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�� :DOPLU�GH�$OEXTXHUTXH�%DUERVD 3pUVLGD�GD�6LOYD�5LEHLUR�0LNL 5RVHDQL�3HUHLUD�3DUHQWH 0HWRGRORJLD�GD� 3HVTXLVD� (GXFDomR� 0DWHPiWLFD Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática Manaus 2008 º5. Período Walmir de Albuquerque Barbosa Pérsida da Silva Ribeiro Miki Roseani Pereira Parente FICHA TÉCNICA Governador Eduardo Braga Vice–Governador Omar Aziz Reitora Marilene Corrêa da Silva Freitas Vice–Reitor Carlos Eduardo S. Gonçalves Pró–Reitor de Planejamento Osail de Souza Medeiros Pró–Reitor de Administração Fares Franc Abinader Rodrigues Pró–Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Rogélio Casado Marinho Pró–Reitora de Ensino de Graduação Edinea Mascarenhas Dias Pró–Reitor de Pós–Graduação e Pesquisa José Luiz de Souza Pio Coordenador Geral do Curso de Matemática (Sistema Presencial Mediado) Carlos Alberto Farias Jennings Coordenador Pedagógico Luciano Balbino dos Santos NUPROM Núcleo de Produção de Material Coordenador Geral João Batista Gomes Editoração Eletrônica Helcio Ferreira Junior Revisão Técnico–gramatical João Batista Gomes Barbosa, Walmir de Albuquerque.. B238m Metodologia da pesquisa : educação matemática / Walmir de Albuquerque Barbosa, Pérsida da Silva Ribeiro Miki, Roseani Pereira Parente. - Manaus/AM: UEA, 2008. - (Licenciatura em Matemática. 5. Período) 91 p.: il. ; 29 cm. Inclui bibliografia e anexo. 1. Matemática - Metodologia. I. Miki, Pérsida da Silva Ribeiro. II. Parente, Roseani Pereira. III. Série. IV. Título. CDU (1997): 001.8:51 SUMÁRIO Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 UNIDADE I – O Ensino da Matemática e a Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 UNIDADE II – A Ciência e sua Episteme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 UNIDADE III – O modo de produzir conhecimento em Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 UNIDADE IV – Fazendo o Projeto de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 UNIDADE V – O Memorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 UNIDADE VI – O Relatório Diagnóstico da Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 ANEXO – Leituras Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Walmir de Albuquerque Barbosa Doutor em Ciência da Comunicação Pérsida da Silva Ribeiro Miki Mestra em Ciências do Meio Ambiente e Sustentabilidade no Amazonas Roseani Pereira Parente Estatística e Mestra em Engenharia de Produção PERFIL DOS AUTORES APRESENTAÇÃO Quando nos reunimos, pela primeira vez, com o corpo docente do Curso de Formação de Professores para o Ensino da Matemática, ficamos apreensivos quanto à possibilidade de construir uma proposta de curso de Metodologia da Pesquisa que estivesse em consonância com a proposta inovadora requerida pela Coor - denação. Essa apreensão decorria do fato de ter a disciplina um conteúdo universal, e o aprendizado dos alunos vincular-se a uma tarefa de realização do Trabalho de Final de Curso, o TCC. Não era só isso que a Coordenação queria! Queria que a disciplina, enquanto parte do desenho do curso, fosse inovadora nos as- pectos que pudessem caber em uma nova mensagem: colaborar no processo de reflexão e ação dos alunos na construção de uma nova maneira de encarar o Ensino da Matemática. Apesar dos anos de trabalho da equipe com os conteúdos – que, em parte, se encontram neste livro –, e da sua experiência com as práticas de pesquisa, que apresentam resultados finais no formato de monografias, dissertações e teses, estávamos diante de um desafio: pensar uma direção nova para o nosso curso. O ponto de partida, nesse caso, foi acompanhar as discussões pedagógicas da Coordenação com os pro- fessores, para apreender o sentido de unidade de propósitos. Em seguida, construir juntos o conceito de pesquisa indissociável do Ensino da Matemática, mas pensando no Professor-Pesquisador. Esse parece ter sido o primeiro consenso. Em que consiste esse conceito? O professor-pesquisador do Ensino da Matemática não estará preocupado apenas com a transmissão de conteúdos e com os processos didáticos dessa transmissão. Precisa com- preender todo o processo no qual se insere a tarefa de educar, de ensinar, de acompanhar e avaliar o per- curso do aluno como aprendente, como sujeito social e como portador e criador de cultura. A pesquisa de- verá ser a ferramenta de trabalho para compreender o processo em sua complexidade. A indissociabilidade entre a pesquisa, os conteúdos e as demais práticas dos alunos configuram um contexto de inter e multidis- ciplinaridade em alguns momentos. De interdisciplinaridade, quando colocamos a metodologia da pesquisa e o conhecimento dos métodos rigorosos de investigação científica a serviço do processo de descoberta e produção de conhecimento em Matemática. Multidisciplinar, quando extrapolamos esse espaço de inter- secção dessas duas áreas de conhecimento para abarcar o conhecimento sobre os processos cognitivos, que envolvem o aprender em todas as suas nuanças e chega ao terreno da prática de vida dos sujeitos, im- pregnando o modo de construção social da realidade. Muitos dos conteúdos são universais e, por isso, estão neste e em todos os manuais de Metodologia da Pesquisa que se possa tocar. No entanto esses mesmos conteúdos devem-se colocar a serviço de outra episteme, aquela que preside o fazer científico do Professor-Pesquisador no ensino da matemática. O que aparece de novo neste manual – e que o distingue dos outros – é a construção coletiva das Linhas de Pesquisa. As linhas de pesquisa vão reunir, em cada uma, as temáticas específicas que nos interessam, en- quanto proposta de curso, mas que contemplam, também, as necessidades de conhecer dos alunos do curso, que podem estar bem perto da realidade social e do espaço de labor. As contribuições dos profes- sores do curso de Formação de Professores para o Ensino de matemática da UEA foram inestimáveis para traçá-las, pelo que agradecemos penhoradamente. A metodologia da Pesquisa será ministrada em nosso curso em duas disciplinas. Na primeira, vamos tratar da relação entre o Ensino da Matemática e a Pesquisa; a definição das linhas de pesquisa e uma descrição sumária do que elas representam no contexto geral do fazer pedagógico do professor. Retomaremos e apro- fundaremos a nossa compreensão epistemológica da investigação científica e trabalharemos os métodos de abordagem e procedimentos. Em seqüência, vamos detalhar o processo de elaboração do Projeto de Pes - quisa, visto que os alunos terão que apresentar, até o fim desta disciplina, um projeto de pesquisa para sub- sidiar a monografia que terão de elaborar para integrar o TCC. Vamos ajudá-los a construir um projeto sim- plificado com o objetivo de produzir um diagnóstico da escola onde trabalham ou prestarão estágio supervi- sionado. Veremos, ainda, como se faz um Memorial. O Memorial, o Diagnóstico e a Monografia juntos formarão o Trabalho de Final de Curso e, assim, comple- tarão a formação acadêmica dos estudantes nas indissociáveis funções do ensino superior: ensino, pes - quisa e extensão.Na disciplina Metodologia II, vamos tratar dos aspectos formais da elaboração da monografia e dos elemen- tos pré-textuais e pós-textuais do TCC, completando os conteúdos necessários ao bom desempenho dos alunos, dentro das normas da ABNT e daquelas fixadas pela UEA. Agradecemos à Coordenação do Curso pelo convite para participar de mais essa empreitada da UEA, aos colegas professores que nos ajudaram a traçar os caminhos desse novo curso e à Equipe Técnica que transformará esses originais no livro-manual da disciplina, dedicado a todos os nossos alunos. A EQUIPE UNIDADE I O Ensino da Matemática e a Pesquisa As Licenciaturas em Matemática começaram, no Brasil, na década de 30 do século passado, sob a inspiração do “Escolanovismo”, que foi um movimento de renovação do Ensino no Bra - sil, tendo como um dos líderes principais o edu - cador Anísio Teixeira. Infelizmente, o ideário de transformações didáticas no ensino não se con - segue de todo materializar-se nas práticas de Ensino da Matemática, por razões que come - çam a ser explicadas, bem mais tarde, pela in- vestigação científica. Os níveis de renovação nas práticas de ensino desejados pelos revolu- cionários dos anos 30 (séc. XX) continuam a ser buscados como parte das soluções para graves problemas na educação das nossas cri- anças e dos nossos jovens. Uma das constatações aceitas sobre o proble - ma é que a evolução do ensino da matemática é lento, enquanto avança muito mais o Estudo da Matemática como disciplina, como Ciência Matemática, haja vista a proeminência de mui - tos dos nosso professores e pesquisadores que se reúnem em torno da Academia de Ciên - cias e do Instituto de Matemática Pura e Apli - cada, instituições respeitáveis mundialmente, que têm incentivado os talentos privilegiados na área de saber. O mesmo não tem aconte- cido em relação ao Ensino da Matemática. Es - se fenômeno parece ter influído na situação educacional brasileira, que apresenta, quando se comparam indicadores, um dos mais po- bres índices de aprendizado da matemática, o que, por conseqüência, redunda em pobreza teórica e de aplicabilidade nas demais ciências que dela dependem. Não precisa muito esforço para identificar o mais baixo coeficiente de aprendizado no en- sino fundamental e médio entre as disciplinas constantes da grade curricular das escolas. Chama também a atenção o número de can- didatos aos exames vestibulares dos cursos de matemática, nas universidades, e muito mais o baixo número de alunos concludentes nos re - fe ridos cursos, o que gera um déficit de profes- sores para essa disciplina no ensino básico, obrigando à improvisação, com a contratação de profissionais vindos de áreas afins e até mesmo leigos. Ultimamente, no Brasil, vem ganhando corpo uma nova força de renovação nos estudos do ensino da matemática. O país tem ficado nos últimos lugares nos exames de avaliação inter- nacional, realizados com alunos do ensino bá - sico. O ensino das ciências, em geral, vem sen do comprometido pela falta de talentos na área e de pessoas que entendam o necessário para avançar em áreas críticas e necessárias no campo da física, da química, da biologia e de outras ciências que têm, em sua base, forte exigência de conhecimentos matemáticos. É vergonhoso o nosso desenvolvimento tecno - lógico: sendo reprovados inúmeras vezes em Cálculo I, II e III, nossos engenheiros ou pas- sam mais tempo nos bancos escolares para avançar, um vez que tal matéria é pré-requisito de várias outras, ou saem “capengas”, com o conhecimento mínimo, o que os torna inaptos para avançar na pós-graduação. Poucos con- seguem uma atuação regular em suas profis- sões que exijam o emprego mais aprofundado do uso da matemática. Para suprir essa deficiência de conhecimentos em matemática, muitos cursos de tecnologia e de pós-graduação exigem dos selecionados que realizem cursos de nivelamento em mate - mática, para adquirir as ferramentas avan ça - das de estudo. Um contingente significativo de jovens muda a direção de sua formação profis- sional para outras áreas quando toma conhe - cimento dessas exigências que lhe serão feitas. O Brasil, em decorrência disso, continua escravo das “caixas-pretas tecnológicas”, tem dificuldades para avançar nas áreas de investi- gação científica e tecnológica, imprescindíveis para o seu desenvolvimento econômico e so- cial, sem contar com o total descalabro das nossas “Estatísticas Oficiais”, responsáveis pe- los réditos malvados que terminam por enter- rar dinheiro público em lugares errados, enco- brir a malversação de recursos e compactuar com a corrupção. O País não consegue contar direito nem a sua população. Somente agora conseguimos ter, com mais brevidade e preci - são, os resultados dos censos oficiais. Res sal - ve-se, a título de justiça, o fato de não se poder debitar aos servidores públicos do IBGE tais descalabros, mas à falta de estatísticos, à falta de interesse pela profissão, à falta de vontade política dos dirigentes para contratar, à falta de cultura matemática do povo para se ater aos 11 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa números, para conferir crédito e débito, para avaliar coeficientes, indicadores, porcentuais de impostos embutidos em tudo que compra, em tudo que come e em tudo que veste. Como falar em transparência na administração públi - ca se não conseguirmos entender as contas dos governos? Como não cair na mão dos ban - queiros estabelecidos, dos financistas agiotas e “bandidos informatizados”, com seus “chupa- cabras” nos caixas de banco ou nas lojas virtu- ais da Internet, nas contabilidades milionárias de financeiras pouco confiáveis, que vendem miríades nos horários nobres da TV ou nas es- quinas das ruas, prometendo juros irrisórios? Como livrar-se dos comerciantes inescrupulo - sos que fazem a “cretina” pergunta, na beira do balcão: “com nota ou sem nota?”. E nós, pen sando que estamos fazendo um bom ne - gócio, nem sempre entendemos que estamos diante de um crime, de um achaque, de uma violência contra a cidadania, que estamos ali- mentando a sonegação, que estamos tirando da boca de nossos filhos o dinheiro que deve- ria ir para a saúde, para a educação, para o pagamento de melhores salários, para que os mais pobres não precisassem das “esmolas governamentais” batizadas com o nome de “bol sa disso ou daquilo”, forma compensatória que “vicia o cidadão”, como nos diz o saudoso Luiz Gonzaga, em célebre canção. Como exercer a fiscalização cidadã sem conhecimento de cau sa? É, por sua vez, errado atribuir somente à falta dos conhecimentos de matemática todos os ví- cios, todos os descalabros. O que se quer afir- mar é que pessoas que dominam os conheci- mentos mínimos da matemática, ao lado de outros conhecimentos, podem compreender melhor a realidade, podem entender melhor outros constructos do conhecimento geral. Por que? Por causa da questão epistemológica: a ma te mática e a lógica, como ciências for- mais, estão na base de todas as ciências, de todos os conhecimentos possíveis e ima - gináveis em nosso mundo sensível. Nada se constrói sem essa base e, se assim for feito, o que acima for construído desabará ou ficará torto, ficará defeituoso, precisará de correção, de ajuste. Estamos, portanto, diante da questão mais im- portante de nosso curso: o entendimento de que os professores em formação do Curso de Licenciatura em Matemática têm um compro- misso formal com o conhecimento dos conteú- dos da Ciência Matemática, com as práticas de ensino e com a formação dos alunos para en- tender o mundo com as suas ciências, suas técnicas, suas práticas e seus sistemas de poder. Tudo isso está contido naquele ato sin- gelo da sala de aula, quando a criança desco- bre o poder e a magia dos números. Essa ma- gia tem de virar interesse, esse interesse tem de virarperseverança, essa perseverança tem de virar competência e essa competência tem de virar capacidade analítica do mundo, tem de virar ação transformadora, depois que ela – a criança – conseguir operar a soma de todos os conhecimentos e de todas as percepções. E isso vira, também, cidadania, qualidade de vida, sabedoria! Nada adianta se não tratarmos primeiro de uma mudança radical nas concepções dos que transitam, decidem e operam no campo da educação e do ensino da matemática. Aqui introduzimos uma nova noção diferenciadora entre Ensino da Matemática e Educação Mate - mática. Por que é crucial para nós essa distin - ção? Vamos entender o ensino da matemática como o conjunto de conteúdos, procedimen- tos e práticas para transmitir os conhecimentos matemáticos prescritos para as séries do en- sino formal. A Educação Matemática, doravan - te denominada de EM, diferencia-se por pro- priedades adicionais, contidas na mudança de ensino para a educação. Educar é muito mais que ensinar. Educar implica compatibilizar con- teúdos ministrados com as capacidades cogni- tivas do educando, implica confrontar esses conhecimentos com outros para integrá-los, associá-los e dissociá-los, em conformidade com os processos de cognição e a compreen- são de mundo do aprendente, no ato de apre - ender, aceitos e incorporados à ação e à re- flexão. Enquanto o ensino instrui, adestra e ca- pacita, a educação compreende tudo isso mais a operação complexa do emprego racional e crítico do que é apreendido nas práticas do fazer humano. Não se trata, apenas, de uma 12 UEA – Licenciatura em Matemática mudança de métodos, mas, também, de atitu - de dos educadores, de comportamento pro fis - sional, de preparação dos professores, de pla - nejamento institucional e, sobretudo, da ado - ção de novas formas de relação no processo educativo em geral. O matemático é diferente do educador mate - mático, embora um não exclua o outro e pos- sam coexistir no mesmo profissional, mas é preciso distinguir a ação de um e a de outro. Tanto o profissional do magistério quanto o sis- tema educacional têm de levar em conta essas diferenças de atuação. Não é por outra razão que os educadores matemáticos devem ser li- cenciados em educação matemática (corres - pondente à licenciatura em matemática). Entre nós, no Brasil, infelizmente, guarda-se uma idéia errônea, fruto de ignorância e pre- conceito, de que o licenciado é inferior ao bacharel. No mundo todo – e aqui também –, pela lei, pelo tempo de duração do curso, pelo currículo e pelas exigências de prática aca dê - mica, a licenciatura é um grau superior ao bacharelado. O licenciado pode, portanto, exer - cer todas as funções inerentes ao bacharel e, só ele, pode exercer o magistério: ser um edu- cador matemático. Agora, de nada adianta ser um professor de matemática com cabeça e postura de bacharel em matemática. A Educação Matemática, pela sua importância e especificidade, vem-se consolidando como uma área de conhecimento situada na Grande Área de Ciências Humanas e Sociais, e segue uma mesma orientação epistemológica que se aplica, também, ao Ensino da Física e da Bio - logia. À medida que ganha autonomia acadê - mica e toma os processos educativos aplica- dos à educação matemática, define um objeto de estudo e produz novos conhecimentos, que fortalecem tanto a Educação quanto a Mate - má tica enquanto Ciência Formal. Atualmente, é possível fazer uma licenciatura (ou mesmo um bacharelado) e completar a for- mação com um Mestrado e/ou Doutorado em Educação Matemática. No mundo todo, as gran - des Universidades mantêm cursos de Pós- Graduação nessa área. No Brasil, a CAPES – Fundação Capacitação de Pessoal Docente de Nível Superior tem essa área como prioritária. Funcionando e credenciados pela CAPES, te - mos, hoje, os seguintes programas: 13 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa MESTRADOS | DOUTORADOS RECONHECIDOS Como se pode observar no quadro acima, são 20 (vinte) os programas de Pós-Graduação em Ensino ou Educação Matemática. Na Universi - dade do Estado do Amazonas (UEA) – Escola Normal Superior –, é oferecido, regularmente, um curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciência. Já aprovado pelo Conselho Uni ver - sitário, será ministrado um Curso de Espe cia - lização em “Educação Matemática”. Estão em curso as negociações entre as instituições uni- versitárias para a formação de uma Rede Uni - ver sitária de Ensino de Ciências e Matemática, com a Ajuda da CAPES, para formar Mestres e Doutores na Amazônia. 1.1 TENDÊNCIAS, LINHAS DE PESQUISA E SUAS TEMÁTICAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Quando falamos em tendências, queremos re - ferir-nos aos rumos que vêm tomando as pre - ferências dos estudiosos. Linhas de Pesquisa são mais específicas e correspondem a agru- pamentos de temas especiais correlatos para efeito de investigação científica. Novas temáti- cas são fruto de exigências emergenciais, mui - tas vezes resultantes do surgimento de cam- pos novos de aplicação da matemática ou do seu ensino. Apoiados em J. Kilpatrick, os autores Dario Fiorentini e Sergio Lorenzato (2006) apontam as tendências temáticas mais em voga no mundo da investigação da EM: 14 UEA – Licenciatura em Matemática Cursos: M - Mestrado Acadêmico, D - Doutorado, F - Mestrado Profissional • Processo ensino-aprendizagem em ma te - mática. • Mudanças curriculares. • Utilização de Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs) no ensino e na apren- dizagem da matemática. • Prática docente, crenças, concepções e sa - beres práticos. • Conhecimentos e formação/desenvolvimen - to profissional do professor. • Prática de avaliação. • Contexto sociocultural e político do ensino- aprendizagem da matemática. Fiorentini e Lorenzato (2006), valendo-se de uma pesquisa realizada pela Universidade de Bielefeld (Alemanha) para identificar e quan- tificar as linhas de pesquisa em EM no mundo todo, chegou ao seguinte resultado: • Resolução de Problemas. • Informática, computadores e ensino-apren- dizagem da matemática. • Geometria, visualização e representação es - pacial e pensamento geométrico. • Álgebra e pensamento algébrico. • Desenvolvimento curricular. • Avaliação e atribuição de notas. • Proporcionalidade e pensamento propor- cional. • Aritmética e pensamento aritmético. • Tecnologia educacional. • Formação e treinamento de professores. • Estatística/probabilidade e pensamento es- tatístico/probabilístico. • Ensino de cálculo e pensamento diferencial. • Atitudes, concepções e crenças de profes- sores. • Atitudes ante a matemática. • Diferenças individuais. • História e filosofia da matemática e da EM. • Educação infantil ou educação matemática. • Linguagem no ensino da matemática e da lógica matemática no ensino. • Raciocínio analógico, cálculo mental, estima - tivas. • Modelação (ou modelagem) matemática. • Função, gráficos e pensamento funcional. • Ensino interdisciplinar e/ou com aplica ções. • Etnomatemática. • Instrução conceptual versus processual. • Metodologia da Pesquisa em EM. • Provas e demonstrações. • Processos cognitivos. • Construtivismo. • Fatores sociais e afetivos e estudantes com dificuldades. • Professores escolares como pesquisadores. • Teoria e Epistemologia em EM. • Crenças, concepções e representações so- ciais de alunos. • Abordagens investigativas para a matemática. Ao observarmos atentamente a relação acima, verificamos que os programas de pesquisa pa - recem não adotar uma concepção usual de Linha de Pesquisa. Verificamos, com algu- mas exceções, que podem ser, perfeitamente, en ca radas como temas con- densáveis para formação de verdadeiras linhas de pes quisa. Ser vem, no entanto, como uma indicação importante por tratar-se de algo que se refere a uma visão maisam- pla, mundial, da pesquisa em EM. Na Universidade do Estado do Amazonas, após estudos reunindo professores de Edu ca ção Ma temática, metodólogos e a Coor de na ção do Curso de Formação de Professores de Mate - má tica, chegamos ao estabelecimento de cin - co Li nhas de Pesquisa, que, de certo modo, po - dem abri gar muitas das temáticas acima referidas co mo linha ou não, e incluir outras, de acordo com os interesses institucionais e dos alunos do curso. As nossas Linhas de Pes qui - sa, portanto, são: 1. Metodologias e Técnicas de Ensino da Ma - temática. 2. O ensino da Matemática e a relação com ou tras Ciências. 3. Matemática e cotidiano. 4. O lúdico e o ensino da Matemática. 5. Formação Continuada de Professores. Isso significa dizer que todos os trabalhos de pesquisa, incluídos aqueles de fim de Curso, terão de se relacionar com uma das linhas de pesquisa acima mencionadas. Compete aos professores e alunos, diante dos temas sugeri- dos, enquadrá-los nas linhas mencionadas. Pa - ra cada linha, sugerimos um desenho meto - 15 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa dológico próprio. Isso significa dizer: um modo próprio de resolução dos problemas de pes - quisa levantados. O objeto de estudo, o lugar da pesquisa, os métodos de abordagem e de procedimentos podem variar de uma linha de pesquisa para outra. No curso da pesquisa, dependendo das dificuldades ou das necessi- dades da investigação, técnicas outras de co- leta de dados podem ser utilizadas pelo pes - quisador para obter os resultados desejados. 1.2 AS “TEMPESTADES DE IDÉIAS” E A ESCOLHA DO TEMA A PESQUISAR O que deve pesar na hora da escolha do tema e da linha de pesquisa? O Educador Matemáti - co, antes de tudo, deve fazer uma reflexão pro- funda sobre a sua vivência enquanto profes- sor: as dificuldades enfrentadas no processo de ensino; como as resolveu ou não fracassou na sua resolução; o que observou em sua es- cola, o que identificou como sendo significa- tivo, mas não mereceu a atenção necessária para ser objeto de uma investigação científica; os problemas que perduram e que devem ser enfrentados, sejam eles de quaisquer nature - za. Feita essa reflexão, é chegado o momento de comparar as suas habilidades atuais com as do momento em que essas coisas aconte- ceram, medindo as suas possibilidades de en- frentamento. Em seguida, isolar um dos pro - blemas identificados, com os quais tenha afini - dade, capacidade potencial para adotá-lo co - mo tema de pesquisa, redigir um primeiro “pro- tocolo” (um pequeno documento escrito), des - crevendo o problema de uma forma livre, na forma como ele aparece nas suas observações iniciais, com riqueza de detalhes ou de dúvidas e, nesse caso, formulam-se várias perguntas. Depois de um intervalo, respeitado o ritmo de cada um, passada essa primeira “tempestade de idéias”, leia com atenção o que verbalizou por escrito e procure limpar as impressões gros - seiras, as imprecisões de pensamento, os pre- conceitos, as fantasias, as megalomanias – uma vez que tendemos a desejar “abarcar o mundo com as pernas” e resolver, de uma vez só, os seus problemas. Faça o primeiro teste lógico: o tema é coerente com a área da edu- cação? É interessante o suficiente para mere- cer o meu esforço acadêmico? É viável a sua investigação? Esforçando-me, terei capacida de intelectual para investigá-lo adequadamen te? A segunda “tempestade de idéias” pode ser representada pelo esforço para contextualizar o tema, buscando todas as conexões dele com a realidade do mundo em que vivemos, desde o epicentro, até os limites máximos de sua repercussão. Isso é necessário para que se pos - sa compreender a complexidade de cada tema e separar o principal do acessório, o que é mais importante investigar e ter isso como norte a orientar as escolhas do pesquisador. É hora da decisão! Uma vez tomada, reescreve- se o documento com o problema, as suas im- plicações ou contextualizações e as questões norteadoras da investigação. O ponto seguinte é enquadrá-lo na linha pertinente de pesquisa. Voltaremos a esse tema quando falarmos da realização do projeto de pesquisa. Essa pre le - ção serve, apenas, para antecipar uma preocu- pação que nos perseguirá o curso inteiro e terá que chegar a um termo no momento em que, também, se aproximar a data de entrega do Projeto de Pesquisa para a realização da Mo - nografia, parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). É sempre bom ter uma idéia do que é relevante e do que é acessório nos nossos procedimen- tos de investigação. Uma cultura geral é ne - cessária para quem quer ser um pes qui sador: de cabeça vazia, pouco pode sair. A leitura de jornais, revistas do cotidiano, revistas especia - lizadas em educação, livros didáticos; obser- vação aguçada da realidade, conversas com os colegas, discussões acadêmicas; documen - tos da escola (atas de reuniões de seus cole- giados em que são espelhadas as questões candentes da escola); as novas descobertas na área, as novidades de procedimentos ou métodos de ensino; resultados de avaliação; cadernos dos alunos; trabalhos escolares fei - tos para uma disciplina do curso dentro do qual você começou a levantar uma proble má - tica, mas não foi adiante; os erros e os acertos dos alunos em sala de aula, os comportamen- tos do alunado nos corredores da escola; as formas de relacionamento professor-aluno, que podem ser observadas à luz do dia; as conver- sas com os pais; as palavras de especialistas que proferiram palestras na escola e tocaram em problemas ainda não-resolvidos, pelo menos em sua escola; os problemas de gestão; os problemas de maior complexidade e que se 16 UEA – Licenciatura em Matemática situam em níveis de interação com outras rea - lidades que extrapolam os limites da escola e chegam ao sistema educacional, às formas de organização econômica, política e social. Tudo isso pode ser objeto de investigação, pode vir a ser tema de pesquisa, parte de uma linha de pesquisa. As “tempestades de idéias” são mais ou me nos intensas à medida que nos preocupamos e nos preparamos para enfrentar os problemas e a realidade que nos incomodam. Elas não acon - tecem sem que as provoquemos, sem uma in- tencionalidade, sem um desejo de chegar a um ponto determinado. É preciso saber, também, a hora de parar, de decidir, de se fixar em um tema. A indecisão prolonga a ansiedade e po - de ser angustiante. Os indecisos podem ficar no meio do caminho, e isso não é bom para os que precisam concluir um curso, precisam avan - çar no processo de aprendizagem. O ou tro ex- tremo é o da irresponsabilidade, que se expres - sa nos comportamentos desleixados: “qual- quer tema me serve”, “depois eu vou pensar”, “a Internet está aí mesmo para fornecer so- corro”, “estou bolando uma jogada infalível”, “tenho grana para pagar quem faça”, “tenho muito tempo pela frente”, “estou procurando um tema inédito”, “não encontro nada interes- sante”, “pensei num tema, mas não encontrei nada escrito sobre ele”. Uma das melhores formas de o aluno apro vei - tar um curso de Metodologia da Pesquisa é o fato de ele estar premido pela necessidade de decidir os caminhos de seu trabalho de pes - quisa. Se ele conseguir decidir-se por um te - ma, depois dessas tempestades de idéias men - cionadas acima, cada tópico da disciplina, ca - da aula servirá para ele avançar no seu tra- balho: definir a metodologia, com a forma de abordagem, de procedimento e de técnicas de coleta de dados; terá oportunidade de aprofun- dar conhecimento nas técnicas escolhidas e preparar o esboço dos instrumentos de coleta de dados; das formas como trabalhar e apre- sentar os dados; como preparar o texto da monografia, do relatório de pesquisa, como fazer citações, como referenciar as obras con- sultadas, além de aprender como fará um bom levantamentobibliográfico para a construção do referencial teórico de seu trabalho. 1.3 AS LINHAS DE PESQUISA 1.3.1 METODOLOGIAS E TÉCNICAS DO ENSINO EM MATEMÁTICA A DEMONSTRAÇÃO NO ENSINO DA GEO METRIA A importância da Geometria no quarto ciclo (7.a e 8.a séries) e da construção de situações-pro - blema que favoreçam o raciocínio dedutivo e a introdução da prática da demonstração está en fatiza da nos Parâmetros Curriculares Nacio - nais (1998): “... os problemas de Geometria vão fazer com que o aluno tenha seus primeiros contatos com a necessidade e as exigências estabelecidas por um raciocínio dedutivo. Isso não significa fazer um estudo absolutamente formal e ax- iomático da Geometria. Embora os conteúdos geométricos propiciem um campo fértil para a exploração dos racio cí - nios dedutivos, o desenvolvimento dessa ca- pacidade não deve restringir-se apenas a esses conteúdos. A bus ca da construção de argumen - tos plausíveis pelos alunos vem sendo desen- volvida desde os ciclos anteriores em todos os blocos de conteúdos.” (p. 86) É dada ênfase pelos PCNs à figura geométrica no sentido de que os estudos de espaço e for - ma sejam explorados a partir de objetos do mun - do físico, de obras de arte, pinturas, dese nhos, esculturas e artesanato, de modo que permita ao aluno estabelecer conexões entre a Mate - mática e outras áreas do conhecimento. (p. 51) São salientadas as principais funções do de- senho, quais sejam: visualizar, fazer, ver, resu - mir, ajudar a provar e conjecturar. Dados da pesquisa feita pelo Siste ma Naci o - nal de Avaliação Básica – SAEB de 2003, com relação ao ensino da matemática no Brasil, in- dicam que apenas 3,3% dos estudantes da 8.a série do ensino fundamental estão no estágio “Adequado” da construção de competências e de senvolvimento de habilidades na resolução de problemas. Na região Norte, esse percen - tual é de 0,67%. Segundo Almouloud (2000), várias pesquisas 17 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa apontam fatores geradores de obstáculos para o ensino-aprendizado da geometria. O resumo de tais fenômenos está colocado no quadro abaixo: 18 UEA – Licenciatura em Matemática Almouloud (2000) propõe a utilização da De - mons tração como uma técnica para o ensino da Geometria, de modo a permitir aos alunos uma melhor compreensão dos conceitos ge- ométricos. O autor faz uso da definição dada por Ba lacheff (1987–1988), segundo o qual a demonstração determina uma atividade do ra - cio cínio que tem por objetivo explicar validan - do, isto é, levando à convicção, a partir de uma seqüência de enunciados organizados, numa regra de dedução que interfere nas capacida - des cognitivas, metodológicas e lingüísticas. Para o autor, os problemas que favorecem o fraco desempenho de alguns alunos no que diz respeito aos conceitos e às habilidades geomé - tricas são devidos à prática e às escolhas didá - ti cas dos professores quando ensinam a geo - metria. Especificamente, os alunos de quinta a oitava séries não parecem usufruir de um ensi - no que lhes proporcione condições para: � Compreender a mudança do estatuto da fi - gura, os estatutos da definição e dos teore- mas geométricos, das hipóteses (dados do problema) e a conclusão (ou a tese). � Saber utilizar as mudanças de registros de representações. � Apropriar-se o raciocínio lógico-dedutivo. É parecer do autor que é preciso dar atenção à necessidade de formação adequada do pro- fessor para trabalhar com demonstração em geometria, de modo a permitir aos alunos a apropriação dos conceitos e das habilidades geométricos no ensino fundamental. MODELAGEM NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Para D’Ambrosio apud Kfouri (2006), O proble - ma maior do ensino de ciências e matemática é o fato de elas serem apresentadas de forma Desinteressante, Obsoleta e Inútil, e isso “DOI” para o aluno. Para Kfouri (2006), o ensino da Matemática, uti- lizando situações problemas pré-concebidas, recheados de fórmulas e expressões algébri- cas prontas, contribuem para a execução de au - las de Matemática desestimulantes, sem atra - tivos, carentes de desafios, tanto para profes- sores quanto para os alunos. A modelagem matemática surge como um re- curso metodológico inserido na linha meto do - ló gica da matemática experimental. Para melhor esclarecer a idéia da modelagem, resumimos, no quadro abaixo, alguns dos con- ceitos elaborados por autores que trabalham a educação matemática: A modelagem inverte a seqüência normalmen - te utilizada no ensino tradicional da matemáti - ca, qual seja definição/exemplos/exercí cios/apli - ca ções, começando por aplicações/problemas. Tal ordem possibilita implementar, em sala de aula, um ambiente de aprendizado contextua - lizado e, assim, desenvolver, de forma mais significativa, os conceitos matemáticos. 19 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa Dessa forma, podemos, a partir da interação do sujeito com o objeto que ele deseja conhe - cer, construir o formal para depois utilizar em situações variadas e mais ampliadas. Para Machado e Espírito Santo (2004), o pro - ces so de desenvolvimento de uma atividade de modelagem matemática compreende etapas fundamentais. São elas: • Deve-se escolher um tema central para ser desenvolvido pelos alunos e recolher dados gerais e quantitativos que possam ajudar a levantar hipóteses com o objetivo de elabo- rar problemas conforme interesse dos gru- pos de alunos. • Devem-se selecionar as variáveis essenci- ais envolvidas nos problemas e formular as hipóteses, etapas necessárias à sistemati- zação dos conceitos que serão usados na resolução dos modelos e na interpretação da solução (ana lítica e, se possível, grafica- mente). • Dependendo do objetivo, fazer a validação dos modelos, confrontando os resultados obtidos com os dados coletados. Barbosa (2001) classifica os casos de mode- lagem, a partir de estudos nacionais e interna- cionais, de três diferentes formas: Caso 1 – O professor apresenta a descrição de uma situação-problema, com as informações necessárias à resolução para o problema for- mulado, cabendo aos alunos o processo de resolução. Caso 2 – O professor traz para a sala um pro - blema de outra área da realidade, cabendo aos alunos a coleta das informações necessárias à sua resolução. Caso 3 – A partir de temas não-matemáticos, os alunos formulam e resolvem problemas. Eles também são responsáveis pela coleta de infor- mações e pela simplificação das situações- problema. O quadro abaixo esquematiza a participação do professor e do aluno em cada um dos ca- sos acima citados. Bassanezi (2002) lista um conjunto de pontos para destacar a relevância da modelagem ma - temática quando utilizada como instrumento de pesquisa. Para o autor, a modelagem: • Pode estimular novas idéias e técnicas ex- perimentais. • Pode dar informações em diferentes aspec- tos dos inicialmente previstos. • Pode ser um método para se fazerem inter- polações, extrapolações e previsões. • Pode sugerir prioridades de aplicações de recursos e pesquisas e eventuais tomadas de decisão. • Pode preencher lacunas onde exista falta de dados experimentais. • Pode servir como recurso para melhor en- tendimento da realidade. • Pode servir de linguagem universal para com - preensão e entrosamento entre pesqui sa do - res em diversas áreas do conhecimento. Alguns obstáculos têm sido evidenciados no uso da modelagem matemática como estratégia de ensino-aprendizagem (Bassanezi, 2002): Obstáculos instrucionais: � Dificuldade de cumprir programas pré-esta- belecidos nos planos de ensino, dos con- teúdos tradicionalmente abordados em ca - da série, numa seqüência a priori. 20 UEA – Licenciatura em Matemática � O tempo deque o professor deve dispor pa ra desenvolver esses conteúdos, determi - nados por uma sociedade competitiva, que visa à preparação para o ingresso à univer- sidade, em geral não permite o ensino por meio do processo de modelagem como mé - todo de ensino. Obstáculos para estudantes: � Muitas questões são observadas simultane- amente, o que pode provocar maior com- plexidade na interpretação e na assimilação dos temas abordados. � Falta de experiência por parte dos alunos e do professor para formular questões frente a uma situação. Obstáculos para professores: � Uma maior disponibilidade principalmente pela necessidade de buscar conhecimen- tos não apenas matemáticos, de modo a ga - rantir a transdisciplinaridade necessária para abordar o tema. � Falta de tempo para estudo sobre temas fo - ra da matemática e para preparação das au - las que envolvem o tema em estudo. A INFORMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL DA MATEMÁTICA Segundo dados do Sistema Nacional de Ava - liação Básica – SAEB de 2003, entre 1999 e 2003, o percentual de alunos de 1.a a 4.a série que freqüenta escolas com acesso à Internet subiu de 6,4% para 16,7%. A utilização de computadores nas aulas de ma - temática, nas séries do ensino fundamental, pode ter várias finalidades, tais como: fonte de informação; auxílio no processo de construção de conhecimento; um meio para desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possi- bilitem pensar, refletir e criar soluções. Para Magina apud Gladcheff, Zuffi e Silva (2001), o computador, utilizado de forma adequada, pode contribuir para a criação de um cenário que ofereça possibilidades para o aluno fazer a ligação entre os conceitos matemáticos e o mun - do prático. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) já colocam várias finalidades do uso do com- putador nas aulas de matemática. O computa- dor pode: • Ser utilizado como fonte de informação pa - ra alimentar o processo de ensino e apren- dizagem. • Ser utilizado como auxiliar no processo de construção de conhecimento. • Ser utilizado como meio para desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possi- bilitem pensar, refletir e criar soluções. • Ser utilizado como ferramenta para realizar determinadas atividades, como planilhas ele - trônicas, processadores de texto, banco de dados, etc. Entretanto o bom uso dessa ferramenta depen - de tanto da tecnologia utilizada quanto dos softwares (programas) empregados. Faz-se ne - cessário que o professor defina os objetivos e domine bem as atividades a que se propõe. A adequação de um software depende da for - ma como esse vai inserir-se nas práticas de en- sino, das dificuldades dos alunos identificadas pelo professor. Depende ambém de uma aná - lise das situações realizadas com alunos para os quais o software é destinado. Para tanto, é importante que o professor tenha parâmetros de qualidade definidos, para poder identificar a adequação de um software às suas necessi- dades e aos seus objetivos. Alguns programas e suas características princi- pais: a) Cabri Geometre II e Sketchpd – ferramen- tas para geometria: São ferramentas, especialmente, para cons - truções em Geometria. Dispõem de ‘régua e compasso eletrônicos’, sendo a interface de menus de construção em linguagem clássica da Geometria. Os desenhos de ob- jetos geométricos são feitos a partir das propriedades que os definem. Por meio de des locamentos aplicados aos elementos que compõem o desenho, este se transfor - ma, mantendo as relações geométricas que caracterizam a situação. Assim, para um dado conceito ou teorema, temos associa - da uma coleção de ‘desenhos em movi- mento’, e as características invariantes que aí aparecem correspondem às proprie da - des em questão. 21 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa O aluno age sobre os objetos matemáticos num contexto abstrato, mas tem como su- porte a representação na tela do computa- dor. A multiplicidade de desenhos enri que - ce a concretização mental, não existindo mais as situações prototípicas responsáveis pelo entendimento inadequado. Apresen - tam interface dinâmica e interativa (‘dese - nhos em movimento’, que podem ser au- tomatizados por meio do recurso de ‘bo - tões’), múltiplas representações (trabalha com geométrica sintética e um pouco de analítica), capturação de procedimentos (tem comando que permite ter acesso à história da construção e comandos para a criação de macros). No Cabri Geometry, é o próprio desenho que é reconstruído passo a passo; no Sketchpad, além disso, tem-se janela adicional onde a construção é explicitada também por meio de linguagem matemá ti ca). O Cabri Geometre II é fabricado pela Univer - si dade de Grenoble (França), disponível no endereço . b) Régua e Compasso – ensino da geometria Desenvolvido pelo professor René Groth - mann, da Universidade Católica de Berlim. O software é composto por várias ferramen- tas e funções que abordam conceitos e demonstrações geométricas. Permite cons - truir figuras geométricas que podem ser al- teradas movendo-se um dos pontos bási- cos, sendo que as propriedades originais de tais figuras são mantidas. Assim, diver- sos tópicos relacionados à Geometria Plana Euclidiana e à Geometria Analítica podem ser explorados. O Régua e Compasso é de fácil manuseio, possibilitando a construção de figuras geométricas das mais simples às mais complexas, composto por uma inter- face bem apresentável e didática. Além das vantagens relacionadas ao fator conteúdo, esse software instiga e incentiva a criativi- dade e a descoberta. De modo geral, Gladcheff, Zuffi e Silva (2001) apontam os seguintes aspectos pedagógicos a serem considerados pelo professor/educa - dor em softwares educacionais de Matemática do Ensino Fundamental: a) Quanto aos objetivos: � Especificar os objetivos que pretende alcan - çar em relação à Matemática, utilizando o produto como ferramenta de auxílio (após sua avaliação, deve refletir se os objetivos poderão ser alcançados e se se encaixam nas propostas pedagógicas da escola). � Verificar se o software possui um dos itens: Projeto ou Manual Pedagógico/Plano de Ensino/Proposta Educacional. � Se o software explora o conhecimento ma - te mático dentro da realidade do aluno, a fim de que ele compreenda a Matemática como parte de sua vida cotidiana. � Se o software valoriza a troca de experiên- cias entre os alunos e o trabalho coopera- tivo. � Verificar se o software valoriza diferentes formas e compreensão na resolução de situações-problema por parte do aluno. � Se o software expõe situações em que a cri- ança valoriza e usa a linguagem Matemá - tica para expressar-se com clareza e pre- cisão. � Se o software valoriza o progresso pessoal do aluno e do grupo. b) Quanto à usabilidade: � Verificar se o tipo de interface é adequada à faixa etária a que o software se destina. � Verificar se as representações das funções são de fácil reconhecimento e utilização. � Verificar se as orientações dadas pelo soft- ware sobre sua utilização são claras e fáceis de serem entendidas. � Verificar se a quantidade de informação em cada tela é apropriada à faixa etária a que se destina o software, se é homogênea, de fácil leitura e não possui erros. � Verificar se o software possui saídas claras de emergência, para que o aluno possa dei - xar um estado não desejado, quando esco - lheu erroneamente uma função, sem que o fluxo do diálogo e a sua continuidade sejam prejudicados. � Verificar se a animação, o som, as cores e as outras mídias são utilizadas com equi- líbrio, evitando poluição “sonora” e/ou “vi- sual”. 22 UEA – Licenciatura em Matemática � Verificar se a interface possui “sistema de ajuda”, permitindo que o aluno recorra a ele em qualquer tela em quese encontre. c) Quanto aos conceitos: � Verificar se os conceitos matemáticos que pretende trabalhar com seus alunos estão disponíveis no software. E, caso trate de conceitos que o professor não pretende tra- balhar no momento, o produto deve permi- tir que esse conteúdo seja desconsiderado pelo professor naquele momento. � Refletir sobre a possibilidade de os concei - tos matemáticos trabalhados pelo software serem relacionados com outros conceitos da Matemática e/ou de outras disciplinas. � Refletir sobre a possibilidade de o software vir a ser utilizado dentro de uma abordagem com temas transversais. � Verificar se a forma de abordagem é com- patível com as concepções do professor. d) Praticidade: � Caso julgue necessário, o professor deve verificar se o produto possui uma versão para ser utilizado em rede e se seu preço é compatível com o orçamento da escola. � Verificar se o produtor recolhe sugestões e/ou reclamações tanto por parte do profes- sor quanto do aluno. Com relação aos aspectos técnicos, os autores recomendam avaliar: a) Documentação de Usuário/Manual do Usu ário (impresso ou on-line): � Deve possuir instruções corretas e de fácil compreensão para instalação e desinsta- lação do produto. � Todas as funções e/ou atividades que o software executa devem estar descritas na documentação, de maneira simples e com- preensível. � A documentação não deve conter erros gra - maticais. � Os termos utilizados devem estar no mes - mo idioma que os usados na interface do produto, e as mensagens devem ser expli- cadas. b) Software: � Os requisitos necessários de hardware e software devem ser compatíveis com os requisitos do computador a ser utilizado e com os softwares nele instalados. � Deve ser de fácil instalação e desinstalação. � As funções disponíveis devem ser sufici - en tes para realizar as tarefas às quais o produto se propõe quando são ativadas, devendo executar exatamente o que é espe rado. � Caso o professor julgue necessário, o soft- ware deve possuir recursos para acesso se- letivo, como senhas, e não deve apresentar falhas. � O produtor deve fornecer suporte técnico e manutenção do produto 1.3.2 O ENSINO DA MATEMÁTICA E AS RELAÇÕES COM OUTRAS CIÊNCIAS Levando-se em conta que a Matemática e a Lógica são consideradas, no quadro da di- visão das ciências, Ciências Formais, e as de- mais ciências como Ciências Factuais (Ciências da Natureza: Física, Química e Biologia; Ciências Humanas e Sociais: História, Sociologia, An tro pologia, Psico logia, Eco nomia Política) não restam dúvidas quan - to à estreita ligação da Matemática e da Lógica com as demais ciências. Se verificarmos a base teórica e Epis te mo lógica de cada uma das ciências nominadas, vere- mos nelas a matemática transversal ou osten- sivamente marcando presença na compreen- são dos problemas levantados por cada uma. Na Física, na Química e na Biologia, ninguém duvida dessa necessidade de base matemá - tica. Mas, da mesma forma, não podemos con- ceber a Economia Política sem o cálculo. Marx inicia o capítulo primeiro de O Capital, sua obra insuperável, em que estuda, analisa e constrói uma teoria sobre o capital e produz a crítica necessária, partindo do cálculo da mais-valia, um de seus conceitos fundamentais. Ao imaginar a sociologia enquanto ciência, não descartamos o valor da estatística como auxi - liar no processo de levantamento de dados, 23 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa sem os quais qualquer análise de certa classe de fatos sociais seria de difícil compreensão. Esse mesmo raciocínio se aplica às demais Ciências Humanas e Sociais e às Sociais Apli - cadas, como a Educação, a Administração e outras. Na educação, a matemática se inter-relaciona com a psicologia nos processos de compreen- são de construção do conhecimento e nas in- terações entre professor e alunos. Ainda no processo ensino-aprendizagem, a matemática se coloca como uma disciplina contextualizada do currículo escolar. Essa é uma tendência ino- vadora pela dinâmica social que ela representa e contribui nos processos interativos entre os sujeitos da escola, assim como nas áreas de conhecimento correlatas. No ensino da matemática contextualizada, o professor-pesquisador deve atentar para uma investigação sobre os fundamentos da inter- disciplinaridade. Isso porque, na relação pro- fessor-aluno, a matemática deve ser trabal- hada tendo em vista o diálogo entre os con- hecimentos produzidos e as demais áreas do conhecimento que subsidiam e são acolhidas por essa ciência. Há pesquisas que buscam esse saber interdis- ciplinar, a exemplo das questões de leitura e matemática, espaços geográficos e matemá - tica, artes e matemática, entre outras. A comu- nicação dos saberes nos campos interdiscipli- nares complementa-se com os campos cultu - rais dos atores escolares. O professor não mais ensina o conteúdo abstrato e sem significação para o aluno, mas interage os conteúdos com a vida social do educando, contextualizando- os com outras áreas do conhecimento, com res peito à bagagem cultural do educando. Nesse prisma, as investigações podem con- templar tanto estudos do currículo escolar do conhecimento matemático e as suas relações com outras áreas do conhecimento científico e acadêmico, assim como a extensa aplicação da matemática no cotidiano junto às demais ciências, inclusive às referentes às novas tec- nologias. 1.3.3 MATEMÁTICA E COTIDIANO A matemática, tradicionalmente, sempre foi encarada como uma área do conhecimento res trita a poucos, cujo saber era privilégio de pessoas com a inteligência acima da média, representando um campo de pura abstração e com pouca utilidade para a vida cotidiana. Não há como negar que existem pesquisas no campo da matemática em que é alto o grau de complexidade dessa ciência, inclusive quando associada a outros campos interdisciplinares de conhecimento, a exemplo dos números pri- mos e dos códigos criptografados, o uso do cálculo para prevê as viagens espaciais, ou ainda a utilização da matemática na robótica, na lógica de programas avançados e na nan- otecnologia. No entanto tal complexidade é característica de qualquer área do conheci- mento no que diz respeito ao seu aprofunda- mento e à sua verticalização. O uso da matemática historicamente pela hu- manidade é incontestável, até porque se veri- fica a íntima relação entre o progresso cientí- fico e tecnológico com essa ciência, mais uma razão para essa linha de pesquisa reportar-se para a educação matemática e o cotidiano escolar, trazendo ou tras reflexões para a inves- tigação científica na formação de educadores matemáticos. O estudo sobre o cotidiano está intrinseca- mente relacionado aos estudos culturais, à pes - quisa participante, pesquisa-ação e pesquisa etnográfica, o que expõem uma multiplicidade de paradigmas epistemológicos conforme o objeto de investigação e os desdobramentos da pesquisa, comportando uma variedade de métodos. Nilda Alves (2003) apresenta quatro tendências contextualizadoras das investiga - ções sobre o cotidiano: 1) Cotidiano como “caixa-preta”; 2) Coti diano e Currículo; 3) Cotidiano e Cultura; 4) Co tidiano e Descrição da Realidade. 1. Cotidiano como “caixa-preta” – Originada nos EUA, com os fundamentos na mecâ ni - ca, na tecnologia, na lógica, na teoria dos sistemas e no ensino de ciências, constitui o paradigma hegemônico mundial das pes - quisas sobre o cotidiano, que consistiria na descoberta das informações ocultas acerca 24 UEA – Licenciatura em Matemática de uma realidade, revelando os seus aspec- tos negativos por seus praticantes, corre- lata à “caixa-preta” de um avião que con- tém as informações do porquê de sua queda. O que interessa investigar, mais do que as informaçõesda realidade, é o imag- inário dos praticantes do cotidiano acerca do conteúdo da “caixa-preta”. As mudanças no sis tema passariam pela “caixa-preta” em pro cessos de planos de entrada, feedback e saída. 2. Cotidiano e Currículo – Esta tendência tem o seu referencial teórico-metodológico em Gramsci e nos filósofos da Escola de Fran kfurt (com Habermas sendo seu princi- pal pensador). Estuda-se o cotidiano esco- lar para compreender a escola e as suas relações com a sociedade, por meio da Pes quisa Participante e da sua íntima re- lação com os movimentos sociais. As pesquisas norte-americanas de Robert Stake propõem a idéia de multiplicidade e complexidade nos proces sos do cotidiano escolar, por meio do cruzamento de fontes, pela observação do cotidiano escolar e pela impossibilidade de generalização das conclusões da pes quisa. 3. Cotidiano e Cultura – Originada na Ingla - terra pelos estudos de Stenhouse (1991), que cria a concepção de professor-pes qui - sador como sujeito de pesquisa na escola, defende a incorporação dos múltiplos su- jeitos do cotidiano escolar, diante das dife - renças culturais existentes na sociedade. “Para Stenhouse, os professores, à medida que vão questionando suas diversas práti- cas, identificadas, conhecidas e analisadas por meio de processos de pesquisa, são os que podem efetivar intervenções no cotidi- ano das escolas, desenvolvendo alternati- vas às propostas oficiais.” (ALVES, 2003, 64). Assim, o professor-pesquisador é su- jeito participante da pesquisa, contribuindo para a modificação do espaço escolar em que ele trabalha. 4. Cotidiano e Descrição da Realidade – Cria - da no México por Justa Ezpeleta e Elsie Rockwell (1986), numa crítica à concepção hegemônica do cotidiano como “caixa- preta”, essa tendência defende o estudo da realidade como ela se apresenta, e não ape - nas as suas falhas. Assim, o pesquisador de - veria despir-se de julgamentos a priori so - bre a realidade e apresentar as alternativas que são criadas pelos praticantes do cotidi- ano na sobrevivência, em suas realidades. As pesquisas atuais sobre o cotidiano enten- dem que há cotidianos múltiplos compreendi- dos numa rede de subjetividades, dentro da qual está presente a escola. Defendem os es- tudos a partir dos acontecimentos e criticam o modelo da ciência moderna, que além de im- por ao conhecimento científico um status supe- rior e de superação ao conhecimento cotidiano (equiparando este último ao “senso comum”), seus métodos de pesquisa não comportam os estudos sobre os acontecimentos culturais nos cotidianos. O acontecimento, foco principal das pesquisas sobre os cotidianos, não é fato social, tampou - co pode ser isolado: Acontecimento – é preciso entendê-lo não como uma decisão, um tratado, um reinado ou uma batalha, mas como uma relação de forças que se inverte, um poder confiscado, um vo- cabulário retomado e voltado contra seus usu á - rios, uma dominação que se debilita, se disten - de, se envenena a si mesma, e outra que entra, mascarada. As forças em jogo na his tó ria não obedecem nem a um destino, nem a uma me - cânica, mas efetivamente ao acaso da luta. Elas não se manifestam como as formas su - ces sivas de uma intenção primordial; tampou - co assumem o aspecto de um resultado. Apa - recem sempre no aleatório singular do aconte - cimento. (FOUCAULT apud ALVES, 2003, p. 65). A preocupação epistemológica do pesquisa dor encontra-se nos processos de mudanças da re- alidade cotidiana a que ele pertence e pa ra os quais contribui em diálogos com os praticantes do cotidiano. Essas mudanças são, historica- mente, produzidas pelo homem conco mitantes aos processos de reprodução do sa ber. Ou seja, ao mesmo tempo que reproduzimos o que aprendemos com as outras gerações e 25 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa com as linhas sociais determinantes do poder hegemônico, vamos criando, todo dia, novas formas de ser e fazer que, “mascaradas”, vão se integrando aos nossos contextos e ao nos - so corpo, antes de serem apropriadas e pos - tas pa ra consumo, ou se acumulem e mudem a so cie dade em todas as suas relações. É, pois, assim que aprendemos a encontrar solu - ções para os problemas criados por soluções encontra das anteriormente. No entanto, é pre- ciso ter, de modo permanente, a atenção des- perta, porque as tentativas de “aprisionar” este processo são violentas e moralistas, sempre. Mas o tempo to do, também, aparecem manei - ras de burlar o que querem “estabelecido”, “instituído” para sem pre, surpreendendo até mes mo quem as empreende no que trazem de singular, e mesmo nos modos como se gene - ralizam. (ALVES, 2003, p. 66). A escola pertencente à rede de subjetividades do cotidiano é um espaço-tempo de pesquisa em que o saber acumulado é reproduzido, e as mudanças imprevisíveis, e muitas vezes imper- ceptíveis, são criadas por seus praticantes a partir de soluções antigas. Essa visão de Escola como espaço social em que ocorrem movimentos de aproximação e de afastamento, onde se criam e recriam co - nhe cimentos, valores, significados, vai exigir o rompimento com uma visão de cotidiano es- tática, repetitiva, disforme, para considerá-la, como diria GIROUX (1986), um terreno cultural caracterizado por vários graus de acomoda - ção, contestação e resistência, uma pluralida - de de linguagens e objetivos conflitantes. Nes - se sentido, o estudo da prática escolar não se pode restringir a um mero retrato do que se pas - sa no seu cotidiano; deve, sim, envolver um pro cesso de reconstrução dessa prática, des - velando suas múltiplas dimensões, refazendo seu movimento, apontando suas contradi ções, recuperando a força viva que nela está pre- sente. (ANDRÉ, 1991, p.71-72) Cabe ao pesquisador compreender a diversi- dade e a complexidade do cotidiano; dialogar com as teorias opostas produzidas pela ciên- cia moderna, buscando superá-las; e manter o diálogo com os praticantes do cotidiano, pois “[...] somente com suas narrativas das me mó - rias coletivas e individuais, em suas contra di - ções e divergências, podem-se praticar os mo- dos necessários para se conhecerem as for- mas de viver do homem e da mulher contem- porâneos[...]” (ALVES, 2003, p.73). As pesquisas sobre educação matemática e o cotidiano escolar devem conceber a matemá - tica como uma prática social contextualizada e culturalmente construída, numa concepção de ensino-aprendizagem entre professor-pesqui - sador e estudantes que trocam saberes e co - nhecimentos, utilizando-os como ferramentas de sobrevivência cotidiana, superando a con- cepção pedagógica tradicional de ensino e apren dizado. Nessa perspectiva antagônica, estabelece-se uma relação dialógica horizontal e interdisciplinar entre professor e alunos, que tem o “[...] seu ponto de partida no universo vi - vencial comum entre os alunos e os profes- sores, que investiga ativamente o meio natural ou social real, ou que faz uso do conhecimento prático de especialistas e outros profissionais [...]” (MENEZES, 1998, p. 52). As concepções educacionais que motivam o estudo do cotidiano e a matemática implicam estudos sobre a etnomatemática, as práticas do centes, as representações e o imaginário dos praticantes do cotidiano, os movimentos de re- sistência e dominação das relações sociais, os estudos interdisciplinares e transdisciplinares, a apropriação do conhecimento e das tecnolo- gias e suas implicações na realidade vivida, podendo, assim, ser exemplificados: • Prática de resolução de problemas de 20 professores da Rede Pública Municipal de Manaus. • Práticas pedagógicas e desempenho esco- lar satisfatório dos adolescentes em situa - ção de risco. • Representações do professor de ma te má - ticasobre a sua prática em sala de aula. • Movimentos de resistência e dominação dos estudantes nas aulas de matemática. • Estratégias de aprendizagem dos estudan - tes do ensino médio numa escola pú blica es tadual de Parintins. • O estudo da geometria no currículo escolar indígena. 26 UEA – Licenciatura em Matemática • Etnomatemática: uma proposta pedagó gi - ca no cotidiano escolar. • Interação ego e conflito sociocognitivo em situação de aprendizagem. (SISTO; DO - BRÁNS ZKY; MONTEIRO, 2002). 1.3.4 O LÚDICO E O ENSINO DA MATEMÁTICA O lúdico representa um referencial de pesquisa que, ultimamente, vem ocupando espaços nos processos educacionais que buscam refletir sobre os caminhos de construção do conheci- mento. Palavra derivada do latim ludus, ou seja, brincar, conceitualmente corresponde às atividades que incluem os jogos, os brinque- dos e as brincadeiras. No ensino da matemática, o lúdico tanto pode constituir-se numa ferramenta didática quanto pode revelar premissas do processo ensino- aprendizagem em que o conhecer depende in- tensamente do apreciar, do sentir-se bem, do gostar de aprender, do divertir-se. É a brin- cadeira levada a sério: do simples romantismo ao caráter científico. Na perspectiva científica, a afetividade torna-se essencial para a com- preensão dos processos de aprendizagem e na relação educador-educando. Nesta abordagem do processo educativo a afetividade ganha destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compre - ender e modificar as pessoas do que um ra - ciocínio brilhante, repassado mecanicamente. Esta idéia ganha adeptos ao enfocar as ativi- dades lúdicas no processo do desenvolvimen - to humano. (SANTOS; CRUZ, 2004, p. 12). A preocupação epistemológica dessa linha de pesquisa quebra com um conceito de mate má - tica respaldado pela simples repetição e pela memorização, com base teórica comportamen - tal, em que não há o espaço para o aprendi za - do com prazer. As pesquisas sobre o lúdico e o ensino da matemática rompem as cren ças de que a matemática é “um bicho-de-sete-cabe - ças”, e que o professor comanda esse monstro indecifrável, que está disposto a engolir os edu candos. Assim, brincar deixa de ser um me - ro passatempo e assume o seu lugar de des - taque no campo da investigação científica. Descobertas recentes, na área da neurociência, sobre o funcionamento do cérebro e o desen - volvimen to das inteligências, vêm contribuindo para a concepção científica acerca do lúdico, nos processos de racionalização e emoção. Para uns, pode ser a busca pela felicidade e plenitude humanas; para outros, representa a recupe ra ção dos estados da mente e da con - dição humana. Ser lúdico, portanto, significa usar mais o he mis - fério direito do cérebro e, com isso, dar uma nova dimensão à existência humana, baseado em novos valores e novas crenças que se fun- damentam em pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a bus ca da afetividade, o autoconhecimento, a arte do relacionamento, a cooperação, a imagina ção e a nutrição da alma. É, por isso, que as de- scobertas científicas sobre a dinâmica cerebral foram importantes para o estudo da ludicidade como ciência. (SANTOS et al, 2001, p. 13). Os estudos, por exemplo, de Roger Sperry (funções diferenciadas dos hemisférios do cé - rebro), Ned Hermann (dinâmica cerebral pe lo mapeamento de cérebro em quatro quadran - tes) e Howard Garder (inteligências múltiplas) mostraram ao mundo uma parte complexa en- tre 1% e 10% das relações neurais, dentre as quais envolve a racionalização e a emoção que colaboraram para a ludicidade. Analisando os trabalhos de Hermann, pode-se perceber que, quando o homem potencializa mais o hemisfério esquerdo do cérebro no tra- balho, ele demonstra ser mais financista, tem mais facilidade para trabalhos técnicos, para administrar, gerenciar, organizar e implemen- tar. No processo criativo ele demonstra ser crí - tico, investigador e disciplinado e quando está aprendendo algo usa a lógica, racionaliza, or- ganiza dados, estrutura as partes do todo, avalia, julga e pratica. Estas características de- terminam o predomínio da razão. Ao contrário, quando o homem potencializa o hemisfério direito no trabalho, ele inova. Integra, tem facilidade para estabelecer con- ceitos, interessa-se por novas tecnologias, com partilha e expressa-se. No processo cria- 27 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa tivo ele brinca, experimenta, intui, vê o todo, in- terage com as pessoas, aciona o cinestésico, o espiritual, o sensual e o tátil. Quando está aprendendo ele explora, vivencia, descobre, qualifica, elabora conceitos, aciona o emo- cional, sente, internaliza e compartilha. Estas características determinam o predomínio da emoção e contribuem para a ludicidade. (SAN- TOS et al, 2001, p. 12-13). Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Ensino Médio, Parte III, implicitamente apresentam as contribuições da neurociência para o ensino das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, numa concepção interdisciplinar com base no desenvolvimento das competên- cias e habilidades. Cabe o destaque à Mate - mática como ciência motivadora e de suporte às demais, cujo objetivo maior está na criação e não na repetição. Por mais que, nos PCN´s, o termo lúdico não esteja evidente, verifica-se a ludicidade nos procedimentos de ensino-apren - dizagem, assim como nos objetivos para o de- senvolvimento do raciocínio no mundo real, tendo como premissa a criatividade. À medida que vamos nos integrando ao que se denomina uma sociedade da informação crescentemente globalizada, é importante que a Educação se volte para o desenvolvimento das capacidades de comunicação, de resolver problemas, de tomar decisões, de fazer infe - rências, de criar, de aperfeiçoar conhecimen- tos e valores, de trabalhar cooperativamen - te.[...] Contudo, a Matemática no Ensino Mé - dio não possui apenas o caráter formativo ou instrumental, mas também deve ser vista co - mo ciência, com suas características estrutu- rais específicas. É importante que o aluno per - ceba que as definições, demonstrações e en- cadeamentos conceituais e lógicos têm a fun - ção de construir novos conceitos e estruturas a partir de outros e que servem para validar in- tuições e dar sentido às técnicas aplicadas. (MENEZES et al, 1998, p. 40-41). Outra contribuição para os estudos acerca do lúdico e do ensino da matemática, além da neu rociência, vem da psicologia. Quem se aventurar por essa linha de pesquisa necessita de um aprofundamento na área da psicologia e – porque não acrescentar – da epistemologia e da psicopedagogia. As investigações nessas áreas permitirão compreender os processos abstrativos de construção do conhecimento, assim como as dificuldades na aprendizagem da matemática e suas formas de superação através do lúdico. Nesse caso, a ludicidade e o ensino da matemática caminham pela didática, seja como formulação geral ou ainda especí- fica para a área do conhecimento matemático. Quanto a esse aspecto, cabem algumas reco - mendações para que não se solidifiquem ações intervencionistas em vez de pesquisa científica. O rigor metodológico da investigação deve ser priorizado; caso contrário, o professor-pes qui - sador pensará que realiza pesquisa com a ludi- cidade e o ensino da matemática, enquanto que suas ações são resultados de projetos de en- sino-aprendizagem e não de pesquisa científica. A ciência não pode ser revestida de precon- ceitos, por mais que eles repousem no senso co- mum. Um deles, ao tratar do lúdico e o ensino da matemática, encontra-se na concep ção da infân- cia como referência para o brincar, retirando a brincadeirado espaço pe dagógico do adoles- cente, do adulto e da terceira idade. Ora, a ludicidade e a sua corres pondência com os sis- temas de emoção humana não se interrompem na infância; temos a necessidade do lúdico em todos os espaços pedagógicos (não apenas na escola), independentemente de ida de ou de qualquer outra con dição que queira cercear o brincar da condição do pensamento humano. Assim, as pesquisas que envolvem o lúdico e o ensino da matemática são frutíferas na escola, tanto no ensino fundamental como no ensino médio. Ainda no ensino superior, a ludicidade e a ma - temática devem compor uma área de investi- gação interdisciplinar que envolve os cursos de licenciatura e a formação de professores, seja na formação teórica, pedagógica e lúdica. Esta última “[...] deve possibilitar ao futuro edu- cador conhecer-se como pessoa, saber de su - as possibilidades e limitações, desbloquear su - as resistências, ter uma visão clara sobre a im- portância do jogo e do brinquedo para a vida da criança, do jovem e do adulto.” (SANTOS; 28 UEA – Licenciatura em Matemática CRUZ, 2004, p. 14). A defesa do lúdico na formação dos professo - res de matemática representa um avanço na concepção do ser educador para o ensino fun- damental e médio, evocando o homo ludens (HUIZINGA, 1980), com liberdade de imagina - ção, espontaneidade, iniciativa, confiança, com mais capacidade de ensinar e aprender no co- tidiano escolar, enfrentando desafios e modifi- cando regras. (MALUF, 2003). As pesquisas que envolvam a ludicidade e o ensino da matemática na escola necessitarão, prioritariamente, de uma contextualização his - tórica acerca do lúdico enquanto representa - ção do lazer e como elemento científico, além de uma elaboração teórica acerca da cons tru - ção do conhecimento, dos seus processos abs trativos, e sua aplicabilidade na realidade social. Esse esforço requer uma pesquisa teó - rica, com os seus momentos centrais, o que permitirá que o professor-pesquisador se apro- funde acerca do seu tema de investigação, por meio da elaboração dos quadros de referên- cia, da compreensão dos clássicos, do domínio da produção vigente e do exercício de reflexão e crítica teórica. (DEMO, 2004). Outra característica metodológica dessa linha de investigação é o tratamento com as pes qui - sas de cunho qualitativo. Nessas, para se tra ba - lhar o lúdico e o ensino da matemática, po demos destacar a abordagem fenomenoló gi co-her- menêutica, o interacionismo simbólico e a etno- grafia semiológica associados à fenome no logia. A construção heurística da etnopesquisa se ins - trumentaliza com a etnografia semiológica co - mo recurso metodológico básico [...]. No caso da etnopesquisa crítica, valoriza-se intensa- mente a perspectiva sociofenomenológica, que orienta ser impossível entender o comporta- mento humano sem tentar estudar o quadro referencial, ou seja, a bacia semântica e o uni- verso simbólico dentro dos quais os sujeitos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. A singularidade e a construção dos sentidos – principais dimensões da atitude clí - nica – são as duas pedras de toque a serem trabalhadas incessantemente pela atitude etno - gráfica e semiológica dos etnopesquisadores. (MACEDO, 2006, p. 81-82). A qualidade exposta por esses métodos não aceita a interpretação da realidade pela ótica experimentalista e behaviorista que reduz a ex- plicação da realidade pelo paradigma norma- tivo positivista. Se para a fenomenologia a rea - lidade traduz-se pela sua compreensão, inter- pretação e comunicação do fenômeno situa- cional em que a verdade é provisória e relativa, na hermenêutica encontrar-se-ão caminhos de aproximação com a realidade nos quadros teó - ricos explicativos. A reflexão hermenêutica torna-se, assim, ne - cessária, para transformar a ciência, de um ob- jeto estranho, distante e incomensurável com nossa vida, num objeto familiar e próximo, que, falando a língua de todos os dias, é capaz de nos comunicar suas valências e limites, seus objetivos e o que realiza aquém e além deles, um objeto que, por falar, será conce- bido mais adequadamente numa relação eu/tu do que numa relação eu/coisa e que, nessa medida, se transformará num parceiro de compreensão e de transformação de realida - des. (MACEDO, 2006, p.40). No interacionismo simbólico, as pessoas são sujeitas de suas ações e significados. A reali- dade pode ser uma, com os mesmos estímu- los, no entanto para cada pessoa ela assume uma significação própria, e o processo de inte - ração entre as pessoas ocorre em suas trocas simbólicas, num jogo carregado de sentido, dando vazão à identidade do indivíduo en- quanto produto e produtor da interação ge né - tica com os sujeitos sociais. Um símbolo é um estímulo que tem um signifi- cado aprendido e um valor para as pessoas, que reagem em função desses significados e val- ores, e não em função de estimulações físicas que afetam seus órgãos sensoriais. A linguagem faz parte desses sistemas simbólicos, assim como os gestos. (LAPASSADE, 2005, p.20). As perspectivas metodológicas mencionadas podem orientar inúmeras pesquisas que pos- suem o lúdico e o ensino da matemática como eixos norteadores. Podemos sugerir algumas 29 Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa investigações, tendo como ponto de partida a relação professor-aluno, o jogo, a brincadeira e o brinquedo: • A formação do educador matemático e as suas relações com a ludicidade em sala de aula. • Atividades lúdico-educativas e o aprendi za - do matemático pela psicomotricidade. • Jogos tradicionais e matemática: aprendi - za do, memória e presença no contexto es- colar. • Jogos e informática no aprendizado mate - mático. • Espaços para aprender e brincar: constru- indo o pensamento matemático. • Ludicidade e Matemática: ciências comple- mentares. • O brinquedo como ferramenta de apren- dizado na matemática. Quanto aos procedimentos, podemos indicar a história de vida, o estudo de caso, a análise de conteúdo (método clínico, histórico), o jogo so- cializante e a sociometria como exemplos de caminhos metodológicos coerentes com a fe - nomenologia-hermenêutica e com o interacio - nismo simbólico que podem utilizar as mais di- versas técnicas, como a observação, a entre- vista, a pesquisa documental, as técnicas pro- jetivas (a exemplo do desenho comentado) e as anotações no diário de campo. 1.3.5 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR A primeira questão a ser levantada, para início de conversa, seria a seguinte: o que tem a ver essa questão com o Ensino da Matemática? De pronto, podemos responder: tudo. Se hou- ver a insistência do interlocutor exigindo os fundamentos, responderíamos com Maturana e Varela: “o que podemos tentar – que o leitor deve tomar como uma tarefa pessoal – é per - ceber tudo o que implica essa coincidência contínua de nosso ser, nosso fazer e nosso conhecer, deixando de lado nossa atitude co- tidiana de pôr sobre nossa experiência um selo de inquestionabilidade, como se ela refletisse um mundo absoluto” (2001, p. 31). Ess a linha de pesquisa tem por objetivo reunir estudos que tratem, de forma ampla e sobre di- versos aspectos, dos temas relativos à for- mação do professor, tanto quando planejada pela instituição quanto pela iniciativa pessoal do docente, entendendo esta como neces sária à educação permanente para o exercício das práticas do educador. As temáticas, portanto, devem situar a condição do “professor apren- dente” e as implicações disso no seu cotidiano e no amadurecimento como educador. Um dos aforismos-chave da obra dos autores acima citados é: “todo fazer é um conhecer, e todo conhecer é um fazer”. A idéia de aprendente é desenvolvida por Hu - go Assmann, dentre outros autores,
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