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A VE DADE SOBRE ISRAEL Novas descobertas de cientistas reescrevem a história da Terra Prometida COMO FAZíAMOS SEM ••• 13 ...................................Temperos Novas descobertas ARTE & HISTÓRIA 14 revelam mitos eA Pequena Sereia verdades sobre a LISTA origem dos judeus 16 ...................................Aventureiros desastrados 28BRASÕES E BANDEIRAS 17Asuástica LINHA DO TEMPO 18Império Britânico HISTÓRIA MALUCA 20Terra de dragões HISTÓRIA ILUSTRADA 22Navio tartaruga coreano ARQUEOLOGIA DO FUTURO 24Neuromancer RETROTECH 25OTurco jogador de xadrez HISTÓRIA HOJE A escravidão ainda resiste no 6 planeta, afirma estudo internacional AGENDA 10 Ocomeço e o fim do AI-5 AlMANAQUE REPORTAGENS CAPA As origens de Israel 28 JEsuíTAS A Igreja no Brasil colônia 38 NELLlE BLY Umamulher dá a volta ao mundo 44 PIADAS Ohumor soviético contra o poder 48 '"õõa: o '-'o..'"'-"""a:>- '";! TERREMOTO Lisboa treme e afeta a Europa 54 mnRmm _ LANÇAMENTOS Luzes sobre a esquerda armada 60 HISTÓRIAS íNTIMAS Leituras para senhoras 64 FOTO-HISTÓRIA Ulysses contra os cachorros 66 ~~------------------------------- FELIZ 2014 AequiPe responsável pela AVENTURAS NA HISTÓRIA temmuito a comemorar pelos doze meses que estão chegando aofim. A revista completou dez anos acompanhada de um grupo de leitores fiéis que não deixa nada escapar a seus olhos e nos ajuda a melhorar a cada edição. Neste ano, mudamos o projeto gráfico, criamos novas seções, migra- mos nossa comunidade do antigo Orkut pará o Facebook. A edição de aniversário, em agosto, teve a maior venda em bancas da revista desde 2009. Os índices de satisfação de nossos assinantes com o conteúdo da revista estão elevados. Uma pergunta que pede a opinião do leitor sobre se a revista que ele tem em mãos está melhor que a anterior, feita a cada nova edição, sempre supera o índice de 80% de sim. Acontece que, para nós, em time que está ganhando se mexe, sim. Nosso compromisso é buscar a superação a cada edição. Isso envolve escolher pautas relevantes, curiosas e apaixonantes. Zelar pela quali- dade do que se publica, embalar as palavras no design mais inteligente que formos capaz de criar ... enfim, queremos melhorar, sempre. Por causa disso, teremos muito trabalho em 2014. O que nos inspira é saber que você estará ao nosso lado. Não só para falar bem. Mas para criticar, apontar caminhos, reclamar, sugerir. Uma grande revista se faz com grandes leitores. E isso, temos certeza, nós já temos. Um feliz 2014 e boa leitura. Patrícia Hargreaves DIRETORA DE REDAÇÃO 4 I AVENTURAS NA HISTÓRIA EDITORA ~ Abril Fundada em 1950 VlcroRClVITA (1907-1990) ROBERTO CIVITA (1939-2013) Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), Thomaz Souto Côrreajvíce-Presldente), Elda Müller, Fábio Colletti Barbosa, [airo Mendes Leal, José Roberto Guzzo Presidente: Fábio Colletti Barbosa Vice-presidente de Operações e Gestão: Marcelo Bonini Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretora de Recursos Humanos: Cibele Castro Diretora-Superintendente: Helena Bagnoli Diretor Adjunto: Dimas Míetto Diretora de Redação: Patrícia Hargreaves Colaboraram nesta edição: Luciana Porto Alegre Steckel (arte), Wagner Guücrrez Barreira (editor - C8GB Serviços de Comunicação e Editoração Uda) e Victor Bianchin Coordenação Administrativa: Crísüane Pereira e Deborah Souza Silva, Grace Kelly Alves (aprendiz) Atendimento ao leitor: Adriana Meneghel.loe Walkiria Giorgino cn-UN 11: Eduardo Blanco INTERNETNÚCLEOJOVEM& INFANTILEditor Assistente: Mariana Nada! Repórteres: Ana Prado, Ludmilla Balduino e Otavio Cchen Designers: Alexandre Nacari, Juliana Moreira e Lacra Rittmeister Animação: Feiipe Thiroux Webmaster: Cah Felixe Thiego Moura Estagiârios: Carolina Vellei, Carolina Vilaverdee lacas Massao Analista de redes sociais: Lorena Dana PUBLICIDADE SEGMENTADAS - Diretor de publicidade UN SEGMENTADAS: Rogério Gabrtel Comprido Diretores: Roberto Severo, Willian Hagcpían Gerentes: Fernanda Xavier, Fernando Sabadín, Ana Paula Moreno, Cletde Gomes Executivos de Negócios: Adeiana Marfins, Camila Roder Carolina Brust, Cétia Valese, Cida Rogiero, Cintia Oliveira, Fernanda Meio, Juliana Compagnoni, João Eduardo, Juliana Chen Sales, Kaue Lombardí.Lucta H. Messias, Luis Pemando Lopes, Maria Veloso, Mauricio Ortiz, Michele Brito, Rebeca da Cosia Rix, Renato Mescarenhas, Roberla Maneiro, Shirlene Pinheiro. Suzana Veiga Carreira, Vera Reis de Queíroz, Ana Paula Viegas, Daniela Serafim, Fâbio Sanlos, Camila Folhas, Regina Maurano, Maria Lucia Vieira Strotbek. Marcus Vinicius Souza, Pabícla Granjas, Rodrigo Rangel, Leandro Thales, Luis Auguslo Dias Cesar, Sérgio Albino MARKETING- Diretor de Marketing: Paulo Camossa Diretores: Loutse Faleiros, Wagner Gorab ESTRATÉGIADIGITAL:Diretor: Guilherme Werneck PUBLICIDADEREGIONAl- Diretor: [acqucs Ricardo Gerentes: Ivan Rtzental.Ioão Paulo Pizarro, Kiko Neto, Mauro Sannazzaro, Sonia Paula, Vania Passalongo PUBLICIDADEINTERNACIONAL:Alex StevensASSINATURAS Gerentes: Alessandra Pallís.Andréa Lopes. APOIO - PLANEJAMENTO CONTROLEEOPERAÇÕES - Gerente: Marina Bonagura PROCESSOS - Gerente: Ricerdc Carvalho DEDOC E ABRil PRESSGracede Souza PESQUISA EINTELlG~NCIADEMERCADO: Andrea Costa RECURSOS HUMANOS Gerente: Daníela Rubim TREINAMENTO EDITORIAL:Edward Pimenta REDAÇÃO E CORRESPOND~NCIA: Av. das Nações Unidas, 7221, 140 andar, Pinheiros, São Paulo, SP, CEP 05425-902, tel. (11) 3037-2000. Publicidade São Paulo e informações sobre representantes de publicidade no Brasil e no Exterior: www.publíabrtl.com.br PUBLICAÇÕES DA EDITORA ABRil: Almanaque Abril, Ana Maria, Arquitetura & Construção, Aventuras na História, Boa Forma, Bons Fluidos, Capricho, Casa Claudia, Claudia, Contigo!, Dicas Info, ElIe, Estilo, Exame, Exame PME, Guia do Estudante, Guias Quatro Rodas, lnfo, Manequim, Máxima, Men's HeaUh, Minha Casa, Minha Novela, Mundo Estranho, National Geographic, Nova, Placar, Playboy, Publicações Disney, Quatro Rodas, Recreio, Runner's World, Saúde, Sou Mais Eu!, Supennteressante, Tititi, Veja, Veja BH, Veja Brasilia, Veja Rio, Veja São Paulo, Vejas Regionais, Viagem e Turismo, Vida Simples, Vip, Viva!Mais, Você S.A., Você RH. Women's Health Fundação Fundação Victor Civita: Gestão Escolar, Nova Escola. Aventuras na História ISSN 18062415, dezembro de 2013, é uma publicação mensal da Editora Abril Edições anteriores: venda exclusiva em bancas, pelo preço da edição atual. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída em todo o país pela Dínep S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. Aventuras na História não admite publicidade redacional. Serviço ao Assinante: Grande São Paulo: (11) 5087-2112 Demais localidades: 0800-775-2112 www.abrilsac.com Para assinar: Grande São Paulo: (11) 3347-2121 Demais localidades: 0800-775-2828 www.assineabrit.com.br IMPRESSA NA GRÁFICAABRIL Av.Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP: 02909-9.00, São Paulo,SP •• I r.IPP I 00 I 'SIP .Abril Conselho de Administração: Giancarlo Civita (Vioe-Presidente), Vidor Civita Neto, Esmaré Weideman, Hein Brand Presidente: Fábio CoUetti Barbosa www.abril.com.br ..", DAS SESSOES DE INE A AO· UCESS N T LONA. Ariel Goldenberg Protagonista do filme Colegas REALIZAÇÃO: ) Desde que Ariel era menino, seu motorista, Carlinhos,o levavaa peçasde teatro, shows e filmes, conversando muito sobre o que ele tinha aprendido. "Ele sempre foi meu companheiro", diz. Essagrande amizade ajudou Ariel a escolhersuavocação. Fezpeças de teatro, documentá rio, clipe, novelas,seriadose ganhou reconhecimento no longa Colegas, enchendo de orgulho um dos seus maiores incentivadores. Carlinhos Motorista e apoiador do sonho de Ariel ( \ ~ Participe da educação de quem você ama para que ele nunca pare de crescer. GRUPO BANDEIRANTES IWoMAPA DA ESCRAVIDAO ESTUDO REVELA A PREVALÊNCIADA INSTITUiÇÃO NO MUNDO ATUAL A!walk Free Foundation ("Fundação CaminheLivre") acaba de lançar um estudo abrangenteobre a situação da escravidão no mundo. O re- latório classificou os países segundo o risco de escravidão, baseado em diversos fatores, como a força das leis e a ca- pacidade do Estado em aplicá-Ias. De forma que o ranking não tem relação direta com o número de escravos. A Chi- na tem até 3,1milhões de pessoas nessa condição, mas não é considerada um dos países de maior risco. Segundo a ONG, existem quase 30 milhões de escravos hoje. Ainda que todos os países tenham abolido a escra- vidão, ela persiste por ações criminosas. A forma moder- na é por dívida. Golpistas levam trabalhadores a locais 6 I AVENTURAS NA HISTÓRIA remotos onde são forçados a pagar aluguel e a comprar a crédito na loja local - assim, nunca recebem salário e a dívida sempre aumenta. Imigrantes ilegais são o alvo mais comum, inclusive mulheres, forçadas à prostituição. Na definição do relatório, casamentos forçados também são um tipo de escravidão, tal como "adoções" nas quais a criança é obrigada a fazer trabalhos domésticos. A prática data da Prê- História: dos astecas aos chineses, toda civilização tinha escravos ou servos - versão mais branda na qual o trabalhador pertence à propriedade, não ao senhor. O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão, em 1888. Na Mauritânia, pior nação do mundo pelo relatório, a abolição só ocorreu em 1981 ROTEIRO DA VERGONHA 'r't, 6° MOLDÁVIA A .c:: .~~~ T ,/ r.-120 HAITI* rr índice de risco: 52,26 Número de escravos: 200 mil - 220 mil 94° BRASIL cn cnw '""-cw !;[ 13 '"cn~ '"12 índice de risco: 7,16 Número de escravos: 200 mil - 220 mil MAURITÂNIA No país, onde uma minoria branca domina diversas etnias negras, a escravidão é à moda antiga, com escravos e descendentes considerados propriedade comercializável. Na maioria, são mulheres negras, forçadas a fazer trabalhos domésticos e abusadas sexualmente. índice de risco: 97,90 Número de escravos: 140 mil-160 mil HAITI Aqui O problema é uma instituição tradicional chamada restavek, na qual crianças são dadas para adoção a famílias mais ricas e forçadas a trabalhar pelo sustento. Após o terremoto de 2010, o caos no país abriu espaço para outros tipos de escravidão, como exploradores sexuais e traficantes de seres humanos, que exportam haitianos para outros países. I' PREVALECÊNCIA DA ESCRAVIDAo MUITO BAIXA íNDIA País com o maior número de escravos do mundo, é acusado de exploração sexual, exploração infantil (crianças obrigadas a pedir esmola), casamentos forçados e escravidão por dívidas, quase sempre dos dalit, os "intocáveis", membros da casta mais baixa. Essa dívida é hereditária, de forma que os filhos do devedor também "pertencem" ao credor. MOLDÁVIA A ex-república soviética leva a pior nota da Europa não como algoz, mas como vítima. Com uma economia miserável, seus cidadãos entram em esquemas para migrar para outros países, como Ucrânia, Rússia ou Polônia, onde acabam escravizados por mafiosos. * Risco de escravidão: de zero a cem, Quanto maior a nota, mais presente é a escravidão no país. A cor vermelha indica os piores índices. BRASIL Possui um grande número de escravos, mas é considerado o quinto menos problemático do continente, porque as leis são tidas como satisfatórias. Esquemas de escravização por dívidas ainda acontecem em regiões rurais e entre imigrantes. Neste ano, o Ministério do Trabalho liberou 31 escravos bolivianos em São Paulo. AVENTURAS NA HISTÓRIA I 7 HISTÓRIA HOJE OHDDA PRÉ-HISTÓRIA BOLINHAS CONTÊM CÓDIGO AINDA NÃO DECIFRADO NOS final dos anos 60, arque-ólogos escavaram umcurioso conjunto de artefa- tos no sítio de Chaga Mish, no Irã. São esferas de argila, apro- ximadamente do mes- mo tamanho de uma bola de tê- nis, decoradas por fora e com diversos pe- quenos objetos dentro. Datadas de 5,5 mil anos atrás, eram usadas dois séculos antes da invenção da escrita, que aconteceria na mesma região. As bolinhas ganharam o nome de "envelopes", e os objetos dentro delas, "fichas". Compreensivelmente, os pesqui- sadores não queriam quebrar esses objetos preciosos para investigar seu conteúdo, que permaneciam, assim, misteriosos. Este ano, uma equipe do Instituto Oriental da Uni- versidade de Chicago estudou-as com tomografia eletromagnética. Descobriam que''guardam uma grande diversidade de obje- tos -14 formas diferen- tes, como pirâmi- des, cones, esferas ou meias-luas. Além disso, pos- suem um canal interno, prova- velmente usado para passar um barbante e facilitar o armazenamento. O historiador Cris- topher Woods, líder do estudo, acredita que os envelopes me- sopotâmicos foram o "primei- ro sistema de armazenamento de dados". Eram uma espécie de nota fiscal do final da prê- história. As fichas representavam A bola de cerâmica: conteúdo interno números. Por exemplo, a quantidade de cabras negociadas entre duas pes- soas. No exterior, os relevos indica- vam o comprador e o vendedor. O código exato ainda não foi decifrado, mas Woods acredita que cada forma das fichas indicava um número di- ferente, por exemplo, pirâmides para dezenas e esferas para unidades. A inconveniência do "contrato" neolí- tico é que era preciso que- brá-Ia para ser lido. õ. u u <:i: <a>- ~ Elementos do Interior da esfera: fichas de argila ~ •••••••••• 0.0 ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• , ••••••••••• 0.0 0.0.' ••••• 0.0 •••••• 0.0.' •••••••••• 0.0 ••• 0.0 •••••••••• 0.00.00.00.0 •••• 0.0 ••••••••••••••• 0.0 •••••••• _ ••••••••••••••••••••••••• _ ••••••• 0'0 0.0 ••• 0.00.00.00.00.0 •••••••• ~ I "Não houve má intenção. Foi um I i equivoco felizmente resolvido" ! ~ ~ ~ ••••••••••••••••• 0.00.00.0 •••• 0'0 0.0 ••• 0.0 ••••••••••••••••••• 0.0 ••••••• 0.0 0.0 •••• ' •••••••••••• , ••••••••••••••••••• 0.0 ••••••••• 0.0 •••• 0.0 ••• o.' •••••••••••••••• "0 o" ". ••• •••• ••• •••••• •••• ••••• ••••••• •••••• ••• ••••••••• •••••••• ; ~ L~~denza bBrrtav~tta, d 20 ire o t s orada Agência MagnUdm'Hsob~ecS3:otosgrafias daRexbPosciÇãOO Rosto dOATempo: ~uafr~~dasbnos ~nos 50 e ~ so esco e as em , com Imagens raras e enn artíer- resson, o ert apa e outros. exposiçao 01 rea erta este anoL ~ 8 I AVENTURAS NA HISTÓRIA RATO NO CARDÁPIO Análises químicas em ossos de habitantes da Ilha de Páscoa pré- descobrimento revelaram que a dieta incluía poucos frutos do mar. A principal fonte de proteína era o rato polinésio, que chegou com os humanos à ilha. ······················1····················· ARTISTAS FEMININAS NAS CAVERNAS Um dos "temas" frequentes em pinturas paleolíticas são mãos impressas. Um estudo revelou que 75% dessas mãos eram de mulheres. O que significa que os desenhos podem ter sido feitos por elas. CHINATOWN ESCAVADA Arqueólogos escavaram o bairro chinês de Jacksonville, nos EUA, dos anos 1850. Entre os achados estão um cachimbo de ópio e sementes de lichia, o que indica que importavam alimentos de seu país. • O PALITO E A CRISE ECOLÓGICA: Por causa de um tabu religioso, os japoneses se recusam a usar talheres de outras pessoas, mesmo lavados. Por isso, no século 18, inventaram os waribashi, os palitos descartáveis. Todos os anos, 23 bilhões deles são gastos no Japão. Para atender a demanda, milhões de árvores são derrubadas. • MUDANÇA DE DENTiÇÃO: Até o século 19, a arcada dentária dos ocidentais tinha uma oclusão perfeita. Hoje, a mordida mais comum é a de trespasse horizontal - os dentes de cima se fecham em frente aos de baixo. A culpa é do garfo: até a adoção de talheres, no século 18, as pessoas precisavam cortar carnes e outras partes duras com os incisivos . • MULTIPROCESSADOR E GORDURA: O faz-tudo da cozinha contribuiupara a atual epidemia de obesidade, segundo Bee Wilson. A razão é que, quando os alimentos são divididos em pequenos pedaços, a digestão é mais eficiente. O mesmo número de calorias de um prato feito no multiprocessador engorda mais que o mesmo prato feito à mão. DO MAMUTE AO MICRO-ONDAS A jornalista britânica Bee Wilson é conhecida por sua coluna Kitchen Thinker ("pensadora da cozinha") no jornal Sunday Telegraph. Ela acaba de lançar seu terceiro livro, Consider The Fork: A History ot Haw We Caak and Eat ("Considere o Garfo: Uma História de Como Cozinhamos e Comemos", sem tradução), no qual discute a história da cozinha e seus instrumentos. Veja alguns de seus achados: 1,95••• .............................., . Altura da estátua de Ramsés 11 escavada em Tel Basta, Egito. A medida incluiu seu chapéu - a múmia do faraó indica que ele tinha um pouco mais de 1,80 m de altura. AVENTURAS NA HISTÓRIA I 9 Aos 24 anos de idade, DOM PEDRO I é coroado imperador do Brasil, no Rio de Janeiro. 1933 A LEI SECA, que proibia a produção, comércio e bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, chega ao fim, como um retumbante fracasso que ajudou o crime organizado. 1510 Com a ajuda de mercenários locais, os portugueses tomam a cidade indiana de GOA. O domínio durou 451 anos, até a região ser anexada pela índia, em 1961. 1987 A PRIMEIRA INTIFADA, protesto contra a ocupação de Israel, começa na Cisjordânia e na Faixa de Gaza depois da morte de quatro palestinos. 1927 O filme mudo Putting Pants on Philip marca a estreia da dupla de comediantes Stan Laurel e Oliver Hardy, ou "O GORDO EO MAGRO"... Sob o comando do Duque de Caxias, o exército brasileiro vence a BATALHA DO ITORORÓ, durante a Guerra do Paraguai, um dos combates que mudaram o rumo do conflito. O general Cristóvão Barcelos, hoje nome de rua no Rio de Janeiro, propõe a mudança da CAPITAL BRASILEIRA, da cidade onde vivia para o Planalto Central do país. 1918 WOODROW WILSON embarca para as conferências de paz em Versalhes depois da Primeira Guerra. Foi o primeiro presidente norte-americano no cargo a ir a Europa . Escavações confirmam a existência da CIDADE DE HERCULANO, soterrada, junto com a vizinha e menos próspera Pompeia, pelas cinzas do vulcão Vesúvio, em 79. 1098 Em MAÁRRAT AL-NUMAN, cruzados massacram 20 mil civis a caminho de Jerusalém. Sem comida, alguns soldados praticam canibalismo. Os irmãos Richard e Maurice MCDONALD abrem um restaurante especializado em hambúrgueres, depois de passar mais de dez anos vendendo cachorro-quente. O beneditino Pietro Angeleri, o papa CELESTINO V, renuncia e volta a viver como asceta e ermitão depois de cinco meses no posto. Foi canonizado em 1313. 1812 : A campanha da ; INVASÃO FRANCESA à j Rússia fracassa e tem início a retirada das tropas napoleônicas, que chegaram a invadir Moscou mas saíram derrotadas. 1973 A Associação Americana de Psiquiatria, por decisão unânime, retira a HOMOSSEXUALIDADE de sua lista de desordens psiquiátricas. 10 I AVENTURAS NA HISTÓRIA 1773 TEA PARTY, ou festa do chá, evento de protesto contra o monopólio inglês do produto, ocorre em Boston e marca o início do processo de independência dos EUA. 1793 Depois da vitória sobre os britânicos em Toulon, o oficial de artilharia corso NAPOLEÃO BONAPARTE é nomeado o mais jovem general da história francesa. 1271 KLUBAI KHAN, neto de Gêngis Khan, rebatiza seu império de Yuan, e dessa forma dá início à dinastia dos mongóis na China - que durou até o ano de 1368. DIA 16 OTeaParty em Boston: contra o monopólio britânico 1983 o último ROLLS ROYCE SILVER GOLD - o melhor carro do mundo segundo a revista Autocar - é vendido em Londres. 1995 BELÉM, na Cisjordânia, suposta cidade de nascimento de Jesus, hoje com 25 mil habitantes, passa do controle israelense ao palestino. 1983 A TAÇA JULES RIMET, de posse definitiva do Brasil desde a Copa do México, em 1970, é roubada da sede da CBF. 1888 Sofrendo de depressão, o pintor holandês VINCENT VAN GOGH corta o lóbulo da orelha direita depois de brigar com o colega Gauguin. 1871 Estreia da ópera AíDA, do italiano Giuseppe Verdi, no Cairo, capital do Egito - sem nenhuma relação com a abertura do Canal de Suez, como afirma o senso comum. 1988 A mando do fazendeiro Darly Alves da Silva, CHICO MENDES, líder seringueiro e ecologista do Acre, é assassinado em sua casa, em Xapuri. 53 CLÓVIS I, rei dos francos, é batizado na fé católica em Reims, na atual França, por São Remígio - e com isso o cristianismo se espalha entre os habitantes de seu reino. A última reunião dos INCONFIDENTES MINEIROS ocorre na casa do tenente- coronel Francisco de Paula Freire, em Vila Rica, atual Ouro Preto, Minas Gerais. 1932 O Radio City Music Hall, um ícone cultural norte-americano, é inaugurado em Nova York. A bailarina MARTHA GRAHAM atuou na abertura da casa. 1895 O físico alemão WILHELM RONTGEN publica estudo sobre sua descoberta de uma nova forma de radiação, que mais tarde seria conhecida como raio x. 1937 O Estado Livre Irlandês é substituído por um novo estado chamado IRLANDA após a adoção de sua nova Constituição. Em 1949, tornou-se uma república soberana. 1978 Principal instrumento discricionário da ditadura, o AI-5, que cassou, proibiu e reprimiu os brasileiros, .deixa de vigorar. Foi o começo do fim do regime militar. 1968 A primeira lista de deputados federais cassados pelo Ato Institucional 5 da ditadura, o tristemente célebre AI-5, é publicada pelo Diário Oficial da União. AVENTURAS NA HISTÓRIA I 11 AlMANAQUE Como fazíamos sem... TEMPEROS NA PRÉ-HISTÓRIA, A FOME ERA O ÚNICO MOLHO Carne crua ou assada sem tempero, com frutas e No caso do sal, o tempero não era usado apenas peloraízes como complemento, foi a alimentação gosto. Era elemento vital da civilização. O surgimento dabásica do ser humano por milênios, desde suas agricultura está ligado ao seu uso. A dieta dos caçadores- origens na savana africana. Povos nômades ou pastoris coletores tem sal suficiente para sustentar a nutrição hu- ainda vivem assim: os massai da África se alimentam mana, por meio da carne e do sangue de animais. Quando de carne crua, sangue e leite. Os esquimós comem car- a agricultura foiinventada, há cerca de 10mil anos, a base ne, gordura, sangue e entranhas de foca, baleia, morsa da dieta mudou para grãos e vegetais. Isso permitiu o e peixes, cozidos, crus ou congelados. Para esses dois surgimento das cidades, mas, sem sal adicionado aos ali- povos, a fome é o único tempero. mentos, as pessoas podem sofrer de hiponatremia, que O tédio dessas dietas foi quebrado antes da invenção causa inchaço, cansaço e até morte por edema cerebral. O da agricultura. Sítios arqueológicos de 6200 anos _. mineral se tornou o tempero universal. atrás, na Alemanha e Dinamar- ~ .' a Há 4 mil anos, os temperos básicos ga- ca, indicam que caçadores-cole- íRICO nharam a companhia das especiarias. tores da região usavam a erva- ..,.~-- , , Barcos e caravanas passaram a cir- alheira, um parente da mostarda, - ,:-.,<. \~1.;f{.~.t'lI ; :ular comvegetais secosvindos da que tem um sabor entre o alho e a . L. ;~~' \'\;~ ~{ India por meio de comerciantes pimenta - a agricultura {~ !.\!\ t, árabes, que caíram no gosto já existia em regiões dis- ~' ~ n 'i!,tJ.; dos egípcios e de povos do tantes, mas esses povos .~ Oriente Médio e da Euro- ainda estavam no Neolíti- pa.A elasseatribuíam pro- co, o que indica que o uso , priedades medicinais ou do tempero era muito an- ' mágicas. Com a queda de terior. Na América pré- Roma, o comércio foi inter- colombiana, aste- rompido até o século 9, quando cas, maias e incas os árabes reestabeleceram as usavam sal, bau- rotas. Na Idade Média,a lou- nilha e plantas cura por especiarias era tão locais, como as grande que, em 1393,meio pimentas. Os quilodenoz-moscadacustava índios brasi- o equivalente ao preço de ~ leiros tinham 7 bois na Inglaterra. Perce-z ~ pimentas e er- bendo o potencial de lucro, o ~ vas, mas não portugueses e espanhóis se '",~ conheciam o sal. lançaram aomar atrás derotas ~ ' a: E essa diferença tem diretas coma India - emuda-~ ;;) um significado importante. ram a história para sempre. AVENTURAS NA HISTORIA 113 mm:mtmJ) Arte & História A PEQUENA SEREIA ESCULTURA DINAMARQUESA VIROU ALVO DE PROTESTOS Oempresário Carl Jacobsen,herdeiro da cervejaria Carl-sberg, ficou tão entusiasma- do com o balé do Teatro Real de Co- penhague baseado no conto de fadas A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, que resolveu dar forma à obra. Em 1909, convocou o escultor Edvard Eriksen e encomendou uma estátua de bronze, em tamanho na- tural. A intenção de jacobsen, desde sempre, foi doar a obra a cidade. TEXTO Wagner Gutierrez Barreira Se a escultura não é exatamente um primor como obra de arte, calou fundo n9 nacionalismo dinamar- quês. É o ponto turístico mais visi- tado da capital desde sua inaugura- ção, em agosto de 1913,e adorada pela população - é vista por mais de 1milhão de pessoas por ano. Só que nem todo mundo gosta dela ..Em várias ocasiões, a escultura foi Vítima de vândalos (veja abaixo). Ela já teve parte do braço serrada e foi decapitada pelo menos duas vezes - uma terceira tentativa deixou uma "cicatriz" de 13 em de profundidade em seu pescoço. A sereia sobreviveu até a uma explosão, que a arrancou das pedras usadas como pedestal. Foi encontrada por mergulhadores no fundo do mar. O governo cogitou retirá-Ia da baía e levá-Ia a um museu em 2006, mas nunca cumpriu a pro- messa. Não faria sentido mesmo ti- rar a sereia de seu habitat. 14 I AVENTURAS NA HISTORIA ALMANAQUE Lista Os maiores exploradores desastrados MEIO AMBIENTE, ESTUPIDEZ OU AZAR COSTUMAM DETONAR AS BOAS INTENÇÕES --- ... -- . ., ; ><' .: ,'" '.,,~.. ,,,,, / : r I t, t, 16 I AVENTURAS NA HISTÓRIA 1ROBERT FALCON SCOTT (1868-1912)Com quatro parceiros, tentou ser o primeiro a chegar ao Polo Sul. Encontrou no lugar umâ bandeira da Noruega. Arrasados, morreram um a um na volta. A equipe de apoio interpretou de forma ambígua as ordens para o resgate. o SALOMON ANDREE (1854-1897) ~ Em 1897, o sueco decolou do arquipélago de Svalbard para cruzar o Polo Norte num balão de hidrogênio. Após dois dias de voo, caiu no mar congelado. Andree deu meia-volta e morreu em uma ilha do próprio arquipélago. 3JAMES COOK (1728-1779)Descobridor da Oceania e Polinésia, se desentendeu com os havaianos, que o haviam recebido como um deus, por causa de alguns botes roubados. Ordenou o sequestro do rei local para pedir os barcos de volta. Foi liquidado na praia. 4 FERNÃO DE MAGALHÃES (1480-1521)Famoso por ter dado a primeira volta ao mundo, não viveu para presenciar o fim da viagem. No meio do caminho, marcado por motins e mau tempo, aceitou a proposta de um rajá das Filipinas para atacar seus inimigos. Morreu no combate. 5DAVID LlVINGSTONE (1813-1873)Tentou encontrar a nascente do Rio Nilo. Abandonado, foi parar num zoológico humano, exibindo-se em troca de comida. Após o famoso encontro com Henry Stanley ("Dr. Livingstone, eu presumo"), I mergulhou de volta na selva e sumiu. / .....j 6ROBERT BURKE (1820-1861)Sem experiência em exploração, saiu de Melbourne rumo ao norte da Austrália, com 19 homens, um gongo chinês e uma mesa de escritório. No primeiro dia, cobriram 6,5 km. Impaciente, separou a equipe e morreu de fome na volta. ~ PERCY FAWCETT (1867-1925) • Em 1925, entrou pela Floresta Amazônica à procura da "cidade perdida de Z" e nunca mais foi visto. Orlando Villas-Bôas disse que os índios kalapalo mataram Fawcett porque ele apareceu sem presentes - uma grave ofensa. 8PONCE DE LEON (1474-1521)O espanhol queria mais tempo para continuar sua carreira de massacres contra os nativos. Por um erro de tradução, acreditou que existia uma "fonte da juventude" na Flórida - na busca, foi morto por uma flecha envenenada. 9CHARLES BEDAUX (1886-1944)Em 1934, o milionário organizou uma expedição pela Colúmbia Britânica, no Canadá, levando a esposa, a amante, uma condessa italiana e rios de champanhe. Quando a festiva exploração fracassou, eles comemoraram com mais champanhe. -.li~OHANNO, o NAVEGADOR (SÉCULO 5 A.C.) ~ O rei cartaginês Hanno explorou a costa da África até o Senegal, onde encontrou "pessoas muito peludas". Os supostos "nativos" atacaram a tripulação. Eram os chamados gorillae, gorilas - que eles achavam ser gente. i i I Bandeiras & Brasões SUÁSTICA Como amuleto de boa sorte ou elemento decorativo, o símbolo já era usado na pré-história, e apareceu em culturas do mundo todo: entre celtas, germânicos, gregos e romanos, povos budistas e hindus, e na América pré-colombiana. A versão hindu deu origem ao nome, no século 19. Antes era conhecida pelo termo grego gammadion. Em sânscrito, svastika significa algo como "amuleto do bem-estar". Cada ponta representa um purushartha, um aspecto de uma vida bem vivida: prosperidade, prazer, religião e iluminação. A orientação, esquerda ou direita, não faz diferença. No Oriente, a suástica não tem qualquer conotação nazista. Quando os nazistas se apropriaram do símbolo, em 1933, ele era bastante popular no Ocidente, usado em medalhas, insígnias, decoração e logotipos de empresas. Hitler dizia que ela representava os arianos - e isso tem a ver com a fndia. Os arianos foram um povo saído do Cáucaso que colonizou a Europa e a Ásia há 6 mil anos - na fndia, fundaram a civilização de Harappa e o hinduísmo védico, já usando suásticas. Hitler achava que eram os brancos originais e mais perfeitos, e que sua genética foi integralmente preservada entre os nórdicos, o que não tem nenhum fundamento científico. ~ Fatos e Versões ........................................................................................... l..~~~?~.~~~..~.~!~.~.~~.~.~~~.~~~..~~~.~~~~~.~.~.~~.'.~~...l EM BUSCA DO OURO DOS TEMPLÁRIOS Pouco antes de o líder dos cavaleiros templários Jacques de Molay morrer na fogueira, em 1314, teria jogado uma praga no rei da França, no papa e no responsável pelo processo que acabou com a Ordem - os culpados pelo massacre de seu grupo. Todos morreriam dentro de um ano. Foi o que aconteceu. lacobus, da espanhola Matilde Asensi, trata da investigação dos assassinatos levada a cabo pelo médico Galcerán de Born, membro da Ordem dos Hospitalários, a pedido do papa João XXII. A trama do romance leva Born, seu filho e uma bruxa judia a trilhar o Caminho de Santiago em busca dos esconderijos do ouro da ordem dissolvida - que estaria se reorganizando em Portugal. Sim, é um livro de detetive medieval, que fora alguns exageros da trama mantém um bom rigor histórico. AVENTURAS NA HISTORIA 117 ~ linha do Tempo , A IMPERIO BRITANICO NO MAIOR IMPÉRIO DA HISTÓRIA, O SOL NUNCA SE PÕE Maiorimpério da História, o Reino Unido chegoua dominar 25% da área da Terra em 1922, tendoum em cada quatro habitantes do mundo como súdito. "O Sol nunca se põe no Império Britânico", frase atribuída a diversos autores do século 19, não era exagero: onde quer que fosse dia no planeta, havia ao menos uma colônia. O Império Britânico não era insólito apenas no tamanho. Era, afinal, uma democracia, na qual as conquis- tas imperiais dependiam da aprovação do Parlamento. Para vender a ideia do imperialismo, eles não podiam soar como conquistadores vulgares. Assim, o Império consi- derava a si mesmo como uma entidade benevolente e, aos britânicos, civilizadores que levavam a ciência, indústria e, não sem ironia, democracia aos povos atrasados. Foi o que Rudyard Kiplingchamou em 1899 de "fardo do homem branco" - carregar nas costas as populações colonizadas -, expressão que entrou para a história como uma obra- prima não só do racismo como também da hipocrisia. I J IRAQUE (1932)* ~ História Maluca TERRA DE DRAGÕES Quando os europeus partiram em direção ao resto do mundo, toda a cartografia teve de ser revista. No começo do século 16, surgiram mapas que buscavam descrever o mundo conhecido - e também o desconhecido. No globo de Hunt-Lenox, de 1510, o primeiro a conter os contornos da América, aparece a frase HIC SVNT DRACONES- "aqui há dragões" em latim - no leste da Ásia. A frase entrou no imaginário popular como metáfora para o desconhecido . .Os mapas da Renascença eram povoados por uma multidão de criaturas fantásticas: dragões, serpentes marinhas, hidras e demônios. O próprio Cristóvão Colombo afirmou ter visto sereias na América, em 1493. Mesmo quando a criatura era real, o cartógrafo costumava fantasiar. O alemão Martin Weidseemüller, que batizou o Novo Mundo de "América", desenhou um elefante na Noruega e escreveu embaixo "morsa". Outra razão para os monstros era o fato de se viver na Renascença. A moda era copiar o mundo greco- romano, e um dos clássicos da época era História Natural, de Plínio, o Velho, que descreve híbridos de humanos e animais como seres de regiões remotas. Desenhá-Ios era uma forma de demonstrar erudição. ~~O~qu~e~é~is~t~o~? _ DESCUBRA O QUE É O ESTRANHO OBJETO DA FOTO a) Maquetes de tanque para treinamento b) Cortadores de grama c) Minitratores d) Brinquedos alemães da Segunda Guerra e) Bomba robô nazista 20 I AVENTURAS NA HISTÓRIA 'sepeIOJlUOOOlOWaJssumbatu WeljU!l anb SOJlnOuraia SOO!Ulll!Jq a S00!l9!flOS 'O!P?Jiod SOpelOJlUOO a saiojau sorapoui uranssod w9qwel sagwale SO 'vv6~ wa 'e!pUBWJONeu anbJeqwasap o sçda soparudeo SaJeldwexa urauasqo SOO!uglPqsopapos 'oio; eN 'sopspíos no SO!P9Jd 'ssnbuei J!nJlSap amd 'w 099 ap oqao wn ap o!aw iod )jO!lSÁO! ioo SepelOJlUOOunua a SOfl!SOldxa ap fi)j 09 weflefiaJJeo ljle!l08 seqwoq se 'elS!ZeU eljUewal'v' elad sepepj' 'elS!ZeU gqOJeqw08 :V1SOdS:lH InFlIght. .. . '. AUitude; t.ocaucn: - I IJI/OtYã .-I1.l 11> .50S_ OItJf., "1"111; tI~ 8u~~ CARAPAÇA A principal tática japonesa consistia em abordar, prender o navio inimigo com ganchos, pular para o convés e derrotar a tripulação no combate no corpo a corpo. Os espetos de ferro tornavam a ~ .•.,,_: manobra impossível, e a carapaça metálica dava total proteção contra flechas e balas de arcabuz CHOQUE E TERROR ----~ A careta de ferro na proa servia para bater nos navios inimigos, causando danos ao casco e atordoando a tripulação. O navio tartaruga era enviado para o meio da frota inimiga, divergindo fogo para si, enquanto os navios convencionais disparavam em segurança FOGO NAS VENTAS -- A cabeça de dragão lançava fumaça tóxica, produztda pela queima de enxofre numa fornalha na proa do navio. Isso era usado para encobrir os movimentos ou após um ataque direto, jogando a fumaça no convés do navio inimigo. Um canhão adicional podia ser posicionado na boca do dragão ~ Arqueologia do futuro NEUROMANCER LIVRO PREMIADO DEFINIU A FiCÇÃO CIENTíFICA PELAS DÉCADAS SEGUINTES Lançado em 1984, Neuromancer foi o primei-ro livro a ganhar os prêmios Nebula, Hugoe Phillip K. Dick, os três grandes da ficção científica. A obra de William Gibson, que lançou o termo "ciberespaço", pode não ter sido a primeira no gênero cyberpunk - ficções sombrias sobre as interações entre ser hu- mano e máquina -, mas definiu o estilo, com personagens marginais, falando em gírias rebuscadas, habitando ambientes decrépitos em cidades sem fim, num futuro ameaçador. Quase 30 anos depois, as aventuras do hacker Henry Case ainda parecem pertencer a um futuro distante - Gibson, sabiamente, nunca cita o ano em que se passam suas his- tórias. Upload da consciência humana para computadores, implantes artificiais com melhorias para corpo e mente, nanorrobôs letais e inteligências artificiais manipulando pessoas, tudo isso ainda parece estar no ho- rizonte da tecnologia da vida real - tanto que ainda são clichês da ficção científica. 24 I AVENTURAS NA HISTÓRIA Mesmo com essas qualidades, não deixa de haver indícios que entregam o ano em que o livro foi escrito. Como em muitas ficções dos anos 80, o Japão tornou-se a potência dominante do mundo. Ninguém ouviu falar de wi-fi: a tec- nologia é baseada em cabos. Para acessar a "internet" da história é preciso conectar um plugue ao cérebro. Mesmo com aMatrix co- nectando o mundo todo, as pessoas preferem trocar arquivos por meios físicos, as ROMs - de read-only memory, memória somente de leitura. Como o nome diz, elas não permitem gravação, são baseadas em fita magnética. Uma memória RAM - de random access me- mory, como em qualquer computador ou celular hoje em dia - é tão preciosa que aca- ba vendida no mercado negro. Se você ficou intrigado com o nome da "internet", a trilogia Matrix dos irmãos Wa- chowski presta homenagem à obra de Gib- sono Isso foi o mais perto que Hollywood chegou de adaptar sua obra. ALMANAQUE Retrotech OTURCO AUTÔMATO ENGANOU REIS E CIENTISTAS cnz:o lE lE 8 :li iil lE ;;: ti ~ Numanoite de 1770,no paláciode Schõnbrunn, em Viena,a corte austríaca se reuniu para assistir o engenheiro Wolfgang von Kempelen responder ao desafio que ele havia proposto a si mesmo no ano anterior. Após assistir a um gru- po de ilusionistas se apresentar dian- te da imperatriz Maria Tereza, ele prometeu superá-los com a maior ilusão da História. E entregou: um autômato, o que em si não era novi- dade - máquinas assim existiam desde a Grécia antiga. Mas esse era diferente. Parecia capaz de pensar - e jogar xadrez. Kempelen abriu as portas sob a mesa na qual ficava o tabuleiro, convidando todos a olha- rem através da máquina, mostrando que não havia nenhum operador nela. Então chamou os convivas a jogar uma partida. O conde Ludwig von Cobenzl aceitou o desafio - e perdeu de lavada. Após deixar a cor- te boquiaberta, Kempelen desmon- tou o autômato e o guardou. Depois de 11anos, meio a contragosto, levou o Turco para uma turnê pela Europa, na qual derrotaria até Benjamin Franklin, em Paris. O inventor mor- reu em 1804, e a máquina passou por vários outros donos e países, enfren- tando ninguém menos que Napoleão em 1809. Acabaria nos EUA, destru- ída num incêndio, em 1854. A máquina mais famosa de seu tempo foi denunciada por Edgar Allan Poe e muitos outros como uma fraude operada por um ser humano. Mas ninguém conseguia explicar como: não havia espaço entre as en- grenagens' nem como enxergar o tabuleiro acima. O ilusionista francês Jean Eugêne Robert-Houdin dizia que havia um polonês sem pernas na máq~ina. Outros favoritos dos detra- tores eram crianças e anões. O segredo foi revelado pelo filho do último proprietário, o médico Si- Ias Weir Mitchell. Um enxadrista particularmente talentoso, de tama- nho regular, era escondido dentro da máquina. Um assento móvel era usa- do para pular de uma parte para ou- tra da mesa quando ela era aberta no começo da apresentação. o TRUQUE DA MÁQUINA AVENTURAS NA HISTORIA I 25 eu Eo E 'fAbril MíOIA MENTES FAMINTAS J SUPERINTERESSANTE É FEITA PARA ENTENDER O MUNDO ALÉM DO ÓBVIO. l É A REVISTA ESSENOIAL PARA OABEÇAS QUE TÊM FOME DE OONHEOIMENTO. · i CAPA VERDADEIRA..~ HISTORIADE ISRAEL AO LONGO DE 2,4 MIL ANOS, A HUMANIDADE ACREDITOU QUE A SAGA DO POVO ESCOLHIDO ACONTECEU TAL COMO ESTÁ NA BíBLIA. AGORA, DEPOIS DE DÉCADAS INVESTIGANDO CADA LINHA DOS TEXTOS SAGRADOS, A ARQUEOLOGIA CHEGOU A NOVAS CONCLUSÕES SOBRE OS HEBREUS. MAIS REALISTAS, MAS NÃO MENOS FASCINANTES TEXTO Tiago Cordeiro ILUSTRAÇÕES Bruno Algarve 28 I AVENTURAS NA HISTÓRIA! •••••••. =:3 •••••••.,. Hoje,para os arqueólo-gos, as figuras sagra-das mais importantesda Bíblia - Abraão, Moisés, Davi, Salomão e Je- sus - foram relega das ao terreno da ficção. Até bem pouco tempo, o Tanakh (oVelho Testamento), escri- to no século 6 a.C., pautava as pes- quisas arqueológicas no Oriente Médio. Para usar uma expressão em voga, os pesquisadores tinham uma pá em uma das mãos e a Bíblia na outra - os textos sagrados pautavam onde se deveria trabalhar. Só há al- gumas décadas uma nova geração de pesquisadores inverteu a equa- ção. Agora, o fruto das descobertas é confrontado com os textos antigos em busca de confirmação das evi- dências descobertas. Parece pouco, mas é uma revolução. Os arqueólogos clássicos procu- ravam evidências concretas dos fatos narrados nos livros sagrados para que os objetos encontrados compro- vassem sua veracidade. A religião, claro, limitava o alcance dos traba- lhos. Por exemplo: ao ganhar acesso à antiga cidade assíria de Urartu, no século 19, especialistas ocidentais estavam muito mais interessados em encontrar a Arca de Noé do que em entender o passado. (Datam desse mesmo período expedições sérias em Somente a partir dos anos 80 a chamada arqueologia bíblica come- çou a cair em descrédito. "O objetivo não é comprovar à força que a Bíblia está certa, nem acabar com a veraci- dade dos relatos contidos ali. Édife- renciar o literário do factual", diz Israel Finkelstein, da Universidade de Tel-Aviv, um dos mais influentes arqueólogos da atualidade. Antes, os pesquisadores tinham um roteiro pré-definido. Javé esco- lheu um homem da Mesopotâmia para dar origem a seu povo eleito. Orientado por Deus, Abraão seguiu até Canaã. Seus descendentes foram para o Egito, onde viraram escra- vos. Até que Moisés conduziu os hebreus através do mar. Os escolhi- dos vagaram por 40 anos no deser- to, até entrar em Canaã e protago- nizar uma série de conquistas mili- tares. Tempos depois, Davi se tor- nou rei e foi sucedido por seu filho, Salomão, que construiu o Templo de Jerusalém para abrigar a Arca da Aliança, que guardava as tábuas dos Dez Mandamentos entregues por Deus a Moisés. Os primeiros cinco livros da Bíblia judaica, o Pen- tateuco, descrevem essa trajetória. O relato não se furta a citar montes, cidades, reis, profetas, inimigos, genealogias. Agora, deste novo mo- mento das pesquisas, está surgindo AVENTURAS NA HlSTÓRIA I 29 @ ~ M 'ifi '- " li;I I • r o ÊXODO NÃO ACONTECEU I ~ Em 2010, o físico Carl Drews, do Cen- tro Nacional de Pesquisas Atmosfé- ricas dos EUA, recriou em laborató- rio a passagem de Moisés pelo Mar Vermelho. Confirmou que ventos em velocidade de 100 km/h, soprando por 12 horas em um ponto a leste do delta do Rio Nilo, poderiam abrir uma brecha na água e permitir a pas- sagem de pessoas. "A travessia foi obra de Deus. Apenas simulei o even- to para demonstrar como Ele atuou", diz. "Cientistas religiosos, como eu, acreditam que, ao pesquisar omundo natural, estudam a obra do Senhor." Sete anos antes, o físico britânico Colin Humphreys, da Universidade de Cambridge, publicou um livro, Os Milagres doÊxodo, estabelecendo uma série de relações de causa e efeito para explicar as dez pragas lançadas por [avé contra o faraó: a proliferação de algas teria deixado o NUo verme- lho com sangue dos peixes e afugen- tado sapos e rãs, que apareceram mortos nas cidades e atraíram mos- quitos - que, por sua vez, teriam pro- vocado a morte do gado e transmitido doenças que deixavam chagas nas pessoas. Chuvas de granizo umede- ceram o solo úmido e atraíram gafa- nhotos. Uma tempestade de areia, comum no Egito, seria a causadora dos três dias de escuridão. E os pri- mogênitos, que tinham a primazia de se alimentar antes dos irmãos, teriam morrido ao ingerir cereais contami- nados por fezes de gafanhotos. Acontece que pesquisas desse gê- nero desconsideram que os arquivos egípcios são bem organizados e co- nhecidos. E não há registro de que os hebreus tenham vivido lá, algo que, pela cronologia baseada na Bíblia, teria ocorrido no século 13 a.C. Es- queça a cena de Charlton Heston acorrentado e carregando pedras pesadas, em OsDez Mandamentos. Nem mesmo é possível identifi- car o faraó com o qual Moisés teria negociado a libertação - o texto bí- blico, tão pródigo em nomes, não menciona o governante envolvido em um episódio tão crucial. E é di- fícil imaginar que 600 mil refugia- dos, vagando por 40 anos, não dei- xariam vestígios arqueológicos ou registros documentais nos arquivos de civilizações vizinhas. Quanto à existência de Moisés, sabe-se apenas que era um nome co- mum no Egito. Como no caso dos patriarcas, é provável que os autores da Torá tenham recorrido a nomes facilmente reconhecíveis para cons- truir uma mitologia de fundação .•• · OS HEBREUS NÃO DERRUBARAM AS MURALHAS DE JERICÓ , ' Na Bíblia, a chegada à Terra Prome- tida não garante seu domínio. A região estava forrada de cidades- estado em constante guerra entre si, caso de jericó, Maceda e Hebron. Liderados pelo chefe militar josué, os hebreus conduzem uma série de batalhas muito rápidas e eficientes, com vitórias garantidas pela pre- sença, no campo de guerra, da Arca da Aliança. A mais impressionante acontece com a muralha de jericó: ela é derrubada pelo som de trom- betas, tocadas ininterruptamente por sete dias e sete noites. Não foi bem assim. Provavelmen- te os israelitas surgiram em Canaã, a região que hoje corresponde aos territórios de Israel e da Palestina, além de partes do Líbano, dajordâ- nia e da Síria. Eles construíram as- sentamentos rurais em vales mais altos e passaram a se diferenciar culturalmente e em termos religiosos dos povos que viviam nas planícies. "Em termos étnicos, cananitas, israelitas, moabitas, amonitas e fe- nícios eram o mesmo povo. Com o passar do tempo, eles passaram a se diferenciar culturalmente", diz o arqueólogo britânico jonathan Golden, professor da Universidade Drewe autor de Ancient Canaan and Israel: An Introduction ("Canaã An- tiga e Israel: Uma Introdução", sem tradução no Brasil). Na medida em que se diferencia- ram do povo de origem, os hebreus chegaram, sim, a dominar parte dos territórios que hoje correspondem a Israel e Palestina, mas não da forma como descrita na Bíblia. "Foi uma conquista lenta, levada a cabo por tribos que provocavam guerras re- gionais entre 1200 a.C. e 1000 a.C. Os líderes militares de gerações diferen- tes provavelmente foram reunidos sob um único nome,josué", afirma o arqueólogo Finkelstein. Quanto às muralhas de jericó, a datação ainda é muito discutida pe- los arqueólogos, mas a maioria con- corda que a cidade já estava destru- ída na década de 1560 a.C., talvez por causa de um terremoto, ou em razão de batalhas. Não foram trom- betas, de toda forma. "Outras cida- des citadas no texto bíblico também estavam desocupadas na época em que, segundo a tradição, as conquis- tas teriam ocorrido", diz Finkels- tein. Mais uma vez, nomes muito conhecidos (desta vez, de cidades antigas) são citados para reforçar uma tradição e aumentar o tamanho do feito dos hebreus. •• ESCAVAÇÕES RECENTES DEZ WCAIS BíBUCOS INVES'nGADOS NOS ÚLTIMOS ANOS ( 5.GEZER 1 1. NAHAL TUT: Escavações realizadas em 2005 apontam que o local, que posteriormente foi dominado por romanos e mamelucos, pode ter abrigado uma cidade murada judaica no século 8 a.C. - 2. TEL MEGIDDO: Abriga 26 camadas diferentes, com cidades que foram sendo construídas e destruidas de 7 mil a.C. a 586 a.C. Desde 1994, é escavada em regime bianual - os arqueólogos acreditam que a região é crucial para explicar as origens dos cananeus e dos hebreus. 3. TEL HAZOR: Investigada exaustivamente desde a fundação do Estado de Israel, abriga uma coleção de 19 documentos cuneiformes. Omais recente,encontrado em 2010, data do século 18 a.C. e descreve leis no estilo do código babilônico de Hamurabi. 4. TEL REHOV:O local de 120 mil metros quadrados é alvo de escavações desde 1997. Foram encontradas vãrias camadas de ocupação urbana, desde o século 12 a.C., e sinais de criação de abelhas e exploração de mel datando do século 10 a.C. 5. GEZER:Cidade de origem cananeia, tem 3 500 anos de existência e é constantemente Investigada por arqueólogos hã um século. Desde 2010, um grupo de americanos escava a rede subterrânea de ãguas, encontrada na década de 1900 e nunca estudada desde então. 6. KHIRBET QEIYAFA: Sitio conhecido desde os anos 1860, foi alvo de uma investigação intensa entre 2007 e 2013. A região, que fica nos arredores de Jerusalém, pode ter feito parte dos limites do reino hebreu governado por Davi. 7. TEL LACHISH: Era a segunda cjdade mais importante do território de Judã. Escavações realizadas nos anos 1990 encontraram uma rampa construida pelos assírios e ossadas de 1 500 pessoas, possível resultado do cerco que derrotou os judeus na região. 8. JERUSALéM: Desde 2006, um grupo de arqueólogos israelenses dribla a restrição para escavar o Monte do Templo. Aproveitando o descarte de terra provoCÃldo pela construção de uma mesquita, os pesquisadores jã encontraram artefatos hebreus dos séculos 7 a.C. e 8 a.C. 9. TEL ES-SAFI: Investigada entre 1996 e 2002 e de 2004 a 2008, a ãrea, ocupada desde o século 5 a.C. e desabitada em 1948, guarda sinais de ocupação filistina - pode ter sido a cidade de Gath, citada no texto biblico. Um escrito encontrado remete ao nome Golias. 10. VALE DETIMNA: A região foi batizada de Minas do Rei Salomão na décadirde 1930. Pesquisas recentes apontam que elas podem ter sido exploradas pelos edomitas, um povo viiinho aos hebreus na época do rei Davi. o REINO DE DAVI ERA BEM MODESTO Em 1993e 1994, fragmentos de uma placa escrita em aramaico para co- memorar uma vitória militar contra os hebreus foram encontrados no sítio de Tel Dan, no norte de Israel. O texto, do século 9 a.C., cita uma "Casa de Davi". Desde então, ficou estabe- lecida a existência real de um rei cha- mado Davi, que teria governado por volta do século 10 a.C. De seu filho, Salomão, não há provas. Mas pesqui- sadores concordam que ele existiu. "Não há dúvidas sobre Davi, o que reforça a tese de que deve ter tido um filho e sucessor", diz Gershon Galil, da Universidade de Haifa. Desde então, uma série de desco- bertas, algumas mais confiáveis, outras menos, parecem a caminho de solucionar a polêmica: deve ter existido, sim, um reino unificado dos hebreus. O tamanho exato do terri- tório e o poderio militar e político hebreu na época estão no centro do debate. Se existe um período da his- tória dos hebreus sobre o qual ainda há muito a esclarecer, é esse. O sítio de Khirbet Qeiyafa, a 30 km de Jerusalém, tem rendido mui- tas notícias. Entre 2008 e 2013, a região foi investigada por arqueólo- gos da Autoridade de Antiguidades de Israel e da Universidade Hebrai- ca. Um tablete, encontrado em 2008 e de tradução tão difícil que existem pelo menos três versões diferentes, seria o mais antigo texto hebreu já localizado e faria referência à vitória de Davi sobre Golias. Em julho pas- sado, foi anunciado que uma das construções do local seria um palá- cio que faria parte do reino de Davi. "Os achados comprovam que existiu um reino hebreu unificado e organi- zado, com fortalezas e centros admi- nistrativos", afirma o arqueólogo israelense Yosef Garfinkel, um dos líderes das escavações e professor da OITO PERSONALIDADES BíBLlCAS QUE POSSIVELMENTE EXISTIRAM ... Davi, rei dos hebreus Salomão, rei dos fiebreus Ezequias, rei de Judã Josias, rei de Judã J Jeremlas, profeta de Judã Jesus, profeta judeu Pedro, seguidor de Jesus paulo, seguidor de Jesus E OITO PERSONAGENS 1 QUE PROVAVELMENTE SÃO FICTíCIOS Noé, construtor aa arca Abraão, patriarca I' Isaac, patriarca Ismael, filho de Abraão i Jacó, patriarca \ Moisés, lider dos hebreus Josué, líder militar dos hebreus Levi, fundador da tribo dos levitas j - ]; "- " Universidade Hebraica. "Ainda não foi sequer estabelecido se Khirbet Qeiyafa é uma antiga cidade hebreia ou cananeia", contrapõe Finkelstein. Possivelmente existiu um reino, ainda que pouco expressivo. Jerusa- lém, que - diz a tradição - Davi transformou em capital, não tinha mais do que 2mil habitantes. Os en- frentamentos com os vizinhos eram recorrentes - tese reforçada pela localização nos arredores de Jerusa- lém, há três anos, de restos de um muro de 70 m de comprimento e 6 m de altura da segunda metade do sé- culo 10 a.C. (época em que, segundo a Bíblia, Salomão coordenou a cons- trução de um muro ao redor da ca- pital). "É possível que o reino tenha durado pouco, tal como aconteceu no século 8 a.C. com os arameus. É um padrão que se repete na região. Povos menores eram pressionados por invasores egípcios e assírios", diz Gershon Galil. É certo que por volta de 930 a.C. os hebreus estavam divididos em dois reinos: Israel, ao norte, e judâ, ao sul, tendo Jerusalém como capital. Quando os assírios dominaram Is- rael, em 720 a.C., o povo do norte se dispersou - seu destino é um misté- rio. Levas de migrantes em direção a Judá fizeram com que a população de Jerusalém fosse multiplicada por dez em 50 anos. A partir de então, o reino de Judá prosperou. Portões de cida- des muradas encontrados em Gezer, Megiddo e Tel Hazor, indicam que havia um padrão arquitetônico na formação de posições militares. O mesmo vale para o templo encontra- do nos anos 1980 em 'Ain Dara, Síria, que tem um desenho semelhante à descrição bíblica para o primeiro Templo de Jerusalém. Construído ou não por Salomão, é bem possível que esse primeiro templo tenha existido. OS REIS DE JUDÁ ESTABELECERAM O MONOTEíSMO Se a era dos patriarcas foi deixada no terreno da mitologia e o período do rei Davi é motivo de polêmicas acirradas, na etapa seguinte, que se concentra no reino de Judá entre os séculos 8 e 6 a.C., os fatos estão mais bem estabelecidos. Sabe-se que a ocupação babilônica ocorreu, eque personagens importantes descritos na Bíblia existiram. Eles são citados em documentos oficiais de reinos vizinhos ou em registros judaicos externos ao Antigo Testamento. O rei Acabe, de Israel, por exem- plo, aparece em documentos do rei da Assíria Shalmaneser IH. Os as- sírios também registraram a traje- tória de Oseias, que chegou ao trono de Israel matando o rei Peca e, der- rotado pelos vizinhos, foi obrigado a pagar tributos ao rei Tilgath -Pile- ser IH. Outro governante israelita, Omri, é citado em documentos mo- abitas. Já o rei de Judá Jeconias está nos arquivos da Babilônia. E o es- criba Baruque ben Neriah, para quem o profeta Jeremias ditava seus textos durante o exílio, teve a exis- tência confirmada por dois docu- mentos judaicos diferentes, encon- trados em escavações de 1975e 1996. O rei Iosias, de Judá, também existiu. Foi fundamental para a con- solidação da religião monoteísta, ao promover uma reforma religiosa e expulsar imagens e templos de ou- tros deuses derivados da fé cananeia, que ainda estava presente no imagi- nário judaico - caso de El, Baal e Asherah. O trecho do Pentateuco que narra a desobediência diante de Moi- sés, quando o povo hebreu constrói um bezerro de ouro (ligado a Baal) e é punido, foi elaborado nessa época. "A própria Bíblia cita casos em que o povo retoma a prática do poli- teísmo", diz o filósofo e historiador de religiões francês Frédéric Lenoir, autor de Deus: Sua História na Epo- peia Humana. "Os judeus não inven- taram o monoteísmo. No século 14 a.C., ainda que num período curto de tempo, o faraó Aquenáton estabe- leceu uma religião com deus único. E a consolidação do monoteísmo ju- daico é contemporâneaao surgimen- to do zoroastrismo na Pérsia." OS ÚLTIMOS DIAS DE JESUS NÃO FORAM COMO NA BÍBLIA Para os cristãos, todos os relatos do Antigo Testamento funcionam como um prefácio para que o filho de Deus em pessoa venha à Terra para redi- mir a humanidade ao morrer em uma cruz e ressuscitar depois de três dias. A busca por evidências sobre a existência do profeta judeu que inspiraria a fundação do cris- tianismo levou a uma vasta coleção de dados que confirmam parte dos relatos dos Evangelhos e, de forma indireta, se acumulam em quanti- dade suficiente para a historicidade de Jesus ser aceita. Um barco encontrado no Mar da Galileia em 1985, por exemplo, é co- erente com a descrição encontrada nos Evangelhos, assim como uma casa de Cafarnaum, do século 1a.C, que poderia ter sido habitada por profetas como ele. E várias persona- lidades romanas com cargos admi- nistrativos no território israelense já ganharam provas concretas que vão além dos textos da Bíblia e dos his- toriadores romanos: a tumba do rei da Judeia Herodes, o Grande, o os- suário do sumo-sacerdote Caifás e uma inscrição mencionando o gover- nador Pôncio Pilatos vieram à tona respectivamente em 2007, 1990 e 1961. Em setembro, arqueólogos da Universidade Reading localizaram uma cidade que acreditam ser Dal- manuta, para onde Jesus seguiu, de acordo com o texto bíblico, depois de multiplicar peixes e pão e alimentar 4 mil seguidores. A cidade fica perto de Migdal, considerada a terra natal de Maria Madalena. Como aponta o escritor Reza As- lan, autor do recém-lançado Zealot: The Life and Times ofJesus of Nazare- th ("Zelote: A Vida e a Época de Je- sus de Nazaré, com edição brasileira prevista para o início de 2014), é bem provável que Jesus tenha sido ape- nas um profeta, e nem o mais famo- so em sua época, ainda que relatos sobre sua vida não condigam com o que a história e a arqueologia con- cluíram sobre o período. O motivo para Jesus nascer em Belém, segundo os Evangelhos, foi um recenseamento realizado pelos romanos - mas não existe nenhum documento indicando que tal ordem foi dada. Assim como não se tem registro do comando de Herodes para matar todos os primogênitos da região. O costume a que Pôncio Pilatos se refere no texto bíblico, de libertar um preso por ocasião da Páscoa, não existia. "Assim como a Torá, o Novo Testamento segue a tradição de construir mitos funda- dores a partir de nomes reais", afir- • ma o historiador Ron Hendel. "O texto bíblico tem centenas de autores, e ainda assim é tão coeso e fascinante que se tornou capaz de difundir uma prática religiosa tão estranha para a Antiguidade quan- to o monoteísmo", afirma o historia- dor americano Richard Friedman, professor da Universidade da Cali- fórnia em São Diego. "À parte qual- quer discussão sobre sua historici- dade, a própria existência de um livro como a Bíblia pode ser consi- derada um milagre". !llll LIVROS A Blblla Não 71nhaRazão, Israel Flnkelsteln, Neli Ascher SlIberman, Girafa, 2003 71!eRise of Anelent Israel, Wllliam Dever, Adam Zerlal, Norman Gottwald, Israel Flnkelstaln, P.Kyla MaCarlar Jr, Bruca Haipam, Hershel Shanks, Bibllcal Arc~aeology Soclety, 2003 Who Were the Anelent Israelites and W/1ere Dld TlWy Come From?, WlIllam G. Dever, Wm. B. Eerdmans Publlshlng, 2006 Arqueologia na TelTll da Blblla, Amlhal Mazer, Paullnas, 2003 Excavatlng ;/esus, John Domlnic Crossan e Jonathan Reed, Harper San Francisco, 2002 Abraão - Uma Jomal/;! ao Coração rIJI TrOs Religiões, aruce Feller, Sextante, 2003 TODOS CONTRA OS~ Sardinha, um ex-professor formado em Direito e Teologia, não gostou da maneira como os religiosos purgavam os pecados. "Tais exercícios, ainda que sejam santos e virtuosos e ordenados para mortificar a carne e quebrar a soberba, todavia são mais meritórios se feitos em segredo", es- creveu ao chefe de Nóbrega, Simão Rodri- gues de Azevedo, líder da Companhia de Jesus em Portugal. O curioso é que Nôbre- ga foi o primeiro a defender que Salvador tivesse um bispo, preocupado com o com- portamento do rebanho na cidade recém- fundada. O veto aos açoites públicos, po- rém, foi só a primeira de uma série de de- savenças em que os jesuítas se envolveram no Brasil - e a lista só cresceu nos dois primeiros séculos do Brasil colônia. •• A COMPANHIA DE JESUS ARRUMOU ENCRENCA COM POLÍTICOS, MILITARES E ATÉ COM O PRIMEIRO BISPO NO BRASIL NA MISSÃO DE CATEQUIZAR OS íNDIOS TEXTOMarcus Lopes ILUSTRAÇÕESRodrigo Idalino Nem bem desembarcou na Bahia,o primeiro bispo no Brasil, domPero Fernandes Sardínha.tra-tou logo de mostrar quem man- dava nas almas do lugar. Seu primeiro alvo foram os jesuítas, que chegaram ao Brasil junto com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, em abril de 1549. Sardinha ficou estarrecido com uma prática dos reli- giosos da Companhia de Jesus: fIagelações públicas, parte de um processo de "exercí- cios espirituais" idealizado pelo fundador da ordem, Inácio de Loyola. Liderados por Manoel da Nóbrega, os jesuítas saíam à noi- te pelas ruas de Salvador em procissão, submetendo-se a açoites - e convidando os moradores a imitá-los. "Inferno para todos que estão em pecado mortal", bradavam. AVENTURAS NA HISTÓRIA I 39 t· ! i I t i TERRA BRASILlS 40 I AVENTURAS NA HISTÓRIA Conflitos entre religiosos e governantes eram comuns na colônia. O uso de índios como escravos dividia as opiniões Sardinha havia sido professor do próprio lnácio de Loyola, por isso conhecia bem a ortodoxia jesuítica. E não gostava dela. No curto tempo em que passou à frente da dio- cese de Salvador, tratou de podar o poder da turma de Nóbrega. Proibiu, por exemplo, que pregassem aos índios em tupi - um duro golpe na ordem, que se empenhava justa- mente em aprender a língua dos indígenas e adaptar o culto católico a eles. O bispo im- plicou até com o corte de cabelo das crianças, que para ele "se pareciam com freiras". Fi- nalmente, vetou aos jesuítas que frequen- 'tassem as capelas que h'aviam construído nas aldeias, proibiu que as confissões con- tassem com intérpretes e impediu que os índios fossem à missa nas igrejas de Salva- dor. Em resumo, ele acabou com o trabalho dos jesuítas. "Em tese, o confronto eclodiu porque Sardinha era contrário à catequiza- ção dos indígenas", escreveu Eduardo Bue- no em seu livro A Cruz, a Coroa e a Espada. O raciocínio do bispo Sardinha seria um divisor de águas entre os colonizadores e os jesuítas - para sempre. A questão dos índios sempre teve consequências no dia a dia da colônia, onde conflitos entre religiosos e po- derosos eram comuns. "As disputas entre jesuítas e governantes, e com as pessoas li- gadas ao tráfico de indígenas, eram constan- tes", afirma o padre jesuíta Cesar Augusto dos Santos, mestre em História Social pela PUC-SP e autor do livro O Colégio de Pirati- ninga. "Os jesuítas lutavam para que o indí- gena fosse respeitado como ser humano, como filho de Deus, e as disputas eram for- tíssimas." A disputa, que começou como uma discussão teológica, teria efeitos terríveis. O bispo Sardinha, como se sabe, entrou para a história do Brasil ao supostamente ser devorado por indígenas quando o navio que o levava de volta à Europa naufragou na costa da atual Paraíba, em 1556. O es- critor Oswald de Andrade usou o caso em seu Manifesto Antropófago, de 1928. O bispo morreu, mas os inimigos dos jesuítas se multiplicaram em Pindorama. SÃO PAULO Para se livrar da tutela de Sardinha, an- tes que ele virasse comida de canibais, Nó- brega seguiu Tomé de Souza em visita às capitanias do sul e acabou por se estabelecer em São Vicente. Na vila já vivia o jesuíta Leonardo Nunes, o Abarêbebê, ou padre voador, pela velocidade com que andava pela região. Quando soube que, subindo a Serra do Mar, havia um povoamento com brancos e índios liderados pelo português João Ramalho,Nóbrega viu a chance de encontrar um local para catequizar os ín- dios longe da ingerência dos poderosos" Foi o mote para a fundação do colégio que daria origem à cidade de São Paulo, em 1554. Nóbrega sabia que precisava da ajuda de Ramalho para se estabelecer no planalto, mas em pouco tempo a relação entre os dois degringolou. O português não era casado com a índia Bartira e os brancos e mame- lucos não gostavam dos valores dos religio- sos. Quase todas as relações econômicas passavam pelo aprisionamento e escravi- zação de índios de outras etnias - devido à pobreza e ao isolamento da vila, em pouco tempo as bandeiras se transformaram na única riqueza para seus habitantes. •• que vem de uma forma de jogo por eles praticado desde a Idade Média", diz o historiador Elias Feitosa. "No entanto, não é possível afirmar que foi a partir daí que o futebol se disseminou no Brasil. Assim sendo, a versão mais aceita continua sendo a de que ele chegou com Charles Miller." Aos jesuítas também é creditado a introdução do teatro no Brasil. "Para evangelizar e catequizar os indígenas, o padre José de Anchieta trouxe o teatro e escreveu as primeiras peças brasileiras", diz o jesuíta César Augusto dos Santos, postulador da causa de canonização de Anchieta, cujo processo está em análise no Vaticano. PADRES E PAIXÃO NACIONAL Muito ligados à educação desde os tempos coloniais, os jesuítas podem ter dado urna contribuição fundamental para uma paixão brasileira: o futebol. Muitos antes de Charles Miller, o introdutor do futebol no Brasil na última década do século 19, há registros de que a bola já rolava em colégios jesuítas como recreação dos padres e alunos. O padre César Augusto dos Santos conta que, algum tempo após os jesuítas retomarem ao Brasil, beneficiadas pela queda da reforma pombalina, fundaram o Colégio São Luiz, em Itu, no interior de São Paulo, i depois transferido para a capital paulista. "Foi nesse colégio, em Itu, onde se realizou pela primeira vez no Brasil uma partida de futebol, feita, evidentemente, entre alunos", afirma o padre César. A versão é confirmada pelo historiador José Moraes dos Santos no livro Visão do Jogo - Primórdios do Futebol no Brasil. Ele relata que, por volta de 1873, o padre José Mantero, professor do São Luiz, teria apresentado a bola de futebol aos estudantes na hora do recreio. Em Nova Friburgo (RJ), o esporte também deu seus primeiros passos nas mãos dos religiosos. "Os jesuítas italianos que ali se estabeleceram, em 1886, já conheciam o calcio, que é como os italianos chamam o futebol, AVENTURAS NA HISTÓRIA I 41 Em 1640, autoridades de São Paulo expulsaram os jesuítas, fundadores da cidade. Eles só voltaram dez anos depois Os conflitos entre religiosos e a popula- ção local chegavam às vias de fato resultan- do, em diversas ocasiões, na expulsão dos jesuítas do território paulista. Em 1633, um grupo liderado pelo bandeirante Antonio Raposo Tavares tomou de assalto a aldeia de Barueri e expulsou os padres. "Lança- ram fora os móveis da residência jesuítica, levaram os indígenas, depredaram e fecha- ram.a Igreja de Nossa Senhora da Escada, padroeira da aldeia, e expulsaram os jesuí- tas", escreveu Ney de Souza em Catolicismo em São Paulo. Anos depois foiavezdos jesuí- tas de São Paulo de Piratininga. Mesmo as camadas mais baixas dos paulistanos não viam com bons olhos aquele trabalho de evangelização que atrapalhava o "ganha- pão" emovia a economia da vila. No dia 10 de julho de 1640, os padres do Colégio receberam uma notificação de que teriam dois dias para deixar a vila. No dia 13 de julho, às 2 da madrugada, a Câmara mandou tocar o sino. Da janela da Câmara (centro do poder local) foi lida para a popu- lação a sentença de expulsão dos padres. Na manhã seguinte, todos foram à porta do Colégioe invadiram o prédio. Expulsos, os jesuítas foram para Santos e só voltaram a subir ao planalto mais de dez anos depois. FORA DE PORTUGAL A pá de cal nos jesuítas na colônia veio di- retamente de Portugal. Um decreto, elabo- rado sob inspiração doMarquês de Pombal, expulsou a ordem da metrópole e de todas as suas colônias, em 1759. "Declaro os so- breditos regulares rebeldes, traidores, ad- versários e agressores que estão contra a minha real pessoa e Estados, contra a paz pública dos meus reinos e domínios, e con- tra o bem comum dos meus fiéis vassalos", registrou o decreto do rei dom José I. "O mandando que efetivamente sejam expulsos de todos os meus reinos e domínios." Em 1768, o rei da Espanha, Carlos Hl, seguiu na mesma toada. Foi o final de uma das experiências utópicas mais importantes do mundo: as reduções, ou missões jesuíti- cas, nas quais milhares de indígenas acul- turados viviam sob os preceitos dos religio- sos. Muitas dessas missões marcavam justamente a fronteira entre as possessões portuguesas e espanholas na América do Sul, Acordos políticos na Europa levaram a um massacre dos habitantes das reduções, que até então funcionavam como uma sal- vaguarda aos indígenas - viver em uma delas era uma forma de escapar dos bandei- rantes brasileiros e dos encomenderos caste- lhanos, ambos interessados em buscar mão de obra escrava nos sertões. Osjesuítas, os pioneiros a levar a catequi- zaçãoaos indígenas, os criadores das primei- ras escolas na América do Sul, fundadores de cidades no NovoMundo, aponta de lança da Contrarreforma nas colônias ibéricas, perderam espaçopolíticode tal maneira que, em 1773, o papa Clemente XIV dissolveu a Companhia de Jesus. A restituição e conso- lidação da ordem no país só ocorreria muito tempo depois,já comoBra- sil independente. A força da Companhia de Jesus, porém, continua. Éjesuíta o atual papa, o argentino Jorge Bergoglio.!l!ll AVENTURAS NA HISTÓRIA I 43 AVENTURA A REPÓRTER NORTE-AMERICANA NELLlE BLY QUIS REPETIR A VIAGEM INVENTADA POR JÚLIO VERNE. CONSEGUIU CHEGAR AO PONTO DE PARTIDA ANTES DO PERSONAGEM PHILEAS FOGG ------------ -- ------,-------- TEXTO Marina Ribeiro 44 I AVENTURAS NA HISTÓRIA estômago estava embru- lhado. Olhando para bai- xo, na amurada do navio sobre o Atlântico, deu vazão ao desconforto. Ela enxugou os olhos marejados, mas a náusea conti- nuava. O barco mal deixara o porto de Hoboken, nos Estados Unidos. Quan- do se virou, viu sorrisos no rosto de outros passageiros no convés. "E ela vai viajar ao redor do mundo!", co- mentou um homem com sarcasmo. Apesar de ter se juntado às gargalha- das, foi nesse momento que a repórter norte-americana Nellie B1y percebeu o tamanho de sua ousadia de tentar a dar a volta ao mundo. Ela nunca tinha viajado de navio. Foi a primeira vez que considerou a possibilidade de não ser bem-sucedida na empreitada. E ainda faltavam mais de 27 mil quilô- metros para percorrer de barco, A ideia de dar a volta ao mundo surgiu em uma noite de domingo, mais de um ano antes, no outono de 1888. Enquanto buscava sugestões de reportagens para o jornal The Neui York World, de Joseph Pulitzer, Nellie percebeu que queria mesmo era estar no outro extremo do globo. E logo pensou que, após trabalhar anos sem nunca tirar férias, o ideal seria fazer com que o jornal a enviasse para lá. Após 15anos da publicação de A 'Vol- ta aoMundo em 80Dias, de Júlio Verne, viajaria ao redor do planeta para ten- tar bater o recorde de 1 920 horas de Phileas Fogg, o protagonista do livro. Ao apresentar a proposta, descobriu que o jornal já tinha planos de enviar um homem na jornada. Afinal, "uma mulher precisa de um protetor, e mes- mo que fosse possível viajar sozinha precisaria levar tanta bagagem que perderia muito tempo nas rápidas mudanças ", disse George Turner, diretor comercial do jornal. Um dos artigos de Nellle: pioneira e recordista. Abaixo, a fATHER TIIE· OUTDOIIE! recepção na __ I chegada a Enn ~ RecIrd hIeI un\ Jersey Clty.. 1IIe PllfIl\1lilllCl,,"lhe w.v." No detalhe, .1iIoIIt-CidIr. • desembarque--. i na Filadélfia !IEI\mo:, nD1n..-,"l1llL-S!C.. Tho.,.ande Oh'" Them""''' Ho.'" at NellJe ."'. Ani".I. . ~ WUClllf UlI1U ti IEW l1Il m ..-m.\- . ~ t» Dale Contl7 .,ww W1til t..- •. Nellie já estava habituada a ouvir o que uma garota deveria ou não fa- zer. Nascida Elizabeth jane Cochran, em 5 de maio de 1864, logo aprendeu a enfrentar desafios. Era órfã de pai desde os 6 anos e viu a fortuna da fa- mília virar pó. Aos 16,mudou-se para Pittsburgh, onde ajudava a mãe com tarefas da casa, que abriram a pensio- nistas para complementar a renda. Aos 21 anos, Elizabeth leu um edi- torial no The Pittsburgb Dispatcb, "Para que meninas são boas". O arti- go repreendia mulheres até por tentar ter educação ou carreira, sugerindo que deveriam ficar em casa. Isso a enfureceu a ponto de escrever uma carta ao jornal, assinando como "Or- fãzinha". O editor George Madden ficou tão impressionado com a res- posta que colocou um anúncio para que a órfã fosse visitar a redação e ofereceu-lhe a oportunidade de fazer um texto de resposta. •• AVENTURAS NA HISTÓRIA 145 AVENTURA o CAMINHO DE NELLlE BLY A JORNALISTA NORTE-AMERICANA CONSEGUIU DAR A VOLTAAO MUNDO EM 72 DIAS, 6 HORAS E 11MINUTOS 23/01/1890 __ ~~1Il"' ~ ~ ·~if 14/11/1889 Hobboken, 25/01/1890 EUA--- , \ Nova Vork, 21/01/1890 '.. EUA São Francisco, EUA .-<\.....- , TRECHODETREM TRECHODENAVIO Elizabeth foi para casa e escreveu seu primeiro artigo, "O enigma femini- no". Madden lhe ofereceu trabalho como jornalista sob o pseudônimo de Nellie B1y(nome de uma canção popu- lar da época). Ajornalista Brooke Kro- eger, autora da biografia Nellie Bly - Daredeoil, Reporter, Feminist (sem tra- dução), afirma que Nellie não era ne- nhum gênio e nem uma escritora primorosa. "Ela era apenas alguém que conseguia executar o que quisesse." CHEGAR PRIMEIRO "Enviem um homem e eu começarei no mesmo dia por algum outro jornal e chegarei antes", disse Nellie. john Cockerill, editor-chefe do Tbe World, 46 I AVENTURAS NA HISTÓRIA 22/11/1889 Londres, Inglaterra 21/11/1889 Southampton, Inglaterra 23/11/1889 Calais, França ~ .1 23/11/1889 Amiens, França .-'~'. ~""- •....:.:.! --:--.:-, ..~I ",_... 6 já a conhecia bem o bastante para sa- ber que ela não estava blefando. Após receber a oferta de outro viajante para fazer a viagem ao redor do mundo em menos de 80 dias, os editores do The Wor/d perceberam que corriam o ris- co de outra publicação bancar a aven- tura antes deles. No dia 11de novem- bro de 1889, Nellie Bly foi convocada às pressas ao jornal. "Você pode co- meçar a rodar o mundo depois de amanhã?", perguntaram. "Posso co- meçar neste minuto", respondeu. Na manhã seguinte, ela se encon- trou com o estilista William Ghorm- ley requisitando um vestido para aquela noite, que "aguente o desgaste constante de uso por três meses". Às 8/12/1889 Colombo, Ceilão (atual Sri Lanka) 16112/1889 Penang, Malãsia 18/12/1889 Cingapura, Cingapura 5 da tarde, ela estava fazendo a prova final de uma peça feita com pelo de camelo. Para complementar, comprou um casaco xadrez e uma bolsa de mão. Conseguiu reunir numa mala pequena roupas íntimas, papéis, ca- netas e tinta, itens de higiene, copo, garrafinha, chinelos, roupão, lenços, casaco, chapéu e um hidratante para o frio, o maior item da bagagem. "O mais aventureiro, mais do que qual- quer parte específica de sua viagem, foi a própria ideia de fazê-Ia - e levan- do apenas uma bolsa!", diz Matthew Goodman, autor de Eighty Days. Nellie Bly and Elizabeth Bisland's His- tory-Making Race Around the Wor/d (sem tradução). BÊNÇÃO DE VERNE o clima ruim fez com que o desem- barque na Inglaterra atrasasse. Se perdesse o trem da noite para Lon- dres, estaria atrasada para todos os demais embarques. Por intervenção do correspondente local Tracey Gre- aves, pôde tomar o trem que levaria a correspondência para a capital ingle- sa, de onde rumou para a França. Graças a um desvio de rota e a decisão de perder duas noites de sono, encon- trou o autor que a inspirara a viajar. Em Amiens, Júlio Verne abriu sua casa à repórter e se interessou por qual seria a trajetória. "Por que você não vai a Mumbai, como meu herói Phile- as Fogg?", perguntou o francês. "Por- que estou mais ansiosa para chegar com rapidez do que em salvar uma jovem viúva", disse Nellie, fazendo Em Hong Kong, no meio do caminho, Nellie soube que não estava tentando dar a volta ao mundo sozinha. Uma jornalista da Cosmopolitan estava à sua frente. referência à indiana Aouda, salva pela intervenção do viajante do livro. Da França, partiu para Brindisi, na Itália, de onde faria a travessia do Me- diterrâneo a bordo do navio Victoria. Poucos dias após ter embarcado, sur- giu um rumor de que Nellie seria uma herdeira norte-americana viajando com uma escova de cabelos e uma car- teira recheada. Isso fez com que dois passageiros propusessem casamento a ela. Os dias passavam e Nellie seguia seu roteiro por portos sob domínio britânico. No Sri Lanka, o antigo Cei- lão, ela teve uma infeliz surpresa. Uma parada rápida acabou se arras- tando por cinco dias. Ao deixar Co- lombo a caminho de Hong Kong, a embarcação enfrentou uma monção, mas, ainda assim, chegaram ao desti- no com dois dias de antecedência. COMPETIDORA "Qual é o seu nome?", perguntou a ela um homem do escritório de nave- gação em Hong Kong. "Você vai per- der", afirmou o rapaz. "O quê? Acho que não. Compensei meu atraso", ela disse. "Você não está fazendo uma corrida ao redor do mundo?", quis saber. "Sim, estou em uma corrida contra o tempo", retrucou Nellie. "Tempo? Não acho que seja o nome dela. A outra mulher vai ganhar. Partiu daqui há três dias", disse ojovem. A "outra mu- lher" era Elizabeth Bisland, que também partiu de Nova York no dia 14 de novembro. Ela era a desafiante da revista Cosmopolitan. "Prometi ao editor que iria dar a volta ao mundo em 75dias, e se conseguir isso estarei satisfeita. Não estou competindo com ninguém. Se alguém quiser fazer a viagem em menos tempo, que se pre- ocupe com isso", disse. Para piorar, ela ainda teria de ficar parada por cinco dias na China. Do continente para Yokohama, no Japão, tudo foi rápido e tranquilo. O mesmo não pode ser dito dos primeiros dias no Pacífico. Desembarcou em São Francisco duas semanas depois. Nos EUA, Nellie percorreu o país em um trem fretado pelo jornal para que completasse a viagem e chegou ao seu destino, Nova Jersey, em 25 de janeiro de 1890, quebrando todos os recordes de circum-navegação. "A volta ao redor do planeta tornou Nellie Bly uma celebridade mundial, mas no geral teve um efeito negativo sobre a sua carreira como jornalista", afirma Goodman. Segundo ele, Bly se tornou muito famosa para continuar a traba- lhar como repórter infiltrada. Pouco depois, casada, abandonou ojornalis- mo. A aposentadoria só foi quebrada no século 20. Nellie foi a primeira mu- lher a atuar como correspondente na Primeira Guerra Mundial. !lI:] AVENTURAS NA HISTÓRIA I 47 COMPORTAMENTO RDE COMO OS SOVIÉTICOS USARAM O HUMOR PARA SUPORTAR A RIGIDEZ E OS EQuívocos DE SEUS DIRIGENTES TEXTO Diogo Antonio Rodriguez ILUSTRAÇÕES Guilherme Darezzo Durante seus mandatoscomo presidente dosEUA, Ronald Reagan ti-nha um jeito peculiar de encerrar os discursos. Onde estivesse, a qualquer público, o ex-ator quase que sempre terminava suas falas com uma piada. Foi assim em discursos a tra- balhadores de uma fábrica, na campa- nha e até na Casa Branca. Sua prefe- rência era por um tipo especial de anedota, como esta, contada em 1988: "Na URSS, um homem vai a uma con- cessionária comprar um carro e o ven- dedor diz: 'Tudo bem, em 10 anos você pode vir pegar seu carro'. 'De manhã ou à
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