Além disso, a implantação de políticas públicas deve ser destacada, bem como a realização de obras e uma série de outras realizações protagonizadas pelo poder público. Anunciar políticas é ação educativa, pois aproxima o cidadão da informação necessária ao exercício pleno de sua cidadania, representada aqui pelo gozo consciente de seus direitos. Dois exemplos negativos podem ilustrar bem esta questão. Numa cidade da Grande São Paulo, a Câmara dos Vereadores aprovou projeto que obrigava a prefeitura a custear as despesas funerárias de membros das famílias que constassem do cadastro de assistência social do município. Assim, após o falecimento de um ente, a família Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais42/142 inscrita no cadastro deveria procurar o serviço funerário municipal e solicitar as ações necessárias. O grande problema é que tal direito não era de conhecimento geral da sociedade. Quem se beneficiou efetivamente da decisão foram os próprios vereadores. Como? Simples. Toda vez que um cidadão morria na cidade, um funcionário do serviço funerário cruzava seus dados com o cadastro de assistência social. Quando o resultado da pesquisa era positivo, entrava em contato com o vereador e lhe transmitia os dados daquela família. O parlamentar solicitava a um assessor que contatasse a família e colocava o gabinete à disposição, afirmando que as despesas funerárias correriam por conta do vereador, que não seria capaz de faltar em um momento tão difícil. Nas eleições, obviamente, a retribuição era solicitada na forma de voto. Em outra cidade da Grande São Paulo, a Secretaria de Assistência Social ficava localizada no mesmo prédio da Câmara Municipal. Os cidadãos em situação de vulnerabilidade social que procuravam o órgão do Poder Executivo para solicitar alguns tipos de auxílio recebiam como resposta que os responsáveis pela distribuição de benefícios, como cestas básicas, eram os vereadores. Assim, não existia respeito a critérios técnicos, estabelecidos por assistentes sociais, por exemplo. O auxílio da prefeitura às famílias carentes era absolutamente político. Cada vereador recebia, no começo de cada mês, Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais43/142 uma cota de benefícios dos mais diversos, e os distribuíam aos cidadãos em troca de um cadastro que seria utilizado ao longo das eleições. Nota-se, nos dois exemplos, o quanto a má informação é capaz de transformar os direitos dos cidadãos em favores e benesses pessoais. Personificar políticas públicas e exigir favores em troca da efetivação de direitos foge ao que Edson Nunes chamou de universalismo de procedimentos e ilustra, de forma muito bem acabada, o que denominou de clientelismo. Compreendeu a importância da comunicação governamental na vida das pessoas? E a necessidade do caráter impessoal? Deve-se ter em mente que um bom governo, realizador e garantidor, é também aquele que reforça a ideia de que o cidadão conquistou direitos, e não a tese de que é um grande realizador de bondades. Mas como se comunicar com a sociedade? Quais as estratégias que devem ser utilizadas? 2. Aspectos Gerais da Opinião Pública e das Relações Públicas Um governante deve ouvir a sociedade antes de se comunicar com ela? E ao se comunicar, deve dizer aquilo que o cidadão quer ouvir ou se sente confortável em receber? O conceito de opinião pública pode ajudar a entender um pouco o estabelecimento de estratégias de marketing e comunicação no setor público. Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais44/142 Silvia Cervellini e Rubens Figueiredo discutem o conceito de forma bastante simples em um livro da coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Iniciam sua obra afirmando ser difícil assumir uma única definição para algo que é visto de forma expressivamente ampla pela sociedade. Por meio da leitura, no entanto, pode- se concluir que os autores oferecem a seguinte definição acerca do termo: opinião pública é o conjunto de múltiplas formas de expressão, de modos de pensar, de determinados grupos sociais ou da sociedade como um todo – que pode ser delimitada em cidades, estados ou países, por exemplo – a respeito dos mais diferentes assuntos de interesse comum em um dado momento, sendo as pesquisas a forma aparentemente mais eficiente demedir esse fenômeno (a opinião). As mais diferentes teorias acerca desse termo buscam compreender o que é capaz de formar a opinião pública. Destaque para o fato de que opinião representa algo entre conhecer e ignorar, ou seja, ser favorável a determinada ideia ou projeto não representa dizer que há profundo conhecimento acerca de determinado assunto. Para tanto, a opinião será ofertada de forma mais consistente quanto maior for a provocação referente a um determinado tema. Por exemplo: quando a TV aborda um assunto de forma insistente, é maior a probabilidade de a sociedade passar a pensar sobre aquele determinado Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais45/142 assunto e criar uma opinião mais clara sobre ele. No caso de políticas públicas, por exemplo, quando se responde a uma pesquisa e se diz que concorda com a construção de um hospital em determinado bairro, a imensa maioria dos entrevistados não tem condições técnicas de avaliar o que efetivamente representa tal decisão. E tal opinião será mais consistente se o assunto relacionado ao tema estiver na pauta da sociedade. Realizar uma pesquisa sobre a pena de morte em um momento de pouca comoção em torno do assunto certamente gerará resultado diferente de perguntar sobre ele em meio a um crime que chocou a sociedade. Assim, quanto mais provocada a sociedade sobre determinada temática, maior a chance de ela ofertar uma opinião condizente com um período maior de reflexão sobre aquele assunto. Com base em tais aspectos, é importante reforçar o quanto a opinião pública tem impactado nas ações governamentais. Isso representa dizer que diversas pesquisas são realizadas, por empresas contratadas pelos governos, para que meçam o quanto a população está satisfeita com determinados setores da administração e o quanto se desejam mudanças. Um exemplo prático pode ajudar a compreender melhor esse fenômeno. Numa cidade de porte médio do interior de São Paulo, o prefeito solicitou a contratação de uma empresa que realizasse rodadas constantes de pesquisas Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais46/142 sobre políticas na cidade, inclusive com amostras representativas de cidadãos ouvidos por bairros. Semestralmente, os resultados eram apresentados por técnicos da empresa contratada em reuniões com todo o secretariado. O comentário marcante do prefeito é emblemático: “essa pesquisa é meu melhor secretário. Não mente para mim e nem é enganada por técnicos. Descreve de forma clara o que o cidadão pensa e deseja, nos oferecendo a oportunidade de corrigir erros em nossa administração”. Nesse caso, é possível compreender que a opinião pública, medida por meio de pesquisas, está sendo utilizada para aprimorar a implementação de políticas públicas. Em relação às economias que podem ser feitas, pode- se dizer que ações dessa natureza tornam mais eficientes os gastos públicos, uma vez que orientam os investimentos de acordo com o desejo da sociedade. Em sua obra Marketing no Setor Público: um guia para um desempenho mais eficaz, Philip Kotler e Nancy Lee mostram que técnicas de marketing aplicadas aos serviços públicos de uma maneira geral podem representar ganhos expressivos em termos de eficácia – como o próprio subtítulo sugere. É nesse sentido que se pode afirmar que a simples aferição da opinião pública pode ser determinante para o sucesso de um bom governo. Nesse caso, não apenas no que diz respeito ao que está sendo de fato realizado, mas também no que tange aquilo que está sendo dito. Governantes Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais47/142 costumam desejar que suas propagandas institucionais mostrem verdades compreendidas como tal pelos cidadãos. Mais um exemplo prático para ilustrar a reflexão. Num município da Grande São Paulo, a prefeitura se preparava para completar 50 anos da emancipação da cidade e, ao mesmo tempo, quatro anos de seu governo. Para tanto, solicitou à agência de propaganda oficial uma campanha com quatro filmes destacando aspectos gerais das políticas implementadas. O ritmo das peças dava ênfase aos bons números acumulados pela gestão em quatro áreas: educação, saúde, transporte e emprego. Nos três primeiros casos, quando os vídeos foram mostrados, prefeito e secretariado mostraram-se bastante satisfeitos. Mas o filme sobre a geração de empregos foi visto com desconfiança. Um dos secretários sugeriu que, por mais que a chegada de novas empresas na cidade tenha gerado a abertura de vagas, muitos cidadãos ainda precisavam enfrentar longas horas de trânsito para chegar à capital paulista e o índice de desemprego entre os jovens ainda era considerável. Assim, a verdade não soaria como tal aos olhos dos espectadores, o que poderia servir de argumentos para a crítica da oposição e aguçamento negativo da própria opinião pública. O vídeo sobre emprego não compôs a campanha, ou seja, não foi ao ar. Tais captações são mais emblemáticas em eleições, ou seja, ao longo dos períodos de estabelecimento das estratégias eleitorais Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais48/142 não é incomum que candidatos, partidos e grupos políticos contratem empresas de pesquisa para que realizem levantamentos acerca dos desejos da sociedade. Tais esperanças e demandas são transformadas em planos de governo, e não à toa há a sensação de que muitas vezes os principais adversários prometem ações muito semelhantes. Sobre aspectos eleitorais, será discutido na última aula. A despeito da relevância dos sentimentos da sociedade e da necessidade de os governantes buscarem atender tais demandas por meio de políticas públicas orientadas por ferramentas de marketing, é relevante destacar que a relação entre governante e cidadão está longe de representar apenas a implantação daquilo que a sociedade deseja – de forma organizada (por meio de movimentos) ou não (por simples captação de resultados de pesquisas). Os governantes têm planos, desejos e visões acerca de suas comunidades, e muitas vezes oferecem a elas aquilo que entendem ser necessário. O desafio, nesse caso, torna-se uma questão de Relações Públicas, aqui entendida sob a definição de Roberto Porto Simões: uma atividade de esforço deliberado, planejado e contínuo com vistas ao estabelecimento e manutenção da compreensão mútua entre uma instituição – que poder ser pública ou privada – e os grupos de pessoas a serem atingidas direta ou indiretamente. Assim sendo, discute-se aqui especificamente um trabalho de comunicação estratégica, Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais49/142 que pode levar, no caso do setor público, o cidadão a acreditar na importância de uma determinada ação pública. Assim, uma boa estratégia de Relações Públicas representa um esforço deliberado e intencional, mediado por planejamento. Diante de dois conceitos essenciais, pode-se afirmar que os governos agem no sentido de se comunicarem com a sociedade. Existem, no entanto, aqueles gestores que ainda resistem a ações dessa natureza: “a melhor propaganda é o meu trabalho”, afirmam. Assim, não é incomum ouvir de políticos, por exemplo, que dinheiro gasto com esse tipo de estratégia é recurso desperdiçado. É importante lembrar, no entanto, do exemplo oferecido na primeira aula, daquela candidata da oposição que nunca teria criticado a prefeita se tivesse conhecimento das políticas implantadas no governo que chegava ao fim. A comunicação é uma ferramenta essencial ao pleno desenvolvimento de ações na área pública. 3. Conclusão: Comunicar com Base nas Leis e nos Debates Atuais Nessa aula você viu que existem conceitos fundamentais para que se possa compreender o sentido da comunicação no setor público, bem como o estabelecimento de uma estratégia de marketing.A despeito dos princípios que amparam para avançar no objetivo de Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais50/142 utilizar tais canais como disseminadores de direitos e fortalecedores dos princípios gerais da cidadania, deve-se estar atento aos princípios legais que regulam esse setor. Abusos, no entanto, são constantemente cometidos e costumam custar caro aos seus responsáveis – que podem ser punidos com multas ou até mesmo impugnação de candidaturas em anos eleitorais ou perdas de mandatos. Além do artigo 37 da Constituição, destacado no início deste texto, é importante salientar algumas características legais adicionais que auxiliam a compreender os limites dessa propaganda. Isso porque, como já foi dito, governantes tendem a abusar da propaganda e tal ação é utilizada pela oposição para acusá-los de afronta às normas. Assim, na Lei Eleitoral (9.504/1997) há um artigo (73) destinado às condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais, que guarda relação com as questões de propaganda governamental. Destacam-se nesse caso: Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais51/142 [...] VI - nos três meses que antecedem o pleito: [...] b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral; c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo; Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais52/142 VII - realizar, em ano de eleição, antes do prazo fixado no inciso anterior, despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos nos três últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição. [...] § 5º Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo do disposto no § 4o, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009) (Lei 9.504/97, Lei Eleitoral) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm#art3 Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais53/142 Note que nos três meses anteriores às eleições não é possível a realização de propaganda governamental – a exceção é feita àqueles produtos e serviços que têm concorrência no mercado, como por exemplo, dos bancos públicos. Por que é preciso estabelecer leis dessa natureza no Brasil? Certamente porque abusos foram verificados e levaram ao estabelecimento de parâmetros para as estratégias de propaganda governamental. As limitações, assim, atingiram inclusive ações associadas a pronunciamentos emergenciais realizados pelos governantes. Nesses casos, cabe autorização da Justiça Eleitoral. Deveria existir um limite geral, não apenas eleitoral, para as propagandas governamentais? O tema é polêmico e tem sido tratado pelo Congresso Nacional. O Projeto de Lei 4.167/2012 do deputado federal Ruy Carneiro (PSDB-PB) tem como objetivo impedir que o governo estabeleça, livremente, a pauta daquilo que leva à sociedade sob o formato de propaganda. Em sua justificativa o parlamentar alega que seu intuito maior é regular com maior clareza os princípios do artigo Link Veja a lei completa: República Federativa do Brasil. Lei 9.504/1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9504.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais54/142 37 da Constituição Federal. Além disso, oferece “diretrizes e vedações atinentes à realização de publicidade” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2012), restringindo “o dispêndio de recursos públicos com publicidade, obrigando que pelo menos 20% deverão ser reservados a campanhas educativas” (idem). O desafio, nesse caso, é verificar, em caso de aprovação do projeto: o que a justiça entenderá por “campanha educativa”? O governo, obrigado a empreender um quinto dos recursos nesse tipo de ação, não aumentará o montante atualmente empregado para suprir tal aspecto de caráter compulsório? Voltando ao debate sobre o artigo 73 da lei 9.504/1997, também chama a atenção o fato de que as despesas com publicidade oficial não podem exceder a média dos gastos dos três últimos anos e o montante do último ano. Nesse caso, governos passaram a se planejar com antecedência, ou seja, ao invés de despejar recursos Link Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 4.167/2012 – autoria do Deputado Federal Ruy Carneiro. Disponível em: <http:// www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=550814> Acesso em: 24 jul. 2014. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=550814 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=550814 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=550814 Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais55/142 em propaganda apenas em seu último ano, passaram a reservar recursos para essas atividades desde o primeiro ano de governo. Se esse tipo de lei foi criada, mais uma vez verifica-se que possivelmente houve abuso. Nesse caso, no entanto, deve-se considerar que não existe a previsão de algo simples e que pode ser visto como danoso. Se em ano eleitoral um governo só pode gastar o equivalente a média dos anos anteriores e não mais do que foi investido no último ano, existe a possibilidade de concentrar tais dispêndios em momentos estratégicos. Por exemplo: um determinado prefeito gastou R$ 1 milhão com propaganda em média e investe igual valor no ano anterior das eleições. Tais ações se dissolveram ao longo de 36 meses de forma relativamente equilibrada. Em ano eleitoral, ele poderá investir esse recurso, mas nos três meses anteriores à eleição, tal ação é vedada. Assim, dos 12 meses que precisou para gastar R$ 1 milhão no ano anterior, terá agora apenas nove para fazê-lo em ano eleitoral. Além disso, se o gestor imagina associar a propaganda governamental à eleitoral, não verá motivos para gastos em outubro (se a eleição não tiver segundo turno), novembro e dezembro. Assim, poderá concentrar em seis meses o equivalente a um ano de gastos com publicidade. Se for considerado que janeiro e fevereiro são meses de férias, é possível que os gastos estejam ainda mais concentrados, em quatro meses, Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais56/142 por exemplo. Tal ação seria capaz de beneficiar um grupo eleitoralmente por meio da superexposição de seus atos nos meios de comunicação? Você já notou se em anos eleitorais as propagandas ficam concentradas em meses que antecedem o prazo de proibição? Preste atenção em tal situação. Para saber mais Em 2011, nos cinco primeiros meses do ano o governo federal havia gasto R$ 141 milhões com publicidade. Em igual período de 2010, a despesa foi 113% maior, atingindo R$ 300 milhões, de acordo com dados oficiais apresentados pelo site Contas Abertas e reforçando a tese de concentração de dispêndios próximosdo limite legal associado às eleições. Disponível em: <www.contasabertas.com.br>. Acesso em: 22 ago. 2014. http://www.contasabertas.com.br Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais57/142 Glossário Vulnerabilidade: a palavra procura dar significado à condição ou situação de risco em que uma pessoa se encontra. Define também um conjunto de situações mais ou menos problemáticas, que podem situar uma pessoa ou um grupo social que se encontra em uma situação de carência. Agentes públicos: pode ser compreendido como toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração Pública Indireta, ou seja, são agentes políticos que se encontram como titulares de cargos estruturais à organização política do País. Impugnação: deve ser compreendido como a ação ou efeito de impugnar, ou seja, oposição a algo. Nas relações jurídicas, seria o conjunto de razões e/ou intenções com as quais se impugna algo ou alguém. Questão reflexão ? para 58/142 Olhe para a atual política brasileira e escreva uma resenha crítica que considere o caráter pessoal que alguns políticos imprimem ao seu jeito de governar. Deixe de lado qualquer sentimento de naturalidade e trabalhe distante de suas admirações pessoais. Sendo assim, construa um texto criticando posturas e utilizando exemplos práticos do quanto a sociedade aceita o caráter nada impessoal de grande parte das lideranças políticas, sobretudo quando estas estão no poder. Considere que os governos devem gastar com publicidade, mas, ao mesmo tempo, alguns deles são taxados de exagerar nesses gastos. Faça uma reflexão sob o formato de uma resenha crítica. 59/142 Considerações Finais (1/2) Existem limites legais para a comunicação do setor público com a sociedade. Nesse caso, princípios constitucionais e leis eleitorais são as regras mais relevantes. Deve-se destacar que não se trata de limitar a propaganda, mas também de obrigar a sua existência, a isso se dá o nome de teto e piso para a ação governamental. As estratégias de comunicação podem ser pautadas por dois princípios fundamentais associados à lógica dos conceitos de Opinião Pública e Relações Públicas. A combinação de tais conceitos e a realização de pesquisas capazes de ofertar uma visão acerca das percepções da sociedade são essenciais à compreensão desse conteúdo. 60/142 Ao longo do texto, foram citados exemplos reais de ocorrências em cidades paulistas. Eles certamente expressam algo maior, ou seja, uma cultura política brasileira. Concentre-se em verificar se os conceitos trabalhados aqui são vistos e conhecidos na realidade em que você vive ou conhece melhor. Considerações Finais (2/2) Unidade 2 • Estratégias de Comunicação no Setor Público e seus Aspectos Legais61/142 Referências HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia da Letras, 1997. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei 4.167/2012 – autoria do Deputado Federal Ruy Carneiro. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=550814> Acesso em: 24 jul. 2014. CERVELLINI, Silvia; FIGUEIREDO, Rubens. O que é opinião pública? São Paulo: Editora Brasiliense, Coleção Primeiros Passos (número 305), 1996. KOTLER, Philip e LEE, Nancy. Marketing no setor público: um guia para um desempenho mais eficaz. Porto Alegre: Bookman e Wharnton School Publishing, 2007. NUNES, Edson. A gramática política do Brasil: clientelismo, corporativismo e insulamento burocrático. Rio de Janeiro: Garamond, 2010. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Senado Federal, 1988. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei 9.504/1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l9504.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014. SIMÕES. Roberto Porto. Relações Públicas: uma atividade. Disponível em: <http://www.portal-rp. com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/teoriaseconceitos/0026.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014. WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: Editora UnB, 2009. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=550814 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=550814 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/teoriaseconceitos/0026.htm http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/teoriaseconceitos/0026.htm 62/142 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Desafios Legais da Comunicação na CF 88 - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ fe49f6e7b3f892b6028a8d2636fd3651>. Aula 2 - Tema: Para Além da CF 88 - A Lei Eleitoral - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ ff20d92c1ee976f4b9a39ac5065eade9>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/fe49f6e7b3f892b6028a8d2636fd3651 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/fe49f6e7b3f892b6028a8d2636fd3651 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/fe49f6e7b3f892b6028a8d2636fd3651 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ff20d92c1ee976f4b9a39ac5065eade9 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ff20d92c1ee976f4b9a39ac5065eade9 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ff20d92c1ee976f4b9a39ac5065eade9 63/142 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Eleições e Comunicação 1 - Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ e3aa8dec5e9155551dbbee590006f543>. Aula 2 - Tema: Eleições e Comunicação 2 - Bloco IV Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ b8f245223f4b16832e64b5776055df8e>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e3aa8dec5e9155551dbbee590006f543 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e3aa8dec5e9155551dbbee590006f543 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e3aa8dec5e9155551dbbee590006f543 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b8f245223f4b16832e64b5776055df8e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b8f245223f4b16832e64b5776055df8e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b8f245223f4b16832e64b5776055df8e 64/142 1. De acordo com o texto, em linhas gerais, no que diz respeito à comuni- cação no setor público, em sociedade democráticas é possível afirmar que: a) O fato de existir oposição deveria impedir a existência de comunicação oficial, pois torna a luta pelo poder desigual. b) Deve-se impor limites legais para que os governos comuniquem suas ações, tendo em vista a necessidade de equilibrar as forças no jogo democrático. c) Deve-se dar liberdade total para que governos se comuniquem com a sociedade, pois isso representa liberdade de expressão. d) Deve-se proibir o uso de recursos públicos para a comunicação, sendo que ações governamentais devem ser patrocinadas pela iniciativa privada, sem ônus aos cofres. e) Os governos devem utilizar apenas os canais oficiais (de sua posse) para comunicar-se. Questão 1 65/142 2. Tendo em vista parâmetros constitucionais ligados ao artigo 37 da CF 1988, aponte abaixo aquele princípio que melhor se associa com a temática dessa disciplina, de acordo com o texto: a) Publicidade. b) Legalidade. c) Eficiência. d) Moralidade. e) Impessoalidade. Questão 2 66/142 3. Uma barreira para a questão da impessoalidade na forma de os governos se comunicarem no Brasil está associada à cultura.Aponte a ideia que não reforça um defeito da cultura: a) Edson Nunes aponta a lógica clientelista do povo brasileiro. b) Sergio Buarque de Holanda sugere que sem boa amizade não existe bom negócio no Brasil. c) A opinião pública indica que no Brasil pessoas são maiores que os partidos, e se vota nelas. d) Edson Nunes indica que se vive no país das trocas generalizadas. e) No Brasil separa-se bem, e como poucos, o público do privado. Questão 3 67/142 4. De acordo com o texto, a discussão sobre o conceito de opinião pública tem papel fundamental na lógica associada à comunicação dos governos com a sociedade por que: a) Diz a ela exatamente aquilo que os governantes querem, a despeito do que pensa o povo. b) Governantes incorporam o papel de definidores únicos da agenda de notícias e impactam a opinião. c) O poder público ouve a sociedade por meio de pesquisas e diz parte do que ela quer ouvir. d) Nos regimes democráticos a opinião pública é manipulada exclusivamente pelos políticos. e) Promove pesquisa e utiliza tais resultados apenas, e tão somente apenas, nas eleições. Questão 4 68/142 5. A despeito da lógica associada à opinião pública, pode-se dizer que ou- tro importante conceito associado à capacidade de o governo transmitir aquilo que deseja à sociedade é o de: a) Pesquisas quantitativas. b) Democracia representativa moderna (garantia de sufrágio universal). c) Relações públicas (e suas estratégias). d) Liberdade de imprensa (e gestão de crise). e) Liberdade de expressão. Questão 5 69/142 Gabarito 1. Resposta: B. Regras precisam existir para impor limites às estratégias de comunicação dos governos. Numa democracia é esperado que elas sejam construídas com o objetivo de equilibrar o volume e a forma de os governantes comunicarem suas ações. Tal questão é essencial ao equilíbrio entre forças democráticas. 2. Resposta: A. Apesar de todos eles guardarem relação com os aspectos gerais da gestão pública, destaca-se no texto e nas aulas o caráter associado à publicidade. O parágrafo primeiro desse artigo trata especificamente da publicidade e está associado ao fato de os governantes terem a obrigação de comunicar-se com a sociedade de uma maneira geral. 3. Resposta: E. O ideal nesse caso seria conseguir separar o público do privado, como mostra a sentença. No Brasil, no entanto, não se faz isso. A alternativa E enfraquece as críticas anteriores e não reforça críticas culturais, pelo contrário, de forma equivocada fala a respeito de algo que seria muito bem-vindo no Brasil. 70/142 4. Resposta: C. Estratégias de comunicação no setor público se pautam, em parte, no que a opinião pública manifesta acerca dos governos. Pesquisas, muitas vezes, são utilizadas como termômetro da opinião pública e algumas peças publicitárias são construídas para reforçar aquilo que os cidadãos pensam sobre determinados aspectos positivos, por exemplo, de um governante. 5. Resposta: C. Relações públicas e toda estratégia formulada por governantes para comunicar aquilo que desejam realizar à sociedade. O próprio conceito traz isso em sua definição Gabarito elementar, que guarda relação direta com estratégias de comunicação. No caso do setor público, tal relação pode se dar entre governantes, e seus desejos de transmissão de valores, e governados – alvo de políticas públicas e das ações de comunicação. 71/142 Unidade 3 Ações de Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade Objetivos 1. O desafio da comunicação é um universo complexo. Nesse encontro busca- se definir alguns parâmetros gerais para o estabelecimento de estratégias de comunicação. Deixa-se de lado desafios como a comunicação interna, e parte-se para a interação entre poder público e sociedade. Alguns exemplos práticos são apresentados e avaliam-se alguns princípios e números que dimensionam o Brasil em perspectiva comparada e mostram como as cidades e estados se desenvolvem nesse segmento. Trata-se, inclusive, do volume de recursos investidos pelo país na área. Além disso, reflexões sobre instrumentos como ouvidorias e ações virtuais são enfatizadas. O atendimento ao cidadão é visto de forma mais atenta e cuidadosa. Seria possível compreender, efetivamente, a imensidão do desafio de comunicar? Unidade 3 • Ações de Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade72/142 Introdução As temáticas tratadas nessa disciplina envolvem uma complexidade e um universo imenso. Não são poucos os temas que podem ser abordados quando o assunto é a comunicação e a responsabilidade do setor público sobre tais aspectos em seu contato com a sociedade. Um exemplo que não será muito explorado é a demanda por um sistema eficiente de comunicação interna que permita, por exemplo, que todos os servidores da área da saúde ou da educação falem a mesma língua no que diz respeito às estratégias de programas de suas respectivas áreas. Além da inteligência necessária para tal atividade, os recursos para que se tenha uma ação eficaz não é pequeno. Pense numa rede como a de São Paulo- SP, composta em 2012 por mais de duas mil escolas de ensino infantil e cerca de 550 centros de ensino fundamental, totalizando o atendimento a quase um milhão de alunos por aproximadamente 60 mil educadores. Qual o tamanho do esforço para que um governo consiga transmitir uma orientação para todos esses colaboradores? Pense também em uma cidade como Altamira-PA, com seus 160 mil quilômetros quadrados, território maior que a Grécia. Como comunicar todas as organizações públicas de saúde sobre uma nova estratégia? Percebem a complexidade da comunicação que se poderia chamar de interna? Ou seja, voltada a disseminar entre os servidores o discurso oficial, ou seja, as ações a serem seguidas? Unidade 3 • Ações de Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade73/142 Lembre-se que o Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados e o governo federal tem organismos espalhados por todo o país. O objetivo dessa disciplina, no entanto, não é se envolver com todo o universo de ações de comunicação por uma questão simples: falta tempo e espaço. Será dada atenção à capacidade e às responsabilidades dos governos, nas três esferas – União, estados e municípios – e nos três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – dialogarem com a sociedade. Destaque- se também que esse texto não tem como objetivo se transformar em um manual de comunicação governamental, apenas levanta questões importantes e reflexões sobre o tema maior. Nessa aula serão discutidos alguns conceitos fundamentais para o desenvolvimento de tais ações. O intuito é promover um olhar sobre formas adequadas de aproximar ações, gestores e cidadãos com base em princípios fundamentais da administração pública. 1. Princípios Gerais para a Co- municação Dentre os princípios essenciais que justificam o estabelecimento de estratégias de comunicação entre os governos e as sociedades num regime democrático, é possível destacar seis: transparência, aproximação, prestação de contas, prestação de serviços, efetivação de direitos e bem estar. Unidade 3 • Ações de Marketing Público, Atendimento e Comunicação com a Sociedade74/142 No primeiro caso se está diante de um pressuposto básico da democracia. O poder público deve ter a visibilidade de seus atos como ponto central de seu trabalho. Sociedades transparentes são mais democráticas. E parte dessa transparência é medida por meio da disponibilidade de informações prestadas à sociedade. Em 2010, a ONG norte-americana International Budget Partnership classificou o Brasil como o nono país mais transparente do mundo no que diz respeito a informações acerca do orçamento público nacional – o segundo do continente, atrás apenas do Chile. O Brasil está numa classe de países, com 71 pontos, denominada significant. Na classe superior estão, por ordem de classificação: África do Sul, Nova Zelândia,
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