Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 1 PROPRIEDADE INDUSTRIAL – Lei 9.279/96 SUMÁRIO: 1. Introdução 2. Finalidade 3. Bens protegidos 4. Proteção 4.1. Prazo de Proteção 5. Análise detalhada dos bens protegidos 5.1. Invenção 5.2. Modelo de utilidade 5.3. Desenho industrial 5.4. Marca 6. Aspectos processuais 6.1. Prazos Prescricionais 7. Prioridade 8. Formas de extinção da propriedade industrial 9. Ação de nulidade (art. 57) 10. Marca x nome empresarial 1. Introdução A propriedade industrial é espécie do gênero propriedade intelectual. A propriedade intelectual/imaterial caracteriza-‐se pela proteção de bens imateriais, que resultam de atividade criativa do gênio humano e não de forças físicas, estando subdividida em: Direito autoral Propriedade industrial Protege a obra em si. Protege uma técnica. Relaciona-‐se com a propriedade literária, científica ou artística e de programas de computador, sendo matéria de direito civil. Estudada pelo direito empresarial. Obs: Dispõe o art. 1º da Convenção de Paris que “a propriedade industrial entende-‐se na mais ampla acepção e aplica-‐se não só à indústria e ao comércio propriamente ditos, mas também às indústrias agrícolas e extrativas e a todos os produtos manufaturados ou naturais”. O autor da obra tem o direito de explorar exclusivamente sua obra, mesmo que não tenha efetuado qualquer registro, bastando comprovar ser o autor. Garante a exploração, com exclusividade, do objeto protegido àquele que requerer em primeiro lugar referido privilégio, pouco importando quem seja o autor da invenção. O direito decorre da criação, sendo o eventual registro meramente declaratório. Decorre de ato administrativo de natureza constitutiva. 2. Finalidade A Lei 9.279/96 tem por finalidade maior a de garantir a exclusividade de uso de determinados bens, a exemplo da invenção, da marca etc. O texto da LPI é obediente aos preceitos e acordo internacional firmado há muito tempo pelo Brasil, a Convenção da União de Paris. O Brasil é, pois, um país unionista. Sua função social consiste no incentivo à pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Os caminhos para essa proteção, utilizados por aquele que possui a exclusividade de uso sobre determinado bem, são: i. Produção própria ou; DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 2 ii. Licença de uso para terceiro interessado ! A remuneração decorrente da licença de uso de bens da propriedade industrial se chama royalties. 3. Bens protegidos Questão muito cobrada em concursos é a seguinte: quais são os bens protegidos pela Lei de Propriedade Industrial? Para responder isso, lembrar a seguinte frase: “Ih, me dei mal!”. " I – Invenção " M – Modelo de utilidade " D – Desenho industrial " M – Marca A própria LPI, ao classificar tais bens, diz que estes são MÓVEIS (art. 5º). Além da proteção à invenção, modelo, desenho industrial e marca, a Lei de Propriedade Industrial também cuida de dois outros assuntos (art. 2º): " Repressão à falsa indicação geográfica " Repressão à concorrência desleal MUITA ATENÇÃO: Programa de computador é matéria de direito autoral, e não de propriedade industrial. Assim, o programa de computador NÃO é protegido por esta lei. 4. Proteção Para que a proteção das propriedades industriais se efetivem, é necessário: Propriedade Industrial O que é necessário para a sua exclusividade INVENÇÃO PATENTE MODELO DE UTILIDADE DESENHO INDUSTRIAL REGISTRO® MARCA Tanto a patente quanto o registro são obtidos junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é uma autarquia federal com sede no Rio de Janeiro. As ações contra o INPI são de competência da JF, por se tratar de autarquia federal, e devem ser ajuizadas na seção judiciária do Rio de Janeiro, local da sede do instituto. No entanto, havendo pluralidade de réus, é permitido ao autor ajuizar a ação no foro de domicílio do outro réu, se assim preferir, nos termos do art. 94, § 4º do CPC (STJ). 4.1. Prazo de Proteção a) Invenção ! É protegida pela patente, por um prazo de 20 anos (a partir do depósito). b) Modelo ! É protegido pela patente, por um prazo de 15 anos (depósito). c) Desenho industrial ! É protegido pelo registro, por um prazo de 10 anos (depósito). d) Marca ! É protegida pelo registro, por um prazo de 10 anos (a partir da concessão). DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 3 Espécie de Propriedade Industrial Exigência para a proteção Prazo de proteção Invenção Patente 20 anos (do depósito) Modelo Patente 15 anos (do depósito) Desenho industrial Registro 10 anos (do depósito) Marcar Registro 10 anos (da concessão)ATENTE: O prazo da marca conta-‐se da concessão. Nos demais (invenção, modelo e desenho industrial), o prazo conta-‐se da data do depósito. Costuma-‐se perguntar em concurso quais prazos podem ser prorrogados. Veja: i. PATENTE (invenção e modelo) ! IMprorrogável: passado o prazo da patente, a invenção/modelo cai em domínio público. É o que acontece, p. ex., com o remédio genérico. ii. REGISTRO (desenho industrial e marca) ! É prorrogável, nos seguintes termos: o Desenho industrial: pode ser prorrogado por ATÉ 3 VEZES, cada prorrogação com prazo de 5 ANOS. Ou seja: o registro industrial só pode ser prorrogado por, no máximo, 15 anos. Ao final desse prazo, o desenho também cai em domínio público. o Marca1: não possui limite de prorrogação. NÃO HÁ. A prorrogação se dá de 10 EM 10 ANOS, sem limite. Invenção Modelo de utilidade Desenho industrial Marca Patente (INPI) Patente (INPI) Registro (INPI) Registro (INPI) Prazo: 20 anos, contados da data do depósito. Prazo: 15 anos, contados da data do depósito. Prazo: 10 anos, contados da data do depósito. Prazo: 10 anos, contados da data da concessão. Improrrogável Improrrogável Prorrogável em até 3 vezes, cada prorrogação c/ prazo máximo de 5 anos. Não possui limite de prorrogação (tendo, cada uma, 10 ANOS). 5. Análise detalhada dos bens protegidos 5.1. Invenção (muito cobrado em provas de concurso) I. Conceito Não existe um conceito de invenção. Nem a lei nem a doutrina conceituam a invenção. Mas pode-‐se dizer que é o produto da inteligência humana que objetiva criar bens até então desconhecidos, para aplicação industrial. Não se confunde com a descoberta. 1 Muita atenção: o tema tem caído de maneira assustadora em concursos. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 4 Atente: Embora não diga o que é invenção, a LPI diz o que não é invenção. Convém destacar o que mais tem caído em concurso: Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I -‐ descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; II -‐ concepções puramente abstratas; III -‐ esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; Exemplo: um planejamento tributário não é invenção. IV -‐ as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; Obs.: esses bens integram os direitos autorais. V -‐ programas de computador em si; # Também integram os direitos autorais. VI -‐ apresentação de informações; VII -‐ regras de jogo; VIII -‐ técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX -‐ o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais. Dica: em regra, não podem ser patenteados esquemas, regras, concepções abstratas, teorias científicas, arte, programas de computador e seres vivos. II. Requisitos da invenção patenteável (art. 8º) Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. a) NOVIDADE (art. 11) ! Novo é aquilo que não está compreendido no estado da técnica2 quando do pedido da patente. Ou seja: não pode ser de conhecimento do público antes da data de depósito do pedido da patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior. Ex: urna eletrônica. Art. 11. A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos quando não compreendidos no estado da técnica. § 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior, ressalvado o disposto nos arts. 12, 16 e 17. § 2º Para fins de aferição da novidade, o conteúdo completo de pedido depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado estado da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente. § 3º O disposto no parágrafo anterior será aplicado ao pedido internacional de patente depositado segundo tratado ou convenção em vigor no Brasil, desde que haja processamento nacional. Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente (ou de registro) depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da data dedepósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente (§2º). 2 Todos os conhecimentos a que pode ter acesso qualquer pessoa, especialmente, os estudiosos de um assunto em particular, no Brasil ou no exterior. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 5 Não se compreende no estado da técnica a divulgação da invenção ou do modelo de utilidade, seja pelo inventor, pelo INPI ou por terceiros mediante informações obtidas do inventor, se isso ocorrer nos 12 meses que antecederem a data do depósito – trata-‐se do chamado período de graça3. b) ATIVIDADE INVENTIVA (art. 13) ! A atividade é inventiva sempre que, para um especialista no assunto, não decorra, de maneira óbvia ou evidente, do estado da técnica. Exige-‐se um real progresso, um avanço. Art. 13. A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. c) APLICAÇÃO INDUSTRIAL ! Só pode ser invenção algo possível de ser industrializado. Se a invenção, para ser produzida, depende de material ainda não inventado, não poderá ser patenteada. “Indústria”, aqui, é interpretada de maneira ampla. Fabio Ulhôa Coelho traz um exemplo interessante: motor de um carro que só funciona com um combustível que não existe na face da Terra. Não se trata de invenção, por não poder ser industrializado. d) NÃO IMPEDIMENTO ! Os impedimentos de invenção estão todos no art. 18: a) O que for contrário à moral, bons costumes, segurança, ordem e saúde. b) Tudo que for resultado de transformação do núcleo atômico. c) Seres vivos, no todo ou em parte, exceto os microorganismos transgênicos (muito cobrado!), desde que presentes os requisitos da patenteabilidade e que não sejam mera descoberta. LEMBRAR: Microorganismos transgênicos podem ser patenteados. Art. 18. Não são patenteáveis: I -‐ o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; II -‐ as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-‐químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico [tudo que for resultado de transformação do núcleo atômico] e III -‐ o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade -‐ novidade, atividade inventiva e aplicação industrial -‐ previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais. III. Licença Compulsória A licença compulsória está prevista no art. 71 da Lei de Propriedade Industrial. Cuida-‐se do que popularmente se chama de “quebra de patente”. Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, poderá ser concedida, DE OFÍCIO, licença compulsória, TEMPORÁRIA e NÃO EXCLUSIVA, para a exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular. (Regulamento) Parágrafo único. O ato de concessão da licença estabelecerá seu prazo de vigência e a possibilidade de prorrogação. 3 A lei 9.279/96, em seu art. 12, considera não ferir a novidade a divulgação do invento, quando ocorrida durante os doze meses que precederem a data de depósito ou a da prioridade do pedido de patente, se promovida pelo próprio inventor (o chamado período de graça), pelo INPI em publicação oficial do pedido de patente depositado (por outras pessoas, que não o inventor, obviamente) ou por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente do inventor ou em decorrência de atos por este realizados. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 6 Com efeito, em caso de interesse público ou emergência nacional, se o titular da patente não atender à necessidade existente, será concedida uma licença obrigatória. a) Hipóteses: " Interesse público, e o titular não atenda à necessidade. " Emergência nacional, e o titular não atenda à necessidade. Isso deve ser declarado por ato do Poder Executivo Federal. Recentemente, o Lula editou o Decreto n. 6.108/2007, declarando interesse público aos coquetéis de AIDS. b) Requisitos: " Essa licença não possui exclusividade ! Qualquer interessado pode produzir. " Ela é temporária (no caso do Decreto 6.108/07, 5 anos).ATENTE: não terá prejuízo o titular da patente (embora, logicamente, não venha a ter o lucro que esperava ter), pois deverá ser indenizado. Confira o Decreto aludido: Art. 1º Fica concedido, de ofício, LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO por interesse público das Patentes nos 1100250-‐6 e 9608839-‐7. § 1º O licenciamento compulsório previsto no caput é concedido sem exclusividade e para fins de uso público não-‐comercial, no âmbito do Programa Nacional de DST/Aids, nos termos da Lei nº 9.313, de 13 de novembro de 1996, tendo como prazo de vigência cinco anos, podendo ser prorrogado por até igual período. § 2º O licenciamento compulsório previsto no caput extinguir-‐se-‐á mediante ato do Ministro de Estado da Saúde, se cessarem as circunstâncias de interesse público que o determinaram. [...] Art. 3º O titular das patentes licenciadas no art. 1º está obrigado a disponibilizar ao Ministério da Saúde todas as informações necessárias e suficientes à efetiva reprodução dos objetos protegidos, devendo a União assegurar a proteção cabível dessas informações contra a concorrência desleal e práticas comerciais desonestas. Parágrafo único. Aplica-‐se o disposto no art. 24 e no Título I, Capítulo VI, da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, no caso de descumprimento da obrigação prevista no caput. Art. 4º A exploração das patentes licenciadas nos termos deste Decreto poderá ser realizada diretamente pela União ou por terceiros devidamente contratados ou conveniados, permanecendo impedida a reprodução de seus objetos para outros fins, sob pena de ser considerada ilícita. Art. 5º Nos casos em que não seja possível o atendimento à situação de interesse público com o produto colocado no mercado interno, ou se mostre inviável a fabricação, no todo ou em parte, dos objetos das patentes pela União ou por terceiros contratados ou conveniados, poderá a União realizar a importação do produto objeto das patentes, sem prejuízo da remuneração prevista no art. 2º. Art. 6º Caberá ao Ministério da Saúde informar ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial -‐ INPI, para fins de anotação, o licenciamento compulsório concedido por este Decreto, bem como alterações e extinção desse licenciamento. IV. Segredo Industrial Diante de um invento ou de modelo de utilidade, não está o empresário obrigado a depositá-‐ lo junto ao INPI. Se quiser, poderá seu titular pode guardá-‐lo em segredo, não disponibilizando ao público os métodos, os projetos, as composições que materializam seu invento. Optando pela patente, o titular terá garantida sua utilização exclusiva durante determinado período de tempo, após o qual seu invento cairá em domínio público. Do contrário, o segredo industrial se eterniza em suas mãos, até que alguém consiga, por meios lícitos e mérito próprio, obter o mesmo resultado. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 7 Nosso ordenamento protege o segredo industrial, considerando crime de concorrência desleal a conduta de quem divulga, explora ou se utiliza, sem autorização, de conhecimentos confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços, a que teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do contrato, ou obtidos ilicitamente (195). 5.2. Modelo de utilidade É o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Art. 9º É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Veja: o modelo de utilidade é o instrumento, utensílio ou objeto destinado ao aperfeiçoamento ou melhoria de uma invenção preexistente. Embora pareça com a invenção propriamente dita, o modelo, em verdade, é dependente dela, tendo como ponto de partida um objeto já inventado. Ex: setas e pára-‐brisa nos carros; churrasqueira sem fumaça; papel utilizado na proteção dos vasos sanitários. 5.3. Desenho industrial Art. 95: Considera-‐se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. O desenho industrial traz apenas um resultado visual novo a um objeto, sem agregar qualquer utilidade ao bem. Cuida-‐se de característica simplesmente estética. É o chamado design; a doutrina o chama de elemento fútil. O desenho industrial não pode ser confundido com a obrade arte, pelo fato de estar sempre relacionado a um objeto com função utilitária e possibilidade de ser industrializado, enquanto a obra de arte, em regra, não traz consigo nenhuma característica funcional, mas tão-‐somente estética e decorativa, e também não é produzida em escala industrial. QUESTÃO: Camisinha com sabor é desenho industrial ou modelo de utilidade? Cuida-‐se de modelo de utilidade, já que traz uma melhoria funcional. Camisinhas com cores diferentes são um exemplo de desenho industrial, enquanto o aplicar de camisinha é uma invenção. OBSERVAÇÃO: O período de graça do desenho industrial é de 180 dias (art. 96, §3º): Art. 96. O desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no estado da técnica. § 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo e no art. 99. § 2º Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente ou de registro depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente. § 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12. 5.4. Marca DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 8 I. Conceito Marca é o sinal distintivo, visualmente perceptível, não compreendido nas proibições legais. No Brasil, somente pode ser registrada marca que é visualmente perceptível. Por isso, cuidado com a pegadinha do examinador: não existe marca sonora (ex: o plim-‐plim da Globo não pode ser registrado como marca). Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais. II. Espécies (boa questão de concurso) – art. 123 a) Marca de produto ou serviço ! É aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa. Ex: Bombril. b) Marca de certificação ! É aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada. Ex: INMETRO e ISO9001. c) Marca coletiva ! É aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade ou coletividade. Ex: indústria brasileira dos produtores de café. Isso traz uma qualidade maior ao produto. III. Requisitos da marca a) NOVIDADE (RELATIVA) ! Neste caso, a nulidade é relativa, estando relacionada ao ramo da atividade. Adota-‐se, aqui, o princípio da especificidade, verificando-‐se a novidade com relação ao grupo onde se enquadra o produto/serviço. Sendo mais claro: o registro de uma marca confere a proteção ao seu uso exclusivo tão-‐somente contra seu uso em produtos ou serviços similares, de acordo com classes criadas por ato normativo do INPI. b) NÃO COLIDÊNCIA COM MARCA NOTÓRIA ! A marca não pode confrontar/violar uma marca notória. Marca notória é aquela ostensivamente pública e conhecida, de popularidade e reconhecimento internacional. Muita atenção: marca notória independe de registro no INPI para ter proteção legal (da mesma forma que, no processo civil, fato notório dispensa prova). Ex: Sony. Isso porque o Brasil é signatário da Convenção da União de Paris. Por esta Convenção, os países consignatários devem proteger a marca notória. E mais: marca notória não se confunde com alto renome (art. 125). A marca notória, que não precisa de registro, só tem proteção no seu ramo de atividade (é possível criar, v.g., um “detergente Armani”), enquanto o alto renome tem proteção especial em todos os ramos de atividade. MARCA NOTÓRIA MARCA DE ALTO RENOME Não precisa de registro para ser protegida Precisa ser registrada Só tem proteção no ramo de atividade Tem proteção em todos os ramos de atividade Precisa ter reconhecimento internacional Reconhecimento no país Protegida nos países signatários do acordo Protegida apenas no território nacional DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 9 Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em TODOS OS RAMOS de atividade. Art. 126. A marca notoriamente conhecida EM SEU RAMO de atividade nos termos do art.6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil. § 1º A proteção de que trata este artigo aplica-‐se também às marcas de serviço. § 2º O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida. Atente: o STJ, em recente julgado, confundiu marca notória e marca de alto renome, entendendo que, em ambos os casos, a proteção não seria específica ao tipo de produto ou serviço (em tese, somente a marca de alto renome não seria específica). Confira-‐se: COLIDÊNCIA. MARCA. NOME COMERCIAL. LEI N. 9.276/1996. RESP 1.204.488-RS Para a aferição de eventual colidência entre denominação e marca, não se deve ater apenas à análise do critério da anterioridade, mas também levar em consideração outros dois princípios básicos do direito pátrio das marcas: o princípio da territorialidade, correspondente ao âmbito geográfico da proteção, e o princípio da especificidade, segundo o qual a proteção da marca, salvo quando declarado pelo INPI de alto renome ou notória, está diretamente vinculada ao tipo de produto ou serviço, como pressuposto de necessidade de evitar erro, dúvida ou confusão entre os usuários. Hodiernamente a proteção ao nome comercial se circunscreve à unidade federativa de jurisdição da junta comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional se for feito pedido complementar de arquivamento nas demais juntas comerciais. A melhor exegese do art. 124, V, da LPI (Lei n. 9.276/1996) para compatibilização com os institutos da marca e do nome comercial é que, para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial de terceiros constitua óbice ao registro da marca, que possui proteção nacional, é necessário nesta ordem: que a proteção ou nome empresarial não goze de tutela restrita a alguns estados, mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo território nacional e que a reprodução ou imitação sejam suscetíveis de causar confusão ou associação com esses sinais distintivos. Confira-‐se também recente julgado do STJ, de outubro de 2012, que reconhece efeitos ex nunc à marca notória. DIREITO EMPRESARIAL. PROTEÇÃO DE MARCA NOTÓRIA. EFEITOS EX NUNC. A proteção de marca notória registrada no INPI produz efeitos ex nunc, não atingindo registros regularmente constituídos em data anterior. O direito de exclusividade ao uso da marca em decorrência do registro no INPI, excetuadas as hipóteses de marcas notórias, é limitado à classe para a qual foi deferido, não abrangendo produtos não similares, enquadrados em outras classes. O registro da marca como notória, ao afastar o princípio da especialidade, confere ao seu titular proteção puramente defensiva e acautelatória, a fim de impedir futuros registros ou uso por terceiros de outras marcas iguais ou parecidas, não retroagindo para atingir registros anteriores. AgRg no REsp 1.163.909-‐RJ. c) NÃO IMPEDIMENTO ! Os casos de impedimento legal estão no art. 124 da Lei de Propriedade Industrial (ex: símbolos oficiais). A lista é enorme, de modo que marcaremos o que tem caído em concursos (ex: obra de caráter puramente artístico): Art. 124. Não são registráveis como marca: I -‐ brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação; ! Símbolo oficial, seja nacional ou internacional, não pode ser registrado como marca, mas pode ser utilizada para marketing. IV -‐ designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão público; DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 10 ! Ex: não se pode registrar uma marca sob a sigla STF. V -‐ reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos; IX -‐ indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica; X -‐ sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina; ! A falsa indicação geográfica também é impedimento. Ex: um perfume feito em Campinas não pode ser chamado de “francês”. Um chocolate baiano não pode ser chamado de “Gramado”, sob pena de enganar o consumidor. XV -‐ nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVI -‐ pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVII -‐ obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor ou titular; XVIII -‐ termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com o produto ou serviço a distinguir; XX -‐ dualidade demarcas de um só titular para o mesmo produto ou serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de suficiente forma distintiva; XXI -‐ a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico; 6. Aspectos processuais Veremos os aspectos judiciais e do processo administrativo junto ao INPI. No tocante as ações judiciais, devemos observar que as ações devem ser ajuizadas na Justiça Federal e, se o INPI não for autor do processo, deverá nele intervir. O prazo geral para contestação é de 60 dias. 6.1. Prazos Prescricionais O que mais cai em prova são os prazos para ajuizar a ação e para entrar com pedido administrativo. ESPÉCIE PRAZO Patente (invenção e modelo de utilidade) Âmbito administrativo: 6 meses da concessão da patente Âmbito judicial: Enquanto a patente for vigente, pode-‐se ajuizar uma ação discutindo aquela patente Desenho industrial Âmbito administrativo: 5 anos contados da concessão Âmbito judicial: Enquanto for vigente o desenho industrial, pode-‐se ajuizar uma ação discutindo-‐o. Marca Âmbito administrativo: 180 dias da concessão Âmbito judicial: 5 anos da concessão DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 11 I. Concessão de patente (invenção/modelo de utilidade)4 O pedido de patente deve ser apresentado ao INPI, acompanhado de: a) requerimento (formulário padrão oferecido pelo INPI); b) relatório descritivo; c) reivindicações; d) desenho, se for o caso; e) resumo; f) comprovante de pagamento da retribuição relativa ao depósito (art. 19). Apresentado o pedido, ele é submetido a exame formal preliminar (só se analisam formalidades). Se devidamente instruído, será protocolizado, sendo considerada a data do depósito a mesma da apresentação (art. 20). Se o pedido não atender às formalidades, mas contiver dados relativos ao objeto, depositante e ao inventor, poderá ser entregue mediante recibo datado. Neste caso, o INPI estabelece as exigências a serem cumpridas no prazo de 30 dias, sob pena de devolução ou arquivamento da documentação. Cumpridas as exigências, o depósito será considerado como efetuado na data do recibo. Nas reivindicações é que se indica a verdadeira extensão do objeto da patente, com sua descrição pormenorizada. Obs: com o objetivo de propiciar ao depositante prazo para que realize estudo de viabilidades do objeto do pedido, ou venha a contatar pessoas interessadas em produzi-‐lo, estabelece a lei que o pedido de patente será mantido em sigilo durante 18 meses contados do depósito ou prioridade mais antiga, após o que será publicado (art. 30). É possível a antecipação da publicação, a pedido. Somente após a concessão da patente é que o terceiro interessado poderá requerer sua nulidade, no prazo de 6 meses da concessão. II. Registro a) Desenho industrial O pedido é entregue mediante requerimento acrescido de relatório descritivo, reivindicações, desenhos ou fotografias, descrição do campo de aplicação e comprovante de pagamento da retribuição relativa ao depósito (art. 101). Se os desenhos ou fotografias forem suficientes, dispensa-‐se o relatório e reivindicações. Neste caso, o prazo de diligências conferido pelo INPI não é de 30, mas 5 dias. Cumpridas as exigências, como ocorre com a patente, o depósito considera-‐se efetuado na data da apresentação do pedido (103). Obs: ao contrário do pedido da patente, o registro do desenho industrial somente correrá em sigilo caso seja requerido pelo depositante, e somente pelo prazo de 180 dias (e não 18 meses). b) Marca A diferença aqui é a seguinte: após o protocolo do pedido da marca perante o INPI, será ele publicado para apresentação de eventuais oposições por terceiros, no prazo de 60 dias (art. 158). Havendo oposição, o depositante será intimado para se manifestar igualmente no prazo de 60 dias. Decorridos 60 dias do protocolo do pedido, ou após apresentação de eventual oposição, o INPI deverá proferir decisão deferindo ou não o pedido de registro (art. 159). Depois de expedido o certificado de registro, abre-‐se novamente a possibilidade de qualquer pessoa com legítimo interesse requerer sua nulidade perante o INPI, no prazo de 180 dias. Esse 4 A partir daqui, só caderno de J. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 12 procedimento pode ser proposto de ofício pelo INPI. Ao titular será ofertado prazo de defesa em 60 dias. O INPI, ou qualquer pessoa com legítimo interesse, poderá intentar, no prazo de 5 anos da concessão, ação judicial de nulidade de registro de marca perante o foro dajustiça federal. 7. Prioridade O art. 16 estabelece que será assegurado o direito de prioridade ao pedido de patente ou registro industrial apresentados em país que mantenha acordo com o Brasil, ou em organização internacional. Dessa forma, se houver interesse do titular da propriedade industrial, devidamente depositada em outro país, em expandir seu direito em território brasileiro, deverá reivindicar a prioridade no prazo máximo de: " 12 meses ! Em se tratando de invenção e modelo de utilidade; " 6 meses ! Desenho industrial ou marca. Esse prazo é sempre contado da data do primeiro pedido. O requisito de novidade, neste caso, terá como base a data de apresentação do primeiro pedido (no exterior), e não a data em que fora apresentado no Brasil. 8. Formas de extinção da propriedade industrial a) Expiração do prazo de vigência b) Renúncia do titular c) Falta de pagamento dos valores exigidos pelo INPI ! Ex: retribuição anual e renovação. d) Caducidade ! Atenção: ocorre caducidade da marca se alguém deixa de usá-‐la por mais de 5 anos. Ex: a marca Show do Milhão era de uma empresa mexicana, que deixou de utilizá-‐la por mais de 5 anos. Já a invenção/modelo de utilidade caducam em 3 anos do desuso ou uso abusivo. e) Inobservância do art. 217 da Lei 9.279 ! O titular de um registro ou patente que tem domicílio no exterior deve ter representante no país, com poderes para representá-‐lo no âmbito administrativo, judicial e para receber citações. Se o titular não tiver representante no país, haverá a extinção do registro/patente. 9. Ação de nulidade (art. 57) I. Introdução No âmbito da propriedade industrial, é possível o ajuizamento de ação de nulidade. Ex: ação de nulidade de marca ou de registro. II. Competência ATENTE: " A ação de nulidade deve ser ajuizada na Justiça Federal (questão do TJ/BA em 2005); " Se o INPI não for autor da ação, deverá intervir no processo. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 13 III. Prazo Em relação ao prazo para ajuizamento da ação, observe: " Patente: a ação deve ser ajuizada enquanto a patente for vigente; " Registro: idem. o Marca: prazo de 5 anos, contados da concessão. Obs: a ação anulatória do nome empresarial é imprescritível. IV. Prazo de defesa Nestas ações, o prazo de defesa é maior: 60 DIAS. Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça Federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito. § 1º O prazo para resposta do réu titular da patente será de 60 (sessenta) dias. § 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI publicará anotação, para ciência de terceiros. 10. Marca x nome empresarial Se a marca é o sinal visualmente perceptível que tem como função distinguir produtos ou serviços colocados à disposição do público consumidor, o nome empresarial, ao contrário, identifica o sujeito de direito que comercializa, fabrica ou produz os produtos ou presta os serviços que serão, por sua vez, diferenciados dos demais existente no mercado pela marca. Três são as principais diferenças entre marca e nome empresarial: Marca Nome empresarial Identifica os produtos e serviços. Identifica o empresário ou sociedade empresária. Registrada no INPI, de âmbito nacional Registrado na Junta Comercial, de âmbito estadual É protegida somente nos limites da classe de produtos ou serviço em que foi registrada. Garante exclusividade em toda e qualquer atividade econômica. Vigora no prazo de 10 anos, prorrogável por igual período sucessivamente, sem fim. Tem duração coincidente com a duração do próprio empresário. Admite alienação Não admite alienação. Não há, em nosso ordenamento jurídico, um tratamento apropriado para o caso de existir um nome empresarial que venha a colidir com uma determinada marca, na medida em que tais bens jurídicos são tratados de forma estanque, em leis específicas que não dão solução ao problema. O STF manifestou-‐se no sentido de dar prevalência à marca devidamente registrada no INPI em detrimento do nome empresarial mais antigo, sob o argumento de que aquele órgão tem eficácia em todo território nacional, enquanto o nome empresarial é protegido tão-‐somente no âmbito do Estado da Junta. Esse critério, certamente, não é o mais apropriado, por permitir que pessoas de má-‐fé registrem marcas coincidentes com nomes empresariais antigos e consolidados. A doutrina vem apontando, para a solução de casos como este, a utilização do critério da anterioridade. DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 14 O STJ, em 2011, proferiu a seguinte decisãosobre o assunto: COLIDÊNCIA. MARCA. NOME COMERCIAL. LEI N. 9.276/1996. RESP 1.204.488-RS Para a aferição de eventual colidência entre denominação e marca, não se deve ater apenas à análise do critério da anterioridade, mas também levar em consideração outros dois princípios básicos do direito pátrio das marcas: o princípio da territorialidade, correspondente ao âmbito geográfico da proteção, e o princípio da especificidade, segundo o qual a proteção da marca, salvo quando declarado pelo INPI de alto renome ou notória, está diretamente vinculada ao tipo de produto ou serviço, como pressuposto de necessidade de evitar erro, dúvida ou confusão entre os usuários. Hodiernamente a proteção ao nome comercial se circunscreve à unidade federativa de jurisdição da junta comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional se for feito pedido complementar de arquivamento nas demais juntas comerciais. A melhor exegese do art. 124, V, da LPI (Lei n. 9.276/1996) para compatibilização com os institutos da marca e do nome comercial é que, para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial de terceiros constitua óbice ao registro da marca, que possui proteção nacional, é necessário nesta ordem: que a proteção ou nome empresarial não goze de tutela restrita a alguns estados, mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo território nacional e que a reprodução ou imitação sejam suscetíveis de causar confusão ou associação com esses sinais distintivos. Diante desse julgado, é possível afirmar que, para o STJ, o nome somente prevalecerá sobre a marca que venha a reproduzi-‐lo se observados conjuntamente os seguintes requisitos: • O nome deve estar registrado em TODOS OS ESTADOS (todas as juntas); + • A sua reprodução/imitação deve ser suscetível de causar CONFUSÃO/ASSOCIAÇÃO. Por fim, convém atentar ao também recente julgado do STJ: PROPRIEDADE INDUSTRIAL. MARCA FRACA OU EVOCATIVA. RESP 1.166.498-RJ a) Não é possível conferir exclusividade ao titular de registro de marca fraca ou evocativa. Marcas fracas ou evocativas, que constituem expressão de uso comum, de pouca originalidade ou de forte atividade criativa podem coexistir harmonicamente, sendo descabida qualquer alegação de notoriedade ou anterioridade de registro, com o intuito de assegurar o uso exclusivo da expressão de menor vigor inventivo. B) Marcas de convivência possível não podem se tornar oligopólios, patrimônios exclusivos de um restrito grupo empresarial, devendo o Judiciário reprimir a utilização indevida da exclusividade conferida ao registro quando esse privilégio implicar a intimidação da concorrência, de modo a impedi-la de exercer suas atividades industriais e explorar o mesmo segmento mercadológico. PRECEDENTES IMPORTANTES: • STJ, INFORMATIVO N. 517/2013 DIREITO EMPRESARIAL. POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE UMA DECLARAÇÃO GERAL E ABSTRATA DO INPI REFERENTE À CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME. É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta, uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. A denominada “marca de alto renome”, prevista no art. 125 da Lei de Propriedade Industrial, consiste em um temperamento do princípio da especialidade, pois confere à marca proteção em todos os ramos de atividade. Tal artigo não estabeleceu os requisitos necessários à caracterização do alto renome de uma marca, de modo que a regulamentação do tema ficou a cargo do INPI. Atualmente, a sistemática imposta pela aludida autarquia, por meio da Resolução n. 121/2005, somente admite que o interessado obtenha o reconhecimento do alto renome pela via incidental, a partir do momento em que houver a prática, por terceiros, de atos potencialmente capazes de violar a marca. Inexiste, portanto, um procedimento administrativo tendente à obtenção de uma declaração direta e abstrata. Parte da doutrina entende que o alto renome não dependeria de registro. Nessa concepção, a marca que DIREITO EMPRESARIAL – JOÃO PAULO LORDELO 15 possuísse a condição de alto renome no plano fático seria absoluta, de sorte que ninguém, em sã consciência, poderia desconhecê-‐la. Entretanto, ainda que uma determinada marca seja de alto renome, até que haja uma declaração oficial nesse sentido, essa condição será ostentada apenas em tese. O reconhecimento do alto renome só pela via incidental imporia ao titular um ônus injustificado, de constante acompanhamento dos pedidos de registro de marcas a fim de identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário. REsp 1.162.281-‐RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/2/2013. DIREITO EMPRESARIAL. IMPOSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO RECONHECER, ANTES DA MANIFESTAÇÃO DO INPI, A CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE ALTO RENOME. Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode o Poder Judiciário conferir, pela via judicial, a correspondente proteção especial. A lacuna existente na Resolução n. 121/2005 — que prevê a declaração do alto renome de uma marca apenas pela via incidental — configura omissão do INPI na regulamentação do art. 125 da LPI, situação que justifica a intervenção do Poder Judiciário. Entretanto, até que haja a manifestação do INPI pela via direta, a única ilegalidade praticada será a inércia da Administração Pública. Assim, é incabível, ao menos nesse momento, a ingerência do Poder Judiciário no mérito do ato omissivo, competindo-‐lhe, caso provocado, a adoção de medidas tendentes a ocasionar a manifestação do INPI. REsp 1.162.281-‐RJ,Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/2/2013. SÍNTESE: • A pessoa tem interesse em pedir DO INPI que decida se sua marca é de alto renome, declarando isso; • Se o INPI for inerte, O JUDICIÁRIO NÃO PODE INTERVIR!
Compartilhar