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Super Interessante 59 Heróis (Quase) Anônimos da 2ª Guerra Mundial

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PEQUENOS 
GRANDES 
ATOSpE 
HEROISMO 
empre que pensamos na 2' Guerra imediatamente 
associamos o conflito ao sofrimento do povo 
judeu, aos lideres que inventaram e aos que deram 
fim ao conflito, aos generais habilidosos que 
liquidaram divisões inimigas. 
Não por acaso ela é conhecida como 2' Grande Guerra. Não 
se pretende aqui reduzir a importância de líderes como Winston 
Churchill, que conduziu urna Inglaterra isolada e aparentemente 
frágil contra o poderio nazista à base de "sangue, suor e 
lágrimas", para usar suas próprias palavras, ou a bravura de 
George Patton, que liderou as forças aliadas na Europa na 
libertação de 12 mil cidades. Ou Oskar Schindler, o empresário 
austro- húngaro que salvou mil judeus poloneses da morte 
certa no campo de concentração de Plaszow os empregando 
em sua fábrica. Mas guerras são vencidas e perdidas por homens. 
A vida - e a lista - de Schindler chegou ao cinema pelas mãos 
de Steven Spielberg. Uma frase da Torá, o livro sagrado judaico, 
reproduzida no filme, é um dos motes desta edição, "Quem 
salva uma vida salva O mundo inteiro". 
Nas próximas páginas, você vai encontrar, provavelmente 
pela primeira vez, uma galeria de heróis da 2' Guerra. São 
heróis humanitários que colocaram a própria vida em risco 
para salvar inocentes, co mo diplomatas que concederam 
vistos a judeus para que deixassem a Europa. Mas há também 
heróis guerreiros que ao combater o inimigo contribuíram 
para que a guerra terminasse mais depressa. Há espaço 
inclusive para os derrotados. Um deles, o japonês Takashi 
Morita, que vive no Brasil , estava entre os primeiros a socorrer 
as vit imas da bomba atómica em Hiroshima. Outro herói 
do lado dos maus é o general Dietrich von Choltitz. Ele recebeu 
ordens di retas de Hitler para explodir Paris antes da chegada 
dos Aliados. Foi tal vez a única ordem que esse militar que 
participou de duas guerras deixou de cumprir e legou à 
humanidade uma cidade intacta. 
Aproveite a leitura . 
Os editores 
-,:-.=-~W1 
eam.hI~ PocIbo'Il (""na fPresidenlt~ 
S-Caci2 , ... P1tsideruel. EldaMiill<o. G_a..... 
~ ~ Usd. ~ Rotmo Guu.o. Victor 0\113 
t:IIna'ót~ Fernando Costa 
0Ia!D' Digitat: ManoeI Lemos 
Onmr~e t wscaó.o; Fãbio d'Avila Can'31bo 
:-.-:.&QI •• ±firid d ThaisChedeSoares 
OftIDre.:lli di. P\Z6:id.tde.Acfiun=. ~ Gabriel Compnde 
~ ____ HlmYnos;Pau1aTraldi 
o..r_SowYIÇOS &:Iitorbis: AJiredo Ogawa 
~ SOO4A>w.::endentt: Brenda Fucuta 
~!Se Nudeo: Alda Palma 
fjl!;j;1 
DioeI7~~5agIoG'Ilo'MmiUI 
DIreton de.t.ne:~ 1* ~~ ~ BlIsno GanIIooi. lolanJal 
c.acs-l..JriII;ls-s&. FIipe_[/IQ:a ~t..Hod: Edmno de AlUo: limas.&. 
~r...IftI~&op;o:~GIbstQ'~.o 
t.iII;r. ~1,ks: g! n: Jawdr:;w:;~~nesQecIçio: 
WfcntrG.8am:ira(~~Wto.\blla.~\ .... laa:t~(~~OI.Ja 
(R.'I'IsIIo)Coon:lenadota~dt~~~AaiAemt~:F3gncr 
RmoCf1· UN I:AI\'iIIOZei(a.p:n'i!l:4AtlkIilal):. &i::I~ FA1tiISJo.a.Juam:~bado. 
1~1'Q~larrinari.àcIFtarw;a.ImFtmira.~~,..s.mt\~~ 
NUdeoJowm:Echor: Fftdm:oc!iGi.:JmrmEclb· · _~~~~bnn 
NatW.OIivioCMeno.signers;F.tIiBrZmb.:rltDillld~WIbr!-.BruooXIIYl' 
~1'ic:.;AIlaPt.D:l.(bIo) , GuiJlumeDearo{t:m)tl.ias~ 
www.superintl!l.I!Ssantl!.<om.br 
SERVIÇOS EDITORIAIS: Apoio EdilOfial: Carlos Gru6tUi (Arv~ Lai: IrV (1lIfoplrll.l 
D.doc • Abril PTe$t: Gratt de SooLI ~iM • Inleliptnda ele Mefudg: ADllm CoJII 
TrelnarMnto Ed1toriil1: &tward Pirntnlil 
PUBUClDADE CENTltAUZADA; DIOlIIOffl: Marril &ik'r, Mariane Ortit. Rob!;on MOnlt 
healli'/05 de Ne9OCios; Ana ~ul~ Tcixcira, Ana Polua,. Vk'gas. Caio SoUl.a, Camib Folhu. 
CIImUb Dcll CuJa Andr.ldc, Cidinha (.asIro, Clivdill G.ldino. C1dde Gomes. Crl:s&no 
I'mona. Daniel. Snahm. FJilIllt Pinho. Emiliano Ibn~III, Fabio Santos. Iu)' GuiJlwães. 
Juliana VIadominl, Karine Thomu. MarceUo Alrntida. ~lart'do Ca\"alheiro. Mama Btum. 
Maml!; Vinidus, MD.ria Luci;! SIro4bck. Nilo Basll)S. RtP'Ia MauF~tw). Renata Miolli. Rodrígo 
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DADE REGIONAl; D"-tores; Marcos I't!"",ina Goml"l. P:1ultl ~nato Shn(oes Gt.renIU; 
And rea \'cip. Cristiano Rn.a~rd, Edson MrIo. FraBdStt 1\arbciro NI'f!J. Ivan Rizl'lllal. JoiO 
Paulo PiUlno. RIcudo Mlrial~ So.\I, i';Jub, \ \JnÍl h <.SOlongo Ext(utivos de N~; 
Adriano r'l"ri~ Aiht Omh.t, Bmlriz Ottino, CaroIilX PLalilhi. (dia Pyrdma. CIc3 o.ics. Daniel 
Emllln04ll Gabôcl SouIO). Htnri ~lBrqua (talo Railllundo,}05t C~slilbo,}I»i Radia, ~ l.DjX'$, 
Juliana ErthaL I.eda Ulsla, lAIcirnc Uma. Maribd r-ank.l\IlI1da Rem M/ln;ta, Vaola OomdlfS, 
R1C1rdo Mo:ui n, Rodrigo Srolaro. Samarn. Samp;llo de o. Rcilnd~r.; PUBlICIDADE NUCLEO 
JOVEM; Diretor. Albcno Simões de Faria GeNonte" Fern.Jndo Sabadill tSandra FM\anM:s 
&ecud_ de Neg6cio.; Alasandra Calis5i. Alict \'tdura, Ana OIroUna Kan~ Ana liitii 
Bcrtoli. 8i;I MadnelL Onlhia CUlI)', EdUilnlo Chedid. f-:avia ~Ihães..IOOo Eduardo Diu. 
Juliall8 CompagnonL Leila Raso. lAI is Cak!as. l.tlis Fmundo 1.optS. Mnra Marques. Reinaldo 
Mu rlllO, Shirll'lll' l'inhtifO, Thalra I'erro, VCI3 Reis AJ,slsten lts; Ullal\ll Moura. Monilt 
6arbosa DESENVOLVIMENTO COMERCAl: Dirttor: Jlcques Bais; Rlt3l00 INTEGRAÇÃO 
CONERCAl: Oinoto..: Sand", Sampm MAJlKETIHG E OROJtAÇÃO: DiretOfa de 
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PlANEJAMENTO. COHTROU E Of'f1lAC;OES; G. ..... ,.; Aod", \'MaI..Mo$ (onsul\Or. 
Ecbon Marques Olh"dra ProceHos; Fa\!i;mo Valllo ASSINATURAS; Atendimento ao 
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RedaçJ.o e Correspondência: Av. das Natiit$ Unida. 722 1. 14' alldar, Pinheiros. Slo 
Paulo. SP. CEP 05425·902. Ill. (II ) 3037·2000. Publicidade !>ão Pau lo * infonn .... óei 
sobre ~lMItes de publiddade no 8rfli1 . no Exterior. lI'ww,publiabril.wlP.br 
PU8uu.çOESDAEorrORAA8AIl:AUa.Afm~AbriI,AIU. ~Iaril.Anp.úldura&~ 
AI'e!1!utilSlliI HisiórIa, Roa r..,rma. Bons FIuIeb. ll ra\II!.Ctpricho, Casa Claudi.:l. C1audia. ConllgOl, 
DtIicJ.1S dlI Caiu. Dicas lruo. f.!1e. Estilo, &anil'. r\lamc PM E. GIoss. Gu .. 00 Estudanle. Gulas 
Qualro Roda!;, lnlo.LoI&. loI'tftn.. Malltqui n~ Mixima. M01·~ IlcaJlh.Minba CIsa, Minha NINN. 
MuIlCloEil!õlllho. N.uionalGqraphic, NOI'õI, Pbrar, 1'ub.'II;ao;ic$ ~.I'brboY, QII'!1'II1tOOas, 
II«ma.RcvisCaA. RullneôWorId.SaWt,Sou M3isEuI ,SuptrirUttS&lnle. nl~t Vtj.t, Veja Rio. 
Vej.1Sk1 Paulo. Vcj.ll "RtaÍl)Oais. Viagml t TurisnlO. VldlI Slmpk Vip. Vi .... ! Mal5. V~ RIt. Vo« 
SlA. WII",en'~ Ilealth FundaçJo victor CMIa ; G~tio [ S(()br. NIMI 8rob 
ESPECIAL HERÓiS QUASE ANÓNIMOS cdi~ o' ?92·A i! 11m" publiraçJo esptdal da 
SUPERlHTERESSANTC,da Edilool Abril s.A. I987G+J~a &A. "Muy 10Itrt$ante" ( MullO 
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Presidente El!t(ut ivo; Giancarlo Civita 
Vice-P'n5identu: Arnaldo TIbyriçá. Douglas Ouran, 
Marcio Ogliara 
_.abril.a)m.br 
8 iIIH 1?i3
i'hljl-! Li 34 'ii#-' '("!l'mA ... ii Li 50 Uh ! JLjm",,,"!!.r !,II .. BRAVOS E LOUCOS AS PRINCIPAIS RESGATE DO TREM CONTRA O RElCH ROTAS DE roGA DAS ARTES 
A nata das forças Como judeus e outras Eles se dedicaram 
aliadas. na terra. minOrias circularam a recuperar obras 
no mar eno ar 
em busca de refúgio pilhadas por nazistas 
'iii !mia"! i 'M ~i 111!'!oI~I:I'I:! IIIUHI ~J InHI~i·IIUI·ml·I.II'1 16 ESPIÃOPEZ o DIAD 36 o EXTERMÍNlO DOS 54 OINIMIGO~UE DAR CERTO DIPERENTES SALVOUP. 5 
Agentes mudaram Quem se opôs ao T4. O general Choltitz 
o rumo da guerra. programa que matou recusou-se a cumprir Saiba quem eles são 
200 mil pessoas ordem de Hitler 
1!!J-f,]4Jdi1 j· j,jiIHi IlIa'll~i:III=!I,liH IHJ nll,ll~i.j-'lilnIHi 20 APORÇ~DA 38 os ANJOS DE SAIA 58 PO~A RESISTENCIA Enfermeiras. VE E-AMARELA 
Os exércitos estudantes. pilotos: NOPRONT 
improvisados que as maiores heroínas Pracinhas. diplomatas 
fizeram a diferença e a postura de Vargas 
1:IHI~tll'I=!'! III·!·IHJ 1U1·II~ill'I:~!.1I11IHi Ui !ii@4,un 28 ~UANDOAARMA 44 DOIS HOMENS 66 A DEVIDA RA DE PAPEL CONTRA A BOMBA HOMENAGEM 
Vistos concedidos Eles socorreram as Em tempos de guerra. 
por diplomatas vítimas de Hiroshima apenas viver já 
salvaram milhares e Nagasaki é ato de heroísmo 
----------- ---~ 
graveamea-
seguidores do 
Deutsche 
~A1:pejiferp"gj~tei (Partido Nacional 
dos Trabalhadores 
Alemães, o Partido Nazista) mo-
viam sua máquina de guerra 
para estender os domínios do 3° 
Reich pela Europa - e além dela. 
Ao mesmo tempo conduziam o 
infame expurgo das "raças infe-
riores" matando em massa, nos 
campos de concentração e nas 
câmaras de gás, judeus, polone-
ses, homossexuais, comunistas, 
deficientes ... Itália, Japão e algu-
mas nações menores uniram-se 
ao Führer no chamado Eixo. 
Cerca de 50 países, capitaneados 
por Reino Unido, União Soviéti-
ca e Estados Unidos, aliaram-se 
contra eles. Este capítulo é dedi-
cado aos líderes militares, aos 
guerreiros solitários, aos ousa-
dos espiões e aos cidadãos co-
muns que foram às armas e de-
ram sua contribuição - por 
vezes a própria vida - em nome 
do bem maior: a liberdade. 
10. HERÓiS (QUASE) ANON IMaS 
o MAIS CONDECORADO 
DA HISTÓRIA. DOS EUA 
Primeiro ele tentou ser fuzileiro naval. Mas, com apen'" 
1,65 m de altura e magro, acharam-no pequeno demais 
De fato, quem olhava para Audie Leon Murphy dificil· 
mente adivinharia que ali estava o futuro soldado mai! 
condecorado da história dos Estados Unidos. Seriam 3; 
medalhas por bravura em combate (e outras homena-
gens) nos 3 anos em que esteve no front. 
Nascido em 1924 em uma numerosa , 
pobre família do Texas, Murphy traba-
lhava na colheita de algodão ao lado de>; 
nove irmãos. Ao chegar aos 17 anos, 
mentiu que já era maior de idade par:l: 
ser aceito no Exército - queria se alistaI 
de qualquer jeito depois do ataque japo-
nês a Pearl Harbor. Não convenceu f 
teve de esperar os 18. No treinamento. 
no qual o chamavam de "bebê", era vi-
tima constante das brincadeiras dos co-
legas. Até que chegou seu grande dia. 
Primeiro foi destacado para a 
África do Norte. Em 1943, chegou 
à Sicília (Itália) com a 3' Divisão 
de Infantaria. E logo mostrou aos 
"grandões" do que era capaz. 
O feito mais notável do peque-
no soldado - agora segundo-
tenente - se deu na gélida bata-
lha de Holtzwi hr (França), em 
janeiro de 1945. Seu pelotão fo ra 
quase todo dizimado. De 128 ho-
mens, restavam apenas 19. Murphy mandou 
seus companheiros para trás. E começou a 
atirar. Quando acabou a munição, subiu em 
um tanque em chamas e acionou a metra-
lhadora na direção da infantaria alemã. Foi 
ferido na perna, mas continuou sua luta so-
litária por mais 1 hora até o recuo do inimi-
go. Estima-se que, nos combates dos quais 
participou na Itália, na França e na Alema-
nha, tenha matado 240 nazistas. Voltou para 
casa sofrendo de estresse pós-traumático, 
com crises de depressão e insônia. 
Seus atas de heroísmo ficaram conhecidos 
do público. O astro James Cagney, famoso por 
interpretar gângsteres violentos no cinema, 
viu a foto dele na capa da revista Life e o con-
vidou para ser ator em Hollywood. Murphy 
aceitou e novamente se deu bem: fez 44 filmes 
em 25 anos, além de uma série de Tv. Também 
escreveu poemas e canções. Morreu quando o 
pequeno avião em que viajava a traballlO ba-
teu em uma montanha na Virgínia, em 1971. 
Okamikaze 
• americano 
As tropas do general de divisão Edward 
King tinham se rendido ao general ja-
ponês Masaharu Homma em 9 de abril 
de 1942. Os prisioneiros ficaram detidos 
em um lugar infernal chamado Caba-
natuan, nas Filipinas, onde sofriam 
torturas e mutilações. Um soldado foi 
decapitado por sair da fila para beber 
água em um riacho. Todos, inclusive os 
japoneses, passavam fome. O número de mortes 
chegou a 700 por mês - provocadas por desnutri-
ção, doenças tropicais e maus-tratos. 
Só três anos depois os 121 fuzileiros comandados 
pelo tenente-coronel Henry Mucciforam enviados 
para libertar os 500 prisioneiros sobreviventes, 
ajudados por guerrilheiros filipinos. Os americanos 
imaginaram que, naquele canto do Pacífico, enfren-
tariam um pequeno número de in imigos, tão 
cansados de luta r quanto eles. Encontraram 8 mil 
japoneses pela frente. Os primeiros 
"olheiros" viram tantos tanques e 
soldados que compararam a estra-
dinha do acampamento a uma 
avenida central de Tóquio. Era tudo 
ou nada. Os guerrilheiros tomaram 
uma ponte de acesso, e os fuzileiros 
abriram fogo intenso. Um sentinela 
japonês levou tantos tiros que parte 
de seu corpo desapareceu. Até os 
prisioneiros demoraram para 
entender o que acontecia. Quase 
300 resgatados foram levados de 
navio aos EUA e ainda enfrentaram 
submarinos japoneses no caminho. 
Em Cabanatuan, um muro de 
mármore lista o nome dos 2656 
americanos que lá morreram. 
HERÓ iS (QUASE) ANÓNIMOS-lI 
GUERREIROS 
INIMIGOS: 
OS JAPONESES 
EORACISMO 
Para um negro americano, a vida na Ma-
rinha não era muito diferente daquela 
que conhecia nas ruas de seu pais: a se-
gregação racial dava o tom das relações 
sociais e profissionais. Doris Miller, aos 
22 anos, não havia conseguido nada além 
de um posto de cozinheiro no navio USS 
Pyro . Em janeiro de 1940, foi transferido 
para o navio USS West Virgínia, onde se 
tornou "campeão" de boxe. Encarrega-
do de preparar a comida e de pequenos 
serviços, recolh ia a roupa suja para a la-
vanderia na base de Pearl Barba r, no 
Havai, quando o alarme soou na manhã 
de 7 de dezembro de 1941. Era o início do 
ataque japonês. Miller não recebeu treinamento 
militar formal e não sabia atirar. Mesmo assim , COf-
reu para o tombadilho . Por seu tamanho, foi desig-
nado para ajudar no resgate de vários feridos. Na 
confusão, assumiu uma das metralhadoras antiaé-
reas Browning calibre 50 e começou a disparar con-
tra os nipónicos. Teria derrubado cinco aviões japo-
neses até ficar sem munição. Durante o ataque, 
aviões japoneses lançaram duas bombas blindadas 
que perfuraram o convés do navio. Miller só aban -
danou o West Virginia quando ele começou a afun -
dar. Dos 1541 homens a bordo, 130 fo ram mortos e 
52 ficaram feridos. Tempos depois Miller declararia 
12. HEROIS (QUASE) ANONIMOS 
que não teve problemas em derrubar os aviões. "Não foi difícil. 
Eu puxei o gatilho, e a metralhadora func ionou muito bem. Eu 
tinha visto outros soldados usando essas armas. Atirei por cer-
ca de IS minutos. Peguei alguns desses aviões japoneses. Eles 
mergulhavam muito perto de nós." 
Miller recebeu a Cruz da Marinha em1942 - foi o primeiro 
negro da frota do Pacifico a ganhar a honraria. Na ocasião , ele 
também foi elogiado pelo secretário da Marinha Frank Knox e 
pelo comandante Chester Ni mitz. 
Na máquina de criar ídolos que movia a propaganda de guer-
ra) o mais comum seria poupá- lo de novos combates. Mas a 
Marinha insistiu em mandá- lo de volta ao front. Estava nova -
mente servindo mesas, agora a bordo cio Liscome Bay, quando 
o navio foi atingido por um torpedo japonês na Batalha de Ta-
ra\Va, em 24 de novembro de 1943. Apenas 272 marinheiros 
sobreviveram ao naufrágio; 646 morreram - Miller era um de-
les. Scu corpo nunca foi encontrado. Não recebeu a Medalha 
de Honra , a luais alta condecoração militar americana , nem 
mesmo quando ela foi concedida postumamente a IS homens 
- todos brancos - que lutaram na defesa de Pearl Barbar. 
Nenhum negro recebeu a honraria durante todo o conflito. 
Após a guerra, a história de Doris Miller se tornou um símbo-
lo contra a segregação. Ele foi retratado (como coadjuvante) nos 
filmes Tora! Tora! Tora! (1970) e Pearl Harbor (2001). 
o Memphis Belle era um bombardeiro B-17 sem nome quando 
Robert K. Morgan batizou-o com o apelido da namorada 
(Margaret Polk). Nos primeiros três meses na base inglesa de 
Bassingbourn, as perdas de bombardeiros chegaram a 80%. O 
moral estava baixo. Como incentivo, a 
Força Aérea Americana estabeleceu que, 
após 25 missões, os sobreviventes poderiam 
voltar para casa. Em uma das missões. 
Morgan pousou só com metade da cauda, 
destruída pelo fogo alemão. Foram 128 
horas de voo despejando 60 toneladas de 
bombas. Em maio de 1943, a 
tripulação se tornou a primeira a 
completar, sem baixas, as 25 missões. 
No ano seguinte, Morgan estava 
de volta à guerra para bater a 
mesma meta, agora no Japão. 
Ele e Beile não se casaram. 
o maior duelo 
o cenário eram os escombros de Stalin-
grado. De um lado, o major Heintz Thor-
vald, tido como o melhor atirador alemão 
e enviado ao front especialmente para 
matar "o exterminador de nazistas". Do 
outro lado, o taJ exterminador, o russo 
Vasili "Zaitsev" Crigorievitch, que só na 
Batalha de Stal ingrado tin ha aniquilado, 
com seu rifle e sua pontaria extraordiná-
ria , 242 alemães. Thorvald , também co-
nhecido como Erwin Konig, tinha unla 
va ntagem: estudou todos os passos e mé-
todos do adversário. 
A batalha entre os dois não era total-
mente sol itár ia : homens dos dois lados da 
trincheira procuravam pistas da locali -
zação exata dos dois atiradores. No ter-
ceiro dia, O comissá rio Igor Danilov, que 
estava com Zaitsev, levantou- se ao achar 
que viu oalemão ao longe. Foi alvejado no 
ombro. Segundo o pesquisador William 
14· HERÓiS (QUASE) ANONIMaS 
Craig, no livro Ini.migo nos Portões, "Zaitsev pôs 
uma luva em um pedaço de madeira e a exibiu , ten-
do esta imediatamente recebido um tiro, quando 
Zaitsev percebeu que Konig estava aba ixo de uma 
chapa de ferro". O rtLSSO seguiu entrincheirado. Ko-
nig a~ertou seu outro ajudante: Ni kolay Kulikov. 
Achando que tinha matado o inimigo, o nazista saiu 
do esconderijo. O russo puxou o gatilho de seu rifle 
Mosin-Nagant modelo M91/30 ca libre 7.62 com mira 
telescópica. Acertou o alemão em seu alvo preferido: 
a testa. Ele levou o rifle K-98 de Konig como troféu 
do duelo, considerado o mais épico de toda a guerra 
por muitos historiadores (outros colocam em dúvida 
até mesmo a existência desse confronto). 
Zaitsev (que significa "lebre", em russo) era neto 
de caçador e aprendeu a atirar aos 5 anos de idade 
em sua cidade nata l, Eli niski , no sul da Rússia. Foi 
pastor de ovelhas antes de ser incorporado à infan-
taria da Marinha soviética. Chegou a Stalingrado 
em 20 de setembro de 1942 integrando a 284' Divi-
são de Fuzileiros. O gcneral Vassili Chuikov, encar-
regado da defesa da cidade, passou a estimular a 
ação dos franco -atiradores para combater o 6" 
Exército alemão, que sitiava a cidade. Suas ba las 
penetravam nos capacetes dos inimigos. Estatísti-
cas da época davam conta da morte de mais de mil 
alemães pelas mãos dos franco-atiradores em Stalin-
grado. Em toda a guerra , Zaitsev teria matado 468 
soldados e oficia is alemães que invadiram sua terra. 
Ele saiu do Exé rcito depois do conflito e foi tra-
balhar em um a fábrica na Uc rânia . Morreu em 
Kiev, em IS de dezembro de 1991, aos 76 anos de 
idade. Recebeu o título de Herói da União Soviéti-
ca, o da Ordem de Lênin e a medalha Ordem do 
Grande Patriota , além do título de cidadão hono-
rário de Volgogrado (ex-Sta lingrado). Lá ex iste um 
monumento em sua homenagem. Seu infalível rifle 
está ex posto no museu da cidade. 
, 
PERSTS'1'ÊNCIA 
DE MEI-'I:AL 
Douglas Bader era um exímio piloto da 
eronáutica britânica, com carreira brilhante 
pela frente, quando em 1931 seu avião caiu 
fazendo acrobacias e ele teve as duas pernas 
amputadas. Com duas próteses experi-
mentais de metal. foi aprovado no exame 
médico, e passou a integrara 19° Esquadrão 
da Royal Air Force britânica e assumiu o 
comando do 242° Esquadrão: foi uma forte 
injeção moral no debilitado grupo. 
Em agosto de 1941, tinha abatido 22 aviões 
inimigos e era o quinto piloto com maior 
n úmero de vitórias na RAF. Em outro 
acidente, Bader perdeu uma das pernas 
de metal e foi capturado na França pelos nazistas, que permitiram 
que os ingleses lhe enviassem outra perna. Prisioneiro problemático, 
não cansava de irritar os guardas a lemães, até q ue foi libertado do castelo de 
Colditz em 1945. Bader voltou para a RAF até 1946 e no pós-guerra dedicou-se a 
campanhas favoráveis aos incapacitados, pelas quais foi consagrado Cavaleiro 
Britânico em 1976. Morreu em 1982, vítima de ataque cardíaco. 
TROCOU SUCATA POR LUGAR ENTRE OS ASES 
Witold Urbanowicz, de família polonesa, 
tentou por 4 anos combater os nazistas 
com aviões velhos e antiquados. Quando 
derrubou um avião soviético em 1936 em 
uma missão de rotina com um velhíssimo 
PZL P.llA, foi 
repreendido e 
transferido para 
uma escola de 
treinamento da 
Força Aérea em 
Deblin, a leste 
da·Polônia. Sua 
vontade de 
participar do front 
o fez liderar três 
anos mais tarde 
uma resistência 
polonesa ao nazismo junto de seus alun...os e 
instrutores - equipados. nova,mente, com 
aviões antiquados. A missão foi um fiasco e, 
sem nenhuma baixa inimiga. a escola foi 
desativada. Witold foi integrado à Força 
Aérea do Reino Unido depois da queda da 
Polônia, quando já estava na França. Não 
desperdiçou a oportunidade de mostrar seu 
talento pilotando um, potente modelo inglês 
Hawker Hurricane: diante da Luftwaffe. 
abateu IS aviões, o que fez dele um dos 10 
maiores ases dos Aliados na batalha. Ao 
todo. estima-se que ele tenha derrubado 
durante a guerra 28 9viões alemães e 
japoneses. Com o fim da guerra. Witold 
trabalhou em companhias aéreas até 1994. 
Foi promovido a general em 1995. um 
ano antes de sua morte. 
HERÓIS (QUAS E) ANONIMOs -15 
o AT,F:lJlAO QUE 
ODIAVA W'1'1 aER 
o diplomata alemão Fritz Kolbe linha aversão ao nazismo. Procurou a 
embaixada americana em Berna, na Suíça (um país neutro no conflito), 
para oferecer seus serviços. Foi aceito após ser entrevistado por Allan 
W. Du lles, que, no pós-guerra, seria o primeiro diretor da CIA. Revelou 
segredos nazistas , como os planos de deportação de judeus italianos e 
a construção dos temíveis foguetes VI e V2 - dados sobre a localização 
das fábricas permitiram o bombardeio das instalações. 
Kolbe voltou a Berna 6 vezes durante a guerra. Repassou aos americanos 
mais de 1600 documentos. Um antigo diretor da CIA, Richard Helm s, 
lembrou em sua biografia, "As informações de Kolbe foram as melllores 
que um agente aliado conseguiu obter durante toda a 2" Guerra". Kolbe 
tentou ser reintegrado ao serviço diplomático da Alemanha Ocidental, 
mas muitos de seus colegas, alguns ex-nazistas, o acusaram de traição. 
Foi então para a Suíça, onde trabalhou como representante comercial. 
Morreu esquecido em 1971. Nunca recebeu nada pelo trabalho de espião. 
Só foi "descoberto" em 2000, graças a uma reportagem da revista Der 
Sl'iegel que revirou os arquivos da Biblioteca do Congresso americano. 
o AGENTE "D" 
Juan Pujol Garcia, que durante a guerra 
usava os codinomes Garbo (para os 
Aliados) e Arabal ou Alaric (para os 
alemães), foi um dos espiões mais 
bem-sucedidos do conflito. O agente 
duplo, nascido em Barcelona, em 1912, e 
morto em Caracas, em 1988, convenceu 
os oficiais nazistas de que a Operação 
Overlord, o desembarque na Normandia, 
era apenas uma tática diversionista. Na 
verdade, dizia ele, os Aliados lançariam 
suas tropas em Pas-de-Calais, na França. 
Diante da informação, o próprio Hitler 
retirou 4 divisões do Exército a caminho 
da Normandia e as deslocou para a outra 
região. O general Dwight Eisenhower, 
comandante supremo das forças aliadas, 
destacou em seu relatório sobre a 
operação a importância da participação 
do agente duplo catalão na derrota 
nazista: "Se o 150 Exército alemão tivesse 
entrado na batalha em junho ou julho, 
provavelmente nos derrotaria 
unicamente pela quantidade e pela 
Inglês inspirou 007 
e escapou da corte marcial 
qualidade dos seus efetivos". Pujai queria 
espionar para os britânicos, mas foi 
recusado. Ofereceu então seus serviços 
aos alemães, que buscavam alguém que 
pudesse entrar (e espionar) no Reino 
Unido. Nessa época, chegou a procurar o 
consulado brasileiro em Madri para pedir 
asilo para sua família. Depois de várias 
recusas. conseguiu ser ouvido por espiões 
ingleses. Trabalhava sob a fachada de 
tradutor da BBC. Sua história foi contada 
nos livros Garbo - O Espião que Derrotou 
Hit ler, de Javier Juárez (Relume Dumará),. 
e Garbo - The Spy who Saved D-Day, de 
Tomás Harris (inédito no Brasil). Ganhou 
a medalha de membro do Império 
Britânico (ao qual. aparentemente, de 
fato servia) e a Cruz de Ferro dos nazistas. 
Sua maior qualidade era o encanto 
pessoal. apesar de ser feio. baixo e calvo. 
Acabou seus dias falido na Venezuela. 
Orgulhava-se de ter sobrevivido a dois 
grandes conflitos - a 2' Guerra e a Guerra 
Civil Espanhola - sem disparar um tiro. 
Ao noticiar a morte de Patrick Dalzel-Job, em 2003. os jornais ingleses afirmaram 
que ele era o mais provável modelo do escritor lan Fleming para criar o agente 
James Bond (outras inspirações teriam sido David Scherr, líder do 
MIS, o serviço de inteligência britânico, e o sérvio Dusan "Dusko" 
Popov). Fleming e Job fizeram parte do Comando 3D, grupo que 
coletava segredos da inteligência alemã. Nasceu em Londres em 1916. 
Aos 24 anos, alistou-se na Marinha inglesa e foi encarregado de 
organizar o desembarque aliado na Noruega, país onde morava até o 
início da guerra. Além das múltiplas habilidades (era velejador. 
mergulhador e paraquedista). seu nome é associado a 007 também 
por esse feito. Em 1940, os alemães resolveram bombardear a cidade 
de Boden, no país nórdico. Sabendo desse plano, Job montou uma 
operação de salvamento por conta própria, à revelia do almirantado 
britânico. Levou os 2500 habitantes de Boden de barco para outra 
cidade. Salvou a população local, mas sua insubordinação o levou 
à corte marcial. O rei norueguês Haakon 7°, no exílio em Londres, 
intercedeu por ele e o condecorou por heroísmo. 
HERÓIS (QUASE) ANONIMaS 019 
:1; (; 
~1 ~ ~ ~J 
GUERREIROS 
A seu modo, milhares de pessoas, em seus países, travaram uma 
luta paralela à de seus Exércitos contra a dominação nazista 
'~Wito§; pegaram em armas pela gregos sabotaram suprimentos 
PlilI!~!ij:'avez, outros combateram nazistas rumo ao norte da África, 
.!!!!fq\l~scomcoquetéismolotov comprometendo a capacidade 
.@!~e!,~s,imprimiram panfletos de luta dos Afrika Korps. Na 
eIIJ"~im,eól~afos de porão e até Dinamarca, salvaram quase toda 
~~~~naI:am exércitos com a população judia,levando-a para 
algum conhecimento de táticas a neutra Suécia em outubro de 
de combate. Eram os partisans 1943. A reação dos nazistas era 
- agentes não militares da resis- brutal. Cidades como Lidice, na 
tência ao domínio nazista em República Tcheca, ou a capital da 
seuspaises.Oiugoslavofoiomais Polônia, Varsóvia, foram arra-
forte desses movimentos, com sadas. Os partisans poloneses 
quase 500 mil guerreiros em 1944. foram os que mais salvaram 
ReconquistaraIll o que se tomaria judeus (50 mil, metade dos que 
a Iugoslávia; seu líder, JosipTito, sobreviveram no país). Muitos 
seria o presidente do país. Em 25 desses soldados, porém acabaram 
de novembro de 1942, partisans nos gulags soviéticos. 
~t 20' HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS 
, 
Abrigada 
do "Tio Misha" 
Em 21 de maio de 1942, os Einsarzgruppen (esquadrões da morte 
nazistas) mataram 2 mil judeus do gueto de Korets, na Ucrânia. 
Só pouparam alguns homens porque eles poderiam ser úteis em tra-
balhos forçados. Naquela noite os sobreviventes se reuniram na si-
nagoga para rezar o kadis lt (a oração dos mortos). Entre eles estava 
o engenheiro Misha Gildenman , que havia perdido a mulher e a filha 
de 13 anos. "Ao contrário dos demais, Misha não tinha o coração 
cheio de medo, mas de vingança", diz o historiador Allan Levine. 
Em 23 de setembro, quando os nazistas rodearam o gueto para liqui-
dá-lo, Misha escapou com o filho e outros judeus para a floresta. 
Eram 16 no total, divididos em grupos de 3 ou 4. Seu arsenal se res-
tringia a uma pistola, 5 balas e wna faca de açougueiro. Foi assim 
que O "TIo Misha" fundou uma brigada judaka 'lue ga -
nhou fama e respeito entre os fugitivos das fl orestas. 
Soldados soviéticos se aliaram ao grupo, mas Misha 
manteve a liderança dos ataques. Um deles foi em Ro-
zvazhev, onde havia uma guarnição de 200 alemães . 
Divididos em 5 grupos, os partisans renderam os vigias, 
roubaram armas e avançaram sobre a casa do coman-
dante' onde 9 oficiais bebiam para espantar o frio. "En-
t rei na casa pela janela. Os olhos dos oficiais bêbados 
miravam uma linda mulher cantando músicas em rus-
so", relatou Misha. "Empurramosa porta e começamos 
a disparar. Foi tudo tão repentino que apenas um sol-
dado sacou a pistola e atirou , ferindo um dos nossos. 
Mas logo caiu no chão com uma bala na testa." 
HERÓiS (QUASE) ANONIMOS . Zl 
"F:BR,IGA 
"É melhor salvar um judeu do que matar 
20 alemães." Seguindo esse princípio 
após o massacre de seus familiares na ci-
dade de Novogrudek (Polónia) , o campo-
nes Thvia Bielski montou a maior opera-
ção de resgate de judeus por judeus 
durante a guerra. Ao lado dos irmãos Zus 
e Asnel, salvou 1230 pessoas na Bielorrú -
sia. Apenas 50 membros desse grupo 
morreram. Em outras guerrilhas judai-
cas, nem a metade sobrevivia: a maioria 
era gente da cidade escapando dos gue-
tos. Ao chegarem à fl oresta, enfrentavam 
novos perigos. "Muitos eram roubados e 
assassinados , e as mulheres, estupra-
das", diza sobrevivente Nechama Tec no 
livro Um Ato de Liberdade, que inspirou 
o filme homónimo com Daniel Craig. 
Com a cabeça a prêmio (por alguns mi -
lhares de reichmarks, moeda corrente no 
regime nazista), Tuvia tinha dois trunfos: havia sido 
cabo do Exército polonês e conhecia cada palmo da fl o-
resta de Lipiczanska, onde montou os primeiros acam-
pamentos em 1943, com apenas 13 pessoas . Divulgaram 
então a mensagem entre judeus escondidos e presos: 
"Salvem-se juntando-se a nós na floresta" . Pouco tem-
po depois a comunidade já tinha mais de 100 pessoas. 
Um ano depois passariam de mil . Ali a ordem era evitar 
confrontos com russos e alemães. "Quando atacados, 
os Bielski preferiam dispersar e se reagrupar depois" , 
dIZ Tec. A guerrilha queimava plantações, fazia embos-
cadas, explodia pontes e eliminava informantes. Para 
se mover com mais facilidade, usava unidades de 25integrantes. Do total, 75% eram . velhos, mulheres e 
crianças. Os 20% armados faziam tarefas de proteção, 
inteligência, sabotagem, saque de comida e busca de 
fugitivos dos guetos. O grupo virou comunidade com 
sinagoga , escola, teatro, enfermaria, sapataria e fábrica 
de sabão - esforços para manter intacta sua identidade 
cultural e religiosa mesmo diante de massacres e con-
flitos sangrentos. Em 1944, após a contraofensiva sovi-
ética, 1230 pessoas formaram uma fila de quase I km 
caminhando de volta a Novogrudek, com os irmãos 
Bielski na frente. Depois da guerra, Tuvia se mudou 
para Israel e de lá para os EUA, onde trabalhou dirigin -
do caminhão até morrer , em 1988. 
ZZ. HEROIS (QUASE) ANONIMOS 
SAPATEIROS 
TREINADOS 
Em agosto de 1942. os nazistas começaram 
a eliminar a população judaica de Lublin, 
no sudeste da Polónia. A maioria acabou 
no campo de concentração de Belzek. Yehiel 
"Chi!" Grynszpan foi dos poucos que se 
salvaram. Aos 24 anos. organizou uma das 
guerrilhas mais eficientes da Europa Oriental. 
':Além de contar com treinamento militar, ele 
se tornou um grande lider porque tinha bons 
julgamentos sobre pessoas e situações. 
Ele inspirava confiança sobre o melhor curso 
da ação", diz Harold Werner. que integrou a 
unidade. no livro Fighting Back 
(inédito no Brasil). Resultado: 
o que era um grupinho de 
sapateiros, comerciantes e 
lavradores se transformou em 
destacamento militar com 200 
judeus na floresta de Parczew. 
O grupo se uniu à Gwardia Ludowa. 
a organização clandestina de 
comunistas poloneses. aliada 
dos soviéticos, e integrou a maior 
e mais bem treinada rede de 
partisans russo-polonesa. Após o 
conflito, ele emigrou para o Brasil. 
Coragem e loucura 
Witold Pilecki era um veterano da l ' Guerra que ha-
via sido promovido a comandante de cavalaria. 
Quando os nazistas invadiram a Polônia, em l ' de 
setembro de 1939, a unidade de Pi lecki conseguiu 
destruir 7 tanques alemães e três aviões. Em 17 de 
setembro, a União Soviética também invadiu a Po-
lônia, e a tropa nacional jogou a toa lha. Mas Pilecki 
não se deu por vencido e ajudou a fundar o Exército 
Secreto Polonês, que se destacava entre os partisans 
do país. Em 1940, ele apresentou a seus superiores 
um plano aparentemente suicida , entraria no cam-
po de extermínio de Auschwitz para or-
ganizar a resistência interna e passar in-
formações sobre o que acontecia lá. 
Como? Pela porta da frente. Os alemães 
detinham civis a esmo para ser usados 
como escravos. Pilecki se misturou a um 
grupo que estava sendo preso e foi des-
pachado para o campo de concentração. 
Conseguiu enviar a autoridades dos 
Aliados relatórios sobre as atrocidades 
cometidas ali , mas o testemunho fo i 
considerado exagerado. Em 20 de junho 
de 1942, um ucraniano e três poloneses 
se vestiram de soldados da SS, roubaram 
o carro do chefe do campo, Rudolph 
Hoss, e saíram ... novamente pela porta de frente . 
O próprio Pilecki só não fo i junto porque acreditava 
que os partisans fariam um ataque ao complexo e 
pretendia ajudá- los. Em 27 de abril de 1943, outro 
episódio bizarro, ao chegar à padaria onde seria 
obrigado a trabalhar , fora do campo de concentra -
ção' dominou os guardas e fugiu. 
Livre, Pilecki foi um dos organizadores da Insur-
reição de Varsóvia, em l ' de agosto de 1944. Enca-
beçou, mais tarde, um movimento antissoviético. 
Encerrada a guerra, foi preso, julgado sem direito a 
defesa real e executado por um pelotão de fuzila -
mento do governo comunista da Polónia em 25 de 
maio de 1948. Tinha acabado de completar 47 anos. 
O governo polonês se retratou por esse julgamento 
em 1990, e hoje ele é um grande herói nacional. 
HERÓiS (QUASE) ANONIMOS. 23 
- --
GUERREIROS 
o POETA E A GUEREIrlL:HA 
Os livros do poeta russo Abba Kovner relatam a dura realidade da 
ocupação alemã. Kovner tinha 23 anos ao fugir do gueto de Vilna, 
na Lituânia, para um convento. Mas não suportou a ideia de se 
salvar sozinho e voltou para organizar uma revolta MNão nos 
deixemos levar como ovelhas ao matadouro~, disse ele em uma 
reunião em 1941. Naquela altura. dois terços dos 60 mil judeus de 
Vilna estavam mortos. Kovner fundou a FPO (iniciais em ildiche 
de Organização Partisan Unida). Chefes judaicos convidaram o 
grupo a sejuntar a eles nas florestas. Kovner recusou. Achava que 
o combate tinha de ser feito dentro do gueto - até que. em 1943, os 
nazistas liquidaram o local. A FPO fugiu para a floresta. aliou-se 
aos partisans e lutou durante toda a guerra. Depois dela. Kovner e 
sua mulher, Vitka, caçaram nazistas no esquadrão Dam Yehudi 
Nakam CO Sangue Judeu Será Vingado·). Em sua ação mais 
radical. pincelaram arsênico no pão de prisioneiros alemães. 
Z4. HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS 
, ! ..... .. .. . - '.:.' ... ;r. I'~ ." _, 
. :~' :PRISIONElROS 
REAGEM A 
MASSACRE 
, .. EMLACHVA 
" ~.'iÍ .: '_. 
VlV.EI.A 
RESISTANCEl 
Em 18 de junho de 1940, os franceses receberam 
uma transmissão insólita pelo rádio. Quatro dias 
antes, os nazistas haviam marchado sobre Paris, e, 
na véspera, o chefe do Exército, o marechal Philippe 
Pétain , anunciara sua intenção de se render. Naque-
la quarta- feira, porém, os poucos que sintonizaram 
seus rádios na BBC britânica notaram uma mensa-
gem em sua língua: "A última palavra foi dita? Deve 
a esperança desaparecer? A derrota é fina l? Não!" 
Era o general Charles de Gaulle, até então pouco 
conhecido dos franceses, que havia liderado uma 
das raras contraofensivas bem -sucedidas da malfa-
dada Batalha da Fra nça. Exilado na Inglaterra, ele 
organiza ria as forças da resistência nacional. Até o 
fim da guerra, mu itos franceses fizeram de tudo 
para sabotar os nazistas e o governo marionete do 
marechal Pétain. Foram atos de espionagem, assas-
sinatos, destruição de fábricas, sabotagem de linhas 
férreas, envenenamento de suprimentos e embos-
cadas em que os membros da Resistance seguiam 
sempre uma instrução: não fazer prisioneiros. 
Chuck Yeager, o primeiro ser humano a 
quebrar a barreira do som (e sobreviver) , 
em 1946. Incluiu ainda o brasileiro Apo-
lónio de Carvalho. E deixou alguns heróis 
famosos - como Jean Moulin, que unifi-
cou as forças do movimento, foi traído 
e morreu sob tortura em junho de 1943. 
A Resistência Francesa reuniu muitos intelectuais, 
artistas, gente que já era ou seria conhecida no pós-
guerra: o pintor Pablo Picasso, o filósofo Jean-Paul 
Sartre, O escritor Albert Ca mus e o piloto americano 
O movimento teve também uma líder, 
Marie-Madeleine Fourcade (leia sobre 
as heroínas na pág. 38), entre seus esti-
mados 220 mil membros. 
UIR príncipe selR ceriDl6Dia 
o nome não deixava dúvida: Louis 
Napoleón Bonaparte era o prlncipe 
herdeiro da coroa francesa. que havia 
sido dissolvida com Napoleão 3° em 
1870. Ninguém esperava que ele fosse 
se tomar imperador, menos ainda 
que fosse se tomar herói da Resistência 
Quando a guerra fui declarada, mandou 
uma carta ao prirneiro-ministro Édouard 
Daladier dizendo que queria se alistar. 
Como a República, evidentemente, não 
simpatizava com ele, foi recusado. Louis 
assumiu um nome falso e se alistou 
assim mesmo, como um soldado 
qualquer, na Legião Estrangeira 
Napoleão 4° (seu titulo oficial) lutou 
no norte da Africa até o armisticlo. 
Ao ser dispensado, imediatamente 
uniu-se à Resistência Francesa 
Em 1942. acabou preso enquanto 
tentava cruzar a fronteira rumo 
à Espanha Recusou tratamento 
especial dos alemães. Foi para 
a prisão domiciliar, fugiu e 
voltou à guerrilha. A patrulha 
em que atuava foi dizimada 
no dia 28 de agosto de 1944. 
Só ele sobreviveu. Ganhou 
várias condecorações e só 
então passou a se concentrar 
em postular o (inexistente) 
trono francês. 
HERÓIS (OUASE) ANÓNIMOS . 25 
-
-
~u"-l"célebre herói humanitário da 2a Guerrafoi Oskar Schindler. que ins-
,",uv",um premiado filme de Steven Spielberg. O empresário usou suas fábri-
na Polônia como pretexto para empregar o maior número possível de 
íuc1eLlS considerados cruciais para o esforço de guerra alemão - mesmo que 
velhos. crianças e doentes. Na iminência da "solução final". preparou uma 
lista com mil pessoas. poupadas das câmaras de gás. Outros civis pouco co-
nhecidos. porém. foram tão ou mais importantes. Entre eles se destacam. até 
pela natureza de sua profissão. os diplomatas. 
o Schindler Rortuguês 
salvou 30 md pessoas 
o feito de Aristides de Sousa Mendes 
supera e muito o daquele com o qual 
costuma ser comparado - o austro-
húngaro Oskar Schindler. Nada menos 
que 30 mil pessoas, entre elas cerca de 
10 mil judeus, não foram enviadas aos 
campos de concentração graças a seus 
salvo-condutos. Vindo de uma família 
aristocrática portuguesa, Aristides era 
funcionário do governo de Antonio 
Salazar, ditador 
alinhado com Adolf 
Hitler. Como cônsul 
em Bordeaux, na 
França ocupada, 
ele desobedeceu à ordem de 
não conceder vistos de entrada 
em Portugal a "estrangeiros 
de nacionalidade indefinida, 
contestada ou em litígio, aos 
apátridas, aos judeus expulsos 
dos países de sua nacionali-
dade ou daqueles de onde 
provêm". Em 1940, declarou 
que assinaria vistos e passa-
portes de todos os que os 
30. HERÓIS (QUASE) ANON IMOS 
pedissem: "Já não há nacionalidade, raça ou reli-
gião. Se há que desobedecer. prefiro que seja a 
uma ordem dos homens do que a uma ordem de 
Deus". E assim o fez, aos milhares, entre os dias 
17 e 20 de junho. Salazar ordenou que outros 
funcionários o expulsassem da chancelaria. 
Aristides então liderou uma coluna de refugiados 
em direção à Espanha. Apesar do fechamento 
da fronteira, conseguiu fazer o grupo chegar a 
Portugal ao enganar os guardas. Foi punido com 
a perda das funçôes e dos 
rendimentos, teve cassado 
o direito de exercer sua 
profissão de advogado e até 
de dirigir. Ele e seus filhos 
(teve 14) passaram a viver 
com a ajuda da comunidade 
judaica de Lisboa. Recebeu 
o título de Justo entre as 
Naçôes em 1966, e 20 árvores 
foram plantadas em sua 
homenagem no Museu do 
Holocausto em Jerusalém. 
Dois de seus filhos partici-
param do Dia D. Morreu 
pobre, em 1954. 
ABRIGOU 15 MIL 
E DESAPARECEU 
o diplomata sueco Raoul Wallenberg estava na Hungria em 
1944, quando os nazistas, em fuga por causa da invasão sovi-
ética, se preparavam para levar aos campos de concentração 
milhares de judeus húngaros do gueto de Budapeste. Na 
luta para libertar prisioneiros dos alemães, Wallenberg chegou 
a seguir, de automóvel. comboios de refugiados alegando 
que eles estavam sob a proteção da embaixada de seu pais. 
Emitiu milhares de passaportes suecos 
falsos idênticos aos originais e passes 
protetores. Também conseguiu manter 
15 mil judeus em 31 casas de proteção 
sob guarda da embaixada sueca - o país 
era neutro na guerra. Frustrou conspi-
rações para explodir o gueto de Budapeste 
às vésperas de sua libertação pelos 
Aliados. Já perto do fim do conflito, 
entretanto, o benfeitor sueco foi captu-
rado pelos russos e acusado de ser um 
espião americano. Jamais foi visto nova-
mente. O título de Justo entre as Nações 
lhe foi outorgado em 1946. 
HERÓIS (QUASE) ANÓN IMOS. 31 
erciante de carnes italiano Giorgio Perlasca trabalha-
a ern'uma importadora de Budapeste quando tomou uma 
at,itude ousada: criou uma falsa identidade, assumiu o cargo 
d!il' eD~blliXJad(lr espanhol e passou a emitir passaportes para 
il::;-í~;;~; húngaros. Admirador do ditador espanhol Francisco 
li ,nêl)~(:Ollra'Q(ljem lutou como voluntário na Guerra Civil 
lEiipa!nh(lla) e entusiasta do fascismo, Perlasca perdeu a cren-
regime depois de 1938, quando a Itália apoiou a perse-
l=:.~~~~~!~~ judeus. Em 1943, seu paCs assinou o armistício 
i\JIaruJS e ele foi preso pela policia nazista húngara. 
FQj socorrido pele embaixador espanhol Ángel Sanz-Briz. 
~ (gio faIsificll us docwnentos e se tQrnou Jorge Pedas-
'G1l'!'Imn "legitimo" cidadão espanhol. Com a aproximação 
'lWI~',éticos, foi a vez de Sanz -Briz salvar a própria pele e 
a cidade. Não indicou substituto ao cargo. 
Representante da neutra Suíça em Budapeste. 
Charles Lutz atuava em nome dos interesses dos 
EUA. da Grã-Bretanha, de El Salvador e de outros 
13 países. Em maio de 1944, quando soube de imi-
nente deportação de judeus húngaros para cam-
pos de concentração, passou a recolher judeus 
em casas de proteção e distribuiu documentos de 
cidadania salvadorenha emitidos em Genebra. 
Ao lado de Raoul Wallen-
berg, de quem era próximo, 
criou os chamados passa-
portes coletivos, que agru-
pavam os nomes de até mil 
judeus sob o mesmo núme-
ro de inscrição. A manobra 
dificultava a verificação da 
validade de cada documen-
to pelas autoridades hún-
garas e alemãs. Lutz salvou 
das garras nazistas 62 mil 
judeus na Hungria. 
32. HEROIS (QUASE) ANONIMOS 
o governo nazista pediu a mudança da embaixada para 
pron. perto da fronteira com a Áustria. Perlasca convenGeu 
nazistas de que Sanz -Briz estava em missão oficial e que o 
via nomeado como substituto. Eles acreditaram. Usando os 
papéis e carimbos do embaixador fugitivo, ele emitiu milhares 
de documentos em favor dos judeus húngaros. Por garantia, 
registrava-os com data anterior à saída do embaixador. 
Depois de salvar 5218 pessoas, Per-
lasca queimou seus falsos documentos 
espanhóis e retomou à Itália, onde vi-
veu modestamente - e sem revelar 
suas ações humanitárias a ninguem 
durante décadas. Encontrado pela co-
munidade judaica no fim dos anos 80, 
declarou: "Não pude resistir à visão de 
um povo que era marcado como anj .. 
mal, a ver crianças assassinadas. Não 
creio que eu tenha sido um herói" . Re-
cebeu o título de Justo entre as Nações 
em 1989, três anos antes de morrer. 
- --,. 
Roupa de mulher 
Vice-cônsul americano em Marselha, na 
França, Hiram "Harry" Bingham 4°, vindo de 
uma aristocrática família de Connecticut (seu pai 
descobriu as ruínas de Machu Picchu, no Peru), era 
o encarregado dos vistos quando o cerco nazista se 
fechou sobre o país. Dedicou-se a fornecer vistos 
para refugiados no sul da França • 
- artistas, cientistas e políticos 
antinazistas. Foi repreendido - o 
governo dos EUA queria manter 
boas relações com a República 
de Vichy (a França ocupada) - e 
obrigado a deixar o posto em 
Marselha, em 1941, depois de ajudar 
2 500 pessoas. Uma delas foi o 
escritor Lion Feuchtwanger, 
enviado a um campo de 
concentração pelo governo 
colaboracionista Bingham o teria 
sacado da cela disfarçado de 
mulher. Foi enviado a Portugal e 
depois à Argentina como castigo 
por sua insubordinação. Lá ajudou 
a caçar nazistas, mas logo 
renunciou ao serviço diplomático. 
Passou o resto da vida como 
agricultor, artista e inventor. 
SOBAPROT~O 
DA CRUZ VE LHA 
o negociante judeu George Mandei 
(que mudaria o sobrenome para 
Montello para soar mais latino), 
nascido na Transilvânia, sugeriu ao 
amigo José Arturo Castellanos, 
cônsul-geral de El Salvador em Ge-
nebra (Suíça) entre 1942 e 1945, que 
emitisse certificados de cidadania 
salvadorenha a judeus de diversas 
partes da Europa. Castellanos já ha-
via livrado o próprio Mandei e sua 
fa mília dos campos de concentra-
ção. E abraçou a ideia. Com a ajuda 
de Mandei, iniciou a produção em 
massa de certificados (gratuitos ou 
a preços simbólicos) que garantiam 
a seus portadores o direito de per-
manecer sob a proteção da Cruz 
Vermelha Internacional. Estima-se 
que entre 25 mil e 40 mil judeus 
(especialmente búlgaros, tchecos, 
húngaros, poloneses e romenos) 
tenham escapado das garras da 
Gestapo e da SS na operação, poste-
riormente conhecida como Ação de 
EI Salvador. Mandei foi novamente 
perseguido e preso pela Gestapo,na 
Iugoslávia, acusado de fornecer do-
cumentos falsos. Conseguiu esca-
par. Castellanos foi transferido para 
Londres. Aposentado, retornou a EI 
Salvador e viveu de forma discreta 
até morrer pobre na capital, San 
Salvador, em 1977. 
HERÓIS (QU'SE) ANONIMas · 33 
'. .. 
ri 
.. ~ 
" 
I 
I 
I 
HUMANITÁRIOS 
, 
o EXTERMINIO 
DOS DIPERENTES 
Pessoas com deficiência e doentes terminais eram alvo do 30 Reich 
TEXTO FÁBIO MARTON 
O S nazistas queriam "purificar" a raça ariana de genes ruins. Esses genes estariam nos ju-deus, ciganos, homossexuais - e nas pessoas com deficiências de qualquer origem. Os ofi -ciais nazistas plane)avam esvaziar os asilos de 
doentes mentais e pacientes' incuráveis", mas sabiam 
que isso pegaria mal com a opinião pública. A partir de I ' 
de setembro de 1939, a guerra deu a eles a desculpa para 
oficializar o programa - precisavam desses hospitais para 
os soldados feridos. O chamado Aktion T4 - Tiergartens-
trasse, nO 4, era o endereço da sede - esterilizou e assas-
sinou milhares de pessoas. Foi um dos raros casos em que 
os alemães, liderados pelas fanu1ias de vítimas, se opuse-
ranl publicamente a uma diretriz nazista. O clamor se 
estendeu até a Igreja (que se omitia sobre os judeus). Co-
nheça alguns dos opositores ao T4. 
kort., di.fer Erbkronk. 
di. lJolksg.",.lnfmoft 
ouf ftb ..... il 
7Ú>lksgk.ftolTe 
das .4ft <HL<I, 
:,{)tüt Çfrld 
r.f,. Si. 
Di. monotshefte de, Rnrf,,,p,litifrh,n 01111" der lISDOP 
JUlZ 
DENlJl!fOIA. 
EUTANÁSIA 
Nenhum outro juiz alemão se 
manifestou contra a eutanásia 
em massa. Lothar Kreyssigjá 
não era, sabidamente, um fã 
do Partido Nazista. Ao iniciar 
a carreira, em 1928, ele se 
recusou a entrar para a legenda. 
Por essa e outras manifesta-
ções de insubordinação, em 
1937 foi punido com um cargo 
menor, o de juiz de casos de 
guarda de pacientes mentais 
em Brandenburgo. Em 1940, 
ao notar um número extraor-
dinário de certidões de óbito 
desses pacientes, mandou uma 
carta de protesto ao ministro da Justiça, 
Franz GÜrtner. Foi chamado à Suprema 
Corte, onde explicaram a ele que a sentença 
de morte para certas vítimas era a vontade 
de Hitler - e sua vontade era a 'fonte da 
lei". Kreyssig deu de ombros. Proibiu qual-
quer transferência de pacientes sem sua 
autorização. Em 1942, iniciou um processo 
público acusando de assassinato o chefe 
do programa, Philipp Bouhler. Foi afastado 
do cargo no mesmo ano. Após a guerra, 
ajudou a fundar uma espécie de ONG: Aktion 
Sühnezeichen Friedensdienste (Ação de 
Reconciliação para a Paz). 
36. HERÓiS (QUASE) ANÔNIMOS 
Arcebisbo Udera 
movimento anti-T4 
Clemens von Galen tornou-se arcebispo de Münster 
em 1933. No mesmo ano Hitler tomava definiti-
vamente o poder na Alemanha e fechava um 
acordo com a Igreja Católica - o acordo, assinado 
pelo cardeal Eugenio Pacelli (que se tornaria o 
papa Pio 12 em 1939), restringiu os poderes do 
clero, mas garantiu sua sobrevivência no país. 
Hitler tinha medo da influência da Igreja e se 
anunciava como católico. Aproveitando sua 
liberdade, nos sermões o arcebispo ridicularizava 
a doutrina nazista (como a ordem, revogada depois 
de muitas críticas, para remover os crucifixos 
das escolas). Mas o T4 o fez ficar sério. Em 1941, 
ele começou a pregar abertamente contra o 
programa e, logo, contra tudo o que o nazismo 
representava. Esses discursos inflamados passaram 
a ser reimpressos clandestina-
mente na Alemanha e repas-
sados entre famílias católicas 
e até mesmo aos soldados no 
front - a Inglaterra chegou a 
"bombardear" soldados alemães 
com as transcrições em folhetos. 
Os sermões geraram protestos 
públicos contra o programa. O 
líder da SS em Münster solicitou 
a execução de Von Galen, mas, 
temendo a revolta popular, a 
cú pula do 3° Reich teve de 
engolir a resistência do religioso 
até o fim da guerra. Clemens 
von Galen foi eleito cardeal no 
Natal de 1945 e beatificado por 
João Paulo 2° em 2004. 
HERÓiS (QUASE) ANÓNIMOS . ~ 
Longe do front ou empunhando armas, mulheres 
assumiram posições de risco contra o regime nazista 
empenhadas em salvar vidas, forjar documentos 
e denunciar as atrocidades dos alemães TEXTO EDUA RDOSZKlA RZ 
38. HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS 
• 
-
~-i;';';";= ep:isódio que ficou célebre, no inverno de 1943, em Berlim, um 
l1~dl'" de 6 mil mulheres fez o governo nazista recuar e 
\s~!m-:.rl9Qjl1l9E~US casados com alemãs. O ato ficou conhecido como 
----pr;Dt€!stl:rdle~l~h>erlstra~;se Houve apenas um Rosenstrasse, mas ou-
tras grandes figuras femininas conseguiram feitos notáveis na luta 
contra o horror. Usando da influência dentro do Partido Nazista, con-
feccionando passaportes falsos, escondendo pessoas dentro de casas 
de oficiais alemães ou resgatando crianças em campos de concentra-
ção, algumas pagaram com a própria vida. Saiba quem foram elas. 
Um. grito na guilhotina 
Dia 22 de fevereiro de 1943. Silêncio na 
Corte Popular do Palácio de Justiça de Mu-
nique. No banco dos réus, a alemã 
Sophie Scholl, 21 anos, aguardava a sen-
tença. O juiz Roland Freisler selou seu des-
tino, pena de morte por alta traição ao 3" 
Reich. Seu irmão, Bans Scholl , e o amigo 
Christoph Probst receberam pem idênti -
ca. Naquele mesmo dia, às 17 horas, os três 
estudantes perderam a vida na guilhotina. 
Sophie integrava a Rosa Bmnca, uma or-
gan ização de resistência não violenta con-
tra o nazismo. Em vez de empunhar ar -
mas, o grupo usava um mimcógrafo e uma 
máquina de escrever. Imprimia folhetos 
que denunciavam as atrocidades do regi-
me. "Por que o povo alemão está tão ap,í -
tico em face desses criInes abom i l1áveis?" , 
dizia um dos papéis. Outro anunciava, 
"Nosso povo está 
pronto para se rebe-
lar contra a escravi-
zação nacional-so-
cialista da Europa". 
Os pannetos eram 
enviados por correio 
a alunos e professo-
res de facu ldades da Alemanha. Sophie e 
seus colegas mandavam as cartas de vá-
rios pontos do país. Tanto fizeram que 
atraíram a atenção da Gestapo. 
"A Gestapo pensava que a Rosa Branca 
era uma organização enorme. Não sabia 
que tinha apcn,ls 6 membros no núcleo 
principal" , diz a pesquisadora americana 
Kathryn J. Atwood no livro Women 
Heroes ofWorld War II (inédito no Brasil). 
Além de Sophie, Ilans c Christoph , O gru -
po central era for mado por out ros dois 
alunos da Universidade de Mu nique e um 
professor, Kurt Huber. Foi Hubcr que es-
creveu o sexto e último pantleto, no inicio 
de 1943. Foi quando os estudantes come-
teram um erro fatal : distribuíram o pan-
neto pelos corredores da universidade e 
foram vistos pelo fu ncionário Jakob Sch-
midt, nazista de cafteirinha que os dedu-
rou à Gestapo. Os outros integrantes se 
salvaram por falta de provas. Durante o 
julgamento , sem autorização para falar, 
Sophie gri tou: "Alguém tinha de começar! 
O que escrevemos e falamos é o que mui -
tas pessoas pensam, mas não têm cora -
geJTI de dizer em voz alta! n . 
HERÓIS (QUASE) ANONIMaS . 39 
A CONDESSA GENEROSA 
Em 1943, o governo declarou que Berlim estava judellfrei ("livre 
de judells"). No entanto, vários deles viviam escondidos pela ci-
dade. Um dos refúgios era o apartamento da Maria von Maltzan, 
filha de um conde alemão. Ela havia se doutorado em ciências 
naturais em 1933, ano em que Hitler chegou ao poder. Desde en -
tão arriscava a própria pele para proteger judeus em fuga. 
Os refugiados ficavam em seu apartamento por alguns dias até 
conseguirem um jeito de sair do país. Mas o namorado de Maria, o 
escritor judeu Hans Hirschel, mudou-se de mala e cuia para lá. 
Quando alguém chegava, Hans se ocultava no fundo falso de um sofá 
na sala. Maria não levantava muitas suspeitas porque era da fina-flor 
de Berlim, tinha acesso a informações da elite do Partido Nazista e sua 
posição privilegiada na sociedadea livrava de maiores problemas. 
Até o que dia em que um oficial bateu à sua porta. Ao entrar no 
apartamento, ele olhou para o sofá e perguntou: "COlTlO posso 
saber se alguém não está escondido aqu i?" Maria decidiu correr o 
risco, "Se você está seguro de que tem alguém ai, vá em frente e 
atire. Mas, antes de fazer isso, deixe uma declaração po r escrito 
garantindo que vai pagar pela restallração do sofá " . Deu certo. 
O oficial não disparou e saiu do apartamento. 
Até a rendição alemã, em maio de 1945, ela continuou ajudando 
vítimas do n aZiS1110 . Fez documentos falsos e contrabandeou pes-
soas dentro de móveis para a Suécia. "Maria sozinha salvou mais 
de 60 judeus e inimigos políticos dos nazistas, além de ajudar no 
resgate de muitos outros", diz a pesquisadora americana Kathryn 
J. Atwood. Depois da guerra a condessa se casou Cam Hans e tra -
balhou como veterinária em Berlim até morrer, en11997. 
40. HER6lS (QUASE) ANÓNlMOS 
Virou amante 
do major 
e salvou 12 
A enfenneira polonesa Irene Gut tinha 17 
anos quando fugiu para a fronteira com 
a União Soviética. Voltou à cidade onde 
morava (Radom) em 1942, aos 20 anos, 
quando o major nazista Eduard Rugemer 
lhe ofereceu emprego de garçonete. 
Servia as oficiais e, nas horas vagas, 
contrabandeava comida para o gueto. 
Rugemer foi para a Ucrânia. Irene 
também foi enviada para lá. onde seria 
governanta de sua mansão. Ela escondeu 
12 judeus na casa O major 
sempre voltava do trabalho 
na mesma hora 
Um dia, porém, chegou mais 
cedo e flagrou três judias 
na cozinha. Topou guardar 
segredo desde que ela virasse 
sua amante. A jovem cedeu. 
No flm da guerra Irene se 
uniu à resistência polonesa. 
Por sua valentia. recebeu 
homenagens do papa João 
Paulo 2° e do Museu do 
Holocausto de Jerusalém. 
"Você IDe tirou 
do gueto" 
Conhecida como "O Anjo 
de Varsóvia". a enfermeira 
salvou mais de 2 500 
crianças da morte. Irena 
era administradora do 
Serviço Social de Varsóvia. 
Quando a guerra estourou. 
em 1939. começou a fazer 
documentos falsos. 
fornecer remédios. roupas 
e dinheiro para os judeus. 
Sua atuação passou a ser 
mais incisiva a partir de 
1942. quando os nazistas 
enclausuraram centenas 
de milhares de judeus em uma área 
de 16 quadras. Horrorizada com o 
Gueto de Varsóvia. a enfermeira se 
tornou recruta da Zegota. movimento 
de resistência polonês. 
Com livre trânsito nos campos de 
concentração. que visitava sempre 
com uma estrela de Davi no braço em 
solidariedade aos prisioneiros. Irena 
distribuía comida e medicamentos 
aos confinados. Usando como 
pretexto um surto de febre tifoide. 
que os alemães temiam que se 
expandisse além das fronteiras 
do gueto. conseguiu retirar as 2500 
crianças "doentes" em ambulâncias 
da Zegota. Uma vez fora do gueto. as 
crianças eram escondidas como dava: 
em sacolas. maletas de ferramentas. 
baldes e cestos de lixo. Irena anotava 
o nome de suas famílias e enterrava 
em local seguro para que depois da 
guerra pudessem retornar a suas 
casas. E encontrava famílias não 
judaicas para cuidar delas. Usava 
o antigo tribunal à beira do Gueto 
de Varsóvia. conventos católicos 
e orfanatos como rotas de 
"contrabando" de crianças. 
Em 1943 Irena foi presa pela 
Gestapo e torturada na prisão de 
Pawiak. Foi condenada à morte. mas 
escapou graças a um gordo suborno 
da Zegota. No pós-guerra. renegava o 
título de heroína: "Cada criança salva 
com a minha ajuda é a justificação 
da minha existência na Terra. e não 
um título de glória. Eu poderia ter 
feito mais. Esse lamento vai me 
seguir até a minha morte". Foi 
premiada com a honraria máxima da 
Polônia. a Ordem de Águia Branca. 
com o título de Justo entre as Nações 
e indicada ao Prêmio Nobel da Paz. 
Depois que sua foto apareceu nos 
jornais. passou a receber várias 
ligações. "Um homem. um pintor. 
me telefonou e disse: 'Eu lembro 
do seu rosto'. disse ele. 'Foi você 
quem me tirou do gueto. Obrigado· ... 
O 'i\njo de Varsóvia" morreu em 2008. 
HERÓiS (QUASE) ANON IMOS. 41 
MULHERES 
A LÍDER 
SEM ROUPA 
Em tempos de guerra, o pudor não era 
prioridade. Marie-Madeleine Fourcade 
conseguiu escapar duas vezes de prisões nazistas -
na última, já combatente veterana, saiu sem roupas. 
Sua história de luta começou em junho de 1940. 
A francesa, divorciada e mãe de dois filhos, não en-
goliu a rendição de seu país e abandonou o emprego 
em uma editora para ingressar na Resistência Fran-
cesa, na rede chamada AU iance. Quando o chefe da 
rede foi preso, em maio de 1941 , assumiu o posto 
- fo i a únka lider mulher da Resistência.. Sua unida -
de trabalhava com informação , observando e trans -
mitindo para os ingleses movimentos e posições dos 
nazistas e colaboracionistas. Em agosto de 1941. , im-
pressionados com seus serviços, os ingleses supos-
tamente enviaram um operador de rádio para auxi-
42.. HERÓiS (QUASE) ANÓNIMOS 
liá- Ia. Era uma armadillia, o operador era 
um agente nazis ta. Marie-Madeleine e 
vários membros de sua rede foram pre-
sos, mas ela conseguiu fugir em 10 de no-
vembro de 1942 aproveitando uma d is-
tração dos nazistas. Depois disso, mandou 
os filhos para a Suíça e passou a viver na 
clandestinidade. Em 1943, os ingleses de-
cidiram tirá- Ia da França em uma opera -
ção secreta, e ela passou a operar em solo 
britânico até pouco depois do Dia D, 
quando desembarcou de novo na França 
e voltou a espionar os nazistas. Foi presa 
novamente pela Gestapo, mas não se fez 
de rogada, tirou as roupas e, magra, con-
seguiu atravessar por entre as grades. 
Após a guerra, fundou associações de ve-
teranos da res istência e participou dos 
julgamentos do colaboracionista Maurice 
Papon e do nazista Klaus Barbie. 
BAI,A 
NAPACA 
Eta Wrobel atuou na 
resistência desde o 
início da invasão da Polónia. 
Começou criando passaportes 
falsos para judeus. Em 1942. 
quando o gueto de Lokov foi 
liquidado. conseguiu fugir 
com o pai para a floresta 
e ajudou a fundar uma 
brigada judaica. Dos 80 
integrantes iniciais. só 7 eram 
mulheres. Eta se recusava a 
lavar e a cozinhar. Seu negócio 
era o combate. "Para nós. era 
difícil conseguir armas. Os 
russos tinham muitas. mas 
não queriam nos 
dar. Então nós 
roubávamos deles". 
contou. Um dia. 
recebeu um tiro na 
perna e arrancou a 
bala com uma faca. 
Viveu no fogo 
cruzado até 1944. 
No mesmo ano. 
casou-se e mudou 
para os EUA, onde 
morreu em 2008. 
A predadora dos ares 
Em 22 de junho de 1941. Hitler rompeu 
o pacto de não agressão com Josef 
Stâlin e invadiu a União Soviética. 
Tinha início a Operação Barbarossa, 
que contava com 3 milhões de 
soldados alemães. Em agosto. as 
forças do führer haviam capturado 
3800 tanques e feito prisioneiros mais 
de 870 mil soldados soviéticos. Mas a 
URSS virou a mesa, e não só graças 
aos homens de suas tropas. Muitas 
mulheres tiveram sinal verde para 
combater inspiradas no exemplo da 
piloto Marina Raskova. Nos anos 30, 
ela havia se tornado a primeira 
navegadora da Força Aérea Soviética. 
E colecionava aventuras. como um voo 
ininterru pto de mais de 26 
horas que quase acabou 
em tragédia - o mau 
tempo obrigou a 
tripulação a fazer um 
pouso forçado. Ela e duas 
colegas ficaram dias à 
espera de resgate. 
Em fins de 1941, organizou 
três esquadrões formados 
inteiramente por 
mulheres - das 
mecânicas às oficiais. 
O de número 588 voava 
em missões notumas e gerava 
enormes danos 
às divisões alemãs. Sua máquina de 
guerra era o caça Yakovlev Yak-1, que 
levava 3 metralhadoras e tinha um 
raio de ação de 600 quilômetros. 
Raskova também comandou o 
Regimento de Aviação 125. Vários 
países tinham mulheres pilotos, 
mas. segundo Robert Jackson. autor 
de Air Aces of WWII. a URSS foi a 
única a usá-las em combate. Marina 
morreu em 1943, em um pouso forçado 
provocadopor uma falha mecânica 
Tinha 30 anos. Recebeu uma medalha 
póstuma por sua bravura, caso 
raro entre as soviéticas. 
HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS . 43 
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O DIA vmou 
NOl'I'E 
Na hora da explosão, em Hiroshima, Morita 
não ouviu nada. Percebeu apenas wna luz, 
como o flash de uma câmera. Foi arremessa-
do a 10 metros de distância, desmaiou e, 
quando voltou a si, o dia tinha virado noite, 
embora fossem 8h15 da manhã. Era 6 de 
agosto de 1945. Morita liderava um grupo de 
15 soldados da Polícia Militar que se prepara-
va para construir um abrigo de armamentos. 
Estava a 1,3 km do epicentro da explosão (no 
coração da cidade) e de costas para o locaL 
Descobriu que as costas e a nuca estavam 
queimadas, sem imaginar que eram resultado 
de uma bomba atómica. Depois do estouro, 
caiu uma chuva negra, que a população pen-
sava ser óleo jogado pelos americanos para 
provocar incêndios, como acontecera em Tó-
quio. Tratava-se na realidade de chuva ácida, 
fruto da radiação em cantata com a atmosfe-
ra. "Nunca esquecerei o que vi. Milhares de 
corpos queimados, o fogo avançando sobre 
pessoas que imploravam por ajuda". Parecia 
o fim do mundo", diz o japonês, de 86 anos, 
que vive no Brasil desde 1956. 
106. HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS 
Passado o momento de estupefação, ele 
decidiu agir. Apenas um de seus colegas 
sobreviveu. Levantaram -se com dificulda-
de e se dirigiram ao centro da cidade. En-
contraram crianças em duas casas próxi -
mas; uma delas, um bebê. Morita e o 
companheiro ajudaram a resgatar as crian-
ças e suas mães, que foram recolhidas por 
jipes militares e levadas a hospitais. Mas 
não havia médicos suficientes para todos . 
"As pessoas andavam como zumbis, sem rumo, os braços para a 
frente, com a pele do corpo e as unhas caindo." 
Das áreas montanhosas mais afastadas do centro, onde foram 
montados postos de atendimento às vitimas, ele viu a cidade ar-
der. Quase nada restou. Morita não tem ideia de quantas pessoas 
socorreu naquele dia ao lado dos poucos soldados que consegui-
ram se manter de pé após o impacto da bomba. "As vitimas pra-
ticamente derreteram. Teve gente que tentamos puxar dos es-
combros e se desfez em nossas mãos." Ele ficou dois dias sem 
comer nem beber nada. Temia que tudo estivesse contaminado. 
Estava certo. Ele atribui sua sobrevivência ao fato de ser jovem e 
fo rte, estar bem alimentado, protegido com um capacete de ferro 
e de costas para o centro da explosão. "Era um negócio horroro-
so, como jamais tínhamos visto igual", afirma Morita, hoje dono 
de uma loja no bairro do Jabaquara , na Zona Sul de São Paulo. 
ID.B.AXUSHAS 
Médicos e técnicos americanos que ocuparam Hiroshima após a 
destruição examinaram os sobreviventes - 100 mil pessoas de 
uma população de 250 mil morreram de imediato - , mas os lau-
dos jamais foram entregues aos sobreviventes, conhecidos como 
hibakushas ("sobreviventes da bomba" , em japonês). 
Três dias depois foi a vez de Nagasaki. A bomba, apelidada de 
Pat Man, atingiu a cidade portuária. Mais de 80 mil pessoas de 
uma população de 240 mil morreram no mesmo instante. Yoshi -
taka Samedima - um brasileiro filho de japoneses que havia re-
tornado ao país - estava dentro de um navio do Exército nipóni -
co quando o artefato nuclear foi lançado. 
"O navio balançou de um lado para outro 
como se fosse um brinquedo nas mãos de 
um gigante. Saímos, e estava tudo escuro. 
A cidade estava arrasada." Ele tinha 16 
anos. Samedima engoliu o medo e saiu com 
alguns companheiros para tentar ajudar as 
vítimas. "Demoramos muito para entrar em Nagasaki por causa 
do entulho e ferro retorcido nas ruas. O cheiro de morte era difí-
cil de aguentar"! afirma, hoje, aos 83 anos. "Àrvores, prédios, 
casas, escolas e hospitais estavam destruídos." O incidente dei -
xou Samedima, que vive em Suzano, na Grande São Paulo , com 
manchas brancas na pele. Por causa das marcas, foi reconhecido 
como hibakusha por Morit., que O convidou a integrar a Associa-
ção das Vítimas da Bomba Atõmica no Brasil. 
Samedima acredita que ajudou a socorrer, junto 
com seus companheiros, entre 800 e mil pessoas. 
"Tirávamos as vítimas dos escOlnbros e mandáValTIOS 
para os poucos hospitais que estavam de pé", relem-
bra. "Cada viagem de caminhão levava 20 pessoas, e 
fizemos umas 20 em dois dias para dar conta dos fe-
ridos." Apenas os militares tinham provisões, que 
dividiam com as vítimas. "Todos choravam, gritavam 
e pediam água , mas tínhamos instruções de dar O mi-
nimo possível de água porque sabíamos que estava 
contaminada", disse o aposentado. Os veteranos do 
Exército e da Marinha japonesa, segundo ele, se recu-
saram a entrar em Nagasaki por medo de contamina-
ção. "A gente não sabia direito o que era radiação, 
mas eu tinha de ajudar as pessoas e não me preocupei 
com isso." Samedirna voltou ao Brasil apenas 
nos anos 1970 para cuidar do pai, que teve 
cã.n.cer de garganta. Desde então esteve qua-
tro vezes em Nagasaki para fazer tratamento 
contra os efeitos da radiação. 
A partir de 1984, quando fundou a associ-
ção, Takashi Morita teve de entrar, sem 
querer, em outra batalha. O governo japo-
nês só oferecia ajuda aos hibakushas que 
viviam no Japão. Na rígida cultura nipónica, 
os que saíram do pa ís eram vistos como in-
gratos. Acabou entrando na Justiça contra o 
governo para garantir seus direitos e os dos 
cerca de 130 sobreviventes que vivem no 
Brasil. "Ele sofreu um infarto porque jamais 
pensou que teria de acionar o governo japo-
nês. Meu pai ainda é muito ligado à pátria 
natal" , afirma a filha, Yasuko Saito. Morita 
venceu. Hoje o Japão oferece uma pensão de 
um salário mínimo mensal e atendimento 
médico às vítimas da bomba no Brasil. Uma 
vez por ano, médicos especializados aten-
dem os hibakushas brasileiros. O 
HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS. 41 
Entre esses heróis do património artístico da humanidade, 
segundo o h istoriador Robert M. Edsel, coautor de Caçadores 
de Obras -Primas, estava Rose Valland , uma estagiár ia do 
museu parisiense leu de Paume. Nascida e criada na zona rural 
de Saint- Ét ienne-de- Saint-Geoirs, es tudou belas-artes em 
Lyon e seguiu para Paris, onde se sustentava dando aulas par-
ticulares enquanto tirava diplomas na École des Beaux-Arts, 
na École du Louvre e na Sorbonne. Pouco antes do início da 2' 
Guerra, ela aceitou trabalhar no museu Jeu de Paume de gra-
ça. "Em 1939, Rose aj udou Jacques Jaujard , o diretor dos Mu-
seus Nacionais, na retirada dos objetos de arte que pertenciam 
ao Estado francês. Ela fugiu de Paris quando os a lemães avan-
çaram , em 1940. Mas logo retornou à cidade, de volta a seu 
posto sem vencimentos" I diz Edsel. 
Meses depois, Jaujard pediu que ela continuasse no Jeu de 
Pau me para "observar as atividades nazistas e relata r tudo o 
que fosse importante" . De sua parte, ele esforçava-se na ami -
zade com o conde alemão Wolff- Mettern ich para tentar garan -
t ir que os objetos pilhados pudessem ficar em solo francês. Mas 
três salas do Louvre já estavam cheias deles, e as obras de arte 
confiscadas dos judeus foram encaminhadas para o museu 
onde Rose trabalhava. Em lO de novembro, os nazistas se apos-
saram do leu de Paume. "Caminhões e mais caminhões carre-
gados de objetos de arte chegavam, descarregavam , e tudo era 
levado por soldados" ,descreveu Rose em Le Front de L'Art (O 
Front da Arte, inédito no Brasil). Por quase quatro anos, os 
militares aceitaram a presença dela no museu apenas porque a 
funcioná ria era uma grande conhecedora de arte. 
Todas as noites ela anotava as peças que os nazistas 
estavam retirando da França com destino à Alema-
nha e à Áustria. Roubava documentos, fotografava 
em casa e devolvia no dia seguinte. As info rmações 
eram repassadas a Jaujard, que mantinha contato 
com osmembros da Resistência Francesa. 
BATENDO EM 
R.ETIJtADA 
Com O tempo, passou a despertar suspeitas. Já havia 
flagrado oficiais roubando obras para si mesmos. 
O risco era cada vez maior. Em fevereiro de 1944, 
o oficial alemão Bru no Lohse a surpreendeu tentan-
do decifrar o endereço do documento de desembar-
que de um lote de peças. "Você poderia ser execu -
tada por ind iscrição", disse ele. "Ninguém aqui é 
idiota o bastante para ignorar O risco" . ela respon-
deu. Sabia que Lohse escondera quatro quadros no 
porta- malas de seu carro dois anos antes. 
Em I" de agosto de 1944, com a guerra já virando 
a favor dos Aliados, o coronel alemão Kurt von Behr 
ordenou a evacuação dos soldados do museu, assim 
52' HERÓIS (QUASE) ANONIMaS 
como de todas as peças de arte que ainda 
est ivessem em Paris. O plano em levá -
las de trem. Os soldados jogavam os 
quadros dentro de caixotes sem embala-
gem. " Hav ia pânico em seus olhos, o 
desejo deles de fugir" , relatou Rose. O 
coronel Behr estava escoltado por ho-
mens com metralhadoras quando a viu 
dentro do museu. A funcionária, teste -
munha do saque, achou que seria liqui-
dada naquele instante. Mas um soldado 
desviou a atenção de Von Behr' "Os ca -
minhões estão quase cheios, senhor" . 
"Arrume mais, idiota", respondeu ele. 
Quando procurou Rose de novo, ela já 
tinha escapulido. Passou as informações 
para Jaujard, que as remeteu à Resistên-
cia. A partir daí seguiu -se uma persis-
tente operação para bloquear a saida do 
trem das artes de Pa ris. 
Edsel conta que, no dia seguinte, cinco 
vagões com 148 caixas cheias de quadros 
fora m seladas na estação de Aubervilliers, 
nos arredores da capital francesa. Rose 
dissera que O trem 40044 tinha como 
...... 
" 
destino o castelo de Kogl, perto de 
\"õcklabruck, na Áustria, e o depósito Ni-
kolsburg, na Morávia. O volLlme de bens 
saqueados a carregar e uma greve de fer -
roviários, porém, impediram a partida. 
Somente em 12 de agosto, 10 dias de -
pois, os alemães conseguiram controlar 
as linhas. Mas os trens conduzindo cida-
dãos alemães tinham prioridade. Quan-
do o carregamento das obras pôde fi nal -
mente partir , não passou do aeroporto 
da capital. Um defeito na locomotiva ge-
rou novo atraso de 48 horas. Resolvido 
esse problema, surgiu outro, uma sabo -
tagem da Resistência provocou um en-
garrafamento no s istema ferroviário - o 
trem das artes não podia se mover . 
A 2' Div isão Armada do Exército Livre 
Francês chegou ao local dias depois, e o 
general Phillippe Leclerc, avisado pela 
Resistência, conseguiu enviar 36 dos 148 
caixotes com obras de Renoir, Degas, 
Picasso e Gauguin para o Louvre. Só dois 
meses depo is o restante dos caixotes foi 
devolvido ao museu. 
AMEAÇA 
INI'E:I;rz 
No mesmo dia em que Paris foi 
libertada , uma multidão de 
franceses invadiu o leu de 
Pau me. Rose impediu que a 
turba entrasse no porão , onde as coleçües eram guardadas, e fo i 
acusada de colaboracionista, "EI.a está escondendo alemães!" 
Com uma arma nas costas, teve de mostrar à turba que "não 
havia nada ali além de caldeiras , tubos e obras de arte" . Com as 
informações de Rose e Jauja rd, o curador do Metropolitan Mu-
seum de Nova York e segundo-tenente do 7" Exército dos EUA, 
James Rorimer, foi um dos destaques da força - tarefa que se de-
dicou a recuperar as obras. O grupo resgatou peças no castelo 
de Neuschwanstein, na Baviera, e enfrentou bombas instaladas 
em minas de sal e carvão onde estavam esconclidas peças nas 
cidades de Siegen , Merkers e de Heilbronn , na Alemanha, e na 
mina de sal de Altaussee, na Áustria. A tarefa durou de abril a 
julho de 1945 e salvou clássicos como Madonna de Bruges, de 
Michelangelo, e Autorretrato, de Rembrandt. Graças ao traba -
lho de Jaujard nos bastidores, a Mona Lisa, de Leonardo da Vin-
ci, escapou do exílio na Alemanha e na Áustria. Trocou seis vezes 
de lugar até ser devolvida ao acervo do Louvre. Já Rose ganhou 
um cargo remunerado no museu Jeu de Paume. 
HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS ' 53 
o INIMIGO QUE SALVOU 
General desobedeceu a uma ordem direta de Hitler 
Um general'alemão em uma revista sobre 
heróis da 2' Guerra) Se você já visitou 
Paris, saiba que quase tudo o que viu está 
lá por causa de Dietrich von Choltitz, go-
vernador militar de Paris a partir de 9 de 
agosto de 1944. Nos 16 dias seguintes, sua 
principal tarefa foi desobedecer a ordens 
di retas de Hitler. No dia 23, recebeu um 
telegrama: "A cidade não deve cair nas 
mãos do inimigo, a não ser que esteja de-
vastada". Conta-se que Hitler telefonou 
para Choltitz perguntando aos berros' 
" Brenn! Paris!" ("Paris está queiman-
do?" ). Foi a única vez que Choltitz deso-
54. HERÓIS (QUASE) ANÓNIMOS 
bedecell na vida. Para alguns historiado-
res, a decisão de manter a Cidade Luz 
intacta nasceu de uma conversa com o 
prefeito parisiense, Pierre Taittinger. O 
francês disse ao alemão que ele voltaria ali 
algum dia e pensaria que teve o poder para 
destru ir tudo aquilo, mas decidiu preser-
var a cidade. Choltitz de fato voltou ao 
hotel Meurice, o local do diálogo, em 1959. 
Reconhecido pelo bannan, pediu para vi-
sitar seu antigo quarto. Foi ao balcão e 
olhou para as Tulherias. Depois dc um 
longo silêncio, disse, "Ah, sim, é disto que 
me lembro" . Agradeceu e foi embora. 
Tropas 
americanas 
desfilam na 
cidade libertada 
4 dias antes; 
abaixo. Von 
Choltitz assina 
a rendição 
Ao yencedor, 
ovmagre 
Havia uma forma de resistência 
na França conhecida como 
"esconder, mentir e trapacear", 
Dessa forma, conseguiram 
preservar uma de suas maiores 
riquezas nacionais: O vinho. 
"Nossa diversão favorita 
era lograr os alemães·, disse 
o vinicultor lean-Michel 
Chevreau aos jornalistas Don 
e Petie Kladstrup, autores de 
Guerra e Vinho (Zahar, 2001). 
Com seus amigos, Chevreau 
furava barris que seguiam de 
trem para a Alemanha e ficava 
com os vinhos. Na guerra para 
repatriar o vinho francês, o papel de 
herói coube a Bernard de Nonancourt 
em 1944 .. Um dos primeiros a chegar 
ao Ninho da Águia, a fortaleza de 
Hitler nos Alpes, ele gritou para seus 
companheiros: ''Vocês não vão 
acreditar nisso". Para onde apontasse 
sua lanterna havia garrafas do melhor 
vinho francês. "Tudo que fora feito 
pelos Rothschild estava lá, os Latifes, 
os Moutons. Os bordeaux eram 
simplesmente extraordinários." 
Ele acabava de encontrar meio 
milhão de garrafas. 
I 
A.niaais lodiraa •• exp 
a DiVisão panzer ' 
Chips até recebeu medalha por "eliminar 
um ninho de metralhadoras" do inimigo 
Até os cachorros deram sua valorosa contribuição. Alguns 
tiveram sua história registrada para a posteridade ao 
praticar atas heroicos - como desarmar bombas, farejar 
ini migos e salvar a vida de soldados. Desde então os EUA 
usam cachorros como uma espécie de força auxil iar dos 
soldados. Segundo a revista Foreign Poliey, as Forças 
Armadas americanas empregam hoje 28 mil cães em suas 
unidades. O cão Chips, cruzamento de husky e collie que 
atuou como sentinela na Sicília, na Itália, entre 1942 e 
1944, chegou a ser condecorado com a medalha Estrela de 
Prata por "eliminar um ninho de metralhadoras e render 
seus operadores" em 1944. Por causa da façan ha, Chips foi 
levado à presença do presidente americano Dwight 
Eisenhower e do premiê britânico Winston Churchill. 
A Marinha Real Britânica deve muito aJudy, uma cadela 
que acompanhava seus navios. Ela ficou famosa por ajudar 
os náufragos do HMS Grasshopper, bombardeado pelos 
japoneses na Indonésia. Foi o único animal feito prisioneiro 
pelo Exército japonês durante o confl ito. Outro cão herói foi o 
yorkshire terrier Smoky, que serviu com a Força Aérea 
americana, tendo participado de mais de 12 missões. 
Ameaçados pela Divisão Panzer, dos tanques alemães, 
os militares da extinta URSS usaram 40 mil

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